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História Girl meets Girl - Tudo é possível se você acreditar


Escrita por: DdeDanny

Capítulo 89 - Tudo é possível se você acreditar


*** OIEEEEEE! Demorei mas voltei! Desculpem, estou em fechamento de semestre, ou seja, com muitas provas, muitos livros pra ler, muitos seminários pra apresentar e muito trampoo! Kkkkk espero que me perdoem, fiz um capzinho longo pra tentar compensar! 

 

Já mete o like e compartilha cazamiga!!!!! 

 

Bora ler! 

 

PS: deixei a música ali em cima pro pessoal do wtt! ***

 

 

 

POV DUDA

 

Já era segunda-feira, meu final de semana havia passado mais rápido do que eu gostaria... Estávamos nas últimas semanas de aula e eu precisava me sair bem em todas as provas, assim não teria que frequentar as recuperações e acabaria passando menos tempo tempo na escola e mais tempo em casa, em paz, aproveitando as férias! Eu tive boas conversas com Mislene, a menina da praça, pelo WhatsApp durante esses dois dias, mas ainda não sabia dizer se ela estava a fim de mim, de qualquer forma, ela parecia ser uma boa companhia. 

 

Impossível negar, depois deter ido até minha casa para estudar, Rafa também invadira minha mente algumas vezes antes de dormir . Eu, lá no fundo, estava feliz por nossa amizade não ter sido completamente destruída e sentia um estranho alívio por descobrir que ela não tinha ficado com Isabela, no entanto eu tentava ao máximo afastar esses pensamentos, pois, vez ou outra, acabavam me fazendo lembrar de coisas que eu não queria. 

 

Bife entrou no ônibus quando Maju e eu falávamos a respeito da cafeteria onde costumávamos ir para conversar, concordávamos que há um bom tempo não nos encontrávamos lá e que, de algum jeito, precisávamos reestabelecer esse hábito. Após passar pela catraca, a menina de bochechas rosadas caminhou sorridente em nossa direção, fazendo com que o mundo de Maju parasse, afim de poder observar atentamente a mais nova. Deu para sentir de longe a química no olhar que a morena lançou para ela, em conjunto com um sorriso apaixonado, enquanto Bife se sentava ao seu lado. 

 

- Ah, fiquei sabendo que o casalzinho aqui teve um encontro esse fim de semana. - Sorri de canto, levantando rapidamente as sobrancelhas de forma insinuante.

 

Bife corou, como eu já previa. 

 

- Ela finalmente foi à minha casa. - Maju riu ao explicar. - Minha mãe não parava de falar dela, então tive que chamar, né? Fazer o quê... - Deu de ombros, brincalhona.

 

- Hmmm... - Fiz, maliciosa. - Na sua casa, é? Quero detalhes! 

 

- Não teve nada demais, só vimos um filme na Netflix. - A morena tornou a responder.

 

- Netflix ou Metflix? - Sorri com ainda mais malícia e Maju começou a rir, entendendo a piada.

 

- O que é "Metflix"? - Bife perguntou, franzindo o cenho. 

 

Troquei olhares com Maju. Algumas vezes eu pensava na possibilidade de Maria Clara apenas fingir não entender as coisas... Era lerdeza demais! 

 

- Ai, você explica, Ju, por favor. - Revirei os olhos, indisposta a me prestar àquele serviço. 

 

Bife, então, passou a fitar a morena com curiosidade, piscando repetidas vezes, esperando pela explicação. 

 

- É tudo o que nós NÃO fizemos, Clarinha... - Pousou a mão no ombro da menina ao seu lado como se estivesse falando com uma criança. Bife continuou parecendo insatisfeita com a resposta, mas Maju não se deu ao trabalho de dar maiores detalhes do significado da minha piada. - E deixa de pergunta besta, Duda! Você sabe que eu sou hétero, jamais levaria ela lá pra isso. 

 

Desabei em um riso exagerado, enquanto Clara finalmente parecia ter compreendido o que era "Metflix".

 

- Bom, por acaso eu também soube de uma coisinha sobre você... - Cantarolou, a voz um tanto mais fina do que o normal, parecendo tentar revidar minha brincadeira.

 

- Mesmo? - Estranhei, e Bife confirmou com a cabeça.

 

- Como soube que saí com Maju?

 

- Rafa me contou, oras. - Admiti despreocupada, sem entender o sentido daquela conversa. 

 

- Pois é... - A menina me lançou um olhar travesso. - Rafa... Você... Sua casa... - Deixou no ar.

 

- Aaaaah! Então ela quis nos acusar de um crime que ela mesma cometeu? - Maju indagou, divertida. - Metflix, né, senhorita Eduarda? 

 

- Cala a boca! - Não aguentei, acabei rindo. - Ela foi lá pra pedir ajuda com a matéria! 

 

- E quem ia ajudar? - Maju estreitou os olhos.

 

- Eu, ué!

 

- Ah, para de mentir, você não ajuda nem a si mesma com a matéria. - Tirou sarro. Confesso, era uma verdade! 

 

- Ela não reclamou, ok? - Respondi, apesar de concordar com a afirmação da morena.

 

- Por que será, né? - Ironizou, fazendo com que eu franzisse o cenho sem entender. 

 

- Porque sou uma boa parceira de estudos...? - Sugeri.

 

- Uma boa sonsa, isso sim. - Revirou os olhos. 

 

- Que merda você tá falando? 

 

- Alô? Terra chamando Duda! - Debochou novamente. - Ela gosta de você! Deve ter sido uma desculpa pra te ver. - Riu. 

 

- Primeiro: foi ela quem terminou comigo. Segundo: eu tentei voltar e ela não quis. Terceiro: ela não gosta mais de mim. - Enumerei, ficando verdadeiramente incomodada com as insinuações de Maju.

 

- Quarto: ela não terminou por falta de sentimentos, portanto ainda deve sentir alguma coisa, e agora que você não corre mais atrás, ela fica arrumando desculpas pra puxar papo.

 

- Não viaja. - Foi minha vez de revirar os olhos. - Só estamos tentando retomar nossa amizade.

 

- E aqui vamos nós de novo... De volta à estaca zero... - Murmurou.

 

- Que porra de estaca zero, Maju?! - Questionei, irritada com a conversa.

 

- Ei, já chega! Não é pra ficarem discutindo. - Bife interviu.

 

- O problema da Duda é que ela poderia ser mais feliz se aceitasse as verdades logo de uma vez... - Maju respondeu. - Eu sempre tento dar um toque nela, mas ela nunca me escuta. Sofre porque quer. - Deu de ombros.

 

- Tá, e de onde você tirou que eu tô sofrendo? - Indaguei, por fim, deixando a morena sem respostas. 

 

Eu jamais admitiria isso, mas o que tanto me irritava na teoria de Maju é que, às vezes, eu temia que ela estivesse certa. Logo que voltei a conversar com Rafa na escola, eu tive a nítida sensação de que ainda conseguia mexer com seu psicológico, impressão que, no entanto, havia se minimizado ao longo das semanas em que voltamos a nos aproximar. Eu queria acreditar que ela só havia agido de maneira esquisita no início por estar intrigada com a minha indiferença, mas que já havia superado tudo o que aconteceu entre nós, assim evitaríamos maiores problemas. 

 

 

Entrei na sala e encontrei Rafaela sentada na carteira de sempre, ela parecia concentrada em alguma coisa em seu caderno. Não resisti, tive que dar um cutucão em sua barriga, fazendo com que ela pulasse de susto e tirasse o fone de ouvido de uma das orelhas. 

 

- Nervosa pra prova? - Perguntei baixinho, enquanto me sentava, reparando que a menina revisava o conteúdo da prova que teríamos naquele dia. 

 

- Estaria bem mais, se não fosse por minha professora particular. - Sorriu. Aquele jeitinho naturalmente galanteador de Rafa, agora, era capaz de me deixar sem graça.

 

- Nada vem sem um preço, minha cara! Se você passar, fica me devendo uma cerveja. - Tentei acrescentar humor à conversa.

 

- Eca... Não tem nada melhor pra pedir, não? - Fez uma careta, Rafa sempre odiou cerveja. - Se bem que, por mim, você pode acabar com todas as cervejas do mundo, assim não toma minhas vodcas. 

 

- Cachaceira! - Ri. - Você contou pra Bife que foi em casa. - Não usei tom de pergunta, mas, sim, de afirmação, mudando repentinamente o foco da conversa.

 

- Contei, algum problema? 

 

- Nenhum. - Dei de ombros. - Só que ela e a Maju confundem as coisas.

 

- Que coisas? - Levantou uma sobrancelha. 

 

- Elas não entendem que voltamos a ser só amigas. - Ok, talvez aquele assunto fosse um tabu, talvez devesse ser esquecido, mas, depois das coisas que Maju havia falado, eu queria me certificar de que Rafa estava ciente de nossa nova realidade. 

 

- Temos um progresso aqui? - Deu um sorriso que eu não soube decifrar. - Eu pensei que você seria fria comigo pro resto da vida. 

 

Eu ainda sentia aquele vazio interno, mas, de fato, estava tratando Rafa de forma mais natural, sem tanto rancor... Principalmente após saber que ela não havia me trocado por Isabela.

 

- Eu só queria ter certeza de que daria pra gente reconstruir a amizade... - Aquilo não era de todo verdade... A indiferença foi algo bastante espontâneo e natural de minha parte, eu não acreditava e nem fazia muita questão de retomar a amizade com Rafa no começo, depois percebi que não tinha porquê me afastar por completo.

 

- E agora você chegou à conclusão de que dá? - Questionou sem deixar o sorriso sair de seu rosto.

 

- Óbvio, acha que tô te falando isso por quê?

 

Ela me fitou por um instante a mais do que o necessário, em seguida levou a caneta até a boca, em um gesto pensativo. 

 

- Acho que não aguentou ficar longe da sua vadia preferida e que todo o resto é papo furado. Aposto que já estava se corroendo de saudades. - Revirei os olhos, rindo. Há muito tempo Rafa não usava o termo "vadia" em nossas conversas. - Você sempre foi orgulhosa, né, Dudinha? 

 

- E você sempre foi presunçosa. - Rebati. 

 

- Assim como você. - Argumentou. - Não é por isso que fui sua melhor amiga por tantos anos? 

 

- Com certeza não. - Ri. - Deve ser uma das únicas coisas que temos em comum.

 

- Tem razão... Não temos nada a ver, né? - Eu não soube dizer se ela estava sendo franca ou debochada em sua colocação. Só sabia que ela estava agindo de maneira absurdamente estranha.

 

Bife entrou na sala junto com o professor naquele exato momento, ela e Maju haviam ficado conversando, sentadas em uma das escadas do colégio até o horário de início da aula. Notei o olhar de Santiago acompanhando o caminhar da menina, o que fez meu rosto ferver de raiva... Se ele estivesse planejando alguma coisa, eu o mataria! O ruivo ainda me lançou um sorriso amigável ao perceber que eu o encarava... Filho da puta!

 

 

A prova daquele dia tomou as duas últimas aulas e, surpreendentemente, eu sentia que havia respondido muito bem a maioria das questões. Pude sair da sala mais cedo, já que terminei tudo antes do final do período, no entanto precisaria ficar na escola até o horário normal de saída. Acho que nem precisaria dizer para onde fui enquanto esperava o tempo passar, não é? O teatro era o melhor lugar daquele colégio, ainda mais em um momento como aqueles, quando praticamente toda a escola ainda estava em aula, exceto por alguns dos alunos de minha classe. 

 

Liguei o som do meu próprio celular e sentei no centro do palco, observando as cadeiras vazias da plateia. Há algum tempo eu já não me refugiava naquele local, minha mente divagava em reflexões de ordem incerta ao ritmo das músicas de minha playlist. Eu sequer saberia dizer, ao certo, quanto tempo já havia se passado quando a porta principal se abriu lentamente, revelando o corpo magro da garota de olhos esverdeados e permitindo que ela entrasse. 

 

Não me movi, apenas assisti Rafa correndo até o palco. Ela soltou um suspiro em conjunto com um sorriso ao se sentar ao meu lado, só então olhou diretamente para mim. Levantei uma sobrancelha de forma questionadora, querendo saber como ela havia se saído na prova. Foi o bastante para que ela entendesse minha curiosidade e, em resposta, seu sorriso cresceu. 

 

- Parece que alguém me deve uma cerveja... - Cantarolei satisfeita, inclinando meu corpo para o lado e encostando meu ombro no dela de forma brincalhona. 

 

- Não tão depressa, Pangaré! Tem que esperar a nota sair primeiro. - Riu. "Pangaré"? Bateu uma nostalgia ao ouví-la me chamando assim.

 

- Só vai adiar o óbvio. - Dei de ombros. - Sei que arrasamos.

 

- Acho que você fez acontecer algum tipo de milagre! - Brincou. - Preciso de um desses em cada matéria. 

 

- Aí você fica me devendo dois fardos de cerveja.

 

- Impressionate... A gente oferece mal oferece a mão e já estão querendo o braço, né? Coisa de bêbado! - Provocou. - Fique sabendo que não vou limpar seu vômito depois, não, beleza? - Alertou, divertida.

 

- Nem vai precisar, não vou dar problema... E sabe por quê? - Perguntei, fazendo com que Rafa acenasse com a cabeça para que eu continuasse a falar. - Saí dessa vida, agora sou decente. - Exagerei no tom de inocência.- Mamãe teria orgulho. 

 

- Meu Deus, é quase uma Maria Clara! - Ironizou.

 

- Quem é Maria Clara se comparado a mim? - Revirei os olhos, acompanhando a brincadeira. - Ela já perdeu o BV, aquela impura! - Falei em tom de indignação.

 

- Ah, e você não?! - Rafa indagou.

 

- Óbvio que não! - Exclamei. - Deus me defenderay, nem sei o que é beijar! Essas coisas são só depois do casamento. 

 

- Então devo ter te confundido com sua gêmea má. - Concluiu divertida.

 

- Aquela vaca tá se passando por mim de novo?! - Arregalei os olhos como se estivesse falando da coisa mais séria do mundo, usando expressões dignas de uma atriz de novela mexicana. #SBTmecontrata! - Ela sempre faz isso, é uma invejosa!

 

- Mas beija bem. - Rafa foi espontânea ao falar, mas logo pareceu se dar conta de que nossa intimidade estava um tanto ferida para aquele tipo de brincadeira. - Eu ouvi dizerem... - Corrigiu-se quase instantaneamente ao notar o peso daquela afirmação diante da nossa atual situação. - Pelo jeito ela anda passando o rodo por aí. - Afirmou, fazendo com que eu risse com gosto.

 

- Agora eu tô com medo, Rafa! - Deixei a brincadeira de lado. - Se você ouviu isso, devo ter uma gêmea má de verdade. 

 

- Deixa de ser cínica, garota! - Riu. 

 

- É sério! Faz séculos que eu não beijo, acho que até desaprendi. - Exagerei, fazendo com que Rafa revirasse os olhos, ainda descrente.

 

- Duvido muito. 

 

- De qual parte? Que faz séculos que eu não beijo ou que desaprendi? - Usei um tom divertido.

 

- De qual você acha? - Perguntou, deixando nascer um leve sorriso no canto de seus lábios. 

 

Eu já ia cortá-la, porém Rafa fez um sinal para que eu ficasse em silêncio assim que o refrão de  "Reflections" do The Neighbourhood começou a tocar em minha playlist. Ela levou a mão ao peito como quem diz "esse é meu momento!", então começou a cantar baixinho junto com a banda, chacoalhando sutilmente o corpo de um lado para o outro, com os olhos fechados, seguindo ritmo não muito rápido da canção. Respeitei o pedido da garota, fechando a boca e parando para observá-la. De repente percebi que ainda gostava de quando ela fazia aquilo, do modo como ela deixava transparecer o quanto a música mexia com seu interior. Esfreguei os olhos, frustrada, ao me dar conta de que estava reparando em detalhes de Rafa... Seus cabelos estavam um tanto mais claros do que antes e ela parecia ter emagrecido ainda mais, o que me causou uma leve preocupação.

 

- Argh, por que essa banda tem que ser tão boa?! - Usou tom de reclamação logo que o refrão terminou. - Duda, você definitivamente deveria ser grata por ter uma amiga que te apresenta músicas tão maravilhosas! O que seria da sua playlist sem mim? - Soltou um suspiro, convencida, o que me fez rir.

 

- Seria bem melhor, porque não teria os funks explícitos que você me mandou colocar. - Provoquei.

 

- Fica quieta, você adora os funks! - Empurrou-me pelo ombro. - Eles são só 1% de todas as coisas sensacionais que eu já te apresentei. 

 

- E eu te apresentei uma coisa chamada "beijar mulheres". - Entrei na brincadeira. Eu havia arranjado o primeiro beijinho lésbico de Rafa. - Acho que isso vale muito mais.

 

- Naaaah... - Torceu o nariz. - O que seria das suas fodinhas casuais sem minha playlist lotada de The Weeknd? 

 

- O que seria da sua playlist de sexo, se eu não tivesse te ajudado a pegar as minas com quem você já transou? - Rebati.

 

- Minha playlist continuaria sendo tão boa quanto é agora, suas trepadas eu já não sei, né... - Meu ego murchou. - Mas nem vem querer levar crédito pelas minas que eu pego, não, hein?! Eu não aprendi a dançar a toa! - Voltou a usar um nítido tom de brincadeira. 

 

- Agora tô me sentindo inútil, acho que vou embora. - Disse, fingindo a intenção de levantar.

 

Rafa logo se apressou em me segurar pelo pulso sem muita força.

 

- Idiota! Fica aí. - Pediu, sorridente. - Ainda não terminei de falar com você.

 

- Falar o quê? 

 

- Que eu duvido que você não tem ficado com ninguém. - Retomou o diálogo anterior quando eu já havia praticamente o esquecido. - Você deve estar cheia dos contatinhos.

 

- Na real, eu tô bem tranquila, Rafa... - Respondi sem dar muita importância. Eu não sabia se me sentia confortável o bastante para ficar entrando nesses assuntos com ela.

 

- Ué, tenho certeza que você já pegou várias meninas nesse tempo que ficamos afastadas. 

 

- Por que você tem tanta certeza? - Levantei uma sobrancelha.

 

- Ah... Porque você é a Duda, né? - Deu de ombros de maneira meio retraída.

 

- É, mas você tá enganada. - Rafaela abriu a boca, talvez na intenção de voltar a retrucar, mas fechou logo em seguida, ficando muda e engolindo em seco, assim que nossos olhares se cruzaram. - As pessoas mudam, Rafa. - Fui firme, enquanto fitava sem medo os olhos da garota, querendo fazê-la acreditar em minha palavra... Não que isso importasse, mas eu estava sendo honesta.

 

Suas pupilas pareceram aumentar um pouco de tamanho, contornadas pela íris de cor esverdeada. Era estranha a sensação de ter um contato visual tão direto novamente. Aquilo causou um aperto esquisito em meu peito, como se algo lá dentro sofresse um forte impacto. Virei o rosto rapidamente, querendo evitar que aquele sentimento me causasse algum conflito interno e desnecessário. 

 

Houve um instante de puro silêncio, tanto no teatro, quanto em minha mente, até que Rafa retomasse o poder de fala.

 

- Uau! E-eu não esperava isso de você...- Pareceu positivamente surpresa. 

 

Não tive pressa para responder, apenas sorri, de início.

 

- Faz tempo que a gente não conversa direito MESMO, né? - Falei, fitando-a brevemente.

 

Rafa parecia em choque, seus olhos não se desviaram de meu rosto, pareciam querer checar se era realmente comigo que ela estava falando, analisando meus traços calmamente, sem se preocupar com quanto tempo aquilo levaria. Por um momento, até pensei que seu olhar tivesse descido em direção aos meus lábios, mas, provavelmente, era apenas impressão minha.

 

 

POV RAFA

 

Poderia Duda ter mudado verdadeiramente? Era difícil de acreditar, no entanto algo me dizia que ela estava sendo sincera. Ela parecia, de fato, diferente... Mais madura, talvez. Aquela música do Vitor e Léo nunca pareceu fazer tanto sentido: "Não sei dizer o que mudou, mas nada está igual...". Algo havia mudado no comportamento dela e... Meu Deus, eu estava enlouquecendo com aquilo! Eu não tinha a pretensão de voltar com Duda nem nada do tipo, mas, inegavelmente, meus sentimentos por ela ainda martelavam forte em meu peito e uma possível mudança só tornava as coisas ainda mais difíceis para mim.

 

- É... E você tá mais bonita também. - Constatei, respondendo-a, por fim. As palavras não saíram intencionalmente de minha boca e eu me praguejei silenciosamente por não tê-las mantido em segredo. 

 

Duda apenas sorriu, deixando um silêncio constrangedor dominar o teatro. Eu tentei relaxar e permitir que a música entrasse em minha mente por alguns instantes, buscado distrair-me do impacto que as novidades haviam causado em meu interior. Era como se aquela simples conversa com Duda, tivesse conseguido liberar uma descarga elétrica em meu corpo! Eu acabava de me dar conta de quanto errei em duvidar da capacidade que ela  tinha de melhorar... Talvez eu devesse ter depositado mais créditos nela.

 

- Você vem na festa da escola? - Perguntei, tentando evitar que a situação ficasse mais estranha do que já estava.

 

- Vai ser nesse fim de semana? - Procurou confirmação e eu apenas assenti com a cabeça. - Claro, não tenho nada pra fazer mesmo. - Riu. 

 

- Vou participar de uma das apresentações, sabia? - Eu participava de quase todos os eventos daquele tipo que aconteciam no colégio... Eram apresentações de fim de ano, gincanas e atividades abertas ao público, geralmente os pais das crianças eram os que mais se faziam presentes. 

 

- Então eu não poderia perder por nada! - Duda foi simpática, ela nunca participava, mesmo que isso contasse pontos na média, mas sempre estava lá para me assistir.

 

- Bom mesmo, Pangaré! - Cutuquei-a, descontraindo. - Se perder, eu te mato! Vai ser a melhor apresentação de todas! 

 

- Levanta aí e me dá uma prévia, então! Não estamos em um palco a toa, né? - Pediu, como a boa folgada que era. Ela costumava saber e me ajudar em tudo, porém, dessa vez, era um completo sigilo.

 

- Tá, mas você tem que ir pra platéia se quiser assistir. - Impus a condição e Duda fez uma careta preguiçosa. Coloquei-me em pé. - É pegar ou largar. - Cruzei os braços, enquanto ela continuava sentada, olhando para mim.

 

Duda bufou após alguns segundos, dando-se por vencida. Finalmente se levantou e pulou do palco, indo até uma das cadeiras da primeira fileira (Boas lembranças daquela cadeira, hein...).

 

- Pronto, agora já pode começar!

 

- Certo... Deixa eu só colocar a música. - Peguei o celular que Duda havia deixado sobre o palco e fingi estar pesquisando a música da minha apresentação, mas, na realidade, eu só estava rolando a playlist, preparando-me para clicar eu uma faixa aleatória. 

 

Duda franziu o cenho, estranhando a música que começou a tocar. Era "Chupa" do Mc 2K, um tanto imprópria para uma apresentação escolar, não? 

 

- Vocês vão mesmo ter coragem de dançar isso aqui? 

 

Sorri de forma travessa. 

 

- Fica quietinha e presta atenção. - Mandei, colocando-me em uma pose, como se me preparasse para iniciar uma dança super sexy. Duda pareceu assustada. - Vai ser bem assim, ó... - Joguei os cabelos para trás, segurando a risada, e mexi o quadril lentamente, criando um suspense, fingindo que tudo aquilo fazia parte de alguma coreografia maluca, quando, na verdade, eu sequer sabia como dançar um funk como aquele. Assim que a música começou para valer, ao invés de dançar, simplesmente saí correndo. - NÃO VOU TE DAR PRÉVIA NENHUMAAAA! - Gritei, enquanto ia para a parte de trás do palco, passando pela coxia.

 

Duda pareceu ter sofrido um delay, demorando para processar a informação e entender o sentido do que eu tinha acabado de fazer, no entanto eu sabia que ela acabaria indo atrás de mim e entrando na minha brincadeira. Não demorou para que eu escutasse seus passos rápidos sobre o palco de madeira, enfiei-me, então, atrás da porta de um dos camarins, escondendo-me. Por uma pequena fresta, pude ver Duda passar, procurando atentamente por mim. No momento em que tive certeza que ela já havia se direcionado até a porta seguinte, saí agilmente de meu esconderijo, dando um pulo para o lado de fora do corredor.

 

- Ah rá! Perdedora! - Gritei, assutando-a e fazendo com que ela, que estava de costas para mim, se virasse instantaneamente. Duda avançou em minha direção e eu tive que me apressar em correr para longe dela, fazendo o caminho de volta para a frente do teatro. 

 

Eu tinha pernas maiores e costumava ser mais rápida do que a garota dos olhos azuis, no entanto, quando eu estava prestes a descer pelas escadas do palco, ela não reduziu a velocidade em que corria. Tudo o que consegui foi exclamar um "Duda!" meio desesperado e ofegante, antes que ela conseguisse esticar o braço e agarrar minha mão. Perdi o equilíbrio e meu tronco se inclinou para frente, o peso da garota não foi o bastante para me segurar, assim, ela acabou sendo puxada por mim e caímos, as duas, desastrosamente pelos poucos degraus de escada que levavam à platéia.

 

Deixei escapar um gemidinho abafado de dor ao sentir a força com que o ossinho saltado de meu quadril bateu no chão. Eu havia caído meio de lado e, ainda por cima, com Duda em cima de mim, o que pareceu aumentar a força do impacto. Girei meu corpo instintivamente, ficando de barriga para cima e levando uma das mãos até o local que doía. Fechei os olhos e soltei um longo e baixo resmungo. 

 

- Machuquei você? - A voz doce e preocupada da garota posicionada não propositalmente sobre mim, fez-me abrir os olhos. A dor pareceu cessar no mesmo segundo em que visualizei o par de olhos azuis encarando meu rosto com atenção, tão próximos de mim...

 

- E-eu... - Tentei formular uma frase mais complexa... Talvez para xingar Duda pela ideia estúpida de me segurar logo na escada, talvez para dizer onde doía... Eu não sei, pois, no final, acabei desistindo, percebendo que não daria conta de pronunciar nada que fosse tão longo. - Não... - Respondi, por fim, baixinho, quase que em um suspiro. 

 

- Tem certeza? - Continuou a me olhar daquele jeitinho afetuoso, causando uma explosão de sensações dentro de mim. Senti que queria explodir, chorar, beijar a boca da garota, que estava tão perto da minha, falar milhares de frases impensadas e confessar tudo o que se passava em minha mente, mas eu estava paralisada demais para isso, então apenas confirmei com a cabeça. - Que bom, porque você é uma ótima amortecedora de quedas! - Riu, fazendo-me finalmente reagir e rir também.

 

- Sai daqui, garota! - Empurrei Duda para o lado, tirando-a de cima de mim. - Queria dar uma de Nazaré Tedesco, é?

 

- Talvez... - Brincou, ficando em pé e estendendo a mão para me ajudar a levantar também. Meu quadril latejou de dor assim que apoiei uma das pernas no chão, fazendo com que eu levasse as duas mãos de volta ao local, não conseguindo conter mais um baixo gemido de dor. - O que foi? 

 

- Acho que bati mais forte do que pensava. - Admiti, fazendo com que Duda passasse a olhar para o local onde eu apertava.

 

- Vem cá. - Pegou-me pela mão, puxando-me para a primeira cadeira que encontrou. - Deixa eu ver isso. - Disse, enquanto se sentava ao meu lado.

 

- Não precisa, Duda... Não foi nada. - Falei, sabendo que a dor passaria. 

 

- Deixa eu ver, Rafaela. - Foi mais firme, tanto na voz, quanto no olhar. 

 

Levantei um pouco a blusa e, por conta da dor, encontrei alguma dificuldade para abaixar um pouco a calça jeans que eu usava, afim de deixar o caminho livre para que Duda pudesse analisar o hematoma. O local já estava bastante roxo e até um pouco inchado pelo impacto. 

 

- Vou com você na enfermaria. - A garota tentou levantar, mas segurei-a pelo braço. 

 

- Nem pensar! Como vai explicar o que aconteceu? - Questionei.

 

- Dane-se, Rafa! Você tem que colocar gelo aí! - Soltou-se de mim.

 

- Chegando em casa eu prometo que coloco. - Garanti. - Fica aqui, não corra o risco de se meter em problemas por isso. - Pedi.

 

Duda pareceu relutante, mas acabou por se sentar novamente. Ela voltou a olhar atentamente o machucado em meu quadril, dessa vez com mais calma, aproximando um pouco o rosto.

 

- Isso tá feio... - Fez uma careta como se pudesse sentir minha dor, em seguida levou os dedos até o ossinho saltado, encostando com muito cuidado. - Dói assim? - Neguei com a cabeça, só então ela passou a tocar com mais segurança, deslizando os dedos por minha pele, como em um carinho, parecendo querer cuidar do hematoma que havia provocado. Meu peito se preencheu de um sentimento ainda mais doloroso que o da própria batida... Como eu eu poderia esquecer aquela garota com ela me tratando daquele jeito? - Me desculpa por isso... - Pediu, levantando os olhos em minha direção, parecendo verdadeiramente sentida pelo acontecido. 

 

Minha boca estava extremamente seca, o que me fez ter que engolir com força e respirar fundo antes de conseguir pronunciar qualquer coisa em resposta. 

 

- Não tem problema... Já vai melhorar. - Tranquilizei. - Como diz minha mãe, "quando casar sara". - Tentei descontrair e mandar para longe a tensão que se alojava em meu peito.

 

- Então vamos casar agora pra sarar logo. - Usou um tom puramente brincalhão.

 

- Acho válido, afinal tudo isso é culpa sua. - Esforcei-me para acompanhar a brincadeira. 

 

- Nossa, não precisa me fazer sentir mais culpada do que já estou! - Levou a mão ao peito, exagerando sua expressão.

 

Soltei uma risadinha.

 

- Tô brincando, relaxa!

 

Ela me fitou com um sorriso por alguns instantes, sem ter mais nada a dizer. Os olhos de Duda me encantavam, assim como os demais detalhes de seu rosto. Estivemos afastada por tempo demais... Desde que eu podia me lembrar, eu nunca havia ficado tanto tempo sem ter boas conversas com ela e, depois de tudo o que aconteceu, aquela era a primeira vez que a garota demonstrava alguma preocupação comigo. Eu sabia perfeitamente que nossa relação não era mais como antes, entendia que seríamos apenas amigas e que isso era o mais sensato a se fazer, no entanto eu estava tendo que lutar para manter essa ideia em mente, principalmente após perceber o erro que havia cometido por não ter acreditado em sua capacidade de mudança. Apesar de termos nos distanciado por um tempo considerável, bastava que nossos olhares se cruzassem para que eu fraquejasse e esquecesse de todas as minhas decisões racionais.

 

- Se quer saber, eu também duvido da outra parte. - Quebrei o silêncio, sentindo meu coração bater mais forte. A frase avulsa fez com que Duda franzisse o cenho, sem entender a que eu me referia. 

 

- Tá delirando? - Riu. 

 

Neguei com a cabeça.

 

- Você me perguntou de qual parte eu duvidava e... Pode até fazer séculos que não beija, mas duvido que tenha desaprendido. - Fitei-a com seriedade, enquanto ela parecia tentar processar a informação que a havia pego de surpresa. Esperei pacientemente até que seu semblante se clareasse e ela finalmente se desse conta do que eu falava.

 

 

 

*** TAM TAM TAAAAAAAM! Fica aí o suspense! Kkkkkk como vcs acham que a Duda vai reagir?

 

Estavam com saudades desse OTP? Estão preparadxs pra mais POVs delas? 

 

Deixem suas opiniões, xingamentos, reclamações e sugestões!

 

Até maixxxxxx! ***



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