História Give me love, please - Capítulo 8

Eu me sentia um pouco mais louco a cada dia que passava. 
Como se não bastasse toda a confusão de sentimentos que estava dentro de mim, Katniss ainda teve que ficar doente. E o problema nem era esse. O problema foi a preocupação que tomou conta de mim, quando a vi tão pra baixo, e ardendo em febre. Eu tive que obriga-la tomar um banho, e a come. A única coisa que ela fez de boa vontade, foi tomar os benditos remédios. 
Eu estava me sentindo bem, enquanto cuidava dela. Mesmo que as alfinetadas estivessem mais afiadas do que nunca, no fundo, tudo o que eu queria, era que aquela garota ficasse bem. 
As coisas ficaram um pouco mais complicadas, quando estávamos no chuveiro. A vontade de beija-la era enorme. Tão grande quanto à vontade que eu havia sentido no carro, outro dia. E quando ela fez aquela porra de pedido, para eu ficar com ela, eu já estava muito mais do que louco, e parecia nem ser por culpa dela, e sim, por ela em si. 
Eu velei por seu sono aquela noite inteira. Acompanhei de perto sua febre sumir, a cobri quando ela se descobriu, enquanto resmungava sonhando, sorri quando a vi sorrir em meio ao sono. A poltrona que ficava no meio do quarto, foi arrastada por mim mesmo, a deixando ao lado da cama de Katniss, onde eu a contemplei durante a noite toda. E nunca chamei Prim, nem mesmo quando ouvi ela chegar. 
Na manhã seguinte, quando acordei, me preocupei em colocar a poltrona em seu devido lugar, e antes de abandonar o quarto de Katniss, a observei por alguns minutos. Sua expressão era serena, e a vontade de continuar a cuidar dela era enorme. Puxei seu edredom, que já estava quase no chão, e a cobri devagar. Minha mão se encaminhou para acariciar seu rosto, mas eu a contive a tempo. 
Sai de seu quarto, e fui até o meu, onde eu coloquei minha roupa, e capturei a minha mochila. Em poucos minutos eu teria que ir para escola, mas não sem antes me certificar de que ela realmente estava melhor. 
Desci as escadas, pulando de dois em dois degraus, como já era de costume. Effie e meu pai já não estavam mais em casa, então eu resolvi preparar algo sozinho. 
A minha ideia inicial era levar o café até ela, e perguntar sobre o seu estado, mas essa ideia pareceu idiota demais, quando ela chegou a cozinha séria, e caminhou até a geladeira sem nem mesmo olhar pra mim. 
Eu a observei, tentando fazer com que meu olhar a fizesse me notar, mas não funcionou. Katniss não me encarou nem por um segundo se quer. Ela bebeu todo o suco, que ainda havia na caixinha, e sumiu da minha visão, não sem antes pegar uma maçã sobre a mesa, e jogar na bolsa. 
O ódio que havia sido amenizado na noite anterior, voltou muito mais forte. A vontade de gritar com ela, e perguntar o porquê ela estava fazendo aquilo comigo, veio com tudo. 
Puxei a mochila que estava sobre a mesa, e a joguei sobre meu ombro, saindo apressado. Eu queria alcançar aquela garota, e confronta-la. 
- Já vai pra escola? - Prim perguntou, descendo o último degrau. – Peeta. O que aconteceu? 
Parei já na porta, e me virei para encarar minha irmã, que tinha seu olhar preocupado. 
- Se importa se conversarmos depois? - perguntei calmo, e ela negou. - Eu realmente preciso ir agora. 
- Tudo bem.
Sorri, saindo de casa em seguida. 
Quando cheguei a rua, Katniss já entrava no ônibus que saiu apressado, em seguida. Dei um soco no ar, mesmo que a minha vontade fosse de socar a cara de alguém. 
E foi depois daquele dia, daquele maldito dia, que as coisas entre Katniss e eu, ficaram cada vez piores. 
- Estou desconhecendo você, Peeta. - Glimmer me empurrou pelo peito, fazendo com que minhas costas batessem contra a parede. - Cadê o velho e bom Peeta Mellark? 
Encarei o rosto de Glimmer. A loira me encarava com seriedade, enquanto cruzava os braços abaixo dos seios. 
Aquele gesto me fez lembrar de Katniss. E se antes eu não estava conseguindo me pegar com ela, do jeito que ela queria, agora sim, seria impossível.
- Estou com a cabeça no jogo, Glim. - usei a primeira desculpa que me veio à cabeça. 
- Quantas vezes eu já te ajudei a esfriar a cabeça, enquanto esquentava as coisas. - ela sorriu de lado, enquanto se aproximava novamente. - Vamos lá, bebê. 
- Depois, Glim. - a segurei pelos ombros, antes que ela conseguisse me beijar. 
- Vai a merda, Peeta! - ela me empurrou com um pouco mais de força, antes de sair batendo pé. 
Suspirei pesadamente. 
Maldita seja a filha de Effie. Maldita seja ela por conseguir acabar com a minha vida quase perfeita. 
Comecei a caminhar rumo a sala de aula, onde agora teríamos uma maravilhosa aula de álgebra. 
Glimmer realmente tinha ficado muito brava comigo, já que ela havia abandonado o seu lugar habitual ao meu lado, para se sentar do outro lado da sala, ao lado de Clove. Resolvi não dar muita importância ao seu ato, e continuei a adentrar a sala, me sentando na última cadeira no fundo, a poucos metros de onde Gale estava parado em pé, buscando alguém com o olhar. 
- E aí, gostosão. - Finnick beijou meu rosto, e eu fiz careta, limpando o mesmo com a mão.
- Idiota. – ralhei, fazendo-o rir. 
- Opa, casal novo? 
Segui o olhar curioso de Finnick, e a cena que eu vi, não me agradou em nada. 
Eu não havia notado que Katniss já estava na sala. Não até vê-la sorrindo como uma idiota para Gale, que lhe entregava um embrulho na cor rosa. 
Ela odiava rosa. Então, porque ela estava sorrindo daquela maneira, para o merda do Hawthorne? 
- O que a paixão não faz? - Marvel se manifestou, sorrindo. - Gale tá caindo em cima. 
- E pela primeira vez, não precisou da ajuda do Peeta. Seria uma evolução? - Cato perguntou, sorrindo. 
Katniss não abandonava a sua mania de deixar sua barriga à mostra. Eu até que gostava, mas não quando Gale tocava sua cintura vez ou outra, enquanto eles mantinham uma conversa animada. 
O que o Hawthorne tinha que eu não tinha? Por que Katniss conseguia sorrir para ele, enquanto para mim, só sobrava suas provocações e sua teimosia? 
- E então Peeta? - Finnick chamou a minha atenção. - Qual a sua opinião, sobre o assunto? 
- Que assunto? – perguntei, sem tirar os olhos de Katniss e Gale, que não paravam de conversar. 
- Sobre o casalzinho. - virei o rosto para encarar Marvel, que sorria. - Eles tem a sua aprovação? 
Voltei a encarar Katniss e Gale, que pareciam cada vez mais entretidos em sua conversa animada, a ponto de não notarem que eles eram o centro das atenções, dentro da sala de aula. 
Estralei meus dedos, sentindo a raiva tomar conta de mim. Eu estava procurando não fazer mais idiotices. Eu também não queria dar motivos a Katniss para que ela me achasse um imbecil, mas as coisas não estavam indo por um bom caminho. 
A raiva estava correndo por minhas veias. Eu tanto sentia vontade de socar a cara de Gale, até que ele ficasse desacordado, e também queria gritar com Katniss. 
Eu queria jogar na cara dela todas as coisas que eu estava guardando para mim, durante todos aqueles meses, e depois de desabafar, eu a beijaria, nem que fosse só para descobrir o gosto que tinha sua boca. 
Mas quando se está com raiva, nem sempre agimos da maneira que gostaríamos. Então, eu fiz a única coisa que estava ao meu alcance. Levantei, empurrando a mesa com força, e a passos largos, caminhei até onde os dois conversavam. Não fiz menção de desviar, então, quando eu estava muito perto, os dois abriram caminho, para que eu passasse no meio deles. E, sem nem mesmo dar tempo para que eu pensasse direito, eu puxei Glimmer para meus braços, fazendo com que ela apoiasse suas mãos em meu peito, e então eu a beijei. 
A beijei da maneira mais feroz que eu pude, apertando cada pedaço de pele com força. Ela retribuiu meu beijo, esfregando seu corpo esbelto contra o meu, e puxando meus cabelos da nuca vez ou outra. Quando o ar se fez necessário eu a empurrei devagar, vendo seu sorriso brilhante, em minha direção. 
- Bebê...
- Você não estava com saudades do velho Peeta? – questionei, e ela assentiu. - Vou matar a sua saudade agora. 
- Então quer dizer que ele ainda está vivo, em algum lugar aí. - ela tocou meu peito, e eu assenti. 
- Sim, e eu vou te mostrar o quão vivo ele está. 
E naquela manhã, ainda na escola, no banheiro masculino, eu transei com Glimmer, coisa que eu evitava há dias. E se as coisas entre eu e Katniss já estavam feias antes, depois daquilo então, nem se fala. 
Dias se passaram, e com eles semanas, e com as semanas, meses, e com eles a nossa folga de primavera. 
Uma semana longe da escola. 
Dividir o mesmo teto com Katniss estava cada dia mais insuportável, já que nossas provocações estavam cada vez mais pesadas. 
Nem mesmo meu pai e Effie estavam suportando a nossa troca de farpas. Enquanto isso, ela e Gale pareciam cada dia mais próximos. Até frequentar a minha casa diariamente, ele frequentava. 
- O que está acontecendo com você? 
Transferi a minha atenção, que estava voltada ao meu notebook, para o rosto bonito da minha irmã mais nova. Prim usava um pijama do Bob Esponja, e pantufas da Minnie. Uma bela combinação. 
- Estou entrando na fase adulta. Talvez eu não estivesse preparado para esse longo passo. – brinquei, vendo ela sorrir. 
- Acho que eu concordo. - Prim também brincou, sentando na cadeira vazia a minha frente. - Você e Katniss ainda estão brincando de gato e rato?
Ergui uma única sobrancelha em direção a minha irmã. 
- Você não tem outro assunto? – questionei, não querendo falar de Katniss. 
- Depende. Você quer falar de outro assunto? - ela perguntou, retoricamente. 
Eu sabia que Primrose só queria o meu bem, assim como eu também sabia, que talvez desabafar, fosse uma boa solução. O que eu não sabia, era até que ponto andava a minha confusão de sentimentos por Katniss.  
Ela me levava do céu ao inferno, em questão de segundos. 
- Como foi o seu último dia de aula, antes da nossa semana de férias de primavera? – perguntei, e Prim revirou os olhos. 
- Tudo bem. Só quero que saiba que quando precisar desabafar, eu estarei aqui.
Minha irmã ameaçou sair da mesa, mas eu a detive com minha fala:
- Foi quando Katniss ficou resfriada. – comecei, devagar. - Você teve o aniversário de Rue, e papai e Effie o jantar de negócios. - Prim estava atenta ao meu relato. - Eu cuidei dela, e achei que as coisas ficariam melhores, mas no dia seguinte, ela nem me olhou nos olhos. 
Resumi, e observei minha irmã me encarar calada. Prim suspirou, antes de finalmente falar algo: 
- Você já pensou que ela pode ter os motivos dela pra isso? - minha irmã questionou, e eu assenti. 
- Já. Pena que ela não pensou que eu também cuidei dela, por meus próprios motivos. - falei baixo, e Prim sorriu. 
- Você está...
- Não. Não estou mais. - a cortei, levantando com meu notebook na mão. - Foi só um momento de loucura, Primrose. Só um momento. 
- Peeta...
- Eu não quero mais tocar nesse assunto. - falei calmo, e minha irmã assentiu. 
- Tudo bem. Obrigada por se abrir comigo. - ela levantou, e caminhou até mim. - Eu estava sentindo falta de conversar com você. 
- Com quem mais eu me abriria, se não fosse com a minha caçulinha? - a abracei com um único braço. - Boa noite, Prim. - beijei o topo de sua cabeça. 
- Boa noite, maninho. - ela sorriu, me soltando. 
Deixei Primrose na sala, e subi os degraus, me encaminhando para o meu quarto. 
Uma das piores coisas em dividir a casa com Katniss, era ter que sentir o seu cheiro no corredor, onde ficavam nossos quartos. O cheiro do seu shampoo de lavanda, seu sabonete que lembrava muito o cheiro de rosas, ou até mesmo o seu perfume, que era algo tão simples, natural e inebriante. Tão inebriante quanto ela, e a sua mania de me confundir. 
O barulho vindo do quarto de Katniss, atraiu a minha atenção, que até então estava só em seu cheiro, que invadia as minhas narinas. 
A porta de mogno, que Effie tanto amava, foi aberta devagar, e por ela passou Katniss seguida de Gale, e foi aquela cena que me fez sentir como se todo o meu sangue tivesse fugido do corpo. 
- E aí, Peeta! - Gale me cumprimentou, na maior cara de pau. 
Encarei seu rosto sorridente, para em seguida encarar o rosto corado de Katniss. Ela parecia estar com vergonha da situação em si. Também... Quem não ficaria, ao ser flagrada saindo do próprio quarto, tarde da noite, com um garoto? 
Eu não sei por quanto tempo Katniss e eu ficamos nos encarando, mas eu podia sentir o quanto o clima estava pesado entre nós dois. 
- Então... Eu já vou indo. - Gale se manifestou. - Obrigado pela ajuda, Katniss. - ele sorriu, beijando a bochecha da Everdeen, que conseguiu ficar mais corada ainda. 
- Não precisa agradecer, Gale. - ela devolveu o sorriso. 
Revirei os olhos, impaciente. 
- Até mais, Peeta. - assenti para Gale, antes de o ver sumir pelos corredores. 
Voltei a encarar Katniss, que também já se preparava para voltar ao seu quarto. 
Se eu fosse um cara que não gostasse de criar problemas, eu faria o mesmo que ela, e sumiria pelo corredor, até chegar ao meu quarto. Mas eu não era assim. Não quando a raiva, e porque não dizer ciúmes, me consumiam. 
- Effie sabe dessa sua mania? – questionei, e ela parou de andar, para me encarar, confusa. - Essa, de receber garotos no seu quarto, tarde da noite? - ela abriu a boca, mas eu a cortei. - Você costumava recebe-los no seu quarto, lá no Tennessee? Era algum tipo de profissão, ou coisa parecida? 
A frase mal havia saído de meus lábios, e eu já sentia a ardência em meu rosto, assim que Katniss chocou sua mão pequena, contra a minha bochecha esquerda. A raiva que já estava alojada em mim, pareceu aumentar em níveis extremos. 
Encarei Katniss, sentindo o meu sangue ferver. Seu rosto estava mais corado do que nunca, e não parecia ser de vergonha, enquanto o ar escapava de sua boca, em lufadas altas e descompassadas. 
- Você enlouqueceu, coisinha? – questionei, esfregando o rosto com a palma da mão. 
- Você enlouqueceu! - ela gritou, se aproximando de mim. - A cada dia que passa, eu só tenho mais certeza do quão idiota você é. 
- O que você quer que eu pense? Já é quase madrugada, e você sai do seu quarto acompanhada de um cara, que está caidinho por você. - eu também elevei a minha voz. 
- Você não tem que pensar nada, seu escroto. - ela espalmou suas mãos em meu peito, antes de me empurrar levemente. - E Gale não está afim de mim. 
Soltei um riso contido, pelo nariz. 
- Eu sou Peeta Mellark, coisinha. - apertei minha mão com força fazendo os dedos estralarem. - Eu sei quando um cara quer uma garota. E Gale está afim de você. 
- E o que você tem a ver com isso? - a sua resposta, me deixou sem fala. - E se ele e eu estivéssemos mesmo fazendo, o que você pensou que estávamos? O que você tem a ver com a minha vida? 
Talvez ela não tenha percebido, mas à essa altura Katniss já gritava, enquanto empinava seu nariz em minha direção. 
Ela tinha razão. Eu não tinha nada a ver com a vida dela, e com o que ela fazia ou não com Gale dentro do quarto. Eu só não queria sentir, o que eu estava sentindo. 
Sem resposta para a sua pergunta, e me sentindo um lixo humano, eu voltei a caminhar para o meu quarto. Abri a porta, e joguei meu notebook de qualquer maneira sobre a cama. 
Segurei a barra da minha camiseta cinza, e a puxei para cima, a arrancando pela cabeça. Eu precisava de um banho. Um banho relaxante, capaz de me fazer esquecer aquele dia, aquele mês, e, quem sabe, aquela garota. 
Antes que eu alcançasse o banheiro, a porta do meu quarto foi escancarada, e por ela passou uma Katniss, furiosa. 
- Por que você... - ela se calou, quando me encarou. - Er... Por que você age assim? Qual é o seu problema? 
Eu continuei calado, enquanto a encarava nos olhos. 
Seus olhos cinzentos, eram os mais lindos que eu já havia visto, em toda a minha vida. Mesmo que ela estivesse fervendo de raiva, eu ainda podia ver o brilho deles. Ela era linda. Não seria exagero dizer que ela era a garota mais linda que eu já havia desejado. Eu não precisava mais mentir. Não para mim mesmo. 
- Responde, Peeta. - só notei o quão perto ela estava, quando senti sua respiração ricochetear em meu rosto. - Qual é o seu problema? 
Em um ato rápido, e totalmente impensável, eu a segurei firme pela cintura, girando seu corpo, até que suas costas batessem devagar contra a parede azul marinho do meu quarto. Sua respiração pareceu sumir por alguns segundos, antes de ficar rápida demais. Seu cheiro parecia muito melhor de perto, e sua boca volumosa, mil vezes mais beijável. 
Fechei os olhos buscando algum pouco de juízo, mas não encontrei nenhum. Então, devagar, eu me aproximei dela. Nossos narizes se roçaram devagar, e eu quase podia sentir o gosto da boca dela. 
Abri meus olhos, encontrando os olhos de Katniss, que me encaravam cheios de dúvidas, e com algo a mais, que eu não conseguia identificar. 
Eu não estava preparado para me apaixonar. Eu nunca estive. Acho que na verdade, ninguém se prepara para algo assim. Mas, levando em consideração toda aquela situação, eu já tinha uma resposta para a sua pergunta, naquele momento. 
O meu problema, com toda certeza, era ela.