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História God save the Queen! - Simulacra


Escrita por: nsauthor

Notas do Autor


Não desistam de mim, por favor.

Capítulo 5 - Simulacra


DAISY-POV

 

Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto aquele que a sente”. Me pego pensando constantemente na frase de Shakespeare, me pego pensando em John e no quão cruel sua partida desse mundo fora, e tento compreender. Talvez John não tenha sido o cara mais bacana do mundo, entrava em brigas constantemente, mas não é isso que os rapazes de sua idade fazem? Penso em Trevor, Brandon, Max, são todos idiotas também. Não haviam motivos para que alguém quisesse destroçar John como fizera. Apesar de tudo, ele era bom. Não era?

- Odeio te ver assim. – Fred diz, com a voz baixinha, ao meu lado. Balanço minha cabeça, forçando o olhar a focar seu rosto. Tento sorrir, não sei se é muito verdadeiro.

- Assim como? – Pergunto, fingindo que não há nada demais acontecendo. Não quero fingir que estou feliz, mas acho que Harry está certo, preciso tomar cuidado, apesar de tudo, a morte de John aconteceu em minha própria casa, e sua voz martela em minha cabeça o tempo todo.

- Assim ué, como se nada na vida valesse mais a pena. – Ele tenta sorrir gentilmente, enquanto estende a mão sobre a mesa para segurar a minha e acariciar minha pele com a ponta dos dedos. Não afasto a mão, mas também não retribuo o carinho.

- E a vida algum dia valeu? – Charlotte praticamente desliza pela cadeira ao meu lado, cruzando os braços com estupidez e um bico gigante nos lábios. Quase sorrio, quase me pego sentindo uma felicidade genuína que, nestes tempos, parece até mesmo sombrio demais sentir.

- A vida sempre vale a pena, idiota. – Angelica toma o lugar do lado oposto da mesa, com Elliot em seu encalço. Elliot sempre esteve atrás de Angelica, acho que desde a quarta série, é um tipo de obsessão meio doentia, mas ao mesmo tempo fofa, que eu nunca vou entender. Não que Angelica não fosse especial, ela deve ter algo demais, só não consigo identificar. Sua beleza é padrão filme hollywoodiano, entende. Lábios carnudos e sempre bem pintados, bem como o resto de sua maquiagem sempre combina com o que está usando todos os dias. Cabelos pretos escorridos, sempre presos em um rabo de cavalo e um corpo forte e pernas torneadas, mas isso é praticamente um código de aparências das lideres de torcida.

Após Angelica e Elliot, Alicia e Max também chegam de mãos dadas, como se quisessem mostrar para todos que estão firmes e fortes, bem atrás vem Trevor e Brandon também, e logo estamos todos sentados na mesma mesa. E obviamente, todos estão me encarando. De repente, me sinto como uma bomba relógio, e todos estão contando os segundos.

- Fiquei sabendo que não conseguiu dar pro Sr Dominic novamente, Charlie? É por isso a cara emburrada? – Pergunta Trevor sem o menor pudor, fazendo com que a cara de Charlotte fique tão vermelha quanto o batom que Ali está usando hoje. Fred pega uma batata frita da bandeja de Alicia e joga nele, fazendo um gesto obsceno com as mãos em seguida.

- É claro que não Trev, todos sabemos que isso é o papel da sua mãe! – Defendo minha amiga em voz alta, e novamente, todos estão em silencio olhando para mim. Me sinto estranha em meu próprio grupo. Como se percebesse a situação constrangedora, Fred começa um “uuuuuh” que logo é acompanhado pelo coro de pessoas ao meu redor. E sendo assim, todos estão rapidamente rindo, e tão rápido quanto voltam a ignorar todos os acontecimentos, como se tudo estivesse perfeitamente normal.

Quero dizer que respeito isso, acredito em um processo evolutivo constante, mas não consigo deixar de me pegar pensando em John a cada cinco minutos. O banco vazio ao lado de Brandon emana um frio descomunal, cada um de nós quando observa o banco solta um suspiro fúnebre. John faz falta, para todos.

Apesar das indiferenças entre os rapazes, a competição acirrada correlativa a superioridade de quem estava mais apto a ser o capitão do time de baseball, John era o elo mais forte entre todos. E agora havia o desgaste, entre piadas e brincadeiras idiotas, algo estava faltando, uma peça essencial estava faltando. Era como eliminar uma peça essencial no tabuleiro de xadrez, logo no inicio do jogo.

- Yep, é uma merda! Vamos fazer uma festa. – Trevor diz, dando de ombros enquanto cutuca sua comida com o garfo, encarando o prato com certo desgosto.

- Na verdade, é uma ideia genial. – Charlotte acompanha o dar de ombros do garoto de olhos puxados, e acho de repente que é surpreendente ver Charlie concordar com algo que Trev diz, porque todos sabem que o fato de terem se relacionado e nada ter dado certo, por culpa da competição de ego dos dois, havia marcado com certa violência o desenrolar do futuro de ambos. Não que se odiassem, mas haviam faíscas demais que não podiam ser resolvidas tão facilmente.

- Eu concordo, precisamos de um tempo. Um tempo nosso. – Max concorda e Alicia o olha apaixonadamente, enquanto balança a cabeça repetidas vezes. Quando vejo Fred, ele está fazendo uma careta de nojo, e novamente, quase dou risada da situação.

Afinal, todos acabam concordando, precisamos daquilo, todos estão sentindo isso, a frente fria que a morte de John trouxe está congelando nossos ossos, e, depois de tudo, nossos corações também. De nossa maneira, precisamos nos reencontrar após o ocorrido. Nunca estivemos preparados para viver algo do tipo, nossas vidas em Blue Lake foram sempre tão... sem graça, eu acho. Uma morte não é apenas algo horrível, mas a morte de um verdadeiro amigo é desesperador.

- Vamos fazer essa merda acontecer. Levem bebidas, eu cuido do resto. Minha casa, oito horas. – Trev diz, e volta a encarar seu prato de comida. Rapidamente, ergue seu suco de maçã, propondo um brinde. – A John!

- A John! – Dizemos em uníssono, batendo nossas garrafas sem muita delicadeza.

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Não estou preparada para isso, não estou preparada para recomeçar assim tão rapidamente e agir como se tudo estivesse da mesma forma como antes. Eu não andava no encalço de John, não estávamos a todo o tempo juntos, para falar a verdade a maior parte do tempo passávamos discutindo e nos evitando, mas ainda assim, era como se algo simplesmente não se encaixasse, estava errado.

E ainda assim, não podíamos evitar.

Encaro o espelho. Acho que estou bem. Fecho o botão da calça jeans e aliso minha blusa de seda. Eu estou bem. Não estou indo para um desfile, é apenas uma reunião na casa de um amigo para celebrar a saudade por outro amigo. Eu realmente estou bem. Respiro fundo e é isso, sinto o aperto e angustia no peito por estar fazendo algo que não acho certo, mas que ao mesmo tempo sei que é necessário. Jogo meus principais pertences em uma bolsa e desço as escadas, encarando mais uma vez o espelho antes de sair.

- Está bonita. – Minha mãe me diz, ao pé da escada. Estou admirada com o quanto de tempo meus pais tem passado em casa, afinal de contas, eles estão sempre viajando a negócios. Estou mais acostumada a ver a cara da Sra. Johnson do que qualquer outra pessoa, mas ainda assim, estou agradecida. É bom tê-los por perto, mesmo que fiquem enfurnados no escritório. Acho que preenche um pouco o vazio. – Não volte muito tarde, ainda não podemos confiar neste lugar.

- Não se preocupe, acho que Fred vai me trazer de volta, está tudo bem, mãe. – Forço um sorriso e beijo sua bochecha, saio definitivamente. Há um certo eco de desespero quando bato a porta, mas é isso, John não está ali, não vai voltar, e eu vou, sei lá por qual motivo, comemorar isso hoje.

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A casa de Trevor é enorme, há pelo menos uns seis quartos. Sei disso porque já estive ali tantas vezes nos últimos anos que mal posso contar. Trevor não é minha pessoa favorita no mundo, não poderia ser. É estúpido, arrogante do pior tipo, acredita piamente que é superior a todos os outros e tem as piores piadas. Mas ainda sim, parece que Trev sempre esteve ali do lado, sem motivo real aparente, só esteve.

Seus pais conhecem meus pais da época de escola, é isso que acontece quando você mora em uma cidade pequena. Seus pais se conhecem, seus avós se conheceram, seus filhos um dia serão amigos dos filhos daqueles que foram seus amigos. É um elo praticamente eterno. E os Gwon sempre foram parte de minha vida. Meus pais tinham muito confiança no Sr. Gwon, pois trabalharam por um bom tempo juntos, então criaram aquele tipo de laço misterioso e até um pouco bizarro que nasce e cresce dentro de uma sala fechada, mas que acaba se estendendo para todo o resto.

- E aí ruivinha, tá gata pra caralho. – Trev disse enquanto puxava a sacola com as bebidas de minha mão. Assim que entro, encaro meu reflexo rapidamente no espelho e me pergunto o real motivo pelo qual Trevor me elogiou. Eu não estava gata pra ‘caralho’, muito menos gata, eu nem sabia porque tinha ido até ali, só me enfiara dentro de um par de jeans e sai de casa rápido, antes que desistisse. Eu sigo Trevor até a cozinha, encontrando ali Brandon, Fred e Charlotte.

- Chá? Quem é que vai beber essa porcaria? – Fred pergunta com a voz esganiçada, e eu sei que ele já está bastante alterado.

- É hibisco, é gostoso. – Eu digo, me apoiando contra a bancada, enquanto puxo um pirulito de cereja de dentro do pote de doces.

- Além do mais, ajuda com a retenção de líquidos. – Alicia aparece, trazendo Angelica consigo. As duas claramente estavam na piscina, pois seus trajes são de banho e estão completamente encharcadas.

- Frescuuuuura. – Cantarola Brand, só para encher o a paciência de Alicia, ele sabe que a garota é líder de torcida e está sempre em busca do corpo ideal, padrão de estrelas de Hollywood, de maneira que entende mais do que qualquer outra pessoa o que é certo de se comer ou beber. Mas Brandon não está de um todo errado, Alicia é mesmo cheia de frescuras, sempre balançando seus cabelos loiros em um rabo de cavalo lambido. É bonita, mas fútil.

- Max não está aqui? – Pergunto, não conseguindo esconder a estranheza que é encontrar a garota sem o namorado. Ali nunca está sem o namorado, os dois vivem grudados como se fossem unha e carne. Assim como Angie e Elliot. Logo percebo que Fred e eu somos os únicos sem relacionamentos, isto claro, se considerarmos o relacionamento conturbado de Charlie e Trev, que provavelmente nunca vão admitir que tem alguma coisa rolando por debaixo dos panos deles. E por panos, quero dizer os lençóis de suas camas. Me pego rindo baixo, e todos me encaram. Percebo que estão me olhando e rapidamente fico séria, e Alicia volta a falar.

- Maxxie tinha alguma coisa para fazer com o pai, algum trabalho bem braçal da empresa. – Ela soa orgulhosa, e deve estar, entre todos os rapazes ali na sala, Max é definitivamente o mais bonito de todos. Alicia e Max fazem o tipo de casal Barbie e Ken vidas perfeitas, e as vezes parecem tão apaixonados que podem causar enjoo. Acho que pra ser honesta, quando começaram a namorar eu até invejei Ali, até porque só pude beijar Max uma vez e nada mais. E Alicia era bonita, era bastante bonita e todos gostavam dela, menos John. Meu peito se aperta novamente. Mais uma vez aquele ar frio parece rodear a todos.

- Com Maxxie ou sem Maxxie, vamos beber. – Trev arranca o lacre de uma vodka e abre uma soda limonada, misturando em copos e entregando para todos nós. Quero recusar, e até mesmo acho que devo recusar, ainda não me recuperei de todos os sonhos ruins que havia tendo, precisava estar sóbria. Mas Trevor acaba me convencendo, a bebida é cheirosa e não tem tanto álcool assim, e eu aceito, tomando com prazer a bebida gelada.

E todos bebem, com tanto prazer quanto eu bebi, e bebem mais, e mais, e mais. E logo estão todos felizes, celebrando a morte de John, como se na verdade ele estivesse ali, como se nunca tivesse partido.

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Três horas depois estamos todos na piscina, alguns boiando em boias de flamingos e cisnes gigantes, outros apoiados na borda e eu estou sentada na mesma, ao lado de Fred, que aperta meus dedos dos pés sob a água, enquanto dou risada com as cócegas.

- Acho que não consigo beber mais nada... – Digo, sentindo minha visão turva e minha língua se enrolar divertidamente. Sinto cheiro de álcool e meu cabelo, mas talvez seja no local todo, há cheiro de álcool para todo o lado.

- Imagine eu que estou vendo... – Fred se enrola nas contas dos dedos, me mostrando um número quatro com os ossos. – Duas de você. – Dou risada, segurando a mão dele e dobrando dois dedos, mostrando como se faz o número corretamente. Ele ri alto, praticamente gargalhando, e Charlotte, que está ao meu lado com as costas apoiadas na beira e a cabeça inclinada para trás, fitando as poucas estrelas no céu, respira profundamente.

- Eu provavelmente... vou... vomitar... – Alicia diz e sai correndo, sumindo portas adentro. Por um segundo penso se devo ir atrás dela, mas Charlotte suspira mais uma vez e eu a encaro.

- Vocês são tão infantis. – Ela diz, enchendo a mão em concha de água e jogando na cabeça de Fred, respingando as sobras em mim.

- Uuuuuh super adulta... – Eu dou uma risada enrolada e tento jogar água de volta nela, errado e acertando a cara de Trevor que se aproximava.

- Charchar, meu pequeno dragãozinho. – Trevor puxa Charlotte e abraça pelas costas, depositando um beijo aparentemente molhado em seu pescoço. – Dormir com professor não te faz mais adulta do que nós, querida. – Ela lhe empurra, dando uma forte cotovelada nas costelas, que o faz se afastar em meio a uma tosse e risada.

- Eu não durmo com professores, seu idiota. – Trevor murmura um ‘uhum’ e assente com a cabeça, enquanto todos voltamos a rir. Logo, eles começam uma guerrinha de água e Fred me puxa para dentro da água, estou relutante e bêbada, mas exatamente por isso não consigo me segurar e caio com todos. Por fim, estamos todos rindo juntos.

O mundo gira, gira muito e muito rápido, é divertido e diferente, eu não lembrava como era ver o mundo como uma roda gigante que gira muito rápido. Não, melhor, aquele brinquedo das xícaras malucas que te faz vomitar como a menina de O Exorcista. Eu estou rindo, rindo muito encarando as luzes azuis da piscina, as luzes são azuis demais e brilham demais, mas eu as encaro até não poder mais e me permito piscar, só uma vez e quando abro os olhos, ele está ali. John! Pisco novamente, e quando abro os olhos, está tudo escuro. Não há nada ali. Nem luz azul, nem luz de estrelas, nem John.

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- Mas que merda! Nunca acaba a luz neste lugar. – A voz grave é de Trevor, mas apenas sei disso porque conheço seu timbre há anos, pois se dependêssemos de enxergar algo não conseguiríamos.

Compreendo perfeitamente a definição de breu agora, pois não posso ver um palmo em frente ao meu rosto, apenas o nada e vazio, só não é mais vazio pois escuto os passos de pés atrapalhados de meus amigos tentando encontrar a luz.

Nos empurramos com delicadeza, andando em um bolo de pessoas até entrarmos na garagem, descendo os poucos degraus de escada e conseguirmos encontrar a caixa de fusíveis.

- Pronto, achei essa merda. – Ouço Trevor tateando e batendo contra o metal, enquanto parece puxar e repuxar alguns fios. Provavelmente está mexendo na caixa de luz, tentando encontrar o gerador extra, pois não sabemos como as luzes se apagaram. Finalmente ouço o barulho do interruptor sendo clicado, e as luzes então se acendem.

Todos nos encaramos, todas as caras estão brancas como se tivéssemos visto um fantasma. Voltamos as risadas para dentro da casa, procurando entrar em nosso ritmo bêbado novamente.

- Hey, alguém viu a Ali? – Angie pergunta, com a voz baixa e meio zonza. – Ela sumiu faz tempo.

- No mínimo foi a vagabunda que apagou as luzes. – Charlie dá risada, mas logo concordamos em procura-la. A casa é tão grande que levamos tempo, e antes não tivéssemos levado nada de tempo.

Assim que viramos para a porta de Anika Gwon, irmã de Trevor, com batom vermelho escuro, o exato batom que Alicia costumava usar está escrito em seu espelho: “as peças do xadrez estão caindo”.

E pelo reflexo, ao fundo no banheiro de frente para o quarto da garota japonesa, vimos Ali, caída no chão, parecendo flácida e sem ossos, com um saco preso ao redor da cabeça e a língua caída para o lado de fora da boca, seus olhos abertos, sufocados em um único grito final.

É isso, Alicia Jones está morta.

 

 


Notas Finais


Espero que tenham gostado, até mais ♥


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