1. Spirit Fanfics >
  2. God save the Queen! >
  3. Te Machucar

História God save the Queen! - Te Machucar


Escrita por: nsauthor

Capítulo 14 - Te Machucar


HARRY-POV

Há dois dias estou enfiado em uma pilha de papeis que já se transforma em um forte ao meu redor, eu mal consigo enxergar quando alguém passa pela porta da sala de arquivos. Nunca pensei que poderia algum dia me familiarizar com o cheiro de naftalina, mas aparentemente eu já não sinto mais nada. Talvez estivesse até mesmo entorpecido. Não apenas pelos químicos que me rodeavam, mas por tudo.

As coisas chegaram a um certo ponto onde você parece, honestamente, não conseguir mais caminhar, nem para frente e nem mesmo para trás. Eu estava em um destes pontos. E não porque não quisesse continuar, mas porque simplesmente não conseguia. Eu sabia que, por obrigação moral, ética e cível eu precisava continuar a pesquisar mais e mais sobre o caso. Eu só não conseguia, não aguentava mais olhar fotos e fotos daquelas crianças mortas. Eu colocava cada pessoa no mundo que eu amava no lugar delas, e ainda assim, não conseguia sequer imaginar o quão dolorido deveria ser para suas famílias e como estariam superando isso agora, se estavam superando isso agora ou se algum dia superariam.

Ouço a cadeira de Tomlinson deslizar as rodinhas no chão, vindo em minha direção, arrastada, cada vez mais perto. Mas não me mexo, eu estou apenas ali, rodeado de papeis e arquivos e pastas e clipes e grampos, eu apenas estou ali.

- Ei cara, toma essa parada, vai te fazer bem! – Ele me entrega um copo de isopor, sei pelo cheiro e pela fumacinha que sai da pequena boca recortada no papel que é café. Eu não sou muito o cara do café, mas sinceramente acho no momento que estou precisando. Então pego o copo da sua mão e tomo um bom gole, um longo gole que faz minha língua e garganta queimar quando o liquido desce.

- Quatro meses, duas semanas, dois dias, sete horas e trinta e cinco seguros Louis. – Eu digo, não conseguindo deixar de desviar meu olhar para o chão. De repente estou exausto, cansado de corpo e alma. – Eu não aguento mais isso...

- Nenhum de nós, chapa.- Ele diz enquanto dá um tapinha em meu ombro direito. E ele está certo, tenho plena certeza que nenhum de nós nunca havia chegado a se sentir esgotado como agora. Repentinamente, toda a situação de alarme que todos sentiam, querendo competir pra saber quem arrancou a porra da cabeça de John Reagan não era mais sobre John Reagan, agora era sobre quem assassinara aqueles quatro garotos, se Stephanie também havia sido vitima do mesmo assassino e, ainda pior, quem seria o próximo.

De todos os problemas que tinha que lidar, todos os problemas que estava tentando suportar e tudo que se passava em meu cérebro, tentar solucionar aquele caso não era nem metade assustador do que era tentar prever quem poderia ser uma próxima potencial vitima. Eu, apesar de tudo provar o contrário, ainda tentava encontrar alguma incoerência naquelas mortes, por que diabos alguém mataria aquelas crianças que, apesar de nada inocentes, nunca haviam feito nada para ninguém, elas nunca haviam cruzado nenhum limite além de simplesmente serem jovens.

- Não consigo parar de pensar que tem um padrão nessa merda! – Louis me diz, aproximando sua cadeira da mesa cheia de arquivos, eu me afasto um pouco para dar espaço a meu colega policial. Ele analisa os documentos, empilhando as folhas de uma forma diferente, acabando com o trabalho que tive ao montar tudo aquilo. Eu quero ficar puto por ele estar bagunçando tudo, mas pra falar a verdade fico aliviado de dar um tempo, respirar um oxigênio que não cheia a cadáveres e mistério.

- Pode ser. – Eu digo sem me alongar demais na resposta, principalmente porque parece terrível falar e falar sem ao menos saber se o que estou pensando está no caminho certo. Parece sempre que estou justificando algo que não faço a menor porra de ideia. É meio idiota. – Meio que quero acreditar nisso Tomlinson, acho que vai ficar mais fácil de chegar ao final quando conseguirmos enxergar essa merda de padrão... – Ele concorda, balançando os ombros para cima e para baixo.

Meu telefone vibra sem muita força sobre a mesa, mas o barulho é o suficiente para fazer com que eu e Louis desprendamos nossa atenção dos arquivos. Eu atendo com certo desespero, parece que toda vez que aquela merda toca é pra dar uma noticia ruim. Eu espero que não seja nada ruim. O nome de Liam pisca na tela, o que não é realmente um bom sinal.

- Ei cara, será que pode chegar aqui no necrotério? Acho que consegui uma coisa interessante... – Tenho certo receio de concordar, pra falar a verdade não estou nada afim de chegar perto daqueles corpos novamente. Estou o suficiente traumatizado para toda a minha vida. De qualquer forma, concordo com Liam dizendo que vou chegar dali uns minutos, mas antes que desligue ele adiciona. – Sabe aquelas merdas de papeis que Louis tem organizado por ordem alfabética e você vai lá e desfaz a porra toda? – Quero rir, mas sei que não faz nenhum pouco de sentido rir no momento. – Bem, traga eles contigo, acho que vai gostar disso.

Enquanto dirijo sinto o estomago se envolver num ácido que parece o dissolver, estou mais ansioso do que já estive em toda a minha vida. Acho que talvez possa comparar apenas no dia que Amy Stone prometeu beijar minha boca na saída do colégio. A verdade é que aquele dia eu saí na porrada com seu irmão mais velho. Tudo que aprendi com aquilo foi que ansiedade te faz um babaca, mas acreditar em meninas bonitas demais é ainda pior, e mais, você sempre vai ficar de olho roxo se acreditar que pode socar a cara de alguém que é o dobro do seu tamanho. Acho que da pior forma eu aprendi que as vezes tamanho é documento sim.

Louis parece que vai ter um sincope a qualquer segundo, seu corpo chacoalha tanto que os arquivos estão desmoronando em seu colo. Por alguns segundos, considero ligar a sirene do carro e foda-se, que todos saiam da porra do caminho. Mas então me lembro que estamos em Blue Lake, não há carros o suficiente para que eu faça todo um drama. Além do mais, parece que temos ligado as sirenes demais nos últimos tempos e no momento não vale o alarde. Apenas dou um soco no ombro de Louis, para que ele pare de se mexer e ele parece entender o recado, pois no segundo seguinte está imóvel, apenas os lábios parecem se mover, contando os segundos para ouvirmos de uma vez o que Liam tem a dizer. Bem, eu também estou contando os segundos.

O necrotério cheira a formol e desinfetante de banheiro, as duas coisas são horríveis e fazem meu nariz doer. Louis está soltando grandes golfadas de oxigênio ao meu lado, não consigo dizer se é apenas sensibilidade pelos odores ou se é apenas o nervosismo. Contudo, o cheiro diferente rumando ao que não sei nem ao assunto desconhecido quase me acalma, me fazer pensar que podemos em meses estar dando passinhos de bebê é tão confortante que penso que aquele lugar, carregado de morte e histórias cruéis é quase como um alento de paz e calmaria.

Liam está sentando em um dos “consultórios”, como os médicos legistas chamam carinhosamente. As salas de pesquisa e arquivos ficam bem longe do verdadeiro necrotério e, para ser honesto, agradeço por isso, pois não acho que hoje esteja com estomago o suficiente para lidar com mais cérebros ou intestinos. Parece que eu já vi o suficiente de tripas para uma vida toda. Freddy Krueger, Jason Voorhees, Michael Myers e Pinhead ficariam orgulhosos em saber o quanto de sangue consigo suportar em minha pele, e mais, sem precisar sujar as mãos, literalmente.

- Trouxemos os papeis. – Louis praticamente cantarola para Liam, seu jeito de ficar feliz é um tanto quanto constrangedor, mas sua animação quase nos contagia. Qualquer indicio de que podemos encontrar algo que nos faça sair do zero é mais do que empolgante. É, no mínimo, encantador.

- Ótimo. – Liam afirma e mistura alguns de nossos papeis com os que analisava assim que chegamos. – Pode fechar a porta, Harry? – Ele pede e eu o faço rapidamente. Quando me viro novamente para ele, Payne está sorrindo, com os dentes aparecendo bem, brancos e lisos. É um tanto quanto assustador. – Venham aqui, por favor. – Ele chama e enquanto nos aproximamos ele esparrama alguns papeis sobre a mesa, puxando um abajur móvel para iluminar bem os arquivos que ele selecionou. Quando estamos bem à frente da mesa, ele aponta para os papeis como quem dissesse “surpresa!”. Eu não vejo nada demais, nem Louis, pra falar a verdade Louis parece ainda mais confuso do que eu. Demoro meus olhos no papel, até enxergar realmente.

- Então?... O que deveríamos ver aqui? – Tomlinson pergunta e estou prestes a lhe dar um tapa na cabeça. Não quero ser indelicado, ao mesmo tempo quero socar sua fuça por não enxergar a galinha de ouro que Liam tem ali, em suas mãos cheirando a formol.

- Minha nossa, Payne... Você é a porra de um gênio. – Digo sem pestanejar. Pego os papeis em minhas mãos e os ergo como se fossem raios-x. Estou analisando palavra por palavra, data por data, hora por hora. É incrível que finalmente Louis tenha razão em algo. Realmente havia a merda de um padrão! – Como você chegou nisso? – Me viro para meu colega, desviando o olhar rapidamente, o suficiente para vê-lo dar de ombros e logo volto a admirar os arquivos em minhas mãos, arquivos estes que podem finalmente nos fazer sair do lugar.

- Nada surpreendente, Harry. Fiquei pensando na noite que estamos no seu apartamento com... – Eu o encaro rapidamente, Liam logo percebe que ferraria com tudo se dissesse em voz alta que estivemos sozinhos em meu apartamento com Daisy. Ele se cala e apenas balança a cabeça, concordando comigo. –...Com aquela quantidade enorme de arquivos e um monte de merda na cabeça. Lembrei exatamente do momento em que uma das crianças falou no depoimento sobre a garota Reagan. Que ela estava grávida e que isso poderia ter feito com que o assassino fosse atrás dela...

- Ei, em que momento esse depoimento aconteceu? Não estou sabendo de porra nenhuma disso! – Eu não consigo disfarçar e acabo rindo baixo, tentando não atrapalhar demais a explicação de Liam.

- Talvez passe tempo demais na cafeteria e pouco na sala de interrogação Louis. – Eu digo severamente, mas dessa vez não contenho a risada. Estou genuinamente feliz, como não estive por um bom tempo. Estamos falando de progresso aqui e isso é excelente. – Continue, por favor, Liam. – Ele pigarreia antes de prosseguir.

- Exato. Eu estava me lembrando disso e acabei pensando em passar por aqui novamente, só pra dar uma segunda analisada nas autopsias, em minha cabeça algo não batia. Foi quando peguei o causa mortis dessa aí...

Analiso novamente o papel sentindo grande orgulho de meu parceiro. Liam pode ser meio babaca, mas quando liga seu modo dedicado e profissional é quase genial, acelerando os procedimentos de uma forma quase como maquinal, é demais. Dou um tapinha em seu ombro enquanto continuo a ler e reler o papel em minha mão.

“ Alicia Jones, 12/05/1998

Causa Mortis: Espancamento seguido por asfixia.

Hora da Morte: 02h36 AM

Detalhes: A língua estava partida praticamente ao meio, os olhos apresentavam inchaço para fora da cavidade e veias partidas.

Paciente gestante.”

 

Sentia em meu estomago a sensação de contentamento maior do que havia sentido nos meses passados. Era como se, aos poucos, as coisas começassem a tomar um rumo certo, a melhorar. Ao mesmo tempo sentia que meu mundo implodia ainda mais, como se para dentro da minha cavidade cerebral as coisas ruins ainda pulsassem.

Alicia estava grávida.

Meu peito se apertava, sabendo que deveria contar tudo para Daisy o quanto antes, mas também sabia que não podia. Toda vez que tentara envolve-la, ou a deixara envolver-se com toda a situação algo ainda mais macabro acontecia. E eu não queria admitir o quão egoísta estava sendo, mas preferia deixa-la no escuro do que arriscar que algo pudesse acontecer com ela. Para ajudar, haviam coisas ainda piores na situação.

- Aqui diz que, não apenas Alicia estava grávida, como a garota Annalynne Heighl... Disso eu já tinha consciência, mas... você viu o que está aqui? – Eu aponto para as letras miúdas nos detalhes da Causa Mortis de Annalynne. Liam arregala os olhos enquanto Louis parece prender a respiração. Não sei dizer o quanto aquilo é bom ou ruim, mas definitivamente é um passo que podemos tomar dali pra frente. Podemos caminhar.

- Heighl teve gêmeos então? Os dois nasceram? – Louis pergunta, parecendo não acreditar no que vê no documento oficial. – Como não vimos isso antes? Como pudemos acreditar no que havia sido noticiado nos jornais? E mais, por que alguém quereria esconder isso?

- Acho que não estávamos com os olhos o suficientemente abertos. A garota de família pobre e ainda estudante estar grávida... Ainda há a possibilidade de estar grávida de um professor. É uma porra de um escândalo para essa cidade. – Eles me encaram, querendo saber de onde tirei aquilo. Explico rapidamente a história dos blogs que Daisy me contou, omitindo a parte que consegui isso diretamente da boca dela. – Agora temos uma questão maior pra lidar... mas é um começo.

- Sim, onde é que essas crianças foram parar.

 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...