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História Golden - Blood and static noises


Escrita por: HuiLi_HL

Notas do Autor


Como gostei MUITO de Hazbin e as redes sociais estão lotadas de Alastor e Lucifer por aí, me senti na obrigação de escrever algo sobre eles, sem afetar muito a personalidade aroace do Al que defendo muito <3 Mantive Adão como Adam e Lúcifer sem acento porque assisti legendado e me acostumei assim XD Também mantive alguns xingamentos canonicos da série que não queria colocar, mas acho que perderia o jeito se não tivesse.
Boa leitura e divirtam-se com essa interação!

Capítulo 1 - Blood and static noises


Nem mesmo Charlie conseguia entender como Alastor havia simplesmente reaparecido. 


Ele havia sido atingido por um golpe fatal em meio à fúria ao lutar contra Adam, não? Ela sabia que ele havia sido atingido por um golpe intenso, talvez profundo demais ou grande demais, ela não pôde ter certeza, mas soube que a situação parecera séria no momento em que aqueles chiados estáticos ressoavam e ele estranhamente havia desaparecido. 


E estranhamente, também estava de volta. 


Não disse coisa alguma quando reuniu-se com todos para ajudar na reconstrução do hotel, não demonstrou nenhuma anormalidade — dentro de sua caótica personalidade — que o fizesse parecer diferente, havia apenas estado fora por algumas horas e por algumas mesmas horas depois, havia retornado, ainda mantendo o sorriso comprido e diabólico, ainda observando cautelosamente cada mínimo gesto dos membros daquele hotel. 


Reaparecido ou não, pareceu fora de vista quando Charlie e Vaggie foram à sua procura para falarem de mudanças a serem estabelecidas nos quartos, onde a opinião de um gerente seria essencial para dar continuidade ao planejamento, onde quer que ele estivesse. Depois de uma ou duas voltas pelos recém construídos corredores do hotel, a loira desistiu, afinal estava ocupada demais para gastar tempo procurando-o, por mais que sua presença e seu auxílio “mágico” fossem bem requisitados. Já que havia mais alguém no hotel, poderia deixar o dever de encontrá-lo com ele, não? Quem mais que sua própria família para ir atrás de uma quase entidade descontrolada minimamente dissimulada? Explicou rapidamente a seu pai que precisariam dele e ele não precisou nem da mesma velocidade com que ela lhe dissera para negar de braços cruzados e cenho franzido. 


Tentar negar, afinal ele não negaria um pedido de Charlie por mais caótico ou impossível que ele fosse, aceitando a mais nova tarefa de encarregar-se de procurá-lo, suspirando a cada passo dado nos cômodos daquele hotel. 


Onde em sã consciência Alastor estaria? Se Charlie não o havia encontrado, como ele ia saber? 


O que um cervo, veado, fosse o que fosse, fazia quando estava fora? Pastava? Saltitava? Por que Lucifer tinha uma ligeira impressão de que ele estava assassinando alguma coisa? Sentiu um arrepio, engolindo a sensação seca que estava em sua garganta, passando a língua comprida pelos próprios lábios, com um aceno. 


Haviam dois lugares a qual ele poderia estar de fato: o quarto que havia sido designado a Alastor, seu novo quarto, ou a Torre de Rádio do lado de fora, a que ainda estava por ser terminada e estava apenas parcialmente construída, então se fosse o caso, ele estaria parado em um amontoado de madeiras e metade de um alicerce. Assentiu consigo, os dedos entremearam nos próprios fios loiros dourados para jogá-los para trás e ajeitá-los, também esticando a tecido dobrado de sua barra, das mangas do terno e desamassando a gravata borboleta. Se conhecia bem Alastor pelas opiniões alheias, estaria caçando ou devorando alguma coisa a qual seria duas vezes maior que si. 


Voltou a caminhar, os passos apressados, fez questão de verificar cada um dos quartos no caminho mesmo que aquilo não fosse estritamente necessário, passou por Angel, por Vaggie e subiu mais um andar, rezando a si mesmo para que o encontrasse logo. 


Já que nada havia acontecido. 


Parou; parou quando ruídos estáticos começaram a se intensificar em parte do corredor, quando sentiu a cabeça latejar e os olhos arderem pela intensidade daquele barulho, onde Diabos aquele som estava vindo? Olhou para o teto, então para o chão, seus olhos fixos em gotas de sangue no carpete, em gotas vermelho vivo, o corpo acompanhando o rastro que parecia dobrar de quantidade, as gotas se tornaram manchas que se tornaram poças e ele pôde ter certeza de que aquilo não estava certo. 


Quem perderia tanto sangue assim em pouco tempo? 


Seu corpo parou e sua atenção voltou-se para um quarto dos hóspedes qualquer, a poça parecia maior ali, a maçaneta parecia suja, a madeira tinha arranhões em sua beirada e perto do batente, o sangue ainda era morno e parecia estar fresco. Olhou ao redor, uma última vez antes de odiar a si mesmo por decidir passar por aquela porta, antes de estar ciente de que encontraria algo que não desejaria ver em todo o Inferno. Suspirou, já era tarde para hesitar, ainda mais quando Charlie contava consigo.


Bastava dar de cara com Alastor e levá-lo até ela. 


Quando os dedos tocaram a maçaneta, todo o ruído estático e os chiados barulhentos cessaram. Não havia qualquer sinal de som ou mínimo estalo sequer, não havia sinal de que encontraria algo vivo lá dentro e aquilo lhe perturbou. Alastor era uma coisa esquisita, uma criatura inefável, não queria ver coisas que poderia nunca mais se esquecer quando o visse. 


Mas sabia que a ausência dos ruídos era um terrível sinal. 


Entrou; abriu a porta, fechou-a de imediato, tateou por algo que pudesse deixar o ambiente mais claro e tudo clareou-se rapidamente. Olhou para o chão e para o teto e céus, aqueles ruídos voltaram. 


— Alastor eu sei que você, você é o único aqui que pode fazer esses sons, Charlie está te procurando. - Começou dizendo, balançando a cabeça devagar, dando passo após passo como se estivesse pisando em armadilhas. — Preciso que venha comigo, ela passou um tempão procurando você. 


Olhou ao redor novamente, havia sangue em diversos lugares, marcas de arranhados em algumas mobílias, nos lençóis da cama e novamente, no carpete. Procurava-o receoso, os barulhos ficaram mais fortes, ele sabia que ele estava ali. 


Em um dos cantos, atrás da cama, próximo a um móvel completamente surrado e arranhado, manchas vermelhas por todos os lados, o som estático chiando como um rádio sem estação. Estava de costas, encolhido, gentilmente Lucifer levou sua mão até ele. 


Tocando suas costas para despertar sua atenção. 


Al?


— E-Eu o o-ouvi, sua majestade.


Se o ouviu, por que não o respondeu antes? 


— E por que não disse nada? Eu revirei esse hotel atrás de você. - Apontou para ele, franzindo os braços e o cenho. — Agora vamos antes que ela peça para alguém vir atrás de mim também. 


H-Ha. 


Foi tudo o que Alastor foi capaz de lhe dizer, as mãos agarradas às próprias vestes, as unhas compridas rasgando o próprio tecido junto a própria carne, a cabeça se inclinou como se o corpo estivesse travado. 


E seus chifres dobraram de tamanho. 


Inferno, eu sabia que o sangue era seu. - Lucifer resmungou quando involuntariamente, deu um passo para trás, sentiu um calafrio, a estática se tornou uma sequência de barulhos altos, sabia que o Demônio do Rádio estava fora de controle. — Me deixe ver onde está ferido, seu idiota. Agarrou-o pelo ombro, virando-o, os dentes de Alastor pareciam maiores, as mãos agarradas a própria carne e os olhos tinham uma mistura de escuridão com o próprio sangue. — Pare com esses barulhos, eu não consigo prestar atenção. 


— N-Não… Nngh. - Levou as mãos para o próprio corte em seu peito, a consciência estava alterada, os sentidos estavam sobrepostos, as unham cresceram um pouco mais quando ele decidiu que coçar aquele ferimento o faria melhor. As unhas fincaram na própria carne, os dentes semicerrados com muita força, o corpo inquieto demais para tentar se conter. — N-Não preciso de sua ajuda, majestade.


— Cala a merda da boca, Al e tira as mãos daí. — Puxou as mãos dele para longe, sabia que isso tinha a ver com aquele golpe com armamento angelical, mas estava incerto sobre o que exatamente acontecera. O corte não devia estar suturado? Ele não devia ter parado de sangrar? Por que sentia que Alastor estava lutando com uma coisa maior que si? 


Por que estava com dor? 


N-Não. 


— Por que isso está assim?! - Tentou encontrar uma forma de imobilizá-lo, já que ele parecia estar fora de si para ouvi-lo. Abriu suas asas, dobrando sua força e tamanho. — Eu não dou a mínima para o que você e esse seu temperamento maluco gostem, mas fazer isso com um ferimento causado por uma arma angelical? - Olhou diretamente em seus olhos, suas orbes em tons de rubi brilhavam mais do que de costume, as mãos tentavam afastar o loiro para longe — Isso é algum fetiche seu? 


Ele só conseguiu forçar um sorriso como resposta, mesmo que aquele sorriso não chegasse perto do que queria demonstrar. Estava com dor, com fome, desesperado, não sabia se deveria dobrar de tamanho e devorar a Lucifer ou desaparecer e comer o que quer que estivesse em seu caminho enquanto cutucava aquela ferida até que ela parasse de doer. Rosnou algo em meio aos ruídos que foi o estopim para tirar o loiro do sério. 


Primeiro, em seu tom de voz normal, depois, em seu tom de voz tomado por sua forma verdadeira, pelo dobro de ordem e o timbre mais elevado. 


Fica parado. 


Foi o primeiro alerta, as asas semiabertas, os olhos quase inteiramente cerrados. 


Fique parado antes que eu devore sua alma. - Lhe deu a ordem, sua forma absoluta de fez presente, Alastor pareceu uma mistura de agonia com fúria, mas nada que chegasse perto do medo, ele aproximou-se das asas de Lucifer e agarrou, arrancando um bocado de penas. 


Por que estava fazendo isso? Ele estava tentando ajudá-lo! O loiro rosnou irritado, mesmo que fosse quase a metade da altura do outro, parecia terrivelmente grande agora. Sentiu as unhas dele fincarem contra sua carne, apertando seu braço de modo que um sangue dourado brilhante escapasse entre seus dedos e se misturasse ao vermelho vivo do chão. Ainda não era capaz de compreender o motivo, mas estar sendo atacado pelo bambi pai substituto de sua filha não lhe deixava nada contente.


— J-Já que quer tanto me devorar assim, então vá em frente! Devore minha alma antes que eu seja o infortúnio desse h-hotel e de sua filha! Antes que os tempos mudem e eu-


E se eu fizer? O que você vai fazer em um estado como esses? Isso é porque você está com dor e é um covarde? Cale a merda da boca. - Apertou o corte extenso do outro com a palma de sua mão, arrancando uma sequência de ruídos barulhentos indecifráveis que lhe causavam tanta náusea que poderia vomitar ali mesmo. Tapou a boca do de cabelos vermelhos com a outra mão, fitando seus olhos intensamente antes de se arrepender do que estava prestes a fazer. 


Imobolizava-o com suas asas, ou tentava, já que ele estava intensamente mais desesperado. 


Aproximou a face da dele, respirando fundo. 


— Eu vou me arrepender disso mais tarde, eu sei, mas eu estou ficando sem opções já que o bambi aqui ficou todo fodido. - Inspirou, afiando os dedos de sua outra mão, deixando suas unhas mais finas. — Escuta aqui, essa vai ser a única vez, fui claro? - Pressionou a palma contra seus lábios uma vez mais, observando seus olhos sombrios marejados e sua face não parecer estar mais tão sorridente quanto antes. — Eu imagino que você precise disso pra se acalmar já que eu nem mesmo estou sequer vendo sua sombra aqui, então… - Arrancou uma mecha do próprio cabelo, transformando-a em um fio comprido, segurando entre o indicador e o polegar. — Use minha mão como uma mordaça. 


H-Huh? 


Antes que Alastor pudesse pensar sobre aquilo ou questioná-lo, foi pego de surpresa pela incômoda sensação de algo fino e comprido rasgando sua pele. Não pôde evitar abrir seus lábios em busca de ar e se ver abocanhando a mão de Lucifer, os dentes fincaram em sua carne, os olhos adquiriram uma colocação repentina que até vez seus ruídos se misturarem em chiados mais extensos. O loiro sentiu a força dos dentes que aquele Demônio colocou ao mordê-lo, mas esteve ciente desde o início que aquela versão de Alastor seria difícil de lidar. Usou o fio que criara para começar a dar os pontos e sentia o corpo abaixo de si ter um espasmo a cada movimento da linha. 


Novamente, as mãos de Alastor tentaram atacar o próprio golpe e novamente, Lucifer teve de afastá-las. Sentia-o aproveitar do seu sangue que saía da região mordida em sua mão, sentia que seus chifres pareciam piores e maiores já que ele estava se parecendo cada vez mais com um animal selvagem abaixo de si. 


O loiro tentou concentrar-se, não faltava muito para que chegasse ao fim, o sangue em sua mão parecia mais do que o presente no carpete e aquilo lhe deixava um tanto preocupado, a consciência de Alastor se esvaía e seu corpo se contorcia a cada tentativa de tratar de sua ferida. 


Tentou pedir para que o loiro parasse, já não sabia mais de estava com fome ou com dor, já não sabia distinguir aquela mistura de sensações e arrepios. Não sabia se queria morrer de verdade ou ser morto por ele. 


Não era do tipo que gostava de sentir dor. 


É s-suficiente-


— Aguente só mais um pouco. 


Aquele era o único jeito que poderia curá-lo, afinal, havia sido ferido por uma arma angelical, não sabia exatamente o que poderia ser feito. 


L-Lucifer. - Escutou-o murmurar abafado, a mistura de vermelho e dourado escorria por seu queixo e pescoço, o corpo falhou, como um bug em um computador, os ruídos diminuíram o volume abruptamente. 


E o corpo caiu para um dos lados. 


Junto de sua sombra que havia aparecido naquele exato segundo e também havia se apagado junto a si. 


Alastor? Não não, você não pode apagar, porra, você não pode dormir agora. - Colocou a mão sobre aquele ferimento costurado, deixando que uma parte de seu sangue se misturasse ao dele. — Você não costuma dormir, muito menos sua sombra, merda, não é pra apagar agora. 


Aproximou a mão de sua face, queria golpeá-lo para ter certeza da situação, mas fôra impedido por sua sombra que pareceu erguer-se ao seu lado. 


Ótimo, pelo menos um sinal. - Aproximou-se daquela silhueta exatamente igual a Alastor, mas composta apenas de um tom escuro como ébano e olhos com lábios vazados. — Consegue me dizer se ele vai ficar bem? - Gesticulou, afinal não sabia se aquela sombra poderia entendê-lo, apontando para Alastor no chão com o indicador. A silhueta parecia fraca, mal fora capaz de erguer as costas, olhando para si de modo que sequer estava sorrindo. 


Então seria aquilo, a resposta de que ele não ficaria bem, a resposta de que possivelmente, estava pior do que antes. 


O loiro levou a mão até o próprio rosto, com um suspiro. 


— Consegue ao menos sumir e reaparecer em outro lugar? Ele não pode ficar aqui. - Meneou, escutando um grunhido rouco vindo do corpo abaixo de si no chão, levando brevemente sua mão até próximo daquela externa ferida. Parece doer, pensou com cenho franzido, notando que sua sombra sequer conseguira se levantar do chão, esticando a mão até si. 


Esticando os dedos até Lucifer. 


Estaria ele pedindo pela minha ajuda? 


Tá. - Ele se rendeu, colocando a mão sob o próprio rosto, já deveria ser a terceira ou quarta coisa que estava se arrependendo em tão pouco tempo. — Vou levar ele e você… Vou levar vocês pro quarto do Alastor, mas não se acostume, estou fazendo isso pela Charlie. 


A sombra pareceu reagir brevemente, esticando-se devagar, como se tentasse se aproximar para agradecê-lo, mas desaparecera antes mesmo de esgueirar-se até ele de fato. 


E sumiu junto ao último resquício de consciência de Alastor. 


Com um suspiro, Lucifer decidiu que o carregaria. Passou a mão por debaixo de suas costas e suas pernas, próximo aos joelhos, ciente de que ele era alto e esguio demais, aquela seria a melhor forma para carregá-lo diminuindo pela metade seu tamanho. Observou sua feição apagada, seus olhos fechados, seu sorriso desaparecido, parecia frágil e debilitado, como um animal ferido, ainda estranho aos olhos do loiro que estava habituado a vê-lo devorando pessoas e outras criaturas enormes. 


Abriu suas asas, saiu por uma janela e levou-o para seu novo quarto pelo lado de fora do hotel. 


Deitando-o sobre uma cama gentilmente. 


Até virar-se de costas e voltar a tratá-lo com desdém.


— ‘Tá bem, boa sorte com sua recuperação, tenho mais o que fazer. 

 

Sairia; não era sua obrigação ficar de olho nele ou esperar que acordasse, não era sua obrigação cuidar de um monstro demônio cervo overlord que não possuía o mínimo de escrúpulos. 


Ele melhoraria sozinho e se cuidaria sozinho, simples assim. 


Simples assim é o caralho, Charlie vai me odiar se encontrar Al sozinho assim. - Voltou-se para ele, coberto de sangue vermelho e manchas douradas, os lábios sujos, as mãos, o rosto, estava uma mistura de tons não tão agradáveis de se ver. Suspirou com um aceno, arrastando uma cadeira para próximo da cama, colocando-a diante dele em uma das laterais. 


— Só alguns minutos. 


Assentiu, como se Alastor pudesse ouvi-lo, como se pudesse ser compreendido, sentando-se ali com os braços cruzados, as pernas igualmente alinhadas e uma expressão de descontentamento. 


— Só alguns minutos e eu vou voltar a fazer o que eu estava fazendo, sou um homem ocupado. - Assentiu convicto, mesmo que talvez sua ocupação fossem patinhos amarelos, fingiria que era de fato importante e que realmente tinha de ocupar-se com aquilo. De qualquer forma, não perderia nada ficando alguns minutos ali, certo? 


Observou-o novamente. Não parecia bem, não parecia nada bem, as vestes estavam rasgadas no local exato onde havia sido apunhalado, havia uma bagunça de sangue de diferentes tons sob os tecidos e sob sua face, cheirava a uma mistura de coisas mortas e desamparo que Lucifer não sabia discernir. Não pareceu certo deixá-lo assim mesmo que descansando, não lhe soava adequado largá-lo com um corte costurado sob uma colchão até que sua consciência recobrasse. Suspirou; enxergava suas sobrancelhas franzidas e seus lábios semicerrados, sabia que estava com dor mas já não havia muito o que pudesse ser feito. 


Os dígitos se aproximaram de suas madeixas suadas, as mãos tocaram aquela coloração vermelha e preta e pôde sentir o que era macio. Como um pelugem animal, os dígitos deslizaram pelos fios, até que subissem próximos as orelhas — ou fosse o que aquilo fosse — tocando-as suavemente. 


Que gostoso. - Resmungou baixinho, distraindo-se com a maciez entre seus dedos, percebendo que perdera o foco um instante porque deixou-se vencer pela vulnerabilidade de Alastor. — Certo, a ferida. 


E as roupas. 


— Sombra, ou seja o que você for, se estiver aí, eu vou trocar o Al, me ouviu? - Olhou ao redor por garantia, no entanto percebeu que ela ainda não estava lá, possivelmente pelo fato de que estava inconsciente como o próprio Demônio do Rádio. — Pra isso preciso de um pouco de água e roupas limpas. 


Estava ciente de que banhar-se não era exatamente algo que Alastor gostava, por isso decidiu que o limparia do modo que tinha em mãos naquele momento. Um pouco de água em uma bacia metálica, uma toalha limpa e uma muda de roupas, reuniu tudo próximo a mesa ao lado da cama, procurou por vestes no armário e lançou um olhar fixo para a porta, esperaria que ninguém entrasse. 


Voltou-se para o outro desmaiado sob os lençóis. 


— Tentarei ser breve, eu prometo. 


O primeiro passo, foi subir na cama. Conseguir um espaço em um dos lados, ficar próximo a água para que molhasse a toalha e fosse limpando os pouquinhos. Usaria algo para cortar o restante das roupas, mas os cortes e os rasgos já facilitaram seu processo, bastando apenas rasgar um pouco mais e passar o tecido por entre seus braços, erguendo suas costas suavemente, tocando em áreas que ainda estavam ensanguentadas. Gentilmente, desfez-se de seu sobretudo e de sua camiseta, acompanhados pelas luvas que tinham a mesma coloração das mãos de Al. 


Seu corpo era cinza, os ombros, o abdômen e os braços, todos cobertos por cicatrizes e marcas de todos os tipos, aproximou seus dígitos da região próxima a seu pescoço e observou algumas marcas mais recentes. 


Deslizando os dedos brevemente até aquela enorme ferida angelical. 


— Eu sei que dói. - Comentou baixinho ao observar Alastor se contorcer e o corpo se retrair em um espasmo involuntário intenso. Molhou a toalha no interior daquela bacia, levando para o corpo do outro com batidas fracas sobre as manchas de sangue deixadas. 


Majestade… - Chamou em meio a um devaneio, talvez um delírio, o suficiente para fazer o loiro parar e congelar no exato segundo. 


Não queria ele acordado, não sabia como deveria reagir e o que faria consigo caso se desse conta da posição em que estava. 


Com uma olhada de cantinho para ter certeza de que ele ainda estava apagado, ele ergueu seu corpo, colocando o peso de Alastor lançado sobre os próprios braços para que limpasse suas costas, sentiu o quão morno e pesado ele estava e ficou ligeiramente incomodado com sua temperatura. 


Teve de esfregar cuidadosamente algumas partes, o que serviu para arrancar mais grunhidos daquela criatura. 


R-Rude. 


O loiro cessou seus movimentos em um estalo, parando para encará-lo. 


Por todo o Inferno, não acredito que ele acordou justo agora. 


Inspirou por fôlego para então chamá-lo. 


Al? 


— Rude de sua alteza aproveitar-se da vulnerabilidade de uma criatura ferida. - Alastor resmungou, alongando o corpo ao esticar-se sutilmente, os olhos ligeiramente entreabertos não discerniam exatamente a situação em questão. Tateou onde sentiu estar apoiado, tateou as costas do loiro. 


Lucifer pareceu tímido, sentia os dedos esguios de Alastor tateando suas costas como uma criança tateando um cobertor, teve o rosto ruborizado suavemente e rebateu-o, molhando novamente a toalha na água. 


— Rude de uma criatura aproveitar-se do desespero para tentar devorar o próprio Lucifer. - Lembrou ele, de que antes ele havia tentado devorá-lo, de que, no segundo em que perdera a sanidade, queria e tentara devorá-lo da forma que poderia.


Justo. - Fechou os olhos, com um aceno breve, deixando o ar morno escapar dos próprios lábios. — Isso nos deixa quites. 


Lucifer riu; um riso anasalado breve, mas acabou por rir da situação ao notar que o outro não tinha argumentos ou justificativas plausíveis para rebatê-lo. Sentiu-o tocar de novo em suas costas vestidas e então, dar-se conta de que Lucifer estava tocando em seu corpo nú, ferido e lavando-o para limpá-lo. 


Emitiu alguns sons estáticos, agarrando-se as vestes do loiro. Não gostava daquilo, não gostava de nada ali. 


— Eu sei que não gosta de água e eu também sei que não gosta dessa sensação de vulnerabilidade e quer saber? Eu também não, principalmente quando quem está diante de mim é uma das criaturas mais perigosas e poderosas que eu já pude me encontrar, mas sabe, Al, eu não vou fazer mal a você. - Assentiu, o tecido molhado enroscou em um dos pontos dados por ele antes, arrancando um som estático arrastado de Alastor que voltou-se a agarrar em Lucifer, agora com seus dedos mais afiados. — Foi sem querer, não se acanhe. 


— Não diga que estou vulnerável, sua majestade, eu posso feri-lo a qualquer instante. - Rosnou, os olhos semicerrados, os dedos agarrados às suas costas, os chifres pouco maiores que o habitual. Lucifer suspirou, dando de ombros. 


— Bem, caso tenha se esquecido, você quem está seminu nos braços de alguém que também pode feri-lo a qualquer instante e, detalhe, não é esse alguém está completamente enfraquecido. 


Grr. - Resmungou novamente, as unhas entravam e saíam do tecido das roupas do loiro, estava começando a arranhá-lo para descontar o que sentia. — Se me queria tão vulnerável assim, porque não me despiu totalmente? 


Agora, até mesmo a sombra de Alastor pareceu envergonhada com essa pergunta. Que tipo de questionamento era aquele? Uma provocação? Fosse o que fosse, acabou por arrancar outro riso de Lucifer, que agora limpava o sangue de sua nuca. 


Ora, não é como se eu precisasse fazer isso pra começo de conversa e não é como se eu quisesse de fato deixar você vulnerável. - Balançou a cabeça, erguendo alguns fiozinhos dos cabelos vermelhos para limpar sangue dourado que havia escorrido ali antes. — Até porque eu não quero nada com esse seu corpo nú. - Pareceu indiferente, sentindo os dedos do outro arranharem mais suas vestes, não podia deixar de sorrir em divertimento. 


— Mas não me quer morto, sua alteza?


— Bem, querer que você morra e querer você morto nos meus braços depois de eu costurar uma ferida sua porque você foi imprudente são coisas completamente diferentes. Não querem que pensem que eu quero matar você, também não quero que pensem que eu não quero, é complicado, mas não quero que morra nos meus braços, minha filha me odiaria e eu acho que ficaria traumatizado. - Brincou, com um aceno, afastando um pouco o corpo de Alastor do seu para limpar sua ferida, mas ele pareceu não ter acatado muito a ideia. 


— Mas não gostaria de ter o meu corpo? - Franziu o cenho, se vendo na obrigação de afastar-se por obrigação e mesmo que usasse de implicância, o loiro era do tipo que o afastaria por si mesmo. Apoiou a testa em seu ombro, seu corpo ficou curvado, deixando um espaço para que tivesse sua ferida tratada. 


E para que suas pernas descansassem em torno do corpo do loiro. 


Sua sombra fez questão de desaparecer diante daquela pergunta. 


Que tipo de pergunta é essa? Claro que não. - Meneou, com um suspiro. — Não tem nada que eu queira ter com ele e não tem nada que eu não saiba que você tenha além desses chifres curvados e desse rabinho macio. - Os dígitos de Alastor arranharam seus quadris e ele riu novamente, ciente de que estava provocando-o. — Então não, a menos que você queira me mostrar algo que eu não tenha visto ainda. - Chacoalhou a cabeça, ouvindo uma série de ruídos estáticos ressonarem próximos ao seus ouvidos. 


— Não é o caso. - Resmungou em resposta, os olhos entreabertos, os chifres voltaram a seu tamanho habitual. Não tinha forças para afastá-lo, muito menos para começar uma briga agora. Estava ciente das provocações alheias, porém também estava cansado, com dor e com fome, precisava de qualquer coisa para saciar sua agonia interna e alguém convenientemente estava bem diante dele. 


— Então isso foi tudo, afinal não temos esse tipo de relacionamento. Estou cuidando de você pela Charlie, não por você. - Molhou um pouco mais a toalha para limpar uma região que estava muito suja, precisando esfregar levemente. Novamente, o outro reclamou com um ruído estático. 


— Sei disso. - Concordou com um comentário qualquer, os olhos com as íris afiadas ao aproximar as narinas do pescoço do loiro, os dígitos subiram junto ao gesto, segurando-se em sua nuca, a outra mão tentando com o indicador baixar sua gola. Só um pouquinho, só bastava morder ali uma vez e provar um pouco de Lucifer como antes, uma mordida singela e acalmaria o turbilhão de arranhões que estava no interior de sua cabeça. Fungou ali próximo, os dígitos forçando mais o tecido, tentando puxá-lo para baixo. 


Não, - Lucifer agarrou seu pulso, afastando-o devagar enquanto meneava algumas vezes. — não é pra me morder, ouviu? 


Tch. - Estalou a língua, irritadiço, os lábios se franziram, mas ele não desistiu, aproximando-se agora com sua face. 


— Não é pra me morder, Al. - Enfatizou novamente, afastando-se para encará-lo nos olhos, observando-o fitar a si com certo desespero, parecia acabado, enfraquecido, cansado. 


Parecia pálido. 


— Você disse que eu poderia usá-lo como uma mordaça. - Ponderou, quase aborrecido, seus olhos fixos ao de Lucifer, suas orbes quase cintilando ao encará-lo. 


— Isso foi antes e foi com um fundamento. - Questionou o questionamento alheio, suspirando. — Por que quer tanto me morder assim? 


— Porque seu sangue me parece bom, sua majestade e porque me pareceu apropriado. - Brincou, com um sorriso, sendo mais sincero do que antes, os dígitos contendo-se para não agarrá-lo desajeitadamente e mordê-lo como um animal selvagem. 


— E o que eu vou ganhar com isso? 


— Podemos fazer um acordo. - Sorriu maliciosamente, inclinando parte de sua face, fechando seus olhos junto ao largo sorriso. O loiro recusou no exato mesmo instante, aumentando seu tom de voz. 


Há! De jeito nenhum, sem acordo, eu nunca faria um acordo com um demônio como você. - Até fez uma careta, estava ciente do quão trapaceiro ele era, meneando. — Não, obrigado. 


— Assim você me ofende, majestade. - Riu anasalado, fechando seus olhos, parece que não conseguiria um meio de criar uma troca equivalente. Desistiria fácil, estava cansado para manipulações. — Certo então. 


Mas Lucifer estava mais preocupado consigo do que ele mesmo. 


As orelhas. - Disse firme, apontando com o indicador para ele. — Deixo você me morder se me deixar tocar nas suas orelhas. 


Alastor fitou-o com certo desdém e certo ranço momentâneo. Suas orelhas? Suas orelhas? Mordeu os lábios, um pouco receoso, tentando não mudar o modo com que sorria. 


Por que as malditas orelhas? 


— Bem, se for o caso eu-


E o rabo. 


Alguns ruídos estáticos altos ressoaram ali dentro. 


— Pode provar do meio sangue até estar satisfeito, mas pra isso eu quero tocar nas suas orelhas e nesse seu rabo. - Sorriu trocista, estendendo a mão até ele, copiando o gesto que ele fazia. — Como você faz mesmo “temos um acordo”?


Mais ruídos estáticos ressoaram, seus chifres cresceram um pouquinho, ele hesitou. 


Mas teria o quanto quisesse até estar satisfeito, era isso? 


Não via razões para negar, parecia equivalente à sua própria maneira. 


Feito. - Passou a língua pelos próprios lábios, os dígitos desabotoaram alguns dos botões da camiseta do loiro, tirou sua gravata, deixou-a de lado, deixando um grande espaço à mostra para que pudesse prová-lo como antes. 


Ao passo que os dedos de Lucifer subiam nas suas orelhas lentamente. 


Alastor pareceu não medir esforços. Seus dentes extensos e afiados abocanharam aquela região livre do pescoço do loiro com toda a voracidade que tinha acumulada. Não conseguiu se conter quando passou a língua sob a mordida e arrancou um grunhido meio rouco do outro que se sentia incomodado com todo o desespero, sem poder fazer muita coisa. Aproveitou que ele estava concentrado em provar seu sangue e acariciou suas orelhas, tocando-as novamente entre seus dedos, sentindo a maciez contra suas mãos e divertindo-se ao imaginar que poderia criar um patinho assim, com orelhas, macio porém não tão amável, adorável porém assustador. 


Até que desceu para seu rabo e arrancou-lhe um grunhido diferente da estática habitual. 


M-Majestade. - Rosnou engasgado, os lábios cobertos de uma coloração dourada se afastaram da pele do loiro, os olhos pareceram falhar um instante quando sentiu-se tocado daquela forma. — P-Peço que se atente mais as orelhas.


— Hum… Não quero? Temos um acordo, você pode ficar com o sangue e eu com o rabo, decidimos isso antes. - Lucifer lembrou-o, tocando-o mais na parte inferior, deixando que os dedos subissem junto a parte que ficava sob a pele antes de seu rabo começar. — É muito macio, isso sempre existiu? 


M-Majestade.. - Alastor sentia algo que era estranho e que definitivamente parecia deleitoso, mais do que provar daquele sangue, mais do que provar a carne ou comer o que quer que fosse, era um sentimento incomum, uma sensação estranha, uma mistura de necessidade com vício, de adrenalina com anseio, de querer sentir ainda mais. Os dedos arranharam o tecido das costas do outro, a cabeça curvou-se para baixo, quase contra seu peito. 


Por que era bom se era estranho? 


— Parece que se move devagar se eu tocar assim, mas estranhamente eu achei fofinho. - Comentou, massageando entre os dedos, subindo para suas orelhas novamente. — O que acha de eu colocar um patinho assim na coleção?! - Pareceu entusiasmado, nunca tinha pensado em criar um patinho fofo e aquela ideia parecia ótima! Voltou para Alastor, encarando-o. 


Espera, por que ele parecia esquisito? 


Quase como se tivesse se sentindo lascivo? 


Al, o que deu em você? - Inclinou a cabeça para encará-lo, sentindo-o respirar pesado acima de si, agarrando-se agora a parte da frente de suas vestes. 


Aquilo não era bom mas Lucifer era um pouco lento demais para perceber o que estava fazendo. 


Al?


E se ele se aproximasse 


para beijar Lucifer? 


Al?! Já se sente melhor? 


E-Estou bem, sua majestade. - Assentiu fraco, a mistura do sangue com aquela sensação havia lhe deixado estaticamente incomodado, as mãos se afrouxaram do aperto quando deixou-as cair ao lado do próprio corpo. Pareceu relaxar-se quando o corpo saciou-se e aquela sensação acabou por cansá-lo mais do que antes. — Só me dê alguns minutos. 


Okay, mas só alguns minutos, porque se alguém aparecer aqui eu não vou saber o que dizer ou como reagir, então seja breve. - Deixou um carinho em suas orelhas, afastando seus cabelos até que sentiu o peso do corpo dele pesar sobre si e perceber que ele estava apagado. 


De novo. 


Bem, parecia agora mais adormecido do que apagado, o que era realmente bom, afagando um pouco mais seus cabelos bicolores antes de apoiar o queixo sobre suas costas curvadas e encarar o teto. 


— Quantos minutos exatamente? Você fica estranhamente mais pesado quando está apagado. - Resmungou, franzindo os lábios, não queria que uma parte do corpo adormecesse por ficar tempo demais sem movê-la. — Se meu braço dormir eu vou matar você, Al. 


E suspirou. Teria apenas que esperar um pouco, certo? Sabia que ele estava cansado e que eram coisas demais para um único dia, então não via problema em deixá-lo usar a si como descanso. Afagou suas costas desnudas, pensativamente. 


Até dar-se conta de algo. 


— Só que eu não lembro de ter trancado a porta. 


E parece que o Inferno inteiro estava contra si. 


A porta se abriu, em um segundo. 


E Charlie cruzou-a ao lado de Vaggie, cautelosamente. 


— Al, você está por aqui? O meu pai foi te procurar e- PAI?! MAS O QUE VOCÊ FEZ COM O AL E- 


E-E-EU POSSO EXPLICAR! Não é o que parece, eu só encontrei ele ferido, então nos deitamos juntos e eu dei um pouco do meu sangue a ele, mas ele pareceu muito desesperado e…


Alguma coisa na sua sequência de palavras não parecia bom e sua ambiguidade era ainda pior quando tentava ocultar as coisas de Charlie. 


VOCÊS O QUÊ? 


— Charlie, amor, é melhor deixar o seu pai e o Alastor sozinhos por enquanto, sabe? Agora não é o momento para isso, querida. 


MAS EU POSSO EXPLICAR.


VOCÊ DORMIU COM O AL? 


EU NÃO FIZ NADA! Ele quem fez a maior parte das coisas! 


ELE O QUÊ? 


Amor, é melhor sairmos agora.


Charlie deu uma última olhada na situação. Sangue dourado, sangue vermelho, parte das roupas de Lucifer abertas, Alastor quase inteiramente nú, o que deveria pensar daquela situação? 


Espera, então agora ela teria de fato dois pais e uma mãe?! 


Então agora eu vou ter dois pais?!


Lucifer cobriu o próprio rosto com a palma da mão, com um grunhido. 


— Al eu juro que vou te matar quando você acordar. 


Definitivamente matá-lo era algo que nunca iria fazer. 


Já que Charlie parecia amavelmente radiante ao lado de fora.  








Notas Finais


Anda penso eu escrever mais coisinhas de Hazbin! ~ Até a próxima one! Podem fazer pedidos se quiserem ✨


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