— Uau. — Não há surpresa no tom de Chiaki. — Quando você chegou a essa conclusão?
Era melhor dizer isso do quê “finalmente”.
Então, ela faz a juliet de tiara, abandonando a visão parcialmente rosa. Delicadamente, Chiaki projeta o pescoço para a esquerda.
Hajime coça a nuca, um tanto quente e suada devido ao calor do Rio de Janeiro. Ele evita contato visual, aquecendo a garganta com burburinhos até achar as palavras certas.
— Isso importa? — Ao pronunciar a última sílaba, Hajime sente uma pitada de culpa pelo tom quase grosseiro. — Não, calma! É que, tio, achei que tava na cara...
Hajime dá uma risadinha tensa. Chiaki já sabe no que aquilo dará.
— Não tô com um anel do dedo, Hinata. — Seus lábios se curvam suavemente. — Cê que é emocionado.
Hajime bufa e ri ao mesmo tempo, cruzando os braços e amassando suavemente sua camiseta do Palmeiras.
— Tá de caô, Chiaki? — Ele dá mais uma gargalhada, aproveitando o clima amigável. — Não sou vacilão, queria esclarecer as coisas.
— Saca aquele lance de telepatia? — indaga Chiaki, que acaba agachando para amarrar os cadarços do Mizuno rosa. — Nóis têm isso, só sucesso.
Hajime abre um sorriso e ignora todo calor infernal. Ele faz um agradecimento silencioso a Deus, completamente aliviado por Chiaki não estar brava.
Acontece que a adolescência chega para todos. Com a dupla obviamente não seria diferente. A luta afobada para ter uma lista inacabável de contatinhos, perder a virgindade, enfrentar o ensino médio ou ir a um baile funk quando fosse possível era a prioridade para muitos na favela da Rocinha.
Para os mais chegados, Quebrada Esperança.
E, claro, cada um segue o caminho que quiser na Quebrada Esperança. Kokichi está dando os primeiros passos para se tornar o dono da boca, Nekomaru está feliz com seu barzinho e Hajime não aguenta mais os stories de ostentação do Mondo, cada um em uma moto diferente.
Hajime decidiu jogar suas notas medianas ao alto e se dedicar ao futebol. O seu lema é um só: Deus no céu, Palmeiras na terra. Ele ficou tão bom naquilo que foi apelidado de “Jaimão, o Mestre” pelos colegas de time.
Todos têm o costume de assistir aos jogos no barzinho do Nekomaru. O caos só nasce quando o Palmeiras e o Corinthians entram em campo, porque Nagito é, sim, corintiano e faz questão de apontar todas as falhas dos porcos. Hajime sempre teve uma grande vontade de sair no soco com Komaeda. Talvez com risco de perder a amizade.
Por outro lado, Chiaki não era a rainha do baile, como a Miu, ou uma versão atualizada do Restart, tipo a Ibuki. A corrida de Chiaki envolvia mesclar streams na Twitch e as aulas de informática. No entanto, ela não deixava de ter um jeitinho mandrake. Afinal, o rosa cai bem nela.
Obviamente, esse combo atrai. Por mais que Chiaki não gostasse de selecionar, ela dava atenção especial a uma loirinha da rua de baixo. Sônia é linda, delicada e encantadora. Uma visão que desfocava toda irregularidade daquela favela.
Portanto, além de vizinhos, Hajime e Chiaki eram amigos desde sempre. Há pouco evoluíram para uma amizade colorida. Culpa dos hormônios e da curiosidade!
Talvez os outros achassem que eles realmente namoravam e, por algum tempo, eles também acharam o mesmo. Quer dizer, Hajime conheceu a família dela e vice-versa, eles formaram casal na festa de 15 anos da Celestia e tiravam fotos com juliet combinando.
Embora trocassem palavras fofas, não se amavam daquele jeito. E os dois já sacaram. Tanto sua situação atual, quanto os interesses amorosos mal-ocultados.
Chiaki pisca os cílios mergulhados em rímel e um sorriso colgate e recém-alinhado — ela tirou o aparelho há duas semanas — toma conta do seu rosto. Deu uma piscadela e disse:
— Golpe trocado não dói.
— Golpe trocado não dói — repetiu Hajime.
Em um piscar de olhos, os dois estavam partilhando uma crise de risos. Um sentimento amigável assola o espírito deles, que acabam por conversar sobre seus sonhos de consumo (interesses amorosos).
— Tá de resenha, Hajime? Cê só gosta de rival! — grita Chiaki, alternando os funks no celular.
Eles estavam sentados na calçada. Hajime só dá mais uma bebericada na coca-cola que ele comprou em uma lanchonete qualquer, depois dá de ombros.
— Não se envolve nisso, menó.
— Eu sou flameguista, tu sabe. Depois vem o Nagito, gambá do Corinthians — conclui. — Qual é? É algum tipo de requisito pra namorar Jaimão, o Mestre?
Mais ardente que o calor do Rio de Janeiro, Hajime sente a coca-cola sair pelas narinas. E, merda, como isso arde!
Chiaki deveria ter ligado para um hospital. Ao invés disso, ela só gargalhou como se não houvesse amanhã.
— Que ódio…
— Sua camiseta tá toda manchada! Melhor lavar antes que a mancha vire permanente.
Aquilo obviamente foi uma brincadeira.
O desespero atinge Hajime em cheio. Aquilo é uma camiseta de time. Convenhamos, elas não são nada baratas. Ele decide arrastar Chiaki até sua casa, onde joga a peça de roupa na máquina de lavar o mais rápido possível.
— Mano, era só coca-cola... — pontua Chiaki, de ombros caídos.
— E era só a camiseta do timão. Como o pai taria devidamente trajado pros jogos? O Oakley não é suficiente!
— O caralho, menó. Tu só tá nervosinho porque é com ela que você vai discutir com o Nagito!
Hajime não negou.
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