História Gone Home - BÔNUS: Jessica's Nightmares. (Parte Um)

“Minha mãe dizia que as coisas que perdemos sempre acabam voltando para nós, mas nem sempre da forma que esperamos.” Luna Lovegood (Harry Potter)

Quando você é colocado em uma situação de perigo naturalmente sente receio, medo e quiçá um gigantesco arrependimento das coisas que poderia ter feito. Nitidamente se possível fosse voltar atrás para não adentrar em tal situação, você o faria. Pense... O que poderia ser pior do que adentrar uma situação de risco por um erro comum? Por que exatamente acreditar que isso poderia acontecer novamente, mas com outra pessoa? Indagações sem respostas, pressentimentos ruins e as pessoas a sua volta sumindo misteriosamente. O frio da calada da noite surgia e os passos eram vagos.

Não, não era você.

Mas se você está aqui, é porque isso aconteceu com alguém que considera.

Alguém que acreditou fielmente que aquilo nunca mais aconteceria.

Alguém que provavelmente jurou que jamais adentraria alguma situação como esta.

Não de novo.

--

Calmamente a loira observava a pacata paisagem ainda de dentro do belo e confortável carro suv. Tinha uma leve careta devido a extensão do terreno e o quanto a parte principal parecia danificada. Ainda não se recordava porquê aceitou vir dar uma olhada naquele local, mas uma promessa não poderia ser assim quebrada de uma hora para a outra. Jessica havia passado os últimos anos de sua vida terminando os ensinos, noivando, casando e até mesmo tendo uma filha. Podia-se dizer que fizera muitas coisas nos últimos quatro anos! Ao menos eram coisas que lhe faziam se desprender do passado e de todas as coisas ruins que passou dentro daquela casa. Porém uma imagem era viva em sua mente e que lhe atormentava em praticamente todos os seus pesadelos.

Kim Seong.

Jessica sentia dificuldade de se lembrar de alguns cômodos, das poucas memórias boas que passou dentro da velha e hoje destruída mansão. Entretanto... A visão sobre o Farmacêutico ainda era clara e pairava por sua mente. A casa nem mesmo existia mais e tão pouco o cemitério. Todos os corpos que ficavam na parte acessível foram realocados e o único que visitava uma vez ou outra era o de Soojung. Juntamente com a irmã, a namorada e a cunhada, a jovem inventou uma história para explicar o sumiço de Tiffany e algo bobo e que facilmente acreditaram sobre como aquele casarão pegou fogo. E era melhor que acreditassem nesta história, caso contrário seria taxada como louca. Quiçá vez ou outra Jessica se questionasse sobre a própria sanidade, mas a resposta no final de tudo era sempre a mesma. Tudo aquilo realmente aconteceu.

Fitava a pequena menina a dormir calmamente no banco de trás, estando muito bem posicionada em cima da cadeirinha especial para a sua idade. Krystal tinha uma feição serena e um meigo biquinho a lhe enfeitar o rosto. Aquela era a primeira viagem que realizavam em um local mais afastado das grandes cidades. E apenas estavam ali porque Seohyun ficou realmente interessada em um velho hotel no meio do nada. Queria tranquilidade, era nítido, mas a loira não conseguia entender porque um local assim. Talvez a Gerente não levasse mágoas e marcas da estadia no casarão. Ouvira a porta ao seu lado ser aberta e Seohyun adentrar o carro com um lindo sorriso.

– Disseram que podemos ficar uma semana e que se gostarmos, nos farão um preço muito bom! – Exclamara animada e dando a partida no carro. – Claro que ainda é cedo para ter certeza de algo, mas... Não são todos os cômodos que precisam de reforma. A parte onde ficaremos somente necessita de uma boa limpeza. – Estacionou o carro no local indicado.

– Você não acha que isso é um tanto quanto... – Jessica parou de falar e mais uma vez conferiu se a criança estava dormindo. – Mórbido? – Sussurrou a última parte um tanto quanto impaciente.

– Sabe o que acho? – A morena fitou-a com grande calmaria. – Que isso pode te ajudar a superar.

– Não sei se quero superar desse jeito... – Sussurrou franca e abrira a porta do passageiro após Seohyun desligar o motor. – Creio que eu não tenha muitas escolhas, só quero que você me prometa algo.

– E o que seria? – Levou a mão até os fios loiros e passou uma mecha para trás da orelha da mais nova.

– Se acontecer qualquer coisa, qualquer coisa mesmo... Nós vamos embora sem nem pensar uma segunda vez, tudo bem? – Jessica fitou-a com a sobrancelha erguida e esperou-a assentir. A morena lentamente se aproximou e depositou um breve, porém suave beijo nos lábios delicados de sua esposa.

– Eu prometo. – E com um belo sorriso, Seohyun se afastou e também abrira a porta do carro, tendo ambas a saírem quase na mesma hora. Era quase como algo padrão, Seohyun levava as malas e Jessica levava Krystal e a mochila da pequena. A loira pegou a pequena com o maior cuidado possível, cuidando para não acordá-la, tendo Krystal ainda em meio ao seu sono a abraçar e deitar sua cabeça no ombro da mãe.

O clima do lado de fora do velho hotel era levemente frio, não chegava a ser algo de terem de usar casacos inverno, apenas algo leve como um moletom ou jaqueta. Jessica passava seus olhos por algumas janelas quebradas e pelo matagal em volta do local, chegando a rir pela respiração. A mansão... Por pior que fosse ao menos era organizada e não estava tão, tão acabada quando Jessica chegou. Tudo bem que agora não existia mais mansão... Mas era somente um detalhe em vão. A casa que parecia ser a recepção era um dos pontos que aparentemente eram assustadores. Se nenhum quarto estivesse realmente bom, Jessica com toda certeza seria a primeira a pegar a filha e montar um acampamento no carro. Ou puxar esposa e filha para irem embora, certamente o mais lúcido a se fazer.

E enquanto completamente alheias ao mundo exterior e presas em seus pensamentos, ambas as moças iam adentrando a propriedade sem ao menos se darem conta que algo passara entre algumas janelas de um dos prédios. A pequena Krystal lentamente abria seus olhos, observando uma dessas janelas. Seus olhinhos confusos lhe caracterizavam a face inocente, tendo a pequena a passar as mãozinhas pelos olhos, fitando novamente a janela do prédio mais alto, tendo ainda sua cabeça apoiada no ombro da mãe.

– Não parece tão acabado assim. – Seohyun comentou já rente a porta e se esticando para tentar ver o interior pela janela. – Creio que a maior parte seja apenas uma boa limpeza e peças novas.

– Toda vez que algo muito grandioso e quase bem cuidado é vendido a um baixo preço... Sinto-me receosa. – Jessica suspirou pesadamente. – Vamos logo! Qual é a dificuldade de passar uma chave em uma tranca, Seo Joohyun? – Indagara com um olhar sério.

– Ohhh! Ela ficou irritadinha! – Rira divertidamente enquanto destrancava a porta principal. – Veja como tudo é prático... O dono me disse que o local inteiro é interligado. – Dera espaço para que Jessica adentrasse junto a filha. Pegou as malas e as levou para o lado de dentro, fechando a porta e se certificando de trancá-la.

– Por que pararam de usar isso aqui? – Indagara curiosamente e com a testa franzida. Por fora parecia terrível, mas por dentro conseguia ser ainda mais luxuoso que a velha mansão. Ainda não entendia porque sempre comparava locais assim com a velha e agora inexistente mansão de Kim Seong, era algo automático.

– Dizem que foi a falta de interesse do público e o fato de ser um hotel de luxo no meio do nada contribuiu para fecharem. – A morena passou a mão pelos cabelinhos da pequena Krystal, que fitava tudo agora com um lindo biquinho.

– Mais um motivo para desconfiar. – Jessica rira pela respiração. – E o que você pretende fazer aqui caso compre realmente este lugar? – Arqueou a sobrancelha.

– Reformas, deixar com uma aparência e preços mais acessíveis... Não necessariamente temos de nos mudar para cá, sabes disso, não? – Seohyun colocou as mãos na cintura e fitou o enorme e detalhado lustre no teto. – Esse hotel está acabado, mas quando reformado vai ficar muito lindo.

– Se você diz...

– Por que a Tia Tiffany não veio? – Krystal indagara curiosamente e coçando a bochechinha corada devido ao frio.

– A Tia Tiffany já alcançou a cota máxima de lugares grandiosos e abandonados. – Jessica respondera calmamente e logo sussurrando baixinho para si mesma. – E eu também...

– Chega de enrolar e vamos para os quartos! Avisaram-me qual era a melhor e mais limpa suíte, é só questão de passar uma vassoura e trocar a roupa de cama. – Seohyun puxou um mapinha de dentro da jaqueta e observou atentamente. Jessica praticamente sentia um frio na espinha só de pensar o quão grande era aquele local. Estavam sozinhas em um hotel fechado no meio do nada... Aquilo lhe remetia a lembranças aos quais queria se esquecer para todo o sempre.

Não fora uma noite assustadora ou com clima pesado, apenas soava como uma leve aventura em família para achar a suíte e a cozinha, chegava a ser engraçado em algumas horas já que Seohyun se preocupava em fazer algumas piadinhas com a decoração. A energia elétrica no local estava horrível, deveria ser algo que deveriam se preocupar se caso comprassem mesmo o hotel. Mesmo que a solidão fizesse companhia para a família, ambas as mulheres se preocuparam em trancar bem a suíte, chegando a tampar a porta com um armário mediano. Devido a idade de Krystal, o casal optou por deixá-la dormir junto na mesma cama, deitando a criança no meio.

E em meio ao frio da noite eis que a chuva começara a cair do lado de fora do hotel, o sono profundo e delicado da moça se fizera presente. Eis que este sempre fora um problema desde a trágica experiência na velha mansão... Jessica tinha um sono tão pesado que era difícil lhe fazer sair do mesmo. Principalmente em meio alguns sonhos trágicos que se tornaram sempre tão recorrentes. Abrira e fechara seus olhos com grande lerdeza devido a falta de processamento da situação. Via um vulto passar de um lado para o outro no quarto, mas não dera lá muita importância. Em sua mente sonolenta, aquele vulto provavelmente era Seohyun com insônia.

Porém um grito relativamente alto fora o que lhe fizera sentar na cama em meio ao susto. Sua respiração era ofegante e a jovem não conseguia entender exatamente porque estava deitada no exato meio da cama. Olhou para ambos os lados e reparou em sua momentânea solidão, assim como pudera sentir um arrepio em seu corpo ao ver pétalas de rosas rodeando seu corpo, como se tivessem sido postas enquanto a mesma dormia. Abraçou-se em meio ao frio e então percebera a janela aberta. Levantou-se lentamente e estranhou o fato de estar de camisola. Não se recordava bem com qual pijama havia se deitado, mas tinha um pressentimento de que era com algo quente e próprio para o frio.

Andou até a janela e a fechou sem fazer muito barulho, pois em seus pensamentos era possível que Seohyun estivesse dando uma volta pelo local junto com Krystal. Tentou de todas as formas ligar as luzes do quarto, mas nada parecia dar certo. E era definitivamente estranho, uma vez que antes aquele cômodo em si funcionava tudo corretamente. Reparou em uma lanterna largada ao lado da cama e rapidamente a pegou. E em meio a outro susto, Jessica sentira todo o seu corpo estremecer ao ouvir mais um grito. Ouvia sussurros aos quais não conseguia entender palavra alguma, porém não parecia ser nem da esposa e nem mesmo da filha, pois era uma voz rouca e frigida.

Ao ligar a lanterna, jogou a luz para aquela porta que deveria estar somente aberta.

Um erro, com toda certeza.

A porta não existia mais, era apenas uma passagem para um corredor que antes estava deveras sujo e que agora parecia tão limpo... Até mesmo o tapete parecia ser novo. Jogou a luz por todo o quarto e rira pela respiração. Estava tão diferente de quando fora dormir. E Jessica por não acreditar no que via, limitou-se em dar-se um tapa na cara e em seguida um forte beliscão em um dos braços. Nunca havia feito nada disso em algum sonho... Mas não acordou, então não podia afirmar com clareza o que acontecia.

Locomoveu-se até o corredor, passando seus olhos pelo local e percebendo que tudo estava organizado e parecendo novo. Tudo o que antes parecia atual, agora remetia-se a uma decoração de época, algo que deveria ser como o hotel era quando fora aberto há décadas atrás. A loira não fazia ideia da história do local, mas algo no final do corredor lhe chamou a atenção, fazendo-a imediatamente se direcionar até lá. Era um recado escrito com uma tinta duvidosa e aquilo a fizera ficar pálida quase de imediato.

“Você acha que acabou, mas eu só estou começando.”

E em seguida, dois gritos lhe fizeram dar um salto, cada um direcionado de um canto do hotel.

Duas vozes tão conhecidas que seu coração se apertou no mesmo instante e sua mente fora direcionada as donas de tais vozes.

Seohyun e Krystal.