História Good Boy - Você estava apenas curioso?

No fim das contas, não consegui estudar após aquela conversa, nem naquele dia e menos ainda nos seguintes, pois tudo o que conseguia pensar era em como eu pude ter me apaixonado por aquele idiota.

Eu admito que Changkyun é lindo e que, na maioria das vezes, faz com que eu me sinta realmente bem, mas eu fui muito burro por me deixar levar assim.

Após aquele fatídico dia, em que finalmente percebi que toda a minha irritação era causada pelo meu ciúme bobo, passei a fugir como um condenado.

Eu saía do colégio e corria direto para casa e fingia não estar lá quando a campainha tocava. Eu sabia quem era e por isso apenas esperava até que ele fosse embora e meu coração se acalmasse. Em alguns dias eu ia para a casa do Jimin, que muitas vezes reclamava que gostaria de estar com o namorado e não comigo, mas eu sempre o convencia após prometer lhe dar uma caixa de chocolate ou brincos novos.

No colégio, eu evitava ir a lugares em que eu sabia que o loiro me procuraria, como as arquibancadas e o vestiário. Às vezes eu evitava ir a biblioteca também, mas depois de quase duas semanas nisso, pensei que ele já tivesse desistido.

Mas claramente, isso não aconteceu...

- Achei você! - Sobressaltei-me com suas palavras, não acreditando que esse idiota realmente havia me encontrado.

- Changkyun. - Sorri sem jeito, encolhendo-me ainda mais em meu canto entre a parede e a última prateleira da biblioteca.

Eu sou mesmo muito azarado.

- Por que está aí? - Questionou curioso, inclinando a cabeça para o lado enquanto seu olhar assumia uma atmosfera fofa.

- E-Eu perdi uma coisa. - Falei a primeira besteira que me veio a cabeça, sabendo através de seu olhar que ele não havia comprado aquela mentira.

- Entendi. - Balançou a cabeça em concordância, passando a mão pelos cabelos e colocando parte de sua franja para trás. - Se eu não te conhecesse, acharia que está fugindo de mim. - Ergueu as sobrancelhas ao final e isso só me fez confirmar que eu realmente estava ferrado.

Eu havia ignorado suas mensagens e ligações e apostava que Changkyun estava louco para se vingar.

Sorri sem jeito e peguei a mão que ele estendia, levantando-me calmamente. O mais novo puxou-me em sua direção e me abraçou  em seguida.

- Changkyun, estamos na biblioteca. - Resmunguei emburrado, tentando, sem muito sucesso, afastar os braços que rodeavam minha cintura.

- E quem disse que eu ligo? - Respondeu abusado, deslizando o rosto por meu pescoço enquanto eu lutava para não gritar.

Como eu odiava esse garoto.

Tentei afastá-lo mais uma vez, mas isso só fazia com que seu aperto se firmasse ainda mais.

- Chang... - Chamei-o em um sussurro, mais desesperado com o fato de querer beijá-lo do que por estarmos abraçados em um lugar público.

- Por que esteve fugindo de mim, Pesseguinho? - Questionou baixo, afastando-se até que pudessemos nos encarar. Segurei-o pelos ombros e tentei manter o foco em sua pergunta, mas sua respiração batendo contra meu rosto não ajudava muito.

- Eu... - Iniciei atordoado, fechando os olhos quando percebi que ele iria me beijar.

- Então é aqui que você se esconde. - Escutei a voz do Lee proferir e rapidamente dei um passo para trás.

- Vocês me seguiram? - Changkyun questionou após se virar e logo avistei os garotos da gangue ali, exceto Hyunwoo, que pelo que havia ficado sabendo, estava suspenso por alguns dias.

- Claro, você estava meio distante e queríamos descobrir o motivo. - Um dos garotos, que reconheci como Choi Youngjae do segundo ano, falou um tanto indiferente, encarando-me com tanta fixação que senti vontade de correr.

- Eu não sabia que você é gay, Changkyun. - Im Jaebum, aluno repetente do segundo ano, encarou o loiro, sorrindo de um modo entranho em seguida.

- E não sou mesmo. - Changkyun ditou convicto, cruzando os braços diante do peito enquanto tudo o que eu fazia era me esconder atrás de suas costas.

- Não foi isso que acabamos de ver... - Jaebum falou provocante, mordendo o lábio ao encarar-me brevemente.

- Aposto que estariam aos beijos se não tivessemos chegado. - Um garoto alto falou e eu o reconheci como um dos membros do time de basquete, mas meu nervosismo era tanto que nem mesmo lembrei seu nome. Ele nos encarou com nojo e eu quis gritar quando Changkyun afastou-se.

- Primeiro, eu não sou gay, até porque vocês sabem muito bem que eu já fui para a cama com muitas garotas. - Bradou de modo seco e só Deus sabe o quanto ouvir aquilo me machucou. Eu sempre soube disso, mas ouví-lo afirmar dessa maneira era diferente. - Segundo, eu estava apenas curioso sobre como era ficar com alguém do mesmo sexo, o que não faz de mim homossexual. - O mais novo deu de ombros e pude ouvir os outros zombarem disso.

- Curioso? - O mesmo garoto questionou de modo estranho e tudo o que consegui fazer foi encarar as costas de Changkyun fixamente enquanto minha mente entrava em colapso.

- Sim, foi a primeira vez que fiquei com um garoto. - Respondeu impaciente, encarando-me por sobre o ombro. Eles continuaram a conversar, mas não consegui prestar atenção em nada depois de ouvir aquilo.

- O quê? - Sussurrei para ninguém em especial, cerrando os punhos ao perceber que mais uma vez havia sido enganado. - Com licença. - Ditei de modo ríspido, andando para o lado e batendo acidentalmente no braço de Changkyun.

- Aonde você vai? - Questionou rápido, mas não o respondi e fui até a mesa onde havia deixado meus materiais. Fechei meus cadernos e joguei-os de qualquer jeito dentro da mochila. - Kihyun? - Ele tocou meu braço e eu me virei irritado.

- Não acredito que confiei em você, Changkyun. - Falei magoado, me sentindo totalmente idiota por perceber que estava prestes a chorar ali mesmo. - Você sabe que odeio mentiras mas você continua com isso. - Dei as costas a ele, fechando o zíper de minha mochila.

- Vamos conversar, você entendeu errado. - Suas mãos tocaram em minha cintura e eu as afastei em seguida.

- Não me toque. - Bradei alterado, ciente que minha atitude chamaria a atenção de quem estava por perto, mas isso não importava naquele momento. - Eu não sou surdo, Changkyun. Você acabou de dizer que só veio atrás de mim porque estava curioso, o que significa que qualquer um servia e que você nunca se importou comigo de verdade. - Bati o punho em seu peito, fazendo-o recuar um passo antes de tentar me segurar novamente. - Eu era só um qualquer para você. - Sussurrei para mim mesmo, rindo friamente em seguida.

- Vamos conversar com calma. - Encarei-o com desdém, segurando a alça da mochila com tanta força que mal pude sentir a ponta de meus dedos.

- Eu não quero mais olhar para sua cara e espero que tenha se divertido bastante enquanto brincava comigo. - Sorri friamente, contendo a vontade de chorar. O Im aproximou-se um passo, mas eu o afastei ao empurrá-lo pelo peito. - Só é uma pena para você que não tenha conseguido ir até o fim. - Ditei em tom baixo, de modo que os garotos a sua volta não pudessem ouvir. - Ou talvez você nunca quis ir até o fim mesmo... - A última frase foi mais para mim do que para ele, pois pensei que Changkyun teria insistido muito mais se quisesse ir além comigo.

- Kihyun, me deixa explicar. - Balancei a cabeça negativamente, dando as costas a ele e afastando-me em seguida. - Kihyun. - Pude sentir seus dedos arrastarem por meu braço, mas ignorei-o enquanto corria para lomge dali.

☆☆☆☆☆☆☆

Cheguei em casa atordoado, ainda sem entender como conseguia me manter em pé. Deixei os tênis na entrada e arrastei os pés pelo chão frio.

- Oi neném. - Meu irmão falou quando adentrei a sala, sorrindo de modo amável para mim. - Que cara é essa? - Questionou preocupado, fazendo-me parar e encarar seu peito.

- Você está indo para o estúdio? - Questionei rouco, torcendo para que ele não fosse realmente sair.

- Para a academia. O que aconteceu? - Segurou em meus ombros e eu o encarei em seguida.

- Você realmente precisa ir?

- Não se quiser que eu fique. - Acariciou meus cabelos levemente e eu joguei a mochila no chão antes de abraçá-lo com força. - Kihyun? - Pude sentir que o Shin recuara um passo, mas logo seus braços envolveram meu corpo.

- Eu fui tão burro, Hoseok. - Sussurrei dolorido, finalmente permitindo-me chorar de verdade.

- Por que está assim, neném? - Eu o apertei ainda mais, sentindo-o acariciar minhas costas com leveza.

- Eu sou um idiota e agora está doendo, doendo tanto que não sei o que fazer. - Ditei entre soluços, sentindo minhas pernas começarem a tremer.

- Onde dói, pequeno? - Questionou calmo e eu me afastei antes de encará-lo. Apontei para meu peito, onde eu quase podia sentir meu coração se partindo em pequenos pedaços.

- Por favor, faça parar. - Pedi atordoado, segurando com força em minha própria camiseta. Hoseok sorriu triste e recostou minha cabeça em seu peito novamente.

- Vem aqui. - Ele pegou minha mochila e circulou um dos braços por minha cintura, guiando-me até o quarto. Deitou-me sobre a cama e deixou a mochila em um canto qualquer. - Eu já volto. - Assenti breve, observando-o deixar o cômodo quase correndo e voltando com o smartphone na orelha segundos depois. - Oi amor, não irei hoje. Você pode vir aqui em casa? Vou esperar. - Desligou o aparelho em seguida, deixando-o sobre o criado mudo antes de sentar-se sobre a cama.

- V-Você pode ir. - Tentei parecer firme, mas os soluços entre minha fala indicavam que eu não estava em um estado mental bom o bastante para deixá-lo ir.

- Não deixarei você sozinho. - Hoseok pediu por espaço na cama, ao qual eu cedi sem hesitar. Deitou-se sobre o travesseiro e me aconchegou em seu peito, deslizando uma mão por minhas costas enquanto a outra acariciava meus cabelos. - Agora chore para diminuir a dor e depois conversaremos. - Assenti breve, permitindo-me chorar o quanto quisesse.

☆☆☆☆☆☆☆

- Está melhor agora? - O Shin questionou calmo, entregando-me um copo com água. Assenti devagar e aceitei o objeto, sorvendo todo o líquido de uma só vez. - Quer conversar? - Permaneci quieto, observando enquanto ele sentava sobre o colchão, próximo a minhas pernas.

A essa altura, Hoseok já havia me feito trocar as lentes pelo óculos e mudado minhas roupas também. Observei Hyungwon adentrar o cômodo e sentar no lado oposto ao de meu irmão.

Suspirei antes de falar.

- Você estava errado. - Iniciei um tanto rouco, soluçando em seguida. O mais velho encarou-me fixamente e eu sorri triste antes de continuar: - O Changkyun não gosta de mim. - Suspirei pesado, colocando o copo sobre o criado mudo antes de apoiar as costas na cabeceira da cama.

- O que ele fez? - O Chae questionou rápido, tão sério que achei estranho.

- Desde o início, ele estava apenas brincando, queria saber como era ficar com alguém do mesmo sexo e obviamente me escolheu porque sabia que eu seria idiota o bastante para acreditar nele. - Relatei simples, lembrando-me do peso das palavras saindo da boca de Changkyun. Controlei-me para não voltar a chorar.

- Você não tinha como saber, neném. - Hoseok acariciou minha perna, fazendo-me suspirar pelo toque quente de sua pele. - Changkyun enganou a todos nós. - Seu tom era sério e percebi que ele estava muito desconfortável com o assunto, mas eu realmente precisava conversar com alguém.

- Eu deveria ter percebido desde o início, até por que quem iria querer ficar com um garoto gordo e feio como eu? - Sorri triste, mas assustei-me quando Hoseok me bateu. Não foi de maneira forte, mas o toque, quase tapa, repentino em minha testa me deixou surpreso.

- Você não é gordo e muito menos feio. - Encarou-me sério, logo ostentando uma expressão irritada. - Foi o Changkyun quem disse isso? Eu vou acabar com aquele filho da puta. - Meu irmão levantou-se em um rompante, tão irritado que por um momento me senti assustado.

- Hoseok, se acalma. - Hyungwon segurou-o pela cintura, puxando-o calmamente de volta para a cama.

- O Changkyun nunca me disse isso, pelo contrário, ele já disse várias vezes que me acha lindo. - Proferi rápido, com medo de que Hoseok realmente fosse atrás dele. - Mas com certeza ele só o fez para que eu cedesse com mais facilidade. - Continuei triste, sentindo uma solitária lágrima deslizar por minha bochecha.

Por que isso tinha que doer tanto?

Escutamos a campainha tocar, o que desviou o foco do assunto por um momento.

- Eu já volto. - O Shin levantou-se em seguida, deixando o cômodo rapidamente. Um silêncio instalou-se no ambiente e eu passei a mão no rosto enquanto sentia minhas bochechas esquentarem sob o olhar fixo de Hyungwon.

- Por favor, não me olhe assim, eu fico constrangido quando alguém bonito me encara tanto. - Ditei de modo tímido, abaixando a cabeça levemente enquanto ele sorria.

- Você também é bonito. - O Chae colocou uma mão sob o queixo e continuou a me encarar.

- Não precisa ser gentil comigo. - Resmunguei emburrado, mas ainda feliz pelo elogio, mesmo que não fosse verdadeiro.

- E não estou sendo. - Apoiou as mãos no colchão atrás de suas costas e sorriu mais uma vez. - Estou sendo apenas sincero, porque você realmente é um garoto muito bonito e inteligente.

- E que é gordo e chato também. - Fiz um bico emburrado, percebendo que talvez esse fosse o motivo para eu não ter muitos amigos.

- Você não é gordo. - O moreno falou sério, amenizando o olhar quando me manti parado. - Sedentário talvez, já que Hoseok diz que você não faz exercícios porque vive estudando. - Revirei os olhos, lembrando que, se pudesse, o Shin me arrastaria todos os dias para a academia. - E nossa, eu adoraria ter umas gordurinhas no meu corpo. - Hyungwon passou a mão pelo abdômen e eu o encarei incrédulo.

- O quê? Você tem um corpo lindo. - Falei indignado, pensando que seria o garoto mais feliz se tivesse um corpo parecido com o dele.

- Você também. - Sorriu amável, fazendo-me corar instantaneamente. Se ele não parasse de dizer isso, eu com certeza acabaria acreditando. - Eu sou magro igual uma porta, Kihyun. - Indicou os próprios braços. - Isso é bem vantajoso para o meu trabalho, mas eu sinceramente gostaria de ser mais cheiinho. - Fez um bico frustrado e isso me deixou totalmente sem reação. - Eu sempre brinco dizendo que não tenho tendência para engordar mas eu já sofri muito com isso. - Suspirou ao final e pensei que talvez isso tenha feito com que ele se lembrasse de coisas não muito boas.

- Eu não sabia. - Ditei com pesar, observando-o sorrir e negar com a cabeça.

- Eu aprendi a lidar com o tempo, mas era frustrante perceber que havia engordado e que tudo sumia praticamente de um dia para o outro. - Mais um bico estampou seu rosto e eu não soube o que sentir.

Na minha cabeça, Chae Hyungwon era como uma escultura, tão bem esculpida que nada aparentava estar fora do lugar, mas pelo que percebi, nem sempre as coisas são o que parecem...

- Quem estava na porta? - Despertei de meu devaneio ao escutar o maior questionar e só então percebi que Hoseok havia voltado.

- Era um vendedor, daqueles bem chatos. Mas eu já mandei ele embora. - Encarou o namorado, sussurrando algo que não pude identificar já que ele estava de costas para mim. O Chae assentiu e o mais velho logo se sentou. - Sobre o que falavam? - Questionou curioso, alternando o olhar entre Hyungwon e eu.

- Sobre eu ser magro demais e seu irmão achar que é gordo. - O Shin revirou os olhos, possivelmente não gostando nada daquela resposta.

- Eu já disse para o Kihyun que ele precisa se exercitar com frequência, mas ele só exercita a mente mesmo. - Falou para o namorado, me excluindo totalmente do assunto.

- Para de falar como se eu não estivesse aqui. - Bradei emburrado, revirando os olhos quando ele me deu língua, uma atitude que achei totalmente infantil.

- Você pode ir para a academia conosco um dia. O Hyungwon só fica na esteira e você pode ficar com ele. - Ditou animado e por um momento assustei-me com sua súbita mudança de humor.

- Para quê? Observar enquanto você se exibe para as garotas enquanto pega peso? - Hyungwon falou um tanto ríspido e eu contive a vontade de rir quando ele ficou sem jeito ao perceber o tom em sua fala.

- Você fica uma graça quando está com ciúme, Wonnie. - O mais velho provocou, recebendo um soco no braço e logo sorrindo ao perceber que o Chae havia se machucado mais com aquilo.

- Hoseok, eu estou com fome, me traga alguma coisa para comer. - Empurrou o namorado tentando tirá-lo da cama mas não obtendo muito sucesso devido a grande diferença física.

- Cadê o respeito, Chae Hyungwon? Eu continuo sendo mais velho que você. - Falou divertido, mas levantou-se enquanto o moreno o encarava de modo seco.

- Só vai, Hoseok. - Apontou para a porta, por onde observamos meu irmão sair rindo. - Como você aguenta ele? - Questionou indignado, mostrando-me uma careta engraçada, que claramente me fez rir.

- Chega um momento em que você simplesmente desiste mesmo. - Dei de ombros, sorrindo enquanto ele resmungava sobre não ser tão paciente. Ficamos alguns minutos em silêncio, mas era um silêncio tão confortável que me senti em paz. - Obrigado. - Falei de modo brando, sorrindo quando ele me encarou sem entender.

- Pelo quê?

- Por me distrair. - Sorri mais uma vez, indicando que já não me sentia tão mal quanto antes.

- Não fiz mais do que minha obrigação como cunhado. - Sorriu de modo amável, fazendo-me corar e assentir tímido. Hyungwon era para mim como um irmão, mas tenho certeza que eu acabaria estragando o clima se revelasse isso.

Permanecemos nos encarando por alguns segundos, mas logo nos assustamos quando o barulho de algo quebrando se tornou presente. Me levantei rapidamente, já me preparando para xingar Hoseok por sempre quebrar coisas porque não presta atenção ao que faz.