1. Spirit Fanfics >
  2. Grand Chase - A Jornada >
  3. Torre das Ilusões - Multiplos Narradores.

História Grand Chase - A Jornada - Torre das Ilusões - Multiplos Narradores.


Escrita por: KorolevaF

Notas do Autor


VOLTEI

COM QUASE 30K DE PALAVRAS

TEM DE TUDO NESSE CAPITULO EU ACHO QUE SUPEREI O CAPITULO DE JURIORE E DO CASAMENTO DO LADMIR.

KAKAKHB,AGFB TUDO EXPLICADO.


FOQUEM AQUI NO MOMENTO AURELIO.

Lupus pintou o cabelo de henna e segundo ogoogle da pra tirar com oleo e alcool então ele se garantiu no alcool.

FIM DO MOMENTO AURELIO.

Fiquem com Sieghart e Dio sendo idiotas.
Muito choro e dor.
Muitas revelações.

Bem vintos a Torre das Ilusões.

Capítulo 72 - Torre das Ilusões - Multiplos Narradores.


DIO

 

Reencontrar Rey não foi o ponto alto de seu dia nem de longe, o ponto alto de seu dia foi claramente passar toda situação na casa de Gradiel agonizando pela liberação de poder.

Depois que Caxias se retirou Dio desmaiou por cima de Sieghart, que desmaiou por cima dele também, no meio do pátio e ter acordado um par de horas depois em um dos quartos do palácio com Alfred e Sebastian em sua cabeceira.

— Quanto tempo eu apaguei?

— Algumas horas, o jantar será servido em breve. — Alfred informou ajudando o patrão a se sentar na cama e recostar nos travesseiros mais confortavelmente — Como se sente?

Dio respirou fundo fazendo a avaliação geral, coisa que ele não teve tempo de fazer na curta viagem com Drall e Vairne, ele estava esgotado de mana, tinha uma asa deslocada, uma dor de cabeça infernal e seu corpo estava implorando por descanso.

— Perfeitamente bem. — ele resmungou fazendo uma careta ao perceber que nem levantar o braço conseguia — Eu juntei meu poder selado com meu poder atual e liberei de uma vez...É um milagre eu não ter desintegrado meu corpo no processo.

— Eu acredito que sim patrão. — Alfred concordou negando com a cabeça — Você ainda vai me matar do coração um dia desses.

Dio presenteou o mordomo com uma bela revirada de olhos.

— O senhor vai descer para o jantar? Posso trazer para cá se quiser.

— E perder a chance de brigar com o idiota?

O jantar foi servido na sala formal do castelo, uma ampla mesa de carvalho escuro com Galadriel e Lothos dividindo uma ponta e Aron ocupando a outra.

Ele usa o braço de Alfred de bengala e Sebastian o apoia do outro lado com dificuldades, mas de alguma forma a passos lentos eles chegam a sala de jantar e Dio se encaixa na cadeira estofada de ao lado de Galadriel, a cadeira ao lado é ocupada por Lupus e de frente para ele, ao lado de Lothos, Sieghart e Mari.

Toda Grand Chase olha para eles.

— O que? Nunca viram um Asmodiano após uma overdose? — ele perguntou seco, todos piscaram envergonhados — Alfred, sirva.

O mordomo se curvou e se retirou com Sebastian.

— Só queremos ter certeza que vocês não vão se matar. — ruiva, olhos vermelhos, postura confiante e corajosa, essa era Elesis Sieghart de certo — Não que eu vá impedir alguém de matar esse idiota, mas se puder esperar a gente comer seria ótimo.

— Eu vou matar ele. — Dio garantiu sério, sem hesitar ele teria enfiado um garfo nos olhos alheios se tivesse condição — Quando retornarmos ao nível normal.

— Seu amor por mim me choca.

— Sieghart, com todo respeito ao seu senhor, enfie Soluna no meio do seu rabo.

— Bom eu só tenho Sol, temos que pegar Luna com a Lethia.

— Agora você se preocupa com ela?

— Eu não tenho feito nada fora me preocupar com ela por seiscentos anos. — Sieghart diz  sério — Não me acuse disso.

— Você só notou que ela sumiu quando precisou dela para salvar seu panteão. — Dio cuspiu com desgosto — Que os seus Deuses te castiguem pelo seu péssimo serviço.

— E você? — Sieghart devolveu com os olhos brilhando — Onde você estava? Não foi atrás dela antes igual a mim!

— Você sabe o que aconteceu? A última vez que eu a vi? — Dio tomou um fôlego se enchendo de raiva — Não, não se preocupou com isso não é? Não se preocupou com nenhum de nós dois por cem anos até precisar de nós.

— Ninguém veio atrás de mim também.

— Não ouse. — Dio avisou perigosamente, Sieghart recuou na cadeira desconfortável — Não ouse jogar essa merda pra cima da gente, quem sumiu dramaticamente depois de uma explosão foi você.

— E vocês não vieram atrás de mim.

— Inacreditável! Não passou pela sua cabeça idiota que você soltou nove níveis de fúria sem avisar a ninguém? Sieghart você quase arrancou a minha pele! — Dio falou o mais alto que podia em sua condição lastimável — Ela segurou aquilo sozinha pra proteger Vermencia inteira e ainda sim você destruiu uma cidade!

— A missão era destruir a cidade.

— A cidade não a porra do continente com todos dentro seu acéfalo. — Dio fez questão de arregalar bem os olhos para enfatizar o argumento — Então desculpe se não fomos atrás de você, estávamos fazendo algo importante: me remendar e garantir que ela estivesse inteira. Quando conseguimos voltar a um estado aceitável você tinha sumido sem deixar rastros então deixamos você esfriar a cabeça e fomos cobrir a porra das missões achando que você voltaria. E você não voltou.

— Isso não explica você não ter dado falta dela. — ele disse depois de meio segundo de silêncio, Dio o conhece bem o bastante pra saber que a informação dele ter quase o matado vai ser remoída mais tarde — Foram cem anos Dio, ela não passa tanto tempo longe da sua cama.

— A última vez que nos vimos ela disse que passaria uma temporada em Xênia com Periet, eu estranhei por motivos óbvios…

— Espera. — Sieghart o interrompeu de testa franzida — Você disse que eu sumi sem deixar rastros?

— Serre não conseguiu te localizar. — Dio informou confuso, Sieghart piscou claramente surpreso e a realização bateu forte — Você não encobriu seus rastros não é?

— Claro que não, se vocês precisassem de mim? — Sieghart deu um olhar de “pelo amor dos Deuses” a ele — Eu também não conseguia achar vocês e suponho que também não se esconderam não é?

— Baldinar. — Mari expôs o culpado passando a mão no rosto e suspirando — Deuses só fica pior, vocês separados daria segurança o suficiente para ele trabalhar nos detalhes finais.

— Não foi por isso. — Lothos falou finalmente, todos os membros param de fingir não prestar atenção na conversa e se voltaram para comandante — Não faz sentido, nós assumimos que Baldinar estava morto e que Canalt havia se encerrado na explosão. Ele tinha segurança, tem algo há mais nesta história.

— E o que vamos fazer? — a ruiva pergunta a comandante séria.

— Entrar na torre, achar ela o mais rápido possível e ir matar o Baldinar.

— Por favor, não me entendam mal, mas se sabemos que ela está segura não podemos pegar ela depois? — a elfa loira, Lire pelo que ele lembra das descrições de Sieghart, pergunta — Não sabemos quanto tempo temos até Baldinar ativar a máquina.

— Não tem chances de fazermos isso sem ela. — Sieghart respondeu negando com a cabeça — E não sabemos o que ela está fazendo lá, Caxias pode ter colocado ela na boca de um dragão.

— Eles não vão fazer isso sem ela. — Mari corrigiu — E nem eu.

— Vão escolher ela sobre a possível chance de salvar o mundo? — Elesis perguntou incrédula.

— Escolher outra coisa não é nem uma opção. — Dio sorriu — Não abandonamos nossa família.

Sieghart olha para ele por meio segundo antes de sorrir negando com a cabeça.

Juntos, sempre e para sempre.

Na manhã seguinte Dio acorda antes de todos e fica na cama tentando recuperar mana, sua asa está deslocada e ele não tem forças nem para projetar o par para fora e colocar os músculos no lugar.

Incomoda como o inferno.

Alfred logo o ajuda no banho e o veste em calças largas e um blusão com mangas bufantes confortáveis, Dio é calçado em suas botas militares e logo se vê sendo levado para a mesa de café da manhã com Alfred e Sebastian como bengalas.

— Bom dia. — os presentes saúdam, ele acena com a cabeça antes de ir para seu lugar do dia anterior.

— ...Eu preciso encontrar essa garota. — Lupus dizia a Lothos em tom cansado — Estou a meses atrás dessa alma, ela é minha única pista.

— Entendo, mas a última vez que vi srta. Von Crison River foi em Vermencia logo que nossa jornada se iniciou. — Lothos franziu a testa e se virou para Dio — Alguma ideia de onde ela possa estar?

Lupus, um caçador, atrás de Rey e supostamente procurando uma alma? Bem um dia a merda seria descoberta, Dio torcia para estar bem longe quando ocorresse, mas a vida dele é uma piada aparentemente.

— Sei que ela está na cidade e que está atrás de mim.  — Dio deu ombros e suspirou pelo movimento — Fique por perto, ela vai aparecer.

— Parece ser minha melhor aposta.

Dio concorda com a cabeça, ele corre o olhar pela mesa e acha o outro garoto dos Wild conversando com Azin, ele franze a testa sem entender de onde os cabelos albinos vieram e dá de ombros, a juventude de hoje em dia era estranha. O que ele não entende é a total indiferença de um com outro, pelo menos pela parte de Lass afinal ele via Lupus lançando olhares de soslaio ao caçula vez ou outra.

Ele só conheceu Lupus uma vez, um pacote loiro embrulhado em panos azuis marinhos nos braços de Scarlet, ele e Lethia ficaram em Elyos depois da separação com Sieghart e só vinham para Ernas quando ela tinha missão, então fazia mais de cem anos humanos que eles não visitavam os Wild.

Anos depois de Lethia “ir para Xênia” ele recebeu uma carta de Régis falando sobre o segundo filho, Dio deveria ter ido dar suas bênçãos ao garoto, mas ele estava enterrado de deveres com resistência e era o braço direito de Duel, Dio não teve tempo nem para respirar.

Ele se enterrou no trabalho para esquecer o “término” com Alethia? Sim. Ele assumiria isso em voz alta? Provavelmente não.

— Posso saber sua missão? — Dio perguntou a Lupus curioso — Aliás é coisa dos jovens pintarem o cabelo hoje em dia? Eu lembro que você era tão loiro quanto o raiar do dia.

— Nos conhecemos? — Lupus franze a testa, Trejeito de Scarlet ele percebe com certo carinho — Eu não me lembro de você.

— Seus pais não contaram sobre nós? — ele indicou ele, Sieghart e Mari com um movimento de mãos — Garoto eu peguei você no colo.

— Minha mãe está morta. Meu pai está desaparecido há anos, morto pelo que eu reuni.

 Dio pisca sentindo o mundo girar, ele olha para Sieghart que parece ter levado um murro na cara e Mari que tem as mãos na boca com os olhos arregalados. Algo na troca de olhares com Sieghart o faz quebrar mais.

Dois novos fantasmas, eles já perderam tanto.

— Quanto tempo faz que seu pai sumiu Lupus? — Sieghart quem pergunta, a voz dele saiu baixa e rouca.

— Na idade humana? Mais de quinze anos, mas não tenho certeza. Ele me abandonou logo depois que a mãe morreu, veio para uma missão em Ernas, se apaixonou por uma humana e me esqueceu em Hades.

— Não está certo. — Dio nega com a cabeça, ele não olha para Lupus e nem para a mesa em silêncio observando a conversa — Faz mais ou menos o mesmo tempo que ele me mandou a carta avisando do nascimento do seu irmão, ele escreveu tem os cabelos de Scarlet e os meus olhos, ele nunca te abandonaria.

— Bom o Regis Wild que você conheceu claramente não é o cara que eu conheci. — Lupus deu de ombros despreocupado, Dio é bom em ler as pessoas e pode ver o desconforto através da máscara desdenhosa — Ouvi dizer que ele teve um mestiço, é impossível ser filho de mamãe, ela já estava morta há anos.

— Não está certo. — Sieghart concordou com Dio cheio de certeza, ele olhou para o amigo com um expressão confusa  — Acha que Baldinar mexeu nisso?

— Se ele conseguiu nos separar…

— Ele não queria separar vocês três. — Mari interrompeu piscando como se tivesse acabado de descobrir uma coisa importante — Ele queria separar a Grand Chase I inteira.

— Baldinar tinha conhecimento o suficiente para saber sobre a vida de Serre estar conectada a Academia, se ele fez algo com os Wild e conosco, quer dizer que podemos atrapalhar os objetivos dele de uma forma magistral. O que ele pode querer? Nós não visitamos Canalt, ele tinha segurança para trabalhar…

— Não adianta refletirmos sobre isso agora. — Lothos suspirou fazendo todos prestarem atenção nela — Vamos pegar Alethia e ir atrás de Baldinar, podemos perguntar a ele pessoalmente depois de uma boa surra.

— A surra vai ser toda na conta de vocês. — Sieghart garantiu indicando o grupo e Lothos — Dio e eu estamos mortos pelas próximas semanas.

— Não foi nosso movimento mais inteligente. — Dio reconheceu, Sieghart concordou com a cabeça fazendo careta — Eu estou esgotado, nem minhas asas eu consigo puxar para fora…

— Parece doloroso.

Caxias apareceu flutuando em cima da mesa, ele estava sentado em sua pose de lótus com a Bíblia das Revelações aberta a sua frente.

— Se eu estivesse inteiro eu juro que lhe acertava um soco. — Dio grunhiu irritado — O que você quer?

— Você não conseguiria me acertar e nós dois sabemos disso garoto. — Caxias fez pouco da ameaça — Eu preparei alguns desafios para vocês na minha torre, então venham me visitar.

— Temos escolhas?

— Oh minha querida Elesis, claro que sim. — Caxias sorriu gentil — Se vocês recusarem receio que terei uma companhia por muitos e muitos anos.

— Em resumo, se não fizermos você não devolve ela.

— Em palavras mais duras? Sim, Lothos.

— Então não temos escolha.

— Fantástico! — Caxias bateu palmas animado — Vamos então!

— Caxias!

A última coisa que Dio viu foi um clarão branco.

 

CAXIAS

 

— É muito simples! — ele se viu dizendo para o grupo de jovens na nova sala da torre — Minha Torre é chamada de Torre das Ilusões por um motivo, eu preparei uma sala para cada um de vocês. Sim Sr. Wild, você também. — Caxias respondeu antes de Lupus perguntar — Vocês entram, cumprem os desafios, se tiverem sucesso eu ofereço a vocês isso aqui!

Caxias estalou os dedos fazendo uma maleta com vidros coloridos aparecerem na sua frente, Sieghart ficou branco e Lothos arregalou os olhos.

— Isso aqui são extratos divinos, pequenas poções feitas pelos alquimistas dos Highlanders anos atrás, eu felizmente ajudei a desenvolver a receita então só capaz de fazer essas belezinhas até hoje. — Caxias explicou com os olhos brilhando segurando um frasco com líquido amarelo claro — O efeito nos Highlanders é bem simples, recupera toda mana perdida e cura seus ferimentos de imediato.

— Isso vai fazer Dio e Sieghart voltarem ao normal? — Elesis perguntou rapidamente, ela evoluiu bastante, Caxias sente algo parecido com orgulho — Vai não vai?

— Não. — Arme que responde a ruiva — Se meus cálculos estiverem corretos essas coisas não vão funcionar. Podem até recuperar o corpo deles, mas a mana? As poções de mana precisam se fundir ao mana de quem bebe para fazer crescer, eles dois estão completamente zerados. Mesmo que o corpo deles se regenere eles teriam que gerar uma certa quantidade de mana para aquela coisa funcionar totalmente.

— Ela tem razão. — Sieghart concorda — Mesmo se recuperarmos nossos corpos, levaria cerca de dois dias para Dio e eu termos mana o suficiente para a poção fazer efeito, pois o mana que criássemos antes disso seria usado para encher minha reserva de fúria e os selos de Dio a um nível aceitável.

— Sim. É por isso que essas poções serão dadas a vocês da Grand Chase. — Caxias explica, a sala olha para ele confusos — Essas poções são absurdamente mais fortes do que as que os mortais usam normalmente, afinal é para um imortal recuperar todo seu poder, com os humanos? Essas poções podem dobrar suas reservas de mana e restaurar completamente o corpo e ferimentos internos.

— Espera, e os dois idiotas ali? — Lothos que pergunta, a careta irritada mascarando a preocupação real, mas Caxias conhece bem a mulher a loira.

O Elfo estalou os dedos novamente fazendo um pequeno frasco com dois fios dourados aparecerem.

— Como raios você conseguiu isso? — Dio piscou maravilhado e surpreso.

— Eu sou o Avatar da Criação. — Caxias respondeu convencido, os jovens reviveram os olhos — Certo, isso aqui são fios de cabelo de Gaia. Poder restaurador total por assim dizer.

— Caxias se um dia eu lhe critiquei, não me recordo.

— Deixa de ser falso Sieghart. — Caxias riu alto — Então? Vamos começar?

….

A Grand Chase se encontra em uma sala circular com várias portas, cada uma com um nome escrito e recebem as instruções para entrar. Na sala restam apenas Caxias, Lothos, Sieghart e Dio, o Elfo providenciou poltronas confortáveis para eles esperarem os desafios terminarem e se sentou sorrindo.

— Galadriel quer falar com você. — Lothos avisou, o sorriso de Caxias caiu no ato — E eu acho que você deveria falar com ela.

— Sim, eu vou resolver isso. — Caxias garantiu suspirando, ele sabe que vai ter que enfrentar Galadriel cedo ou tarde — Eu acho que vou buscar Alfred e conversar com ela.

— Me parece uma boa ideia, eu poderia terminar meu café da manhã.

— Oh céus eu interrompi vocês no meio não foi? — o Elfo disse em tom apologético — Eu vou resolver isso.

Caxias aparece na porta do escritório de Galadriel, ele manda uma ilusão ir levar Alfred para a torre e bate na porta devagar.

— Entre.

Galadriel está atrás de sua mesa, há um chá fumegante servido em uma xícara esquecida há tempos e uma pilha de papéis em que a rainha se concentra, ela está em suas roupas comuns, um longo vestido violeta escuro com um peitoral de couro preto por cima, seu cajado descansa flutuando atrás dela.

— Eu achei que você demoraria a vir.

— Não posso ficar muito tempo longe da minha amada pátria posso? — Caxias se senta na cadeira em frente a mesa e se serve do chá da rainha — Como você está?

— Minha amiga mais fiel me traiu, meu amigo mais antigo mentiu para mim por anos e meu reino está um caos...É uma pergunta idiota Caxias.

— Desculpe.

— Pelo que?

— Pela pergunta é claro. — Caxias deu de ombros — Eu nunca escondi nada de você Galadriel.

— Calisto era seu irmão.

— Não era. — Caxias estalou irritado, Galadriel piscou surpresa, mas isso não diminuiu sua irritação sobre a afirmação — Minha mãe nunca teve outros filhos, eu não tenho irmãos.

— Seu irmão e seu sobrinho morreram naquela explosão!

— Eu não tenho irmãos e tão poucos sobrinhos Galadriel! — Caxias gritou pela primeira vez em anos — Para Calisto ser meu irmão eu teria que ter um pai, eu não tenho um pai.

— Não muda o fato de que você mentiu para mim.

— Menti? Eu menti?! — Caxias se encheu de uma raiva que ele nem sabia que tinha — O que você queria que eu dissesse? “Oh Galadriel, prazer em conhece-lá eu sou o filho que o rei fez viver nas periferias passando fome, mandou a mãe matar quando ainda estava na barriga e tornou a vida dela o mais miserável possível quando ela não o fez!”

— Calisto te adorava Caxias ele morreu sem saber que não era o último membro da família real vivo! Ele tinha você!

— Não, não tinha. — Caxias estourou a xícara com um pequeno descontrole de seu mana, ele respirou fundo assustado com sua falta de controle — Calisto tinha a memória de um pai amoroso e gentil e eu? Nenhuma memória que valha a pena lembrar.

— Você deveria ter me dito. — Galadriel diz em um tom choroso, Caxias olha a mulher surpreso, lágrimas descem do rosto da rainha — Eu poderia ter feito algo…

— Você não tinha que ter feito nada Galadriel. — Caxias fez um lenço aparecer na frente da mulher chorosa, a rainha aceitou o presente e Caxias contornou a mesa abraçando a mulher que chorava tudo que não havia chorado em anos — Ninguém sabia quem era meu pai, só Baldinar, não era algo para ninguém saber, para mim eu nunca tive pai.

— Sinto muito.

— Eu sei. Eu também sinto muito por Dahlia, você não merecia isso Galadriel. — Caxias depositou um beijo nos cabelos da rainha — Apenas coisas boas deveriam acontecer.

— A vida é uma vadia. — Galadriel consegue dar uma leve risada no meio do choro, ela se afasta de Caxias limpando os olhos com o lenço — Vá salvar o mundo, teremos tempo para conversar depois.

— Virei para o chá.

— Estarei esperando. — Galadriel garantiu fungando — Ah, eu estou negociando a paz com Aron.

— Isso é bom Galadriel. Um novo começo para todos nós em breve.

— Um bom?

— Eu não sei querida, eu não vejo o futuro.

….

Caxias reaparece nas ruínas do castelo real da Terra de Prata.

A sala do trono onde séculos antes Azra resistiu ao último ataque dos Asmodianos foi mantida intacta pelo tempo bem como todo castelo, Caxias deu esse pequeno presente para Alethia, preservar sua casa de infância dos danos que o tempo pudesse causar, todas as estátuas que estavam no castelo foram movidas para o subsolo onde estariam seguras.

O castelo fica perdido no meio da floresta, ninguém sabe onde ele está, afinal quem sobreviveu para contar?

Sirioth estava ali como Caxias esperava, quase uma vida atrás Alethia entrou na torre dele por aquele mesmo lugar e deu a ordem para seu familiar lhe esperar ali. Sirioth não saiu de seu posto apenas para caçar e quando a Grand Chase esteve no continente, ele não queria correr o risco de Lothos sentir sua presença.

— Onde ela está?

— Eles finalmente foram buscar ela na minha torre. — Caxias informou com cuidado, manter os olhos em Sirioth era questão de segurança — Suponho que você vá esperar aqui.

— Eu tenho minhas ordens Avatar da Criação.

Caxias concorda e desaparece.

….

— Então? — ele diz aparecendo na sala onde deixou Dio, Sieghart e Lothos, a Torre fez parecer que ele saiu à menos de dois segundos — Vamos começar de verdade?

Com um estalar de dedos Caxias faz aparecer uma poltrona confortável para ele e uma tela no ar onde as portas que rodeavam a sala estavam sendo exibidas em fileiras.

— Rey? Sério? — Dio pergunta chocado ao ler o nome da menina, Caxias concorda com um suspiro, sua ilusão teve muito trabalho para desviar dos ataques de Rey e explicar a situação — Então vamos sentar e assistir?

— É o que fazemos nesse lugar.

Dio bufou achando que era piada e isso fez Caxias rir alto enquanto a porta de Elesis se abria na tela.

 

TERCEIRA PESSOA

“AMOR”

 

Elesis não sabe exatamente tudo sobre magia, mas ela tinha que reconhecer que a torre de Caxias Gradiel sabia o que estava fazendo.

Ao redor dela está o quarto de seus pais, um lugar que ela não visitava há anos, mas esse lugar no momento está repleto de agitação e gritos de dor.

Elesis observa estática sua mãe em sua cama de parto, Penélope Sieghart era toda suor e sangue enquanto gritava, ao seu lado segurando a mão da esposa o pai de Elesis observava o trabalho da parteira nervoso.

O parto de Elsword ela percebeu em choque.

Penélope grita de dor e Elesis se encolhe contra si mesma, as vezes ela mal lembra o rosto da mãe ou sua voz, mas agora olhando os cabelos ruivos alaranjados da mulher e seus belos olhos avelãs ela sente as lágrimas chegando aos olhos.

— Falta pouco querida. — o pai de Elesis sussurrou acariciando os cabelos da esposa e beijando gentilmente suas mãos — Só mais um pouco.

Elesis lembra daquele dia, ela sabe que ficou sentada em frente a porta dos pai ouvindo os ruídos de dentro do quarto e esperando sua mãe e seu novo irmão (sua mãe havia dito que era um menino!) saírem, mas apenas seu pai transtornado correu pela porta ao som do choro do recém nascido.

— Isso é uma ilusão? — ela perguntou a ninguém em especial, ainda vidrada no rosto da mãe contorcido de dor.

Mas, no fundo, ela sabe que isso é algo que aconteceu realmente. Algo que Elesis não viu, mas estava lá em algum momento de sua história. Uma ilusão de algo que ela não viveu.

— Empurre Sra. Sieghart. — a velha parteira disse secando o suor do rosto com as mãos calejadas — É um menino eu posso ver.

— Eu disse! — sua mãe gritou as palavras rindo apesar de claramente a dor ser maior — Você me deve o dinheiro da aposta!

— Se concentre! — a parteira ralhou irritada cortando a mulher.

Elesis se aproximou da cama sem nem saber o motivo e parou em pé do outro lado da mãe, ela queria segurar as mãos dela e dizer que tudo ficaria bem.

Seria uma mentira no entanto.

Penélope gritou alto de pura agonia e agarrou o lençol com mais força ainda, se possível claro.

— Merda! — a parteira xingou sem se preocupar com o linguajar — Merda, merda e merda!

— O que foi? — Elscud perguntou preocupado.

— Eu vou direto ao ponto Sr. Sieghart. Eu só posso salvar um dos dois.

— O que?! — Elscud piscou chocado — Não fale besteiras!

— Eu já vi casos assim antes menino. O bebê tem o cordão enrolado no pescoço. — a parteira falou severamente — Quando o bebê sair ela vai perder muito sangue e morrer, eu posso tirar ele assim ou dopar a senhora e tirar o feto por outro meio, mas isso demoraria e o feto morreria.

Elesis piscou.

Houve uma complicação no parto seu pai lhe disse no dia seguinte.

— Salve o meu filho! — Penélope sibilou sem perder a calma — Salve-o.

— Pénelope!

— Não Elscud! É minha decisão!

— Nós podemos ter outro filhos!

— Eu já me decidi!

— Pense em Elesis!? Em mim! Como vamos ficar sem você? — seu pai estava chorando agarrado a mão da esposa, Elesis nunca o viu chorar daquele jeito — Por favor…

— Eu o amo Elscud. — Penélope se agarrou as mãos do marido com força — Eu amo esse filho que ainda não vi, assim como amo você e Elesis.

— Pénelope…

— Faça. — a mãe dela ordenou a parteira — Faça agora.

— Não! — Elesis gritou junto com o pai.

— Ela já se decidiu. — a parteira deu de ombros e voltou ao trabalho.

— Eu te amo Elscud, amo-te tanto meu querido e valente marido. — Penélope soluçou olhando nos olhos do ruivo — Me desculpe, me desculpe por não ser forte o bastante para sobreviver a isso.

— Não, não diga isso meu amor.  — Elscud implorou — Não diga isso…

— Diga a Elesis que eu a amo. — Penélope o interrompeu com outra careta de dor, a voz urgente — Eu espero que ela não me odeie por isso, eu a amo tanto quanto amo esse filho.

— Pénelope…

— Eu faço isso por amor Elscud. Os humanos fazem coisas grandiosas por amor.

— Eu te amo. — Elscud cala a mulher com um beijo banhado em lágrimas e desespero — Amo você Pénelope, sempre vai ser só você.

— Eu te amo. Eu amo todos vocês. — a mãe dela chora e em seguida grita de pura dor — Deuses!

— Penélope!

— Eu te amo.

O choro de Elsword inunda o quarto e a mão de Penélope Sieghart  caí sem vida.

Elesis está chorando.

Ela morreu sem dor seu pai disse Dormindo depois de dar a luz ele continuou contando a ela no dia seguinte Ela está com os Deuses agora.

A ilusão se desfaz e ela retorna a sala escura que estava antes, sentada no chão e chorando o que não chorou sua vida toda. Sua mãe fez o maior dos sacrifícios pelo seu irmão e ela não sabe o que fazer com essa informação.

Outra ilusão é montada ao redor dela, Elesis se pega olhando para uma de suas colegas da aula de esgrima.

A menina, Elesis nem lembra o nome dela, está conversando com um garoto qualquer, suas bochechas estão coradas e seus olhos brilham de forma bonita.

— Amor? — a versão mais nova dela mesma sussurrou para si — É apenas uma distração.

Outra imagem é formada, uma Elesis alguns anos mais velha em um dos bailes da realeza em sua farda e cabelos trançados, ela observa o salão onde os casais dançam com olhos zombeteiros. Perda de tempo. Ninguém a chama para dançar, afinal ela é uma guerreira não as garotas da corte. Uma parte de sua a mente trai com um pensamento de que dançar noite adentro parece divertido. Você não é uma garota da corte seu pai diz Você é uma guerreira, coisas mundanas não são para você.

A imagem se dissolve e Elesis se vê em um dos muitos banhos compartilhados com as meninas em Atón, elas estão rindo do grito apavorado de Elesis por Lire ter puxado os pés dela debaixo d’água.

— Parem de rir! — Elesis gritou se recuperando de susto.

— Não dá! — Arme riu com mais vontade ainda — Desculpa Els, foi muito engraçado.

— Eu odeio vocês! — ela esperneou sem saber o motivo.

— Não, você nos ama. — Lire riu a puxando para um abraço e plantando um beijo em sua bochecha — Oh, olhem ela está vermelha igual o cabelo dela!

Elas riram mais ainda e Elesis acabou rindo junto para disfarçar sua recém descoberta.

Ela realmente amava cada uma delas.

Elesis chora mais alto ainda caída no chão, sem entender o motivo de estar vendo aquelas coisas.

A nova cena é composta por ela e pelos rapazes, todos reunidos ao redor da fogueira. Os garotos estão brincando entre si  e ela apenas ri das palhaçadas deles, é engraçado e todo o clima é leve.

Elesis percebe que também ama eles.

Quando os olhos dela encontraram com Ronan ela percebe que ele está observando ela com um sorriso gentil, ela então percebe que talvez o ame de uma forma diferente.

O amor é uma distração ela repete para si mesma desviando o olhar.

Logo ela se vê revisitando várias trocas de olhares com Ronan, conversas perdidas e sorrisos trocados, ela se vê negando o sentimento óbvio e afastando o garoto mais e mais.

Elesis também vê momentos com sua Guilda, momentos que ela percebeu que era grata por ter cada um deles, momentos que ela percebeu que os amava.

Ela retorna ao quarto preto tremendo de cima abaixo e chorando alto como uma criança pequena.

— Eu entendi! — ela grita para ninguém — Eu entendi! Porra eu entendi! Me tira daqui! Eu juro que vou fazer a coisa certa!

A sala se ilumina e ela suspira de alívio.

 

“O IRMÃO QUE VOCÊ NÃO CONHECEU”

 

Lire observa a cena com olhos apavorados.

Seu irmão,ela acha que é Ladmir, enfia sua faca de caça na cabeça de um Asmodiano sem o menor remorso ou hesitação.

Ladmir tem cabelos loiros, em um tom mais escuro que o habitual e os olhos são azuis selvagens enquanto ele dança com suas duas facas em punhos no meio de uma horda de inimigos sem demonstrar o menor medo ou desconforto. Ele tem uma aljava pendurada nas costas e um arco caído há alguns metros de distância.

É belo e mortal.

— Uau. — uma garota aparece na imagem, o vestido branco banhado de sangue uma corrente girando em volta, ela sorri para aquele Ladmir — Se divertindo?

— Não exatamente. Eles são fracos.

— Bom, então se prepare, pelo que eu vi tem mais três hordas vindo e os reforço vão demorar. — a jovem olhou para o céu e fechou os olhos por meio segundo antes de abrir novamente fazendo careta — Próximo portal vai abrir ao sul daqui.

— Mostre o caminho Lethia.

Alethia ela reconhece o nome com horror, aquela garota é a Sistina dos Highlanders, o que Ladmir e ela estavam fazendo juntos? E por que seu irmão tinha uma aparência diferente? O que era aquilo?

A imagem muda e um novo Ladmir aparece.

Pele violeta com traços azuis, traje de batalha, cabelos ruivos e olhos cor de ouro, de alguma forma Lire reconhece o irmão naquele Elfo Negro olhando para a planície deserta.

— Desertou? — é Dio ao lado dele com a testa franzida e apoiado em uma foice olhando o horizonte — Você tem família e amigos naquele lugar.

— É uma guerra idiota.

— Quer acompanhar a gente em Elyos? — Dio ofereceu — Muitos Asmodianos tradicionais para matar.

— Eu não tenho nada melhor para fazer.

— Admita que sente a nossa falta. — Dio ri fazendo um corte no ar com a foice, uma fenda abriu — Eles não são nada para você comparado a nós.

— Ninguém nunca será nada para mim comparado a vocês. — Ladmir nega com a cabeça sorrindo maroto — Eu só tive uma família a minha vida toda e espero continuar assim pela eternidade.

Dio sorri e ambos pulam na fenda.

Outra imagem é formada, um Ladmir humano e criança com cabelos castanhos e olhos escuros está deitado em uma cama, Sieghart está sentado ao lado da cama dele e Lire pode ouvir sons de vozes que ela reconheceu como Dio e provavelmente Alethia em outro cômodo da casa.

— Vocês não precisam fazer isso. — Ladmir fala, ele tem a voz rouca e está muito pálido e magro — Eu vou morrer e reencarnar sem problemas.

— Não seja idiota. — Sieghart bufa ministrando uma seringa no braço cadavérico de Ladmir — E a primeira vez que você nasce humano e está sendo uma merda, nós temos que estar aqui sim.

— Eu achei que estava louco. — Ladmir confessou tossindo alto — Papai e mamãe disseram que eu estava, por isso eles me deixaram. Me disseram que vocês não existiam que a guerra era invenção da minha cabeça. Que eu vim com defeito.

— Não. Você não é um defeito. — Sieghart garantiu afastando os cabelos da testa suada do menino e depositando um beijo rápido ali — Você é um menino bom com uma saúde ruim, mas não se preocupe, estamos com você agora e estaremos até o fim.

— Alethia se feriu por minha causa. — Ladmir soluçou agarrando a mão de Sieghart — Se eu fosse um Elfo eu poderia ter lidado com aquele espírito da natureza e ela não teria se ferido. Papai tinha razão, eu sou fraco e inútil, eu não deveria ter saído de casa atrás deles.

— Não, você não deveria ter ido atrás deles. — Sieghart concordou, há algo suave na voz dele que Lire nunca presenciou — Porque eles não mereciam seu esforço, mas não se preocupe, cuidamos deles. Agora durma Ladmir, estaremos aqui.

Ladmir caí no sono imediatamente e Alethia e Dio entram na sala com um punhado de cobertas e uma bandeja de comida.

— Ele não vai passar desta noite. — Alethia avisa, o braço dela tem uma bandagem suja de sangue.

Lire engasga e sente um nó na garganta.

— Eu sei. — Sieghart concorda olhando para a criança adormecida com tristeza — O que vocês acham que ele vai ser da próxima vez?

— Talvez um Asmodiano? — Dio deu  ombros se sentando na cama — Assim ele viveria conosco por um bom tempo.

— Não teríamos essa sorte. — Alethia garantiu amarga — Me ajudem a cavar a cova, ainda temos algumas horas.

Dio e Sieghart concordam.

A imagem se desfaz e Lire retorna a sala escura.

Suas pernas traem seu corpo e ela caí no chão com as mãos na boca e os olhos cheios de lágrimas. Ela não sabe o motivo de se abalar tanto, ela sabe que o irmão está vivo e em casa, mas ver uma versão criança dele morrer abalou suas estruturas.

Ele é um assassino ela pensa sentindo um gosto amargo na boca Ele abandonou sua pátria a linha de pensamentos continua  Ele morreu ainda criança ela termina.

Ladmir foi da Grand Chase I, um guerreiro que matou muitas coisas vivas.

Ladmir abandonou Karuell, sua família e irmãos de raça por achar uma guerra idiota.

Ladmir era uma criança doente abandonada pelos pais para morrer, taxado de louco e de coisas piores.

Teria sido esse o castigo dele por suas ações anteriores? Lire se pergunta enquanto uma nova ilusão é formada.

Ela está na floresta de Eryuell. Árvores altas e solo fofo, ela pode sentir o cheiro de terra molhada e ouvir os animais.

Ladmir, dessa vez o irmão que ela conhecia, está sentado em uma pedra limpando suas facas (ela reconhece o par da luta que acabou de ver)  de caça com um arco e aljavas apoiados ao lado.

Ao redor dele, Lire percebeu com horror, cinco corpos mortos de Asmodianos e três criaturas retorcidas que ela não sabia o que era, todos com perfurações certeiras na cabeça. Seu irmão não parece perturbado por estar cercado de coisas tão aterrorizantes, ele está calmo e limpando sua faca como se nada tivesse acontecendo.

— É o terceiro grupo só essa lua. — Ladmir resmunga para si mesmo irritado esfregando a faca com força — Talvez eu deva chamar o pessoal? Não, o que eu diria para todos na ilha? Oh pessoal, esses são meus amigos de outras vidas e estão aqui pra me ajudar a controlar os portais que eu venho escondendo de vocês há anos? Não vai dar certo.

Lire arregala os olhos, Ladmir estava lidando com portais em Eryuell pelas costas de todos?

— Eles devem estar ocupados, eu já renasci há quase duas décadas e nenhum sinal deles. — Ladmir continuou a resmungar para si e ergueu a cabeça para o alto tomando uma respiração profunda — Talvez eu deva ir atrás deles? Pode ter acontecido algo. — logo ele sacudiu a cabeça em negação e voltou a cuidar das facas — Não, não posso deixar a ilha. Sem mim as coisas podem ficar perigosas. Além do mais, Lire precisa de mim.

A Elfa soltou um som esganiçado pela garganta sem saber o que sentir com aquela frase.

— Ah olhe para mim agora, colocando uma irmã acima da minha família. — Ladmir riu desta vez, leve como sinos de vento, sua expressão ficou nublada meio segundo depois e o clima pesou — Espero que eles estejam bem.

A sala fica preta novamente e Lire fecha os olhos.

Ladmir é o irmão gentil e engraçado que a criou e cuidou de seu povo com tanto carinho e cuidado que era amado por todos.

O mesmo Ladmir tinha as mãos suja de sangue e traição em seu passado.

As ações ruins afetam as coisas boas que ele fez? ela se perguntou confusa e sem saber o que pensar, ele ainda é seu irmão mais velho que a protegeu de tudo o que pode, mas ele é um assassino sem remorsos.

Como Sieghart.

Ela finalmente entende.

A sala se ilumina

 

O PAI QUE TE AMOU

 

Arme se reconhece no castelo de Serdin, em uma das passagens secretas que os soldados usam para se movimentar para fora, se ela estiver certa esse túnel em particular leva direto a uma saída na lateral da construção, escondida por uma parede de pedras falsas.

Um homem com capuz anda apressado, ele segura um bebê contra o peito e parece estar nervoso olhando por cima dos ombros a cada dois segundos.

— Eu queria que as coisas fossem diferentes. — ele sussurra em segredo para o bebê, um tom brando de carinho e doçura — O que eu não daria para ver você crescer minha pequena?

O bebê solta uma risadinha alegre sem entender a seriedade da situação, o homem esboça um sorriso fraco aumentando mais ainda o ritmo dos passos.

— Eu não sabia quem sua mãe era. — ele continua, sua voz adquirindo um tom de desculpas — Se soubesse...Bem não importa não é? Ela me deu você afinal.

Eles chegam ao final da passagem e o homem empurra um pouco de mana, roxo quase lilás Como o meu Arme percebe sentindo a garganta fechar rapidamente com suas suspeitas apenas começando.

Do lado de fora do castelo está chovendo, o homem puxa o capuz de sua capa sobre a cabeça e conjura uma proteção de mana sobre eles, o céu noturno está coberto de nuvens pesadas e os sons da noite causam calafrios em Arme.

— Eu gostaria de mais tempo com você. — o homem segue sua conversa retórica — Poderia te ensinar coisas muito legais, talvez você tenha jeito para Alquimia como a minha irmã tem? Ou será uma Arquimaga como eu? Não importa, você será incrível em qualquer coisa.

Pai ela reconhece a voz, uma memória distante enterrada por anos de sentimentos conflituosos sobre sua família biológica, Arme percebe que aquelas são as memórias dela ainda bebê.

Aquele homem é seu pai.

— Eu tenho que ser responsável. — o homem resmunga, um pouco de humor colorindo seu tom brevemente — Pois bem, cresça bem, coma seus legumes e não fale com estranhos. Quando começar a sair com garotos lembre-se bem querida, todos eles são uns idiotas e só querem uma coisa. Não dê essa coisa para qualquer um ok?

Ela começa a chorar naquele instante enquanto o pai continua dando suas recomendações para sua versão recém nascida. O homem tagarela coisas bobas todo caminho até a Academia e quando para em frente aos portões toma um fôlego profundo e Arme se vê fazendo o mesmo.

Ele puxa o capuz revelando um rosto redondo com bochechas coradas, Arme tem a sensação de já ter visto aqueles traços em algum lugar, ele tem cabelos violetas como os dela e olhos da mesma cor.

A maga segura a respiração conforme o homem conjura uma cesta e escreve um bilhete com magia, ele a acomodou na cesta e colocou um escudo de mana para proteger o bebê da chuva.

— Eu sinto muito. — ele começa com a voz chorosa, uma lágrima rola de sua bochecha para o chão — Se eu pudesse...Se houvesse outro jeito querida eu juro que ficaria contigo para sempre, mas essa é nossa única chance de manter você a salvo. — o homem respira fundo limpando as lágrimas com as mãos enluvadas — Eu provavelmente estarei morto quando ela perceber, estou feliz que à última coisa que vejo seja você minha filha.

Arme observa com espanto a mana violeta tomar forma forma e irradiar do corpo do homem fazendo um vendaval, dentro da Academia luzes começam a ser acendidas pelos cômodos.

— Eu te amo minha querida Armênia.

Ele desaparece.

O bebê chora.

O portão da Academia se abre.

Arme retorna a sala escura.

— Deuses…

Ela não sabe o que levou ao abandono, ela não sabe se o pai está mesmo morto, quem era sua mãe e os motivos dele parecer estar fugindo de algo.

Mas, apesar de tudo, está claro uma coisa: Seu pai a amava.

Amava ao ponto de separar-se dela para sua segurança.

— Obrigada. — ela agradece a ninguém, lágrimas de alegria e alívio rolando de seus olhos enquanto ela ri sem saber o motivo — Muito obrigada.

A sala se ilumina.

 

NÃO É ERRADO GOSTAR DO DESTINO

 

Ryan observa algo que ele não esperava.

É uma série de imagens de Lire, momentos que Ryan gravou em sua memória, cenas de Lire lutando, rindo ou apenas sentada de vigília em algum ponto da viagem.

São imagens bonitas que ele guarda com muito carinho em sua mente para lhe fazer companhia em um futuro próximo, um futuro onde o noivado deles estará desfeito e ambos terão que seguir em frente.

Ryan não é burro, ele sabe que em algum ponto o noivado será desfeito, eles não eram objetos para serem negociados por seus parentes e respectivos conselhos. Lire já havia comentado o quão irritada e desconfortável aquele trato havia feito ela se sentir.

Ele também se se sentia assim até conhecer Lire e começar a desenvolver sentimentos por ela.

Aquilo corria Ryan de tal forma que o deixava enjoado consigo mesmo, como ele poderia não odiar um trato que fizera Lire tão chateada? Que tipo de guerreiro ele era para se deixar controlar daquela maneira?

Por mais que tentasse ele não conseguia odiar a ideia de ter Lire como sua esposa, ele com certeza respeitaria a decisão dela de romper o trato ele gostava de Lire não era um idiota, mas como ele poderia odiar uma coisa que o faria passar o resto de seus dias com uma garota incrível?

Ele não podia e aquilo o estava matando.

— Às vezes é necessário ver por outro ângulo. — a voz de Caxias veio de todo lugar da sala — Se esse foi o destino escolhido para você por seus antecessores e você concorda não há mal nisso. Nem sempre o que foi escolhido pelos outros é ruim.

— Lire odeia esse trato. — Ryan respondeu no ato — Eu também deveria odiar.

— Você a deixará ir? Caso ela rompa o tratado?

— Claro que sim. — Ryan disse indignado com a mera possibilidade de Caxias pensar que não — Eu não sou maluco, ela não tem que concordar com isso.

— Então eu não vejo o problema para tanta confusão interna meu jovem. — Caxias riu como se fosse uma piada — Você gosta, ela não gosta e você deixará ela em paz caso ela peça. Não vejo o que te faz uma pessoa ruim aqui.

Ryan piscou.

— É um ponto de vista Sr. Gradiel.

— Exatamente!

Ryan riu a sala se iluminou.

 

O AMOR DE UMA MÃE

 

A versão mais nova de sua mãe o saúda na imagem.

Natalie está sentada na sala de estar da mansão com outra mulher, os cabelos da mesma são em um tom bege e ela tem belos olhos acastanhados quase vermelhos, a convidada vestia um vestido até os tornozelos em um tom cinza sem graça e sapatos gastos,

— Eu fico feliz que você esteja de volta Ruth. — Natalie sorriu para ela, Ronan detectou um pouco de tristeza ali — Eu espero que você possa se adaptar bem aqui.

— Oh eu vou! — a moça garantiu alegremente, Natalie se viu rindo do entusiasmo dela — Comemorei minha volta em grande estilo!

— Como?

— Eu fui beber ontem a noite e tive uma noite mágica se é que você me entende.

— Ruth!

— Ora vamos Natalie, nos conhecemos desde pirralhas e você ainda se surpreende com minhas aventuras?! — Ruth riu e a mãe dele acompanhou — Se eu fosse rica teria um bordel!

— Se você fosse rica a corte teria muito mais fofocas interessantes minha amiga!

A cena muda e Ronan se encontra em dos quartos da ala dos empregados, Natalie está sentada na cama segurando Ruth contra o peito, a moça chorava copiosamente agarrada a Natalie.

— Não é ruim querida. — Natalie sussurrava esfregando os braços da amiga, embora sua própria voz tremesse — Vai ficar tudo bem, eu vou ajudar você.

— O Natalie eu não te mereço! — a moça choramingou alto enquanto se afastava da amiga para encara-lá — Eu não posso ter esse filho!

— Você pode. — Natalie garantiu — O pai é o homem daquele noite do bar não é? Podemos procurar por ele, se ele não quiser assumir a criança passamos por isso juntas.

— Não precisamos procurar. — Ruth garantiu fungando alto, ela olhava para Natalie como se tivesse cometido o pior dos crimes — Eu não sabia quem ele era Natalie, acredite eu não sabia, eu o conheci no bar aquela noite e ele era tão charmoso…

— Ruth?

— Me desculpe. Eu não sabia que era o seu marido. Eu não sabia Nath.

Ronan abriu a boca chocado e sem saber o que reagir com aquela revelação, ele não teve muito tempo para pensar já que a cena mudou para o escritório do pai onde ele e a mãe se encaravam.

Ele raramente viu a mãe fora de seu eu composto, mas era fácil perceber o quão furiosa ela estava apenas pelo olhar que dava a Phillip Erudon.

— Um bar Phillip! — ela gritava irritada — VOCÊ ME TRAIU!

— Chega Natalie! — o pai dele berrou irritado — Estamos nisso a meia hora eu já entendi.

— Ruth está grávida! Grávida Phillip! — Natalie continuou sem ligar — Sabe o que isso significa?

— Que eu finalmente vou ser pai oras!

Natalie recuou um passo chocada com a frase e Ronan ainda atordoado pela revelação recuou junto sem acreditar no que ouvia.

— Se ela der à luz a um menino vamos criar como nosso. — Phillip continuou aproveitando a pausa da mulher — Posso mandar Ruth para uma cidade longe daqui com um sustento para o resto da vida pelo seu silêncio, se for uma menina ela vai com a mulher e na idade certa eu arranjo um bom marido para ela.

Ronan imitou a expressão de nojo da mãe não acreditando em seus ouvidos, seu pai estava propondo aquela sandice? Seu pai que era o homem mais honrado do mundo estava fazendo aquilo?

— Eu nunca separaria um filho de uma mãe!

— Bom, então que bom que um de nós tem a cabeça no lugar não é?!

A imagem se dissolve bem na frente dos olhos de Ronan e outra se forma, uma cama de sangue e uma mulher berrando em plenos pulmões segurando a mão de Natalie que chorava junto.

Ele ouve um choro seguido de um riso de alívio das duas mulheres, era um menino pelo que Ronan identificou.

— É um menino saudável — Natalie sussurrou para a amiga emocionada, a parteira limpava o bebê em um bacia do outro lado do quarto — Como vamos chamar?

— Harper. — Ruth respondeu cansada, mas ela sorria amplamente — Harper como meu irmão.

As pernas de Ronan bambeiam enquanto sua cabeça trabalha ligando os pontos.

— Você deveria ter casado com Harper. — Ruth apertou  as mãos de Natalie — Todos teríamos sido mais felizes assim, maldito seja seu pai Natalie. Maldito seja ele e sua mania de grandeza.

Natalie riu levemente em meio as próprias lágrimas, Harper foi colocado nos braços da mãe e Ruth soltou um suspiro feliz e realizado.

— Ele parece comigo. — ela segurou as mãos minúsculas do recém nascido — Eu te amo. Nós vamos cuidar bem de você.

— Sim, nós vamos...Ruth?

A cabeça de Ruth tombou para o lado desmaiada e a parteira da sala soltou um grito de surpresa ao perceber quanto sangue a jovem perdia. Natalie tirou Harper dos braços da mãe e olhou apavorada a parteira trabalhando para salvar sua amiga.

Ruth morreu dois minutos depois de uma infecção segundo a parteira, Natalie chorou agarrada ao bebê Harper e sozinha.

Meu irmão. Ele é meu irmão, meu irmão, irmão, irmão irmão a mente de Ronan repete enquanto uma nova cena se forma.

Eles estão no jardim da mansão, sua mãe está sentada em dos bancos com a versão mais nova de Joana ao lado e Ronan e Harper correm na grama.

— Você vai mesmo?

— Eu não tenho escolha. — Natalie respondeu Joana, ela tem determinação na voz — Ele me disse que se eu não for ele vai mandar os dois para longe.

— Eu posso envenenar a comida dele. — Joana se ofereceu gentilmente, Ntaalie riu baixo — Não estou brincando.

— Eu sei. — Natalie garante — Eu fui tola em dar a ele uma segunda chance, achei que ele tinha mudado e quando Ronan nasceu ele mudou tanto, largou Harper de lado. Agora ele diz que eu mimo meus filhos? — a expressão de Natalie fecha rapidamente — Que se eu continuar os criando eles não vão ser guerreiros e sim “moleques da corte”? Aquele hipócrita maldito, me fez criar Harper como um moleque de cozinha e nem deixa Ronan saber que tem um irmão e quer vir me ensinar a criar meus filhos? Eu vou para o palácio, eles não vão sair de Canaban.

— É o melhor a se fazer.

— Cuide deles para mim Joana.

— Eu vou. Você acha que vai conseguir contar tudo um dia? Que vai voltar um dia?

— Eu espero que sim, eu não posso fazer isso agora, Ronan ama o pai mais que tudo, quando ele for mais velho quem sabe? — Natalie olhou para as duas crianças felizes na grama — Eu só espero que eu ainda tenha lugar aqui para isso.

A sala negra se forma ao redor de Ronan novamente.

Ele entende tudo claro como cristal agora. Sua mãe não queria manchar as memórias que ele tinha do pai.

 Harper era seu irmão forçado a crescer nas sombras.

Ruth uma pobre alma pega em uma confusão sem tamanho.

Eram todos vítimas no final, vitimas de um homem obcecado por ter um legado perfeito em sem manchas.

— Eu sou um idiota. — Ronan resmunga tentando parar as lágrimas — Eu sou um idiota, um grande idiota!

Ele não pode mudar o passado, mas ele pode garantir um futuro melhor, ele pode tentar mudar as coisas.

A sala se ilumina.

 

NÃO É ERRADO

 

Jin espera algo que não acontece até Caxias em pessoa aparecer para ele junto com um divã, o Elfo usa óculos e segura uma prancheta.

— Sr. Kaien sente-se. — Jin obedece sentando no divã de testa franzida, Caxias conjura uma poltrona para si mesmo e limpa a garganta — Estamos aqui hoje para discutir o seu problema.

— Eu tenho um problemas? — Jin perguntou genuinamente surpreso — Por essa eu não esperava.

— Sua vida.

— Oh...Isso é uma sessão de conselhos ou coisa do tipo?

— Não exatamente. — Caxias anotou algo na prancheta — Veja, seu conflito interno é o que impede de usar Ashura plenamente.

— Impede?

— Sim, vamos falar sobre isso. — Caxias continua anotando coisas na prancheta — Você sabe que não é errado ser feliz no meio de tanto caos.

Jin piscou chocado, como raios Caxias sabia daquilo?

— Você passou anos confinado na Terra de Prata, devotado a ajudar as pessoas e agora você finalmente teve a chance de sair e conhecer tudo! Magnífico, todos ficariam felizes com algo assim.

— É uma missão não férias.

— E daí? — algo brilhou no sorriso do Elfo, uma certa diversão — A felicidade escolhe horas estranhas para aparecer e não é errado apreciar isso.

— Pessoas morreram Sr. Gradiel. — Jin responde com o maxilar travado — Muitas pessoas.

— E você ficar infeliz vai mudar isso?

Jin se viu sem respostas.

— A conversa que você teve com a srta. Plie no casamento de Ladmir também não foi errada, ela precisava de uma sacudida. — Caxias continuou estalando a língua — Assim como não é errado se apaixonar e até amar outra pessoa que não seja ela.

— Eu não entendo.

— Meu menino, Amy não retribui seus sentimentos. — Caxias respondeu direto e reto.

Jin engoliu em seco, ele suspeitava disso claro, mas a verdade escrachada em sua cara era dolorida.

— Ela ainda é muito nova, muito madura para certos aspectos e muito imatura para outros, Amy ainda precisa descobrir muitas coisas sobre si e sobre o mundo antes de focar em amor. E isso também não é errado. — Caxias riu suave — Assim como você tem muitas possibilidades igual a ela, se for para ser vocês dois se encontraram no futuro com muito mais experiência e maturidade para ter algo estável.

— Então, a moral da história é?

— Não é errado ser feliz quando possível, não se atenha ao que você sentia antes, ao que você era antes, o seu passado fez de você o que você é hoje, mas ele não define o que você será amanhã. — Caxias estava inclinado para frente com um sorriso leve — Mudar é algo constante entende? Você pode experimentar várias mudanças ou viver se perguntando se viveu o suficiente.

Jin percebe que talvez o cara tenha razão.

Não é errado estar feliz com seus amigos, mesmo com o mundo a ser salvo.

Não é errado abandonar um velho amor que fez mais mal do que bem.

Não é errado mudar, mudar é viver afinal.

E a sala se ilumina.

 

LEMBRE-SE QUE O AMA

 

Lass se vê em um quintal de terra batida com céu roxo, havia árvores de troncos pretos e folhas vermelhas ou roxas e pequenos arbustos em outras cores escuras com flores de aspecto macabro.

Duas crianças estão sentadas frente a frente, um rapaz de cabelos loiros e olhos vermelhos de pele arroxeada e orelhas pontudas e o próprio Lass mais novo com suas escamas amostra, entre eles duas armas estão descansando.

Lass reparou que alguns metros a frente estavam estilhaços de vidros e uma tábua perfurada várias vezes, havia balas caídas por todo quintal absurdamente longes dos alvos improvisados.

— Você é horrível. — o loiro disse com uma careta de divertimento — Talvez você se saía melhor com as lâminas do que com as armas.

— Eu queria saber atirar. — Lass esperneia — Minha mira é boa, mas o recuo da arma é muito forte.

— Seu corpo ainda é muito pequeno para aguentar o recuo, quando você ficar mais alto e ganhar mais massa vai conseguir se estabilizar. — o Haros, Lass sabe que ele é um Haros de alguma forma, garantiu — Eu atirava na sua idade por ter um porte físico melhor, não se preocupe você vai conseguir.

— Eu espero. — Lass suspirou — Eu quero ser forte igual você, assim podemos formar um time.

O jovem riu bagunçando os cabelos albinos de Lass com um sorriso nos lábios.

— Nós já somos um time Lass, não importa o que aconteça eu estarei com você.

Lass não está entendendo nada, os olhos do garoto não são estranhos e ele presumiu que é o irmão dele de suas memórias anteriores recuperadas.

Outra imagem é mostrada, desta vez ambos em um quarto escuro o loiro tem Lass protegido em seus braços e o embala assobiando uma canção com os lábios, um raio cruza a janela e faz Lass pular nos braços do irmão que fecha os olhos com força e trinca os dentes.

— Eles estão bem não estão? — Lass sussurra agarrado ao irmão que cantarola em concordância a sua pergunta — Eles não dão notícias há dois dias.

— Está tudo bem Lass. — ele assegura olhando para o alto, o Lass que asiste as memórias pode ver claramente que o garoto tem dúvidas quanto a isso apenas pelo olhar preocupado, sua voz não o traí no entanto — E se não estiver, tudo bem também, eu vou cuidar de você.

— Promete?

Outro raio corta a sala, Lass treme e puxa as cobertas para cobrir seu corpo, o loiro apertou o maxilar com força e se força a ficar parado apenas confortando o irmão, tomando uma respiração funda ele responde.

— Claro.

A próxima imagem é Lass parado com o irmão enfaixando seu braço, ele está sujo de terra e com a cara fechada, o Haros tem uma expressão irritada no rosto e enrola as bandagens rapidamente de forma agressiva.

— Ai!

— Cale a boca! — ele manda seco — Eu disse para você não pular daquela maldita janela, você podia ter morrido.

— Você pula daquela janela!

— Eu sou mais velho que você. — seu irmão responde com os olhos vermelhos brilhando em raiva — Eu sei cair sem me arrebentar todo e eu sou um maldito Haros, mais resistente que você!

— Só por eu não ser um Haros eu não posso ser forte?!

— E por você não ser um Haros completo que você precisa ter plena noção do que vai ou não te matar! — o grito fez a forma mais nova de Lass recuar assustado, o loiro não parou no entanto ainda berrando em bom som — Você precisa treinar antes de fazer coisas assim! Se eu faço isso é por ter treinado antes, então antes de fazer algo só por que eu fiz lembre-se que EU SEI O QUE ESTOU FAZENDO!

Lass percebe sua versão mais nova chorar pedindo desculpas, seu irmão logo o abraça apertado contra si e beija seus cabelos pedindo desculpas pelos gritos e tentando acalmá-lo.

Ele retorna à sala preta respirando pesado, algo dentro dele está se revirando fortemente e sua cabeça dói o suficiente para fazer o albino cair no chão berrando em dor e abraçando a si mesmo.

Sua mente não foca em nada, por ela uma série de memórias é exibida rapidamente tendo como protagonistas ele e seu irmão quando crianças. Ele não consegue ver o rosto de nenhuma outra pessoa fora seu irmão, mas ele sabe quando seus pais falam com eles ou quando o mordomo da família está presente. Nem um rosto fora seu irmão.

Lass se lembra das noites de tempestade em que compartilhavam a cama, de como o loiro o protegia e o ensinava movimentos de luta, de como eles brincavam horas a fio no quintal e pregavam peças no mordomo. Como eles ficavam preocupados quando os pais saíam para trabalhar, como eles só tinham um ao outro no mundo a maioria das vezes.

Lass lembra que o ama enquanto ri maravilhado de sua descoberta.

As luzes acendem.

VOCAÇÃO

 

— Quem é você? — Amy perguntou a mulher.

A mulher tinha uma pele negra brilhante e bem cuidada, um corpo em forma de ampulheta e cabelos cor de chocolate presos em um penteado complicado, ela se vestia em um vestido branco sóbrio e por cima um longo casaco transparente com mangas até o chão, em sua cintura um cinto de outro marcava seu corpo.

Ela era cega, bilhas brancas olhavam para Amy e um sorriso pintado de vermelho era dirigido a ela.

— Faz anos que não assumo minha verdadeira forma. — a mulher riu levando as mãos aos lábios e Amy gelou de cima abaixo — Ah, reconheceu minha voz eu suponho.

— Oráculo. — ela fez uma reverência, nunca na história de sua Ordem houve alguém que estivesse com o espírito em pessoa — É uma honra minha senhora.

— Eu suponho que seja. — a mulher respondeu ainda sorrindo — Caxias me pediu para lhe fazer uma visita, eu não consigo negar nada para aqueles belos olhos azuis sabe? Então aqui estou eu para uma conversa.

— Eu fiz algo errado?

— Muito pelo contrário minha querida, eu vim impedir que faça. — o Oráculo se aproximou segurando as mãos de Amy, sua pele era quente como um raio de sol — Você vê, minha menina, nós duas sabemos que você não quer mais narrar para mim.

— Eu…

— Está tudo bem. — ela assegurou com um tom de consolo e apertou mais as mãos de Amy — Não há nada de mal nisso, acontece com frequência, não é a sua vocação.

— Eu fui treinada para isso, eu era a melhor da minha Ordem. — Amy abaixou a cabeça sentindo o corpo pesar — Como não pode ser minha vocação?

— Você é fantástica Amy. — o Oráculo garantiu com sinceridade — A melhor de sua Ordem de longe, eu aprecio os anos que dedicou aos seus estudos e a mim, mas me diga querida, alguém te perguntou se você queria ser uma Sistina?

— Isso importa? — Amy perguntou surpresa, ela não sabia ao certo quando começou a chorar, mas o Oráculo teve a gentileza de secar suas lágrimas com as mangas de suas vestes — Eu fui treinada para isso, eu sou boa nisso.

— Não quer dizer nada. — a mulher deu de ombros — Ser boa em algo não quer dizer que deva fazer aquilo para o resto da vida, você nunca escolheu ser uma Sistina, mesmo depois de crescer.

— Qual minha vocação então? — Amy olhou nos olhos cegos da mulher — Eu sou boa em muitas coisas.

— Eu não duvido disso, meu ponto é exatamente esse na verdade. 

— Não entendo.

— Quando eu tinha um ano a mais do que você eu era uma princesa de uma terra linda e distante, era boa em muitas coisas e perfeita em outras, o senhor Sansara ficou curioso sobre mim e visitou minha casa. — o Oráculo contou — Ele se apaixonou por mim, em toda Criação ele só amou uma pessoa até aquele momento, eu. Fiquei encantada, um Deus apaixonado por mim! Fui com ele para seu palácio e vivi como sua convidada por luas em meio aos Deuses, até que fiquei curiosa sobre sua verdadeira forma.

— Oh não!

— Exatamente, oh não! — ela riu graciosa — Tinha que ver, mesmo depois do aviso de todos os Deuses sobre não espionar suas verdadeiras formas de jeito nenhum eu tinha que garantir que que sua verdadeira forma era tão bonita quanto a que ele mostrava para mim. Eu espiei seus aposentos certa noite e vi sua verdadeira forma, minha visão foi o preço que paguei por isso.

— Eu sinto muito.

— Não sinta, foi uma decisão idiota e eu paguei o preço, esse é o meu ponto sobre você Amy, você está na idade de fazer coisas idiotas, experimentar e sofrer as consequências. O mundo é grande e incrível demais para ficar olhando apenas para os seus próprios talentos, desafie o mundo...Se desafie a ser uma você melhor. Sua vocação? Quem sabe o que é? Talvez seja algo que nem você espera! Vá viver e descobrir.

Amy ficou calada até tomar coragem o suficiente.

— O que aconteceu depois que você ficou cega?

— As visões começaram a vir, visões que Sansara não sabia como mandava para mim e eu quase enlouqueci. Aprendemos a trabalhar juntos, Sansara e eu, e assim me tornei a primeira Sistina da história. — ela levou as mãos aos olhos cegos com certo pesar — Eu era jovem e tomei uma decisão idiota, mas veja onde eu acabei? Uma das mulheres mais importantes da história.

— Eu entendo. — Amy anuiu com a cabeça — Se arrepende?

— Com certeza. Não pude voltar para minha casa depois disso, a visão que em mim habita começou a despertar em outras jovens e eu tive que acolhe-las como pupilas, cuidar delas e descobrir sozinha como tudo funcionava e foi assim nasceu a sua Ordem. — o Oráculo negou com a cabeça no final da frase — Eu era jovem com um ego grande demais para mim e veja como eu acabei? Mas, posso me arrepender de ter ido ver Sansara naquela noite, mas nunca me arrependi de nenhuma coisa que vivi. Eu vivi coisas que mais ninguém poderia viver, você entende?

— Eu entendo....Eu acho.

— Que bom, mas posso lhe pedir um último favor?

— Tudo que eu puder fazer pela senhora eu farei.

— Eu tenho uma última profecia para você, espere por ela antes de “se demitir” do cargo ok?

— Será um prazer narrar uma última vez. — Amy garante sorrindo — Eu estou sendo sincera!

O Oráculo riu e as luzes acenderam.

 

VOCÊ É LIN

 

— Sabe, eu não esperava aparecer aqui.

Lin olhou para mulher cega de pele negra parada ao lado dela.

— Quem é você?

— Eu? Oh eu me chamo Delfane! — ela respondeu rindo estendendo uma mão para Lin que apertou hesitante — Na verdade eu não estou aqui, não de fato, isso é apenas uma manifestação minha, Caxias tem meios para coisas que até eu duvido.

— Delfane? Delfane como aquela Delfane? Você é o Oráculo? — Lin piscou desacreditada e fez uma reverência quando a mulher assentiu — O que a senhora está fazendo aqui?

— Eu não sou o assunto aqui, esse é o seu teste afinal. —  Delfane deu de ombros, a sala escura tremulou e ela sorriu — Ah parece que vamos descobrir.

Duas versões de Lin apareceram a poucos metros de distância, uma de vestes brancas e olhos dourados, um par de asas brancos brotava nas costas desta Lin enquanto a sua frente a versão de olhos vermelhos e vestes escuras exibia asas em tom obsidiana.

As duas voaram e começaram uma batalha no ar tentando se acertar com bolas de energia e cortando o local com suas asas em investidas fortes o bastante para derrubar a outra do céu.

— Deixa eu adivinhar, Agnesia e Puro Mal? — Delfane  assobiou olhando a cena — Sempre tanto drama envolvido.

— Eu não sei qual escolher. — Lin deixou escapar, suas mãos subiram a boca em choque, a mulher riu — Eu sei qual escolher, claro que eu sei.

— Não, você não sabe. — a Delfane negou com a cabeça divertida — Fale-me do seu dilema. Me conte o que lhe aflige, supostamente eu devo ajudar você não é?

Lin respirou fundo sem escolhas.

— O certo é escolher Agnesia não o Puro Mal, o bem deve triunfar sobre o mal, mas todas as minhas antepassadas escolheram Agnesia e falharam...Talvez Puro Mal seja a escolha se eu puder controlar seu poder.

— Ou a destruição de tudo. — o Oráculo completou ela fez uma careta para o som das duas entidades brigando ao fundo — Algumas das reencarnações da Deusa nem sequer foram até Berkas sabia? Preferiram passar suas vidas ignorando essa história até morrerem, assim a profecia não iria se cumprir nunca, mas deixe-me dizer que, como a Visão em pessoa, eu sei que uma hora ou outra aquele dragão vai sair e a profecia será cumprida.

— Não importa se comigo ou não. — Lin concordou com a cabeça, ela entendia isso — Ainda sim, qual eu devo escolher? O bem em mim será capaz de equilibrar Puro Mal ou ajudar Agnesia a matar Berkas de vez?

— Posso lhe contar uma história? Sobre uma das minhas meninas favoritas? — Delfane perguntou e Lin concordou — Ela viveu um dilema parecido na verdade, ela poderia escolher qualquer Deus “bom”, mas escolheu servir eternamente ao Deus da Destruição.

— Então eu devo escolher Puro Mal?

— Não, é uma ideia horrível. — Delfane torceu a cara e Lin se viu rindo — Estou dizendo que ela não escolheu o “certo” e sim o que se encaixava. Ela não poderia seguir Sansara, essa coisa de luz e bondade não era para ela.

— Não? — Lin perguntou surpresa.

— Não. — Delfane riu alto pela cara de Lin — Ela veio me servir desde criança, naquele tempo ela já tinha uma visão de mundo bem concreta, o mundo não é preto e branco, bom e mal e coisas do gênero. Então mesmo com todos de sua família mandando ela escolher um Deus “bom” ela escolheu a Destruição. Ela sabia que não é o tipo de magia que usamos ou coisas do genêro que vão nos fazer bons ou ruins, todos nós somos bons e ruins, cabe a nós achar nosso próprio equilíbrio. Talvez essa seja a resposta de seu dilema.

— Eu acho que entendi.

— Que bom, não conseguiria ser mais sutil que isso. — Lin riu da fala da Sistina e o Oráculo continuou — Eu não estou dizendo que vai dar certo é claro.

— Está dizendo que posso tentar. — Lin olhou para as duas figuras batalhando — Se eu falhar o dragão se liberta.

— E o mundo acaba, não que isso seja uma desvantagem. — Delfane deu de ombros — O mais importante é lembrar quem você é, você não é nenhuma delas duas, você é Lin e elas apenas se hospedam em você, você decide o que quer ser.

— É fácil esquecer isso às vezes. — Lin sussurrou —  São duas entidades poderosas dentro de mim.

— Duas entendidades que não são você e que dependem de você para algo.

— Eu nunca vi por esse lado. — Lin respondeu sincera a mulher — Eu devo servir a Agnesia.

— Você é uma reencarnação Lin não uma Highlander, você não deve nada há ninguém fora si mesma.

— Eu não devo? — Lin sentiu uma porta de salvação abrir com a súbita realização e repetiu maravilhada — Eu não devo.

O Oráculo sorriu gentilmente e as luzes se acenderam.

 

AME-O

 

Lupus se vê no circo que ele queimou tempos atrás.

Ele está no interior da tenda onde jaulas estão empilhadas uma sobre a outra e o fedor de urina é forte demais para incomodar o nariz, alguns animais estão próximos das barras e Lupus consegue ver as famosas aberrações do circo, apesar da iluminação vir principalmente de tochas com um fogo verde ele consegue facilmente distinguir o motivo de estar ali.

Uma menina está parada do lado de fora de umas das jaulas, ao lado dela um leão com gravata e cartola se senta, do lado de dentro das barras um menino pequeno e frágil se encolheu contra um chão de palha gasta e fedida com suas mãos e pés acorrentados, ele está comendo um pedaço de pão e bebendo de um copo de alumínio gasto.

Lass. O menino é a versão criança de seu irmão. Seu irmão está preso ali naquelas condições desumanas e Lupus quer vomitar e queimar tudo.

— O mestre diz que você vai poder estrear em breve. — a menina diz acariciando o pelo do leão — Precisa de mais treino, ele disse que amanhã você pode treinar o trapézio.

— Eu sou bom em lugares altos. — a voz do garoto saiu fria e conformada — Meus arranhões ainda estão doendo, eu não quero praticar amanhã Ortina.

— Os leões foram cruéis com você. — Ortina reconheceu e logo suspirou — Você tem que praticar, não seja ingrato ao mestre, ele te acolheu! Se estivesse lá fora já estaria morto.

— Talvez a morte seja melhor do que isso. — Lass gesticulou para a jaula amargurado — Eu vou praticar amanhã, quem sabe se eu for um bom funcionário o mestre não me solta dessa jaula?

— Eu acho que sim.

— Então eu vou tentar!

A imagem muda, a jaula de Lass está do lado de fora do circo onde os frequentadores passam, crianças e adultos apontam para o garoto de pele escamosa e arroxeada rindo, alguns jogam tomates e outras frutas. Lass permanece sentado, recostado contra uma das grades dando a visão de seu rosto ao público, ele não se mexe mais suas mãos estão fechadas em punho e Lupus reconhece que ele quer chorar.

Lupus quer matar alguém, ninguém em específico ele só precisa atirar nas coisas.

Outra imagem se forma é o picadeiro do circo cheio de vida e risos, Lass está fazendo um bom trabalho com os trapezistas, mesmo no alto Lupus identifica um corte aberto na bochecha do garoto e pelo olhar que ele lança ao chicote do mestre do picadeiro é fácil deduzir de onde veio.

Uma nova imagem, Lupus está parado atrás de uma porta e pela brecha era possível ver um escritório luxuoso de Zidler.

— O garoto está ficando mais velho. — um dos palhaços diz segurando um copo nas mãos — Em breve as correntes não vão segurar ele.

— É uma pena. — outro funcionário diz com um sorriso de lado — Ele é tão bonito, deve fazer seu tipo chefe, pena estar crescendo e o senhor andar sem tempo.

Lupus trava e solta o ar pela boca, pela primeira vez em muitos anos Lupus não sabe o que fazer.

— Ele continuará meu tipo quando ficar mais velho. — Zidler assegurou brincalhão — Aquele pirralho vai virar um rapaz alto, magro e com belos olhos...Meu tipo com certeza. Com aqueles cabelos então? Uma beleza!

— Eu tenho que me segurar com aquele moleque. — o palhaço torna a falar em tom falsamente irritado — Quero deixar ele intacto para você chefe.

— Agradeço a consideração meu amigo…

Lupus não escuta o resto, graças ao bom Deus, pois está de volta a sala preta e a sua frente o Sr. Gradiel levita na posição de lótus.

— Você não deveria privar ele ou a si mesmo deste amor. — Gradiel começou — Você o ama, simples assim.

— Não deveria. Eu nem o conheço! — Lupus grita irritado ainda sentindo-se sufocado pelas imagens exibidas — Meu pai me deixou por ele!

— E o que ele tem haver com isso Lupus? Ele pegou seu pai pela mão e levou para Ernas ou coisa do tipo? — Caxias ergueu uma sobrancelha debochado — Amor não precisa de motivos, você o ama e ambos merecem isso.

— Eu não o amo! Eu quero entender o que aconteceu naquela época só isso!

— Você não acha que ele merece seu amor? Ou que, depois de tantos anos amargurando uma memória você não mereça amar ele também?

— SE EU AMAR AQUELE MALDITO MESTIÇO COMO EU VOU OLHAR PARA MINHA MÃE QUANDO EU MORRER!

— E você acha que sua mãe concordaria em deixar uma pobre criança sozinha no mundo?

Lupus sente como se tivesse levado um tapa, ele recua um passo e Caxias sorri estalando os dedos fazendo a sala se iluminar.

 

DOIS LADOS

 

— Olá Rey.

Rey não estava feliz, ela estava furiosa na verdade, aquele maldito Elfo apareceu do nada estalou seus dedos e a fez aparecer ali para ser testada por uma torre idiota! O que ela não fazia para encontrar Dio não é mesmo? Se o Elfo estiver mentindo, ela vai destruir aquele lugar e arrancar todo fio loiro da cabeça dele.

A mulher que fala com ela tem belos olhos verdes e o cabelo rosado em um corte curto e arrepiado, ela usa armadura  asmodiana de batalha e tem as maçãs do rosto altas e afinadas.

Em muitos pontos ela lembra Rey de si própria.

— Quem é você?

— Me chamo Edna Pon Zec. — ela se apresenta sorrindo, Rey engole em seco ela conhece a história — Já ouviu falar de mim eu suponho?

— Todo mundo já ouviu. — Rey responde ainda surpresa — O que você está fazendo aqui?

— Estou aqui pelo mesmo motivo que você.

— Está?

— Estou. Afinal eu sou você.

— Que piada sem graça! — Rey bate o pé bufando e começa a andar pela sala escura — Onde está aquele maldito Elfo? Vou matá-lo por me fazer perder tempo!

— Na época da guerra sua doença piorou, você caiu de cama incapaz de poder viver mais tempo, até que uma bruxa bateu em sua casa e a curou no mesmo dia em que eu morri. — Rey se virou para Edna, a mulher narrava tudo baixo com claro amargor — Fui impedida de descansar por sua causa!

— Como você sabe disso?! — Rey gritou exigindo respostas —Ninguém sabe que fiquei doente!

— Eu estou presa em você desde aquele dia sua garota idiota! — Edna gritou assustando Rey fazendo a jovem dar um passo para trás — Minha alma foi presa em você para que seu corpo continua-se vivendo! Você morreu Rey! Para manter você viva uniram minha alma a sua. SEISCENTOS ANOS PRESA DENTRO DE UMA GAROTA EGOÍSTA E MESQUINHA!

— PAPAI NUNCA FARIA ISSO! ELE NUNCA ESCONDERIA ISSO DE MIM!

— Seu pai não faria tudo para salvar sua única filha? Sua herdeira? — Edna estreitou os olhos desgostosa — Se pensa assim é mais burra do que eu esperava.

— VOCÊ ESTÁ MENTINDO!

— EU NÃO ESTOU E VOCÊ SABE DISSO! — Edna tornou a gritar — Se não fosse por mim você não teria tanta habilidade de combate inata! Eu te influenciei a treinar e ser o que você é hoje, SE NÃO FOSSE POR MIM VOCÊ SERIA APENAS UMA GAROTA QUALQUER SEM NADA DE ESPECIAL!

— CALE A BOCA!

— NÃO OUSE MANDAR EM MIM GAROTA ESTUPIDA! — Edna pouco se importou se Rey estava chorando e se ela mesma estava chorando ela continuou a berrar o que segurou por todos aqueles anos — O caçador veio atrás da minha alma, quando ele levar ela para o descanso eterno levará nós duas, afinal você é tecnicamente uma morta viva.

Rey soluçou, incapaz de rebater a mulher devido ao nó em sua garganta.

— Eu finalmente vou poder descansar em paz. — Edna soltou um suspiro profundo de alívio e limpou as lágrimas do próprio rosto — Apesar de tudo Rey, você e eu fizemos uma grande jornada, uma pena que você não aprendeu nada.

— Eu não quero morrer. — Rey soluçou pateticamente caindo de joelhos — Eu não quero!

— Eu sinto muito por você ter que ir comigo, eu realmente sinto, mas não posso dizer que não acho justo. Seu pai me prendeu em vida e agora eu a levo para morte, poético não? — Edna se ajoelhou perante a Rey e limpou seu rosto manchado de lágrimas, o toque dela é familiar de uma forma que Rey não entende — Você não tem com o que se preocupar, faremos nossa jornada juntas como sempre.

— Eu não quero ir. Eu quero viver.

— Quem sabe? Eu não vejo o futuro, quem sabe você viva depois que minha alma for levada? — Edna a abraçou e Rey se permitiu chorar contra o corpo da mulher tão desconhecida e tão conhecida ao mesmo tempo — Meu lado vingativo quer levar você comigo, mas meu lado sensato sabe que você não tem culpa. Apesar de você ser uma garotinha vil e egoísta eu tenho um carinho por você Rey, eu vivi contigo muito tempo para não ter.

— Eu sinto muito, eu não sabia. — ela se vê dizendo a mulher, as palavras de desculpas tão raras para ela deixam um gosto amargo na boca de Rey — Eu não…

— Está tudo bem querida. — Edna afaga os cabelos rosas de Rey com carinho — Eu só quero ir, você entende? Eu quero ir, pois não posso voltar.

— Eu entendo. — Rey concorda com a cabeça não entendo o motivo de estar tão cooperativa e fraca diante da mulher — Eu espero viver depois que você for.

— E se você não puder?

Rey não responde, ela não está afetada o suficiente para prometer algo daquela magnitude para Edna mesmo sabendo que talvez seja a única saída. Rey quer viver, se ela tiver que viver com Edna por toda sua vida ela não liga, ela quer viver. Ela é egoísta e aquela situação não era culpa dela, ela não merece morrer por aquilo.

Não entenda mal, Rey entende Edna e suas palavras de desculpa foram verdadeiras, mas ela não quer morrer por isso.

Edna suspira cansada de esperar a resposta e se levanta negando com a cabeça.

— Eu entendo você. — ela diz a Rey com pena no olhar — Entendo que você não quer morrer e que não daria sua vida para me libertar, você não é o tipo de pessoa que coloca sua vida na linha de frente, mas eu deixo um aviso para você em consideração ao nosso tempo juntas, em algum momento o feitiço para me prender em você vai cobrar o preço e não vai se bonito… O karma é uma vadia.

As luzes se acendem antes de Rey responder.

 

ORGULHE SEU NOME

 

Zero sente duas mãos apertarem seu pescoço e abre os olhos no susto, ele se depara com um rapaz de cabelos verdes longos, pupilas verdes e pele rosada que passaria por pele humana se as orelhas pontudas não denunciassem sua origem de outra dimensão.

— Morra. — ele sussurra nos ouvidos de Zero com uma voz baixa e ameaçadora, o aperto aumenta e Zero se debate em desespero — Morra, esse corpo era para ser meu.

Grandark! A percepção o faz ficar mais agitado, mas a espada é forte prende Zero fortemente no chão ainda tentando asfixiá-lo com mais força ainda. Zero não consegue mover seus braços ou pernas, ele finalmente percebe que correntes prendem seus membros no chão, ele se sente um prato exposto para um cliente.

O ar começa a falta e sua visão turva quando um vulto desconhecido surge atrás de Grandark e o levanta pela nuca e joga longe como se fosse nada, as correntes afrouxam e Zero leva as mãos ao peito respirando com dificuldade tentando focar em seu salvador.

Zero se vê olhando para si mesmo, um pouco mais alto e com rosto mais maduro, a pele do asmodiano a sua frente é um tom lilás claro e os olhos amarelos sorriem para ele junto com um corte de cabelo curto, o asmodiano tem uma barba bem aparada em tom prateado.

— Magnum. — Zero gagueja em percepção, o homem concorda com a cabeça aumentando o sorriso — Magnum Zephyrum.

— E você é o filho que fiz depois de morto. — Magnum ri ajudando Zero a se levantar com a mão direita, o toque dele é frio e em seu braço esquerdo uma luva com garras comprova seu lado guerreiro — Você parece comigo quando eu era mais jovem.

— Onde estamos?

— Na sua cabeça, o idiota ali está tentando te controlar. — ele indicou Grandark caído no chão olhando para eles furioso — E desde que eu tenho um fragmento meu na espada aproveitei para vir ajudar o meu garoto.

— Você não está com raiva de mim? — Zero perguntou genuinamente surpreso, Magnum gargalhou alto, um som forte e grave — Quer dizer, eu nasci do seu corpo morto! Isso é violação desde que você não consentiu!

— E isso importa? Meu corpo morto deu origem a outra vida me parece melhor do que apodrecer debaixo da terra, além do mais eu sempre quis um filho, criar o meu sobrinho despertou o desejo da paternidade e aqui estamos. — Magnum abraçou Zero pelo ombro e começou  a empurrar o rapaz para direção de Grandark — Agora você precisa decidir garoto, quer cumprir o proposito de sua criação ou mandar aquela espada para o quinto dos infernos?

— Eu não quero matar Duel. — Zero responde rapidamente — Eu não quero essa vingança, não é minha vingança.

— Obrigado por não matar o meu melhor amigo, ainda mais por que você sairia morto e isso não seria bom, então vai deixar Grandark te dominar ou o que? — Magnum parou de empurrar Zero quando eles chegaram ao corpo caído, Grandark olhou para eles com raiva e Magnum fez uma careta de nojo acertando um chute no queixo do rapaz — Você me dá nojo.

— E você? — Grandark cuspiu sangue segurando o queixo com um olhar de puro deboche — Quantas vilas você massacrou? Quantas vidas tirou? Não sente nojo disso Magnum Zephyrum?

— Você é ridículo. — Magnum ergueu a espada pelo pescoço, o olhar dele era de ferro e mesmo sendo apenas uma aparição Zero sentiu o ar ficar denso de poder — Sua vila declarou apoio aos Radicais, eles assumiram o risco de serem alvos, era uma guerra Grandark, você não ganha guerras mandando flores, você ganha matando o outro lado.

— E vocês não mataram todos nós.

— Não, até que Duel e as forças aliadas matem, essa guerra não terá fim. — Magnum concordou suspirando e largando Grandark no chão — Oz queria vingança pela família morta no surto de Duel, você por toda vila e seu ódio pela bela Eclipse… E você Zero? O que você quer filho? Duel é o líder dos aliados, ele luta pelos humanos e você é meio humano, se Grandark te dominar ele vai lutar a favor dos Radicais e com o seu corpo híbrido ele pode ganhar.

Zero não teve tempo de responder, Grandark fixou suas mãos no chão e correntes surgiram perto dele o prendendo de novo, Magnum saltou para trás dando de ombros indicando que não iria interferir desta vez, Zero se sacudiu e as correntes apertaram todo seu corpo.

— Me de o meu CORPO!

Os olhos amarelos arregalaram com Grandark colocou as mãos frias em sua garganta de novo, Zero se debateu e ficou mais apertado ainda com um certo nervoso ele olhou nos olhos da espada e não viu nada fora ódio puro.

Ele não quer aquilo.

Seu corpo não deve ser usado pelos Radicais, ele não quer ter o ódio de Grandark nele, Zero quer preservar o último trabalho de Oz, quer preservar o corpo criado a partir de um humano e um asmodiano, Zero quer viver naquele corpo.

O corpo dele.

— ESSE CORPO É MEU! — ele gritou forçando as correntes, uma onda de energia saiu dele fazendo os elos quebrarem e empurrando Grandark para trás, a espada o encarou atônito  quando os elos quebrados começaram a se juntar novamente em uma nova corrente mais grossa que a anterior e levitar ao redor de Zero — E VOCÊ NÃO É BEM VINDO NELE!

As correntes avançaram e enrolaram Grandark logo se prendendo no chão, a espada gritou alto e se debateu, mas tudo estava firme e no lugar. Zero estava no controle total pela primeira vez em sua vida.

Era o seu corpo.

As correntes apertaram mais e mais o corpo e quando os olhos verdes da espada se arregalaram o máximo possível ele explodiu em uma luz branca que iluminou toda sala escura, Zero virou a tempo de ver Magnum sorrir orgulhoso para ele.

— Esse é o meu garoto. — Magnum riu se aproximando e bateu com a mão no ombro esquerdo de Zero em um gesto de carinho paterno — O nome Zephyrum vai ficar bem com você.

Zero pisca sem saber o motivo do nó em sua garganta e das lágrimas no canto dos olhos, mas quando Magnum começa a desaparecer em um pó prateado e a sala se iluminar ele consegue dizer.

— Obrigado pai.

E a sala se acende totalmente.

 

FILHA

 

Mari se vê no antigo abrigo subterrâneo do castelo de Canalt, ela observa o povo entrando na sala correndo e os guardas os coordenando, ela se vê, uma versão de cabelos curtos, suada, suja e com a expressão determinada de um soldado no meio de tudo gritando ordens.

O portão se fecha e os sussurros começam, Mari vai para o fundo da sala onde sua mãe está sentada cercada de servas e pede para que elas saiam de perto para terem um pouco de privacidade.

Liliana Ming Onette não está bem, ela tem bandagens em volta de todo seu dorso e onde estava seu braço direito agora existe apenas um curativo manchado de sangue estancando o ferimento recente.

Um asmodiano decepou o braço da rainha fora enquanto elas recuavam para o abrigo poucos minutos atrás, sua mãe nem recuou apenas trocou o domínio do W.D.W para a mão esquerda e continuou defendendo os cidadãos que recuavam.

— Seu pai. — Liliana começo com a respiração pesada, a perda de sangue foi o suficiente para colocar a rainha com uma agulha enfiada no braço inteiro para reposição — Onde ele está?

— Eu não sei mamãe. — Mari respondeu olhando por cima do ombro e não vendo o homem alto — Não vejo Baldinar e Caxias também.

— Eles devem estar lutando. — Liliana deu de ombros — E você também deve ir.

— Eu não posso deixar você assim…

— Estou bem Marieta, somos a família real deste reino, devemos proteger nosso povo. — Liliana suavizou o olhar e pegou as mãos de Mari — Eu estou aqui com eles, vá lutar por eles...Lute por mim minha filha.

Mari apertou as mãos da mãe e depositou um beijo nos cabelos azuis da mesma, murmurando um “Eu te amo” ela deu as costas e foi para porta de saída.

Fique é o que a Mari atual quer berrar, fique mais um pouco com ela.

A cena muda e Mari está em uma das torres do castelo, construções caídas e gritos é tudo que se vê e no céu explosões que fazem a terra tremer, ela sacode a cabeça e se apressa na busca pelo pai matando todo Asmodiano que encontra no caminho.

A sala do Trono está vazia, as janelas e vitrais quebrados e o martelos enferrujado de Ernasis pendurado no teto. Ela está prestes a se virar e sair quando ouve passos no corredor e se esconde atrás de uma das colunas perto da entrada. Baldinar e seu pai passam pela porta aos berros e xingamentos, seu pai tenta deter Baldinar o segurando pelos ombros, mas o ministro apenas o empurra e segue seus passos com uma caixa levitando atrás de si.

Eles ainda estão gritando, longe o suficiente para as palavras se perderem de Mari, mas Baldinar levita o martelo de Ernasis até o chão e abre a caixa, energia começou a acumular no martelo enquanto os dois berravam.

Mari se vê saindo de trás da pilastra e gritando pelo pai, o rei e o ministro olham para ela surpresos seu pai grita um “FILHA?!”, o rei olha para maquina ganhando energia e grita algo que Mari identifica como “Tire-a daqui!” pela leitura labial.

Ela não entendeu até um par de mãos agarrá-la pelos ombros e acertar seu nervo, um teleporte ser ativado, Mari observa a si mesma e ao asmodiano reaparecem na sala das cápsulas, o asmodiano a coloca desacordada dentro de uma das cápsulas e a ejeta para fora.

Sua consciência volta quando ela já está no ar, bem a tempo de ver tudo explodir, Mari grita e se debate  em sua cápsula, suas mãos batem no painel de controle e de alguma forma o modo hibernação é ativado.

Sua última visão é de seu reino e de todas as pessoas que ela ama sumindo.

Quando as imagens desaparecem ela retorna a sala, não mas escura e sim completamente branca, tem lágrimas nos olhos, mas seu rosto se recusa a trair alguma emoção.

Mari evitou pensar naquele dia desde que recuperou a memória, tudo foi reprimido e agora tudo estava escrachado para si.

Ela sabe quem foi o seu salvador, ela sabe seus últimos momentos com os pais, o desespero de seu povo e o dela mesma.

Ela sabe que tem que lutar, por que ela é filha de seus pais.

FAMÍLIA

 

Holy se vê em uma sala de algum rico.

A sala tem paredes forradas de estantes de livros, Holy está de pé em cima de um tapete macio com padrões luxuosos, em cima do tapete um sofá estofado em vermelho com um acabamento dourado é posicionado em frente a um baú enorme de madeira esculpida com um brasão em S.

Três crianças estão no chão, uma das meninas desenha em um papel aberto no báu com lápis colorido muito concentrada, a outra menina está deitada no chão brincando com uma boneca enquanto o único menino está debruçado sobre um pergaminho concentrado.

A menina levantou seu desenho sorrindo, ela tinha a pele morena, sardas salpicadas por todo rosto e belos cabelos dourados presos em duas marias chiquinhas, Holy no entanto prestou atenção nos singulares olhos dourados da jovem.

Jin ela se lembrou no mesmo momento.

— Venham ver. — ela chamou os amigos apoiando a folha no baú novamente — Eu terminei minha obra prima.

— Está perfeito Judith! — a menina que brincava com a boneca exclamou animada, Holy conteve um grito de surpresa — É lindo.

Segurando uma boneca frouxamente a menina que elogiava o desenho tinha cabelos verdes em um tom mais escuro que o de Holy e um par de belos olhos azuis claros, ela era o clone exato de Holy com seu rosto redondo e pele clara.

O garoto finalmente se aproximou e assobiou impressionado, ele usava as vestes mais ricas e tinha um aro dourado na cabeça mantendo sua franja longe do rosto.

Holy o reconhece, claro que ela o reconhece, mas não pode ser ele!

— Quando eu for adulto vou querer que você seja minha desenhista particular.

— Não seja idiota. — a loira ri negando com a cabeça — Minha arte não é exclusiva.

— Não me chame de idiota.

— Então pare de ser idiota.

— Parem os dois de serem idiotas! — o clone mais novo de Holy interferiu rindo — Está lindo Judith, é muito fiel ao palácio…

— Desculpem interromper. — um mordomo entra na sala ele se inclina para as três crianças e clareia a garganta — As carruagens de ambos chegaram.

— Eu devo ir, minha mãe está louca com esse casamento se eu me atrasar ela irá enlouquecer ainda mais.. — o menino suspirou se levantando rapidamente — Vejo vocês depois.

— Estou indo também. — Judith recolheu o desenho rapidamente e estendeu a mão para o menino  — Na próxima vamos para os jardins do palácio, quero desenhar a torre de diamante em detalhes.

— A torre? Podemos ir lá só depois do casamento. — o garoto concordou tomando Judith pelos braços como um bom cavalheiro faria — Até depois Gizelda.

A menina acenou para os dois amigos e se virou para o mordomo suspirando.

— Meu irmão voltará hoje? — ela perguntou começando a juntar os brinquedos espalhados pelo tapete para dentro do baú — Papai e mamãe também não me avisaram se ficariam fora.

— Mestre Francesco está de plantão esta noite, seus pais foram chamados para o palácio para organização do casamento, devem ficar lá pelos próximos dias.

— Então seremos só eu e você para o jantar de hoje Valenti? Encantador.

O mordomo riu e ajudou a menina a terminar de catar os brinquedos, Holy os seguiu para a sala de jantar depois onde observou Gizelda come sozinha na mesa conversando com o mordomo sobre as reformas do hospital.

Holy está encantada com a ideia de um local onde todo tipo de medicina é bem vinda e todos são tratados de graça, ela escuta maravilhada Gizelda descrever a caravana de Druidas que veio para participar de um evento sobre cura natural e como o povo estava feliz com a nova obra.

Eles também falam sobre o tal casamento, como todas as ruas estão sendo decoradas com flores e lanternas estão penduradas em cada esquina, Gizelda é tão entusiasmada falando que Holy cai de amores por ela rapidamente.

Mas, algo a incomoda, Gizelda mal deve ter dez anos e sua forma de falar é muito correta para uma criança da idade, ela sorri e seus olhos tem brilho, mas seus ombros parecem pesar o mundo. Holy percebe um vislumbre da janela e escuta um exército marchando pela rua de forma sincronizada.

— É apenas precaução senhorita, caso alguém tente algo no casamento. — o mordomo tranquiliza Gizelda e Holy ao mesmo tempo — Todo casamento da família real é a mesma coisa.

— Ainda é assustador. — Gizelda diz para si mesma — Estamos planejando um casamento, não uma batalha.

Gizelda se retira para sua cama  e a imagem muda.

A garota está paralisada em frente a janela junto com uma mulher adulta, elas se parecem e Holy deduz ser a mãe de Gizelda, ela encaram abismadas a paisagem de guerra do outro lado do vidro.

Asmodianos e humanos combatem nas ruas, gritos e magia são lançados para todos os lados e não é diferente no interior da mansão onde uma correria e mais gritos acontecem ao mesmo tempo.

— GINA PRECISAMOS DE VOCÊ!

Gizelda se solta da mulher, que está tremendo olhando pela janela, elas trocam um olhar e respiram fundo saindo do quarto, o corredor é uma bagunça de pessoas de branco correndo com macas e cheiro de remédio e sangue.

As duas entram em dos quartos feitos de enfermaria improvisada, Gina se separa da menina e Gizelda corre entre as camas prendendo o cabelo no alto enquanto procura por algum local vazio, ela acha um paciente sozinho e começa sua cura.

Gizelda usa aura.

Gizelda é uma Serenity. O passado Holy percebe assustada essa é a minha família.

É por isso, ela é médica, é por isso que ela parece ter o mundo nos ombros.

Explosões e gritos cortam o ar, Gizelda está chorando mas ela permanece no atendimento mesmo sendo apenas uma criança, todos estão apavorados até que uma onda de energia cruza toda sala.

Holy gela.

Os socorristas começam a olhar um para os outros, uma textura pedregosa começa a surgir nos pacientes e logo neles mesmos.

— ZELDA! — Gina grita conseguindo alcançar a garota e abraçar seu pequeno corpo que treme assustado — Tudo bem, mamãe está aqui.

— GINA!

— FRAN! ELDER! ESTAMOS AQUI! — Gina berra para os dois homens que entraram na sala em desespero.

Os dois correm, Gina estende a mão junto com Gizelda, mas é tarde demais os quatro viram pedras a poucos centímetros uns dos outros.

Holy retorna a sala escura tremendo e chorando, ela sussurra agradecimentos baixos a Caxias por ter permitido ela ver sua família no auge, ela agradece por ver como eles deram suas vidas salvando vidas.

A sala se ilumina.

 

AS ÚLTIMAS VEZES QUE AS VI.

 

Azin sabe onde ele está.

Ele sabe que suas memórias vão  causar dor, mas ele também sabe que precisa encarar seu passado.

Então, podemos dizer que ele está conformado com a dor que vai sofrer.

A imagem que ele acabou de ver, dele se despedindo de uma versão menor e de cores diferentes de Holy continua com ele entrando em sua carruagem e se despedindo de Judith com um aceno.

Foi a última vez que ele viu suas duas melhores amigas.

Azin aceita toda memória sobre elas.

Sobre Judith Kaien e Gizelda Serenity, suas amigas de toda uma vida, seus risos, choros, treinos e momentos difíceis.  Ele se permite lembrar dos olhos dourados de Judith sorrindo quando eles deram o primeiro beijo, jovens e inocentes demais de tudo, e da risada de Gizelda quando eles se separaram vermelhos e concordaram em nunca mais fazer aquilo.

A carruagem segue seu caminho pelas ruas enfeitadas para o casamento, Grande evento, mamãe não estava feliz com ele e papai estava radiante ele recorda sentindo um peso no peito Onde foi que tudo deu errado?

Outra imagem se forma, Azin observa a si mesmo com uma orbe de imagem flutuando, ele está sentado no escuro de seu quarto, o rosto de uma menina é exibido Minha  irmã ele percebe com um nó na garganta.

— Você estará aqui amanhã cedo?

— Eu não sei. — ela responde, um tumulto de voz vem do lado dela e a julgar pelas mesas e luzes no fundo ela está em um bar, e ainda tirou tempo de seu merecido descanso para falar com ele Ela sempre tinha tempo para mim Azin lembra, desta vez as lágrimas finalmente escorrem Mesmo no campo, ela ainda lembrava de mim — Tudo depende dos noivos, eu não posso ir direto pois temos que ir em casa, digo no QG, pegar nossas roupas.

Azin sorri para o deslize de sua irmã, mas não comenta Eu não me importo ele se lembrou Ela está certa, lá é a casa dela, mas eu ainda sou sua família.

— Estou com saudades.

— Eu também, as coisas tem sido loucas aqui, tenho muitas histórias para você. — ela sorri, como se fossem cúmplices de algo — Você fez uma coroa nova para mim?

— Sim! — ele exibiu seus dedos com pequenos furos e riu — Está perfeita.

— Então te vejo amanhã. — ela sorriu mostrando os dentes e acenou — Eu te amo.

— Eu também te amo.

Foi a última vez que ele viu sua irmã.

Azin se permite lembrar dela, seu sorriso único e sua beleza avassaladora, de como ela o fazia beijar o chão do tatame quando eles treinavam, da despedida deles quando ela se foi para servir, de sua coragem por estar nas linhas de frentes e das vezes que ela visitava e ele sentava em seu colo para ouvir suas histórias.

A última imagem é frenética e Azin não tem mais forças para sentir nada.

Ele observava sem emoção quando o general dá a notícia que seu pai foi abatido nas ruas, sua mãe recebe a notícia, seu rosto não trai qualquer emoção mas ele sabe que ela está destruída, o general os deixa para voltar a batalha.

Azin observa sua versão mais nova, com a expressão oca e completamente sem reação pela notícia da morte do pai, ser arrastado pelo braço por sua mãe, a mulher puxa um dos livros da sala e a estante se abre revelando um túnel por ela o puxa desesperada.

Ele os segue absorvendo o rosto de sua mãe, tão parecido com o dele, eles chegam ao fim do túnel e uma parede de pedras se abre fazendo os desembocar em uma sala de iluminação azul que claramente era no subsolo.

As cápsulas de fuga ele recorda Presentes dos canaltianos para o palácio.

A mulher empurra sua versão criança para dentro de uma das cápsulas e fecha a tampa com força programando o lançamento no painel.

— MÃE! — a criança grita quando finalmente percebe o que está havendo — MÃE!

A mãe dele apenas coloca a mão no vidro e o olha claramente emocionada, ela sabe que é um adeus eterno.

A porta da sala é arrombada, uma mulher e um homem entram com um esquadrão de asmodianos.

Azin reconhece a mulher, ele já viu a moça antes e o homem também.

— Acabou, seu reino caiu. — ela diz com satisfação — Se você se render pouparemos você e seu filho.

— Poupar? — sua mãe rosnou, ela flexionou os punhos fazendo-os brilhar em energia azul — Nós somos argentianos garota, lutamos até o fim.

A cápsula subiu e Azin gritou e esperneou pela mãe.

É a última vez que ele vê sua mãe.

Ele vê como ela luta e derrota metade dos asmodianos e acerta um soco na cara do Ministro Baldinar antes de ser morta pela bruxa.

A lembrança de seus pais vem como uma onda que o derruba no chão.

Uma onda de energia corta o ar partindo do cetro da bruxa e Azin sabe que é o fim de suas recordações.

Ele também sabe que vai pendurar a cabeça de Karina Erudon nas muralhas do castelo real assim que tiver a chance.

 

SIEGHART

 

Sieghart e Dio dormiram depois das ilusões de Rey, exaustos demais pela falta de mana, quando Caxias os acordou estavam em uma sala nova com toda Grand Chase reunida.

A sala é redonda com o teto em forma de abóbada, as paredes são feitas de pedra cinza e o teto uma pintura de cada Deus sentado em uma mesa redonda foi detalhadamente feita com uma tinta brilhante, o revestimento do teto feito em ouro deixava tudo mais perfeito.

Um feixe de luz corta do meio da abóbada ao chão, dentro dele flutuando pacificamente está a forma desacordada de Alethia deitada com as mãos cruzadas na barriga, com Statera enrolada no pulso esquerdo e Luna firmemente presa em suas mãos.

Exitium, a contra parte de Statera, não está a vista e Sieghart se pergunta onde a maldita espada foi parar.

A Grand Chase está em frangalhos, metade chorando e metade catatônica com algo.

— Caxias, você quebrou eles! — Sieghart reclama com o Elfo — Sério, olha para eles!?

Caxias abre a boca para dizer algo mais Lupus se move antes parando em frente a Rey Von Crison River, ele aponta as pistolas para a jovem que está sentada no chão olhando para o nada.

— Finalmente! — ele resmunga satisfeito — Algo de bom saiu dessa história toda afinal, Edna Pon Zec, o submundo está a sua espera.

— Meu nome é Rey. — ela responde levantando a cabeça e olhando com desdém para o Wild que ergue uma sobrancelha confuso — Rey Von Crison River, aponte essa coisa para o outro lado ou eu irei matar você e todos nessa sala.

— Oh? Você acha que eu ligo para quem você é? — Lupus riu debochado, Rey trincou os dentes quando o cano de uma das pistolas repousou bem entre os seus olhos — A morte não discrimina garota, todos vão morrer um dia e você já passou da hora há alguns séculos.

— Wild, segure suas armas, estamos resolvendo algo maior aqui. — Lothos ordenou aparecendo ao lado do garoto e segurando seu braço com uma das mãos — O mundo primeiro almas depois.

Lothos se virou para Caxias, Lupus fez uma careta feia e disse sem som “Mundo primeiro almas depois” para logo bufar e guardar suas armas.

— Então? Pegamos Lethia, as poções e os fios? — Lothos perguntou a Caxias, o Elfo negou com a cabeça — Claro que não.

— Bem eu disse que ia deixar vocês mais fortes não disse? — Caxias levitou no ar e parou bem acima do corpo de Alethia — O combate começa agora.

Toda sala muda, com exceção de Alethia e seu feixe de luz misterioso, o teto desaba sobre eles em pedregulhos, graças aos Deuses Arme e Ronan ergueram escudos defensores.

No lugar do teto a torre se mostra infinita no topo, as paredes de pedra cinza vão até onde a vista alcança e logo barulhos selvagens são ouvidos do teto, Sieghart observa catatônico quando os monstros começam a cair do teto.

Não só os monstros comuns, mas os chefes de cada missão da Grand Chase despencam do teto berrando e rosnando querendo o sangue deles.

Lothos não vai lutar, Sieghart não pode lutar e Dio tão pouco.

A Grand Chase está por conta própria e isso assusta o inferno fora dele.

Lass e Jin tem a gentileza de tirar ele e Dio da linha de fogo, em qualquer outra ocasião ele teria vergonha de ser carregado como um saco de batatas e largado contra uma das paredes enquanto a luta rolava, mas agora Sieghart só se apavora.

Nenhum monstro ataca a Grand Chase, todos eles se direcionam a uma única pessoa.

Alethia flutua e dorme sem nem suspeitar ser alvo de um ataque em massa.

— ALETHIA! — ele grita em plenos pulmões — CAXIAS QUE PALHAÇADA É ESSA?

— Considere um jogo. — Caxias bateu palmas animados — Se um dos monstros chegar a ela vocês perdem e eles podem fazer o que quiser com ela. Se vocês segurarem eles por tempo suficiente, eu liberto vocês.

— Isso não foi o combinado Caxias!

— Não foi? — Caxias piscou para Dio com um sorriso maroto — Eu sou o Avatar da Criação, eu faço o que eu quiser, como eu quiser e quando eu quiser. E agora eu quero que vocês lutem!

E eles lutam.

Um círculo defensivo é formado ao redor da forma flutuante de Alethia e as armas estão em punhos, Sieghart não viu com Caxias conjurou as armas e nem queria saber como, mas a Grand Chase se prepara para luta.

— RONAN E JIN PROTEJAM ARME E AMY, VOCÊS DUAS FAÇAM TODA MAGIA DE FORTIFICAÇÃO E GRANDE IMPACTO QUE PUDEREM! — Elesis começou a distribuir as ordens rapidamente — LIN E RYAN PROTEJAM LIRE E O MALUCO DAS PISTOLAS, AZIN CONTO COM VOCÊ PARA ESCOLTAR HOLY PELO CAMPO. O RESTO LUTE!

— SIM ELESIS! — os membros citados responderam correndo para suas posições.

— GRAND CHASE, VAMOS NESSA!

Rey obviamente não faz nada.

Ela flutua sob o campo desviando dos ataques das harpias e de outras criaturas, mas não move um dedo para ajudar a Grand Chase.

Lire pula no topo de um dos escombros do teto para ter um visão melhor do campo e logo a Elfa e Lupus estão atirando para todos os lados do campo sem errar um tiro.

Os ventos de Lin cortam qualquer coisa que tente chegar a eles pelo ar e o lobo estraçalha quem tenta a sorte pela terra.

As magias de Amy fazem efeito antes que Arme possa finalizar seu primeiro ataque, todos da Grand Chase parecem subitamente mais rápidos e é só o grito de “Cuidado!” que impedem os membros de serem atingidos pelos meteoros de Arme.

O caos se instala e Sieghart só consegue manter seus olhos em Alethia.

— Você está bem com isso? — ele pergunta a Dio sem mover o olhar, se algo chegar perto dela Sieghart acha que pode ter um ataque do coração — A alma de Edna em Rey, você sabia disso?

— Não. — Dio rosa em resposta e Sieghart se permite um breve olhar ao amigo — Eu sabia das duas almas, não sabia que era da senhora Edna. O pai dela deixou isso convenientemente de fora da conversa.

— O que você vai fazer? Vai falar para Duel?

— Com certeza. — Dio garante sem nem hesitar — É melhor o Sr. Von Crison rezar para eu encontrar ele primeiro.

— Vai matar o cara? Isso não vai te indispor mais ainda com as famílias aliadas?

— E você acha que eu me importo com um bando de aristocratas filhas da puta? — Dio deu uma gargalhada — Eu vou ser gentil em oferecer a morte, se Duel o pegar ele vai ser cruel.

Sieghart se cala e volta para luta.

Holy salta no ar e bate seu martelo no chão, todo local treme para em seguida o chão abrir engolindo alguns monstros, Azin tem as costas dela facilmente. Alguns inimigos simplesmente caem sem explicação deixando clara a presença de Lass no campo. Zero é uma máquina com seus socos de energia, é inteligente não usar a espada, Grandark poderia atingir a qualquer um no campo.

As flechas de Lire acabam, Sieghart percebe que ela não está com sua aljava encantada e sim com uma comum, a Elfa bufa irritada e saca duas facas de suas vestes caindo para batalha.

Lupus resmunga irritado guardando suas pistolas, ele se concentra, respira fundo e fecha os olhos, a sua frente uma espada de materializa.

Kodachi, a Espada Espiritual, a espada que causa cortes que não se curam e fazem a vítimas sangrar até a morte. O presente de Hades que está nos Wild há gerações.

Caxias ri, ele está animado e estala os dedos, Vairne e Drall aparecem totalmente recuperados e Sieghart quer matar Caxias como nunca quis.

O campo muda, o chão outrora cheio de entulho e crateras causadas por Arme e Holy volta ao seu estado normal e todos os monstros desaparecem, Vairne e Drall sorriem para Grand Chase e partem para luta.

Vairne é um mago habilidoso, ele cria ilusões de si mesmo e de seu irmão e as espalha pelo campo mantendo a todos ocupados igualmente. Drall é um guerreiro bruto de força suprema, ele simplesmente parte para o ataque como um bom berseck.

Nem Rey escapa desta vez, no ar ela luta com um falso Vairne.

Facas disparam das paredes em direção a Alethia, Sieghart e Dio se inclinam para frente em reflexo corporal para defender a amiga, felizmente espinhos brotam no ar e explodem a maioria.

Zero havia sacado a Grandark.

Mari termina sua artimanha nos arredores de Alethia, um círculo de canhões cria um campo magnético em volta da menina que vai manter qualquer coisa afastada por um tempo.

Sieghart observa Mari respirar fundo e estender a mão para o ar, uma marreta azul e branca, muito menor que o colossal martelo de Holy, aparece nas mãos da menina bem como quatro objetos flutuantes e pontudos.

O W.D.W da rainha Liliana e a marreta do rei.

— Desde quando ela pode fazer isso? — Dio pergunta impressionado.

— Não sei. — Sieghart responde tão surpreso quanto.

Mari localiza o verdadeiro Vairne, lutando com Azin e Holy, e parte para cima dele cruzando o campo em alta velocidade.

Ela acerta uma martelada forte no estômago do mago surpreso e o arremessa longe com o impacto, suas W.D.W voam atrás do mesmo causando dano com investidas precisas e rápidas. Mari libera Holy e Azin para continuarem a socorrer quem precisa no campo e começa sua luta de verdade com Vairne.

Drall, o verdadeiro, joga o corpo de Lass para o alto e ele cai com tudo no chão em um grito e o barulho de algo quebrando é escutado.

Lupus aparece do lado do irmão e pega o pulso do mesmo verificando se estava vivo ou não, ele gritou para Holy andar logo e partiu para cima do inimigo com suas chamas queimando na espada.

De alguma forma Zero acaba ali com Grandark, eles lutam bem juntos intercalando os cortes rápidos e precisos de Lupus com a força bruta enorme de Zero e os espinhos de Grandark. Lin grita para eles saírem da frente e lança uma rajada de vento forte o suficiente para sacudir toda sala e fazer o ar ficar pesa.

Drall voa no ar surpreso o suficiente para não conseguir se defender quando Jin e Azin aparecem acima dele e acertam um combo de chutes precisos em sua barriga o jogando no chão com força fazendo a sala tremer novamente.

Eles se reúnem ao redor de Lass, forçando os olhos Sieghart viu a poça de sangue ao redor da cabeça do garoto, Holy e suas mãos brilhantes estão  acima dele tentando curar o possível.

— De um a dez o quão ruim vai ser se aquele moleque morrer? — Dio sussurrou para ele curioso — Régis vai nos matar ou só tentar picotar a gente?

— Se ele morrer a gente evita Ernas, Elyos e o Submundo por uns bons anos.

— Por mim tudo bem, os cortes da Kodachi são um porre.

Vairne cancela todas as suas ilusões bem como as de Drall, ele deixa apenas dois de si mesmo para curar seu irmão caído e outro para proteger eles durante o processo. Sieghart bate palmas para o nível de combate do mago, ele conseguiu fazer isso enquanto bloqueava as investidas de Mari e desviava de suas W.D.W.

Elesis se vê livre e corre para ajudar Mari com o original.

Ronan, Ryan, Azin e Jin tentam quebrar a defesa da ilusão de Vairne para impedir a recuperação de Drall. Arme corre para ajudar Holy junto com Amy e Lire aparece com suas facas ao lado de Mari e Elesis.

Ao redor de Lass e das três jovens trabalhando em sua cura, Lupus, Zero e Lin se reúnem claramente preocupados.

Zero sussurra algo para eles recolocando Grandark nas costas, Lin concorda com a cabeça e Lupus também, os três parecem determinados.

Lupus faz o primeiro movimento, ele destrói as engenhocas de Mari que protegem Alethia - e Caxias por consequência já que ele ainda paira acima da menina - com sua espada e se afasta jogando Kodachi para o alto.

A espada some e no lugar dela uma escopeta cai, Ruptura, a antiga arma primária de Scarlet.

— Chances dele conseguir usar aquela coisa monstruosa da Scarlet? — Sieghart olhou para Dio indicando a arma com a cabeça — Juiz de Almas  não era esse o nome?

— Altas, ele aguentaria usar o peso e tem a mira boa. — Dio responde avaliando Lupus — Ele é muito parecido com os pais.

— Deuses nos ajudem quando isso acabar.

Ruptura dispara e Sieghart fica chocado.

Os tiros vão em direção a Caxias.

O Elfo é pego de surpresa pois desvia no último segundo saindo de cima de Alethia, e por consequência do feixe de luz, mas ele acaba caindo na armadilha.

Lin já estava no ar esperando por ele, uma bola de energia azul, preta e branca é disparada e Caxias acertado em cheio.

O Elfo ri quando a fumaça do impacto some, ele está intacto e com um escudo erguido.

Lin sorri para ele, mas é tarde demais para Caxias reagir.

Sem o peso da espada Zero conseguiu passar direto por ele e pular no feixe de luz, ele segura o corpo de Alethia contra o dele, ignorando Luna pressionando de forma desconfortável entre ambos, e pousa do outro lado da iluminação com Alethia nos braços.

Ela abre os olhos por meio segundo antes de desmaiar de fato soltando Luna e Statera no chão com um barulho alto.

Sieghart sente o peito inchar de alívio e olha para o campo.

Drall está recuperado, mas desta vez Vairne está completamente acabado.

O corpo cheio de cortes e hematomas está apoiado em Drall que tenta proteger o irmão dos atacantes da Grand Chase.

Lass ainda está caído e sob atendimento.

Alethia está a salvo e Caxias chocado.

— Acabou. — Lothos diz finalmente, ela passou toda luta encostada na parede oposta a deles — Fim de jogo Caxias.

— Sim. — ele concordou sorrindo satisfeito — Fim de jogo.

 

ALETHIA

 

Ela está deitada em algo macio e confortável, muito familiar pelo som de algo pulsando e o sobe e desce contínuo de uma respiração.

Sirioth ela percebe ainda sem alcançar a consciência totalmente, então ela sabe que está bem e segura, mais importante ainda, ela está fora da torre de Caxias.

Alguém está segurando sua mão, dedos longos com um toque familiar que ela não recorda, talvez seja Lothos.

Antes de acordar de vez Alethia faz um balanço, todo seu corpo parece pesado e ela tem dores de fome, ela não tem suas armas e suas reservas de mana estão cheias bem como sua Furore o que é bom sinal.

Ela abre os olhos devagar, se acostumando a iluminação que entra pela janela, quando seus olhos focam no teto ela percebe que está em seu quarto de infância, ela tinha as constelações do céu noturno pintadas no teto tanto de seu quarto no palácio quanto no teto do quarto do QG.

A diferença era que no palácio os acabamentos eram em prata enquanto no QG eram em ouro.

Azryn, uma versão mais velha dele pelo menos, está olhando para ela curioso bem com a cabeça de Sirioth está agora levantada e voltada para ela.

Olhando para o irmão morto há mais de seiscentos anos Alethia presume o óbvio.

— Eu morri.

Azryn riu com um toque de desespero, Sirioth bufou e Alethia estava cada vez mais certa de sua teoria.

— Não irmã, você está viva.

— Claro que não estou. — Alethia insistiu, o corpo fraco demais para sequer puxar as mãos para longe das mãos do irmão — Estou morta.

— Alethia, deixe de loucura, você está viva eu garanto. — Sirioth respondeu com sua voz grave — Te dou a minha palavra.

— Então estou presa em alguma das ilusões de Caxias. — Alethia foi para segunda opção mais provável sentindo a adrenalina bombear em suas veias, ela tentou se sentar na cama rapidamente  — Caxias!

— Irmã acalme-se! — Azryn a segurou pelo ombro e obrigou a mesma a se deitar novamente contra Sirioth — Não é uma ilusão. Se eu fosse uma ilusão não saberia que eu quebrei uma das suas caixas de música e coloquei a culpa em um dos mordomos.

— É uma ilusão. — Alethia falou rapidamente ignorando o fato de Azryn saber algo que nem ela sabia sobre o incidente — É uma maldita ilusão, isso é tão cruel Caxias!

— Alethia, eu não sou uma ilusão.

— É CLARO QUE É! — ela gritou perdendo a paciência e tentando se afastar do garoto que a segurava pelos ombros — Se não a única outra opção é você estar vivo, e eu sei que isso não é possível.

— Eu estou vivo. — ele garante afrouxando o aperto dos ombros dela, agora sentado na cama ao lado dela olhando com aqueles olhos de raposa vermelhos marejados ele parece o mesmo pirralho de antes — Eu estou vivo irmã.

Ela sente o nó na garganta apertar e sucumbe às lágrimas finalmente, Sirioth ergue o dorso o suficiente para ela sentar e Azryn puxa o corpo fraco e magro contra o dele em um abraço apertado.

Azryn cheira a terra molhada e sangue, ele tem algumas bandagens nos pulsos e parece exausto como ela nunca viu antes.

Apoiando a cabeça contra o ombro dele e sentindo os braços a segurarem apertado enquanto ele chora contra os cabelos dela fazem ela perceber o quão crescido ele está e ela chora com mais força ainda.

É ele ela percebe com a mente nublada pela emoção Meu irmãozinho está vivo.

Alethia faz um esforço heroico para erguer os braços por detrás do irmão e acariciar os cabelos pratas do mesmo enquanto sussurrava o nome dele como se fosse uma oração.

Eles se agarram um ao outro chorando alto e chamando um pelo outro como se não estivessem na sala, uma mistura de tantos sentimentos juntos que deixam Alethia tonta e sem ar.

Azryn a solta no ato a deitando novamente contra Sirioth e força um sorriso para ela tentando acalmar seu ataque, o que só prova o quão insana é aquela coisa toda, afinal quando seu irmão caçula precisou acalmar ela?

— Eu estou mais alto que você. — ele brinca traçando o rosto dela com as mãos em um toque delicado — Você está tão linda como sempre foi.

— Azryn. — ela sussurra ainda desacreditada e maravilhada fazendo um novo esforço para erguer as mãos e tocar o rosto do irmão, Azryn percebe e coloca as mãos dela nas bochechas dele onde Alethia tatetia de forma lenta apreciando o quão sólido e real seu irmão é — Como? Como isso é possível?

— Mamãe. — ele explica sorrindo mais em meio as lágrimas que deixavam seus olhos brilhantes — Ela me colocou em uma das cápsulas de fuga, eu devo ter esbarrado nos controles mudando o curso e ativando a hibernação. Quando eu acordei, em um novo século e em um lugar totalmente novo eu usei a técnica de segurança e tranquei as minhas memórias.

— Trancou?

— Eu estava apavorado e transtornado. — ele respondeu sincero — Papai estava morto, mamãe morta e eu descobri que Canalt e os Highlanders foram destruídos...Eu achei que tinha te perdido também, não pude suportar o peso de tudo.

— Oh querido. — ela fungou alto sentindo uma nova rodada de água descer pelos olhos — Eu te perdi. Eu te perdi junto com tudo. E agora você está aqui, eu estou aqui...Isso é uma loucura completa.

— Quando as coisas não foram loucas para nós Aleth? — Azryn riu, o que saiu mais como um gemido de choro devido ao estado deplorável de ambos — Você está aqui.

— Eu estou aqui. — Alethia o tranquilizou, era mais normal isso, ela o acalmando, garantindo que tudo estava e ia ficar bem — Nós dois estamos aqui, vamos permanecer um com o outro agora ok?

— Eu prometo a você irmã, eu não vou perder você de novo.

Alethia se permite rir alto disto.

— E claro que não vai me perder, eu sou imortal lembra? — ela faz graça limpando o rosto molhado do irmão — O que me lembra que tenho trabalho a fazer.

— Ainda é início da tarde. — Azryn indica a sacada aberta por onde a luz entrava — Caxias disse que seu corpo pode estar fraco e com reflexos ruins devido ao sono prolongado, você precisa comer e seu corpo precisa se acostumar a se movimentar novamente. O fim do mundo pode esperar até amanhã não acha?

— Não. — Alethia respondeu, Azryn olhou para ela com seus olhos pidões e Alethia suspirou para a infantilidade — Mas, pode esperar até o jantar.

— É o melhor que eu vou conseguir.

— Eu temo que sim. — Alethia deu um sorriso de desculpas — Sirioth, desça e avise que não quero ser perturbada e vou descer para o jantar.

— Será feito. — Sirioth garante se levantando da cama, Azryn a puxa com cuidado para sentar-se enquanto o enorme lobo se move para fora da cama e coloca ela de volta encostada nos travesseiros que estavam embaixo da fera — Eu volto em breve princesa.

Ele usa uma de suas caudas para girar a maçaneta e sair do quarto.

— Eu dormir mais um pouco, quem sabe ajude.

— Eu acho uma boa ideia. — Azryn concorda cobrindo o corpo frágil dela com um edredom macio — Se importa se eu ficar?

Alethia negou já sonolenta, aparentemente dormir cem anos te dá mais sono ainda quando você acorda quem diria não é?

O garoto entrou debaixo das cobertas ao lado dela e agarrou sua mão com força fechando os olhos, ela devolveu o aperto reconfortante e adormeceu.

Tem muitas explicações a serem dadas, muitas conversas a serem feitas e o mundo para ser salvo, mas isso pode esperar.

No momento Alethia só torce para que quando ela acordar, seu esteja ali e tudo não tenha sido um sonho.

 

REY

 

— Não pegue as flores.

Rey se vira surpresa recolhendo a mão do arbusto, Dio está em pé atrás dela totalmente recuperado. Ele veste uma blusa preta com dois botões abertos e mangas arregaçadas, suas calças são escuras e suas botas pretas até os joelhos.

Ela olha para as flores novamente, crescendo no interior do palácio havia vários ramos brotando das paredes de forma inexplicável, mas ali no jardim os arbustos eram visíveis a qualquer um.

Com folhas vermelhas em tom opaco as rosas se destacavam como agulhas no palheiro, as flores brancas com as bordas superiores das pétalas negras bem como seu cabo brilhante, Rey nunca viu flores daquele jeito, os brotos das rosas eram pequenos botões pretos que pareciam pedras preciosas.

— São um presente, apenas a família real pode tocar nelas. — Dio continuou se aproximando — Você estava me procurando.

Dio é mais alto que ela, a estrutura magra e musculosa combina com ele e seus chifres são maiores do que ela lembra. Os cabelos do tom único batem na cintura dele, de alguma forma o rabo de cavalo caindo sobre o ombro é másculo nele como não seria em mais nenhum Asmodiano.

Ele tem olhos afiados e poderosos que deixam Rey desconfortável, não há nada do menino chorão que ela conheceu na infância.

— Papai está o convocando. — ela se recomponhe rapidamente empinando o nariz — As famílias aliadas querem uma reunião.

— E quem eles acham que são para me exigir alguma coisa? — Dio bufa se afastando dela para um dos bancos do pátio — Não tenho interesse.

— Você tem responsabilidades como chefe da família Von Canyon…

— Eu tenho responsabilidades com o povo das minhas terras e a causa a quem prometi meus soldados, eu estou em dia com os dois. — Dio corta Rey, o idiota mal educado teve a ousadia de interromper ela  — Não me importo com as outras famílias, eles que queimem no inferno.

— Como você ousa…

— Você sabe o que eles querem Rey? — Dio torna a interromper a fala de Rey, desta vez ele se levanta do banco e caminha até ela em três passos rápidos, os olhos brilham em deboche e um pouco de crueldade talvez — Faz a mínima ideia do que seu pai quer comigo? Não, aposto que não faz afinal qual o motivo você deveria se preocupar com política não é? Deixe eu te contar então, há mais de seiscentos anos seu querido pai vem me importunando para que eu me case com você.

Rey se enfurece, seu pai nunca faria aquilo sem falar com ela antes! Ela não era uma mercadoria, seu pai não ousaria.

— Não minta sobre meu pai idiota, você pode está totalmente recuperado, mas vou te lembrar que nunca ganhou de mim antes.

— Acha que eu estou mentindo? Típico, quando alguém fala algo que você não quer escutar você acredita ser mentira, mas garanto que não é. — Dio abre mais o sorriso, ele parece estar descontando toda frustração sobre o assunto nela — Todas as famílias aliadas querem que eu me case com uma de suas filhas, mas seu pai usa a amizade dele com os meus pais há anos tentando me pressionar sempre que pode, mas eu sempre recuso.

Rey sente o sangue esquentar mais ainda e ergue as mãos para acertar um tapa em Dio, ele no entanto segura o pulso dela poucos segundos antes do impacto com força o suficiente para fazer uma marca.

— Eu nunca quis ofender seu pai, mas vou te dizer o verdadeiro motivo de eu recusar casar com você, em nome dos velhos tempos sabe? — Dio deixa o braço dela cair e Rey observa com desgosto a marca roxa em sua pele imaculada — Eu não suporto a ideia de passar anos ao lado de uma garota como você, depois do que eu vi na torre suporto menos ainda, Rey Von Crison River não me acrescentaria em nada, apenas seria uma nova responsabilidade.

Desta vez ela acerta o tapa forte o suficiente para fazer Dio virar o pescoço pelo impacto.

— Como você ousa falar de mim assim?! — Rey começa, mas ela está tão furiosa que nem consegue formular o resto da frase então opta pelo mais fácil — Vai pro inferno Dio!

O idiota gargalhou, jogando a cabeça para trás e sorriu para ela novamente de forma superior.

— Quem está morta aqui é você querida.

Ele vira de costas e sai.

Rey congela no lugar antes de espernear e bater os pés irritada.

Ela se vira e pega as rosas.

 

LUPUS

 

— Pronto. — Holy se afasta dele olhando satisfeita para as bandagens enroladas no braço normal de Lupus — Consegui limpar todos os machucados, a pomada vai aliviar as feridas dos choques das máquinas de Mari.

— Obrigado. — ele agradece sem mover os olhos da cama na frente dele, Lass estava dormindo com a cabeça enfaixada e duas costelas quebradas — Ele vai acordar?

— Vai. — Holy garantiu — Não sei com que sequelas, mas vai acordar.

— Obrigado por cuidar de mim. — Lupus move o olhar para Holy transbordando sinceridade e se vira para Lass — Ele estaria morto se não fosse você.

— Ele estaria. — Holy concordou com um mínimo sorriso — Mas, ele não está morto e nem corre risco de morrer, lembre disso ok? Ah, obrigada pelo sangue para transfusão, sem isso com certeza ele estaria morto.

Lupus acenou com a cabeça e Holy se retirou do leito de Lass fechando as cortinas brancas para tratar os outros feridos.

Eles estavam em um palácio na Terra de Prata e Lass não era o único ferido de fato, os outros leitos estavam ocupados e Holy corria pela enfermaria auxiliando os colegas.

Dio e Sieghart eram os únicos inteiros, a garota que alegava se chamar Rey também estava inteira.

Lupus tinha que encomendar a alma dela em breve, mas podia esperar até Lass acordar e se mostrar bem.

Ele tinha a pele ferida dos choques elétricos e seu braço mecânico não estava funcionando devido a carga extra, ele também tinha alguns hematomas da luta e estava exausto por usar Kodachi e Ruptura.

— Você me deu um susto de vida pirralho. — Lupus resmungou para o irmão desmaiado — Deuses, o que eu iria fazer se você sangrasse até a morte ali idiota?

Lass não respondeu, eles dois eram muito parecidos Lupus percebeu. Ambos era o pai na juventude, embora Lupus tivesse herdado as cores da mãe e Lass os olhos azuis do pai nada justificava o cabelo albino.

Lupus lembra da lembrança da mulher de cabelos pratas que ele teve no Circo dos Pesadelos e fica mais confuso ainda.

— Vamos irmãozinho. — ele se vê dizendo segurando as mãos sem vida do caçula agoniado por toda situação — Você é um Wild, acorde.

Lass não acorda Ele não corre risco a voz de Holy diz, mas Lupus está entrando em pânico cru. As imagens d o Circo dos Pesadelos, Lass caído com a cabeça cheia de sangue, o barulho dele se chocando contra o chão e dos ossos quebrando o assombram a cada segundo e a ideia de perder aquele menino o sufoca.

— Deuses, eu sou um fiasco. — ele resmunga para si mesmo fungando alto.

Se levantando e colocando a cabeça para fora das cortinas ele localiza o armário de remédios do local, Lupus caminha até ele discretamente e pega dois frascos de álcool e algodão, ele segue devagar para o banheiro do local, milagrosamente vazio, olhando-se no espelho e identifica a raiz loira já alta em seu cabelo e faz uma careta.

Ele coloriu o cabelo assim que iniciou sua carreira na caça, o loiro era muito chamativo para a linha de trabalho e Lupus lembrava frequentemente da mãe olhando no espelho, visto que ele não podia mudar os olhos do cabelo ele se livraria pelo menos.

Precisando de uma distração do irmão inconsciente ele dá de ombros separando o cabelo em mechas finas e começando o trabalho de passar o algodão encharcado de álcool nos fios para retirar a tintura.

Gwen chamou aquilo de Henna e disse que sairia com álcool e óleo, Lupus ia ter que arriscar usando apenas o alcoól.

Não demora muito para a pia estar manchada de marrom e os fios estarem voltando ao loiro natural dele, Lupus finalmente resolve tomar uma chuveirada para tirar a tinta e o álcool do corpo.

Agora encarando-se no espelho com os cabelos loiros bagunçados ele se sente estranhamente bem.

Ninguém comenta nada quando ele passa de volta para o leito de Lass, quando ele abre as cortinas quase caí para trás ao encontrar o irmão sentado na cama olhando ao redor confuso.

— Deuses, você está velho. — e a primeira coisa que Lass diz a ele, Lupus pisca chocado — Eu acho que te assustei de novo não é?

Lupus fecha as cortinas e se senta na cama com cuidado e olhando Lass desconfiado, ele deveria perguntar sobre seu estado, mas sua boca genial forma a frase antes dele pensar.

— Eu vi o Circo.

— Você não me salvou deles. — Lass retruca na hora, a cara dele fecha em uma expressão de raiva — Onde você estava? Você prometeu ao papai que me manteria seguro!

— Eu nem me lembrava de você! — Lupus se vê subindo a voz um pouco fazendo Lass arregalar os olhos — Tudo que eu sei é que o velho me largou no Hades e foi para Ernas viver com uma humana, ele fez você e depois sumiu de novo! Imagine a minha surpresa ao começar a lembrar de um irmão que eu nunca soube que tive?!

— Eu também não me lembrava de você, não me lembrava de nada antes do Circo dos Pesadelos. — Lass admitiu em voz baixa, Lupus aguardou em silêncio a continuação da fala nervosa do irmão caçula — Eles me disseram que minha mãe me vendeu, que o mestre me salvou e me deu uma casa...Foi horrível, achava que não tinha ninguém por mim no mundo, agora vendo que você sabia que existia e não foi me procurar torna pior.

— O que você queria de mim?! — Lupus se levanta jogando o braço bom para o alto exasperado — Que eu fosse atrás da criança que tirou meu pai de mim?! Era isso que você era para mim durante todo esse tempo. Eu teria estourado os seus miolos!

— E O QUE EU SOU PRA VOCÊ AGORA? — Lass grita pegando Lupus de surpresa, o albino segura o estômago com força e se inclina para frente com uma careta de dor, Lupus corre para deitar o caçula na cama de novo, fazendo um verdadeiro milagre em fazer isso com apenas um braço — Agora que você sabe quem eu sou, que você lembra de mim, o que eu sou para você agora?

Lupus olha para Lass, os olhos azuis cheios de lágrimas mal contidas e ele treme de cima abaixo, ali pairando acima dele com um braço no ombro o mantendo deitado ele sabe a maldita resposta.

— Meu irmãozinho. — ele diz sentindo um alívio inundar todo seu ser com aquela confissão e seu rosto molhar com suas próprias lágrimas — Meu irmão que quase me morreu e me matou do coração junto.

Lass faz um som estrangulado de choro e se lança para ele, Lupus o recebe passando o braço normal pelos ombros do garoto chorando e acariciando seus cabelos.

Está tudo bem Lupus pensa sentindo-se minimamente em paz Tudo bem.

 

ALETHIA

 

Alethia acorda faltando uma hora para o jantar com seu irmão a sacudindo pelos ombros com urgência.

— Preciso ir tomar um banho e trocar de roupa, vejo você em uma hora ok? — ele dizia apressado — Consegue se arrumar sozinha? Devo pedir alguém para vir te ajudar?

— Eu me viro, não se preocupe, agora vá cuidar desses machucados. — ela riu da afobação do irmão, Azryn permaneceu no lugar olhando para ela — Azryn, vai logo, eu vou ficar bem.

— Está bem. — ele se levanta e anda até a porta — Me chame de Azin, é como todo mundo me chama hoje em dia.

Alethia concorda com a cabeça e o observa fechar a porta com um suspiro, olhando em volta no seu quarto tão familiar ela se sente fora de órbita. Parece loucura até para os padrões dela.

— Alfred preparou seu banho e trouxe algumas roupas há alguns minutos. — Sirioth avisou se levantando dos pés da cama, ele se sentou no chão ao lado dela na cama — Vou te ajudar.

Ela agradece, seu corpo ainda muito fraco para a ação de andar sozinha, ela se deixa cair contra as caudas macias de Sirioth e ser erguida nelas até o banheiro da suíte onde ele a depositou em cima do pequeno deck de pedras branca polida da banheira.

Alethia conseguia um controle melhor dos braços então ela conseguiu desatar os nós do vestido e soltar a peça do corpo sem problemas, Sirioth usou suas caudas para erguer a forma nua de Alethia e colocá-la na banheira.

A água quente fez o corpo relaxar automaticamente e ela soltou um suspiro de alívio.

— Ajude-me Sirioth.

O lobo celestial pulou para o deck de pedra e se postou atrás dela, uma das caudas se enrolou na esponja que estava ao lado da banheira e começou a esfregar as costas de Alethia.

Ela usou os cremes para cabelo disponíveis e fez uma mistura na cabeça deixando ali, seu cabelo estava enorme e embaraçado além do possível, aquilo iria ajudar. Alethia esfregou a parte da frente do corpo com outra esponja e fez careta para a tremedeira que afligia seus movimentos.

Como Highlander seu corpo congelou no momento que ela fez seus votos a Periet, ele não iria emagrecer ou engordar uma grama desde então, mas enquanto o corpo não mudava não impedia dos agentes externos agirem sobre ele, eles ainda podiam ficar doente, quebrar ossos e toda coisa que não envolvesse envelhecer.

Alethia estava mais pálida do que o normal pelo tempo afastada do sol, seu cabelo chegava aos tornozelos e estava sem o brilho normal e ela sentia sua pele áspera e mal hidratada.

Deuses ela estava um caco.

Alethia sempre foi vaidosa, mas quando começou seu treinamento nos Highlanders ela aprendeu a se virar com o mínimo de várias formas, ela não se incomodava em passar dias suando em batalha ou metida em lugares nojentos e coisa do gênero, sempre que possível ela gostava de cuidar de si mesma.

Você não precisa  Dio disse a ela certa vez observando ela passar uma mistura verde na pele e Alethia sorriu para isso, ela sabia que não precisava, mas tirar um tempo para coisas mundanas como hidratar os cabelos ou testar um novo creme era relaxante.

Acabou virando uma tradição da Grand Chase I, uma ou duas noites por mês eles iriam se reunir e fazer uma noite da beleza, a tradição continuou quando ela e Sieghart voltaram para Ernas depois do fiasco de Canalt.

— Acho melhor você tirar isso da cabeça e sair do banho, se quiser fazer algo no cabelo a tempo do jantar. — Sirioth despertou ela de seus devaneios — Deveria cortar ao tamanho normal, não é nada prático  para luta.

— Eu vou. — ela garantiu afundando na banheira e passando a mãos nos cabelos para tirar a mistura maluca — Só não agora, depois.

Sirioth alcança a toalha com uma causa e enquanto a tira da banheira com as duas outras, sentada contra a pedra fria Alethia seca-se como pode e enrola os cabelos na toalha aceitando o roupão que Sirioth a estendia.

Carregada de volta ao quarto ela se senta no banco da sua antiga penteadeira, um móvel branco grande com ornamentos em diamante verdadeiro e de costas para o espelho ela se veste.

São roupas que ela usa geralmente em Elyos, Alfred provavelmente pegou do quarto dela na mansão Von Canyon. A calça preta é justa e Alethia luta para colocar a peça sentada, Sirioth parece muito divertido.

— Finja que minha dificuldade não o diverte pelo menos. — ela reclama finalmente fechando o ziper da calça — Deuses, essa calça deixa minhas pernas lindas, mas vale esse tormento?

Sirioth uivou uma risada e Alethia se concentrou na maldita blusa de mangas até os cotovelos vermelha de seda, o pano rico e caro cintilava como apenas o tecido mais nobre iria, ela deixa dois botões abertos no decote mostrando seu pescoço e clavícula de forma provocante. 

Alethia enfiou a blusa por dentro da calça.

Geralmente ela usa um espartilho e um enorme casaco, Alethia ignora a peça infernal de cordas que Alfred trouxe junto e deixa o velho casaco guardado também.

Se virando para o espelho ela saúda sua imagem pela primeira vez em cem anos.

Os olhos dela são vermelhos, embora não tão puxados como os de Azryn, o tom de vermelho deles também é diferente. Alethia tem um vermelho claro que vai escurecendo conforme se aproxima do meio da íris enquanto Azin tem o vermelho escuro e olhos de raposa.

O cabelo dela não é liso como o do irmão, é uma série de ondas que formam cachos em alguns pontos e agora chegam aos tornozelos de Alethia, ela geralmente os mantêm na cintura. Azin e ela compartilham o mesmo tom albino-arroxeado pelo menos.

Alethia não nasceu com cabelos pratas, não totalmente pelo menos, quando ela fez os votos e foi tocada pelo poder de Periet seu cabelo virou completamente para o tom da realeza de Argentum.

Ela e Azryn são parecidos ao mesmo tempo que nem tanto, é estranho.

Sirioth pega uma das escovas na penteadeira e começa a pentear os fios molhados, Alethia começa seu trabalho no rosto para tirar o aspecto de cadáver.

Ela passa cremes na cara e hidratante nas pernas, retira o produto e está satisfeita pelas coisas que Alfred trouxe terem efeito instantâneo.

Muitos minutos se perdem naquele processo de passar e tirar cremes.

— Quanto tempo para o jantar?

— Vinte minutos.

— Vá buscar minhas armas. — ela pede a Sirioth pegando a escova da cauda dele — Volte  rápido.

Sirioth se retira da sala e ela olha para o cabelo já seco dividindo as mechas facilmente, seu familiar retorna com Statera e Exitium fundidas.

Uma espada totalmente preta, desde sua empunhadura até sua lâmina, enrolada ao longo da lâmina uma corrente prata serpenteia e está presa por duas argolas bem na empunhadura, os ferrões de Statera ficam na ponta da espada, servindo como uma espécie de capa, fazendo o “bico” de Exitium ser prateado ao invés de preto como todo resto.

Statera, a corrente, significa Equilíbrio na língua da guilda e Exitium, a espada, é Destruição.

Juntas elas formam Statium que simboliza o equilíbrio entre Sansara (que lhe presenteou com Statera por ela ser a próxima Sistina) e Periet (que lhe deu Exitium como arma sagrada), o bem e o mal, luz e trevas e por ai vai.

Ela separa as armas, Statera de volta para seu pulso tornando se o bracelete prateado de sempre, ela faz Exitium desaparecer.

— Faça uma trança inteira na parte de trás, embutida até onde der. — ela indica o cabelo separado em três, Sirioth coloca suas caudas para trabalhar e ela puxa sua franja para frente e coloca os fios ondulados atrás da orelha — É uma pena eu não ter minhas joias comigo.

— É um jantar Alethia, não um baile.

Alethia bufa para o lobo e não responde.

As joias são seu prazer culpado, toda sua coleção reside no QG dos Highlanders, ela gosta de usar pelo menos um anel ou brincos.

O que faz ela se sentir tão diferente é a falta de algo em sua cabeça, o costume de sempre ter uma coroa de flores ou uma jóia real em seus cabelos, não ter nada neles a faz se sentir nua.

— Eu preciso estar no meu auge não importa o que.

— Sua cara é a joia mais bonita de Ernas, literalmente. — Sirioth diz concentrado na trança que fazia — Eles vão perder a fala como todos perdem.

Ela tem que parecer bem, completamente composta mesmo depois das emoções da tarde, a Grand Chase não precisa saber sobre seus temores, eles precisam da Alethia, a General de Periet e não de uma garota perturbada.

Alethia não mostra seu lado fraco a qualquer um, ela não deve ter um lado fraco. A aparência intimidante era o primeiro passo para todos naquela sala entenderem que eles nunca viram nada como ela antes.

Uma garota criada para ser rainha que acabou virando muito mais.

Alethia Di Dives.

 

….

 

Eles estão na sala de jantar formal do palácio, a longa mesa com tampo de mármore brilha, Lothos está em uma das pontas sentada com a graça de uma rainha em suas calças e blusão.

Rey tem as flores de Alethia no cabelo, isso vai ser interessante.

Do corredor Alethia consegue ouvir claramente toda conversa em voz alta.

Sieghart está quicando impaciente ao lado de Mari e Dio, sentado de frente para Sieghart, bate os dedos na mesa.

— Pelo amor das Deusas! Parem vocês dois, estão deixando todo mundo maluco. — Elesis, ela reconhece a voz, finalmente explode depois de minutos daquela tensão sem motivo — Parece que nunca virão a garota na vida.

— Fiquem calmos ou os nervos de vocês vão atacar. — uma voz que Alethia não conhecia pediu preocupada — Vocês vão acabar desmaiando.

— Desmaiar ou morrer, o que vier primeiro. — Lothos falou sensata — É só Alethia.

Sieghart e Dio fazem um som irritado, Lothos não responde e no corredor as garras de Sirioth  voltam a ser as únicas coisas ouvidas.

Alethia aponta na porta, ela está apoiada nas laterais de Sirioth andando a passos lentos, todo peso escorado no lobo, mas apesar da chegada demonstrar fraqueza nada no rosto dela faz alusão ao sentimento.

O queixo erguido orgulhoso, os olhos de ferro e as roupas de Elyos a deixam parecendo uma princesa guerreira.

Seja uma rainha a voz de sua mãe diz em algum canto esquecido de sua mente Intimide para ter respeito.

Sieghart e Dio olham a garota por cinco segundos, absorvendo como ela parece debilitada, Alethia para de andar e afrouxa o aperto nos pelos do lobo. Sirioth dá passos para trás a deixando em pé sozinha, Alethia sente o corpo tremer e se esforça para ficar em pé.

Ela abre os braços e os dois correm para ela.

Sieghart a ergue facilmente pela cintura e a gira brevemente no ar, ele está chorando e sorrindo ao mesmo tempo, Alethia apenas sorri fraca para ele acariciando os cabelos pretos do amigo.

— Deuses, eu senti sua falta — ele diz acariciando o rosto dela com um pouco de desespero, Alethia apenas sorri e o abraça de novo, Estou tão triste com você ela quer dizer a ele, mas não diz, não é momento para isso  — Lethia, Deuses, eu sinto muito.

Eu também sinto, eu sinto abandono e você culpa...Não importa, não agora pelo menos.

Dio toma o lugar de Sieghart, ele a abraça apertando bem mais discreto e mergulha a boca na direção dos lábios de Alethia, ela desvia e o beijo é depositado em sua bochecha.

Foi a última vez eu te disse ela quer falar para ele, mas não fala, dói pensar que ela não pode mais ter Dio, que ela nunca o teve de fato, que agora ela deve sofrer a eternidade por esse amor graças a Gaia.

Dio não fala nada, mas o olhar decepcionado pela recusa atinge Alethia em cheio como toda vez que ela tem que esnobar ou falar palavras difíceis sobre a relação de ambos.

Eles se abraçam juntos, um amontoado de palavras de conforto e lágrimas de felicidade e por um segundo o mundo está certo.

— Alethia.

Eles se soltam e ela olha para Mari em pé há poucos passos de distância, os cabelos azuis da garota chegam na altura dos seios e os olhos distintos não deixam dúvidas de que é sua amiga morta há anos.

Alethia não consegue nem ficar surpresa, ela apenas aceita que talvez as coisas estejam finalmente dando certo para eles, Uma recompensa pelos anos de dor ela se atreve a pensar.

— O que há com os mortos de hoje em dia? É difícil ficar morto por acaso? — ela pergunta retoricamente abrindo os braços para Mari, o sorriso não despenca de Alethia e ela sente o rosto doer, mas é tão bom — Marieta.

— Eu senti a sua falta. — Mari confessa abraçando a amiga apertado, Alethia treme e as perna dela traem as duas as levando ao chão — Alethia?

— Oh, meu corpo esqueceu como se movimenta. — ela explicou permitindo que Dio e Sieghart a puxassem para cima com uma careta de dor, ela os tranquiliza com um sorriso — Preciso me reacustumar só isso.

— Alethia. — Lothos chama da mesa, o tom dela é grave claramente um comando — Estávamos a sua espera para jantar, junte-se a nós.

— Comandante. — Alethia ajeitou o máximo a postura e bateu continência para a mulher, ela reza para que sua voz não tenha traído o desgosto por dizer o título, ela deve obediência a Lothos afinal — Me ajudem a chegar na mesa.

Dio a segura no estilo noiva e a carrega sem problemas os metros que faltam, ele coloca Alethia na cabeceira vaga e assume o lugar da esquerda, ao lado dele Azin se mexe ansioso. Sieghart toma o lugar a direita e Mari a cadeira ao lado de frente para Azin.

— Alfred, sirva. — Dio comanda, o mordomo aparece pela porta dos funcionários com o carrinho de comida, há vários empregados ajudando com o jantar — Caxias fez as ilusões para atenderem a gente aqui.

— A comida dos senhores foi feita especialmente por mim, eu garanto, carne macia e purê de batatas. O vinho é o favorito da senhorita também. — Alfred tranquilizou quando Alethia abriu a boca — Eu tomei a liberdade de limpar os quartos da ala de visitas, limpei a cozinha, está sala de jantar e as partes essenciais do castelo. Também peguei algumas roupas da senhorita na mansão e as lavei para a senhorita poder usar por enquanto, providenciarei uma bolsa de viagem nova e botas novas também.

— Eu poderia me casar com você Alfred, neste exato momento. — Alethia garantiu quando o prato foi servido, as ilusões de Caxias colocaram um enorme assado na mesa junto com vários acompanhamentos, a Grand Chase começou a se servir, Alethia tremeu a mão, mas conseguiu levar uma porção de purê a boca e se deliciou com a culinária do mordomo  — Case-se comigo Alfred.

— Eu não acho que o patrão gostaria disso senhorita.

— Podemos mata-lo e ficar com a fortuna dele, viveríamos felizes para sempre na mansão Von Canyon.

— Puxa Alethia, obrigado! — Dio bufou bem humorado — Planejando minha morte bem ao meu lado.

— Você sabe o que dizem certo!? Não é uma refeição nossa se não planejarmos um assassinato ou um suicídio. — Alethia riu baixo dando de ombros — Ou os dois.

Os membros da Grand Chase original riram alto, Azin se afundou na cadeira, provavelmente descrente do quão idiotas eles ainda eram mesmo depois de anos.

Alethia respirou fundo engolindo uma nova garfada de purê e mastigando devagar, ela finalmente clareou a garganta e sorriu para os jovens que a encaravam descaradamente avaliando cada centímetro de seu ser.

— Grand Chase, é bom finalmente conhecer vocês pessoalmente, embora alguns eu já tenha o prazer de conhecer pessoalmente. — ela para o olhar nos garotos Wild, ambos se mexem e Lass parece que viu um fantasma — Eu agradeço por terem vindo me buscar na Torre das Ilusões, ... Oh, Caxias não avisou a vocês sobre as flores?

O tom preocupado de Alethia apareceu quando os olhos caíram e Rey, ela usava uma coroa das rosas reais em seus cabelos rosas.

Minhas rosas ela pensa sentindo algo morder no fundo da sua mente olhando para Rey, algo nela não parece certo.

Elas nunca se encontraram de fato, apenas nas reuniões da resistência e de passagem no campo de batalha, mas algo em Rey faz Alethia desconfortável, e a intuição dela raramente falha.

— Avisou. — Elesis respondeu lançando um olhar irritado para Rey que ignorou sem se abalar — Foi a primeira coisa que ele disse na verdade.

— Elas são bonitas e combinam com o meu cabelo. — Rey justificou — Achei que não teria problema pegar algumas, tem por todo lugar afinal.

— Sim, mas tenho certeza que Caxias avisou que apenas a família real pode tocar nelas certo? — Alethia olhou diretamente para Rey, a voz assumindo um tom de quem explica algo há uma criança — Elas são muito valiosas, você sabe os cabos e os botões pretos? São obsidianas, quando elas ainda estão em brotos ainda é possível arrancar o cabo e os botões para venda, existiam estufas para isso na verdade.

— Esse é o problema? Eu posso pagar...

— O problema Srta. Von Crison, é que elas são amaldiçoadas. — Alethia diz forçando um tom calmo com quem explica algo a uma criança, funciona pois Rey faz uma careta de desagrado e logo arregala os olhos e toda mesa parece dividida entre se divertir com a cara da menina e se preocupar — Foi um presente da senhora Perséfone quando eu nasci, enquanto as flores estão em botões não há problema em tocar nelas, mas depois que florescem? Qualquer pessoa que não tenha ligação de sangue direta com minha família sofre a maldição, as flores são apenas para a realeza.

— E o que é essa maldição? — Rey finalmente pergunta tentando parecer calma.

— Oh um horror, Sieghart uma vez tocou nelas para testarmos a veracidade da coisa, sabe o que aconteceu? Furúnculos, furúnculos por todo rosto, o coitado ficou de cama por dias até convencermos a senhora Perséfone a remover a maldição. — Alethia explicou rindo alto, Sieghart apenas bufou e Dio parecia estar engasgando com a comida devido ao rosto de Rey, Uma mentira branca ela pensa deliciada com o pavor de Rey, Uma brincadeira inocente — Então retire as minhas flores da sua cabeça.

O clima gelou na mesa, apesar do sorriso gentil com a cabeça levemente tombada para o lado todos puderam sentir a mudança na atmosfera do local com a fala de Alethia, Rey retirou a coroa de rosas do cabelo e simplesmente as queimou com magia.

A maldição em si não era nada daquilo, as flores apenas causariam uma coceira maldita caso entrassem em contato com a pele, visto que Rey usava luvas de combate e a coroa estava precisamente em seus fios ela não teria problemas.

Rey olhou para Alethia, um desafio mudo sendo feito, mas a Sistina se limitou a dar de ombros. Brincar com a garota vai ser divertido, mas as atitudes infantis de Rey deixam um gosto amargo na boca.

— Me atualizem, eu parei de acompanhar vocês quando subiram para Xênia. — ela pede retornando o foco para o grupo — Muita coisa aconteceu pelo que parece.

— Xênia foi uma loucura. — Elesis começou — Para resumir as coisas encontramos Sieghart, Amy e Mari por lá, depois que resolvemos cada coisa com cada Deus as essências foram roubadas por Baldinar e Thanatos foi punido pelo mal que causou. Ah, encontramos Zero de passagem lá também.

Alethia foca no garoto que a ruiva apontou. Os olhos dele a prendem no exato momento em que ela foca e Deuses ela nunca viu olhos como aqueles antes, amarelos como os de um gato. Zero não é humano, apesar de parecer, as orelhas entregam facilmente.

Algo nele, Alethia não sabe o que, mas algo nele a deixa curiosa.

— Foi você que me pegou não foi? — ela pergunta ao garoto, ele concorda com a cabeça encarando ela de volta parecendo tão intrigado quanto — Eu sabia, lembro desses olhos bonitos.

Sieghart e Dio gemem em desagrado provavelmente achando que ela estava flertando, mas não estava, foi um elogio completamente sem segundas intenções.

— Você me lembra...

— Magnum Zephyrum? — Zero completa a fala de Alethia com um pequeno sorriso de quem lembra de algo bom — Ele e Oz são meus pais.

— O que? — Dio, Sieghart e Alethia questionam juntos sem entender.

— Em resumo? Eu sou um corpo humano feito por Oz nos moldes de Magnum e modificado pelos genes dele. Meio humano e meio ancião.

— E quando você acha que já viu de tudo... — Arme sussurra no que ela acha ser um tom baixo, mas acaba sendo ouvida e corando forte — Sem ofensa!

— Espera, espera, espera....Se o Magnum é seu pai isso não faz de você e Dio primos? — Sieghart fez as ligações, Dio olhou para Zero surpreso e Rey fez um som esganiçado de engasgo — Que grande coincidência o cara que queria matar o seu tutor é seu primo! Mundo pequeno.

— Espera. Se os Zephyrum tem um herdeiro direto isso te alivia de cuidas das terras não é Dio? Não acredito que depois de seiscentos anos finalmente você vai parar de xingar o túmulo do seu tio! — Alethia percebeu animada, Sieghart concordou com a cabeça — É o fim de uma era Ercnard!

— Eu odeio vocês dois, eu realmente odeio vocês dois. — Dio amarrou a cara, mas acabou suspirando e voltando-se para Zero com um olhar sério — Você e eu vamos conversar depois.

Zero deu de ombros.

— Então temos Mari em Xênia, como isso aconteceu? — Alethia perguntou se voltando para a azulada que abriu a boca para responder, Alethia não deixou no entanto — As cápsulas estou certa?

— Você teve uma visão?! — Arme perguntou alarmada e curiosa.

— Não, aconteceu a mesma coisa com o Azryn, fui pelo óbvio só isso. — Alethia riu alto da pergunta ignorando o questionamento sobre quem era Azryn — Onde você caiu?

— Periet.

— Obviamente, nenhum de nós pisa naquelas areias tempo o suficiente para perceber algo, claro que cairia lá. — Alethia resmungou baixou para si mesma — Então vocês chegam a Thanatos, trazem ele de volta e são roubados por Baldinar?

— Isso resume bem a coisa toda. — Ronan riu dando de ombros — Não foi o nosso melhor momento eu admito, ele roubou as essências muito fácil.

— Não se frustrem com isso, aquele cara é esperto e forte, conseguiu se esconder por seiscentos de mim. — Lothos consolou a fala do garoto — Sinceramente ele conseguiu escapar do radar do Caxias, não tinha nada a ser feito.

Alethia olhou para Sieghart com uma cara de dúvida, não acreditando que Lothos estava realmente consolando os garotos, Sieghart deu de ombros e murmurou um “Ela ama eles”.

Doeu.

Lothos treinou ela e Sieghart desde os treze anos, cuidou de seus ferimentos, ensinou lições valiosas e os salvou. Ainda sim ela os abandonou sozinhos a esmo por séculos, agora esse grupo de crianças novatas simplesmente faz o coração de Lothos derreter de novo?

Ela e Sieghart não eram o suficiente para Lothos seguir em frente, a verdade era essa.

E doeu, doeu como um soco.

— Voltamos a Ernas para Thanatos cumprir sua punição, ajudar em um orfanato mortal completamente sem poderes. — Lire continuou — Pegamos Azin e participamos do casamento do meu irmão com a irmã de Ryan...

— Ladmir casou, Dio e eu fomos os padrinhos.

— Ladmir? O nosso Ladmir? — Alethia piscou desacreditada da fala de Sieghart — E o que aconteceu no casamento?

— Como você sabe que aconteceu alguma coisa? — Lire franziu a testa confusa.

— Dio, Sieghart e eu temos um longo histórico de casamentos inusitados num geral, todo casamento que tem pelo menos dois de nós acontece alguma coisa...Marcante por assim dizer.

— O oraculo apareceu e ferrou com tudo. — Dio respondeu resumindo tudo rapidamente — Uma profecia para Aton, agora que você tocou no assunto, Lothos você tem que cumprir uma aposta lembra?

— Eu achei que você tinha esquecido.

— Não esqueci. — Dio sorriu maligno como só ele sabia — Mas, ainda não pensei em nada então aguarde.

— Não se apresse.

— Então, sobre Aton.

— Um objeto que dava a imortalidade estava deixando o continente louco, achamos Holy no começo da jornada, ela é, era, parte dos Paladinos. — Elesis se corrigiu rapidamente mandando um olhar de desculpas para a verdinha, Holy deu de ombros — Em fim, chegamos a vila dos Kungjis, o tesouro deles foi roubado também, aquela altura já sabíamos que o tal objeto da imortalidade era a Coroa de Hórus.

Alethia sentiu a boca secar, ela encarou diretamente Lothos em busca de respostas, a loira deu de ombros sem explicações, Alethia pediu a Elesis que continuassem com um aceno de cabeça.

— Achamos a tal peça, um goblin que conhecemos no inicio da jornada acabou se mostrando o ladrão. Estávamos desfalcados de Azin, ele se esgotou de mana da batalha anterior e quase matou todo mundo com gelo, Hunin ficou cuidando dele na praia esperando Lothos chegar com o navio. Caxias possuiu Amy e nos guiou pela pirâmide até chegarmos ao goblin em questão.

— Eu não quero saber o que você fez. — Alethia fala para Azryn, Azin ela se corrige, o garoto abre a boca para se defender — Vamos trabalhar nisso entendeu? Não quero você se esgotando por ai.

— Aleth...

— Eu fui clara Azryn Di Dives?

— Eu corri o risco como você disse!

— Arrisque a você mesmo, não aos outros! — Alethia se viu elevando a voz, aquilo era inaceitável, apesar dela entender o que ele apenas a obedeceu — O que você estava pensando?

— Arrisquei apenas eu mesmo! — Azin revidou se inclinando para frente, os olhos vermelhos brilharam em desafio — Tinha plena ciência de que não ia acertar ninguém e que ia apenas me exaurir, eu descobri o segredo a técnica. Apenas eu corri o risco.

— Ainda foi perigoso para você. — Alethia insistiu — Mas, estou orgulhosa por ter pensado no todo exatamente como foi ensinado. Ainda sim, cuidado para não passar o limite.

— Esse jeito de dar esporro e depois parabenizar e coisa de irmãos mais velhos no geral?

— É. — Alethia, Lass, Lupus, Elesis, Lire, Ryan e Sieghart responderam ao mesmo tempo, Alethia sorriu e prosseguiu — Continue Elesis, desculpe a interrupção.

— Ele colocou a coroa, Mari retirou dele, mas a coroa a curou e ela recuperou suas memorias naquele momento. — Elesis retomou a palavra — Lothos chegou com o barco, Lin já estava com ela, e então voltamos para descansar um pouco antes de vir para Arquimidia.

— Lin? — ela chamou, uma menina de cabelos brancos levantou a mão e Alethia franziu a testa — Agnesia não é?

— Como você sabe?

— Você emana energia divina como um farol, não se preocupe só quem está acostumado com os Deuses consegue sentir. — ela tranquilizou a menina — Eu realmente não gosto de Agnesia.

— O que?

— Esqueça, coisa minha, prossigam a história.

Ronan narra a chegada deles na terra das guerras sem fim, como Duel e Zero, na verdade Grandark segundo o próprio, lutaram na mina abandonada e de como eles foram capturados.

Mari assumiu a narração, a conversa dela com Aron, o encontro com Galadriel e Dio, como Sieghart ameaçou o filho de Galadriel e os portais se abriram por toda Ernas causando um verdadeiro caos.

— Então vocês dois se esgotaram completamente defendendo as capitais e Lupus resolveu tudo apenas atirando na cabeça da mulher? — Alethia assobiou impressionada — Alias se Caxias recuperou vocês dois totalmente com os fios de Gaia como raios as asas de Dio ainda estão machucadas?

— Machucadas? — Holy perguntou afoita começando a se levantar — Eu poderia ter dado um jeito nelas...

— Eu ainda não tive tempo para colocar elas no lugar, acabei esquecendo na verdade. — Dio respondeu — Sente-se Holy, você não pode me ajudar com isso.

— Como você sabia...

— Dio está mancando. Ele só manca em duas ocasiões, quando suas asas estão incomodando ou quando ele e Sieghart fodem. Eu duvido muito da segunda opção, visto que ambos claramente não estão com humor pós-sexo, então sobra a primeira.

— IMAGENS MENTAIS ALETHIA, PELO AMOR DOS DEUSES! — Azin gritou tapando os olhos com as mãos — Não quero mais comer.

— Sabe o pior? Ela tem razão! — Mari bateu na mesa com uma expressão determinada no rosto — Essa tensão entre vocês deve ser tensão sexual mal resolvida!

— Viu!

— Fica quieta Alethia!

— O que? A verdade te assusta Sieghart?!

— Eu não vou fazer sexo com ele pelo amor dos Deuses! Mari, ele é seu namorado esqueceu?!

— Eu transo com a Alethia e tudo certo!

— Ai, viu todo mundo sai na vantagem...

— Chega vocês quatro! — Lothos quem os cala gritando da outra ponta da mesa — Seiscentos anos e continuam as mesmos malucos de sempre.

— Nem todo mundo pode mudar radicalmente igual a senhora Comandante. — Alethia que fala com o veneno que ela vem segurando desde o começo do jantar — Alguns de nós permanecemos, mas é como dizem a vida muda as pessoas, em alguns casos para pior.

— Alethia...

— Não importa. — Alethia a cortou — Precisamos parar Baldinar, então o que sabemos?

— Ele tem as essências para energizar a máquina e a máquina, lhe falta a bússola, ou seja, a Bíblia das Revelações. —  Mari engatou no modo explicação e prosseguiu sem deixar ninguém falar nada — Sabemos que ele manteve vocês três separados e de alguma forma mexeu nos Wild, ele queria a Grand Chase I separada.

— Ah sim os Wild. — Alethia finalmente chegou no ponto que queria — Lass, da última vez que eu te vi, você era o corpo de Karina Erudon, como isso aconteceu?

— Eu não sei. — ele responde sinceramente e respira fundo — Eu lembro de Lupus e dos nossos pais, mas não consigo ver seus rostos e nem saber como cheguei no Circo dos Pesadelos, pelo que o Zidler disse minha mãe me vendeu para eles por causa das minhas escamas...Eu fugi e me juntei aos Assassinos da Cruz de Prata, depois disso fui pego por Cazeaje, até um tempo atrás eu não tinha lembrança da minha vida antes do circo.

— Lupus?

— Eu lembro dos meus pais, os que vocês conhecem, lembro que mamãe morreu em missão e logo depois o velho foi para Ernas onde encontrou uma humana e teve um mestiço. — Lupus narra, Alethia percebe a dor do abandono muito bem disfarçada — Ele me largou no Hades e veio para Ernas morar com sua nova família. Mas, eu achei uma pintura minha e de Lass na mansão, nossos pais estão nela conosco crianças, eu não lembrava de Lass completamente até passar por Caxias, mas mesmo quando passo por essas lembranças eu ainda não consigo ver nossos pais nelas, pelo menos não os rostos. Pelo que Lass me disse o velho pode estar morto, a mãe eu sei que está.

Scarlet está morta a mente dela dispara em letras gritantes e vermelhas, todas as lembranças dos olhos vermelhos e cabelos loiros surgindo em sua mente simultaneamente.

As competições de tiros, a risada alta, as fofocas de toda dimensão, as mãos de Scarlet fazendo tranças em seus cabelos e todas as suas características chegam em uma onda de memórias que faz Alethia fechar os olhos e ela jura que pode sentir os braços de Scarlet por cima de seus ombros em um fraco abraço e um Hey Boneca sendo sussurrado em sua orelha.

A mente de Alethia prega uma peça tão forte que ela consegue invocar até o cheiro de bebida da amiga.

Respirando fundo e abrindo os olhos determinada ela está pronta.

— Começamos por ai então. — Alethia colocou a mente para funcionar, Alfred entrou naquele momento para substituir o prato de jantar, que ela nem reparou ter terminado, pela sobremesa, havia outro mordomo com ele que serviu apenas Rey e parou atrás da menina que não prestava atenção na história — Como sua mãe morreu Lupus?

— Eu não sei exatamente, o pai nunca disse, apenas me contou que ela morreu salvando muitas pessoas e eu era novo demais para exigir respostas, mas quando eu estava no Circo dos Pesadelos eu me lembrei de algo estranho. — Lupus começou a responder, Lass olhou para ele confuso — Quando eu vi os olhos de Zidler, eu me lembrei de quando eles invadiram a minha casa e levaram Lass, havia uma moça de cabelos albinos atirando nele e em uma mulher de cabelo roxo, eu não sei como mas tenho certeza que essa moça era minha mãe.

— Oh então não é um grande mistério afinal! — Alethia concluiu o óbvio.

— Não é? — Lothos, Sieghart e Dio perguntaram chocados.

— Pelo amor dos Deuses, vocês dois são idiotas!? — ela olhou para Dio e Sieghart exasperada, Lothos obviamente não poderia saber aquilo visto que ela não esteve com eles naquele momento especifico — Quando Canalt terminou, qual foi o desejo do Régis aos Deuses?

— Ele pediu para que ele e Scarlet sempre fossem... AI MEUS DEUSES NOS SOMOS IDIOTAS! — Sieghart gritou o final da frase batendo na própria testa — PUTA QUE PARIU COMO SOMOS BURROS.

— Não somos, estávamos preocupados demais com Alethia para lembrar disso. — Dio justificou rapidamente passando a mão no rosto — Santa lua vermelha de Elyos.

— Ei não me use pra justificar a burrice de vocês dois!

— Se vocês puderem nos iluminar por gentileza. — Lothos pediu irritada pelo desvio do assunto — Concentrem no que importa.

— Certo. Quando Canalt acabou os Deuses nos forneceram pedidos pelos serviços prestados, Régis pediu que ele e Scarlet sempre nascessem destinados a serem um do outro. — Alethia explicou, algumas meninas do grupo soltaram suspiros encantados pelo ato — Pelo que eu pude ver, quando a sua mãe morreu Lupus ela renasceu como humana, Régis a encontrou em Ernas e a levou para o submundo onde eles tiveram Lass. A mãe de Lass é a reencarnação da sua mãe, tecnicamente a mesma pessoa se fomos raciocinar.

Lupus e Lass se encaram surpresos, mas eles parecem aceitar bem a resposta.

— Por acaso essa moça de cabelos roxos que apareceu na sua lembrança tinha olhos vermelhos e segurava um cajado? — Lothos pergunta com a voz baixa e os olhos estreitos, Lupus confirma e Alethia prende a respiração sabendo quem era — Bom, sabemos que Karina levou o Lass da família e matou a segunda encarnação de Scarlet o que nos leva a pergunta do milhão, onde está o Régis?

— Estamos fugindo do foco. — Elesis chama a razão de novo — Baldinar.

— Karina e ele trabalham juntos desde Canalt. — Azin diz surpreendendo a todos — Karina transformou Argentum em pedra, Baldinar estava lá, mamãe deu um soco nele.

— Abençoada seja Azra. — Lothos cantarolou — Então se Karina trabalha com Baldinar desde aquela época e ajudou a separar os Wild ela também pode ter encoberto os rastros de Sieghart e os de vocês dois quando os três se separaram.

— Oh, você não surtou sumiu igual Lothos? — Alethia pergunta genuinamente a Sieghart que negou com a cabeça — Então Karina nos separou, não totalmente visto que eu estava com Dio até ir para Caxias.

— Qual motivo dele para levar você?

— Eu não sei. — Alethia foi sincera em sua resposta a Lothos — Ele apenas me disse que precisava ter algo para fazer Dio e Sieghart entrarem na torre e que eu estaria mais segura com ele.

— Deuses!

— Mari?

— Pensem comigo, ele precisa da Bíblia pois ela mostra passado, presente e futuro correto? — todos acenaram para ela de acordo — Ele nunca vai conseguir pegar a Bíblia de Caxias, então ele precisa de uma segunda opção certo?

— Do que ele precisaria? — Ronan pergunta confuso.

A realização bate em Alethia forte e a faz sentir o sangue correr.

— Qual a única outra coisa que pode ver passado, presente e futuro e que estaria ao alcance dele? — Mari pergunta a mesa, ninguém responde, mas Dio se inclina para frente arregalando os olhos no exato momento que Sieghart xinga baixo olhando para ela e Azin parece congelado em seu lugar — É por isso que ele separou vocês!

— Meus olhos. — Alethia diz sentindo-se zonza sem motivo aparente, ela segura a quina da mesa de mármore com força — Ele precisa de mim.

— Com Sieghart longe, Scarlet morta, Serre em Serdin, Ladmir preso em Karuell e Régis sumido restava apenas Dio com Alethia, seria fácil pegar Lethia sozinha e sumir com ela.  — Mari atropela as palavras — Caxias a levou por segurança, Alethia ele te manteve a salvo.

— Ele me quer. — ela sussurrou baixo entredentes sentindo a raiva subir, mas não podia deixar aquilo acontecer, o equilibrio é tudo e perder a calma agora não vai ajudar em nada — Eu sou o alvo. Precisamos acabar com Baldinar, recuperar as essências e ir exterminar Karina da existência.

— É o que vamos fazer, recuperamos você agora podemos ir direto para Baldinar.

— Não. — Alethia sente a fúria esfriar, algo fica oco e a felicidade que ela sentiu antes por estar com sua família novamente da lugar a um sentimento de raiva pura, ódio por Baldinar e Karina, a sala parece ficar mais fria — Vamos achar o Regis primeiro e depois vamos atrás de Baldinar.

— Regis pode esperar, os Deuses sabem o que Karina e Baldinar podem fazer se adiarmos mais essa luta. — Lothos a contradiz, a cabeça de Alethia começa a trabalhar em algo que a convença ela esforça sua perna para se mover o suficiente para tocar as de Sieghart e Dio por debaixo da mesa, uma troca de olhares e eles se entendem bem o suficiente  — Precisamos deter esses dois e recuperar as essências.

— Regis pode esperar você diz. — Alethia gira a cabeça olhando a voz em tom sombrio de Sieghart, ele joga a cabeça para trás rindo — Para você nós sempre pudermos esperar não é Comandante? É tão fácil assim descartar a gente?

— Não me venha com isso agora Sieghart, nos temos que cumprir a nossa missão.

— É a missão de Regis também. — Dio lembra a ela seco — Está pedindo para deixar nosso amigo, nossa família de lado...O que você se tornou Lothos?

Lothos começa a rebater e a discussão entre os três se amplia a vozes altas e palavrões e logo a Grand Chase está envolvida.

Achar Alethia raciocina em meio a confusão tentando buscar Régis de olhos fechados, a visão dela se ativa facilmente mesmo depois de anos, é algo tão natural e fácil que a faz se senti leve.

Regis! ela grita mentalmente, mas é apenas trevas escuras e desconexas Regis Wild! Ela grita novamente tentando localizar o amigo no meio do breu do limbo, o lugar onde as Sistinas ficavam enquanto narravam as profecias, Alethia se concentra e limpar toda mente para tentar localizar o Wild.

REGIS ONDE VOCÊ ESTÁ?! ela grita começando a correr pelo local escuro, Alethia geralmente achava seus alvos fácil, mas algo estava tornando a escuridão mais densa para ela e fazendo-a sufocar.

Ela reconhece a sensação, ela sabe exatamente o que aquela sufocação e queimação na pele são. O sentimento de causar violência aumentando, de surtar e destruir tudo lhe é familiar por causa de Periet.

Alethia muda o foco e sussurra baixo Berkas, me mostre o covil sua visão se clareia e ela se vê parada em um buraco se ossos, Berkas não está avista, mas ela sabe que o dragão está em algum lugar do campo destruído arrastando suas correntes.

Regis, onde você está? ela força o pensamento novamente tentando achar um fio do amigo, algo a chuta de volta para o limbo por meio segundo antes das trevas sumirem e ela se vê em um novo cenário leva alguns segundo para ela perceber onde está e como está.

Espremida em entre duas paredes rosadas e virada de ponta cabeça no que parece ser um tubo vertical Alethia olha para baixo e contem um grito ao ver Regis olhando para ela, embora ele não pudesse ver ela claramente, Régis está dormindo entalado nas paredes rosadas.

As paredes se mexem constantemente espremendo Regis e logo aliviando, ele não acorda, mas está claramente respirando graças aos Deuses, Alethia percebe exatamente onde está quando repara nas pequenas saliências das paredes e de como não são paredes e sim pele.

Não vai ser fácil, mas eles podem conseguir tirar Regis de lá.

— ACHEI! — ela grita interrompendo a gritaria da mesa de jantar — Está vivo, malditamente vivo.

— Ótimo, me diga onde ele está que eu vou pegar o idiota e encontro vocês na luta com o Baldinar. — Dio resolveu todo o problema em meio minuto — Eu me retiro da Grand Chase I oficialmente, assim Lothos não pode mandar em mim.

— Não, você não pode pegar Regis, só eu posso. — Alethia responde o plano já formado em sua mente — Comandante, precisamos de Regis, quando estava me aprontando para o jantar eu tive uma visão. Só ele pode fazer uma coisa na batalha final, precisamos dele.

Lothos encara no fundo dos olhos, buscando uma mentira assim que as palavras deixaram a boca de Alethia e aquilo a irrita ainda mais.

— Acha que eu mentiria para a senhora? — o ultraje vaza nas palavras dela — Eu posso estar muito chateada com a senhora Comandante, posso ter pedido quase todo meu respeito por você e sentimentos de carinho, mas eu nunca mentiria sobre um assunto desse nível. Eu não mentiria para a Senhora Comandante dos Highlanders.

— Está bem, vamos pegar o Regis, partimos amanhã de manhã para onde ele estiver.

— Ótimo. — Alethia agradece ainda com a cara séria — Precisamos avisar a Serre e a Ladmir...

— Meu avô está morto.

Alethia sente afundando na pele as palavras de Arme, como se facas tivessem perfurado todo seu corpo de uma vez só e o ar fugido de seus pulmões.

— Durante a invasão de Vermencia, enquanto você falava comigo a luta em Serdin acontecia...A Academia foi destruída.

As palavras de Sieghart não fazem sentido para ela, imersa na dor e fúria Alethia ri de si mesma por ter pensando que Azin e Mari foram uma recompensa para eles, do que adianta ganhar os dois de volta e perder Scarlet e Serre?

A nova Grand Chase está intacta e saudável bem na frente dela, mas a sua equipe, os malditos heróis que iniciaram tudo anos atrás? Morta, perdida ou longe um dos outros.

É simplesmente cruel tirarem deles para não machucar a nova Grand Chase.

Alethia está acostumada no entanto, a crueldade do Criador deixou de surpreender depois de um tempo.

— Avisarei a Ladmir para ficar de prontidão. — Lothos tomou a palavra depois de um silencio prolongado, Lothos se levanta — Com licença.

Os passos dela fazem barulho no corredor, Alethia faz um gesto para Alfred seguir ela até a porta.

— Ela se foi.

— Você não teve visão nenhuma não é? — Dio deduziu no ato.

— Tive porra nenhuma.

— Você mentiu para nossa Comandante.

Alethia ri.

Uma gargalhada louca que a faz inclinar para trás, os olhos de todos tem uma mistura de preocupação e medo. Ela não liga, ela só ri por pura vontade, a famosa risada de nervoso ecoa pela sala de jantar.

— Você está bem? — Sieghart estende a mão e agarra mão dela que estava sobre a mesa em um aperto gentil — Eu sei que você está chateada...

Seu corpo se move antes dela perceber, o que é bom para testar seus reflexos, ela agarra o garfo que usou para comer com a mão vaga, puxa a mão de baixo da Sieghart e enfia o garfo com tudo no amigo.

O talher atravessa a carne e se prende a mesa e a mão verte sangue na hora e Sieghart grita de surpresa bem como a Grand Chase.

— Eu não estou chateada. — ela sibila apenas para Sieghart girando o garfo fazendo o moreno urrar de dor, nenhum membro da Grand Chase se move devido ao choque — Eu estou furiosa, tem uma pequena diferença, agradeça ser um garfo na mão e não uma faca no meio da testa Ercnard, seria preciso algo desse nível para eu começar a pensar em ficar quites com você.

Ela puxa o garfo e Sieghart recolhe a mão massageando o local da perfuração com uma careta de dor.

— Não importa o que estamos sentindo, não agora e não vai importar no futuro também, vamos deixar esse assunto de lado por enquanto pelo bem da nossa missão e do mundo. — ela continua olhando diretamente nas orbes pratas — Alfred, me tire daqui.

O mordomo a ergue de sua cadeira facilmente a levando no estilo noiva para fora da sala de jantar.

Ela ouve um “Essa é a minha garota” seguido da risada de Dio.

A mentira para Lothos amarga em sua boca, é contra os ensinamentos dos Highlanders mentir, mas ela não se arrepende e vai arcar com as consequências futuras de cabeça erguida.

Ela não se importa tanto, não como faria anos antes com algo relacionado a Lothos, é amargo, mas necessário.

Ela deve obediência a Lothos, ela deve respeito e fidelidade devido a hierarquia da guilda, mas Lothos também deve lealdade a ela e a Sieghart coisa que ela não tem entregado há muitos séculos.

É apenas uma troca justa afinal.


Notas Finais


todo mundo vivo?
todo mundo bem?

kakakakaka e ai galerou o que acharam?

o que mais surpreendeu vocês?

Os Erudon?
Delfane?
Ladmir mega violento e 0 fodas?
Quem é a mãe da Arme?
Qual a última profecia que Amy irá narrar?
Edna?
Magnum?
Alethia e Azryn?

ATENÇÃO.

O andar do Dio, ALethia e Sieghart não foi esquecido no churras, Caxias desafia eles depois.

A Grand Chase não teve espaço pra questionar a irmandade dos Wild e nem dos irmãos de prata, assim que eles tiverem uma brecha no próximo capitulo rola.

Sobre AMY E JIN: Canonicamente Amy tem 14 anos no inicio da jornada, na fic ela deve estar nos quinze já não sei, o ponto é que eu não me sinto bem escrevendo uma relação romantica com alguém desta idade. Amy tem muito a viver antes de saber o que é amor, assim como Jin também e no futuro quem sabe?

PROXIMO CAP: BERKAS, HADES, DEDO NO CU E BEBEDEIRA.

Não esqueci do Uno não, a batalha dele acontecerá paralela a de Baldinar.

Karina envolvida na treta desde os primordios ora ora.

Onde Regis está e como vão salvar?

A aposta de Lothos e Dio vai valer a pena eu garanto.

Grand Chase I = imã de desastre.

ainda tem mais revelações chocantes.

CURIOSIDADES: O andar de Lin originalmente era uma Alethia e não Delfane, mas eu mudei na hora da escrita mesmo.

. A cena da sala de jantar era muito mais sombria e séria com muito mais tensão, mas Alethia acabou tão exausta e feliz por ter Mari e Azin que não deu pra fazer ela tão seca quanto era pra ser, ela foi murchando ao longo do evento.

AH LEMBREI

não sei se eu comentei o que faz ALethia diferente das sistinas normais fora ela receber visões do criador, mas tá ai a sistina imortal vê passado, presente e futuro.

vou tirar uma semaninha pra descansar meus dedos e dopois eu volto a escrever, devo demorar se o próximo sair tão grande então não estranhem.


falem comigo nos comentários, tirem dúvidas, me xinguem pela demora e tal.
até


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...