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História Growing Up - Tudo estava bem


Escrita por: QuaaseGay

Notas do Autor


CHEGAAAAAAAAAAAAAYYYYY

A Rainha e Soberana do mundo AOB retorna para finalizar esta fanfic. Sim, ainda tem epílogo e bônus, entretanto, Growing Up encerra seu plot aqui.

Confesso que atrasei muito este final, acho que não estava pronta para dizer adeus para uma história que me marcou tanto. Gosto de pensar nas minhas três fics sendo Be My Alpha meu "the hurting", Picture Of An Alpha meu "the healing" e Growing Up, "the loving".

Mas ciclos se encerram e precisamos disso para seguir em frente. Esta maravilhosa jornada se encerra aqui e não terá segunda temporada.

Vamos ao que interessa e DIVIRTAM-SE.

Capítulo 47 - Tudo estava bem


Nathan

Eu nunca tinha visto o mar. Ele sempre me pareceu muito grande na televisão, mas pessoalmente, era mil vezes maior. A areia que entrava entre meus dedinhos dos pés estava fria, por conta da manhã.

Era realmente muito cedo, mamãe e eu havíamos acabado de chegar. Ela estava muito cansada, mas fingia não estar. Tudo para me agradar e fazer com que eu me sentisse bem. Eu a admirava muito, mas confesso que me incomodava o fato dela sempre colocar meu bem estar acima do dela.

Não me importaria em vir aqui somente de tarde, ou até mesmo amanhã. Mas mamãe sabia o quanto eu queria ir à praia, então decidiu que viríamos agora. Era sempre assim, eu primeiro e depois ela.

- Gostou? – Perguntou, ainda olhando a imensidão.

Havia pouquíssimas pessoas, um alfa correndo com seu pitbull, um casal fazendo caminhada e um grupo de surfistas entrando na água. Aqui era muito bonito, realmente lindo. O vento estava um tiquinho forte, mas nada que incomodasse e o céu estava clareando com as cores bonitas do amanhecer.

- Sim. – Respondi olhando-a. Mamãe era tão linda! – Eu gostei, mas confesso que estou com receio de ir até a água. Ele parece furioso.

- As ondas aqui são mais fortes mesmo. – Cruzou os braços quando seus pelinhos se arrepiaram de frio.  - Jace vinha aqui para surfar.

- Eu sei. – Eu fitava as ondas azuis, mas sabia que ela me olhava. – Ele contou. Ele também ia para a praia com meu vô, para jogar futebol.

- Sim...

- A mommy chega amanhã?

- Não sei. – Soltou um longo suspiro.

Assenti. Meu vô Mike havia recebido uma ligação por volta das quatro e meia da manhã. Sei o horário porque o relógio do hotel era imenso e eu fiquei olhando. Vi quando o alfa mais velho soltou um grito abafado ao ouvir o que a outra pessoa falava na linha.

Ele estava feliz, assim soube que mommy estava bem. E então ele chamou minha mãe para conversar a sós. Não sou bobo, sabia o que eles estavam conversando e... Doeu. Bastante. Em algum lugar dentro de mim, esperava ter mais tempo com meu pai.

Ainda tinha tantas canções para aprender no violão e eu nem havia entrado na NHL ainda, para autografar minha camisa com o símbolo da Stanley Cup. Mas não queria ficar triste, então sequei as lágrimas antes de que elas descessem. A Força sabe o que faz.

Eu fiquei passeando nas lojas do hotel e comprando umas coisinhas, Jasper e Jared – os seguranças – cuidaram de mim. Comprei pijamas e só uma muda de roupas para minha mamãe, pois não sabia escolher para ela.

Quando nos encontramos no restaurante do hotel para comer algo, mamãe estava triste e apreensiva. Então tive certeza de que o assunto deles fora a respeito do meu pai, não mostrei a ela que já fazia ideia do que se tratava, esperei que me contasse. Mas ela não falou nada, simplesmente deu a ideia de vir para a praia.

- E Jas? – Perguntei, afundando meu pé na areia macia, apenas para fazê-la me contar o que eu já sabia.

Eu queria que ela me dissesse a verdade e parasse de ficar pensando na melhor forma de amenizar uma notícia que não tem como ser amenizada. Mas ela não conseguiu. Não conseguiu me olhar nos olhos e dizer.

Ninguém precisa ser resistente o tempo inteiro e nem saber dar notícias ruins. Na verdade, acho que nunca estamos preparados para notícias ruins. Seja para dá-las ou para recebe-las.

Mamãe não acreditava na Força, por isso sentia tanta dor. É curioso que ela queira tanto que eu acredite em algo que nem ela mesma acredita.

Mestre Yoda já dizia “A morte é uma parte natural da vida. Feliz fique por aqueles que na Força se transformam.” Quando eu entrar para a Força, quero uma grande festa em meu nome. Quero ser aplaudido e que as pessoas se lembrem de mim como aquele que viveu.

Apenas isso, viveu.

- Ele entrou para a força, não é? – Tentei sorrir quando a mesma me olhou nos olhos, aceitando a dorzinha chata em meu coração.

Era óbvio que eu estava triste e chateado, e mais óbvio ainda que eu sentiria saudades. Mas Jas estava tão bem, era uma honra entrar para a Força, então não me permito sofrer por isso. Sofrer por algo bom? Isso nem faz sentido!

- Como você consegue ser assim? – Sua pergunta me pegou despreparado.

- Você me ensinou a ser assim. – Dei de ombros, que doida, hahaha.

- Não. – Ela se sentou e eu fiz o mesmo, não evitei uma careta quando senti os grãozinhos na minha bunda, rapidamente ajeitei-me sobre os meus chinelos. – Eu definitivamente não ensinei. Posso ter feito muitas coisas e pode ter certeza de que sempre darei o melhor de mim para sua educação. – Olhou em meus olhos. - Mas há uma sabedoria em você, que não acredito que tenha sido eu a responsável.

Não soube o que responder, então apenas fiquei quieto, olhando as ondas se arrebentarem na areia e aquele som tranquilo me encher de calma. Era bom estar ali e de alguma forma, curiosamente, a sensação era familiar.

- Eu sabia que ele daria um jeito de escapar da prisão. – Comentei, rindo da esperteza de Jas. – Eu sempre tive certeza de que ele não acabaria preso. Não o meu pai. 

- Por que diz isso?

- A única semana que passei com ele foi mais do que suficiente para saber três coisas. – A fitei e ela arqueou uma sobrancelha. – Jace não para quieto, é teimoso e odeia receber ordens.

- Conheço um projeto de alfa que é igualzinho. – Me olhou atravessado e bom, culpado, eu era bem assim. Apesar de ser obediente, realmente detesto quando tentam mandar em mim.

- Claro, a mommy. – Brinquei e fiquei feliz quando vi que a fiz sorrir. – Mamãe, Jas não aguentaria duas semanas na cadeia.

- O seu pai não aguentaria duas semanas em lugar nenhum. – Ela sorriu e fitou a areia branca.

- A Força sabe o que faz. – Falei baixinho. Eu acreditava piamente nisso.

– Ele... – Sua voz embargou um pouquinho. - Sempre tinha que fazer alguma coisa, ou ir em algum lugar. Nunca parava quieto. Acho que era isso que me fazia mais apaixonada por ele, a vontade de viver.

“Lauren é assim também.” Este foi o meu primeiro pensamento e então eu soube que era exatamente isso que mamãe via na minha alfa de referência. Eles eram livres e amavam viver, acho que tenho que dar um crédito para mamãe, duvido muito que alguém consiga não gostar de pessoas assim.

Todos nós vamos experenciar a morte, mas só alguns irão experenciar a vida.  Eu quero ser assim quando crescer, quero jogar hóquei e fazer um dia ser melhor do que o outro. Com pessoas gentis e agradáveis ao meu lado, igual Lauren. Não ser irresponsável como Jace, mas aprender cada dia mais e buscar ser melhor, mesmo que um dia eu não acredite nem em mim mesmo.

Mamãe sempre me contou as inúmeras aventuras que viveu ao lado dele. E quando ela não tinha mais o alfa, minha ômega perdeu alguma coisa. Eu nunca soube o que era, até notar como ela reagiu perto de Lauren pela primeira vez. Foi naquele mesmo instante que eu senti que havia algo ali, alguma coisa que eu não conseguia tocar, ver ou imaginar, apenas sentir.

Agora eu sei que faltava vida. Sempre soube que eu era a causa da felicidade dela, ouvi isso infinitas vezes. Revirei o olho só de lembrar da mesma repetindo isso e enchendo meu rosto com beijos. Mas com Laur, as coisas eram diferentes.

Eu amava muito a minha alfa. Muitão mesmo, era um amorzão. Eu não podia deixar que Lauren se afastasse de nós. Então insisti, fui atrás, ganhei uma bela tala no pé e um braço enfaixado. Faria de novo, tudinho, não só para que minha mamãe pudesse voltar a viver, mas para que eu ficasse bem também.

Só que isso eu nunca vou dizer para a dona Camila Cabello. Sei que tomarei um sermão porque “eu não devo carregar fardos que não são meus”. Apesar de que não fiz tudo isso apenas por ela, mas por mim. Mamãe me sufocava com o seu amor e eu a amava demais para dizer isso olhando em seus olhos.

Com Lauren aprontando do lado dela, sua atenção era dividida e isso me deixava mais à vontade. Eu sentia ciúmes, mas a sensação de não estar sendo observado o tempo inteiro de maneira superprotetora fazia com que eu ignorasse o sentimento, pelo menos na maior parte das interações.

Laur acha que eu não via as investidas descaradas que dava em mamãe. Algumas vezes era engraçado. Ela ficava frustrada quando minha mãe fingia que não se sentia afetada e eu fingia que não sabia que ela estava fingindo.

Ter a Mommy é algo bom demais. Ela é a minha melhor amiga, mais até que Bob. Sua presença nos faz bem e eu cheguei a pensar que Jace fosse atrapalhar tudo. Fiquei irritado só de vê-lo se aproximar da mamãe, mas que filhote em minha posição não ficaria preocupado?

Só que não aconteceu. Consegui fazer Jas entender que não iria ter tudo de volta e sendo sincero, fiquei feliz quando ele disse que eu era o suficiente. Fiquei feliz em tê-lo em casa, me ensinando violão e pedindo desculpas a cada dez minutos por conta dos palavrões.

Mal sabia ele que Archie tinha um vocabulário bem mais aprimorado. Eu posso dizer que passei o Halloween com meu pai, posso dizer que fiz a diferença na vida dele. Eu sou o Luke Skywalker dessa história e ele, o meu Anakin.

Anakin Skywalker também fez burrada e ficou pior ainda quando se tornou Darth Vader, fez coisas muito ruins antes de ter sua redenção. Ele não morreu como herói, mas sim como alguém que voltou para a luz, que encontrou motivos fortes para isso. O motivo foi o amor do Luke, que não desistiu do pai dele em nenhum momento. Mas não são todos que conseguem enxergar Jace desta forma, infelizmente.

- Eu sei que meu pai tinha muitos defeitos. – Falei, observando o surfista subir na prancha e deslizar pela onda. – E eu sei que ele fez coisas muito erradas. As pessoas amam falar sobre o quanto ele era ruim. Só que... – Travei.

- Pode falar, filho. – Senti sua mão tirar os fios de cabelo do meu rosto.

- Eu sempre fui o “sem alfa”. – Pelo canto do olho, a vi se remexer desconfortável. – E então, eu tive dois durante uma semana inteira! E foi bom, sabe? Mommy conversava comigo, assistia jogos de hóquei e Jas tocava violão, contava suas histórias.

“Foi realmente bom.” Pensei, sentindo saudades daqueles dias e me senti chateado por notar que não voltariam mais a acontecer. Senti uma dorzinha incômoda, igual quando a mestre Henning se foi. Acho que está tudo bem sentir saudades daqueles que partiram. Um dia, eu também estarei com a Força e então, estarei com eles novamente.

- Acha que estou errado por amar meu pai? Porque é o que as pessoas fazem parecer. – Questionei, fitando a areia e mais uma vez, sentindo seus olhos em mim. – Digo... Sammy e Matts não gostam nem um pouco dele e claro, Bob também não. E eu tento ignorar. Só que me incomoda. Não gosto que falem mal de Jas.

Mamãe ainda me olhava, mas eu encarava a areia. Estava começando a esquentar, o sol nos pegava em cheio e aquele vento danado ainda soprava bastante. Eu sabia que meu cabelo estava totalmente bagunçado. Olhei minha ômega de referência levantar e começar a andar, então a segui.

Como se estivesse procurando algo, a segui até o início do mar, onde a areia era mais firme e molhada. Ela abaixou para pegar um graveto bem longo, quase do tamanho de suas pernas. Franzi o cenho para a cena inusitada que foi vê-la riscando a areia, fazendo uma longa linha e parando a uns cinco metros de distância de mim.

- Vem aqui, filho.

- Vamos desenhar? – Brinquei, olhando sua linha e nossas pegadas.

- Essa é a minha linha do tempo. – Explicou. – Aqui é onde você nasceu. – Fez um risquinho em sua reta. – E aqui se inicia a sua. – E então desenhou uma linha paralela, que terminava junto com a dela, fazendo uma seta nas duas pontas. – E aqui, é o nosso presente, onde estamos. Aqui atrás, – Deu dois passos. – É onde seu pai entrou na minha vida e onde ele deveria ter ficado, quando foi embora. – Marcou outro risquinho um pouco antes do meu “nascimento”.

- Eu não estou entendendo nada. – Comentei, olhando seus rabiscos no chão.

- O que estou te mostrando, Nathan, é que você precisa deixar as pessoas no ano que as pertencem, com todos os sentimentos bons que carregou por elas. – Apontou para o desenho. – O seu pai surgiu e ficou para trás na minha linha do tempo, eu insisti em arrastá-lo comigo por todos esses anos. – Circulou a parte em que eu havia nascido até a metade de nosso presente. – E isso só me trouxe sofrimento. Nós dois sabemos.

Ah sim, mamãe sempre falava para a lua o quanto ela ainda sentia falta dele. Acho que nunca vou me esquecer completamente das noites em que eu ia de fininho para sua porta e a ouvia falar.

- Eu amei o seu pai por um tempo mais do que justo. – Seus olhos caíram sobre mim, antes de voltar a falar. - E quando eu me dei conta de que estava completamente apaixonada por outra pessoa, tive que usar toda minha força para colocar o seu pai no lugar dele. Porque só assim eu poderia dar chance para quem estava no meu presente. – E então estendeu o pedaço de madeira para mim. - Agora, mostre onde está Jace na sua linha do tempo.

- Hm... – Pensei, pegando o graveto de sua mão. – Aqui foi quando a Mommy entrou na minha vida, aqui quando eu comecei a jogar hóquei e aqui quando Jas chegou.

- Agora compare nossas linhas, veja onde seu pai está.

- No seu passado e no meu presente. – Respondi rápido, sentindo o vento bater em minhas costas.

- E quais foram meus sentimentos pelo seu pai, quando ele era o meu presente?

- Amor. – Meus olhos começaram a encher de água, mas eu não queria chorar. – Você o amou.

- Então quem disse que você não pode amá-lo também? – Não consegui mais segurar as lágrimas, elas desceram quentes e devagar pelo meu rosto, até pingarem no chão. – Meu amor. – Mamãe se ajoelhou para me olhar nos olhos e secou minhas bochechas com os polegares, me fazendo sentir os pequeninos grãozinhos de areia em seus dedos. – Nunca se sinta culpado por amar seu pai, ou qualquer pessoa. Você é livre e o amor, também.

Mais uma vez, mamãe secou as gotinhas salgadas que meus olhos insistiam em derramar. Ela me abraçou forte e então me senti seguro e aliviado. Eu amava muito minha mãe e amava ainda mais saber que podia falar com ela sobre tudo, inclusive meus sentimentos.

- Esta é a sua linha do tempo, Nate e somente sua. – Se afastou um pouquinho para apontar para nossos desenhos. - Você decide quem irá marca-la e quem irá apenas passar. E as pessoas tem de respeitar suas escolhas, assim como você tem de respeitar a dos outros. – Tentou ajeitar meu cabelo, mas o vento era muito teimoso. - Sammy e Matts tem direito de não gostar de Jace, mas as razões deles não tem que interferir na sua vida, se você não quiser. Não deixe, nunca, que te façam se sentir culpado por ter sentimentos, filho.

- Mas... E se eu for machucado? E se eu me arrepender de amar alguém?

Ela sorriu sem mostrar os dentes e negou levemente com a cabeça, antes de relaxar os ombros e me fitar com seus olhos marrons. Eu nunca havia reparado que os olhos dela ficam mais claros quando o sol bate neles.

- Nunca se arrependa de amar. Mesmo que sejam “pessoas erradas”. – Gesticulou com os dedos. - Suas ações dizem muito sobre você e as ações delas, sobre elas.

Soltei um graaaande suspiro, satisfeito por ter dito algo que estava mesmo me incomodando.

- Está bem mamãe, eu estou me sentindo muito melhor. – Sorrimos, mas o dela não durou muito. Ela ficou olhando para mim até seus olhos tomarem um brilho triste e eu me perguntei o que estava acontecendo. – Mamãe?

- Eu sinto muito, Nathan. – Foi a vez de seus olhos ficarem aguadinhos. Antes que eu pudesse questioná-la, continuou. – Eu sinto muito por todas as vezes que coloquei meus sentimentos na frente dos seus. Por ter te privado de coisas que você queria só porque eu não era capaz de lidar comigo mesma. Sinto muito por ter lhe negado o direito de conhecer seus avós... – Respirou fundo e olhou para o céu, antes de voltar a me encarar. - E por ter te afastado de Lauren quando eu sabia o quanto você já a amava.

Ela levou as costas da mão a boca, sem parar de me olhar. O vento também era teimoso com os cabelos dela, mas diferente de mim, mamãe não tinha os fios na frente dos olhos, que brilhavam por conta do choro que insistia em segurar.

- Fiz valer minha autoridade de mãe e apenas mandei. Sem me preocupar em saber como você se sentia. Filho, eu não sou perfeita. – Foi quando ela começou a chorar e fungou antes de continuar. - Ainda vamos errar muito um com o outro, então nunca deixe de falar para mim o que sente e se eu não quiser ouvir, faça valer o seu direito. Não apenas de filho, mas de ser humano. Que tem voz, que tem vontades, necessidades e que merece ser ouvido.

- E então vamos conversar e chegar em uma solução para todos? Como foi aquele dia em que decidimos que eu iria para o hóquei? – Ela assentiu, secando rapidamente as lágrimas.

- Você ama o hóquei, não é? – Soltou um risinho em meio ao choro.

- Mais que tudo! – Falei, sentindo-me repentinamente feliz. – Foi a melhor coisa que me aconteceu!

- Eu teria te privado disso se não fosse por sua alfa. – Concordei com a cabeça, me lembrando dos receios dela. – Entende a importância de sermos sinceros uns com os outros? Temos que falar, mas também saber ouvir. Eu não soube te ouvir e sinto muito. Eu sinto tanto, tanto, Nathan.

Mamãe começou a chorar bastante, então me joguei em cima dela, abraçando-a com força. Honestamente, eu não tinha mágoas com relação a nada, mas sentia que ela precisava me falar aquilo para se sentir em paz.

Nunca fiquei magoado com minha mamãe. Ela era minha luz e eu sabia que me amava mais do que tudo. Acho que o amor que ela sente por mim é maior do que o amor que eu sinto pelo hóquei.

É um amorzão.

[...]

Quando voltamos para o hotel, mamãe tomou um banho rápido e foi direto para seu quarto, dormir. Eu não estava com sono, havia dormido a viajem inteira e estava um pouco ansioso porque acabei esquecendo de perguntar se estávamos mesmo indo para a Disney. Eu havia visto no telão do hall do hotel que estávamos em Miami... E bom, os parques ficam em Orlando.

Como eu seria pendurado de ponta cabeça na sacada se a acordasse para perguntar, decidi tomar banho. Enchi a banheira e liguei a hidromassagem, pensei que seria difícil, mas dento do armário tinha um passo a passo e foi bem fácil. Acho que não deveria ter colocado tanta espuma, tive que usar o chuveiro para remover tudo do meu corpo e principalmente do cabelo.

O chuveiro era da hora! Saía água de diversos locais e em várias direções. Não sabia disso, acabei tomando um jato bem no nariz. Mas fora isso, foi um dos banhos mais loucos que já tomei!

Será que eu vou ficar trancado dentro da geladeirinha se mamãe ver essa bagunça? Me perguntei, olhando para toda a espuma que havia no chão e nas paredes. Talvez eu tenha ficado empolgado demais naquela banheira e talvez eu tenha cantado várias músicas da Disney enquanto jogava espuma para todo lado.

Depois que saí do banheiro, fui para o meu quarto e vesti a camisa do Bulls que eu tinha comprado e uma bermuda preta bem confortável, estava quente. Peguei o telefone e pedi pizza, batatas fritas, hamburguer e um copo imenso de Coca-Cola. Eu estava com muita fome e a ESPN iria transmitir o documentário “Ice Guardians” que era sobre os enforcers do hóquei, os caras mais durões de toda a liga.

Depois assisti um filme de animação, “Viva - A vida é uma festa”. Foi a melhor animação que já vi, pois falava sobre a passagem e explicava que de fato, a morte não é ruim. As pessoas não nos deixam de verdade, elas apenas não estão mais aqui. Chorei bastante com as cenas finais, não de tristeza, mas de imensa felicidade.

Jas estaria sempre comigo e eu iria revelar as cinco fotos que eu tinha com ele, que tirei com o celular da mamãe. Eu colocaria uma delas sobre minha cômoda e no Día de los Muertos, ele poderia atravessar a ponte de pétalas e ver como eu estou.

Tocaria a nossa música e cantaria para meu pai ver o quanto melhorei no violão, mostraria minhas conquistas no hóquei e outras coisas. Não me esqueceria dele e meus filhos e netos conheceriam a sua história.

De tarde, Jared me levou para brincar na piscina e eu comi um montão de doces, logo depois de eu ligar para o vovô e passar dez minutinhos falando com ele. Aproveitei que mamãe estava dormindo para comer tudo que eu quisesse, eu sabia que assim que ela abrisse os olhos, me faria comer coisas saudáveis. O que não era ruim, só que é bem mais legal comer porcaria.

Mommy me disse que atletas não deveriam se entupir disso, mas acho que eu não deixaria de ser um bom jogador se comesse essas coisas só hoje. E bom, eu já me dedico muito e treino bastante, posso me dar um dia de folga.

“Eu vou precisar treinar o dobro quando voltar...” pensei comigo mesmo cutucando com o dedo minha barriguinha cheia.

Mesmo que eu treinasse demais, parecia que eu nunca seria tão bom quanto Archie. Ele era realmente o melhor jogador do time e eu gostava muito de jogar com ele, mas sentia que eu não conseguia acompanha-lo. Ainda era muito lento.

Quando voltei para o quarto, mamãe ainda estava dormindo. Já era cinco da tarde e eu só conseguia pensar no quão exausta ela deveria estar.

Sem fazer barulho, fui no banheiro dela tomar banho porque o meu ainda estava escorregadio com a quantidade de espuma que eu tinha feito mais cedo. Achei que quando voltasse tudo já estaria limpo, mas como minha mãe não saiu do quarto, ninguém entrou.

“Ela vai comer meu fígado quando ver... SE ela ver, Nate. Se.”

Tomei banho no chuveiro rapidamente e vesti um pijama preto da Supergirl. Eu nunca tinha me interessado muito pelos heróis da DC, mas eu gostei muito da estampa desse. Uh... Bem, Kara era... Uma excelente super heroína.

Para mamãe, eu peguei da Mulher Maravilha, afinal, era da minha mamãe que estávamos falando. Para a Mommy, eu escolhi a Batwoman, não só porque ela também era alfa, mas porque gostava muito da cor preta e a Laur ama essa cor. E então eu fiquei com a Kara Zor-El.

Sendo bem honesto, eu não sabia muito sobre ela. Eu... Uh... Comprei porque a achei muito bonita. Muito bonita MESMO!

Na estampa da camiseta preta ela estava desenhada quebrando as correntes que envolviam seus punhos e seus olhos estavam vermelhos, sob efeito da kryptonita vermelha. E no shorts eram vários quadrinhos dela. Acho que eu iria passar a pesquisar um pouquinho mais sobre a DC. Eu não me interessava muito porque os vilões me assustavam, mas agora já estou mais crescidinho.

“Se um dia eu tiver uma irmã ômega, vou mostrar para ela todas as super heroínas ômegas e mulheres. Assim ela vai saber que é tão forte quanto a mamãe e vai bater nos alfas chatos tipo o Jordan.”

“Mas e se eu tiver uma irmã alfa?”

“Aí eu mostro todas as heroínas ômegas para ela saber que pode levar uma surra delas.”

Eu não entendi o motivo de estar pensando essas coisas e não consegui mais parar de matutar se algum dia eu teria irmãos ou irmãs. Eu só parei de pensar nisso quando me questionei se Laur ainda iria me amar, caso tivesse filhotinhos biologicamente dela. Não era algo que eu queria refletir.  

Subi em cima da cama da mamãe e liguei baixinho a televisão, depois de pedir três cachorros quentes para mim e dois para a ômega desmaiada na cama. Talvez eu tenha pedidos docinhos também e batatas fritas com cheddar e beacon.

E eu não me esqueci da Coca-Cola!

O Golden Knights ia jogar de novo hoje, dessa vez contra o Toronto Maple Leafs. Fiquei muito puto quando lembrei que havia perdido a partida de ontem contra o San Jose Sharks, mas feliz por termos vencido. Era importante a vitória hoje para que garantíssemos dois pontos de vantagem para o segundo colocado.

Coloquei na CNN pois sabia que mamãe gostava de ver as notícias antes dos jogos e eu não queria ela me enchendo o saco na hora da partida por causa disso. Mas eu não esperava ver o que estava passando.

“A famosa corrida mortal, popularmente conhecida como Highway To Hell, teve novamente acidentes graves durante o percurso. Até quando o governo dos Estados Unidos irá permitir que pessoas brinquem dessa forma com suas vidas?”

“A corrida foi palco para uma operação arriscada do FBI, que tinha como objetivo prender os líderes das maiores redes de tráfico do país. Jace Sherwood, conhecido como Ghost, estava colaborando com os Federais e morreu durante a operação. Ele era procurado pela Interpol pelos inúmeros crimes cometidos não só nos Estados Unidos, como também em outros países.”

- MAMÃE! MAMÃE! – Gritei e engatinhei até ela, chacoalhando seu corpo com carinho para que ela não ficasse muito brava com meus gritos. - ACORDA! ESTÃO FALANDO DA CORRIDA! ACORDA!

Ela despertou meio zonza e perguntando o que estava acontecendo, até finalmente direcionar seu olhar para a gigante televisão pregada na parede em nossa frente. Reparei o quanto ela estava suada e assustada?

“... Conter o avanço do tráfico de drogas em nosso país. Nós fizemos uma operação arriscada, mas efetiva. Estávamos trabalhando nela há anos e finalmente, tivemos nosso sucesso.” Logo abaixo da tela, estava escrito que aquele cara era o Roger Lemieux, Diretor do FBI. “Alguns de nossos agentes deram a vida para que essa missão desse certo.”

“O senhor se refere à Victoria VanHesler? – Um dos jornalistas perguntou. – “Era dela o corpo não identificado sob as escadas do antigo laboratório, não era?”

“Não somente a ela, mas outros que estavam infiltrados na equipe e infelizmente se foram. Mas claro, a agente VanHesler foi importantíssima para que tudo desse certo. – Uma foto da agente na tela me fez lembrar que já a conhecia, era alfa havia comprado batatinhas e chocolate para mim no supermercado, naquele encontro de carros que fui com a mommy. - Ela ajudou muito nas investigações. E sim, é com pesar que comunico que Victoria VanHesler veio a falecer enquanto tentava pegar o maior bandido que esse país já viu.”

- A Força a levou também... – Falei baixinho.

O senhor está falando de Brandon David Johnson? Popularmente conhecido como Bruce? O dono do maior circuito de corridas ilegais de Las Vegas? A herdeira dos Jauregui era parte da equipe dele. Por que ela não foi presa também, já que estava na corrida? – A fala de outro repórter me deixou confuso, mommy já havia sido levada por policiais e voltou para casa.

“Sim, Bruce foi morto por nossa agente durante uma troca de tiros.” – Ele respondeu, ignorando a outra pergunta.

“Mas houve uma troca de tiros em outro local, que não pertencia a corrida não é mesmo?”

“Sim, quando fomos efetuar as prisões e surpreendemos os líderes em flagrante. Meus agentes tiveram que revidar os disparos, infelizmente, perdemos alguns dos nossos, mas asseguro que todas as prisões foram feitas.”

“Mas é verdade que a agente VanHelser tentou matar Lauren Jauregui, herdeira da Jauregui Motors?”

Nessa hora eu prendi a respiração, mamãe também retesou o corpo e pelo canto do olho, conseguir ver que ela já tinha os olhos cheios de lágrimas.

“Ela foi imprudente em uma ação que poderia ter resultado na morte da senhorita Jauregui, mas não tinha intenção alguma de ferir a futura herdeira da grande corporação.”

“Diretor Lemieux, é verdade que ela investigou tudo sozinha e agora, com sua morte, o senhor está tentando tomar os holofotes para si? – Uma mulher perguntou, estendendo o gravador para onde ele estava.

“Isso não é verdade. VanHesler era uma das minhas melhores agentes, mas não fez tudo sozinha. – O homem limpou a garganta, visivelmente irritado pela pergunta. - Teve muita ajuda nossa, principalmente minha, era eu quem orientava seus passos.”

“Senhor Lemieux, quando o governo e a polícia federal irão intervir nessas corridas e proteger seus cidadãos de eventos assim, ao invés de usar esse tipo de entretenimento para ganhar dinheiro?"

- Não foi somente Victoria. – Mamãe soluçou, tampando a boca. – Não foi somente ela... Céus, Lauren...

Olhei confuso para minha ômega de referência, até me tocar que ela estava falando dos outros integrantes. Outros que morreram durante a operação e eu sabia quem eram.

Chad, Austin, Machine e Caleb. Os melhores amigos da mommy. Só então entendi o motivo daquelas lágrimas, Laur deve estar sofrendo muito por saber que perdeu alguns de seus amigos mais próximos, senão todos eles.

- Você acha que todos entraram para a Força? – Perguntei, eu não sabia se tinha mais gente na equipe de meu pai, talvez não tivesse sido nenhum deles.

- Eu não sei, amor... – Falou, olhando-me com os castanhos cheios de lágrimas. – Espero que não.

“Lauren Jauregui foi enviada para o Sundance Medical Center de helicóptero, a alfa de vinte e um anos foi intoxicada por alta inalação de Formaldeído e fumaça. Ela passou por diversos exames e muitos especialistas durante o dia, já foi medicada e agora já está estável. Ficará em observação até amanhã de manhã.”

- Ah, mas era só o que me faltava! – Mamãe falou brava e me assustou, quando ela ficou tão irritada? – Sei bem quem vai ficar de olho nela durante a noite. Sei muito bem. Mas deixa Lauren chegar aqui. Deixa-a chegar aqui!

A doida saiu andando rapidamente do quarto e coincidiu de a campainha tocar, nossa comida havia chegado. Eba!

- NATHAN CABELLO JAUREGUI, QUE QUANTIDADE DE PORCARIA É ESSA? PRA QUE TANTA COCA-COLA? – A ouvi gritar lá da porta e o meu susto foi tão grande, que me escondi embaixo da coberta. – E eu posso saber o que o senhor fez hoje o dia inteiro? – Falou ainda brava, empurrando o carrinho para dentro do quarto. – Que pijama é esse?

Camila

Apesar das longas horas de sono, sentia como se não estivesse descansado um minuto. Simplesmente sonhar com minha alfa não retornando, ou me deixando por temer o que Bruce faria comigo e Nate, foi o suficiente para provocar uma dor profunda dentro de mim.

Felizmente Nathan havia me acordado, pois o pesadelo que eu estava tendo era horrível. Acredito que a preocupação e desespero que eu estava sentindo, de alguma forma, havia passado para os meus sonhos.

As notícias sobre ela na tv deixaram-me mais calma, apesar de eu ter surtado de ciúmes ao saber que aquela tal de Lucy com toda certeza, ficaria paparicando a minha mulher. Ridículo, afinal, Lauren estava ligada a mim, mas ainda assim, o sentimento veio repentinamente, não me deixando escolha a não ser irritar-me.

Senti-me a pior mãe do mundo ao ver que tinha passado o dia todo dormindo e deixei meu filho sem minha proteção. Claro que Nathan sabe muito bem se virar e conseguiu enrolar os dois seguranças para que pudesse comer e fazer o que quisesse o dia inteiro.

Comemos os lanches que ele havia solicitado ao serviço de quarto e depois de mais algumas notícias sobre a Highway to Hell, o jogo do Vegas Golden Knights teve início. Meu filho pulou na cama e caiu sentado na beirada, mais perto da tv.

Fiquei admirando a forma que ele se concentrava no jogo e acompanhava todas as jogadas, apontando possíveis falhas nas defesas. Eu mal conseguia enxergar o puck, aquele treco era rápido demais e em milésimos de segundos, já estava do outro lado do gelo.

- Filho e se você for escolhido pelo Sharks ou pelo Capitals? – Perguntei quando a partida deu o primeiro intervalo.

- Nossa, isso que eu chamaria de azar, né? – Deu uma risadinha. – Eu vou jogar por eles, ué...

- Mesmo sendo os times que você mais detesta?

- Sim... – Mordeu o lábio. – Eu amo demais o hóquei, nada vai me fazer parar de jogar. – Seu sorriso agora foi confiante. – E talvez depois de uns dois anos eu consiga um trade para outro time. O Vegas, quem sabe?

Fiquei contente com sua forma de pensar e torci junto com ele o resto do jogo. Confesso que estava começando a me interessar mais pelo esporte, apesar de ainda o achar bem “forte”. Para não dizer violento.

Quando o Golden Knights venceu a partida, que foi marcada por uma defesa maravilhosa do time de Las Vegas, resolvi que daria um pulo no shopping do hotel. Precisava comprar algumas roupas com o cartão que Michael havia disponibilizado para nós.

Nate comprou para mim uma camiseta regata do Golden Knights que ia até metade da minha bunda e uma calça jeans, que por sua vez estava muito larga. Foi usando essa roupa ridícula e chinelos que finalmente comprei peças com o meu número e aproveitei para comprar coisas para Lauren, não sabia se ela teria tempo de fazer as malas antes de vir para cá.

Tomamos um sorvete - sempre quis saber de onde vinha o apetite do alfinha – e conversamos sobre hóquei até chegarmos novamente em nosso quarto, com os dois seguranças.

- Mamãe, nós vamos mesmo para a Disney? – Perguntou assim que acomodamos as sacolas sobre o sofá da sala.

- Uh... – Fiquei com dó de dizer que não iríamos, afinal, eu sabia que minha mentira havia gerado uma expectativa imensa no meu pequeno, um dos sonhos dele era ir ao parque de Star Wars.

Michael já havia deixado Matts e Normani avisados que eu não iria trabalhar e também já tinha avisado a Saint Gabriel de que Nathan perderia algumas aulas. Apesar de ser fim de ano, as notas do alfinha eram altas e bom, depois de toda essa confusão, acho que nós três merecíamos uma semana de folga.

O alfa de minha mulher realmente tinha resolvido tudo, providenciou até mesmo identidades falsas para mim e para Nathan, por motivos de segurança. O que foi realmente bom, pois na correria, saímos de Las Vegas sem nada além da roupa do corpo.

- Nós vamos, meu amor. – Os olhos dele se encheram de lágrimas e então eu soube que estava fazendo a coisa certa. – Mas temos que esperar a Mommy.

Ele sentou no chão sobre o tapete e escondeu o rosto nas mãos, soluçando baixinho. O sentimento de felicidade que eu sentia emanando dele era enorme e eu não pude deixar de também ficar feliz. Embora colocasse limites necessários, a verdade é que eu sempre amei agradar meu pequeno alfa. Sou capaz de qualquer coisa para que meu Nate fique bem e contente.

- Hey, filhotinho, não chore. – Sentei-me de frente para ele.

Não demorou para ele me abraçar e passar dois minutos agradecendo e chorando pela oportunidade. Ele me encheu de beijos e aquele abraço sempre seria o meu porto seguro e o motivo da minha vida.

Depois disso, fomos tomar banho e quando saí do chuveiro, o encontrei pulando em minha cama com seu novo pijama da Supergirl. Quando questionei o motivo dele ter preferido uma personagem da DC, suas bochechas coraram. Nem insisti no assunto, já sabendo muito bem a razão e reprimi a vontade imensa de contar para ele que Kara Zor-El era alfa e não ômega.

- Eu estou muito feliz, mamãe! – Pulou, seus cabelos se arrepiavam e caíam com o movimento. – Mommy vai voltar logo, nós vamos para a Disney e vovô vai me levar no jogo dos Knights contra os Panthers na sexta feira!

- Espera aí, eu não estou sabendo de nenhum jogo de hóquei, Nathan. – Afirmei contrariada.

- Ops...

A discussão foi rápida, uma vez que eu já tinha decidido passar a semana aqui e não precisa ser gênio para saber que Lauren concordaria no mesmo instante, entretanto, não contei a ele sobre isso e disse que decidiríamos tudo quando nossa alfa chegasse. Eu teria que realmente conversar com ela sobre isso, ter um vô disposto a dar de tudo pelo neto não era algo que eu planejava para a educação do meu alfinha.

A noite estava passando lentamente, comigo sentada na sacada olhando a lua e refletindo sobre tudo que enfrentei desde que me apaixonei perdidamente pela mulher de braços tatuados e olhos verdes. Pensei em toda a minha vida, pensei em Jace, pensei em Laura e como eu queria que minha amiga voltasse para mim.

Eu me sentia aliviada por Nathan estar lidando bem com a morte do pai, acredito que estava passando por isso melhor do que eu. Confesso que fiquei bastante abalada com a notícia, vivi bons momentos com Jace e apesar de toda dor que sofri, saber de sua partida deixou-me chateada.

Questionei-me como Lauren estava se sentindo com tudo isso, precisava saber como minha mulher estava pois eu ainda não a sentia. Eu estava morrendo de saudades e de preocupação. Com toda aquela situação em minha casa, o paramédico havia me medicado para que eu não a sentisse mais.

Era o melhor para nós duas. Afinal, meu corpo recém ligado não estava dando conta da avalanche emocional e isso afetava diretamente nosso filho. Só queria tê-la de volta logo em meus braços.

Assim que Nate adormeceu, Michael ligou para Jared e o mesmo me deu a notícia de que Lauren havia embarcado para Miami. Desde então, aqui estou eu pensando em tudo isso, sentindo o vento fresco bater em meu rosto, obrigando-me a enrolar o cobertor em meu corpo.

Através do vidro que separava a sacada da sala de entrada, fitei o delicado relógio sobre a mesa de madeira rústica. Ainda eram 2h12 da madrugada. Ela chegaria em Miami Beach por volta das seis e meia.

Miami.

De todas as formas que minha mente já tinha formado para eu voltar para cá, nunca pensei que fosse nessas circunstâncias. Estávamos hospedados no Fontainebleau Miami Beach, que ficava apenas a 20 minutos de Little Havana, onde eu costumava chamar de casa. E onde sei que meus pais ainda moram.

- Nate tem o direito de conhecer os avós... – Falei baixinho para a lua. – Eles merecem isso, são maravilhosos. Sofia vai amar o sobrinho.

“Sofi... Minha irmã está no último ano do ensino médio... Deve estar tão grande e tão linda.”

As lágrimas vieram fáceis e a saudade apertou muito meu coração. Eu sempre ignorava quando esse sentimento vinha, pois nunca tive tempo para pensar muito neste assunto, sempre tinha algo mais urgente para ser resolvido.

Mas de volta a essa cidade, onde tenho tantas lembranças, os sentimentos simplesmente se apoderaram de mim, tornando o choro meu companheiro desta noite. A vergonha e o medo eram os que mais machucavam.

Abandonei meus pais por vontade própria, pensando apenas em como eu ficaria mal com a falta de Jace. Em nenhum momento pensei que eles sentiriam a minha falta e não pensei em Sofia, que sempre foi muito apegada a mim.

E então fui deixada para trás, sofrendo a mesma dor que causei a minha família. Como eu poderia simplesmente voltar? Fingir que nada tinha acontecido? Com um filho ainda? Não, era vergonhoso demais, doloroso demais.

- Queria que você estivesse aqui, Laura. – Falei soltando um soluço. – Queria que estivesse viva para eu poder descontar toda a raiva que eu tenho por você ter mandado aquele e-mail para os meus pais. – Neguei com a cabeça, pensando na minha melhor amiga. – Agora eu sei que sou bem vinda, que eles me querem de volta e... É ridículo que isso faça com que eu me sinta pior. Acho que se eles brigassem comigo, eu teria alguma justificativa para demorar tanto para voltar...

Se eles tivessem respondido aquele e-mail falando que nunca mais queriam me ver, eu teria uma explicação plausível para nunca levar Nathan até lá. Teria como justificar o fato de eu nunca querer voltar e usar essa resposta ruim como argumento para não ter que enfrentar a vergonha e o medo que eu sentia.

Porque odiar e sentir raiva é sempre mais fácil do que amar.

Mas meus pais nunca me falariam isso e foi exatamente por esta razão que eu cortei qualquer contato e também o motivo de eu ter ficado tão puta com a atitude de Laura. Sabia que eles implorariam para eu voltar, porque eles me amam muito e claro que eu sabia que cuidariam de Nathan e me ajudariam a cria-lo.

Eles nunca foram do tipo que julgam e apesar de Papá ser muito protetor e ciumento, sempre me deixou muito livre para escolher o que eu queria para mim. Muito da educação de Nathan, tirei dos ensinamentos dos meus referenciais.

 - A minha alfa logo estará aqui, então... Pedirei para que ela me acompanhar até Little Havana. – Suspirei, secando as lágrimas. – Vou me sentir mais capaz com ela ao meu lado.

Fiquei mais algumas longas horas sentada naquele local, com o edredom me protegendo do vento. Refleti sobre o que pretendia fazer e pensei mais ainda na minha companheira de alma. Ela não saía dos meus pensamentos e a cada olhada no relógio, era uma batida mais forte em meu coração.

Levantei-me da poltrona branca confortável e fui até meu quarto, aproveitando para passar pelo de Nate e me certificar de que o pequeno ainda estava dormindo. Coloquei um shorts preto curto, uma camisa de manga longa branca esportiva e calcei os tênis de corrida.

O sol já estava começando a aparecer e minha ansiedade iria perturbar o sono do alfinha, então fui correr por Miami Beach, sentindo o vento soprar meu rosto. A brisa sobre o suor de meu corpo era refrescante e o esforço físico evitava que minha mente surtasse com a volta de Lauren.

“Quando eu terminar, ela já estará no quarto, esperando por mim.”

Depois de uma hora e meia de corrida interrupta por toda a orla da praia, a cidade já estava despertando. O comércio abria, turistas e nativos já estavam frequentando o local e os surfistas já faziam suas manobras sobre as ondas que hoje aparentavam calmaria.

Parei para comprar uma garrafinha de água que ingeri no mesmo minuto e joguei na lixeira, para só então tirar as meias e os tênis. Soltei meus cabelos, passando as mãos entre os fios e caminhei pela areia fofa ainda ofegante pelo esforço físico.

Sentei-me próximo do mar. O som das águas arrebentando era um dos meus favoritos no mundo, me acalmava e relaxava. Fechei os olhos e respirei fundo, bem fundo, sentindo o ar entrar e sair de meus pulmões até esvaziar a mente.

Dentro de mim, tranquilidade e silêncio, fora de mim, o som do oceano. Isso era paz.

Eu não sei dizer quanto tempo fiquei meditando, mas quando abri os olhos, a praia estava um pouco mais movimentada e o calor dos raios solares foram suficientes para que meu corpo esquentasse, então tirei a camisa esportiva e a amarrei na cintura, ficando apenas de top preto.

O vento insistente soprou meu rosto mais uma vez, levando a maresia de encontro a mim. Foi quando meu coração acelerou e os pelos da minha nuca se arrepiaram. Impossível refrear o sorriso em meu rosto, pois sabia exatamente a causa de minhas reações.

Ela estava aqui. Minha mulher, minha alfa, minha Lauren. Coloquei-me de pé no mesmo instante, olhando para todas as direções. O vento jogava meu cabelo para frente, dificultando minha procura e a mistura de cheiros também não ajudava.

A encontrei um pouco distante, andando pela areia perto da água. Usava um shorts preto e uma camisa preta toda cortada, com alguma estampa de rock que eu não consegui decifrar de tão longe. Seus cabelos estavam soltos, voando e ela olhava para todos os lados também, com os sapatos em sua mão.

- Lauren!! – Minha voz falhou, ofegante e baixa, como um sussurro.

Senti nossa ligação ficar mais forte e mais intensa, então simplesmente corri. O mais rápido que conseguia, na maior velocidade que minhas pernas pudessem alcançar. Descalça, com os pés batendo na areia e levantando água a cada pisada, sentindo a nossa conexão Alpha-Omega ficar mais vigorosa. 

- LAUREN! – Consegui gritar, chamando sua atenção.

Minha alfa parou de andar assim que me viu e abriu os braços com o sorriso mais lindo em seu rosto. Que saudade!

Pulei em seu colo, rodeando minhas pernas em sua cintura e finalmente beijando seus lábios. Meu coração explodia em meu peito e a felicidade que circulava entre nós era quase palpável.

Dei inúmeros beijos em sua boca e nunca foi tão bom poder passar meus dedos novamente em seus cabelos e segurar em sua nuca. Passei a ponta da minha língua em seu lábio ao terminar o beijo, sentindo o metal frio do piercing que estava ali.

- Você lembrou de colocar esse bendito piercing! – Comentei, olhando em seus olhos e ainda com sua boca próxima da minha. Lauren sempre tirava e esquecia totalmente de colocá-lo.

- Gostou?

- Eu gosto de tudo em você. – Passei a ponta do meu nariz no dela, sem conter a felicidade imensa que havia dentro de mim. – Eu senti tanto a sua falta!

A abracei firme, sentindo seus braços apertarem mais a minha cintura e eu a envolvi ainda mais forte com minhas pernas. Foi assim que eu me dei conta que meu lar não era Las Vegas ou Miami e sim, aquela mulher.

Lar é onde quer que Lauren esteja.

Coloquei meus pés de volta ao chão e seu abraço afrouxou, não paramos de nos olhar nem por um segundo. Os verdes mais lindos, eu era tão apaixonada por aquela garota que meu coração agredia tão efusivamente meu peito e seu cheiro embriagava meus sentidos.

- Eu te amo. – Ela me falou, colocando suas mãos em meu rosto. – Eu te amo, Camila. Tudo que eu queria era voltar para você.

- E você voltou. – Sorri. Só quando ela limpou minhas bochechas com os polegares, me dei conta de que estava chorando de felicidade. – E eu estou tão aliviada, porque eu tive medo, Lauren. Eu tive muito medo...

Minha alfa puxou-me novamente para um abraço. O cheiro refrescante deixou-me confortável e muito feliz por estar com ela. Seu corpo quente era protetor e seguro. Tê-la daquela forma, fez eu me sentir como se segurasse o mundo nas mãos.  

Esse um dia longe dela pareceu uma eternidade para mim. Não só porque havíamos acabado de nos unir, mas também por conta de toda preocupação e desespero que senti por ela estar longe, sem ligação nenhuma comigo.

Senti-la com minhas próprias mãos fez os fantasmas daqueles pesadelos sumirem. Isso era real, minha alfa estava aqui, em meus braços. Ela voltou para mim, como acreditei que faria. Eu a amava e por algum motivo, nem que eu soubesse todas as línguas do mundo, conseguiria colocar em palavras tudo que eu sentia por aquela alfa.

- Eu sou completamente apaixonada por você. – Falei, olhando em seus olhos. – Eu amo quem você é, amo tudo que faz por mim e por Nathan. Eu fiquei angustiada... – Ela sorriu fraco, passando as costas dos dedos em meu rosto até o queixo. – Porque me dei conta de que não conseguiria ficar sem você. Eu... – Prendi o choro. – Eu não quero ficar em um mundo que você não esteja.

- Você nunca vai me perder, boneca. – Eu sabia que ela estava tentando me fazer sorrir com aquele apelido ridículo e conseguiu. – Estou aqui, para você e para Nathan.

- Sim, você está. – Sorri em meio as lágrimas, levando as minhas mãos no rosto perfeito dela. Ela tinha pontos sobre a sobrancelha e um leve machucado no lábio, bem embaixo do piercing.

- Um dia você me fez uma pergunta e eu disse que não poderia te dar uma resposta. – Franzi o cenho, sem me lembrar. – Eu disse que não podia te pedir para preparar a vida, mas sim um dia de cada vez.

- Ah sim! – Recordei. - Eu me lembro disso. – Ela encostou sua testa da minha e suas mãos desceram para a minha cintura.

 - Pode preparar a vida, porque você vai passar o resto dela comigo.

- Ah, que sacrifício! –  Brinquei, antes de atacar sua boca com mais beijos. – Eu te amo tanto! Tanto! Tanto!

Ela sorria em meio aos beijos, retribuindo todos com carinho. Não soube dizer quando meu corpo começou a responder de outra forma àqueles toques, mas as coisas passaram a ficar sérias. Os beijos se tornaram urgentes e as mãos ousadas da alfa já estavam praticamente em minha bunda.

- Amor... Estamos em público... – Falei ofegando, enquanto seus lábios macios passavam por meu pescoço.

- Desde quando liga para isso? – O chupão que deu em meu ponto de pulso foi o suficiente pra deixar o local entre minhas pernas um pouco molhado.

- Lauren... – Minhas mãos agarraram sua nuca. – Estamos sob a luz do dia... no meio... da praia...

- Pois eu adoraria te foder aqui e agora.

Minhas paredes internas se fecharam contra o nada, provocando uma dor de excitação. Eu amava quando Lauren falava assim.

- Temos um quarto de hotel para isso... – A fiz levantar a cabeça e parar de beijar meu decote e pescoço. Seus olhos estavam verde escuro e a pupila bem dilatada.

- Nate está lá. – Tirou as mãos de minha bunda e abraçou-me. – Falei com Jasper e ele me disse que estava aqui. E Jared está no quiosque, de olho em você.

Revirei os olhos, eu sequer notei que um dos seguranças estava comigo. Obvio que eles não iram me deixar sozinha.

- Então a gente pega outro quarto. – Falei perto de seu ouvido. – E aí, eu deixo você me comer em todas as posições que quiser. – Mordi levemente sua orelha.

- Não vai querer mandar? – Provocou, devolvendo a mordida em meu lábio inferior.

- Não... – Sussurrei contra sua boca. – Considere isso uma recompensa por ter voltado. Terá sua ômega completamente submissa.

Lauren me acompanhou até o local que eu tinha deixado meus tênis e voltamos rapidamente para o hotel, onde com apenas seu sobrenome, minha alfa conseguiu outro quarto para nós. Agora que ela estava comigo, Jared voltou para fazer a segurança do filhote e amanhã de tarde ambos já iriam embora.

As roupas sumiram de meu corpo com facilidade, antes de nós entrarmos no chuveiro para tirar a areia e no meu caso, o suor do corpo. Suas mãos firmes tinham machucados nos punhos e eram macias ao passar sabonete por cada parte da pele e quando foi a minha vez de fazer com ela, percebi vários hematomas que não doíam ao toque, mas que estavam lá. Não fiz perguntas, não precisava. Ela me contaria.

A água quente do chuveiro vinha de vários lados e em diferentes direções, Lauren tinha os cabelos molhados espalhados por seus ombros, sexy e linda. Deslizei minhas mãos para seus seios, segurando-os com firmeza e massageando-os, enquanto minha mulher deslizava seu membro duro entre minhas pernas, deixando-me louca de excitação. Apesar da urgência que nossos corpos sentiam, mantemos tudo devagar.

Levei meu toque até sem membro, deslizando minha mão por todo seu comprimento enquanto a ouvia ofegar. Sorri com o gemido que escapou de seus lábios quando apertei de leve a glande, antes de voltar a deslizar. Um jato de água caía bem na minha nuca e ombros, fazendo uma massagem gostosa e deixando o ambiente mais excitante.

- Esse seu piercing me deixa louca de tesão. – Falou ofegante, com os olhos fixos em meu seio. – Vem cá.

Passou as mãos por trás de minhas coxas e me pegou no colo, fazendo-me envolver sua cintura com as minhas pernas. Soltei um sonoro gemido quando sua língua tocou meu mamilo, antes de seus lábios suga-lo com volúpia.

Minhas mãos foram para seus cabelos molhados, a água agora pegava na parte baixa das minhas costas, massageando os pontos certos. Céus, como é bom sexo com massagem! Eu poderia passar o dia todo transando naquele box.

Sua boca exigia meus seios de forma faminta, chupando-os com força, marcando minha pele ao redor deles. Minhas unhas desceram por sua nuca, arranhando pescoço e ombros. Se tinha algo que me deixava molhada, eram as tatuagens que cobriam todo os seus braços fortes e definidos.

Lauren é tão forte. Conseguia me sustentar com firmeza naquela posição, enquanto eu deixava seus dentes e lábios marcarem os locais que queriam. Isso estava fazendo minha boceta doer mais, implorando para que ela a fodesse.

- Me fode... – Pedi, segurando em seus bíceps e inclinando meus seios em seu rosto. – Me fode, amor...

- Está implorando, Cabello? – Arqueou uma sobrancelha. A água escorreu por seus olhos verdes que brilhavam em desejo, até chegar em seu queixo, porra, sexy pra caralho.

- Estou. – Falei, sem vontade de provocar, totalmente submissa. – Me fode bem gostoso...

A dor estava tão insuportável que rebolei em seu colo, esfregando meu clitóris em seu púbis, logo acima de o membro duro que eu tanto queria dentro de mim. Lauren me levantou rápido o suficiente para enfiar seu pau com força dentro da minha boceta.

Sem me importar com mais nada, soltei um alto gemido quando ela atingiu bem fundo. Com um braço, ela envolveu minha cintura, colando ainda mais nossos corpos e o tapa forte em minha bunda fez um barulho alto. Ela desceu a mão em mim três vezes e depois mudou para o outro lado, enquanto eu gritava de prazer.

Os jatos de água batiam em minhas costas me massageando, enquanto ela tratava de me massagear por dentro, atingindo o lugar certo. Eu soltava os mais altos gemidos, que se sobrepunham totalmente aos dela.

Minha alfa me colocou contra a parede, ficando no lugar que eu estava e eu sabia exatamente a sensação que ela tinha tendo a água batendo em toda a suas costas. Ergui minhas mãos para me segurar na grade da janela e vi seu sorriso cafajeste se formar em seus lábios.

Seus braços agarraram a minha cintura quando sua boca caiu direito em meu mamilo, a língua brincava com o piercing e seu pau entrava, fazendo nossos corpos colidirem e fazer aquele som característico do sexo.

A água percorria nossos corpos, mas não era o líquido quente que nos esquentava. A temperatura vinha do calor que nós passávamos de uma para outra. Sua presença ficava mais marcante enquanto ela me possuía, eu era dela. Só dela.

Aquele aperto forte ao redor do meu corpo, a boca quente me chupando e marcando, somado ao entra e sai rápido e forte de seu membro, fez minha boceta apertá-la dentro de mim. Eu estava quase gozando, quase lá...

Lauren percebeu e começou a investir mais forte, girando um pouco o quadril para que seu pau atingisse o ponto certo repetidas vezes. Meu corpo rebolava desesperado para chegar ao clímax, até meus gemidos ofegantes ficaram mais baixos porque eu mal respirava com orgasmo tão próximo.

Ela meteu forte, fundo, ao mesmo tempo que sua boca chupou meu seio para dentro e eu gozei. Minha cabeça pendeu contra a parede e o teto pareceu mover-se em minha visão nublada. Meu corpo tremeu com espasmos tão aleatórios que tive que me esforçar para não soltar a grade da janela.

E acredito que gozei novamente quando ela entrou mais duas vezes e gozou dentro de mim, para depois apoiar sua testa entre meus seios. Devagar, me colocou no chão sem soltar minha cintura, com receio de que eu caísse. E que bom que teve esse cuidado, porque minhas pernas estavam tremendo e fracas pelo esforço.  

A falta de ar nas duas não nos impediu do beijo apaixonado que trocamos, sua língua passou pela minha quando nossas bocas começaram a se devorar. Desci as unhas por toda a extensão de suas costas, até chegar em sua bunda que eu fiz questão de apertar e dar um tapa firme.

Nem parecia que havíamos acabado de ter um orgasmo. Terminamos de nos lavar e assim que saímos, secamos rapidamente nossos corpos e cabelos. Mal tínhamos saído do banheiro, eu já estava jogando-a na cama.

- Não seria submissa? – Provocou, me vendo sentar sobre seu membro.

- Cala a boca. – Sorri e rebolei, antes de ficar em suas coxas grossas e pegar seu pau.

Levei a glande até meu clitóris e passei a subir e descer por sua extensão, deslizando meu feixe de nervos por ali. A alfa tinha as mãos em minhas coxas, apenas vendo eu me masturbar com seu corpo. Minha boceta já estava ficando molhada novamente e seu membro já mostrava o pré gozo.

Os olhos famintos dela devoravam meu corpo e se fixavam no local onde nossas intimidades deslizavam. Eu já tinha a lubrificado só com o líquido que saía de mim. Este era o tipo de provocação que eu gostava.

- Esse é muito bonito. – Levou o dedo ao meu piercing. – Confesso que só agora estou de fato, realmente, prestando atenção nele. - Era um coraçãozinho, que ficava envolta do mamilo.

- Quer dizer que no banho você o viu, mas não o notou? – Demonstrei minha confusão, fazendo-a rir.

- Exatamente. – Riu, arranhando de leve minha pele. - Eu estava direcionando minha atenção para algo mais urgente.

- Certo.

Parei com o que estava fazendo e levei minha boca até seu pescoço, deixando um beijo na pele branca. Ela era tão cheirosa! Desci delicadamente os lábios até o vale entre seus seios, deixando um beijo molhado ali.

Ela tinha os verdes concentrados em meus movimentos e eu me aproveitei disso. Com a ponta da língua, toquei seu mamilo e o circulei, vendo-a deixar escapar um fraco gemido.

- Você poderia colocar. – Falei, antes de soprar o local. – Ficaria sexy em você também.

- E-eu, Ah... – Gemeu quando suguei seu seio para dentro de minha boca. – Eu prefiro em você.

- Okay. – Balancei a cabeça, mudando para o outro lado.

Prendi seu mamilo entre os dentes e levemente o suguei, antes de dar uma fraca mordida. Circulei com a minha língua e distribuí beijos molhados na região, antes de voltar a chupar com força.

- Porra... – Falou baixinho, segurando meus cabelos para que esses não nos atrapalhassem.

Com a ponta da língua, fiz todo o caminho até seu umbigo e só então, beijando até sua virilha. Não perdi mais tempo e segurei seu membro, colocando a boca na glande e chupando com vontade, foi o suficiente para a alfa gemer alto de prazer.

Desci por todo seu comprimento o máximo que consegui, continuando o movimento com a mão. Suas mãos apertaram meus cabelos e me forçaram para baixo, simplesmente relaxei a garganta e a segui, deixando-a sentir prazer com minha boca.

Quando subi outra vez, brinquei com minha língua em sua glande, fazendo questão de olhar em seus olhos que estavam quase pretos. Lambi toda sua extensão, até chegar em suas bolas que eu levei a boca uma de cada vez.

- Camila...

Foi quando tive a ideia de arranhar sua barriga e descer novamente minha boca em seu membro, fazendo-a se contorcer e flexionar as pernas. Aproveitei para arranhar suas coxas gostosas, sem parar de chupá-la e claro, sem que meus olhos deixassem os seus.

- Vou gozar na sua boca... Se não parar... – Seu peito subia e descia, tão ofegante que sua voz era falha.

- Quer isso? – Perguntei e voltei a enfiá-la até a garganta.

- Puta que pariu... – A ouvi sussurrar.

- Quer? – Repeti a pergunta, batendo sua glande contra minha língua.

- Quero gozar na sua boceta. – Falou firme, com sua voz de alfa. – Fica de quatro.

Ela mal deu tempo para que eu tivesse alguma reação, já erguendo o corpo e envolvendo minha cintura. Quando dei por mim, já estava de joelhos com o peito encostado no colchão, completamente empinada para ela.

A alfa deslizou seu membro sobre meu clitóris, sabendo que aquele tipo de provocação me deixava louca. Minhas mãos agarraram o lençol, puxando o tecido até os travesseiros caírem. O primeiro tapa veio forte, com certeza eu ficaria com a pele marcada.

- Sua bunda é perfeita! – Falou, antes de bater novamente. – Vou te foder do jeito que você gosta.

E era isso mesmo que eu queria, que ela acabasse comigo. Sua mão puxou meu cabelo para trás, obrigando-me a ficar apoiada nos cotovelos e curvar ainda mais a coluna. Seus dedos que seguravam minha cintura cravaram as unhas curtas em minha pele quando ela entrou dolorosamente devagar.

Sem aguentar mais esperar, rebolei em seu membro quando o mesmo já estava inteiramente enfiada em mim. Era tão bom tê-la dentro que a segurei por mais um tempo com minha boceta, para só então permitir o entra e sai de seu pau.

Lauren era grande e tão dura, que eu gemia a cada investida. Meu pescoço já doía pelo tempo em que eu estava com a cabeça para trás, mas a sensação de ser dominada era o que me excitava.

Sua mão puxava os fios em minha cabeça cada vez que nossos corpos se encontravam e minha cintura provavelmente ficaria roxa com a força que seus dedos faziam para me segurar. E tudo isso só me fazia gemer e querer mais.

Soltei meu corpo no colchão quando ela finalmente soltou meu cabelo e mordi o lençol quando suas mãos seguraram minha cintura e puxaram contra seu membro. Minha alfa passou a entrar com força e rapidez, dando alguns tapas de incentivo em minha bunda.

E eu gemia mais alto e jogava meu corpo para trás, buscando seu pau.

– Vem aqui me dar um beijo, vem. – Senti quando seus dedos tocaram meus seios e levantei o corpo, sentindo os dela em minhas costas.

Lauren sentou em seus joelhos quando minha boca encontrou a dela e eu passei a rebolar em seu colo, sentindo-a dentro de mim atingindo os locais certos. Minha mulher apertou meus peitos com força quando passei a sentar rápido.

Eu precisava gozar e sentia que ela não iria conseguir se segurar por mais tempo também. Aumentei meus movimentos, ignorando o cansaço em minhas pernas, pois não iria parar até chegar ao orgasmo.

Seu toque deslizava por todo meu corpo, minha pele queimava com a sensação de sua pele na minha. Senti quando a ponta de seus dedos apertou e girou meu mamilo no exato momento em que meu clitóris foi pressionado com movimentos circulares.

- Lauren! – Falei baixo, sentindo sua boca chupar meu pescoço. – Eu...

- Vem, amor. – Sussurrou em meu ouvido. – Goze para mim.

Sua voz de alfa sexy e baixa foi o suficiente para me desfazer em seus braços, nós gozamos juntas e aquele sentimento delicioso de relaxamento passou por nós duas. Joguei-me conta o colchão macio, sentindo minhas pernas ainda sofrerem espasmos.

Cuidadosamente, ela distribuiu beijos por toda as minhas costas, até chegar em minha orelha e dar uma leve mordida. Levou suas mãos até meus ombros e iniciou uma massagem relaxante ali e em minha nuca.

- Te machuquei quando fiquei puxando seu cabelo, não é? – Questionou.

- Acho que sim... – Sussurrei. – Mas estava mais interessada no seu pau dentro de mim.

- Safada. – Soltou uma risadinha.

- Isso é tão bom! – Exclamei quando suas mãos firmes apertaram meus ombros, os polegares fazendo movimentos circulares relaxando meus músculos.

Depois de mais algum tempo em silêncio, ela terminou a massagem e se deitou ao meu lado. Mal havia se acomodado, eu já estava em cima dela novamente, minha atitude a fez gargalhar. Eu amava o som daquela risada.

- De novo? – Arqueou uma sobrancelha, vendo-me rebolar em seu colo. Era gostoso sentir seu pau endurecendo embaixo de mim.

- Está cansada, Jauregui? – Desafiei. - LAUREN! – Gritei antes de rir quando ela, em um movimento rápido, inverteu nossas posições e ficou sobre mim. – Eu amo você.

- E eu amo transar com você. – Sorriu, me fazendo rir mais de sua careta. – Linda. – Deixou um beijinho na ponta de meu nariz. – Eu te amo.

Nosso beijo foi apaixonado, mas sem todo aquele fogo de antes. Ficamos um tempo assim, perdidas uma na outra, apenas namorando e dizendo o quanto nos amávamos. Deslizei meu pé por sua perna que estava entrelaçada com a minha, enquanto minhas mãos acariciavam suas costas e seus cabelos.

Era bom sentir a mistura refrescante de nossos cheiros, ela beijava meu pescoço, eu beijava seu rosto e nossos olhos se encontravam o tempo inteiro. Nada era capaz de aplacar a intensidade que seus verdes tinham, me puxando cada vez mais para dentro deles.

As pontas de seus dedos correram de meu queixo, passando por meu pescoço, entre meus seios e quando chegou em minha barriga, senti todos meus pelos se arrepiarem. A pele de sua mão passou por meu quadril até chegar na coxa, que ela segurou e ergueu, colocando seu corpo entre minhas pernas.

Sorri para minha mulher que logo passou a ponta de seu nariz sobre o meu, deixando-me beijá-la em seguida. O peso de seu corpo e seu membro duro resvalando meu clitóris voltou a despertar todo aquele desejo.

Adentrou com calma e cuidado, dolorosamente devagar, sem parar de me beijar. Nossas bocas sorriam e permitiam o contato entre as línguas que se enroscavam e deslizavam uma sobre a outra. Nada era mais saboroso do que o sorriso de seus lábios nos meus.

- Ah, Lauren... – Gemi baixinho, só para ela com os movimentos de nossos corpos.

Seus beijos molhados desceram para meu pescoço. Sua mão direita ainda segurava minha coxa, apertando e alisando o local, enquanto a esquerda sustentava uma parte de seu peso. Apenas aproveitei as sensações que minha alfa despertava em mim, a deixei me amar e a amei.

Meu toque apertava seus ombros, acariciava suas costas até chegar em sua bunda, onde apertei com força e puxei mais contra mim. Ela foi tão fundo e foi tão bom, que passei minhas pernas em seu quadril, enroscando meus pés e a prendendo dentro de mim.

Sua pele quente aquecia meu corpo e a cada vez que eu a tocava, a amava mais. Uma necessidade insaciável de tê-la mais perto, simplesmente não conseguia parar de puxa-la, de querê-la. Lauren era um doce e viciante veneno.

Nossos movimentos ficaram mais urgentes. Os toques, mais ousados e os beijos, descontroladamente apaixonados. Os lençóis da cama foram puxados por nossas mãos e empurrados por nossos pés, os travesseiros que sobraram, rolaram para o chão ao disputarem espaço com nossos corpos.

Tudo que ouvíamos era nossa própria respiração e os gemidos baixos que deixávamos escapar. Os olhos dela passaram de verdes para pretos e o sentimento que senti foi tão forte, tão arrebatador, que soube que meu Omega estava no controle.

Nós nos tocávamos, ela me penetrava e os cheiros eram absorvidos por nossas vias respiratórias. Eu respirava Lauren e era somente a minha alfa que corria em minhas veias. Meus lábios beijaram seu pescoço, seu ombro e cobriu seus gemidos com um beijo ardente.

Chegamos ao clímax juntas, nos amando intensamente. Outros beijos vieram, outras trocas de olhares, mas todos com o mesmo significado.

Amor. Muito amor.

[...]

- Eu evito ficar pensando. – Sua voz saiu baixa e afetada. – Dói lembrar... Só quero ocupar minha cabeça para não ter essas memórias voltando.

- Entendo, meu amor. – Acariciei sua barriga, fazendo pequenos círculos com o dedo. – O que disseram no hospital?

- Eu passei por inúmeros médicos. Não sinto dores pelas pancadas, mas preciso continuar a medicação pelo resto da semana.  – Continuou a falar, soltando um suspiro. – Terei que iniciar acompanhamento psicológico quando voltar para Las Vegas, por tempo indeterminado.

- Isso é bom. – Respondi, apoiando meu queixo em seu ombro, buscando olhar em seus olhos. – Foram cenas fortes, amor. Você saiu com traumas, é importante tratar da mente.

- Sim... – Ela respondeu, sem me fitar. – Eu não consegui pegar o corpo de Jace. E nada tira da minha cabeça que eu poderia ter salvo Victoria... mas não consigo me lembrar do que aconteceu...

- Amor, vamos parar por aqui, okay? – Dessa vez me apoiei em meus cotovelos, tendo sua atenção para mim. – Você não tem culpa, sequer se lembra do que aconteceu depois que sucumbiu. Seu Alpha Interior estava desesperado. E eu não duvido que Victoria teria feito o mesmo se estivesse no seu lugar.

- Sim, mas sei que eles ficaram para trás. – Seus olhos se encheram de lágrimas. – Nathan não vai enterrar o próprio pai. E Jace merecia um enterro digno, mas o fogo o consumiu totalmente.

Beijei seus olhos, secando as gotículas com meus lábios. Minha alfa estava acabada e ainda um pouco assustada com tudo. Não deixaria que ela se perdesse nesse mar confuso que são nossas emoções. Lauren podia contar comigo para tudo, principalmente para ajudá-la a ficar bem novamente.

- Nathan não compareceria ao enterro de Jace, ainda que tivesse o corpo. – Respondi, eu conhecia muito bem a criança que havia criado. – Primeiro que não é uma lembrança que ele quer ter e segundo, nosso filho acredita em Star Wars. Para ele, corpo é apenas matéria. Nate não vê sentido em velórios, ele acredita que a morte é uma passagem que deve ser celebrada ao invés de sofrida.

Senti seus sentimentos relaxarem um pouco ao me ouvir. Sei o quanto nossa mente pode ser cruel, saber que a mesma passaria por ajuda psicológica deixou-me tranquila. Ela queria voltar a se sentir bem e eu sabia que a alfa era determinada o suficiente para conseguir se curar dessas feridas. Tinha total confiança no seu potencial e me apaixonei uma vez mais ao ver o quão forte ela é.

- Machine, Victoria, Chad... – Ela negou com a cabeça. – Perdi pessoas importantes...

- Quando será o velório de Chad?

- Não terá. – Respondeu. – Ele queria ser cremado e ter suas cinzas soltas ao vento. Eu fiz isso antes de vir para cá.

Assenti, voltando a me aconchegar em seu pescoço e sua mão macia começou a acariciar meus cabelos. Eu conseguia sentir o quanto ela estava triste com os acontecimentos e o quanto se culpava por tudo. A terapia realmente a faria bem.

- O que aconteceu com Caleb e Austin?

- Cal chegou em terceiro lugar, acredita? Não duvido que volte a participar. – Arregalei os olhos e ela soltou uma fraca risadinha, negando com a cabeça. – Austin quebrou a perna, mas está bem. Sabe, eu fico pensando na família da Vic.

Um sentimento ruim passou por mim, pois eu sabia muito bem o que a ômega daquela alfa estava sentindo neste momento. Imagino e sinto muito pela dor dela, sei que a mesma não perdeu apenas sua companheira de alma, perdeu parte de si.

- Espero que elas fiquem bem. – Laur falou. – Se eu soubesse onde estão, iria atrás. Ajuda-las da mesma forma que Vic te ajudou. Mas aquela fodida as escondeu muito bem, tenho certeza.

- Bom, pode pedir para seu pai procurar saber, ele tem recursos. – Dei a ideia. – Não custa tentar.

Sua sobrancelha arqueou, deixando-me perceber que concordava comigo. Se encontrar essa família a faria se sentir melhor, então eu espero que ela tenha sucesso nisso.

- Exatamente, farei isso. – Soltou um grande suspiro, antes de virar a cabeça pra beijar minha testa. – Será que o alfinha já acordou?

- Ah, mas sem dúvidas. E deve ter ficado muito satisfeito por saber que saí, assim ele pode comer todas as porcarias do mundo. – Falei revirando os olhos e olhando o relógio sobre o pequeno móvel ao lado da cama, 10h07. – Não sabe o que ele aprontou ontem.

- O que ele fez? – Ela sorriu largo, com os verdes agora mais felizes.

- Compras. – Minha alfa gargalhou, enquanto eu me levantava para recolher a bagunça do chão. – Comprou pijamas para nós, da DC. Acredita que ele comprou um da Supergirl só porque ficou apaixonado por ela? – Lauren riu ainda mais ao ouvir isso. – Aí, para não se sentir ridículo, comprou um da mulher maravilha para mim e um da batwoman para você.

– Mas espera... A Supergirl não é alfa?

- Sim. Mas deixe-o descobrir isso. – Pisquei, fazendo-a sorrir e colocando o lençol sobre a cama.

- Ele foi gentil em comprar pijamas para nós.

- Ele foi esperto, isso sim. Comprou roupas novas e comeu tudo que queria. Enrolou muito bem os dois seguranças, que passaram o cartão para todas as suas vontades. – Bufei, não podia deixar aquele garoto sem minha supervisão de jeito nenhum. – E eu ainda fui me encontrar com ele para tomar café da manhã e não vi nenhuma sacola, sabe por quê? Porque o espertinho pediu para que Jared as subisse e deixasse em seu quarto.  

- Céus, ele pensa em tudo! – Lauren gargalhou ainda mais, orgulhosa ao invés de indignada.

– E ainda telefonou para o SEU PAI! – Joguei dois travesseiros em sua cara. – E o convenceu a leva-lo no jogo do Golden Knights na sexta, contra os Panthers.

- Nossa! – Ajoelhou-se na cama. – E falando nisso, quanto foi o jogo de ontem? Era contra os Leafs né?

- Sério? Eu acabo de falar que teu filho enrolou três adultos e você quer saber o resultado do jogo?

- Uh... Não quer que ele vá? – Ela levantou-se, indo até o banheiro pegar roupões.  

- Eu decidi não me opor, afinal passaremos a semana aqui pois seria bom termos uma folga. – Respondi, vestindo o roupão que ela havia trazido. – Mas não falei isso para ele. Disse que iríamos esperar você chegar. Ele precisa saber que não pode passar por cima de nós e buscar apoio no avô. E já vou deixando claro que não podemos permitir que Michael e Clara interfiram na educação que nós vamos dar ao Nate.

- Ah, com certeza. -  Ela falou, amarrando o cordão do tecido branco macio ao redor da cintura. – Meu pai criou um rink de hóquei na casa deles.

- Como? – Não pude deixar de achar absurda aquela informação.

- E ainda vai investir na NHL. A Jauregui Motors será uma das patrocinadoras.

- Nossa... Eu nem sei o que dizer...

- Fiquei com receio dele facilitar a entrada de Nathan, caso Nate chegue nos drafts. – Soltou um suspiro e coçou a cabeça. – Não consegui falar com ele com calma... Eu tentei pensar naquilo que conversamos, sobre aceitar a forma que ele foi criado e entender o ponto de vista dele. Mas falhei. Miseravelmente.

Não pude deixar de rir, antes de andar até minha mulher e envolver seu pescoço com meus braços.

- Tudo bem, só de você ter pensado no que falamos já é algo. – Beijei rapidamente seus lábios. – E eu fico feliz que tenha se imposto como alfa de Nathan, nosso filho ficaria chateado se soubesse que só entrou na liga porque teve ajuda.

- Sim. – Sorriu, abraçando-me com força. – Agora, podemos ir ver nosso filho? Estou morrendo de saudades. E eu tenho que entregar o violão de Jace para ele.

- Você trouxe?

- Está no quarto já... Passei em casa antes de vir, sabia que ele tinha deixado o instrumento lá... – Olhou para o chão, suspirando. – Queria que Nate pudesse ter algo dele agora...

- Você é maravilhosa. – Sussurrei, antes de beijá-la novamente.

Não demoramos para chegar até o quarto e recebermos a notícia de que Nathan estava na piscina, sendo escoltado por Jasper. Eu sequer havia pensado em biquinis, então Lauren me levou para comprarmos roupas de banho e só após isso, finalmente chegamos à área aquática. 

Era enorme e estava bem frequentado, várias crianças corriam com pistolas de água e adultos socializavam no bar. Havia, claro, pessoas tomando sol e jovens sentados perto da piscina, em uma roda de conversa.

Fomos andando de mãos dadas e eu não deixei de notar os olhares de ômegas para cima de Lauren. Sorri satisfeita por saber que aquela mulher estava comigo e abracei sua cintura, colocando seu braço sobre meus ombros e ganhando um beijo nos lábios.

A alfa estava sexy com o shorts curtinho e justo que marcava sua bunda e a parte de cima levantava seus seios, deixando-os maiores, ambas as peças azuis marinhos com detalhes preto e azul claro. Muito gostosa. Muito gostosa mesmo. E os óculos de sol só aumentavam seu charme.

Já eu, usava um biquini amarelo de estampa floral, com uma canga de praia preta cheia de furinhos amarrada em minha cintura, que deixava uma de minhas pernas a mostra. À medida que andávamos, as pessoas olhavam.

Lauren estava um pouco irritada com os alfas, achei fofo a forma que ela ainda sentia ciúmes, mesmo sabendo que não tinha motivos. Uma vez que esses olhares eram só por minha beleza e não atração. Nós tínhamos nosso cheiro interligados, nenhum dos olhares eram de cobiça.

- Isso que dá ser linda demais. – Falou baixinho, contrariada.

- Olha quem está falando. – Dei risada de seu olhar confuso. – Você está recebendo mais olhares do que eu, meu amor.

Parei em sua frente, cruzando os braços e desafiando-a a continuar essa discussão.

- Eu não estou.

- Ah, está sim. Mas está tão ocupada em olhar para os outros alfas que não reparou nos olhares dos ômegas. – Chegou a abrir a boca para falar, mas eu continuei. – E não percebeu que já passamos por Nathan.

Apontei discretamente para o pequeno que estava na água com um garoto loiro, brincando de alguma coisa do outro lado da piscina. Ele usava uma bermuda de banho azul clara com desenhos de peixes em branco.

- Pare com esse ciúme bobo. – Beijei a ponta de seu nariz. – Eu quem deveria estar espumando de ciúmes.

- Você? – Foi a sua vez de cruzar os braços, cética. – E por quê?

- Qual hospital você ficou internada, mesmo?

Ela soltou a respiração e ergueu a cabeça, antes de abaixar e fitar o chão com as mãos apoiadas na cintura. Lauren sabia exatamente em qual ponto eu queria chegar. E não pude deixar de ficar um pouco incomodada com sua reação.

- Ela foi cuidar de você, não é? – Fiz questão de ser bem irônica.

- Camila...

- Nem vem com “Camila”. – Rebati. – Ela foi te ver, não é?

- Sim, ela foi.

- E?

- E nada, não aconteceu nada.

Não precisei fazer nada além de olhá-la. A alfa negou com a cabeça e começou a contar que por conta dos medicamentos, seu cheiro estava totalmente inibido e que por isso, a enfermeira não acreditou que Laur estivesse unida a mim. Só parou de insistir quando o efeito dos inibidores passou, ou seja, minutos antes dela receber alta.

Como nossa ligação era recente e tudo aquilo estava acontecendo, nós não tivemos tempo de oficializar nossa união perante a lei e comunicar o governo dos EUA que havíamos encontrado nosso par. Portanto, a ficha oficial de Lauren – assim como a minha - ainda a mostrava como “única” ao invés de “unida”.

- Então ela deu em cima de você, certo?

- Camz... Amor...

- Certo?

- Sim. – Falou, derrotada.

- Hm. – Aproximei meu corpo do dela, segurando em seu rosto com minha mão, puxando-a para bem perto. – Vai ter que me foder o dobro para compensar isso.

Nem esperei sua resposta, a deixei ali surpresa com a minha fala e atravessei a ponte curva que cruzava a imensa piscina, até onde Nathan estava. O filhote pulava na água e nadava até a borda novamente, enquanto Jasper ficava sentado no bar, sem tirar os olhos dele.

- Tagarela! – Lauren gritou atrás de mim.

- MOMMY! – Ele gritou em resposta, saindo da piscina rapidamente. – MOMMY! VOCÊ CHEGOU! VOCÊ CHEGOU!

E assim como eu fiz mais cedo, ele pulou no colo da alfa, enchendo seu rosto de beijos e teve todo o carinho retribuído. Laur não se importou nem um pouco do pequeno estar encharcado, abraçou o filho com força e eu fui capaz de sentir a alegria e felicidade dos dois. Ela o beijou várias vezes e repetiu inúmeras vezes o quanto o amava.

- Eu também te amo, Laur. – Ele respondeu, com aquele sorriso lindo. – Senti sua falta! Nós vamos para a Disney! Vamos no parque do Star Wars! E você precisa dizer para a mamãe que será muito legal se a gente foi assistir ao jogo do Vegas na sexta!

- Ah, eu preciso dizer? – Ela sorriu, arqueando uma sobrancelha.

- Sim. – Cochichou no ouvido dela, como se eu não pudesse ouvi-lo. – Aproveita que ela está feliz!

[...]

Era cinco e meia da tarde quando o carro parou a cem metros de distância da casa dos meus pais. Assim que Lauren reencontrou Nathan, deixei que eles curtissem a companhia um do outro antes de falar para ela o que queria fazer esta tarde.

Descemos do veículo, deixando os seguranças ali dentro e fomos caminhando juntos. Nate estava tranquilo, pulando as linhas que dividiam a calçada com seus vans batendo contra o chão. Já a minha alfa, segurava com firmeza em minha mão, sabendo que eu estava muito ansiosa e com medo.

Respirei fundo, tentando inutilmente controlar as batidas do meu coração que a cada passo se tornavam mais aceleradas. Lauren demonstrava toda a tranquilidade que eu não conseguia ter e com certeza era somente por isso que eu não tinha surtado ainda.

O bairro não havia mudado, algumas casas tinham apenas retocado suas pinturas e outras tinham a placa “vende-se”. Mas eu ainda conseguia me ver criança, correndo descalça por aquelas calçadas, procurando algum lugar para me esconder durante a brincadeira.

A sensação era diferente. Um misto de familiaridade com... estranheza? Eu não sei descrever. Dei-me conta do quanto eu havia mudado, do quanto minha vida havia mudado, quando entrei neste local que não mudou nada.

- Essa é a casa do vovô e da vovó? – O alfinha perguntou quando eu parei de frente para o pequeno portão branco.

- Sim.

Absolutamente nada havia mudado, apenas as cores estavam mais vivas. O cercado de metal preto de um metro ainda estava em excelentes condições, como se tivesse sido pintado recentemente. Ele delimitava os limites da propriedade e em seus pés, várias plantas cresciam e enrolavam nas hastes.

O verde do gramado era intenso e todo o jardim estava bem cuidado e aparado. Os mesmos personagens de porcelana da Disney – agora um pouco desbotados – enfeitavam o local, perto das flores e de um pequeno chafariz.

A casa amarelo-clara se erguia em toda a sua modéstia, não era muito alta, mas com certeza era linda. Lembro-me do quanto era aconchegante e organizada por dentro, suspeito que isso também não havia mudado.

Puxei a trava de bronze do pequeno portão e o abri, ele não fez o barulho de ferrugem como antes e eu fiquei aliviada por isso. Minha mulher e filho vieram logo atrás, seguindo os caminhos de pedras que Nate saltitava de uma para outra.

Notei uma pelagem preta na varanda, embaixo da janela. Isso fez com que eu parasse no mesmo instante. Puxei Nathan para atrás de mim no momento em que o cachorro levantou a cabeça. O focinho agora estava branquinho por conta da velhice, mas eu reconheceria aquele encrenqueiro em qualquer lugar do mundo.

- Thunder. – Chamei, não muito alto, mas o suficiente para ele me ouvir.

Suas orelhas se moveram e ele pendeu a cabeça para o lado. Sem a agilidade de antes, ergueu seu corpo e caminhou até a ponta da escada, decidindo se descia os degraus ou não. Seus olhos ainda me fitavam e era fofo como ele virava cabeça ia de um lado para o outro, franzindo a testa e tentando me reconhecer.

- Thun, sou eu... Camila... – Dei mais alguns passos à frente.

- Amor, cuidado. Ele pode não se lembrar de você. – As palavras de Lauren eram verdadeiras, mas doeu um pouco pensar que o filhote que por dois anos dormiu comigo todas as noites e me seguiu para todos os lados, pudesse não se recordar de mim.

- Hey, my baby direwolf... – Eu costumava chama-lo assim, naquela época eu era apaixonada por Game Of Thrones e ele era o meu lobo gigante.

Seu latido alto assustou a nós três e quando dei por mim, o cão já estava pulando contra meu corpo. Thunder era grande e nem preciso dizer que suas patas imensas nos meus ombros fizeram com que minhas costas fossem ao chão.

Por sorte eu fui rápida o suficiente e joguei o peso sobre a perna direita para cair na grama, do contrário acabaria caindo em cima de Nate, que estava atrás de mim. O cachorro latia e lambia meu rosto, causando-me uma gargalhada alta e um pouco de lágrimas nos olhos, ele sabia quem eu era.

- Precisa de ajuda, mamãe?

- N... - Mais uma lambida no rosto. – Não. – Thun chorava alto, latia e não parava com as lambidas em minha cara, seu rabo balançava freneticamente. – Não preciso, filho. THUNDER!!!! – Gritei ao ver meu vestido rosa floral um pouco molhado de xixi de cachorro. – Olha só o que você fez!

Nathan caiu na gargalhada ao ver minha roupa, chamando a atenção do canino que pulou com força sobre ele, o jogando no chão. Lauren e eu nos desesperamos, até ouvir a risada do pequeno que agora já agarrava o pescoço peludo e afagava com entusiasmo a pelagem escura. Não me importei com o fato dele estar usando uma bermuda jeans clara e uma camiseta da adidas branca, ele voltaria todo sujo para o hotel.

- Alguém ficou muito feliz em te ver. – Ela comentou, estendendo a mão para que eu me levantasse.

Lauren era a única que ainda estava impecável, usando uma calça jeans preta justa e uma regata com rasgos nas costas bem solta. Tinha apenas uma frase que dizia “Let’s do that hockey” e seu vans de cano alto continha desenhos de Star Wars, igual ao de Nate.

- Sim, e-

E mais uma vez eu fui ao chão, dessa vez caindo de lado e protegendo a cabeça, pois o focinho ofegante fazia cócegas em minha orelha enquanto ele farejava meu cabelo. Senti suas patas em minhas costas e logo sua cabeça voltou a tentar enfiar-se entre meu pescoço e meu braço, deixando mais algumas lambidas em minha pele.

- Thunder! – Nate chamou e ele voltou a perseguir meu filho.

- Okay, a próxima eu tento entrar na sua frente. – Lauren falou, rindo de minha situação.

- Ah, que bela alfa você. – Mais uma vez aceitei sua ajuda para levantar e dessa vez consegui ficar em pé, secando meu rosto com o braço.

Assim que limpei as graminhas de minha bunda, entre risadas com Laur, ergui minha cabeça na direção da porta, só então notando minha mãe. Ela estava parada na varanda, usando um avental caramelo sobre as roupas pretas.

- Mamá... – Chamei, com vergonha e receio, mas também com muita saudade. Muita saudade mesmo. – Hola...

Minha mãe desceu rapidamente as escadas e eu praticamente corri até ela, a abraçando com força. Meu choro se intensificou quando percebi que a outra chorava tanto quanto eu e suas mãos firmes como só as de uma mãe são, faziam carinho em minhas costas e cabelos.

- Mamãe, Thunder lambeu minha cara toda! – Resmunguei quando a mesma começou a me encher de beijos.

- Como se ele não fizesse isso comigo todo santo dia. – Respondeu, olhando em meus olhos com seus castanhos cheios de lágrimas. – Ah, Camila... Sentimos tanto a sua falta!

O abraço intenso que ela me deu fez com que eu me sentisse protegida e acolhida. Eu sentia falta deles mais do que me permitia admitir. Meu coração não parava de bater acelerado, o cheiro de mamá continuava exatamente o mesmo, assim como o calor de seu corpo.

Quantas vezes em Las Vegas, desejei o colo e o carinho dela? Inúmeras.

Eu passei a entender Sinuhe muito mais depois que Nathan nasceu. Mãe também tem sonhos, também quer colo e quer aquela última fatia de pizza, embora diga “pode comer”. Nate me fez entender o que é abdicar – amorosamente – de algo que deseja muito, para que outro possa usufruir.

E este era justamente um dos maiores motivos que me fazia sentir medo de encará-la, saber com precisão o que a causei, quando deixei Miami. Eu surtaria se meu filhote resolvesse sumir de casa.

- Eu sinto muito, mamá. – Sussurrei em seu ouvido, sem me separar de seu abraço. – Sinto muito mesmo, eu-

- Está tudo bem. – Olhou em meus olhos. – Olhe para você, se tornou uma mulher linda. Mais linda do que já era. Ter você aqui é milhões de vezes melhor do que não te ter. Nós não temos ressentimentos, Camila. Fique em paz com seu coração.

Apoiou as mãos em meus ombros para olhar-me de cima a baixo e só então virou a cabeça, enxergando um Nathan sorridente e Lauren, que tinha as mãos nos ombros do pequeno. Thunder entreteve-se com algum cheiro no jardim, dando um pouco de folga para nós.

- E você, belo rapaz?

- Sou Nathan. Mas todos me chamam de Nate, é a versão reduzida do meu nome. – Se aproximou dela, parando em sua frente. - E você é minha vovó Sinu. Mamãe me contou.

A mulher encurvou um pouco as costas para abraça-lo apertado e só então encheu seu rosto de beijos. Como sempre fez comigo e Sofia.

- Onde está papá e Sofi? – Perguntei, até notar Lauren ao meu lado. – Ah, mamá, esta é Lauren Jauregui.

Os olhos de minha mãe se arregalaram ao ver a alfa. Mesmo tendo passado anos longe, minha mãe nunca perdeu certos hábitos e só por sua reação, soube exatamente que a mulher estava curiosa e doida para encher Laur com perguntas.

- Nossa! Você está bem? – Aproximou-se, dando-lhe um abraço. – Vi os noticiários, diziam que você foi intoxicada por formol, o que estava fazendo em uma corrida perigosa como aquela?

- Longa história, para depois mamãe. – Enfiei-me entre elas, privando Lauren de responder aquela pergunta. – Novamente, onde está papá e Sofia?

- Ah, eles foram no mercado. – Fitou o portão, antes de devolver sua atenção para mim. -  Queriam comer Lasanha, então os mandei comprar os ingredientes.

- Oba! Eu amo lasanha! – Nate exclamou, todo folgado, e correu para dentro da casa.

- Ele é um menino muito bonito. – Sinuhe comentou com um sorriso, antes de olhar para nós duas. – Venham, vamos espera-los lá dentro.

Meu filho ainda brincava com o cachorro preto enquanto nós três conversávamos na cozinha, depois de eu usar o banheiro para me limpar. Minha referencial fez inúmeras perguntas para a alfa, que com as bochechas um pouco corada, respondeu todas. Não deixei que tocassem no assunto da corrida, sabia que meu pai faria as mesmas perguntas e não quis que Lauren precisasse repetir tudo depois.

O tempo passou rápido, minha mulher já estava mais à vontade na presença da ômega mais velha, até a ajudando com a preparação da salada e da sobremesa. Laur ficou muito feliz fazendo arroz com leche e eu nem sabia que ela era capaz de cozinhar isso.

- Mamá, chegamos com... as... - Minha irmã parou na porta da cozinha. Havia entrado tão rápido em casa que, aparentemente, sequer tinha reparado nos cheiros diferentes. – Compras...

Sofia estava alta, com os cabelos castanhos até a metade das costas, usando uma calça jogger preta da nike e tênis brancos de cano alto nos pés. O cropped de moletom preto com linhas brancas deixava sua barriga definida a mostra, ela tinha um corpo escultural.

- Cariño! – Alejandro entrou rápido, praticamente empurrando Sofi e me agarrou em um abraço forte. – Que saudade, que falta fez meu amor! Que bom que está de volta! Te amamos tanto, cariño, tanto!!!!

Voltei a me emocionar quando novamente, me senti pequena naquele abraço. Eu nunca havia visto meu pai chorar, ele sempre me pareceu uma fortaleza gigante, impossível de ser derrubado. E agora, com todas aquelas lágrimas, notei o quanto meu pai havia de fato sentido minha falta, tanto quanto eu senti a dele.

O apresentei para Lauren e para Nathan, os três logo entraram em uma discussão acalorada sobre hóquei. Alejandro era um fanático por esportes, acompanhava todas as ligas e seu time de hóquei preferido era, obviamente, o Florida Panthers. Claro que ele iria ao jogo de sexta com a gente e claro que ficou chocado quando seu neto disse que queria jogar para o Golden Knights.

Enquanto mamãe estava na cozinha e os alfas discutiam a NHL, subi as escadas para os quartos, sabendo que Sofia estava enfiada dentro dele. Notei fotos da família pendurada na parede do corredor e fiquei surpresa ao ver uma minha com Nate.

Aquela imagem estava em um dos meus porta-retratos em Mirasol. O pequeno tinha um sorvete nas mãos e com a outra, segurava um balão vermelho com o logo da Marvel. Ele tinha sua língua na ponta do sorvete e eu estava por trás, beijando sua bochecha.

Lembro muito bem quando a foto foi tirada, o alfinha fazia três anos de idade e aquele foi seu passeio de aniversário no parque aquático, com Samantha, Bob, Matts e... Laura. Minha melhor amiga tinha ficado responsável por todas as fotos daquele dia.

Fiz uma anotação mental para perguntar sobre isso depois e continuei o caminho. Eles haviam colocado um tapete vermelho com detalhes azul e preto no corredor, bem diferente do marrom de carmim que enfeitava esse local quando eu ainda era moradora.

Bati com delicadeza na porta do quarto de Sofia, ouvindo-a dizer “entra”. O local havia mudado demais, sem rastros das bonecas e inúmeros bichinhos de pelúcia. Os brinquedos foram dando espaço para os livros e funkos da cultura pop.

“Ah, olha só... Todos os livros de Star Wars, não deixe Nate ver isso.” – Pensei.

Ela lia Stephen King, Edgar Allan Poe, Harlan Coben, Agatha Christie e Sherlock Holmes. Conteúdo completamente diferente dos livros de princesas da Disney e contos de fada. E o mais triste, eu havia perdido toda essa transição.

- Terminou a inspeção? – Ouvi sua voz e a olhei. Sofia estava sentada com as pernas cruzadas no meio de sua cama de casal.

- Bem diferente...

- É, os anos passaram. E foram muitos anos. – Sua voz não foi grosseira, na verdade, foi triste.

- Eu sinto muito.

- Sei que sente. – As lágrimas se formaram em seus olhos, mas ela não permitiu que caíssem. – Eu sinto também. Acho que os únicos que não sentiram, foram meu sobrinho e a sua alfa. Você realmente tem um fraco por tatuados, né?

Tentou sorrir, mas seus olhos me diziam o quanto minha pequena estava machucada. Aproximei-me de sua cama e sentei na ponta, olhando para a linda garota. Minha mente pensava em algo para dizer, mas nada saía de minha boca.

- Eu estou com uma vontade imensa de te agredir. – Riu, negando com a cabeça e limpando as teimosas lágrimas rapidamente. – E eu sei que você se sente mal, eu sei que teve que criar seu filho, que Jace te deixou. Mas... Eu quero tanto te bater, Kaki.

Claro que entendia a raiva dela, Sofia era uma garotinha quando eu fui embora. E mesmo com a diferença de idade, nós éramos muito apegadas. Fazíamos tudo juntas, desde cookies até maratonas de desenhos animados.

Habituei Nathan a gostar das maratonas de animações, era uma forma que eu tinha de ainda ter algo de Sofia comigo. Claro que senti saudade dos meus pais, mas a de Sofi, sempre foi a mais dolorosa.

- Digo, a gente nunca soube por onde você andou! Tudo que tivemos foi um e-mail com uma única foto, mostrando que você tinha um filho e contando que você estava o criando sozinha. – Agora nem eu e nem ela, segurávamos as lágrimas. - Foram anos, Kaki! Anos! E tudo que tivemos foi isso. Nenhuma informação a mais!

A culpa me atingiu como uma flecha direto no peito. Laura queria continuar mandando notícias por e-mails anônimos, mas eu impedi. Fiquei revoltada quando ela mandou o primeiro e a proibi de fazer de novo. Foi a maior briga que tivemos, chegamos a passar dias sem nos falarmos.

- E agora você aparece aqui, do nada! – Voltou a secar as bochechas e respirou fundo. - E embora eu esteja aliviada e feliz por ter minha irmã de volta, a vontade que eu tenho é de te cobrir de socos! Por que eu sofri muito! – Engoli o choro, olhando em seus castanhos que brilhavam em dor. - Nos momentos mais difíceis da minha vida, tudo que eu queria era chegar em casa e ter você! E eu passei noites e mais noites chorando porque eu sentia a sua falta e doía muito!

Minha irmã soluçava de tanto chorar, mas nenhuma de nós vencia a distância. Ela continuou sentada no meio da cama e eu permaneci na ponta, apenas ouvindo seu desabafo pois não havia nada que eu pudesse dizer em minha defesa.

- Nossos pais podem até aceitar isso numa boa, porque a felicidade de te ter aqui se sobrepõe a qualquer tristeza que você tenha causado quando partiu, mas eu não consigo. – Meu coração se partiu em mil pedaços ao vê-la daquele jeito, principalmente por saber que eu estava causando essa dor. - Não consigo ser assim. Eu amo você e claro que estou feliz por te ver, mas quero muito te agredir. Porque não foi justo. Não foi justo comigo, com papá e mamá.

Abaixei a cabeça, sem coragem de encará-la nos olhos. Eu entendia completamente o que minha irmã dizia, ela estava certa.

- Eu era uma criança! Fiquei me perguntando noites e mais noites quando você ia voltar, me torturando por pensar que eu tinha feito algo de errado para você ter se afastado de mim. – Fungou, antes de respirar fundo mais uma vez. – Eu... Eu só queria que a dor parasse e ela nunca parou! Kaki, eu senti sua falta todo maldito dia!

- Não! – Me arrastei pela cama e a abracei, já soluçando e finalmente aliviada por poder tocá-la. – N-não, Sofi, você não fez nada de errado! – Sequei suas lágrimas, para então voltar a abraça-la. - Você sempre foi a minha pessoa favorita, eu te amo muito e não pense que não senti sua falta, pois eu senti. Senti muita falta. E eu sinto muito, Sofi. Eu sinto muito.

Não sei dizer por quanto tempo ficamos abraçadas, chorando uma no ombro da outra. A cada vez que lavámos o rosto e limpávamos o nariz, nós voltávamos a chorar. Com certeza, eu nunca havia derrubado tantas lágrimas em minha vida, mas depois, o alívio veio.

Nós conversamos sobre muitas coisas, contei a ela sobre a corrida, porque é lógico que essa foi a primeira pergunta feita quando eu falei sobre Lauren. E ela contou-me sobre como amava jogar futebol e mostrou a prateleira de medalhas e troféus que ficava dentro de seu closet.

Sofia não queria ficar longe de mim, mas também não conseguia deixar para trás toda a mágoa. Então decidimos que iriamos aos poucos, manteríamos contato, eu não a pressionaria e respeitaria seu tempo e espaço.

Conversamos tanto que perdemos a noção do mundo ao redor e só voltamos para a realidade, quando Nathan adentrou o quarto sem ao menos bater na porta.

- Mamãe e tia, vocês perderam a lasanha. – Sofia arregalou os olhos. – E olha que eu gritei o nome de vocês várias vezes! – Sorriu travesso e sentou na cama, tirando os sapatos para poder colocar os pés. – Brincadeirinha, a vovó guardou um pouco. Mas eu e o vovô e a mommy vamos ver o jogo do Oilers contra os Flames. Vocês querem ver também? Abuelito trouxe nachos!

- Olá! – Minha irmã falou sorridente. – Você é o meu sobrinho lindo que se chama Nathan, certo?

- Sim! Mas me chame de Nate. É a versão reduzida do meu nome. Qual a versão reduzida do seu? – Franziu a testa, fazendo-me sorrir com sua doçura. – Digo, o seu já é um nome pequeno.

- Sofi. – Minha irmã deu de ombros, sorrindo para ele.

- Tia Sofi. – Ele assentiu. – Eu gostei e NOSSA VOCÊ TEM LIVROS DO STAR WARS? MAMÃE EU QUERO!

O grito do alfinha nos fez saltar de susto. O pequeno pulou da cama e em menos de um segundo já estava em frente a prateleira de livros, olhando com atenção cada um deles. Eu e a outra ômega trocamos olhares antes de gargalhar da empolgação do mais novo.

Depois que descemos para a sala, os alfas e Sofia ficaram vendo o jogo de hóquei, que foi bem mais emocionante do que eu pensava. A rivalidade entre os Oilers e os Flames era imensa e até mesmo os goleiros se envolveram em uma briga, para a felicidade e emoção dos meus amores.

Depois que o jogo acabou, Nate voltou a brincar com o cachorro e nós ficamos na varanda conversando. Deixei que Lauren respondesse as perguntas sobre as notícias na tv, mas cuidei de censurar os três curiosos quando as questões ficavam mais profundas. Eu sabia que minha mulher ainda estava de luto e ainda sentia as dores que aquele evento deixou, não queria que minha família a machucasse, mesmo que não fosse intencionalmente.

[...]

- Mamães, vamos logo! Abuelita já deve estar nos esperando na praia!

Ele pulou em nossa cama, depois pulou no chão e saiu pulando apenas usando meias e cueca. O alfinha havia acordado eufórico depois da noite de ontem, que honestamente, foi maravilhosa. Realmente precisava desse tempo com meus pais e minha irmã mais nova, agora sentia que pela primeira vez, meu coração estava completo.

E essa sensação, é a melhor do mundo.

- Nosso filho amou sua família. – Lauren comentou, sorrindo para mim e colocando as toalhas dentro da bolsa de praia.

- Isso é bom...

- E como você está se sentindo? – Fechou o zíper e caminhou até mim.

Lauren estava excepcionalmente bela esta manhã, com um shorts branco de moletom e uma regata da mesma cor por cima das roupas de banho. Passei as mãos por seus braços fortes e tatuados até envolver seu pescoço. Os olhos dela estavam tão claros e calmos, que somente seu olhar deixou-me relaxada.

- Sabe bem como estou me sentindo, boba. – Beijei a ponta de seu nariz.

- Sei, mas quero que fale em voz alta. – Seus lábios foram de encontro aos meus, em um beijo gentil.

- Estou feliz, aliviada, animada, eufórica... – A beijei. – Em paz, como há muito tempo não me sinto.

- Isso é ótimo! – Puxou minha cintura com firmeza, colidindo com nossos corpos antes de me beijar daquela forma apaixonante que somente ela é capaz.

Esse jeito que ela tem de me pegar é capaz de fazer estrago em mim. Minha mente já começou a pensar em quando poderíamos transar novamente.

- Ah, qual é... – Ouvimos o resmungo de Nate e começamos a rir de sua cara de nojo, antes de nos afastarmos completamente. – Eles estão esperando a gente!

O pequeno já tinha um chinelo da Vans nos pés e usava uma bermuda de banho com estampa do homem aranha. Os rastros brancos em seu rosto e ombros, indicaram que ele havia tentado passar protetor sozinho e falhou.

Neguei com a cabeça e fui até ele, pegando o filtro solar de sua mão e terminando de passar pelo seu corpo. Fiz o mesmo com Lauren que resmungou o tempo todo da “pasta que faz todo mundo ficar grudento”.

Nosso filho reclamou de fome duas vezes enquanto terminávamos de arrumar tudo, Sinuhe havia dito que prepararia um café da manhã especial para nós, então resolvemos não comer nada do hotel.

Eu estava feliz, passaria o dia com minha família e Sofia até faltaria na escola para ficar comigo hoje. Já estávamos protos para sair quando ouvimos uma batida firme na porta, imediatamente olhamos para o menor, que arregalou os olhos fitando nós duas e já começou a se defender.

- Que foi? Eu não pedi serviço de quarto! – Levantou as mãos em rendição. – Juro juradinho!

- Senhorita Jauregui? – A voz firme de alfa do outro lado fez com que eu recuasse dois passos e colocasse Nate atrás de mim.

- Quem é? – Lauren respondeu no mesmo tom.

- Oficial LaRoyce Hawkins, da Segurança Nacional. Estou aqui com meu colega Patrick Flueger, da Diplomacia Americana e Gianna Schmarz, do FBI. – Eu e ela trocamos olhares confusos. - Queremos conversar com a senhorita e com sua mulher, Karla Camila Cabello.

- Filho, por favor, vá para o quarto ver televisão. – Contrariado e muito desconfiado, Nathan fez o que Lauren havia pedido com sua voz de alfa.

Olhei pra minhas roupas que eram iguais as dela, com diferença que minha regata era rosa claro e me ajeitei melhor, observando os homens importantes entrarem pela porta ao ser aberta, acompanhados de uma mulher ruiva de olhos escuros. Jared e Jasper entraram também.

Todos eles usavam ternos bem cortados. Apesar de ser novembro, Miami era quente e senti calor só de vê-los naqueles trajes. Seus cheiros estavam totalmente inibidos e se não fosse pela voz de LaRoyce, não saberia que se tratava de um alfa.

Eles se sentaram no sofá enquanto eu e minha mulher nos sentamos nas poltronas, ambos se apresentaram e a ruiva, Gianna, preferiu ficar de pé. Flueger era loiro, com a barba bem feita e tinha olhos azuis, diferente de Hawings que era negro de olhos castanhos e cabelos trançados. Tinha um porte forte e era muito, muito alto. Eu fiquei minúscula perto dele quando o mesmo veio me cumprimentar.

Eles começaram a falar sobre a corrida, a operação do FBI e depois entraram no assunto de proteção a testemunha. Meu coração deu um salto quando o nome de Laura e de Alina foram citados, quase saindo pela boca.

- Espera! – Ergui as mãos para que Flueger parasse da falar. – Está me dizendo... Que Laura... Está viva?  

Eu já não tinha controle do meu emocional. Foram dias fortes para o meu Omega Interior e a ligação de almas ainda era recente. Eu teria um colapso nervoso se não fosse pela presença da minha alfa.

Lauren percebia o quanto meu emocional já estava fraco, então ela segurou em minha mão, passando-me uma tranquilidade imensa e aos poucos, acalmando meu interior. Senti meus ombros relaxarem quase instantaneamente e respirei fundo.

- Sua amiga está viva, senhorita Cabello. – O ar faltou e minha alfa rapidamente apertou minha mão, esforçando-se para manter minha tranquilidade. – Ela ficou protegida durante esse tempo da operação e foi liberada agora porque tudo deu certo e não há mais riscos. – Ele explicava com calma. – Tivemos que a manter conosco pois a mesma descobriu a identidade de nossa agente infiltrada. Era um risco que não podíamos correr.

Laura Henning está viva. Minha melhor amiga, a pessoa que esteve do mais do meu lado do que eu mesma, estava viva.   

- Onde ela está? ONDE ELA ESTÁ!? – Me levantei rapidamente e meu grito fez com que Nathan voltasse correndo para a onde estávamos, ele foi rapidamente segurado por Lauren.

A porta de entrada foi aberta devagar e meus olhos se encheram de lágrimas ao ver minha melhor amiga adentrar o local. Laura usava uma camiseta preta com um desenho no canto superior esquerdo, jeans escuros e um gorrinho rosa claro. Ela amava gorrinhos, era sua marca registrada.

Os cabelos pretos caíam até abaixo da linha dos seios em ondas, mais compridos do que da última vez que a vi. Ela tinha os olhos marejados e estava feliz, com um sorriso tímido no rosto e as mãos enfiadas nos bolsos.

- Olá, Mitz.

Meu primeiro instinto foi correr e pular em seus braços, mas por algum motivo, misturada a imensa felicidade, estava a raiva. Raiva porque eu sofri tanto com a partida dela, raiva pela falta imensa que ela fez e mesmo sabendo que a mesma não tinha culpa alguma, a enchi de tapas.

- Ouch! Mitz! Pare!

- Como você pôde? Como ousou, Laura Henning? – Dei mais tapas, sentindo as lágrimas escorrerem pelo rosto.

- Eu não tive culpa! Ai! Para com isso! – Minhas mãos desciam em seus ombros e braços, enquanto ela tentava se proteger dos meus ataques.

- Eu sofri, sabia? – Falei, com as palavras tropeçando em minha língua pois minha voz estava embargada. – Eu sofri muito! Ainda mais que depois da notícia eu vi aquela sua mensagem! – Parei para olhar em seus olhos, que assim como os meus, choravam. – Você ia se mudar sem se despedir! QUE ÓDIO, LAURA!

Usei as duas mãos para agredir a alfa alemã e a mesma finalmente segurou meus pulsos, obrigando-me a parar com meu surto de raiva.

- EU SEI! – Gritou de volta, antes de aliviar o aperto. – Eu sinto muito, Mitz, sinto de verdade. Mas não pense que foi só você que sofreu.

Aquela frase foi o suficiente para que todos os soluços e choro compulsivo começasse. Me joguei sobre ela e a deixei que me abraçasse, seu peito subia e descia com as lágrimas desregradas, entrando em dolorosa sincronia com a minha respiração falha.

Seu cheiro era exatamente o mesmo, acolhedor e familiar. Afundei meu rosto em seu pescoço e todo o alívio de tê-la novamente passou por meu corpo, só então me permiti sentir toda a felicidade que estava trancada em meu peito.

Beijei seu rosto inúmeras vezes, com imensa alegria e minha atitude a fez sorrir. Ela segurou meu rosto com suas mãos e beijou o topo de minha testa, antes de voltar a me abraçar e acariciar minhas costas.

- Só você para me fazer vir pra Miami. – Sussurrou baixinho. – Que bom que está bem.

- Que bom que você está bem! – Murmurei. – Que bom que está viva e que está aqui. Eu senti tanto a sua falta, Lau...

- Acredite, também senti a sua... Seria mais fácil se estivesse comigo durante esse tempo.

Sua voz saiu triste, mas deixei para perguntar depois o que havia acontecido nestes dias que ela passou sobre proteção do governo federal. Ela estava aqui e isso era tudo o que me importava no momento.

Mais uma dor em minha alma havia sido reparada.

Lauren

- Mommy... O que está acontecendo? – Nate sussurrou, com os olhos confusos e cheios de lágrimas.

Sentei com ele na poltrona para explicar, usando a mais básica linguagem e sem entrar muito nos detalhes. Eu revezava meu olhar entre ele e minha ômega, precisava ficar atenta ao seu emocional para evitar que ela ficasse sobrecarregada.

- Eu posso ir até lá? – Questionou, olhando as duas.

- Agora sim. – Respondi, depois de ver que Camz já estava bem mais calma, apesar de ainda chorar baixinho.

Observei o pequeno dar passos até as mulheres, ele estava profundamente feliz. Seu jovem coração emanava alegria de maneira tão intensa, que foi impossível não sorrir.

- Ah, meu pequeno Padawan! – A alfa falou eufórica ao notar a presença do alfinha ao seu lado e soltou-se do abraço de Camz.

Laura o puxou para seu colo e o abraçou com força, enchendo-o de beijos. Foi retribuída com a mesma intensidade, meu filhotinho chorava de alegria e era tão bonito ver que Nathan se permitia sentir todas suas emoções sem medo, sem vergonha de se mostrar sensível.  

- Nós vamos deixa-la com vocês durante o dia. – Ouvi a forte voz do alfa. – Amanhã partiremos para a Europa, ela vai encontrar os pais.

- Certo, onde ela está hospedada? – Indaguei sem tirar os olhos da minha família.

- Em um hotel próximo daqui. O governo está cobrindo todas as despesas. – Foi Flueger quem respondeu.

- Tragam as coisas dela para cá. – Falei para Jared que se aproximou com um gesto meu. – Laura passará a noite aqui.

- Sim, senhorita Jauregui.

- Mestre Henning, nós vamos para a praia com meus avós! Eu conheci meus avós ontem! Eles são legais! E eu vou no parque de Star Wars e verei o jogo do Golden Knights na sexta! – Ouvi o pequeno tagarela tagarelando sem parar, enquanto eu abria passagem para que os representantes do governo fossem embora.

- Você foi até seus pais? – Laura perguntou para Camila.

- SIM! – Minha ômega respondeu com felicidade, secando as lágrimas. – E nossa, foi tão bom!

- Isso é incrível! – A alfa pegou minha mulher no colo e a girou, nos fazendo dar risada.

- Eles me amam, foi tão bom estar com eles de novo e conversar! – Camz retomou, quando seus pés encontraram o chão novamente. - Céus Laura, você sempre esteve tão certa! Eu não devia ter brigado com você por conta do e-mail, eu deveria ter mandado notícias... – Olhou os olhos da outra. – Eu estou tão feliz que está aqui!

- Eu também, Mitz.

- A gente pode ir pra praia? Eu estou faminto! – Nate levou as mãos a barriga para enfatizar sua manha.

- Ah... Bom, vamos. – Laura olhou para sua roupa nada apropriada e riu.

- Vem. – Falei antes que Camila pudesse dizer algo. – Eu te empresto.

Fomos até o quarto em que eu havia deixado minhas coisas e puxei um conjunto de banho novo para que a alfa pudesse usar. A garota trocou de roupa rapidamente e eu não pude deixar de reparar que ela era tão branca quanto eu, suas pernas pareciam duas velas.

- Caralho, como cê é branca! – Não pude deixar de comentar.

- Mas olha quem está falando. – Rebateu, revirando os olhos e rindo em seguida.

Olhando para Henning agora, senti-me feliz por ela estar bem. Pelo menos eu poderia lhe dizer o quanto sou grata por ela ter cuidado da mulher que eu amo, quando ainda não era o momento de eu entrar na vida daquela família.

- Ah, passa o protetor solar ou Camz virá aqui e vai encher até seu cu com essa coisa. – Revirei os olhos ao ver o recipiente do Sundown sobre a cama desarrumada.

- Uh... Ela passou isso em você a força, né? – Deu risada, pegando a embalagem e colocando o creme na mão.

- Exatamente. – Bufei. – Eu sei que preciso passar por que caso contrário, fico igual camarão, mas detesto essa coisa grudenta. Olhe isso! – Passei a mão em minha pele, mostrando como grudava.

- Sei bem... Eu também fico vermelha e ardendo, mas confesso que passo mais pelas tatuagens do que pela minha pele.

Dei risada porque realmente, as tatuagens eram muito importantes. Pelo menos aqui dentro alguém me entendia.

Não demorou para que Laura estivesse pronta para ir com a gente. Marcamos o encontro em Miami Beach, bem em frente ao hotel que estávamos. O sol estava quente, mas nem de longe castigante como em Las Vegas.

Minha ômega tirou as roupas ficando apenas de biquini assim que nos acomodamos na areia. Sinuhe e Alejandro trouxeram várias comidas para Nathan que se fartou e tivemos que proibi-lo de brincar na água até dar o tempo de digestão.

Não foi difícil, Laura conseguiu manter o pequeno tagarela entretido sob o guarda-sol, conversando principalmente sobre games e Star Wars. Sofia conversava com Camila, ela ainda se ressentia com a irmã mais velha, mas ambas estão buscando a reaproximação, logo elas se resolveriam.

Henning não fazia ideia de que Jace havia voltado, então foram longas horas de assunto entre as duas melhores amigas, que fez com que eu e Nate fôssemos brincar de bola perto da água. Eu não queria me lembrar do que aconteceu com o alfa loiro então foi melhor eu ter me afastado.

Houve um pequeno conflito quando a melhor amiga da minha mulher avisou que estaria voltando definitivamente para a Alemanha logo no dia seguinte e que iria iniciar uma vida no país de origem. Levou um certo tempo para que minha ômega aceitasse a escolha e se acalmasse, meu amor entendia os motivos da outra, mas não estava preparada para “perde-la” mais uma vez.

De qualquer forma, elas decidiram que conversariam melhor a noite sobre tudo que aconteceu. Foi melhor assim, a discussão cessou e estes assuntos não foram mais abordados.

Com isso o dia tranquilo foi passando e eu procurava sempre uma conversa ou brincadeira com Nate para me entreter. Sempre que eu não estava concentrada em algo, memórias do que aconteceu na Highway to Hell voltavam em minha mente, deixando-me muito desconfortável.

Em determinada hora, Camila e Sofia foram para a água se refrescar e Nate começou a construir um castelo com Alejandro e Sinuhe. Laura levantou-se da esteira e decidiu que iria comprar um sorvete no quiosque, me apressei para ir com ela, afinal, o dia estava escaldante e um picolé cairia bem.

Caminhamos rapidamente pela areia fofa e quente até o lugar coberto que vendia entre diversas coisas, os sorvetes de palito. Ela pegou um de frutas vermelhas, enquanto eu optei pelo tradicional de uva, meu favorito.

- Pode voltar para lá, eu vou dar uma caminhada. – A alfa falou para mim quando estávamos voltando.

- Posso ir com você? – Já estava me sentindo um pouco deslocada, minha ômega não largava a irmã e meu filho dava mais atenção para os avós.

E definitivamente, não queria, sob nenhuma hipótese, ficar a sós com minha mente.

- Claro. – Deu de ombros.

Ficamos andando até nossos sorvetes acabarem e andamos mais um pouco pela orla da ilha, segurando nossos palitos de madeira. Miami Beach era muito grande, mas a caminhada estava tão boa, que não me sentia cansada.

- Como você está? – Ela quebrou o silêncio. – Vi as notícias.

- Ah, sim. – Chutei a água, sem saber muito bem o que responder. – Emocionalmente? Abalada. Fisicamente? Bem. Psicologicamente? Péssima. Mas confesso que estar com eles me deixa melhor, não fico lembrando...

- Entendi... – Soltou um suspiro. – Não vou ficar perguntando sobre o que aconteceu lá, sei que não deve ter sido bom.

- De fato não foi. – Respondi, afundando meu pé na areia. - E você?

- Exausta. – Respondeu depois de um tempo. - De tudo. Não vejo a hora de voltar para a Alemanha e ficar com meus pais.

Eu consegui notar algo que Camz, na euforia do reencontro, talvez não tenha percebido. Henning estava profundamente triste, chegou com maquiagem carregada e se recusou a tirar para vir para praia. Não precisa ser observadora para entender que ela tentava esconder as olheiras.

- Se trata da Alina?

- Sim... Eu terminei tudo com ela. – Olhou para a água que tocava seus pés.

- É por isso que está triste, então. – Concluí, vendo-a assentir. – Não teve outra alternativa?

- Não tinha como continuar, Lauren. – Fitou o chão e parou de andar, vendo as ondas finas quebrarem nos seus tornozelos. – Simplesmente não tinha.

- Por quê? – Parei ao lado dela, cruzando os braços e olhando o mar.

- Porque eu me conheço bem demais. – Soltou um suspiro e sua frase chamou minha atenção. – Eu sei muito bem como lidaria com isso se tivesse ficado com ela.

- Não entendi.

- Nesses dias em que ficamos naquele apartamento, eu me tornei alguém que não sou e definitivamente não quero ser. – Seus olhos encontraram os meus, ela tentou ajeitar os cabelos embaraçados pela água salgada e pelo vento. – Eu caçava briga o tempo inteiro, me corroí de ciúmes e tive até comportamentos bem infantis. Não sou assim.

Fiquei sem reação, seus ombros caídos e semblante magoado mostravam todo seu coração partido. Aquele amor que não acabou, mas infelizmente, tampouco deu certo. Fiquei admirada com a coragem de deixar alguém que ama muito porque a relação estava machucando.

Acredito que maturidade é isso. Saber que o amor por si só, não sustenta uma relação. Precisa haver muito mais. Obviamente não comentei, mas sei que Laura irá amar Alina para sempre, mesmo que em algum momento, esse sentimento nem faça mais sentido.

- Não sei nem o que te dizer. – Foi a única frase que fui capaz de formular.

- Não tem nada para ser dito. Independente dos motivos, não muda o fato de que ela mentiu sobre tudo. – Respirou fundo e negou com a cabeça. – Eu me apaixonei pela estudante que morava na fraternidade. Não pela agente formada pelo FBI.

Talvez doesse mais a perda daqueles que estão vivos, mas que nunca mais estarão conosco, do que aqueles que como Nate diz, “entraram para a Força”.

- E você começou a se perguntar se a garota por quem você se apaixonou realmente existia. – Comentei, entendendo perfeitamente a mulher ao meu lado.

- Exatamente. Eu sei que ficaria me questionando toda vez que ela saísse de casa. Sei que criaria paranoias caso eu não entendesse alguma fala dela. – Laura contava com a voz quebrada, inutilmente tentando não mostrar sua dor. – O ponto é que eu não consigo confiar e sem confiança, nenhum relacionamento vai para frente.

- De fato. – Andou mais para dentro da praia e eu a segui, até as ondas baterem em nossos joelhos. – Você nunca se apaixonou por Camila?

Mudei de assunto, não querendo remexer ainda mais em sua ferida. A alfa soltou uma risada e negou com a cabeça, antes de me olhar.

- Você é realmente ciumenta, não é? – Eu sorri, dando de ombros. – Não Lauren, eu nunca me apaixonei por Mitz.

- É que... Alfas são possessivos e territoriais. – Comentei. – Você nunca demonstrou sentir incômodo com a minha presença. Já eu, mesmo não tendo nada com Camila na época, detestava sua existência. Cheguei até a te atacar e nossa, sinto muito por isso. – Ela riu quando terminei de falar, fazendo minhas bochechas arderem mais ainda de vergonha.

- Eu sempre torci muito por ela. Muitas vezes tive que insistir para que Mitz desse a si mesma uma chance de ser feliz. – Iniciamos nossa caminhada de volta. – Eu sei que você a faz muito bem, era tudo que eu queria para aquela ômega. Camila merece.  

- Eu agradeço por ter cuidado deles enquanto eu não estava aqui. – Fiz questão de olhar em seus olhos, pois queria que ela soubesse que eu falava de coração. - É realmente bom saber que Camz teve pessoas por ela.

- Sua ômega sempre terá alguém por ela. E seu filho, provavelmente terá um exército por ele. – Falou a mais pura verdade.

Nathan conquistava o coração de qualquer um que permitisse sua aproximação. E eu tenho que admitir que só vi muitas coisas em mim mesma, quando ele entrou em minha vida. Nate era a criança, mas eu também estava crescendo. Com ele.

Caminhamos em uma conversa interessante sobre os planos de Laura e sobre o que eu faria daqui para frente, já que praticamente todos os meus bens foram confiscados. Nós duas pensávamos em como reconstruir nossas vidas quando chegamos próximo do local onde todos estavam e aproveitamos para descartar os palitos na lixeira improvisada que Sinuhe criou.

Vi Nathan correr pela areia até Camila, que estava saindo do mar. O alfinha pulou sobre ela, levando ambos de encontro ao chão, levantando o líquido salgado para todos os lados. A gargalhada gostosa de minha mulher preencheu meus ouvidos e eu avancei até eles, jogando água nos dois.

Claro que não deixaram barato e usaram suas mãos para devolver toda a água salgada que eu havia jogado. O sol da tarde nos cobria, o céu azul sem nuvens mandava uma fraca brisa, bagunçando um pouco as mechas castanhas da minha mulher. O som da gargalhada de Nathan era a melhor melodia que meus ouvidos podiam captar.

E vendo os sorrisos das duas pessoas mais importante no mundo para mim, eu tive a certeza de que, não importa o que aconteça, estaremos sempre juntos.

Tudo estava bem.


Notas Finais


Eu agradeço de todo coração pelo carinho, apoio e amor que recebi de vocês. Nos vemos no epílogo, cujo qual eu não tenho previsão de entrega. Um beijo no coração e outro na ponta do nariz, quem estiver com o nariz sujo, contente-se apenas com o beijo no coração ;)


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