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História Growing Up - Five


Escrita por: tetae97

Notas do Autor


Como prometido, aqui está mais um capítulo nessa segunda animadora.
Só queria dizer que esse é meu capítulo favorito, então leiam com bastante carinho.
Boa leitura!

Capítulo 5 - Five


A primavera enfim trouxe suas diversas cores para as ruas de Daegu, animando os ânimos de um Kim cabisbaixo. Novamente sentia uma falta excruciante de Busan e as tardes com os amigos. Poderia passear na orla com Jeongguk, pedalar com Hoseok ou estudar literatura com Jimin – até estudar com o garoto parecia mais divertido do que qualquer outra coisa em Daegu. Entretanto, sabia que não poderia incluir Yoongi em seus planos imaginários. Seul já fazia parte de sua rotina e ele parecia bem feliz, mandando fotos das ruas, do campus e das cafeterias que visitava.Taehyung gostava de olhar as fotos, principalmente as da festa de despedida e aniversário do Hoseok, e sonhar que estava presente.

A realidade em Daegu era intensa, ocupada e cansativa. Taehyung se doava ao máximo nas matérias que envolviam matemática, seguido do teatro e, só depois, possuía um tempo para si mesmo. Graças a Lisa e Jennie, ele adquirira companhia para o almoço, mas na maior parte do tempo eles conversavam sobre o teatro e seus diálogos em conjunto.

Era divertido, no entanto, sentar-se com Lisa, que era extremamente extrovertida e com Jennie, a qual mostrava-se cada vez menos tímida e mais parecida com a amiga. Raramente conversavam sobre as cenas em casal, apesar da loira tocar constantemente no assunto.

Sua amizade com Park Bogum continuava a mesma, com conversas variadas no ônibus e, agora, por mensagens. O garoto gostava de lhe enviar artigos sobre biologia, além de comentar sobre questões que o cérebro do Kim demorava a processar. Enfim, tinha Seokjin, que alegrava seus dias domingueiros e, aos poucos, começava a se abrir para o mais novo – após inúmeras perguntas de “você está bem mesmo?” e “o que aconteceu? Você parece triste”.

Jin o segredou que nutria uma saudade imensa de Namjoon, pois nunca ficaram tão distantes como estavam agora. E ele não falava só dos quilômetros, mas da frieza como o seu primo parecia tratar aquele relacionamento estranho.

– Nem quando ele se aproximou de um tal de Yoongi – Jin falou com remorso, jogando uma pedrinha no lago Suseong. O vento que agitava as águas também aliviava o início do verão.

– Mas ele não quis nada com Yoongi – Taehyung arrancou uma florzinha branca da grama, encarando suas pétalas minúsculas.

– Assim como não quer comigo – mais uma pedra que, com o ângulo certo, quicou na água várias vezes até afogar. Sentou-se, esticando as pernas levemente bronzeadas.

– Namjoon tem uma mente complexa.

–Complexa? – Jin riu sarcástico. – Namjoon é medroso.

– Como assim? – Ele aproximou-se do mais alto, colocando a flor em sua orelha e arrumando o cabelo para que não caísse. Sorriu com a obra prima.

– Namjoon tem medo de responsabilidades – disse, observando o horizonte com os olhos apertados. Não pareceu ligar para o novo adereço.

– Ele me disse algo sobre a liberdade – Taehyung recordou-se.

– E o que é a liberdade? – Deixou de olhar o lago para encarar o mais novo com suas orbes castanhas. – É exatamente não ter responsabilidades.

– Verdade – disse ponderoso. – Acho que ele não quer ser o responsável por magoar você.

– E ele em parte não é – riu, mas seus olhos quase transbordavam. – É minha por ter aceitado. Mas eu achei melhor do que me afastar dele, como Min Yoongi.

– Os dois eram muito próximos? – Taehyung perguntou com cautela; não queria cutucar a ferida de Seokjin.

– Eles faziam música juntos – deu de ombros, agora brincando com os próprios dedos. – Eles se davam muito bem juntos, mas até Namjoon comentou que nada daria certo entre eles. Min Yoongi tinha um temperamento difícil e seu primo é muito sensível, você sabe.

– Yoongi-hyung é mesmo um cabeça-dura.

– Você o conhece? – Algo pareceu estalar dentro de sua cabeça. – Ah, ele se mudou para Busan!

– Sim.

– Então ele continua o mesmo cara frio?

– Não sei – Taehyung admitiu. O Min realmente parecia distante e desinteressado na maioria do tempo, mas por outro lado, andava sempre preocupado com Hoseok e o ajudava em tudo.

– Ele nem pareceu ligar quando Namjoon o dispensou.

– Aquilo é só fachada – dessa vez falou com convicção. Quando conversaram e Taehyung o lançou inúmeras palavras de acusação, Yoongi pareceu muito afetado e o advertiu como se já tivesse passado por situação igual. E agora o Kim sabia que de fato Yoongi sentira o mesmo que ele.

“Eu não posso me apaixonar por você”

Estaria Min Yoongi referindo a sua liberdade? Se fosse, Taehyung já continha a resposta. Assim como Seokjin, também levaria a culpa pelo beijo e tudo o que lhe causara, afinal, havia consentido. Mas algo não fazia sentido. Min Yoongi não parecia o tipo de sujeito que repetia em outro alguém suas antigas frustrações. Taehyung não conseguia imaginar outra resposta senão a de que Yoongi já estar apaixonado por Hoseok, apesar de não compartilharem da mesma sexualidade – até onde sabia. Novamente, Taehyung e Yoongi assemelhavam-se nas confusões românticas.

– Taehyung – Jin tirou-lhe do devaneio, enquanto mexia frenético no celular – Temos uma festa para ir semana que vem.

– Temos?

– Sim – Seokjin sorriu, mas não em uma linha fofa e sim diabólica.

Oh, no…

Oh yes!

 

 

Taehyung encarou-se no espelho grande, verificando as novas vestes. Namjoon tinha sido muito legal em lhe dar as roupas que não levaria para Seul, renovando o guarda-roupa do garoto com inúmeros jeans, blusas e casacos de marca. Apesar do gosto peculiar de moda do primo, Taehyung conseguiu criar boas combinações.

Terminou de secar o cabelo com o secador de sua avó, de modo que seus fios ficassem bagunçados do jeito certo. Em sua calça preta cortada nos joelhos, uma bota da mesma cor que ganhara de natal e uma jaqueta jeans fina jogada por cima da blusa de manga com estampa vintage, a qual colocou por dentro da calça, Taehyung finalmente sentia-se mais velho como sempre desejou.

Quando Jin tocou a campainha, sua avó apertava suas bochechas e alisava seus cabelos castanho-escuros, advertindo-o sobre o horário e bebidas alcóolicas. Seu pai colocou uma nota em seu bolso e alegou ser por “precaução”, antes que o garoto abrisse a porta para o mais velho.

– Você é o Taehyung mesmo? – O mais velho brincou, girando a chave no dedo indicador. – Não está parecendo aquela criança fofa.

– Uma versão melhorada dele – Taehyung riu, apontando para o objeto que girava. – Você dirige?

– Peguei o carro do meu pai hoje – e sorriu convincente, puxando o mais novo em direção ao carro popular estacionado do outro lado da rua.

SeokJin estava radiante em sua camisa social despojada de cor rosa-bebê, com uma calça preta justa. Seus fios escuros estavam repartidos de lado, formando pequeno topete que parecia ter sido feito com muito cuidado. Ele não se parecia com o rapaz que colecionava miniaturas do Mario Bros.

– Jin-hyung fica muito bem em rosa – comentou, fazendo um sorriso largo surgir naqueles lábios grossos. Uma coisa que tinha aprendido em alguns meses de convivência era a áurea narcisista que Jin ganhava quando o chamavam de bonito.

– Obrigado – ele dirigia com calma, parecendo sua própria mãe no trânsito. – É a minha cor favorita.

– Fica muito longe? – Taehyung queria conversar. Precisava se distrair da ansiedade social que o atacava em tais momentos.

– Não muito.

– Vai demorar?

– Paciência, Taehyung.

O garoto bufou, batucando os dedos no encosto da porta. Jin o direcionou uma careta, parecendo notar seu nervosismo. Então ligou o rádio e, com a primeira oportunidade de parar o carro no semáforo, ele pegou um CD do porta-luvas e introduziu no aparelho. Arqueou as sobrancelhas para Taehyung, que logo reconheceu ser BIGBANG. Cantaram e dançaram até chegarem ao destino, sorridentes e prontos para mais uma rodada de músicas dançantes.

O prédio alto localizava-se no centro de Daegu, tendo sua construção arquitetônica digna da zona sofisticada. Subiram o elevador, após tocar no interfone, fazendo caretas no espelho sem se importarem com câmera de segurança. Pararam no último andar, o qual trouxe memórias ao mais novo. Aquele terraço em nada se parecia ao seu antigo, de porta de madeira e pintura desgastada. Era luxuoso.

A área era coberta e grande, com vidros que mostravam o centro bem iluminado da grande cidade. A música eletrônica tocava alta e os convidados pareciam animados, conversando alto com copos em mãos e pratos de petiscos nas mesas espalhadas.

– Seokjin! – Um rapaz o abraçou, segurando um cigarro entre os dedos.

– Dongyul – após dar tapinhas nas costas do dono da festa, Seokjin apontou para Taehyung. – Esse é Kim Taehyung, primo do Joonie.

– Prazer - esticou a mão para um aperto, mas o tal Dongyul o puxou para um abraço, onde pôde sentir o cheiro forte de bebida.

– Amigos do Joonie são amigos meus – exclamou mais alto que a música. – Sintam-se em casa.

– Obrigado – falou e foi arrastado por Seokjin até o balcão de bebidas.

– Taehyung. Você já bebeu antes?

– Já – mas não tinha sido uma boa experiência.

– Então sabe que quando sentir o chão girando é hora de parar, certo?

– Sei? – A incerteza estampava seu rosto.

– Ótimo – e, dizendo isso, colocou um copo em suas mãos. – Acho que você vai gostar.

Taehyung levou o líquido à boca, sentindo um gosto forte de morango e quase nada do álcool em si. Sua expressão de satisfação fez Jin rir, virando o conteúdo de cor amarelada de uma vez.

– É bom.

– Só beba do que eu te der, tudo bem?  – E ele respondeu com um aceno afirmativo. – Vamos dançar.

No centro, algumas luzes de globos coloridos portáteis giravam, incidindo no chão e nas paredes cores e formas coloridas diferentes. Os Kim começaram a dançar sozinhos, como se ninguém estivesse olhando, de forma desengonçada e tentando seguir o ritmo da música eletrônica. Aos poucos, mais pessoas se juntaram a eles e, logo, todos os convidados pulavam ao som alto. Jin pegou nas mãos de Taehyung, girando-o e soltando risadas inaudíveis aquele barulho todo. Estavam tendo um ótimo momento a sós, mesmo em meio a uma multidão.

Taehyung não soube dizer quantos copos passaram por suas mãos, nem quantas vezes girou com Jin. Mas algo dentro do seu peito incendiava de felicidade, desinibindo toda a sua hiperatividade. Os flashes das câmeras zuniam em sua retina. As pessoas pulavam. O clima começou a esquentar  talvez fosse o álcool ou o contato com diversos corpos – e ele retirou o jeans, sendo capaz de sentir os dedos gelados do outro Kim em seus braços e depois em seu pescoço, escorregando para o mais baixo ponto de suas costas. Ficaram assim por um bom tempo, muito próximos. Sua cabeça girava e ele não sentia as pernas, mas percebia a pele alheia contra a sua e, de repente, os toques desapareceram.

A visão embaçada em nada o ajudava a identificar o mais velho em meio a tantas pessoas, fumaça e luzes. Conseguiu detectar o tecido azul-escuro no chão e o agarrou, quase caindo em cima de diversos pés. Saiu aos tropeços daquela área abarrotada, encostando no vidro da janela. Fechou os olhos com força. Ele parecia voar a vários quilômetros por hora, embora soubesse estar parado. Se desse mais um passo com certeza cairia, então apenas escorregou até o chão, sentando-se com a cabeça nos joelhos até a tontura excessiva passar.

Respirar e inspirar. Não queria vomitar, apesar de seu estômago borbulhar e sua boca salivar. Forçou a garganta a manter-se fechada até sentir o líquido quente rasgar seu esôfago, mandando tudo o que tinha ingerido para fora e tingindo o chão branco de um amarelado horrível. Taehyung tossiu com lágrimas nos olhos e limpou os lábios com a jaqueta. Mais alguns minutos foram necessários para que recobrasse sua total consciência e, assim feito, saiu a procura de Jin.

Ele não havia reparado no tamanho real do local até ser necessário rondar todos os cantos. Taehyung só queria ir embora, beber toda a água do mundo e garantir que Jin não passasse tão mal quanto ele. Queria perguntar a Dongyul sobre o rapaz de blusa cor de rosa, mas este encontrava-se apagado em uma cadeira, com as bochechas rabiscadas com desenhos inapropriados. Taehyung desesperou e, quanto mais desesperado, menos tonto ficava. Não conhecia mais ninguém. Tinha dinheiro para um táxi, mas como poderia ir embora sem saber onde Seokjin havia se metido?

Resolveu descer e verificar se o carro continuava estacionado ao lado de fora, esquecendo-se completamente do elevador e pulando as escadas apressado. Na segunda virada ele quase trombou com duas pessoas encostadas na parede.

– Seokjin! – O grito de Taehyung ecoou pela escadaria, soando estridente.

Ele não sabia se cobria os olhos, puxava o garoto dali ou respirava de desaperto. Acabou por fazer todas as opções, pegando na mão de Jin e o ajudando a descer as escadas. Pelo canto dos olhos, viu outro garoto, pasmo, começando a vestir a blusa novamente.

– Espera, espera – Jin tentou se desvencilhar, cambaleando e procurando os botões da camisa.

– Deixa que eu faço – afastou deus dedos com cuidado, lutando para passar os botões pelo buraco estreito. Taehyung não conseguia encarar Seokjin nos olhos, mas conseguiu fechar tudo de forma bagunçada e continuou a descer, sentindo o peso do mais alto em seu tronco.

Quando deram o último passo para fora do prédio, Jin caiu de joelhos na calçada e regurgitou todo o conteúdo da noite, resfolegando com dificuldade e tremendo. Por sua vez, Taehyung levantou a cabeça do amigo e notou que seus olhos estavam perdidos, ameaçando revirar como se fosse cair no sono. Passou a jaqueta pelo canto de seu queixo, com o semblante preocupado.

– Jin, por favor, não desmaie – pediu aflito, tentando erguê-lo novamente. – Por favor...

– Eu – proferiu com dificuldade, inspirando profundo. – Estúpido.

– Não é não.

O Kim mais novo sentiu pena. Remorso. Deveria ter se mantido sóbrio, pois sabia do momento delicado que o outro passava com Namjoon e, como Yoongi já o tinha avisado, a bebida transforma as pessoas em seus estados de espírito diferentes. Jin só queria um momento de escape, mas procurou isso de forma errônea. Com dificuldade, conseguiu mantê-lo em pé.

– Me desculpe – com a fala enrolada, Taehyung demorou um pouco para compreender. – Olha o que você tá sendo obrigado a fazer.

– Não tem problema – caminhou até o carro com ele escorado nos ombros, pegando a chave em seu bolso e abrindo a porta do carona. Com cuidado, recostou-o no banco.

A noite fazia-se vazia e com o clima ameno, enquanto Taehyung andava em círculos. Sua única saída seria chamar um táxi e ir com Jin para casa, deixando o carro dele trancado do outro lado da cidade.

– Jin? – Parou de caminhar quando escutou um gemido, encontrando o rapaz aos prantos. – Tá tudo bem, eu vou levar a gente pra casa.

– Eu não queria.

– Tá tudo bem – o olhar assustado do garoto fez mais lágrimas descerem por aquele rosto bonito.

– Eu não sabia o que estava fazendo – custou a dizer, encostando a palma na testa.

– Eu sei.

– Você acha que Namjoon vai ficar com raiva?

– Claro que não – respondeu de prontidão, vendo-o forçar as pálpebras com força. – Não me importo em te ver chorar.

Os lábios em bico e os olhos vermelhos assemelhavam Jin a uma criança que havia caído e ralado os joelhos. Taehyung quis protegê-lo, um sentimento que só experimentou com Jeongguk, embora em maior escala. Com isso, abraçou-o, o ouviu soluçar e dizer palavras autodepreciativas – até que o silêncio fez-se presente.

– Taehyung… eu vou vomitar.

 

 

Segunda-feira e sua cabeça ainda latejava como se ainda fosse sábado. Não tinha descansado direito naquela madrugada, dando espaço a Jin na cama de solteiro e adormecendo no sofá. Nunca sentiu seu corpo tão dolorido quanto na manhã seguinte, como se tivesse apanhado de mil lutadores de sumô e, mesmo assim, havia acompanhado Jin até seu carro – antes dos adultos acordarem – e depois recebeu mais desculpas.

Agora, ele encostava a cabeça nos braços esticados na carteira. Teria Min Yoongi algum dia feito tudo aquilo por Hoseok? Provavelmente sim. Perguntou-se se Jeongguk faria igual por ele.

– Taehyung – um chute na canela. Dois chutes. – Morreu?

– Só falta comprar o caixão – não se moveu.

– Engraçado – Lisa abaixou a cabeça para observá-lo. – Tá lembrando que a apresentação é daqui duas semanas, né?

O garoto pulou da cadeira, quase chocando sua cabeça a da garota.

– Obviamente você não tava lembrando.

– Ai meu Deus – esfregou os olhos, querendo mais que nunca pular da janela e voar para longe. – Droga.

– Eu te disse pra gente ensaiar esse fim de semana – ela apoiou as mãos na cintura, encarando-o com uma cara feia.

– E eu te falei que estava ocupado – defendeu-se, sem adiantar muito.

– Ocupado ficando bêbado, né?

– Shh – tampou seus lábios com a palma da mão, apontando para Jingoo que retirava os materiais da pasta preta. A garota afastou-o de si, rindo até sentar em seu devido lugar. Ferrado. Era a palavra que definia Taehyung.

 

A capacidade como quinze dias poderiam passar voando fez Taehyung voltar a pensar sobre o tempo não ter uma medida calculável. A matemática e a física de certo possuíam falhas, ao começar por aquilo. Namjoon o repreendeu por duvidar de séculos de estudos precisos e Bogum concordou, explicando-lhe sobre a história do relógio. Taehyung rezava para que todos os semáforos permanecessem verdes, demorando menos para chegar à escola.

– Bogum! – Chamou-o, antes que pudessem se divergir nos corredores. – Esse é pra você.

– Obrigado – sorriu, encarando o pequeno e simples cartão da peça de teatro, onde estava escrito a data e o horário. – Sábado. Com certeza vou aparecer lá. Quer dizer, aqui.

A ansiedade do garoto chegava a ser palpável, distribuindo os convites pela sua família e também para o chat Busan boYs e Daegu boY chato. Recebeu inúmeros parabéns, mas nenhuma confirmação de presença, apesar de já esperar por aquilo. Mesmo sendo no final de semana que dava início ao recesso de verão, Taehyung tinha o conhecimento da incapacidade de se viajar apenas para assistir a uma peça escolar. Ele se contentaria com o comparecimento de sua família, Seokjin e Bogum.

– Eu não consigo fazer isso – Jennie repetia baixo no camarim, mais pálida que o habitual e sendo abanada por Lisa.

– Não se desespere – a loira ofereceu um copo de água a amiga, o qual foi negado. – Jen, você treinou tanto pra hoje.

– Não sou tão boa quanto você, Lis – suas mãos tremiam e Taehyung não aguentou mais observar, caminhando na direção das duas.

Todos já encontravam-se com seus figurinos montados e penteados feitos, abarrotando a sala pequena com uma áurea do século XIX da Inglaterra. Agarrou os dedos trêmulos da garota, direcionando-se ao fundo de suas pupilas.

– Você é muito melhor que a Lisa – disse com convicção a frente de uma Jennie atônita. – Lembra dos milhões de elogios que você recebeu? Então, somos o melhor casal da peça.

Por cima de todo o blush, ainda foi visível ver suas bochechas tingindo-se de um vermelho vivo. No entanto, ela fez um “sim” com a cabeça e apertou as mãos de Taehyung, o qual foi chamado para entrar ao palco. Sorriu para as duas, triunfando em esconder sua própria intranquilidade.

Uma cena. Duas cenas. Três cenas. Risadas. Mudanças rápidas de cenário. Mais risadas. Aplausos, muitos deles. Tudo passou como um borrão, do mesmo jeito que uma montanha-russa: a subida é tórrida e demorada, ao passo que a descida aliviante e rápida como um piscar de olhos. Tinha muita gente e ele não conseguiu localizar sua família na multidão, correndo para trocar de roupa.

Colocou a mochila nas costas, esquecendo-se de cumprimentar seus colegas de apresentação e saiu tropeçando nos próprios calcanhares. Enxergou sua mãe em seu tamanho reduzido e o seu pai coçando os olhos – ou estaria enxugando? Mais pessoas ao redor. Seu coração deu um salto e o queixo quase foi parar no chão.

Jeongguk acenou para ele, sorrindo com os olhos pequenos e o nariz enrugado. Como se todos soubessem o que estava prestes a acontecer, deixaram que Taehyung o abraçasse primeiro, depois de jogar a mochila no chão. Apertou o garoto forte, amassando sua blusa branca grande e inalando o cheiro característico de shampoo com sabonete suave.

– Você foi o melhor, hyung – escutou-o dizer abafado, com a cabeça enterrada na curva de seu pescoço com o ombro.

– Você queria me matar do coração? – Encarou os olhos de jabuticaba do mais novo, ainda estupefato demais para sorrir.

– Só queria fazer uma surpresa – balançou Taehyung, como que para tirá-lo do transe.

– Pois é, uma surpresa muito perigosa essa.

– Não está feliz?

– Jeongguk, não existe uma palavra pro que eu to sentindo – ele riu finalmente, sem acreditar que depois de sete meses distantes ele estava ali na sua frente, tocando-o com seus dedos macios. – É mais do que feliz.

– Graças a sua mãe que eu consegui vir – de imediato Taehyung observou a sra. Kim que trajava um sorriso contido.

– Você escondeu isso de mim? – Mas o sorriso aberto não livrava de seus lábios.

– Nós o buscamos na estação – seu pai disse.

– Vocês são incríveis – colocou a mão no coração, mais acelerado agora que ao início do teatro. – Mas quase me mataram de infarto.

Os abraços de parabéns vieram aos montes e sua avó apertou suas bochechas como de costume, com os olhos cheio de lágrimas, dizendo-lhe que seria um ator brilhante no futuro. Depois Bogum apertou sua mão com animação, imitando suas cenas mais cômicas e, por último, um Seokjin meio deslocado.

– Gravei tudo pra mostrar ao Joonie – ele mostrou a câmera filmadora pendurada no pescoço. Jeongguk aproximou-se com curiosidade, enquanto assistiam a algumas partes.

– Pode me mandar isso? – Referiu-se a Jin, que apenas concordou com a cabeça, dizendo um “claro”. – Yoongi-hyung, Hoseok e Jimin vão adorar ver isso.

 

 

A noite caía abafada nos céus de Daegu, obrigando Taehyung a ligar o ventilador no quarto, em cima da escrivaninha. Jeongguk preparava seu próprio colchão no chão, com uma manta fina dobrada no canto inferior.

– Se mais tarde sentir frio me avise – o dono do quarto afirmou. – Não puxe as minhas cobertas.

– Não prometo nada – e riu diabólico.

– Jeongguk, fique no seu canto! – Advertiu, vendo-o levantar-se do chão e caminhar em direção a cama de solteiro, onde o Kim deitava pacífico.

– Não – pulou, atacando o amigo de cócegas e fazendo-o gritar para que parasse. – Eu sempre me vingo, hyung.

Taehyung tentou jogar Jeongguk para o lado, mas não tinha forças para tal e seus olhos transbordavam a medida que gargalhava.

– Não vale! – Berrou, tentando segurar suas mãos. – Você está muito mais forte!

– Você é muito fraco, Taetae – finalmente uma trégua, sentando-se em cima da barriga de um Taehyung ofegante.

– Sai de cima de mim – disse entre as puxadas de ar, limpando o canto dos olhos.

– Tudo bem – escorregou para o canto da cama, espremendo o Kim contra a parede e abraçando seu braço esquerdo.

– Jeongguk, eu não vou dormir com você aqui – tentou livrar-se do abraço de coala, parando ao encarar o rostinho sonolento de Jeongguk com as bochechas amassadas.

– Senti tanta sua falta, Taetae – e suspirou, fechando as palpebras vagarosamente.

– Eu também, Guk

O bolo que formou-se em sua garganta indicava o choro iminente. Porém, pela primeira vez em muito tempo, o Kim sentia os olhos marejarem de felicidade. Havia concluído a peça com perfeição e, enfim, podia abraçar seu dongsaeng. Beijou o topo da testa do Jeon, vendo-o aconchegar-se à lateral de seu corpo e ao contrário dele, Taehyung demorou para pegar no sono, ouvindo a respiração profunda e o hálito quente em seu pescoço.

 

 

O sol bateu rotineiro no rosto de um Kim que dormia pacífico, acordando-o de forma preguiçosa. Ele virou-se na cama, a fim de esconder-se dos raios e voltar a dormir, mas algo não parecia certo. Tinha espaço demais no colchão. Sentou-se rápido, tendo um momento de vertigem e escutando uma risada. Virou o pescoço em direção ao som, deparando-se com Jeongguk deitado onde deveria ter dormido, rabiscando uma folha de papel.

– Bom dia – olhou rápido para Taehyung, descabelado, voltando logo em seguida a se concentrar no desenho.

– Bom dia?

– Você é fofo enquanto dorme – e sorriu, encarando a folha.

– Ah, não – ele correu até o garoto, arrancando o bloco de suas mãos. – Jeongguk!

– Não resisti.

Taehyung correu os olhos pelos traços bem feitos da sua própria imagem adormecida em forma de anime, com a boca aberta e babando.

– Eu não babo – encarou feio o autor do desenho.

– Baba sim.

– Devia ter babado na sua cara, então.

– Podemos ir tomar café? – Levantou-se em seus shorts curtos e regata. – Você é sempre mau-humorado quando acorda.

– Sou mesmo, quando me desenham babando – segurou na mão que foi lhe oferecida, erguendo-se do chão.

– Seja bonzinho comigo, Tae – ele fez uma expressão triste.

– Jeongguk… – aproximou-se, dando peteleco em sua testa. – Você é que é ruim com seu hyung.

 

O café da manhã foi tomada às pressas, com a promessa de um dia animado esperando-os ao lado de fora de casa. A melhor parte do verão era poder sair andando pelas ruas sem se preocupar em morrer de frio ou ter de se empacotar de blusas até dificultar a caminhada. Taehyung trocou de roupas no banheiro, deixando o quarto livre para Jeongguk, o qual estranhou seu ato – eles costumavam ter intimidade para tal.

– Jeongguk – abriu a porta em um rompante, assustando o garoto que acabava de retirar a camiseta de pijama. Taehyung teve um segundo de pânico, cobrindo os olhos e pedindo desculpas.

– Não tem nada aqui que você já não tenha visto – disse entre a risada.

– Tá – começou a remexer em seu guarda roupas, procurando as sandálias de couro desgastadas, mas que era seu par preferido. – Anda depressa.

– Taehyung?

– Hm? – Virou-se, deparando com o garoto a poucos centímetros de distância e, antes que pudesse fazer qualquer coisa, ele passou a mão melecada em seu nariz e bochechas. – Que isso, Jeongguk?!

– Protetor solar, hyung – fez uma careta, espalhando o produto esbranquiçado. – Você quer ficar vermelho?

– Não… – manteve-se parado, apenas os olhos percorrendo o rosto concentrado do amigo. – Vai demorar?

– Calma – suas sobrancelhas unidas e os lábios apertados indicavam sua pose séria, enquanto seus dedos percorriam a extensão do pescoço alheio. – Pronto.

– Obrigado – tomou o pote de suas mãos. – Minha vez.

– Anda rápido – deu uma olhadela pela janela, ansioso. – Quero conhecer Daegu.

 

Taehyung guiava Jeongguk por um dos passeios que Namjoon o levara certa vez, ao encontro das flores azuis que desabrocham ao início do verão. Viu o amigo subir no meio fio, andando com os braços abertos e se desequilibrando algumas vezes. Ele apoiou a mão esquerda no ombro do Kim, o qual começou a andar mais rápido para o atrapalhar na travessia e, em questões de segundos, estavam correndo pela calçada. O som das risadas misturava-se ao das folhas sendo partidas pelos passos pesados.

– Espera! – Taehyung gritou, apoiando as mãos nos joelhos e respirando com dificuldade. Jeongguk, o qual corria com mais velocidade, voltou alguns metros.

– Já cansou? – Seu peito subia e descia rápido.

– Claro que não – mentiu, sentindo as pernas fraquejarem. – Vamos ficar aqui um tempo.

– Aqui? – Jeongguk olhou ao redor. Uma pequena praça bem arborizada, repleta do verde vivo característico da estação. – Tudo bem.

– Vem – puxou-o pelo braço, adentrando pelo caminho de paralelpípedos. Rodeados por árvores altas, o clima tornou-se mais ameno e Taehyung apontou para um banco. Sentaram-se.

– É um ponto turístico de Daegu?

– Não – sorriu para Jeongguk de forma convencida. – É um ponto turístico de Kim Taehyung.

– É uma praça comum, Tae.

– Não é – ele apontou para as flores azuis a sua frente. – Tá vendo? Não tem dessas em Busan.

– São azuis! – Jeongguk suspirou, indo ao encontro das plantas coloridas e retirando o celular do bolso. – São tão bonitas.

– Campainha-chinesa – agachou-se ao lado do amigo, o qual tirava fotos de todos os ângulos possíveis das flores. – Já tinha visto delas?

– Nunca – seus olhos escuros brilhavam, encantado com a cor peculiar dos brotos.

– Parecem com você, então – soltou de repente. Seu coração pulsava tão forte que parecia querer escapar pela garganta. – São raras.

– Eu sou raro? – Virou-se para o mais velho, as bochechas rosadas e um sorriso pequeno. Jeongguk era a criatura mais bonita existente na face da Terra.

– E bonito – Taehyung deixou escapar, percebendo de imediato o que havia feito. Levantou-se, voltando a sentar no banco ainda úmido pelo orvalho.

Jeongguk o acompanhou segundos depois, passando as fotos no celular. Cutucou Taehyung com o celular em riste, a câmera virada para eles. O mais novo sorriu e encostou a cabeça no ombro do outro, que apresentou seu sorriso quadrado. Olharam a foto após o flash quase os cegarem, verificando estar tremida.

– Ficamos bem juntos – Jeongguk falou, encarando-os na tela do aparelho. – Até tremidos.

– A dupla dinâmica capaz de derrubar um prédio – Taehyung lembrou-se da sra. Jeon.

– O prédio nunca mais foi o mesmo sem você – Jeongguk encarava seus dedos, a expressão indecifrável.

– Daegu também é uma droga – admitiu e os dois riram, sem se encarar.

– Sinto sua falta, Tae.

– E Jimin?

– Não é a mesma coisa – deu de ombros. – A gente é…

– Diferente? – Completou hesitante, vendo-o afirmar com a cabeça. Taehyung parecia a beira de um colapso. – Também sinto isso.

– Mesmo?

– Sim, Guk – suas pupilas se encontraram no mesmo instante em que o coração de Taehyung girou, ameaçando escapar pela boca.

– Eu vou embora amanhã cedo – falou rápido.

– Então deveríamos fazer alguma coisa inesquecível.

– Deveríamos.

– É.

Silêncio. O Kim ponderava se o outro conseguia ouvir o som de seus batimentos, piorando quando ele pegou em sua mão apoiada no banco e encaixou seus dedos, reparando no conjunto que formavam. Taehyung não conseguia tirar os olhos de Jeongguk, o qual mordia o lábio inferior e brincava com as mãos unidas. Havia admitido para Namjoon o óbvio que escondia em seu interior há muito. Jeongguk, aquele garoto orgulhoso e marrento, de sorrisos fáceis e risadas estranhas, era a única pessoa que o fazia sentir tantas coisas ao mesmo tempo. Talvez fosse um erro se apaixonar pelo seu melhor amigo, mas era inevitável não morrer de amores por Jeon Jeongguk.

Taehyung encostou com leveza a mão livre no maxilar do garoto, encontrando seus olhares. Sua intenção não era assustá-lo, então encostou as duas testas, sentindo o enlace de seus dedos apertar e vendo Jeongguk fechar os olhos.

– Guk – engoliu em seco. Havia deixado-se levar pela explosão de sensações, quando sua razão gritou em sua cabeça e ele pegou-se sem saber se deveria continuar.

Jeongguk manteve-se calado por alguns instantes, selando seus lábios de repente. Tênue e hesitante, o beijo não passou de um encostar de lábios. Separaram-se envergonhados, agora sem contato algum.

– Desculpe – o mais velho lamentou com o rosto afundado nas mãos. Jeongguk irrompeu-se em gargalhadas e Taehyung o observou incrédulo por entre os dedos.

– Isso sim foi inesquecível – apoiou a mão na barriga.

– Onde tá a graça?

– Na sua cara de quem cometeu um crime – ele afastou os pulsos de Taehyung, segurando suas bochechas com as duas mãos e beijando-o diversas vezes.

O rapaz de cabelos escuros como a noite riu da expressão estupefata de Taehyung, o qual divergia-se entre batê-lo e beijá-lo. Acabou preferindo a segunda opção, unindo-os de forma lenta e calma. Só pararam quando sentiram o peito um do outro vibrar e ter de dar espaço para as risadas altas.

– Vem – puxou-o para fora da pequena praça de mãos dadas após o ataque de riso. – Vou te mostrar um lugar legal.

 

O Arboretum de Daegu deixou Jeongguk pasmo, sem saber para qual escultura olhava primeiro ou registrava em fotos. O local encontrava-se lotado de famílias, devido a temporada de férias, deixando-os constrangidos em continuarem de mãos dadas. Porém, os dois adolescentes correram por entre os campos de flores abertos e túneis, brincaram com filhos de estranhos e comeram doces baratos. Ao final do passeio, quando já tinham visitados todas as esculturas e estufas, ambos pararam na pequena ponte, observando seus reflexos na água e fazendo caretas.

– Vamos tirar uma foto – Jeongguk falou já com o celular em posição.

– Mais? – Taehyung não reclamava, pois de fato queria marcar aquele dia para sempre.

– É – e correu até a única pessoa que avistou passando por aquele lugar. – Com licença? Poderia tirar uma foto nossa, por favor?

A mulher afirmou – o Kim não achou estranho, afinal, quem negaria alguma coisa àqueles olhinhos escuros e sorriso fofo? Ela posicionou o celular deitado e Jeongguk correu para abraçar o amigo pela cintura, encostando o queixo em seu ombro. Fizeram várias poses em poucos segundos de fotos e a mulher devolveu o aparelho ao dono, recebendo uma reverência acompanhada de um “obrigado”.

– Deixa eu ver?

– Não.

– Por que? – Taehyung tentou pegar o celular das mãos do garoto, que logo o colocou no bolso da calça.

– Depois eu te mando – sorriu, fazendo o Kim automaticamente perdoá-lo. Jeongguk parecia ansioso, olhando para todos os lados, até o momento em que tascou um selinho rápido no mais velho. – Achei o lugar propício.

– Jeongguk... – um Kim Taehyung atônito foi puxado pela mão para mais uma rodada de corrida, sem conseguir completar a frase. Sua caixa torácica mal podia conter seu coração e ele desconfiava que não era pelo ritmo intenso de seus passos.

 

O indesejável fim do dia chegou escoltado por um céu estrelado e de temperatura amena, além de um clima melancólico.

Deitado em sua cama ainda sem tomar banho, Taehyung conseguia escutar o som do chuveiro no cômodo ao lado, sendo utilizado por Jeongguk. Cada segundo sem a presença do Jeon parecia uma eternidade e as horas passavam voando de forma contraditória. O universo sabia que aquela era a última noite dos dois juntos e provavelmente estava pregando uma peça na percepção temporal do Kim.

– Sua vez – Jeongguk jogou a toalha seca no rosto de Taehyung. – E não durma. Vamos virar a noite, lembra?

– Você tá falando disso o dia inteiro – caminhou em direção a porta, sem encarar o mais novo em seu roupão branco.

– Anda depressa no banho.

– Você não manda em mim! – Mostrou a língua, correndo porta afora antes que a toalha molhada do outro o acertasse.

A água gelada pingou por pouco tempo em seus fios, costas e demais regiões, as quais ele esfregou com certa pressa. Taehyung trocaria de roupa ali no banheiro mesmo, sem se importar em deixar seu pijama úmido. Ao sair, apenas bagunçou os fios molhados e caminhou em direção ao quarto de seus pais. Um beijo de boa noite em sua mãe e na testa de seu pai já adormecido, antes de retornar ao próprio quarto.

– Voltei? – Encarou estático o ser angelical deitado no colchão, os lábios abertos e os olhos fechados. Havia adormecido. – Virar a noite, hein?

Ignorou completamente a cama, deitando-se de frente a Jeongguk, extasiado com a visão dos traços delicados tão perto. Seus dedos foram de imediato aos fios recém lavados do garoto, acariciando toda a região e ouvindo-o suspirar baixinho. Bonito. Uma palavra que se encaixava perfeitamente bem a Jeon Jeongguk, o qual, como se sentisse a proximidade, enlaçou um braço na cintura de Taehyung. Daquele jeito, um pouco desconfortável porém aquecido por dentro, o Kim deixou-se vencer pelo cansaço e adentrou ao mundo dos sonhos.

 

– Taetae… – a doce voz o seguia até nos sonhos. Ou não. – Taehyung…

– Jeongguk – tateou o nada até achar o rosto do referido, tapando sua boca. – Me deixa dormir.

– Mas hyung…

– Shh…

– Taehyung – um travesseiro na cara. – Eu vou embora – dois. – Daqui a pouco – três. – Então é bom que você acorde!

– Jeon! – Agarrou o almofadado, arrancando-o das garras de Jeongguk e mandando-o longe.

– Agora você acordou – o sorriso de coelho fazendo seu estômago revirar logo cedo.

– Tá escuro ainda – apontou para a janela, sem conseguir ver sequer um rastro do Sol.

– Meu trem é às dez, então acordei seis pra gente conversar.

– Isso porque você ia virar a noite em claro, né?

– Desculpe, eu dormi.

– Ah, não me diga – cruzou os braços, lançando uma careta de olhos vermelhos para o mais novo.

Jeongguk apenas riu, abraçando-o como um coala filhote faz em sua mãe. Taehyung logo cedeu, passando seus braços ao redor do seu coala com sorriso de coelho e eliminando qualquer centímetro de distância. Conseguia sentir a palpitação descompassada de Jeongguk em cima de si, que aos poucos apoiou os cotovelos no colchão, erguendo-se para encarar o amigo. Beijou-o.

– Hyung – parou, seus cabelos no ar fazendo cócegas na testa do mais velho. – Isso é certo?

– Eu não sei – sussurrou, as mãos postas no pescoço macio. – Depois descobrimos.

– Certo – novamente encontrou seus lábios, inflamando topo o corpo de Taehyung, sem pausa para respirar. Não notou o quanto Jeongguk controlava suas ações e sentimentos, até que começou a subir o tecido leve de sua camiseta, podendo apalpar toda a epiderme tenra.

Os toques de Jeongguk iniciaram-se suaves no topo de seu tronco, traçando uma linha na lateral da extensão. Eles moviam-se em conjunto, como em uma dança ensaiada, entorpecendo-os até certo momento. O Kim paralisou ao perceber os dedos alheios no cós de seu short de pijama, empurrando-o de leve com as duas mãos. Jeon entendeu sem que uma palavra fosse trocada, voltando a encostar as costas no lado frio do colchão.

Passaram-se longos e tortuosos minutos encarando o teto, o cômodo silêncio absoluto, diferente das mentes desassossegadas.

Desde que havia tomado consciência de seus sentimentos pelo garoto, Taehyung nunca desconfiou ser correspondido. Não era uma opção. Mas de alguma forma em um intervalo de tempo consideravelmente pequeno, ambos passaram de amigos que dormem juntos para amigos que se beijam desesperadamente. A mudança assustou o Kim, que notou compartilhar de tal sensação com Jeongguk.

– Ainda somos amigos? – A voz baixa do mais novo reverberou nos tímpanos do mais velho, ambos permanecendo na mesma posição.

– Sempre vamos ser – seu tom não passou de um murmúrio.

– Promete? – Deitou-se de lado, obrigando Taehyung a mudar sua posição para visualizá-lo.

– Prometo.

– Você sabe que pode me pedir pra ficar.

Sim, Taehyung sabia que, se pedisse, provavelmente Jeongguk aceitaria passar o resto das férias de verão em Daegu. Mas seria errado privar os Jeon de um tempo a sós com os pais, de uma viagem em família.

– Vamos nos ver logo – respondeu ao invés, apertando o nariz avantajado do amigo.

– É o que eu mais quero, hyung.

 

As poucas horas que lhes restaram foram corridas, dobrando as peças de roupa de Jeongguk e tentando colocar tudo em sua mochila de estampa militar, a qual assustou a matriarca Kim, pensando que o garotinho estava a caminho do exército.

– Estou esquecendo a passagem! – Gritou antes que fechassem a porta, correndo até o quarto onde passara a noite e voltando com o bilhete entre os dentes.

– Sempre avoado – Taehyung comentou dentro do táxi, pensando seriamente em trancar Jeongguk naquela casa e nunca mais deixá-lo ir embora.

Sua ideia se esvaiu quando viu-se acenando para o único capaz de soltar borboletas em seu interior, acender uma chama intensa em sua pele e, ainda, o conceder as melhores gargalhadas que sua garganta conseguia produzir. Jeongguk era seu melhor amigo e estava partindo. Vê-lo se distanciar pela janela do trem foi pior que o último dia em Busan.

 

 

– Vamos comer fora.

– O que você quer, querido?

–  Tanto faz.

– Não existe essa comida, Taehyung.

– Qualquer coisa que vocês quiserem.

Os dois Kim observavam o filho brincar com a comida, a mão fechada apoiada na bochecha. No entanto, já esperavam essa reação, mas não podiam mudar o fato de Taehyung sentir-se sozinho. O trabalho consumia seus dias, tardes e noites, sem recesso.

– Namjoon disse que vai vir esse final de semana – a mulher comentou, colocando um pedaço de churrasco na boca.

– Vai ficar até que dia?

– Até o último fim de semana do mês.

A notícia gerou um contentamento no rosto do menino, o qual passou a comer com ansiedade, ansiando por conversas com o primo.

– Ele disse que vem acompanhado para te buscar pra um passeio no sábado.

– Jin-hyung? – Perguntou com a boca cheia.

– Um amigo de Seul.

 

 

Só podia ser Min Yoongi.

Desde aquele dia, Taehyung fervia seus neurônios tentando imaginar as possibilidades de se encontrar com o Min, rezando para que o fim de semana aproximasse com mais rapidez. Dentro de seus próprios devaneios, não notou um desenho em anime posto com cuidado em sua gaveta de bagunças até precisar de uma caneta para emprestar a sua avó.

Pegou o desenho intacto, reparando nas linhas bem feitas e notando a sombra de palavras na superfície do papel. Virou a folha.

“Tae,

senti tanto a sua falta. Mais do que pensei ser capaz de sentir. Nem Jimin nem o basquete diminuíram aquilo e chegou a ser irritante, sabe? Comecei a me perguntar se aquele efeito “Taehyung” era normal. É claro, depois de anos convivendo com você, eu me acostumei com a sua presença. Mesmo distante, eu te observava e sabia que você estava bem. Sentia calafrios no estômago. É normal? É isso que amigos sentem um pelo outro? Mas não é, Tae.

Eu sempre fui apaixonado por você, Taehyung. Mas como uma criança conseguiria identificar isso? Foi quando eu e você nos separamos e eu fiquei amigo do Jimin. Percebi que era tão diferente. Eu e você éramos tão diferentes. Taehyung, quando você fica perto de mim o meu coração bate como um louco. Eu só tenho 15 anos e talvez eu seja novo para entender isso tudo, mas você é minha música preferida e eu te amo.

Mas, você entende que tenho medo? Tenho medo que tudo dê errado e que no fim a gente se separe. Não tive coragem de te dizer tudo isso, mas aqui está uma frase (estou aprendendo inglês hehe) que eu achei por aí: maybe we’ll meet again, when we are slightly older and our minds less hectic and I’ll be right for you and you’ll be right for me”.

Vem visitar Busan logo.

Com amor,

J.J.”

 

 

 

 

 


Notas Finais


O que acharam? Taekook finalmente se declarando.
Quero comentários com críticas, positivas ou negativas. Podem mandar, são muito bem-vindos.
Às vezes acho que o capítulo é grande, mas com tão pouca coisa. Não sei. Quero saber a opinião de quem está lendo :)
Obrigada de coração por acompanharem!


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