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História Grupo para Jovens Problemáticos - ANNA


Escrita por: FordPrefect

Notas do Autor


OOOLÁ PESSOAL! :D
Estou de volta kkkk
E dessa vez trouxe para vocês a minha mais nova criação. Desde já espero muito que gostem!

~Boa Leitura! S2

Capítulo 1 - ANNA


 

ANNA

SEGUNDA-FEIRA, 6 DE MARÇO DE 2017

 

MANHÃ

 

 

Levantei cedo para preparar o café da manhã e agora estou lendo o jornal na mesa. Ouço o barulho do chuveiro ligado no andar de cima conforme vejo as manchetes. Nada que me chame atenção além das palavras cruzadas que prefiro deixar para mais tarde. Vou até a pia e deixo a xícara de café lá.

– Bom dia – sinto o cheiro de sabonete quando ele me abraça por trás. A barba grande arranha meu pescoço quando me beija e sinto um arrepio.

– Bom dia. – Quando me viro vejo que está usando o terno de sempre e o cabelo está molhado.

– Café, bacon, ovos mexidos... – ele analisa a mesa fazendo uma cara engraçada. – Hoje não é meu aniversário. É?

– Engraçadinho – vou até a sala e paro em frente ao espelho. Não estou gostando dessa blusa. Ela me deixa mais gorda que o normal. Estranho porque quando comprei não achava isso. Peguei o batom na bolsa e passei nos lábios para dar um pouco de cor.

– Hoje é seu grande dia. Está ansiosa? – Pergunta Patrick com a boca cheia.

– Muito – dou uma voltinha ainda na frente do espelho e então retorno para a cozinha. – E se eles não gostarem de mim?

– E por que eles não gostariam de você, querida? – Está comendo rápido pois está quase na hora de sair. Mesmo assim não deixa de conferir o jornal.

– Ah, eu não sei. – Caminho até meu celular que está na bancada e o tiro do carregador. – E se me acharem chata? Ou exigente?

– Eles não vão te achar nada disso. Fica tranquila.

A opinião do Patrick para mim é como a da minha mãe. Não tem muita importância. Porque não importa o que eu faça, sempre está perfeito para eles.

– Uso o cabelo preso ou solto? – Não sei por quê ainda pergunto. Ele termina o café apressado e me dá um beijo no topo da testa.

– Não importa. Você fica linda de qualquer jeito. – Passou por mim e foi para a sala.

Patrick trabalhava para uma empresa bancária no centro da cidade bem antes de me conhecer. Ele até gosta, exceto quando está estressado e xingando o chefe. Já pensou em sair de lá e procurar outro emprego, mas tem medo de correr esse risco e acabar desempregado.

Estou olhando para minha roupa novamente em frente ao espelho quando ele desce as escadas com a pasta nas mãos.

– Viu minhas chaves? – Ele bagunça as almofadas do sofá.

– Na mesinha.

Corre até a mesinha ao meu lado e agarra o molho de chaves que chacoalham. Parece até um carcereiro. Ele está com um perfume forte que eu adoro e impregna toda a casa. Me abraça por trás novamente e então seguro suas mãos em minha cintura. Olho para o nosso reflexo no espelho e sorrio.

– Vai dar tudo certo – sussurra no meu ouvido e me sinto um pouco aliviada. – Eu te amo.

– Eu também te amo – me viro e lhe dou um beijo rápido enquanto seguro seu rosto barbado.

 

 

Ergo o olhar a procura de uma vaga naquele estacionamento lotado e então acho. Desligo a música e agarro a bolsa no banco do passageiro, colocando-a no meu colo. Pego meu celular e olho a hora. Estou vinte minutos adiantada e me sinto bem por isso.

Ao sair do carro, sinto minhas pernas cambalearem e por um segundo me vejo caindo daquele salto. Odeio saltos e não vejo o que eles têm de tão elegante. O sol está forte e meus olhos ardem quando olho para o céu. Ajeito a bolsa no braço e sigo em direção a escadaria. Há adolescentes por toda a parte como ervas daninhas enraizadas nas plantações. Eles se dividem em grupos que ficam espalhados pelo jardim, pelo estacionamento e pela escada que dá acesso a dentro da escola.

São tantos e com rostos tão diferentes que me olham estranho que chego a me sentir um pouco desconfortável. Já estive em duas escolas antes dessa e acho que se somasse a quantidade de alunos das duas não dava nem metade do tanto de alunos daqui. Pode parecer exagero, mas não é. São muitos, muitos alunos.

Subo as escadas enquanto três garotos encostados no corrimão me olhada. Tenho a impressão de que um deles piscou para mim. Estou perto do portão quando sinto algo bater no meu braço. Não com muita força, mas levo um grande susto. A bola cai no chão bem perto dos meus pés e então ouço algumas risadas altas de pessoas em volta.

– Desculpa aí, tia – um garoto moreno com o dreads no cabelo se abaixa e pega a bola enquanto sorri.

– Tudo bem – passo a mão no local que a bola acertou e assinto para ele enquanto sigo para dentro da escola.

Por dentro, o lugar é ainda maior. O corredor principal é grande com vários armários velhos por toda a parte. Não deixo de notar alguns garotos implicando com um garoto loiro que guarda os livros com bastante raiva. Paro em frente a eles e então um dos garotos se viram para mim.

– Com licença – falo em um tom baixo. – Vocês poderiam me dizer onde fica a sala do diretor Morgan?

– Quem é você? – O outro garoto pergunta. Usa um uniforme do time de futebol e segura a mochila que está presa por somente uma alça no ombro.

– Eu sou Anna. O diretor Morgan me pediu para vir aqui e... – antes que pudesse terminar de explicar, o garoto me interrompe.

– Fica no final do outro corredor. À direita.

– Obrigada – agradeço e começo a me afastar quando então ouço um deles falar.

– Você é casada? – E então caem no riso.

 

Meus pés não param quietos enquanto permaneço sentada em frente a uma mesa. Uma mulher baixinha me convidou para entrar e sentar enquanto o diretor Morgan não chegava. Era uma sala agradável e espaçosa com uma grande estante de livros na parede ao fundo. Fiquei bastante curiosa em ir até lá olhá-los. Na parede oposta havia uma prateleira com vários troféus e medalhas e na outra, algumas pinturas. Consegui reconhecer A Criação de Adão, de Michelangelo e as outras não me recordava muito bem.

Em cima da mesa estava um porta-retratos virado de costas para mim. Me certifiquei de que ninguém vinha e o peguei. Era de Morgan ao lado de uma mulher linda, igualmente negra e sorridente. Eles estavam sentados na areia da praia e ela segurava um bebê no colo que parecia até que sabia que estava sendo fotografado pois olhava diretamente para frente com um sorriso enorme no rostinho gorducho.

– Elas são lindas, não são? – Meu coração dispara no peito quando ouço aquela voz ao meu lado. O diretor Morgan é bem mais alto do que imaginei. Usava uma camisa social azul clara com um blazer por cima e seus sapatos estavam perfeitamente polidos. Carregava no rosto um sorriso gentil e um olhar acolhedor (assim como na foto).

– Me desculpe... – Devolvo o porta-retratos a mesa e me levanto. – Eu só... – Tento me explicar, mas não acho uma boa desculpa para estar xeretando nas coisas dele. – Eu sou Anna – estendo a mão e ele aperta. – Nos falamos por telefone.

– Ah, sim. Claro. – Nos sentamos por igual e ao sentar, ajeito o cabelo porque nem preciso olhar para saber que está horrível. Devia ter o prendido. – É um prazer enfim vê-la, senhora Dustin.

– O prazer é meu. Aliás, bela família você tem.

– Obrigado. – Ele admira a foto por uns segundos e então põe de volta na mesa. – Mas enfim. Não estamos aqui para falar da minha família. Eu pedi que você viesse para que pudéssemos conversar sobre o novo programa que estamos criando. – Me ajeito na cadeira e assinto. – Pois bem. Desde que começamos o ano letivo em fevereiro, estamos tendo problemas sérios com vários alunos.

– Que tipo de problemas?

– Dos mais variados que você imaginar. – Quando ele diz aquilo sinto um pouco de medo. – Como você mesma deve ter viso, a escola tem uma quantidade absurda de alunos. Talvez por ser a única escola por perto. – Ele dá de ombros. – Então... com essa superlotação, vem os problemas. – Morgan tem um tom de voz calmo, mas que chega a intimidar pois ele é um homem alto e forte e aparentemente rígido. – Somente na semana passada tivemos duas brigas. Uma delas resultou em confusão e até a polícia foi acionada. Já encontramos drogas nos banheiros e embaixo das carteiras assim como nossas câmeras já flagraram adolescentes fazendo sexo.

– Meu Deus – digo horrorizada. Minha antiga escola parecia uma creche ao se comparar com o que ele estava dizendo.

– A situação não está nada fácil, senhora Dustin. – Ele negava com a cabeça. – Os professores estavam assustados com os roubos que aconteceram pelas redondezas, inclusive dois já pediram demissão. Foi quando tivemos a ideia do programa. – Ele pegou uma folha em cima da mesa e me entregou. – Aqui estão os nomes de alguns dos alunos que estão trazendo problemas para a escola. – Dei uma lida rápida nos nomes e voltei a olhar para ele. – De imediato nós pensamos em expulsá-los ou manda-los para algum reformatório. Mas depois de pensar a respeito, resolvi lhes dar uma segunda chance e criar o programa para tentar de alguma forma ajuda-los e consequentemente nos ajudar.

– Entendo.

Penso em dizer que essa decisão foi muito bonita da parte dele, mas não quero que me ache bajuladora.

– O programa aconteceria como uma aula comum durante as tardes. Todos esses alunos serão convocados a participar e a comparecer nas suas aulas diariamente. Caso contrário, serão expulsos imediatamente.

– E o que aconteceriam nessas aulas?

– Eu já ia chegar nessa parte. – Ele entrelaçou os dedos na mesa e fixou os olhos em mim. – As aulas seriam na verdade conversas, dinâmicas, debates e atividades educativas que escolher. Você terá todo o poder sobre como prosseguir com eles contanto que faça-os mudar suas atitudes. Estou sendo claro ou quer que eu explique melhor alguma coisa?

– Não, não. Eu estou entendendo – sorri e olhei novamente para os nomes na lista. Eram muitos. – É que... eu nunca fiz nada parecido antes. Na antiga escola em que trabalhava, eu apenas realizava consultas quando era necessário, entende? – Ele concordou. – Então... isso vai ser um grande desafio para mim.

– Então você topa?

– Claro.

– Tudo bem então – ele ficou de pé sorrindo e eu o imitei. – Será um prazer trabalhar com você, senhora Dustin.

– Por favor, me chame de Anna – aperto sua mão.

– Eu te explico amanhã tudo o que precisar saber e conversaremos sobre o salário. Pode ser?

– Oh, sim. Claro.

Estava bastante empolgada e uma pitada nervosa. E se não gostarem de mim?

 

 

NOITE

 

Patrick está na cama ao meu lado passando os canais da TV.

– Ele disse por quanto tempo isso vai durar? – Ele perguntou sem olhar diretamente para mim. Os olhos estavam vidrados na TV.

– Não – meus olhos estão grudados nas fichas que Morgan havia me entregado sobre cada aluno que participaria da aula. Cada uma delas mostrava tudo o que eu precisava saber sobre eles. Nome, idade e o que haviam feito para estarem ali.

– Mas não acho que vá demorar muito – expliquei.

– E se esses garotos forem agressivos? – Me virei para olhá-lo.

– Eu não pensei nisso. Você acha que são?

– Eles são arruaceiros, querida. – Tirou o cobertor e levantou da cama. – Senão, não estariam na sua aula – a voz dele ficou abafada quando entrou no banheiro. Me levantei também e parei ao lado dele que estava na pia escovando os dentes.

– Eles não são arruaceiros. – Argumentei, me olhando. Fiz um coque frouxo e amarrei o hobby. – Na verdade são, mas... eu não quero vê-los assim, sabe? – Estava passando hidratante nas mãos e nos braços enquanto Patrick tentava falar.

– Você sempre vê o lado bom das coisas, meu bem – falou com um pouco de dificuldade. Terminou de escovar os dentes e então enxugou o rosto. – Eu só me preocupo com você. Sabe disso, não é?

– Sim. Mas não há com o que se preocupar. Vai dar tudo certo – gosto de repetir aquilo porque de certa forma quero acreditar no que digo. Fico ali olhando para o meu reflexo no espelho tentando me convencer de que realmente vai dar tudo certo. Só preciso descansar um pouco para estar preparada amanhã. É isso.

3:00

– Chega – afasto as fichas dos alunos e me levanto da mesa. – Preciso dormir agora.

 

 

TERÇA-FEIRA, 7 DE MARÇO DE 2017

 

TARDE

 

São exatamente três horas da tarde agora. Sei disso porque conto cada minuto até que eles entrem por aquela porta. Meus pés não param de bater e tento manter a calma. Lembro do que Patrick disse e isso só me deixa mais nervosa. E se forem mesmo perigosos?

Quando a porta se abre, meus olhos se fixam no garoto alto que entra. Tem pele clara, cerca de um metro e oitenta de altura (talvez a altura de Patrick ou Morgan), e o cabelo está bem penteado em um topete. Ele me fuzila com os olhos.

– Oi – minha voz sai fraca. – Seja bem-vindo. Eu sou Anna... – ele me encara e então vai até uma das carteiras vazia, me ignorando por completo.

No mesmo instante entra outro garoto. Igualmente alto, pele morena e dreads no cabelo. Sorrio quando me olha e ele simplesmente vai até outro lugar vazio, no final da sala.

– Seja bem-vindo. – Digo novamente enquanto passo as mãos na roupa.

O próximo aluno a entrar é uma garota. Cabelo preto escuro, touca e um short jeans absurdamente curto. Ela masca um chiclete e nem sequer se dar ao prazer de me olhar. Depois dela, os outros começam a chegar juntos.

– Estão todos aqui? – Pergunto olhando para cada rosto que me olha. – Está faltando alguém? – Nenhuma resposta. Eles parecem ter ódio de mim.

– Pode começar logo com isso. Eu tenho compromisso depois daqui. – Uma garota negra, alta e robusta fala em um tom de revolta.

– Claro – dou outro sorriso e então vou até a mesa ao lado. Recolho a folha com o nome de todos e então volto a olhá-los. – Eu vou fazer essa frequência... e quando eu chamar o nome de vocês, eu gostaria que respondessem e falassem um pouco sobre cada um. Pode ser?

– Não estamos no fundamental. – Falou o garoto negro no final da sala que estava com os pés na carteira da frente. Alguns deles riram e senti uma pontada de alívio por estarem interagindo.

– É apenas uma dinâmica. – Me expliquei. – Achei que seria bom para nos conhecermos melhor.

– Nos conhecermos melhor? – Um garoto loiro no final da sala falou dessa vez. – Está brincando com a minha cara, não é?

– Na... na verdade não. Por que acha isso?

– Ninguém aqui quer conhecer ninguém. – Todos concordaram com a cabeça e ouvi até outro dizer “não mesmo”. – Sabe o que queríamos mesmo, senhora...

– Dustin.

– Senhora Dustin. – Ele completou. – Queríamos estar em qualquer outro lugar, com nossos amigos de verdade. Não aqui. Com você. Sacou?

– O loirinho tem razão. – A garota de cabelo escuro e short curto concordou com o celular na mão. – Quanto tempo isso vai demorar?

– É. Eu tenho compromisso. – A garota negra voltou a repetir.

– Eu já entendi isso. – Falei para ela, tentando ser educada.

– Então por que não nos libera logo? – Ela parecia enfurecida.

– Eu não posso fazer isso. – Neguei com a cabeça.

– Então somos tipo prisioneiros? – O de topete perguntou. – Sem ofensas, Dion. – Ele olhou para o garoto ao seu lado. Negro, careca e vestido em um casaco. O garoto olhou para ele como se quisesse mata-lo ali mesmo.

– O que você disse? – O garoto levantou da carteira e meu coração disparou na mesma hora. – Repete, seu filho da puta! – O de topete também estava de pé agora.

– Gente, por favor... – Me aproximei deles e me coloquei entre os dois. – Não estamos aqui para brigar. – Estava com os braços abertos, encostando nos dois que se olhavam feio.

– Estamos aqui para fazer o quê, afinal? – Uma loira, sentada na frente perguntou.

– Nós vamos chegar lá. – Olhei para ela enquanto os dois garotos voltavam para seus lugares sem parar de se olharem. – Ainda precisamos nos conhecer. Esse é apenas o primeiro encontro.

– E quanto tempo isso vai durar? – O moreno de dreads no final da sala perguntou.

– Eu ainda não sei.

– Olha, eu tenho treino daqui a pouco. – O de topete dizia. – Então a merda que tiver de falar fala logo.

– Por favor, evitem os palavrões durante a aula. Eu exijo respeito. – Estava me controlando para manter a calma.

– Por que estamos sendo obrigados a ficar aqui? – A garota loira da frente perguntou.

– Vocês não estão sendo obrigados, nem são prisioneiros – encarei o garoto de topete.

– Então podemos pegar nossas coisas e ir embora? – O loiro no final da sala perguntou.

– Isso é injusto. – A garota de short falou negando com a cabeça. – Estamos em um país livre. Devíamos poder sair daqui quando quisermos.

– Gente, por favor, – eu tentava acalmar aquilo que se tornou uma discussão na sala – vamos por favor fazer silêncio para podermos esclarecer todas as dúvidas.

– Você é professora de quê? – O garoto moreno no final da sala perguntou após me analisar dos pés à cabeça. Aliás, todos ali me analisavam.

– Eu sou psicóloga, na verdade.

– Então somos tipo... seus pacientes? – A loira questionou.

– Não! Não é isso.

– Era só o que nos faltava. – O de topete falava. – Seremos tratados feito loucos e obrigados a ficar aqui nessa sala com uma dondoca que nem ao menos consegue manter a turma em silêncio.

– Está vendo como isso é uma perda de tempo, senhora Dustin? – O loiro voltou a falar no final. Agora reparo que ele tem um curativo na testa. – Nos deixa sair logo e termina com essa palhaçada de uma vez. Ninguém aqui quer passar a tarde ouvindo você falar o quanto devemos mudar para sermos alguém na vida. Ninguém aqui precisa ouvir nada de ninguém. Não pedimos por isso. – Sua voz era a única que ecoava na sala. – Então poupe o seu e o nosso tempo e acaba logo com isso.

Eu olhava para ele e ele para mim. Todos estavam em silêncio e ainda me olhavam feio. Cada um daqueles rostos ali me encarava como se eu tivesse os feitos algum mal.

– Deixa eu fazer só uma pergunta, senhora Dustin. – O loiro voltou a falar. – Quem aqui, nessa sala, está aqui por livre e espontânea vontade? – Senti um aperto no peito com aquele silêncio que pareceu durar uma eternidade. – Está vendo?

Baixei a folha que segurava e coloquei no birô. Senti seus olhares me seguirem enquanto me aproximava da porta. Estava me segurando para não chorar. Abri a porta e voltei a olhá-los.

– Está aberta. – Falei. – Se quiserem sair, é só sair. Eu não estou aqui para obriga-los a nada. Vocês são livres para escolherem o que querem para suas vidas. – Olhei para a garota de short curto e touca. – E de maneira alguma serão obrigados a ficar aqui. – Voltei para frente da sala e parei. – Mas antes de pegarem suas coisas e saírem... eu gostaria que me respondessem uma coisa: por que estão aqui?

Nenhuma resposta, como imaginei.

– Sabe porque estão aqui? Estão aqui porque são o pior que essa escola tem a oferecer. – Olhava para cada rosto daquele. Quase que podia sentir a raiva deles. – Estão aqui porque precisam mudar suas atitudes se quiserem continuar nessa escola. Porque estão, de alguma forma, causando problemas. Vocês são jovens problemáticos que precisam de orientação e é aí que eu entro. Tentei me aproximar de vocês da melhor maneira possível, mas percebi que não funcionou. Então volto a repetir: vocês são os piores da escola. E a chance de mudar, de serem pessoas diferentes e permanecerem na escola, está em suas mãos. Se querem ser pessoas melhores, se querem mudar de alguma forma, sejam-bem-vindos a minha aula. Estarei aqui de braços abertos para todos vocês. Para acolhê-los e ajuda-los. Mas isso vai depender única e exclusivamente de vocês. Se não quiserem, podem sair. A porta está aberta. – Apontei para a esquerda. – Mas haverá consequências. Ao sair por aquela porta, não é mais comigo. É com a direção e seus pais. – Nenhum comentário, nenhuma risadinha, nem uma piada. Silêncio absoluto. – Eu sou Anna. Formada em psicologia e pedagogia e estarei aqui toda a tarde a partir de hoje. Nossas aulas serão das três às cinco da tarde todos os dias. – Peguei a folha e minha bolsa na mesa e voltei a olhá-los. – A partir de amanhã, eu quero que permaneça nessa sala apenas os que tiverem interesse. Os que tiverem compromissos, – me direcionei a garota negra que não parava de me encarar – por favor nem apareçam. Não sou obrigada a ficar aqui falando para quem não quer nada com a vida. Se não quiserem ajuda, o problema é de vocês. Até amanhã.

Então sai da sala e esperei ouvir gritos e vaias, mas tudo o que ouvi foi silêncio absoluto.

 

Passei o resto da tarde na sala dos professores tentando ligar para Patrick, mas ele não atendia. Estava nervosa e meu pé não parava quieto. Estava esperando que Morgan fosse entrar para me perguntar sobre o dia, mas ele não apareceu.

Quando deu exatamente cinco horas, o sinal tocou e então sai. Seguia pelos corredores sentindo todos aqueles olhares em cima de mim. Desci os degraus e fui até meu carro parado no estacionamento. Ao me aproximar, vi que alguém havia o riscado, deixando uma frase:

“Vá embora vadia”



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