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História Grupo para Jovens Problemáticos - KENDRA


Escrita por: FordPrefect

Notas do Autor


Oooolá pessoal!
Mais um capítulo para vocês.
Espero que gostem!

~Boa Leitura ^-^

Capítulo 6 - KENDRA


 

KENDRA

QUINTA-FEIRA, 9 DE MARÇO DE 2017

 

NOITE

 

 

O céu está estrelado e faz um pouco de frio naquela noite. Olhando as estrelas do quintal está uma garota negra. A toalha está em volta de seu corpo largo e robusto.

– Kendra. O que está fazendo aí?

Ela direciona o olhar para a mulher na porta que segura um cigarro entre os dedos. Tem a pele negra, o cabelo bagunçado parece um ninho e os ossos chegam a ser visíveis.

– Vendo as estrelas. – Kendra responde.

– Não ia tomar banho? – A mulher solta a fumaça, sem tirar os olhos dela.

– Eu vou. Estou esperando a água ferver.

– Certo. – Ela traga profundamente o cigarro e então solta a fumaça novamente, fechando os olhos. – Não demore muito. – Diz, passando a mão no rosto. – Preciso falar com você.

– OK.

A chaleira chia no fogão e Kendra desliga o fogo. Agarra a chaleira e despeja a água fervente no balde que está pela metade. Carrega o balde de volta para o quintal pequeno e fecha a porta da cozinha. Se livra da toalha e leva o balde até o canto.

Quando a água morna encontra seu corpo, a garota fecha os olhos, sentindo um grande alívio. Ao abri-los novamente, ela encara o céu. Está tão lindo. Por que as pessoas preferem se trancar em seus banheiros com teto ao invés de tomarem banho com uma linda visão como aquela?

 

 

– Pega mais uma cerveja pra mim. – O careca deitado no sofá grita da sala sem tirar os olhos da velha TV.

Kendra abre a geladeira, pega penúltima cerveja do engradado e leva até ele que abre com os dentes. Ela retorna para a cozinha e fica observando a mulher tentando enfiar o mingau de aveia na boca do bebê.

– Porra! – Ela esbraveja. – Come!

– Deixa comigo. Eu sei como fazer. – Diz ela, pegando o prato e a colher. O bebê de cabelo escuro encaracolado abre um sorriso banguelo ao vê-la. Kendra pega um pouco do mingau e põe na boca dele que se suja um pouco. Ela passa a colher pelos cantos de sua boca e limpa.

– Você é mesmo boa nisso. – A mulher está encostada no balcão tentando acender outro cigarro.

– O que queria falar comigo?

– Ah. – Ela joga o isqueiro na mesa e cruza os braços. – O diretor da sua escola ligou.

Kendra se vira para ela.

– O que ele queria? – A expressão em seu rosto é diferente.

– Por que não me contou que estava em um grupo de apoio?

Ela enfia outra colherada de mingau na boca do menino que saboreia tudo.

– Não é nada importante. – Ela diz. – Além do mais, já sai daquela merda.

– Ele disse que você tem faltado as aulas esses dias. – Outra tragada. – Acha certo o que está fazendo?

– Não é da sua conta. O que mais ele disse?

– Não é da minha conta? – Ela dá um passo à frente e a encara.

– O que mais ele disse?

– Disse que você tem que ir pra escola amanhã porque quer conversar com você. – Kendra está com a colher parada à caminho da boca aberta do garoto.

– Acha que ele vai me expulsar?

– Eu não sei.

– Merda. – Ela solta a colher no prato e põe em cima da mesa.

– Aonde você vai? – Ela pergunta quando ela começa a se afastar.

– Vou pro meu quarto. – Kendra está na entrada da cozinha.

– Espera. – A garota revira os olhos e se vira para ela. – Você está tendo algum problema lá naquela escola?

Ela engole em seco e responde:

– ...não.

– Não tem algum merdinha enchendo o seu saco? – Ela gesticula com o cigarro preso entre os dedos.

– Não!

– Ken... eu sou sua irmã. – Elas se olham. – Somos só você e eu nesse mundo e eu me preocupo com você. Sabe disso, não é? – Kendra permanece imóvel. – Pode me contar qualquer coisa.

– ...eu... – ela pensa – eu vou para o meu quarto.

Sai da cozinha e passa pela sala enquanto o homem careca coça o saco enquanto xinga alguém da TV.

 

 

Por volta das duas da madrugada, Kendra acorda com os gritos. Estão vindo do andar de baixo. Não é nada novo para ela. É algo que acontece com frequência.

– ...pra nossa casa! – Kiara grita.

– Minha casa! Minha! – Billy também grita. – E como se não bastasse você e o garoto, eu ainda tenho que sustentar a ogra da sua irmã!

– NÃO FALA ASSIM DELA!

– EU FALO COMO EU QUISER!

– Ela é minha irmã!

– Eu tô cagando pra você e pra sua irmã! Se não quer ouvir a verdade, arruma um emprego e sustenta ela! Eu já tô me cansando de cuidar dela como se fosse minha filha.

Um baque forte seguido de um grande silêncio.

Kendra fecha os olhos e deixa as lágrimas virem.

 

 

MANHÃ

 

 

– Por favor, entre. – O diretor diz sentado do outro lado da mesa. Kendra entra na sala e senta-se à sua frente. – Está tudo bem? – A garota não responde. Apenas olha para ele de maneira fria. – Olha... Kendra... a Senhora Dustin disse que você não está mais comparecendo ás aulas. Por que?

– Porque eu não quero.

– Você não quer? – Ele a encara e ela não diz nada. Um momento de silêncio segue. – Kendra, eu preciso que me entenda bem. – Ele cruza os dedos em cima da mesa e aproxima o corpo. – Você está à beira de ser expulsa dessa escola pelas várias infrações que você cometeu.

– Está falando da Beverly? – Ela perguntou.

– Também. Você agrediu ela durante o treino, Kendra.

– Você não sabe de toda a história – retrucou ela.

– Mas eu sei que agrediu ela. E isso basta. – Ele diz com seu tom de voz sério. – Você sabe que te mandei para a aula da Senhora Dustin ao invés de te expulsar, não foi?

– Eu não quero voltar para lá.

– Então eu não vejo outra escolha a não ser te expulsar. Eu sinto muito.

– Faz a porra que você quiser! – Ela levantou rapidamente e bateu a porta com força ao sair.

 

 

TARDE

 

 

Os olhares feios vinham de quase todos ali naquele refeitório. Kendra já aprendeu a ignorá-los. Seguia caminhando com sua bandeja até encontrar uma mesa vazia. Sentou-se, agarrou o sanduíche e começou a comer.

O que Kiara dirá quando souber que ela vai ser expulsa? É no que ela pensa e sua cabeça lateja.

Na mesa ao lado, ela ouve aquela voz irritante que lhe dá nos nervos. Aquela voz aguda que pertence a garota loira que conversa e ri com os amigos.

– Saca só essa. – Diz um dos garotos que segura uma bola de basquete. Ele ergue a mão e joga, acertando na bandeja de Kendra. As pessoas em volta gargalham alto. – Foi mal aí! – Ele fala com ela em meio aos risos.

– Olha só gente. – A loira diz. – Olhando assim parecem até mãe e filha. – Os risos aumentam. O garoto forte de topete levanta e vai até a mesa ao lado onde a garota os encara com bastante ódio.

– Deixa eu pegar aqui... – ele aproxima as mãos da bola quando rapidamente, Kendra espeta a faca nela, fazendo-a murchar rapidamente. Tudo fica em silêncio. Ela levanta e sai dali, bufando de ódio enquanto as lágrimas invadem seus olhos.

 

 

TARDE

 

 

Abraçada com a mochila, Kendra permanece ali nas arquibancadas vazias.

“Eu tenho medo de banheiros” ela ouve a voz de Anna lendo os bilhetes. Ouve as risadas em sua cabeça.

“Eu tenho medo da monstra de chocolate” os risos fazem sua cabeça doer ainda mais.

Ela não chora. Kendra sempre achou que chorar é um sinal de fraqueza e não podia se sentir fraca.

Subindo as escadas das arquibancadas, ela vê um garoto se aproximando. Conhece ele. Dion Heistman. Da aula da Anna.

– Eu quero ficar sozinha! Vaza daqui. – Ela diz, passando a mão nos olhos.

– A porra do campo não é seu. – O garoto negro se senta, enfia a mão no bolso, puxa um cigarro e põe na boca. – Se está incomodada sai você.

– Eu tava aqui primeiro.

– Eu tô pouco me fodendo pra isso. – Ele solta a fumaça.

– Vai se foder!

– Quem diria. – Ele exibe um sorriso branco. – A Monstra de Chocolate está chorando pelos cantos.

– Vai se foder! Eu não estava chorando!

– Aposto que foi a loirinha gostosa. – Ele traga profundamente e fecha os olhos. – Bradley. Acertei?

Ela o olha com um ar de desprezo e nega com a cabeça, desviando o olhar para longe.

– Você não vai quebrar a cara dela de novo, vai? – Ele começou a rir.

– Eu vou embora daqui! – Ela diz. – O diretor Morgan vai me expulsar.

– O que você queria? Não aparece mais nas aulas da vadia.

– Não é da sua conta, tá legal? Você não tem nada a ver com isso! – Ele sorria, fumando seu cigarro despreocupadamente. – Não devia estar roubando uma hora dessas?

– Cala a boca! – Ele não ri mais. – Você não sabe de nada sobre mim.

– Nem você de mim!

– Ah, eu sei sim. – Ele se curvou na direção dela. – Eu sei que você deu uma surra na Bradley, sei que você foi pega mijando atrás da quadra umas quatro vezes, sei que você não entra na porra dos banheiros por um motivo que ninguém sabe. E sabe o que eu sei mais, Kendra? – Ela o encara. – Que você é uma covarde.

– Eu não sou covarde! – Ela fica de pé rapidamente e grita.

– Ah, você é sim. É um bebezão que corre chorando no primeiro problema que aparece. – Eles se olham fixamente. – Prefere ser expulsa da escola do que voltar para a aula e enfrentar aqueles idiotas. Isso é covardia. – Kendra está com o maxilar rígido e os punhos cerrados. Seus olhos estão vermelhos e ela quer gritar bem alto, mas não o faz. – Agora, – ele traga o resto do cigarro, joga no chão e o pisa – se me der licença, a aula da vadia já vai começar.

 

 

Kendra está parada de frente a uma porta fechada. Ela ouve as vozes do outro lado. Sabe no que está se metendo. Sua mão encontra a maçaneta e permanece ali, quieta. Não pode ser expulsa. Não pode ser covarde. Ela gira a maçaneta e empurra a porta.

Todos sentados ali se viraram quando ela entrou, inclusive Anna. A garota encarou aqueles rostos surpresos e então seguiu silenciosamente até sua carteira. Largou a mochila no chão enquanto Anna assentia, sorridente. Desviou o olhar para o garoto negro do outro lado da sala que olhava para ela com um sorriso no canto dos lábios.



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