Guarda-Costas
– Mas que saco, comprei aquela saia ontem e não vou poder estrear! – Reclamações, a única coisa que saía daquela boca rosa.
– Te garanto que andar em uma Bike de saia pode ser bem constrangedor e incômodo. – Expliquei para a tagarela rosada, indo para o jardim da mansão.
– Eu já entendi, sabichão! – Ela entortou os lábios. – Ainda bem que eu tenho uma calça verde... – Suspirou aliviada, analisando as próprias vestes.
– Por que sua barriga está à mostra? – Arqueei a sobrancelha.
– Homens... Aff... – Ela rolou os olhos, me fitando com superioridade – Isso é uma camiseta pequena, estilo blusinha. – Apontou para o pedaço de pano. “Pedaço” mesmo, porque aquela coisa curta não era camiseta, de jeito nenhum. – A saia que eu estava usando é de cintura alta... – Fez gestos com as mãos enquanto explicava a baboseira toda. – ...Já que a calça que eu coloquei agora é de cintura baixa, é claro que minha barriguinha aparece, né gênio?
– Hn. – Caminhei até minha Bike.
– Essa é a sua Bike? – Perguntou assustada.
– Sim.
– Não quero andar nisso aí não! – Evacuou para trás em três passos. – Segurança zero!
Não consegui segurar a gargalhada.
– Segurança zero?
– Aham! – Assentiu.
– Eu que sou sua “segurança” Senhorita. – Respondi simples. – Pode ficar tranquila.
– De jeito nenhum!
Suspirei impaciente.
– E você queria o que? Um capacete, um banco e um cinto de segurança? – Sorri de lado para provocá-la.
Recebi um belo dedo do meio como resposta.
– Então não quer mais sair comigo? – Perguntei .
Me aproximei da rosada marrenta em passos lentos.
A Haruno fitou o chão, perdida em pensamentos, as quais eu desconhecia.
Recentemente ela anda assim, meio desligada e estranha. Hoje finalmente a vi me xingar, e implicar comigo. Fiquei aliviado, pois o novo comportamento dela me preocupou. Essa semana ela se tornou mais educada, e tentou ser mais meiga comigo, mas a Haruno que eu conheço não é assim. Por isso a chamei para sair, queria que ela se distraísse um pouco e voltasse a ser a mesma. Fiquei muito surpreso por ela ter preferido sair comigo do que com as amigas. Bem, pensando melhor isso foi estranho, normalmente ela escolheria sair com as amigas. Seja o que for, tudo bem, pelo menos ela está voltando a ser a birrenta de sempre.
Gosto de implicar com ela. É o que deixa meu trabalho divertido.
– Tudo bem, por motivo de força maior, subirei nesta coisa perigosa. – Respondeu a rosada.
– “Por motivo de força maior”? – Enruguei a testa. – Como assim?
– N-Nada, não é nada! – Gaguejou inquieta, se aproximando da ‘Bike’, ou como a própria rosada fala, a “coisa perigosa”.
– Certo. – Me sentei no acento da Bike. – Pode subir neste banquinho de ferro aí atrás.
– Nem tem uma almofadinha para o meu bumbum! – Reclamou após sentar na barra.
– Segure em mim.
– Há! Ah tá que eu vou... HAAAAAAAAAAAAAAA! – Grudou os braços em meu ombro, quando comecei a pedalar.
O porteiro liberou o portão, e fomos para a rua. Assim que chegamos na rua movimentada, pedalei mais rápido, para desviar dos carros.
– AAAAAH! – Haruno poderia ser cantora de opera, seu grito agudo ultrapassa três oitavas.
– Se continuar gritando desse jeito irão pensar que estou te sequestrando. – Me virei para trás, tendo o privilégio de ver a expressão apavorada de Haruno, essa com certeza é uma expressão que guardarei muito bem em minha memória.
– OLHE PARA FRENTE, SEU LAZARENTO, NÃO QUERO MORRER JOVEM! – Agarrou meu terno com extrema força.
– Nem estamos em alta velocidade! – Rolei os olhos, já ficando cheio daquele drama todo.
– Só quero chegar logo nesse restaurante! – Resmungou irritada.
– Sim, Senhorita. – Assim como ela pediu, pedalei mais rápido, aumentando a velocidade – Chegaremos já, já!
– AAAAAAAAAAAAH!!! – Ela soltou aquele berro de opera de novo.
– Pare de gritar igual retardada, garota! – Reclamou o motorista que dirigia o carro ao lado. A rosada inflou as bochechas em pura irritação. Já previ a confusão que isso se tornaria, então pedalei muito mais rápido deixando o carro do homem para trás.
– NÃO FALA COMIGO NÃO, CARALHO! SEU BOSTA! – Gritou tão forte que duvidei que aquela voz demoníaca viesse dela. – ENVIADO DO SATANÁS!
Mordi o lábio para não rir. Se ela me visse rindo, iria arranhar minha cara inteira com aquelas unhas enormes.
– Que ódio! – Ela rugiu.
– Calma Senhorita, já estamos chegando.
– Pare de me chamar de “Senhorita”, caraca, isso já tá enchendo o saco! – Resmungou.
Por essa eu não esperava.
– Desculpe Senhorita, mas tenho ordens para não te chamar somente pelo nome.
– ‘Cê vai ver a ordem quando minha mão pousar no meio da tua cara! – Me ameaçou. – Seu nariz vai afundar todinho! – Ela se ajeitou no ferro que estava sentada.
– Certo... – Soltei um riso soprado.
– Por que tu tá rindo seu retardado?!
– Nada, não é nada... Haruno. – É estranho pronunciar o nome dela sem o “Senhorita” antes.
A Haruno parece estar irritada hoje.
Sei que é normal ela me xingar, e se irritar comigo. Mas hoje parece ter algo por trás dessa irritação toda.
Paramos em frente ao restaurante.
– Chegamos. – Avisei animado.
– Ufa! – Ela soltou a respiração. – Pensei que ia morrer... – Se abanou.
Haruno olhou de um lado para o outro, e fez uma careta confusa.
– Chegamos onde? – Questionou.
– No restaurante. – Respondi o óbvio.
Ela olhou ao redor outra vez, ainda confusa.
– Não estou vendo.
– Aqui óh! Bem na nossa frente! – Apontei.
O queixo dela caiu.
– Que restaurante é esse?! Você me trouxe para um restaurante de pobre?!
– Eu não disse que era um restaurante de rico. – Dei de ombros.
– Uchiha – Ela grunhiu em um tom ameaçador. – Você me enganou, seu infeliz!
– Eu? Quando eu te enganei Senhorit-... ‘Haruno’?
– Quando disse que me levaria a um restaurante! – Cruzou os braços nervosa.
– E eu fiz isso, estamos na frente de um! – Apontei outra vez para o restaurante.
A rosada suspirou pesadamente.
– Karin... Você me paga! – Ela murmurou baixinho, mas eu consegui ouvir. – Certo Uchiha, você venceu! – Ela deu de ombros e ergueu seu olhar para o restaurante de esquina. – Vamos entrar nessa joça!
– Sim, Senhorita Haruno. – Saí da Bike em um pulo.
Notei uma mudança na postura da rosada, ela respirou fundo, como se estivesse se preparando para fazer algo.
A rosada se mexeu, pronta para se levantar.
– Deixa eu te ajudar. – A peguei pela mão, ajudando-a a se levantar. Depois levei minha Bike até a parede perto da entrada do restaurante e a encostei ali. – Vamos entrar então? – Ela assentiu e me seguiu.
Haruno entrou acanhada, olhando para as pessoas e passando entre as mesas com cautela.
– Tem uma mesa perto do balcão. – Fiz um sinal para a rosada me seguir até lá.
Puxei a cadeira para ela se sentar, dei a volta na mesa e me assentei na cadeira em sua frente.
– Ah, esse cheiro de lasanha... – A pequena murmurou olhando para os lados, fazendo uma carinha adorável. – Está sentindo?
– Sim, parece bom, não é? – Recebi um aceno positivo como resposta e sorri com a expressão animada dela. – Quer pedir uma?
– Oh! Eu posso?! – Os olhos de esmeralda brilharam.
– Claro que pode! – A rosada abriu um sorriso que eu desconhecia. Um sorriso infantil e doce, que por algum motivo estranho fez meu coração se aquecer.
Ela pegou o cardápio em cima da mesa, lendo animada.
Fizemos nossos pedidos para a garçonete, ambos pedimos lasanha.
A garçonete voltou, trazendo nossas lasanhas, fazendo os olhos esverdeados da pequena Haruno brilharem ainda mais.
Não pude esconder meu sorriso quando olhei para a cara da rosada.
– Faz tanto tempo que eu não como uma lasanha – Ela estava quase chorando de alegria. – Mamãe não gosta de massa, diz que engorda.
– Pode aproveitar – Sorri para ela. – Se quiser repetir, fique a vontade.
– Você é um anjo! – Me encarou com aqueles olhos brilhantes. – Muito obrigada Uchiha! – Agradeceu com um sorriso verdadeiro.
– Na verdade sou “anjo da guarda”. – Dei uma piscadela. Estranhei ao vê-la corar.
Começamos a comer tranquilamente.
Uma conversa gostosa surgiu entre nós, por incrível que pareça conversamos bastante.
Escolhi os sabores dos sorvetes para a sobremesa. Haruno disse que nunca havia comido tantos sabores misturados antes. Ela estava realmente se divertindo, suas risadas eram soltas e verdadeiras, e não falsas como as que eu já estava acostumado.
O tempo parecia passar rápido demais.
Quando dei por mim já eram nove da noite.
– Vamos embora? – Indaguei.
Haruno desanimou.
– Mas já? – Olhou para o relógio em seu pulso. – Nossa, já é essa hora?! – Disse surpresa.
– Você gostou? – Perguntei com expectativa.
– Do que?
– Do restaurante e da comida.
– Gostei sim! – Respondeu animada.
– Bem que eu gostaria de ter te levado a um restaurante caro, mas não tenho dinheiro suficiente nem para pagar a mesa. – Expliquei meio sem graça.
Ela me fitou com surpresa.
– N-Não se incomode com isso! – Ela balançou as mãos. – Eu que fui rude ao falar desse restaurante!
– Aqui é meu restaurante preferido, a comida é ótima! – Haruno concordou com a cabeça.
– Obrigado por me trazer aqui, Uchiha, gostei bastante! – Sorriu abertamente.
Me alegrei ao ouvir isso dela.
Nos levantamos para ir embora.
Paguei a conta e saímos para fora.
– Nunca me diverti tanto! – Ela se espreguiçou.
– Fico feliz em saber disso, Senhorita! – Desencostei a minha Bike da parede.
– Me chame pelo nome! – Ela fez um bico tipicamente infantil.
– Desculpe, Haruno. – Eu me corrigi.
A bela jovem de cabelos rosados começou a balançar a cabeça em sinal de negação.
– Pelo meu nome! – Repetiu.
– Haruno.
– Esse é meu sobre nome.
– Quer que eu te chame pelo primeiro nome? – Perguntei perplexo. Meu tom de voz subiu consideravelmente. – Não posso Senhorita!
A rosada começou a gargalhar, como se eu tivesse contado uma piada.
– Você é tão certinho! – Sorriu abertamente, do jeitinho que aprendi a gostar. Mostrando os dentes branquinhos e as gengivas vermelhas. Adorável!
– Não posso misturar as coisas, te chamar pelo nome é muita audácia para mim. – Expliquei enquanto a ajudava a subir na bike.
– Seu bobo! – Ela riu de novo, me fazendo rir também.
Voltamos à mansão em menos de vinte minutos.
Haruno começou a subir as escadas para ir ao seu quarto.
– Boa noite, Haruno.
Ela virou-se para mim com um sorriso ousado.
– Durma bem, Sasuke! – Falou suave.
A observei subir as escadas, surpreso com o que acabara de ouvir.
Ela me chamou pelo nome?!
Parece que as coisas estão tomando um rumo diferente hoje...
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