História Guardião por destino - Esse é o seu último aviso

Gabriela choramingou novamente ao sentir mais um puxão contra o seu coro cabeludo. O homem – vampiro? Monstruosidade? – claramente estava ficando impaciência com a demora de suas presas em se renderem, e o medo de ela acabar sofrendo as consequências desse mau-humor continuava a contorcer o seu estômago de uma forma descomunal. Ela nunca esteve tão assustada em toda a sua vida, e ao mesmo tempo, tão confusa.

Ela não se lembra como exatamente foi parar nas mãos do lorde vampiro que a mantinha refém. Na verdade, ela não fazia ideia do que estava acontecendo, e tampouco o porquê de um vampiro estar querendo matar o seu melhor amigo.

Para falar a verdade, ela ainda estava tendo sérias dificuldades em engolir a realidade que vampiros existiam.

Mas lá estava ela; rodeada daqueles monstros sanguinários enquanto o seu líder parecia decidido em acabar com a vida e tudo o que era mais precioso para o seu amigo. Insatisfação e fúria se juntaram ao medo no conjunto de emoções que continuava a invadir a sua mente. Então foi por isso que Luba tinha saído subitamente do país na tal viagem com os seus pais? Ele estava fugindo desse Godric? Se essa era a verdade, por que exatamente ela foi descobrir isso apenas agora e da pior forma possível? Ela rangeu os dentes devido à dor e a insatisfação com Lucas. Se a vida dela estava correndo perigo, então ela merecia pelo menos saber disso caramba! Luba e ela teriam uma séria conversa quando essa bagunça acabasse.

Bem, isso se eles sobrevivessem.

— Se você não parar de se contorcer, eu vou arrancar o seu cabelo agora mesmo, mulher. – Godric rosnou, jogando Gabriela no chão com tamanha força que a jovem acabou soltando um alto ofego de dor quando seu corpo atingiu o chão. Ele, no entanto, apenas sorriu com uma sombria satisfação em assistir o sofrimento de sua refém – Humanos, tão patéticos e frágeis. Talvez eu devesse ter te matado assim que a trouxeram. Uma morte rápida e indolor seria muito mais misericordiosa do que eu tenho planejado para o seu amiguinho e esses malditos caçadores.

Gabriela choramingou e, sabiamente, não tentou se levantar novamente. Estava sentindo uma dor explosiva em seu ombro direito, e seu braço estava pouco responsivo, o que significava que apenas a força com que ela fora jogada no chão foi o suficiente para deslocar – ou até mesmo quebrar – o seu braço, e se aquela era a força do vampiro quando ele estava sendo casual, ela realmente não queria receber um golpe com força total.

O ranger de portas de metal se abrindo capturou a atenção de todos os vampiros – e a humana – presentes no local. Gabriela levantou a cabeça do chão enlameado com dificuldade e assistiu com olhos mareados duas pessoas saírem de dentro da gigantesca base camuflada nos rochedos. Eram dois homens, um sendo loiro de olhos azuis com uma barba rala por fazer, e o outro um moreno de olhos castanhos com uma barba um pouco mais cheia e bem cuidada. Os dois estavam vestidos com roupas completamente pretas; o sobretudo que completava as vestimentas do loiro sendo a única diferença. Suas expressões também diferiam, sendo que o loiro permanecia completamente apático, enquanto o moreno tinha uma expressão tão tempestuosa que Gabriela sentiu um calafrio desconfortável lhe correr a espinha. Quando eles se aproximaram mais, ela finalmente notou as marcas avermelhadas quase transparentes que adornavam seus antebraços e sumiam dentro da camiseta preta, apenas para surgir novamente na área de seu pescoço, onde sumiam por completo. Ela piscou diversas vezes de forma surpresa. Que gosto peculiar para tatuagens.

Os dois assentiram e gesticularam para que fossem seguidos, entrando novamente na base. Godric sorriu, puxando Gabriela para que ela ficasse de pé e a arrastando para dentro, sendo seguido pelos seus fiéis vampiros. Ela não fazia ideia do que estava acontecendo, mas assim que entraram, ele a jogou no chão novamente – com menos força dessa vez – e voltou sua atenção para a dupla parada a alguns metros de distância.

— Então, finalmente decidiram se render? – Ela ouviu Godric perguntar, facilmente imaginando o sorriso presunçoso que se formara nos lábios do lorde – Porque eu já estava ficando sem paciência.

— Quem está ficando sem paciência com essa palhaçada sou eu. – O moreno retrucou de forma fria. – Sua cara de pau em aparecer aqui depois que chutamos a sua bunda é realmente impressionante.

— Oh? – Godric riu – Mas meu querido Olioti, se me lembro bem... vocês fugiram com o rabo entre as pernas assim que os alcancei, então eu falho em entender o que você quis dizer com vocês terem “chutado a minha bunda”, como você tão educadamente apontou.

Gabriela arregalou os olhos. Então esse era Olioti? O caçador que aquele vampiro maluco estava atrás e que aparentemente era o novo namorado de Luba?

Olioti acabou gargalhando, o que fez com que a expressão presunçosa se transformasse em uma de confusão ­e ele demandasse – Qual é a graça?

— E não é que eu esqueci que você não se lembra? Ah, que piada. – Olioti balançou a cabeça, oferecendo à Godric um sorriso presunçoso próprio. – Vai ser ótimo ver a sua cara de imbecil quando você descobrir.

— Do que você está falando, seu pirralho? – Godric ralhou, mas Olioti apenas deu de ombros.

— Meh. Você vai acabar descobrindo, não se preocupe.

O vampiro pareceu rosnar perante o descaso no tom de voz de Olioti, e quando Gabriela viu, estava nas garras de Godric novamente. Ela ofegou, surpresa, e tentou se debater, apenas para o vampiro facilmente a prender contra o seu peito enquanto suas garras se posicionaram na frente de sua garganta. O sorriso de Olioti imediatamente desapareceu, dando lugar à carranca de antes, enquanto o loiro ao seu lado franziu o cenho de forma insatisfeita.

— Muito bem, caçador. Você parece ter esquecido que eu tenho uma pequena vantagem comigo hoje, então talvez queira segurar essa sua língua antes que a mocinha aqui perca a cabeça. – Godric sibilou, fazendo com que a expressão furiosa de Olioti se intensificasse ainda mais. Enquanto isso, Gabriela apenas continuou a tremer nos braços de seu captor – Mas eu sou um homem objetivo, então lhe farei a oferta mais uma vez. Entregue o psicólogo e a si mesmo, e eu não mato todo mundo que sobrar.

Foi vez do loiro rir, mas ele falava em inglês, diferente de Olioti — Not to burst your bubble, Godric, but we are not falling for that. (Sem querer estragar a sua diversão, Godric, mas nós não vamos cair nessa.) – Ele explicou com facilidade – We know well you have a lousy habit of not keeping your promises, so we are not taking our chances here. (Nós sabemos bem que você tem o péssimo hábito de não manter suas promessas, então não estamos dispostos a dar o braço a torcer.)

— And you must be Felix Kjellberg, whose name I ripped out of one of your loyal pigs back at the other base. (E você deve ser Felix Kjellberg, cujo nome eu arranquei de um dos seus fiéis porcos na outra base.) – Godric respondeu, também em inglês, com um tom debochado – I’ll assume the idiotic plan of invading my property was yours? (Eu presumo que foi você quem inventou o plano idiota de invadir a minha propriedade?)

— Only assholes make assumptions, fella, but no. It was another buddy of mine’s. (Só babacas presumem coisas, colega, mas não. Foi ideia de outro amigo meu.) – Felix deu de ombros – He’s not that bright, however, so it wasn’t flawless. (Ele não é espertíssimo, no entanto, então não era um plano perfeito.)

Olioti revirou os olhos — Certo, garotas, vocês são lindas, mas vamos manter o foco aqui. – Ele intercedeu, fazendo com que Godric voltasse seu olhar furioso em sua direção. – Sinto muito informar, mas eu e o doutor não vamos nos render. Se você quer as nossas cabeças, vai ter que vir pegá-las você mesmo.

Godric riu desacreditado — Incrível! Mesmo na desvantagem vocês ainda são absurdamente estúpidos! – Ele pressionou as garras contra a garganta de Gabriela, fazendo-a ofegar. – Vocês têm duas opções: Se rendam, agora, ou ela morre!

— E é aí que você se engana. – Olioti rebateu, fazendo com que Godric franzisse o cenho – Nós temos muito mais do que apenas duas opções. AGORA!

Subitamente, caçadores surgiram de todos os cantos e atacaram os vampiros de Godric, que não estavam preparados para a emboscada. Godric arregalou os olhos e olhou para os lados surpreso; sua distração momentânea se mostrando fatal quando ele acabou por afrouxar o aperto em Gabriela e ela conseguiu se desvencilhar dele em meio ao pandemônio. Ele tentou puxá-la para perto novamente, decidido a matá-la de uma vez como punição pela dor de cabeça contínua que Lucas Olioti lhe causava, mas antes que pudesse alcançar a garota novamente, um vulto dourado veio do nada e a alcançou primeiro, e em questão de segundos, a garota desapareceu perante os seus olhos.

Ele permaneceu congelado por um momento enquanto a batalha continuava ao seu redor, até que a realização finalmente o atingiu e uma fúria incessante explodiu de dentro de seu peito, enquanto ele rugia em alto e bom som — ALEXI, SUA TRAIDORA MALDITA!

Após vociferar o ódio enraizado dentro de seu peito, Godric voltou sua atenção para a batalha, notando que Olioti e Kjellberg bateram em retirada e estavam sumindo na dobra de um corredor à distância. Deixando a fúria tomar de conta de seu ser, Godric imediatamente trucidou todo e qualquer caçador que se pôs à sua frente, imediatamente matando todos os outros com os seus poderes mentais quando a influência bloqueadora de Olioti deixou a sala. Ele ordenou que seus vampiros o seguissem, e quando o último caçador (ou o que sobrara dele) foi ao chão, os vampiros partiram atrás da dupla como hienas ensandecidas que farejaram a refeição do dia.

Ele mataria aqueles malditos humanos, nem que fosse a última coisa que fizesse.

•

— Eu já pedi desculpas, o que mais você quer que eu diga?! – Luba rebateu de forma frustrada, enquanto Gabriela continuava a atingi-lo com seus punhos. A força dos socos era fraca devido à situação precária da jovem, que inclusive conseguia usar apenas um braço, mas não deixavam de doer.

— O que mais eu quero que você diga?! Que tal como diabos você virou alvo de um vampiro maluco?! – soco – Ou talvez, como infernos você descobre que vampiros existem, e decide não me falar?! – dois socos seguidos – Oh sim, que tal sobre o seu novo namorado?! Seu idiota! Eu quase morri de preocupação quando descobri que aquele... aquela coisa queria te matar!

— Gabbie, para! Você vai se machucar mais! – Luba suplicou, segurando o punho da amiga que mais uma vez estava vindo em sua direção. Ela lutou contra o aperto gentil dele por um momento, até que ele a puxou para os seus braços. – Ei, ei. Vai ficar tudo bem. Ele não fez nada comigo ainda.

— Ainda?! – Ela retrucou contra o ombro dele, deixando que soluços escapassem de seus lábios enquanto lágrimas continuavam a correr pelas suas bochechas e sujavam a camiseta branca de Luba – O que você quer dizer com ainda?!

— Shhhh, esquece. Vai ficar tudo bem. – Ele garantiu, acariciando a o cabelo enlameado da amiga enquanto ela continuava a soluçar em seus braços – Eu sinto muito mesmo que isso aconteceu. Eu não te disse nada pra te manter segura e longe de tudo isso, mas mesmo assim...

— Foi horrível... – Ela apertou a camiseta do amigo, enterrando o rosto ainda mais contra o seu pescoço, enquanto os dois foram ao chão. Luba apenas a puxou mais para perto. – Eu nem sei c-como aconteceu. Um dia eu estava no escritório, e q-quando vi...

Luba respirou fundo, tentando conter a raiva que começou a se apoderar de seu coração. Ele continuou a acariciar a cabeça da amiga, a puxando para o seu colo e permitindo que ela se sentisse pelo menos um pouco segura em seus braços, depois de passar tanto terror nas mãos daquele crápula. Ele teve tanta certeza que apenas se manter distante dela seria o suficiente para mantê-la segura, mas ainda assim Godric achou um jeito de usá-la contra ele, e por causa disso, quase que outro Maquiavelli consegue arrancar mais alguém que ele ama de sua vida. Luba trincou os dentes e intensificou o aperto em volta de sua amiga. Um ardor descomunal se juntou à sua fúria enquanto ele pensava no tanto que Godric e seu clã estúpido tinham lhe custado; custado à tantas pessoas que foram assassinadas para que ele chegasse ali. Às pessoas que estavam morrendo naquele exato momento para que eles tivessem tempo de fugir.

Estava na hora daquilo acabar.

Subitamente, a porta que dava para a clareira se abriu ruidosamente, chamando a atenção de todos para a sua direção. Ao assistir Olioti e Felix passarem pelo portal de metal e rapidamente fecharem a porta de aço atrás deles, Luba sentiu uma onda de alívio lhe atingir e momentaneamente acalmar as labaredas de sua fúria. Felix rapidamente travou a porta e os dois correram na direção de todo mundo, com Olioti imediatamente se jogando à sua frente e o puxando para um abraço, não parecendo se importar com o fato de que Gabriela ainda estava em seu colo. Olioti imediatamente encheu seu rosto de beijos de forma frenética, o que surpreendeu Luba grandiosamente, mas acabou por fazer ele rir.

— Wow, oi pra você também? – Brincou, mas seu sorriso imediatamente sumiu quando ele percebeu a expressão transtornada de Olioti – O que foi?

— Precisamos ir, agora. Godric está-...

Um estrondo descomunal soou do outro lado da porta de metal, fazendo com que todos os presentes pulassem. Luba arregalou os olhos e olhou na direção da porta, apenas para ouvir outro estrondo contra ela e um pequeno amassado se formar em uma de suas extremidades. Oh não.

— Everyone, gather up! You are leaving right now! (Todos, se juntem! Vocês estão indo nesse exato momento!) – Felix gritou, fazendo com que os refugiados (alguns caçadores que foram deixados para proteção, recrutas entre 15-17 anos, e as bruxas) se juntassem em volta de uma agitada Alexi, que fitava a porta se retorcer com horror em seus olhos. Felix então se virou para Marzia, a puxando para perto e beijando o topo de sua cabeça. – Go with them. I need you to be safe. (Vá com eles. Preciso que esteja segura.)

— What?! Felix, no! (O que?! Felix, não!) – Ela negou, imediatamente abraçando o marido – I’m not leaving you behind! I’m staying! (Eu não vou te deixar pra trás! Eu vou ficar!)

Felix abriu a boca para retrucar, mas antes que pudesse, a voz de Luba soou primeiro.

— Nenhum de vocês dois vão ficar. – Ele disse de forma decidida enquanto se levantava com Gabriela em seus braços, recebendo olhares de surpresa e agradecimento de Felix e Marzia respectivamente – Fiquem em volta da Lexi e a toquem. Todo mundo, mantenham contato com Felix e Marzia e formem uma corrente!

O grupo assentiu, aterrorizados demais para questionar a súbita mudança no comportamento do psicólogo, mas Felix continuou o fitando com um olhar incrédulo.

— Mr. Feuerschüte, what are you-… (Sr. Feuerschütte, o que você-...)

— Eu não vou ver mais ninguém morrer se eu tiver escolha. – Luba respondeu calmamente, entregando Gabriela (que tinha desmaiado de exaustão em seus braços) para Olioti e se virando na direção do comandante com um sorriso fraco nos lábios – Ninguém mais vai morrer por minha causa.

Felix, tocado pela determinação no tom do rapaz e incapaz de ir contra o seu pedido, pôde apenas assentir e fazer o que lhe foi instruído.

O ataque contra a porta continuava incessante; cada estrondo causando grande parte dos presentes a soltarem xingamentos ou se encolherem. Luba se virou para Alexi e percebeu o pânico no olhar da vampira enquanto ela fitava a porta. Se ela estava com medo de Godric ou de falhar e causar a morte de todo mundo, ele não sabia, mas se ele estivesse na pele dela com certeza estaria tremendo por causa de ambas as coisas.

— Lexi. – Ele chamou, despertando a vampira de seu devaneio assustado para fitá-lo – Nos tire daqui.

— Não vai dar tempo – ela ofegou, sentindo as mãos do casal em seus ombros como se pesassem uma tonelada – Ele chegou aqui antes do tempo, eu ainda não consegui juntar o tanto de poder necessário pra transportar esse tanto de gente!

Murmúrios desesperados soaram atrás dela, e estava claro que aquela revelação não ajudou nem um pouco os nervos de todo mundo. Outro estrondo soou contra a porta, e as dobradiças rangeram de forma aguda, quase como se estivessem gritando perante a agressão.

Luba encontrou o olhar vago de Celestine em meio à pequena multidão, e após um segundo, ela sorriu em sua direção. Era um sorriso diferente; caloroso e confiante, quase como se ela estivesse lhe dizendo silenciosamente que acreditava nele. Que tinha certeza que ele tinha absorvido os seus ensinamentos nos breves momentos que tiveram antes da chegada de Godric.

Ele sentiu os olhos de Olioti em si também, se virando na direção do moreno. Ele tinha uma expressão apreensiva, mas seus olhos transbordavam determinação e algo mais que momentaneamente acalmou a tempestade acontecendo dentro de sua mente. Estava mais do que claro que ele também tinha fé no que Luba era capaz, e que se era assim que eles iam morrer, ele estava mais do que feliz em fazê-lo ao seu lado.

Luba deu um passo em sua direção, depositando um breve ­– porém tenro – beijo nos lábios de seu caçador e colando as suas testas. Suas respirações se misturaram com a proximidade, e Luba esfregou o nariz contra o dele de forma doce, deixando com que o amor transbordando daqueles lindos olhos castanhos o invadissem e chutassem qualquer outro tipo de sentimento para fora de seu peito.

— Não a solte, ok? – Luba pediu.

— Nem que custe minha própria vida. – Olioti prometeu.

O psicólogo sorriu, selando seus lábios mais uma vez e então se virando na direção de Alexi novamente, que assistia a cena com uma expressão curiosa. Luba então se moveu para a frente dela, enquanto Olioti parou ao seu lado para que ela o tocasse. A porta rangeu novamente e uma dobradiça voou.

— Foque apenas em nos tirar daqui, Lexi. – Ele instruiu, rolando os ombros e estralando o pescoço – Eu vou ganhar tempo pra você.

— Mas...

— Confie em mim.

Alexi congelou, fitando a nuca do rapaz à sua frente boquiaberta. Aquele tom de voz, aquela determinação...

Lady Francine?

Sem dizer mais nada, ela simplesmente tocou as costas de Luba e fechou os olhos, se pondo a concentrar na acumulação de seu poder. Olioti tinha lhe dito a exata locação do QG no Brasil e até mesmo lhe mostrado fotos, então ela sabia exatamente para onde estavam indo.

Já Luba continuava a encarar a porta, que já não aguentava mais a agressão e estava começando a desabar. Seus olhos verdes cintilaram por um momento, e ele procurou fazer exatamente o que Celestine havia lhe instruído mais cedo.

Ele lembrou da tristeza que sentiu ao perder o ex-namorado. Lembrou da euforia que sentiu quando Olioti veio ao seu resgate em seu consultório. Lembrou do medo que sentiu quando Godric tentou se apoderar de sua mente pela primeira vez. Lembrou da confusão que Olioti o fez sentir pela primeira vez. Lembrou do primeiro beijo que compartilharam. Lembrou de absolutamente todas as situações que causaram qualquer tipo de emoção forte a atingir sua mente e seu coração, e permitiu que aquelas memórias arrebatadoras banhassem sua consciência com aqueles mesmos sentimentos mais uma vez, enquanto fechava os olhos.

Quando a porta explodiu aberta e Godric pisou dentro da clareira, Luba abriu os olhos novamente e absolutamente tudo fora do círculo em volta de Alexi foi desacelerado. A velocidade vampírica de Godric e seus homens foi reduzida à velocidade de uma lesma, e Luba assistiu com satisfação enquanto os olhos do vampiro se arregalaram lentamente quando se encontraram com os seus.

Os arabescos branco-azulados mais uma vez adornavam a sua pele, brilhando em conjunto com as suas irises da mesma cor. Ao lado de Alexi, as marcas avermelhadas de Olioti também brilharam contra a sua pele, só que de forma mais abrasiva – quase como se estivessem reagindo aos poderes de Luba.

Atrás de si, Luba já conseguia sentir o montante de poder de Alexi dobrar. Quando ela sussurrou que finalmente tinha conseguido, Luba fuzilou Godric de uma forma tão feroz que, mesmo lentamente, a expressão do vampiro se tornou ainda mais mortificada.

— Se vier atrás de nós novamente, vai ser a última coisa que você já fez na vida.

Um clarão absurdo tomou conta da clareira, e em um piscar de olhos, o enorme grupo – outrora encurralado – sumiu sem deixar vestígios.

O tempo ao redor do lorde imediatamente voltou ao normal, e ele se viu cambaleando para dentro da clareira enquanto seus lacaios pulavam para dentro e olhavam para os lados confusamente. Ele ouviu um deles o chamar e parecer perguntar alguma coisa, mas Godric não aparentava estar funcional no momento; de olhos arregalados e expressão assombrada.

Se alguém olhasse de fora, entenderia que o humano e suas palavras tinham amedrontado o vampiro violentamente. Sim, a revelação dos poderes inesperados do rapaz – sendo que Godric achava que apenas Olioti tinha algum poder adormecido dentro de si – acabara por pegar o vampiro completamente de surpresa, tendo em vista que Lucas Rossi Feuerschütte tinha sido o segundo homem em milênios – depois apenas de seu companheiro caçador – capaz de impedir Godric Lavern Maquiavelli de concretizar o seu objetivo mais de uma vez.

Mas não, esse não era o único motivo. Sim, a aparência do rapaz tinha se tornado intimidadora, e sim, controle de tempo era uma das habilidades mais poderosas que poderia existir, mas o real motivo por trás da expressão chocada de Godric fora a aparição que surgiu perto do rapaz, minutos antes do grupo desaparecer.

Uma aparição translúcida com a aparência de sua amada Francine estava de pé atrás dele, com uma mão pousada em seu ombro esquerdo e compartilhando a expressão furiosa e determinada do psicólogo – e quando os lábios de Lucas se moveram com o aviso, os dela fizeram o mesmo.

Godric ofegou, indo de joelhos ao chão. Ele precisava descobrir o que estava acontecendo antes de partir para o Brasil, porque pela primeira vez em toda sua eternidade, ser derrotado não parecia uma possibilidade tão absurda.