História Guardião por destino - Colisão aterradora

Godric não conseguia acreditar em seus olhos. 1200 anos de existência, onde triunfar sobre inimigos havia virado um hobby. Onde sua posição como um dos oponentes mais temidos e imbatíveis do mundo era indiscutível. Godric Lavern Maquiavelli não ia para uma batalha com fracasso em mente, porque tal coisa era simplesmente impossível quanto se tratava do lorde vampiro. Fracasso, na verdade, era uma palavra que se encontrava ausente em seus vocabulários, não importa qual dialeto fosse. Ele era o mais poderoso. Ele era o melhor.

E é por isso que ele não conseguia compreender o porquê de suas pernas estarem tremendo perante o olhar gélido do humano à sua frente.

Ele tinha que admitir que havia subestimado Feuerschütte, mesmo que isso trouxesse uma amargura desconfortável à sua língua. Desde o princípio, ao descobrir que o psicólogo havia sido o motivo pelo qual Scarlett havia sido assassinada, Godric não deu muita importância à sua existência, já que ele aparentemente só era um humano que estava no lugar errado na hora errado. Seu grande alvo sempre fora Lucas Olioti e o ser demoníaco que dormia em seu âmago. O caçador que fora o assassino de sua filha, o mortífero profissional que apresentava perigo a seus planos. Desde o começo, Godric pensava que Olioti que seria sua maior dor de cabeça—já que era bloqueado pelo rapaz e presenciou o despertar de suas habilidades demoníacas—, então ele focou apenas no caçador. Seu protegido era apenas dano colateral, e no final das contas, serviria como o catalisador para os planos de Godric tomarem o rumo esperado. Um cordeiro esperando o abate, e nada além disso... até o cordeiro mostrar sua verdadeira natureza e destruir os planos de Godric por completo.

Sua ilusão havia sido quebrada, e o mundo distorcido ao redor de Olioti se dissipou em um piscar de olhos, dando lugar ao campo de batalha em seu atual estado congelado. O QG se encontrava impecável, já que as forças ainda estavam conseguindo segurar firme—apesar de estarem em seu limite—e as armadilhas estavam funcionando. Gael, vivo e com sua cabeça no lugar, se encontrava paralisado enquanto segurava a cabeça de um dos lordes aliados de Godric pelos cabelos e mantinha outro deles suspenso no ar pelo pescoço. Seus olhos vermelhos estavam arregalados e focados em Lucas, assim como todo o resto dos monstros ou caçadores presentes no campo de batalha.

A presença do homem recém-chegado era dotada de uma energia esmagadora, que atraía a atenção de todo e qualquer ser de uma forma quase natural, assim como mariposas eram atraídas pela luz. Ele era poderoso, e aquele poder era tão aterrador que parecia flutuar ao seu redor junto ao leve brilho que sua pele alva coberta de cintilantes marcas azuis demonstrava. Seus olhos, antes completamente tomados pelo mesmo brilho presente em suas marcas, retomaram sua aparência normal quando ele se virou para falar com o bestificado caçador que havia protegido do ataque mortal de Godric. Ele disse algo, mas Godric não conseguiu registrar o que foi, devido ao seu estado atual de frustração.

Mais uma vez aquele maldito humano tinha atrapalhado seus planos. Ele já não gostava do homem por motivos óbvios, e tal ódio apenas se intensificou quando Godric descobriu a verdade por trás da linhagem e dos poderes do rapaz que se encontrava entre ele e a chave para a sua vitória—e o tal nem mesmo parecia estar um pouco preocupado com a presença de Godric ali, despreocupadamente conversando com o caçador. Isso é ridículo!

Percebendo que a paralisação que ele havia sido submetido fora apenas temporária, Godric aproveitou a oportunidade de distração e planejava tentar usar um de seus mais poderosos ataques psíquicos contra Lucas, usando o cetro para transformar o ataque em algo poderoso e mortal, mas antes que ele pudesse sequer mover o objeto, Lucas virou em sua direção novamente com uma sobrancelha levantada, e um segundo depois, Godric estava voando para o lado e atingindo um tronco de árvore grosso, que acabou partindo ao meio com o impacto e fazendo com que o lorde vampiro urrasse de dor.

— Atacando pelas costas? Você não é nada original, cara. – Lucas suspirou, não tirando os olhos de Godric enquanto ajudava Olioti a se levantar. – E um tanto burro. Esperava que um homem com séculos de experiência que nem você saberia que alguém que controla o tempo obviamente consegue prever os seus ataques.

— Luba... – Olioti ofegou, olhando para seu companheiro como se estivesse o vendo pela primeira vez, tendo ignorado Godric por completo. – Você tá vivo...?

— Claro que eu tô. – Lucas sorriu em sua direção por um breve momento, voltando o olhar na direção de Godric enquanto entrelaçava os dedos com a mão suspensa que o caçador tinha em sua direção. – Depois de tudo o que passamos, morrer aqui seria patético para um caralho.

Olioti riu, mas a risada acabou soando molhada e misturou com um engasgo que ele não conseguiu evitar, assim como as lágrimas que jorraram de seus olhos enquanto ele se jogava em Lucas e o abraçava forte, praticamente tremendo de alívio em seus braços.

— Você tá vivo, meu deus... – Ele soluçou e abraçou Lucas mais forte, o que o fez rir. – Você tá vivo!

— Eu não ia te deixar sozinho nessa, T3ddy. – Lucas garantiu, beijando o lado da cabeça de Olioti e esfregando suas costas enquanto o caçador se desmanchava em lágrimas contra o seu pescoço, mantendo seus olhos focados em Godric, que no atual momento se levantava com uma expressão furiosa e dolorida. Lucas então voltou a atenção para Olioti, obrigando seu caçador se afastar brevemente para que ele pudesse olhar dentro de seus belos e mareados olhos castanhos. Lucas sorriu radiante, beijando as bochechas úmidas de Olioti e então selando seus lábios trêmulos, o puxando para perto novamente e o abraçando forte. – Você nunca mais vai ficar sozinho, não se depender de mim.

Olioti assentiu contra o seu pescoço enquanto Lucas continuava a confortá-lo. Godric, por sua vez, estava enfurecido e enojado. Ele não conseguia acreditar que aqueles dois homens ainda achavam tempo para carícias perante um inimigo tão formidável quanto ele. Com um rosnado irritado ele se ergueu de vez, rugindo de ódio e lançando uma onda de poder imensurável na direção dos dois. A onda de poder nocivo matou tudo o que tocou, de vegetação a expectadores—aliados ou inimigos—outrora paralisados. A onda foi tão agressiva que a terra tremeu abaixo de seus pés, e no final de seu rugido, Godric permitiu que rosnados pulassem de sua garganta enquanto ele encarava, em frustração, as formas ilesas de suas principais presas.

De alguma forma Lucas tinha bloqueado a onda de poder e protegido não só a si mesmo e a Olioti, como também tudo que estivera atrás de si. Godric não entendia aquilo. Está certo que os poderes do homem envolviam manipulação temporal, mas como ele tinha poderes para se defender de um ataque tão poderoso? Ou até mesmo para jogar Godric longe como havia feito? O que infernos estava acontecendo?!

— Você realmente não tem noção nenhuma. – Lucas ralhou,fitando toda a destruição que Godric causara com uma expressão triste e desgostosa. – Matou até mesmo seus aliados?

— Se eles morreram, então é porque mereceram. – Godric cuspiu, recebendo um olhar duro de Lucas. – O que foi, humano? Está com dó desses imbecis agora? Se morreram é porque são fracos, e se não são capazes de suportar o meu nível de poder, então eu não tenho o menor motivo para me preocupar com suas vidas inúteis e estúpidas.

Lucas riu secamente — É incrível como você consegue soar mais babaca à cada vez que conversamos. É algum tipo de dom? Porque caramba, colega.

— Cale a boca, moleque! Se você acha que-...

— Não, você cale a boca! – Lucas rebateu ácidamente, silenciando Godric que pareceu momentaneamente intimidado pela volta dos brilhantes olhos azuis do guardião. – Eu normalmente acredito muito no poder do perdão, mas você conseguiu literalmente me tornar incapaz de sequer olhar pra essa tua cara arrogante sem querer partir ela em dois. Não me venha com essa prepotência quando você sabe que não está na vantagem aqui, principalmente porque essa corrente merda que você estava usando no T3ddy não estavam servindo pra nada até você apelar usando esse cetro espalhafatoso que você tem aí.

Godric tencionou a mandíbula ao mesmo tempo que Olioti, que até então estivera encarando Godric com uma carranca de dar medo, se virou para Lucas com uma expressão surpresa — Pera, como assim as correntes não iam funcionar?

— Você está além do poder dessas correntes, T3ddy. – Lucas explicou calmamente, mais uma vez entrelaçando os dedos das mãos com as de seu parceiro. – O poder do demônio dentro de você é superior demais pra ser contido por uma mera corrente usada pra conter daemons. Talvez funcionassem no passado quando você ainda não tinha uma boa ligação com ele, mas não é o caso agora. – Lucas sorriu de forma orgulhosa, se deleitando ao assistir o rosto furioso de Godric adotar 3 tonalidades diferentes de vermelho. – Eu não sei aonde ele conseguiu esse cetro que aumenta suas habilidades, mas ele te subestimou e decidiu agir sem ele no primeiro momento. Quando percebeu que estava prestes a tomar no meio do rabo, ele mudou de ideia e decidiu entrar dentro da sua cabeça com a ajuda daquela coisa pra te quebrar por dentro.

Olioti piscou, estupefato, e então se virou para Godric com uma expressão escandalizada e furiosa — Seu filho da pu͒̔̔t͇̦̰̼a̺̙̦̖̲̲ͅ!͍̫̤̭̰͔̆̓̿ͣ̐͋. – Ele rosnou, sua voz se distorcendo enquanto ele tentou avançar para cima de Godric, sendo impedido de atacar apenas pelo braço firme de Lucas. – Ė̥͈͕͙͊̓̅Rͧ͋̽͗A͔̭͖͙̘͕̐̉̊͊ͬ͗ ͦT͖̭͕̫̻̻̾͋̄ͭ̂͂Ṵ̔DO͌̋̏ ̭̓M͇̘̙̦̹͎̮̃̈́ͥ͛́̑̽E͌̍͂́̽N͓̣̥̈ͮ͂TͯI͉̫͍̅̐̌RA͖͎̰͙̬͍̓ͥͣ͛ͦ̏?̳̹͕̟̍͋̏ͧ!͔͓̘̗͎͔̞ ͨ̓

Godric gargalhou. Diferente de Lucas, Olioti não o intimidava — Você é patético, garoto. Sua mente, suas memórias, seus arrependimentos. É sério que você não conseguiu nem ao menos proteger sua própria família de alguns meros vampiros fracotes? Ou até mesmo aquela garotinha e sua mãe... Que grande protetor você é! – Ele gargalhou mais alto. – Agradeça o fato do seu doutorzinho ter tido a sorte de ser alguém poderoso, caso contrário vocês dois já teriam caído pelas minhas garras há muito tempo!

— C͍̥͔̟̬͉ͯ̄ͤ̎ͮ̚A͍̘̪̗̲̰ͨ̍̑̅̉ͮ̔ͅL͗̈́̽̋̃A ͣ̄A̼̯̪͈ ̣̩̮̠ͨ̉̍̒B͈͕̤̙̠̌ͬ̿̽̌O͇̣̳̲͓̔ͯ̅̿͛C͈͍͓̠̊͋̏ͪͭͅÃ̫̦̚!ͩ͋ͦ̓͐ – Olioti Rugiu, mas Lucas manteve o braço à frente de seu peito.

— Venha me obrigar a calar, moleque! – Godric ordenou furiosamente, erguendo seu cetro e o batendo contra o chão com força, o que fez toda a região do campo de batalha tremer novamente à medida que os olhos do lorde vampiro começaram a brilhar, assim como os de seus aliados, que tinham voltado aos seus lugares atrás do vampiro. – Vocês tem me causado problemas demais. Isso acaba hoje, assim como a sua raça imprestável de humanos! – Godric anunciou, levantando o cetro, cujo cristal em seu topo agora brilhava de forma cegante. – Presenciem a magnitude do meu poder, e se curvem enquanto podem!

Assim que o lorde finalizou sua frase, outra onda enorme de poder explodiu a partir do cetro, cobrindo todo o campo de batalha e fazendo o impensável: os corpos destruídos aqueles que haviam sido mortos devido à onda de poder anterior—fossem aliados ou inimigos—começaram a se levantar apesar da situação deplorável de muitos dos corpos. Os agora morto-vivos se arrastaram para o lado de Godric, adicionando ainda mais poder ao seu exército já incrível, tendo em vista que muitos dos corpos que se juntaram às forças de Godric eram vampiros e caçadores que morreram durante o ataque.

Atrás de Lucas e Olioti, seu próprio exército se reuniu de forma tensa, mas determinada. Os outros caçadores haviam se juntado à batalha (Mauro, Christian, os comandantes e etc), mas ainda assim estava claro quem tinha a vantagem naquela guerra. Entretanto, desde a chegada de Lucas todos os presentes se sentiram revigorados de uma forma intrigante. Eles não entendiam o porquê, mas estar perto do recém-chegado mestre do tempo trazia um tipo de confiança que eles simplesmente não conseguiam explicar, mesmo que a situação estivesse longe de ideal.

Gael parou ao lado de Olioti, que esqueceu sua dor e fúria perante os insultos de Godric para direcionar um sorriso fraco e aliviado na direção do vampiro moreno, que retribuiu o sorriso e então assentiu. Estou bem. Seus olhos vermelhos diziam, e Olioti pôde apenas assentir de volta.

Alexi apareceu ao lado de Lucas com uma expressão determinada e olhos vermelhos vidrados em Godric. Ela tremia levemente, mas o rosnado presente em seu peito deixavam claro que, apesar de temerosa, ela nunca mais curvaria a cabeça perante aquele tirano. Lucas direcionou um breve e calmo sorriso em sua direção, que foi mais do que o suficiente para acalmar seus músculos rígidos e trêmulos. Ela sorriu de volta.

Era incrível como aquele rapaz carregava Lady Francine em todo gesto—até mesmo um singelo sorriso de conforto.

— Está me ignorando?! – Godric demandou saber, tendo notado que Lucas tinha parado de escutar em determinado momento. – Me chama de arrogante, mas age assim perante o seu oponente e executor?!

— É só que você começou a fazer discurso de vilãozinho barato da sessão da tarde, discursando sobre o quão “fodão e terrível” você é, o que eu achei desnecessário pra caralho e, devo admitir, meio vergonha alheia. – Lucas disse friamente, fazendo com que Godric adotasse uma expressão escandalizada. O guardião, no entanto, prosseguiu. – Usar o passado do Olioti pra desestabilizar ele é um golpe bem baixo, por sinal, mas não que eu esperasse menos de alguém baixo como você. Não que vá funcionar. – Lucas deu de ombros, apertando a mão de Olioti. Os olhos do caçador brilharam, e as marcas vermelhas de seu corpo começaram a reluzir em sua pele. – Eu tô aqui, o que significa que ele vai ficar bem calminho e não vai ser afetado por essas merdas que tu tá falando. Então sugiro mudar de tática e partir logo pro abraço, já que usar ele pra destruir o mundo você não vai conseguir.

As marcas de Olioti agora brilhavam tanto quanto as de Lucas, e ele rosnou em afirmação, aceitando suas espadas de Christian enquanto fuzilava Godric com um olhar intimidador nunca antes visto. A aura do caçador aderiu um poder similar a de seu guardião, e juntas, elas eram praticamente impossíveis de se ignorar, fazendo com que seus aliados se aproximassem mais dos dois, atraídos pela energia. Eles eram como um farol em meio à uma tempestade, e se a chegada de Lucas tinha trago confiança para todos os presentes, as auras unificadas de Lucas e Olioti trouxeram a certeza de que tudo ficaria bem.

Só restava descobrir como isso aconteceria, porque analisando bem a situação atual, eles estavam enrascados. Poderiam Lucas e Olioti, sozinhos, derrubarem mais da metade das forças de Godric? Porque no atual momento, ninguém conseguia enxergar outra saída.

— Eu não preciso mais desse seu cãozinho de colo, Feuerschütte. – Godric cuspiu, apontando o cetro na direção dos dois. – Eu vou destruir vocês dois com meu próprio poder, e depois que terminar, vou partir pra esse mundinho ridículo de vocês.

— Sinta-se à vontade pra tentar, mas eu já aviso que você vai quebrar a cara. – Lucas garantiu à medida que suas marcas pulsaram em conjunto com as de Olioti.

— E você acha que só porque descobriu alguns poderes, agora eu estou com medo de você?! – Godric gargalhou com escárnio na cara de Lucas, que prosseguiu com sua expressão impassível. – Nada mudou, rapaz! Até porque eu tenho um exército que é o dobro das forças patéticas que vocês juntaram. O que vocês estão esperando? Que vão derrotar a todos nós sozinhos?! – Godric bateu o cetro no chão com tudo. – Não seja ingênuo!

Foi então que Lucas sorriu, o que pegou Godric mais uma vez de surpresa e o fez perder seu sorriso presunçoso. O lorde vampiro arqueou uma sobrancelha confusamente e estava prestes a abrir a boca para questionar o que era tão engraçado, mas Lucas se pronunciou primeiro.

— E quem disse que eu estou sozinho? – Ele questionou pendendo a cabeça para o lado com um meio sorriso.

Godric, assim como todos à volta de Lucas, piscou confusamente — Como é?

— Eu tenho sim poder pra ir sozinho contra você e seu exército, Godric. Com esse cara aqui do meu lado então... – Lucas deu alguns tapinhas no ombro de Olioti. – Não há dúvidas que vamos te dar trabalho. Porém, eu não sou você, que trata todos à sua volta como se fossem nada além de lixo descartável. – Lucas gesticulou pesarosamente  com a cabeça na direção dos “zumbis”do lado de Godric; quem continuava a encará-lo com uma carranca confusa. – E hoje eu entendo que, caso eu use meu poder total da forma necessária pra acabar com você e essa sua palhaçada, eu também vou causar danos a ambos aos meus aliados. É um risco que eu não estou disposto a correr, principalmente depois de você ter nos custado diversas vidas inocentes com os seu showzinho agora pouco.

Lucas deu um passo à frente e seus olhos brilharam mais uma vez, com o brilho engolindo sua íris e colorindo a esclera com a mesma tonalidade branco-azulada das marcas que adornavam seu corpo. Os céus, ainda escuros com as nuvens negras de chuva, explodiram com relâmpagos e trovejadas, seguidos por uma ventania forte que passou a uivar pelo campo de batalha. Godric encarava Lucas tenso e intrigado enquanto o resto dos expectadores (os que ainda tinham uma consciência) de ambos os lados olhavam para os lados atônitos com a súbita mudança no tempo.

O vento começou a ficar mais forte a ponto de balançar violentamente os galhos das árvores e os arbustos da floresta em volta do campo, e enquanto os relâmpagos continuavam a cortar os céus e o vento assobiava alta nos ouvidos daqueles ali presentes, Olioti se ouviu gritar.

— O que está acontecendo?! – Ele questionou alto, devido aos sons ensurdecedores que a natureza provia.

— Eu não sei! – Gael gritou em resposta, sentindo um calafrio na barriga enquanto ele assistia o brilho do corpo de Lucas se intensificar ainda mais, assim como a fúria da natureza à sua volta. – O que ele está fazendo?!

— Puta que pariu, achei que ele não ia usar o poder todo pra não matar a gente também?! – Christian argumentou tremulamente enquanto encarava Lucas com olhos arregalados. – Caralho, ele vai conjurar um furacão?!

— E ele pode fazer isso?! – Comandante Neto berrou surpreso. – Achei que suas habilidades eram de controle do tempo, não do clima!

— Por que vocês tão perguntando pra mim?! – Olioti berrou de volta de forma frustrada, gesticulando na direção do namorado que, atualmente, parecia estar aterrorizando o exército de Godric. – Minutos atrás eu nem sabia que ele tava vivo, imagine saber do que ele é capaz!

— Vocês estão esquecendo de uma coisa. – Celestine disse, surpreendendo todos com sua aparição repentina. Ninguém tinha notado ela se aproximar em meio ao pandemônio. – Lucas é descendente de uma bruxa poderosíssima e a reencarnação de seu filho. Ele está muito mais ligado à natureza do que vocês sequer tem ideia. Ele tem outros dons, ou vocês acharam que ele usou seu controle temporal para jogar Godric longe mais cedo?

— Ô cacete! – Christian pulou no lugar, fazendo uma careta para a bruxa. – Quê isso agora minha tia, tu é o mestre dos magos por acaso pra aparecer assim do nada com alguma explicação mirabolante?! Eu hein.

Soren, que havia chego junto com Celestine, fuzilou Christian, o que fez Mauro lhe dar um tapão na cabeça — Cala a boca, mano! Não é a hora!

— Porra véi, mas isso aqui tá parecendo um filme de ficção! – Christian choramingou, apenas para ser ignorado completamente por todos quando o ofego alto de Alexi foi ouvido.

— Não pode ser... – A vampira sussurrou por trás da palma que atualmente se encontrava contra seus lábios.

— Alexi? O que foi? – Olioti questionou tenso, apenas para assistir os olhos da vampira se tornarem mareados e ela começar a chorar. – Lexi?

— Lady Francine...

Olioti arregalou os olhos e olhou na direção de Lucas novamente, apenas para ofegar juntamente a maioria dos presentes. Em pé ao lado de Lucas, e com uma mão em seu ombro, estava a forma translúcida de uma mulher loira belíssima e com uma expressão séria. Do outro lado, se encontrava—também em uma forma translúcida,—um gigantesco homem com uma beleza mais brutal, mas ainda assim surpreendente. Ele tinha traços obviamente alemãos e o azul vibrante de seus olhos—assim como o vibrante tom de esmeralda nos olhos da mulher—lembravam muito Olioti do tom azul-esverdeado presente nos olhos de Lucas.

Aqueles eram Francine Jeanne Gaumont e Burkhard Von Feuerschütz, a bruxa híbrida e seu caçador que deram início a isso tudo: os ancestrais de Lucas Rossi Feuerschütte.

— F-Franci...ne...? – Godric sussurrou assombrado, mal conseguindo piscar enquanto olhava na direção de sua falecida esposa. – C-como...?

— Você realmente sempre foi péssimo em me ouvir, Godric. – Francine lamentou em seu elegante tom de voz, com um leve sotaque francês. – Mas novamente, os poderes de Lucas acabaram por apagar sua memória, então é compreensível que você tenha esquecido o meu primeiro aviso.

— O que...? – Godric questionou confusamente, mas sua expressão atônita e confusa se tornou furiosa novamente quando seus olhos pousaram em Burkhard. – Você! Como se atreve a dar as caras depois de roubar minha esposa, seu maldito!

— Eu “roubei” sua esposa, vampiro? – Burkhard questionou arqueando uma sobrancelha, seu tom de voz bem mais grave que o de Francine, mas com um sotaque alemão pesado. – Pelo que eu me lembre, foi você quem a fez se afastar, e ainda por cima causou a sua morte, então não venha me acusar de nada.

— Era você quem eu queria morto, não ela! – Godric vociferou em ultraje, para então se virar novamente para Francine. – E você, sua vagabunda! Como você ousou me trocar por um verme humano cujo principal trabalho era destruir nossas existências?! Depois de tudo que eu fiz por você-...

— Cale a porra da boca se você vai falar assim com ela, seu filho da puta. – Lucas ralhou ácidamente, pegando Godric de surpresa e o fazendo rosnar. – Você realmente tem muita cara de pau pra começar a apontar dedos aqui sobre traição. Traição nunca é a resposta pra nada, mas você quem traiu a confiança dela primeiro, sem contar que você a preferiria morta antes de permitir que ela se separasse de você para perseguir outro amor, então de toda forma nessa merda de situação, você é o errado aqui! – Lucas vociferou, dando outro passo para frente e causando uma onda de poder imensurável, porém não letal, a se alastrar pelo campo de batalha e desnortear a audiência. – Parece ser dom de vocês Maquiavelli, não? Primeiro a sua filha estúpida e malcriada destrói a minha vida, e depois vem você com essa sede de vingança imbecil e termina de foder com tudo, assim como fez com Francine e Burkhard. Eu tinha uma vida calma, sabe? Alguém que eu amava, paz, um futuro certo e ignorante perante essa realidade sobrenatural, onde eu não sabia da existência de vampiros ou bruxas. Um futuro onde eu não precisava despertar esse poder complicado e só tinha que assistir sobre guerras ao invés de participar delas, mas tudo mudou. Eu definitivamente não sou o mesmo de alguns meses atrás – Outra onda de poder pulsou pelo campo de batalha, dessa vez mais forte e forçando Godric a dar um passo para trás. –, mas pelo menos eu posso dizer que estou mais forte, e eu sei quem eu sou e do que eu sou capaz.

Subitamente a tempestade retornou, dessa vez ainda mais forte e violenta. Os uivos do vento entre-cortante cessaram e deram palco às trovoadas e relâmpagos incessantes, que junto à tempestade, culminavam em uma orquestra magnífica e aterrorizante. Olioti engoliu em seco assistindo Lucas absolutamente dominar a situação de forma que ele nunca imaginaria que o psicólogo seria capaz quando o conheceu naquela fatídica noite em seu consultório. O chão tremeu, o céu rosnou, e após um último relâmpago que acabou por iluminar a zona de guerra por completo, Olioti sentiu seus olhos quase saltarem para fora das órbitas.

Depois que a luz do relâmpago que iluminou a zona de guerra cessou, milhares de pessoas semitranslúcidas assim como Francine e Burkhard apareceram no campo de batalha, equilibrando a balança por completo e até mesmo os devolvendo a vantagem.

— What the hell?! (Mas que diabos?!) – Olioti ouviu Félix questionar esbaforido, ao mesmo tempo que Gael ofegou ao seu lado.

— N-Nate?

O caçador arregalou os olhos ainda mais (se é que isso era possível) e se virou para o vampiro, apenas para encontrá-lo boquiaberto enquanto fitava a sorridente face de um belíssimo rapaz ruivo com o cabelo longo preso em um rabo de cavalo baixo e uma barba cheia. O homem, Natanael, assentiu.

— Oi meu amor.

Lágrimas rolaram desenfreadas dos olhos de Gael e se misturaram com a chuva enquanto ele corria para envolver o seu marido em um abraço apertado—o que a forma semi-translúcida do rapaz parecia permitir, apesar dos pesares.

E foi então que Olioti entendeu, se virando de volta para seu amado e mais uma vez encontrando Francine e Burkhard parados vigilantes aos seus lados, cujas expressões sérias e determinadas eram um espelho das expressões de todas as pessoas (ou criaturas) conjuradas pelos poderes espirituais de Lucas. Olioti balançou a cabeça atônito e exclamou sem fôlego dentro de sua própria mente. Caralho, amor. Quando disseram que você era poderoso, eu não imaginei que seria desse tanto?

— Você destruiu muitas vidas, Godric. – Lucas tornou a falar, seu brilho ofuscante reluzindo junto com os recém-chegados. – E eu posso te garantir que todos que você trouxe tanta dor e sofrimento estão muito ansiosos pra assistir você cair de uma vez por todas.

Godric, por sua vez, estava ainda mais pálido do que sua palidez costumeira enquanto ele olhava de um lado para os outros os diversos olhares furiosos e desdenhosos direcionados a ele — Como...? Isso é impossível! O que infernos está acontecendo aqui?!

— Lucas é um bruxo, Godric! – Celestine anunciou, finalmente ganhando a atenção do transtornado lorde vampiro. – E você mais do que ninguém sabe que bruxos tem afinidade com o mundo dos mortos!

— O que?! – O vampiro esbravejou em pânico, voltando a fitar os diversos pares de olhos acusatórios. – Isso é injusto!

Lucas riu — Você é patético demais cara, puta merda. Mais injusto que partir pra cima da gente com um exército cheio de seres sobrenaturais, e ainda por cima escravizar os mortos pra lutarem ao seu lado depois de tomar suas vidas?! – Ele questionou ferozmente, gesticulando à sua volta. – Isso não é nem metade do que você merece, mas não se preocupe, eles não estão aqui pra te atacar. Eles só estão aqui pra equilibrar as coisas e assistir.

— Assistir o que?!

— Assistir a sua queda, vampiro de merda. – Olioti rosnou, parando ao lado de Lucas depois que Burkhard lhe deu espaço e sentindo o sangue dentro de suas veias borbulhar enquanto as marcas vermelhas em seu corpo continuavam a brilhar tanto quanto as de Lucas.

Godric rosnou e mais uma vez bateu o cajado no chão — Não se intrometa, moleque! Eu sou muito superior a vocês, não existe cenário nenhum do qual vocês saiam vitoriosos dessa batalha!

— Você fala demais, Godric. – Lucas disse com um meio sorriso. – Devia ter acabado com essa palhaçada quando tinha chance, ao invés de ficar se gabando tanto. Agora é tarde demais. – Ele então levantou um braço, fazendo com que todos atrás de si—vivos e mortos—se preparassem para o ataque. – Você realmente não devia ter ignorado meu aviso.

O lorde vampiro gargalhou insanamente, mais uma vez batendo o cajado no chão e fazendo com que outra onda de poder esmagador e nocivo explodisse do cetro, mas dessa vez sendo absorvido por seu corpo e fazendo com que uma aura poderosíssima negro-avermelhada o envolvesse e o afetasse, devorando partes de sua pele e de seu rosto, o deixando com um aspecto absolutamente aterrorizante e cadavérico ao mesmo tempo que absolutamente intimidador.

— EU VOU TE MOSTRAR O QUE ACONTECE COM AQUELES QUE ME DESAFIAM, SEU MOLEQUE! – Godric rugiu com uma voz dupla e aterrorizante, ordenando logo em seguida. – ATAQUEM!

O exército de Godric urrou em resposta e começou a avançar junto dele, ao mesmo tempo que Lucas abaixou o braço e silenciosamente partiu para o ataque sendo seguido por um furioso Olioti, os guerreiros e seus reforços, que berraram seus gritos de guerra e avançaram sem hesitação.

A colisão dos dois exércitos e seus respectivos líderes foi tão poderosa e violenta que, pela primeira vez em toda sua história de pátria sem desastres naturais, os ignorantes e inocentes residentes do país sentiram o solo brasileiro abaixo de seus pés tremer inexplicavelmente.

A guerra havia começado, e o guardião e seu caçador finalmente estavam de cara-a-cara com o seu destino.

Estariam eles fadados a falhar, ou triunfar?