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História Guerra e Paz - Capítulo XXX - De que lado você está? -


Escrita por: KimonohiTsuki e JonhJason

Notas do Autor


----CAP DO PRESENTE----

A partir dessa temporada, teremos um capítulo do passado e um do presente, 1 e 1, sendo este um dos referente ao presente.

Eu quase chorei de emoção quando vi que o capítulo 29 chegou à 10 comentários! Me pegou desprevenida, não esperava por essa!

O que posso dizer? Amo muito vocês <3 Se esse ritmo de comentários se manter animado assim, eu posso ver de escrever um "spin off" de algum momento decentralizado dessa estória, como a infância de Soleil com Camus e Milo, a de Albafica com seu tio Máscara, ou alguma coisa assim, o que acham?

Capítulo atualizado em: 29/09/2023
Betado por: JonhJason & Rêh-chan

Capítulo 31 - Capítulo XXX - De que lado você está? -


Fanfic / Fanfiction Guerra e Paz - Capítulo XXX - De que lado você está? -

Capítulo XXX – De que lado você está? - 

Camus caminhava a passo apressado, sem prestar verdadeira atenção para onde ia, seus pés indicando de cor a direção a seguir. Sua expressão seguia neutral como sempre, contudo, seu coração, em contra partida, batia dolorosamente contra seu peito. Logo avistou a familiar oliveira que buscava, e ao aproximar-se pôde deslumbrar os fios enrolados e azuis escuros contra o velho tronco, logo pôde ver o rosto normalmente bronzeado, agora tomado de um pálido doentio.

Praticamente começou a correr, até parar ao lado do corpo aparentemente inconsciente, cuja cabeça pendia para frente sem reação, ajoelhou-se ao seu lado. O primeiro que fez foi checar seu pulso, soltando a respiração que sequer notou que estava segurando quando comprovou que a pulsação ainda era existente.

- Essa estúpida medicina sempre me faz pensar... - Começou, mas não terminou seu pensamento. – Milô? – Tentou chamá-lo movimentando seus ombros. -  Milô?

Contudo, como imaginava, não obteve qualquer resposta. Analisou melhor a figura de seu grande amigo, sua face absolutamente abatida, usava uma blusa negra de longas mangas e gola alta, além de jeans cinzas. Ergueu a barra de uma das mãos e comprovou o que imaginava. Seu braço estava inchado e irregularmente liso, além de bastante rígido e avermelhado com algumas veias saltadas.

Continuou a erguer a manga e comprovou que já se espalhava por todo o braço esquerdo, logo avaliou o direito e encontrou a mesma situação. Recolocou a blusa em seu lugar e sentou ao lado do grego.

- Está cada vez pior... – Murmurou para si mesmo, sua expressão finalmente demonstrando uma sensação de pesar. – Talvez, eu esteja sendo muito egoísta.

Dito isso, de seu pescoço retirou um pequeno medalhão, no qual ao centro estava forjada a flor-de-lis. Olhou ao redor buscando com seu cosmo se havia alguém por perto testemunhando a cena, e quando comprovou que estavam sozinhos, abriu o medalhão e encostou o que havia dentro dele numa das palmas do grego, ajudando os dedos a se fecharem ao redor do objeto metálico. Ainda segurando a mão contraria, fechou os olhos e murmurou algumas palavras inteligíveis, até o colar começar a brilhar em negro, e assim lentamente os edemas foram desaparecendo.

Tornou a abrir os olhos, comprovando que as marcas começaram a desaparecer, porém o músculo seguia com uma aparência rígida.

Procurou nos bolsos da calça do jovem e logo encontrou o que buscava, parecia ser alguns pequenos frutos, similares a uma minúscula pera, porém do tamanho de um dígito, castanhas escuras, com três pontos verdes em suas laterais.

Abriu com o dedo indicador e o polegar a boca do escorpiano e colocou três delas em sua língua, voltando a fechá-la e ajudando o outro a engolir, guardando os frutos extras em seu próprio bolso. Voltou a colocar seu medalhão entre suas roupas e aguardou algum tempo até o mais velho aos poucos ir recobrando a consciência, em segundos que se estenderam como vagarosos minutos.

-...Camus...? – Chamou em tom baixo, rosto ainda sonolento, tentou se mexer, mas logo uma expressão de profunda dor tomou sua face.

- Não se esforce repentinamente, idiota. – Declarou em tom severo o aquariano. – Você deveria ter me avisado se teve outra crise, ao invés de tentar se esconder. Quantas vezes preciso dizer que tem que ter cuidado para não se machucar?

Milo fez uma expressão azeda, apoiando-se no tronco para se erguer, apesar do aviso de seu amigo.

- E ver a expressão desesperada de Soleil? Eu dispenso, obrigado. Além disso, eu sou um guerreiro, é ridículo ter medo de me machucar. – Conseguiu se levantar, embora a respiração estivesse razoavelmente arfante. – E não é como se você pudesse fazer muito para me ajudar, eu apenas estaria atrapalhando vocês.

O aquariano não respondeu, levantando também.

- O preocupa mais quando alguém aparece na biblioteca dizendo que você sumiu. – Seguiu em seu tom isento de emoção. – Izo estava à sua procura, o Grande Mestre convocou todos os cavaleiros de ouro a comparecerem em seu salão.

Milo resmungou baixo, algo provavelmente como um palavrão.

- Ótimo momento para uma crise. – Resmungou tentando girar seus braços, dor clara em cada movimento. – Será um verdadeiro inferno subir as doze casas assim.

- É por isso que você já deveria ter realizado sua sucessão. – Tornou a criticar o mais velho.

- Eu me recuso a passar a armadura para Jabu enquanto o maldito Unicórnio não pedir perdão por suas palavras. – Rosnou desencostando da árvore e quase perdendo o equilíbrio.

- Isso foi há vinte anos Milo.

- Há coisas que o tempo não apaga. – Retrucou, cruzando os braços com dificuldade. – No pouco tempo de vida que ainda me resta, eu não quero ter o desgosto de ver aquela criatura vestindo minha armadura.

- Eu não compreendo como você pode guardar esse sentimento de rancor por tantos anos...

- Como você entenderia? Sempre se esforçou para não ter ou demonstrar sentimento algum. – Acusou dando as costas ao melhor amigo.

Um pequeno, mas grave silêncio se formou entre os dois, até ser quebrado por um suspiro de Milo, que virou seu rosto para o francês sempre impassível.

- Me perdoe Camus, essas crises estão ficando cada vez mais frequentes, um único arranhão já é suficiente para me causar muita dor, tudo isso está me deixando muito cansado. Eu não quis descontar minha frustração em você. – Tentou sorrir levemente. – Obrigado por ter vindo até aqui, desculpe o trabalho, será que poderia dizer ao Soleil que estou bem?

- Eu não vou mentir para ele. – Seguiu em seu tom gélido, encarando os olhos azuis contrários. - Faça isso você mesmo.

- Tudo bem, passarei na biblioteca mais tarde. – Uma nova pausa. – Obrigado outra vez, amigo.

- Milô. – Camus tornou a chamá-lo, sua voz mais suave, antes que o mais velho tornasse a lhe dar as costas. – Não deveríamos falar com Athena e os demais a respeito de sua saúde?

O Escorpião voltou-se completamente à Aquário.

- Eu prefiro morrer antes disso, e você sabe. Que todos olhem para mim com pena, como se eu fosse um doente. – Colocou com repulsa. – Eu não suportaria.

- Mas você é um doente. – Reforçou o francês. – O que espera que eu diga a todos quando você... - Mas não terminou sua frase.

“Finalmente ele calou a boca.” – Recitou dando de ombros. – Seria engraçado, principalmente vindo de você.

- Estou falando sério. – Disse mais firme.

- Eu também! – Refutou. – Serei apenas mais um soldado caído. Não deixarei nenhuma família para trás, não será uma perda assim tão grande. – Vetou importância. – Para nós que sempre estivemos prontos para morrer a qualquer luta, morrer aos quarenta é um luxo que eu não pensei que teríamos.

Uma breve pausa, e então Milo olhou para seu amigo inexpressivo com curiosidade.

- Camus, não chore quando eu morrer. – Colocou em tom de brincadeira. – Odiaria saber lá do Tártaro que estraguei seu papel de homem sem emoções.

E antes que pudesse ser acertado por qualquer técnica do mais velho, saiu correndo em retorno ao Santuário, apesar de toda a sua dor.

- Grande idiota... - Ofendia, sentindo o coração apertar-se.

O francês seguiu parado onde estava por minutos que se estenderam demorados, até sentir alguém se aproximando às suas costas.

- Você não deveria estar no salão com os demais, Afrodite?

Voltou-se para encontrar-se com um homem de beleza ímpar, cabelos azuis claros presos num coque alto, pele impecável como o mármore. Usava roupas marrons simples e um macacão jeans, ainda assim seu encanto era estonteante.

- Eu mandei meu menino no meu lugar, já é hora de que ele se acostume com os compromissos de um cavaleiro. – Caminhou até parar com graça ao lado de seu companheiro.

- Ainda assim, a cerimônia de sucessão só será realizada daqui quase dois meses. – Contestou o aquariano.

- Isso é mera formalidade meu amigo, sem mencionar que com minha esposa estando grávida de oito meses prefiro me ausentar o menos possível de minha residência civil. – Explicou com simplicidade, fazendo uma rosa surgir em sua mão a partir de seu cosmo. – Nem Athena, nem o Grande Mestre se opuseram a meu pedido.

- E ainda assim você está aqui.

- Sim, para ser sincero, eu esperava encontrar o cadáver de Milo e você em prantos sobre ele. – Observou como a expressão do francês se franzia em desgosto para esta afirmação. – Ainda bem que eu estava errado, não é?

Aquário não respondeu a princípio, soltando um longo suspiro.

- É por isso que você deu essa medicina para ele dormir, não é?  - Questionou melancólico. – Tem esperança de que ele morra dormindo?

- Milo também é meu amigo. - Apoiou-se contra o tronco. – Depois de toda a pequena Odisseia que fizemos para salvar sua vida, isso é o máximo que ainda posso fazer para ajudá-lo a sofrer o menos possível. Mesmo que eu saiba que ele preferiria morrer num campo de batalha como seu antecessor. É absolutamente frustrante para um guerreiro como ele saber que não é mais capaz de atuar numa guerra, como sempre foi criado para fazer. Provavelmente seja essa a verdadeira razão do porquê ele insiste em não assumir Jabu como seu sucessor. Mesmo que ele aja como se não se importasse, deve ter medo de perder seu lugar, sua única função na vida.

- Acho que essa doença não afetou apenas seu corpo, eu tenho notado ele cada vez mais estranho e distante.

- Isso é natural, essas duas décadas não foram nada fáceis para ele. - Explicou com expressão pesarosa. - Eu jamais imaginei que ele sobreviveria por tanto tempo. - Então lançou um olhar desconfiado ao companheiro. - Eu sempre suspeitei que você não me contou tudo naquele dia. Algo mais aconteceu, e graças a isso, Milo foi capaz de resistir à sua doença por tantos anos.

- Eu não sei do que está falando. - Taxou neutro como sempre. - Você estava lá, viu tudo que aconteceu.

- Por favor, Camus, não me trate como idiota. – Fechou os olhos respirando o cheiro de sua rosa. – Sua lealdade por seu grande amigo é admirável, eu diria, que chega a ser até superior a lealdade que você tem a própria deusa Athena.

A temperatura começou a despencar.

- O que está insinuando? – Questionou em tom grave.

- Que tipo de acordo você fez Camus, para qual divindade recorreu? Qual foi o preço que pagou para manter Milo vivo? – Abriu seus olhos, afiados, emanando sutilmente seu cosmo caso fosse necessário enfrentar o ex-dourado. – Eu preciso saber de que lado você está.

A rosa em suas mãos congelou completamente, ao passo que o aquariano simplesmente lhe deu as costas.

- Essas ofensas a minha honra e lealdade para com a deusa, irei ignorá-las em retribuição a ajuda que me brindou no passado. – Voltou o olhar ao pisciano, enquanto a rosa desfarelava em suas mãos. – Passar bem Afrodite.

E sem mais retornou de onde veio.

Peixes, uma vez sozinho, respirou fundo, soprando de suas mãos os flocos de gelo que eram tudo que haviam sobrado da antiga flor.

- Você é um hipócrita Camus. – Desencostou da árvore e começou a caminhar. – Sempre foi.

-.-.-.-.- 

- Eu nunca vou me acostumar a ser bem recebido no Submundo. - Comentou um homem de cabelos azuis espetados e pele bronzeada, trajando uma armadura dourada.

Ao seu lado, um homem loiro de cabelos até sua cintura, pele pálida e olhos fechados, também usando armadura, nada disse.

- Não seria digno de nossa parte se fosse diferente, Máscara da Morte, afinal, estamos em dívida com vocês, por toda a ajuda que tem nos dado com a captura das almas podres. - Respondeu Daidalos descendo os degraus da sala do trono.

- Isso é ótimo. - Sorriu com prepotência o canceriano, apoiando uma das mãos na cintura. - Nada como ter créditos com aqueles que vão julgar sua alma quando você morrer. Eu espero que isso me livre de ir direto pro Tártaro, porque eu diria que minha ficha é realmente muito suja, principalmente dos vinte e três para baixo. Algumas quantas besteiras com vinte e cinco anos, mas principalmente dos vinte e três para baixo.

Orphée, ainda parado frente ao grande portão, franziu a expressão pelo comentário.

- Parece que o conceito de honra e moral dos cavaleiros mudou desde que eu servi no exército da deusa. - Comentou o músico encarando o guerreiro de ouro.

Não era a primeira vez que se viam, muito menos a primeira que o guiava até o salão do trono, porém, o rapaz irreverente e extremamente sem modos sempre o incomodou, portanto, nunca trocaram muitas palavras.

- Nem todos os cavaleiros de ouro são iguais. – Refutou fazendo careta, para logo acrescentar curioso. – Mas esse comentário... Você por acaso também é um cavaleiro, barqueiro?* - Perguntou Máscara, encarando o homem de cabelos azuis claros até sua cintura.

- "Era" talvez seja o termo mais adequado. - Corrigiu o antigo guerreiro de prata indicando sua sobrepeliz negra, a qual possuía um perfeito contraste com sua pele pálida.

- Ele costumava ser Orphée de Lira, o lendário cavaleiro de prata. - O segundo dourado da sala finalmente se pronunciou, abrindo seus olhos e revelando seus brilhantes orbe azuis vivos.

- O que disse Shaka? Esse cara é aquele Orphée? - Exclamou analisando o barqueiro com um novo interesse. - Por isso sempre te achei familiar, mas pensei que era por causa desse rosto de moça igual o de Afrodite.

O músico claramente se sentiu ofendido, ainda assim não emanou seu cosmo de forma ameaçadora ou deu sinal de querer entrar em batalha, algo que não passou despercebido por Câncer.

- Milo já me falou sobre você, um dos grandes cavaleiros sob o signo de Escorpião, mas para um aracnídeo desses, você parece ser bem paciente. -Terminou com um meio sorriso.

- Não acredito que a violência seja a resposta para todos os conflitos. - Respondeu em tom tranquilo, fechando seus olhos.

-Há, já entendi porque você decidiu seguir Shun também. - Resmungou o canceriano cruzando os braços. - Essa coisa de pacifismo parece ser contagiosa.

- Isso te incomoda? - Tornou a palavra Daidalos que tinha se mantido em silêncio ao pé da escadaria esperando paciente o fim do diálogo entre Câncer e Escorpião. - Uma posição pacifista?

- Há vinte anos sim, e muito. – Alegou, descruzando os braços e tornando a cruzá-los atrás da cabeça, de forma despreocupada. – Mas depois de tantos anos, depois de ser padrinho de um pivete complicado como Albafica e a um mês de se tornar novamente, agora de gêmeos, eu admito que não tenha o mesmo entusiasmo para enfrentar uma guerra como antes. - Bufou como se estivesse entediado. - Sem mencionar Piada Mortal e tantos outros que são apenas crianças. A minha primeira decapitação foi aos seis anos, mas não é porque nossa infância foi banhada por sangue e morte que eu quero que a deles também seja. A história de Piada Mortal já foi ruim o suficiente quando ele foi Manigold, ainda mais por sermos partes da mesma alma, eu gostaria que ele pudesse aproveitar a vida dessa vez.

Isso fez o sorriso calmo do juiz do Submundo se ampliar.

- Parece que os anos também te tornaram mais sábio. – Ponderou.

- Nem me fale! – Declarou com clara repulsa. – Às vezes tenho nojo só de me ouvir falando assim! Andar com esse cara. – Apontou Shaka. – E ter sido babá de um fragmento da alma do meu melhor amigo, que por casualidade também é seu antecessor de mesmo nome, e agora nessa vida, seu filho, tem me afetado bastante. Pelo menos eu posso ter minha vingança agora o fazendo cuidar de Piada. Mas ainda assim eu sempre me garanto de fumar, jogar e beber o bastante para ter a certeza de que eu não estou me tornando uma boa pessoa!

Uma expressão que mesclava espanto e confusão tomou o rosto de Orphée em resposta a declaração, ao tempo que um imperceptível sorriso se formou nos lábios do cavaleiro de Virgem. Daidalos por sua vez apenas soltou uma risada suave.

- Entendo. E claro, eu compreendo muito bem. – Afirmou, caminhando em frente aos dois, até o outro canto da sala, para logo retornar, como se estivesse pensando em algo preocupante, apesar de sua face tranquila. – Proteger a inocência dos mais jovens é uma causa nobre, mas como você mesmo disse, não é o suficiente para a sua “ficha” se tornar a de uma boa pessoa. Não precisa se preocupar quanto a isso. – Parou, de frente aos dois.

- Isso me tranquiliza muito! - Declarou cínico. – A má reputação é tudo na vida de uma pessoa.

- De todo modo existe uma razão pela qual eu pedi que Orphée permanecesse na sala, uma vez que vocês dois viessem. – O general do Submundo tornou a falar, agora sério. – Nós dois já fomos cavaleiros de prata a serviço de Athena, enquanto vocês dois, são dourados ainda à serviço da deusa. De certo modo, é como se estivéssemos falando de cavaleiro para cavaleiro. Porém, antes de entrarmos nesse assunto, gostaria de saber a razão pela qual vocês solicitaram uma audiência aqui no Submundo.

- Creio que nossas razões são as mesmas. – Respondeu Shaka com seu tom e semblante tranquilos. – Ao que parece por esse trono vazio. – Indicou o mesmo ao topo da escadaria, parcialmente coberto por cortinas. – Shun finalmente retornou ao mundo dos vivos.

- Sentimos a presença dele esta manhã. – Seguiu Máscara da Morte, finalmente assumindo uma postura séria. – Sua presença estava camuflada, impossível para qualquer um do Santuário, mesmo Athena, identificar. Se não conhecêssemos a forma como a energia de Shun é hoje, também nos teria passado despercebido.

- Parece que ele aprendeu bem a esconder sua identidade. – Concluiu Shaka num tom estranho e particular. – A questão é, o que o retorno dele pode significar.

- Sim, de fato, Shun partiu para se encontrar com Poseidon esta manhã. – Informou Daidalos sério. – Porque, como imaginávamos, ele e seus marinas foram os seguintes alvos. Ele está justamente nesse momento lutando contra alguns enviados de Chronos na mansão dos Solo. A guerra contra Chronos definitivamente começou.

Um longo silêncio se formou entre todos, cada qual perdido em seus próprios pensamentos.

- Não será um confronto fácil, não sabemos os números de Chronos, e mesmo seu irmão não é capaz de dizer com certeza a dimensão do que ele é capaz de fazer. Poseidon já é nosso aliado, mas esse ataque deixou claro que suas forças não são páreas contra a ameaça das almas podres superiores e contra o miasma. Apenas os espectros, você, Máscara e Piada Mortal são completamente imunes a essa fumaça que é a essência da própria morte. Todos os demais não são sequer capazes de ver as ameaças como realmente são sem estarem em posse de algo pertencente ao Submundo. Se não nos unirmos nesse confronto, o Santuário sofrerá um massacre.

Orphée engoliu em seco, Máscara franziu o olhar, Shaka tornou a fechar os olhos meditativo, enquanto Daidalos olhou de um a um.

- Assim que a batalha da mansão terminar, Shun retornará para o Castelo de Heinsteim, pretendemos reunir o maior número de espectros que conseguirmos, antes do seguinte passo. – Fechou os olhos respirando fundo, antes de tornar a abri-los, decidido. – Primeiro negociar um acordo entre Poseidon e Athena, para então Shun revelar sua verdadeira identidade.

- Olha só, finalmente o coelho sairá da toca. – Colocou com sarcasmo o canceriano.

- Tenha o mínimo de respeito, por favor. – Insistiu Orphée contrariado, em resposta Câncer apenas deu de ombros desinteressado.

- O ponto onde quero chegar. – Seguiu o general ignorando a afronta do dourado. – Caso esse acordo dê errado. Caso Athena não seja capaz de entender tudo que Shun teve que fazer durante todos esses anos e não seja capaz de perdoá-lo. Se ela não aceitar atuar ao lado de Shun e Poseidon. – Encarou cada um em seus olhos. - De que lado vocês ficarão?

Um novo silêncio se formou no salão, dessa vez, mais longo e incômodo.

-...Eu. – Começou Orphée a principio com vista baixa, para logo erguer seu rosto com determinação. – Devo demais a Shun para dar-lhe as costas depois de tudo. Estive pensando por muito tempo sobre isso... Eu já falhei no meu juramento para com Athena ao vir ao Submundo em busca de Eurídice. Mesmo que eu tenha tentado ajudar Shun e Seiya, na época que lutavam contra Hades, isso não muda o fato de que dei as costas à deusa por muitos anos. Eu não passava de um grande traidor. Minha alma se corrompeu com o ódio pelo que fizeram comigo e minha esposa, meu remorso e rancor eram tamanhos que por muito pouco eu também não me tornei uma dessas “almas podres”, simplesmente guiada pela odiosidade, não passaria de uma peça nas mãos de Chronos. – Apertou os punhos com força. – Athena não me ajudou nesse momento, afinal, ela não pode interferir com os mortos. Shun me resgatou, purificou meu espírito, me devolveu minha esposa. Do mais profundo de minha alma, eu não desejo lutar contra Athena, porém, mesmo que eu virasse para trás e descobrisse que ela é o Sol que ilumina o mundo dos vivos.* Eu e Eurídice decidimos seguir em frente, sermos leiais ao nosso presente. Nesse caso, nossa lealdade agora está com Shun.

Daidalos sorriu com compreensão.

- Isso era esperado. – Colocou irreverente o canceriano. – Você seria muito masoquista, barqueiro, se trabalhasse com quem não gostasse por vinte anos.

O músico apenas lhe lançou um olhar zangado, mas não respondeu.

- Eu divido de sua opinião meu companheiro. – Seguiu Daidalos fechando seus olhos, como se meditasse quais seriam suas palavras. – A princípio decidi seguir Shun para mantê-lo são e tão puro quanto o possível. Evitar que o senhor do Submundo voltasse a entrar de cabeça nessas intermináveis guerras contra Athena. Protegendo assim, mesmo que indiretamente, nossa deusa. Porém, conforme fui acompanhando suas ações, suas mudanças, suas dores e resoluções. Tudo que aprendeu e teve que lidar nesses longos vinte anos, fez minha resolução mudar. – Abriu os olhos tornando a encarar os presentes. – Hoje eu percebo que minha lealdade pertence completamente a Shun, por mais que meu coração sofreria ao ter que enfrentar Athena, ele romperia completamente se tivesse que ir contra quem eu acompanhei de perto nessas últimas duas décadas.

- Imagino que é por isso que você é o general aqui. – Ironizou outra vez Máscara, dando de ombros. – Seria muito clichê se o suposto braço direito do Imperador do Submundo o traísse, Saga e Kanon já fizeram isso, está muito batido.

- Você é incapaz de manter-se sério por cinco minutos que seja? – Questionou o músico com as sobrancelhas franzidas.

- Na verdade, sim. Sou. – Sorriu cinicamente, colocando as mãos na cintura. – Eu não tenho a menor intenção de trair Athena. Aioria é um bom exemplo do que um aprendiz sofre ao crescer na sombra de um traidor. Eu realmente dispenso algo assim para Piada Mortal, e Afrodite compartilha da minha opinião em função de seus filhos. Porém... - Seu tom se tornou mais grave. – Não estou disposto a deixar as crianças em treinamento serem todas massacradas. Porque é isso que vai acontecer. Eu já disse várias vezes que a grande maioria no Santuário não passa de pirralhos inexperientes, que nunca estiveram numa batalha real! Por isso, eu me abstenho de escolher um lado. Meu objetivo é simplesmente manter esses pivetes fora da linha do fogo, tanto quanto possível.

Daidalos tornou a sorrir, era impressionante como o canceriano tinha mudado nesses vinte anos, no final das contas, Shun tinha razão.

“Na guerra, os homens são capazes de mostrar suas piores faces, porém, é na paz onde eles são capazes de demonstrar até onde realmente são capazes de chegar.”

Então os olhares se voltaram para Shaka.

Este não esboçou nenhuma reação, mantendo seus olhos fechados.

- Já obtive a informação que queria, precisamos agora nos ausentar, consigo sentir que tentam entrar em contato com nossas mentes no mundo dos vivos. Imagino que o Grande Mestre resolveu fazer uma convocação depois das informações que passei para ele após nosso enfrentamento contra o Hecatônquiros.

Fez apenas um singelo sinal com a cabeça e deu as costas, sua capa farfalhando aos seus passos. Orphée piscou confuso, sem saber se deveria abrir o grande portão ou não.

- Não dirá seu posicionamento, Shaka? – Questionou Daidalos, curioso.

Shaka inclinou ligeiramente o rosto em direção ao general.

- Você já sabe minha resposta, Daidalos. – Respondeu impassível.

Com um gesto de mão de Daidalos autorizando, o músico abriu as portas, o virginiano saiu sem mais, ao tempo que o canceriano coçava sua nuca confuso devido a resposta de seu companheiro, ainda assim apenas deu um aceno para os outros dois e o seguiu. Orphée lançou um último olhar curioso para o general, antes de acompanhar os cavaleiros, deixando o antigo cavaleiro de Cefeu novamente sozinho.

- Eu já imaginava. - Declarou para o nada.

-.-.-.-

Saga chegou ao Santuário, deixando sua moto encostada ao lado de um bicicletário que havia sido montado por alguns aprendizes, numa das saídas para as ruas rurais de Rodorio. Haviam pelo menos oito bicicletas de todos os tamanhos e cores, amarradas com várias correntes.

Não pelo perigo de roubo, e sim para evitar possíveis traquinagens do aprendiz de Máscara da Morte, Piada Mortal.

Retirou o capacete, revelando seus longos cabelos azuis escuros que estavam quase completamente brancos, evidenciando a chegada dos anos, apenas mais quatro meses e ele e Kanon completariam quarenta e oito.

Notou um murmúrio em suas costas enquanto prendia o capacete à moto e soltava a urna de sua armadura da parte traseira da Harley, aparentemente alguns jovens estavam a caminho do bicicletário e pararam ao vê-lo.

- É aquele homem?

- Sim, ele mesmo!

- Shiiiu! Ele vai nos ouvir.

- Ele não parece assustador, foi ele mesmo que matou o Senhor Shion na batalha das doze casas?

- Sim! É o que andam falando!

- Como você pode acreditar em tudo que dizem?

- Mas ouvi que foi um cavaleiro de ouro que confirmou isso!

- Você está mentindo! Um dos dourados jamais espalharia um boato desses assim!

Terminou de desdar o último nó e posicionou a caixa em suas costas, ponderando se deveria dar a volta pelo cemitério para não assustar as crianças. Mesmo que o assunto da batalha do Santuário fosse um Tabu, Shiryu sempre fez questão de deixar claro aos aprendizes que as razões da guerra foram devido a uma força maligna desconhecida que enganou os cavaleiros e tomou posse do Santuário. Contudo, alguém, supostamente entre os dourados havia deixado escapar que o “desconhecido” se tratava do cavaleiro sob a constelação de Gêmeos. O mesmo havia acontecido sobre a guerra contra Poseidon, provavelmente o mesmo suposto cavaleiro de ouro também deixou escapar que Kanon foi um dos principais responsáveis.

Por mais que o Grande Mestre tentou descobrir quem havia espalhado essas informações, mesmo confrontando todos os treze cavaleiros, ninguém nunca assumiu a culpa.

Seu olhar se encontrou com o dos menores, ao topo da escadaria que levava a um dos Partenon. Um deles, o que espalhava o boato, começou a tremer, medo claro estampado em sua face. O menino que conversava com ele, tentou empurrá-lo pelo ombro, como se o incentivando a sair dali, por precaução.

Por razões assim preferia manter-se longe do Santuário, seu coração apertava só de perceber tamanho temor emanando de uma simples criança que não parecia ter mais que oito anos. Pensou em dar as costas e seguir pelo caminho mais longo, embora soubesse que Shiryu, que havia se comunicado mentalmente com ele enquanto estava a caminho do Santuário, também estaria aguardando sua presença no salão do mestre.

Porém uma mão tocando seu ombro acabou por mudar seus planos.

- Ei garotos. – Milo sorriu para os dois menores que se sobressaltaram. – Vocês não deveriam estar treinando? Aiolos pode ter um bom coração, mas odeia que matem seus treinamentos. Além disso, vocês não deveriam estar com seus mestres?

- Exatamente! O que vocês pensam que estão fazendo vindo para cá a essa hora?! – Uma quinta voz se assomou, e no instante seguinte, os dois meninos foram jogados com força, graças a um chute, escadaria a baixo.

Saga se adiantou agilmente e tomou ambas as crianças em seus braços antes que caíssem no chão.

- Rômulo! – Exclamou Escorpião irritado. – Quantas vezes te dissemos para ter mais cuidado com os aprendizes?

Ao topo das escadas, surgiu a figura de um jovem, aparência um pouco mais velha do que de um adolescente, algo entorno de quinze anos. Pele levemente bronzeada, um olhar afiado, esverdeado escuro, e longos cabelos verde-água que chegavam até sua cintura, usava simples roupas de treinamento do Santuário.

- Eu não tenho paciência com aprendizes indisciplinados. – Declarou o denominado Rômulo, cruzando os braços irritado. - Não é a primeira vez que pego esses dois fugindo, alguém precisava tomar uma atitude!

- Obrigado senhor Saga. – Outra figura aparecia ao seu lado, fisicamente idêntica, embora de semblante muito mais calmo e preocupado. – Os meninos estão bem?

O geminiano, que se ajoelhou para conseguir impedir a queda dos menores, os ajudou a levantar, sorrindo para eles.

- Vocês se machucaram? – Perguntou em tom tranquilo.

- Não senhor! Muito obrigado. – Agradeceu o mais velho, logo se voltou ao menor, dando uma cotovelada em seu estômago para que dissesse algo.

-...Obrigado... Ai! – Outra cotovelada. – O que foi?

- Eu acredito que você também deva a Saga um pedido de desculpas. - Colocou em palavras Milo, observando um pouco mais atrás, o que o aprendiz mais velho queria dizer com gestos. – Não é nem um pouco digno de um futuro cavaleiro ficar espalhando rumores por aí.

A criança abaixou a cabeça, seu medo sendo substituído pela vergonha.

- Não precisa, está tudo bem. – Declarou Saga se levantando, bagunçando levemente os cabelos do mais jovem. – Acredito que eu que deva pedir desculpas, não tive a intenção de te assustar.

O menino piscou confuso, observando os olhos serenos do cavaleiro de Gêmeos. Esse homem não tinha absolutamente nada haver com as histórias que tinha escutado.

-...Eu...

- Por que ele precisa pedir desculpas? – Rômulo, que havia escutado o comentário, intrometeu-se gritando de onde estava, uma expressão de raiva tomando seu rosto. – Que rumores?!

E o pânico voltou completamente ao rosto do menino.

- Fique calmo irmão. – Tentava tranquilizar o seu gêmeo, segurando-o para impedi-lo de descer e investir nos garotos novamente. – Você nem sabe o que aconteceu.

- Me solte Remo! Se esse pivete está saindo por aí difamando seus superiores, eu vou lhe ensinar, de forma bem gráfica, porque não pode fazer isso!

O pequeno abraçou Saga, completamente em pânico, enquanto o mais velho olhava dos gêmeos para Gêmeos sem saber o que fazer, voltou-se para Escorpião, mas este estava apenas de braços cruzados observando a situação com interesse.

- Rômulo. – Declarou o guardião da terceira casa em tom sério, levantando-se e posicionando frente aos dois pequenos aprendizes. – Tenho certeza que seu pai deve ter lhe dito quais são cada uma das regras aqui do Santuário.

- De trás pra frente e de frente para trás, Senhor Saga. – Respondeu Remo no lugar do irmão, soltando-o agora que um dos dourados se dirigia diretamente a ele.

- Portanto, deveria saber que lutar contra outros cavaleiros ou aprendizes fora do Coliseu ou ambiente de treinamento é expressamente proibido. - Declarou em tom firme, embora sua expressão seguisse sendo serena. – Punível com detenção. Não creio que seus pais ficariam muito contentes em saber que um de seus filhos foi punido dessa forma.

A expressão de Rômulo passou de desgosto, para uma de resignação, mesmo que a contragosto.

- Muito bem. O senhor tem razão. Eu cuido de vocês no coliseu. – E deu as costas para a cena.

- Desculpe por isso senhor Saga. – Interveio Remo com uma sutil reverência. – Meninos, eu sugiro que esperem alguns minutos antes de voltarem ao coliseu, até que meu irmão se acalme. Falarei com nosso pai para interceder por vocês.

- Obrigado mestre Remo! – Declararam os dois. Com um simples acendo de cabeça o grego foi atrás de seu irmão.

- Novamente Obrigado senhor Saga. – Fez uma reverência o aprendiz mais velho.

- Muito obrigado e me desculpe! – Repetiu o movimento o mais novo, e então voltou sua vista ao cavaleiro de Escorpião. – Não darei mais atenção a esses boatos falsos, eu juro!

- Eu realmente espero que sim – Respondeu com um meio sorriso Milo, e os dois finalmente foram embora, na mesma direção que os gêmeos.

- Rômulo e Remo. – Declarou Saga quando o outro caminhou e parou ao seu lado, ainda observando a direção onde os quatro foram. – Gêmeos, de personalidades completamente opostas uma da outra, nascidos justamente sob o mesmo signo que Kanon e eu.

- Eles têm um enorme potencial, principalmente Rômulo. – Seguiu o escorpiano. – Apesar de ter puxado a personalidade complicada de sua mãe.

- Eu realmente espero que sua personalidade se deva simplesmente por isso – Colocou o guardião da terceira casa, extremamente sério, em tom grave, recomeçando a caminhar em direção às doze casas, seu companheiro ao seu lado.

- Eu entendo que vocês se preocupem com essa história de maldição do signo de Gêmeos, por isso decidiram não fazer deles, ou de Rômulo, no caso, seu aprendiz, mas não acha que a capacidade dele é muito grande para ser apenas um cavaleiro de prata? – Inqueriu o escorpiano enquanto caminhavam.

- Eu diria o mesmo de certo cavaleiro de bronze de Unicórnio. – Alfinetou Saga com um pequeno sorriso. - Além disso, nós dois sabemos muito bem que a patente da armadura não diz, necessariamente, a respeito da força de seu portador, afinal, todos nós fomos derrotados há vinte e quatro anos por “simples” cavaleiros de bronze.

- Isso é diferente! Jabu é apenas um impulsivo estúpido. – Defendeu-se. – Para mim, ele sequer merece sua armadura de bronze.

- Eu tenho minhas razões para não querer que ninguém herde a armadura de Gêmeos. E Kanon concorda comigo. – Seguiu em tom melancólico. – Depois de nossa morte, eu gostaria verdadeiramente, que nossa casa fosse esquecida.

- Vocês não acham que estão sendo radicais demais?

Saga parou, encarando os olhos azuis de seu companheiro.

- As trevas de Gêmeos me fizeram quase matar Athena, matar Shion e Aiolos e tomar posse do Santuário por anos, arrastando vocês em minha loucura, o que custou a vida de Máscara da Morte, Shura, Camus e Afrodite. Sem mencionar a corrupção que assolou Kanon, fazendo-o me convencer que deveria matar o Grande Mestre e tomar seu lugar, além de se envolver com Poseidon. – Fechou os olhos respirando fundo. – A história da terceira casa é regada de dor, tragédia e sangue. Eu não quero que aconteça com Rômulo e Remo o mesmo que comigo e Kanon, com Aspros e Defteros, com Kain e Abel e tantos outros que sofreram sob esta constelação desde seu surgimento com Castor e Póllux.

- Então vocês realmente acreditam que seus destinos estão completamente traçados segundo sua constelação. – Impôs Escorpião ao tempo que o companheiro reabria os olhos e tornava a caminhar.

- Há registros suficientes de distorção de personalidade entre meus antecessores para eu acreditar nisso.

- Me desculpe amigo, mas penso que isso seja uma bobagem. – Refutou. – Acreditar que as estrelas concedem um destino trágico para aqueles que elas deveriam proteger? As constelações foram criadas para contar histórias, homenagear ou recordar certas figuras mitológicas. Nós ensinar sobre o que foi o passado, e nos ajudar e guiar em direção ao futuro. E não impondo um destino imutável sobre nós.

- Você fala como se fosse um verdadeiro especialista. – Brincou quando as doze casas já se tornavam visíveis no horizonte. Mas logo seu sorriso desapareceu. – Talvez tenha razão, e estejamos levando isso do destino de nossos antecessores a sério demais. Até porque, até onde me lembro, existe uma espécie de maldição também sobre o signo de Escorpião, onde nenhum cavaleiro sob sua tutela viveu muito mais do que vinte anos, sendo consumidos prematuramente por diferentes tipos de enfermidades. E você em contrapartida, apesar de seus quarenta e quatro anos esbanja saúde, não é verdade?

Foi a vez de Milo parar.

-...Está usando o método socrático comigo?* - Colocou desconcertado. - Como sabe disso sobre meus antecessores?

Saga também parou, encarando o amigo.

- Não me importa que não queira dividir isso comigo Milo, mesmo após tantos anos eu não diria que somos amigos assim tão próximos para dividir confidências. Porém, se planeja mesmo esconder do Santuário que você está doente, não está fazendo um bom trabalho. – Declarou simplesmente. – Você está pálido como um papel, está andando num ritmo devagar até para um civil comum, sem mencionar que seu cosmo é praticamente apenas uma fagulha.

O escorpiano engoliu em seco, suor frio começando a escorrer por seu rosto.

- Saga...

- Eu não mencionarei a ninguém, se esse é seu desejo. – Declarou lealmente. – Sobre como eu sei disso, não se esqueça de que, embora não seja usando-me dos melhores meios, fui Grande Mestre por treze anos. Tinha completo acesso a todos os arquivos antigos.

- Entendo... - Respirou fundo. – Eu sei que não posso esconder isso por muito mais tempo, mas eu agradeceria se você mantivesse isso entre nós, por enquanto.

- Que assim seja então. – E ambos retornaram a caminhada, embora Milo estivesse muito mais cabisbaixo.

Começaram a subir a escadaria de Áries, para logo deparar-se com seu guardião, Kiki, aguardando enquanto estava apoiado contra um dos pilares, trajando sua armadura, ao tempo que lia um livro, fechou o mesmo ao avistar ambos dourados.

- Kiki. – Cumprimentou o geminiano.

- Boa tarde Kiki. – Seguiu o escorpiano tentando sorrir.

- Boa tarde senhores – Sorriu o ariano, embora seu olhar analítico pousou um pouco mais de tempo sobre Escorpião. – Eu estou aguardando a chegada de alguém que escoltarei até o salão do mestre, mas vocês tem minha permissão para passarem pela primeira casa. – Seu olhar voltou-se novamente a Milo. – Ainda temos algum tempo antes da reunião começar, será que eu poderia falar com você um minuto, Milo?

- Eu irei na frente então. – Anunciou Gêmeos. – Vejo vocês lá em cima. – Ao passar ao lado de Kiki, colocou a mão em seu ombro. – Por favor, cuide de nosso companheiro teimoso.

E sem mais, seguiu em direção à casa de Touro.

Áries piscou surpreso, voltando sua vista para o escorpiano que parava ao seu lado, o qual bufou pesadamente.

- Não, eu não contei para ele, antes que você me pergunte. – Respondeu cansado o mais velho.

- Não é mesmo necessário, você parece um cadáver ambulante com essa cor. – Impôs o lemuriano com preocupação. - Venha, entre, eu verei o que posso fazer para melhorar sua disposição, pelo menos até o fim do dia.

- Obrigado Kiki, parece que te devo mais uma.

Porém, ambos pararam alguns passos da entrada da casa, quando sentiram uma energia familiar sendo emanada, uma energia que há muito não era sentida pela grande maioria dos antigos guerreiros do Santuário.

- Isso não é possível! – Exclamou Surpreso Milo, olhando na direção de onde o cosmo vinha. – Depois de tantos anos?!

- Então... - Seguiu Kiki igualmente chocado. – Ele... Está vivo?

Do alto do Star Hill, parado do lado de fora da antiga construção ao topo da montanha. Shiryu levantou o rosto para o céu, suas pupilas brancas encarando cegamente o firmamento, enquanto sentia a enorme emanação desse cosmo tão nostálgico.

- Então você finalmente voltou... Ikki.

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Notas Finais


* Para os esquecidos, Orphée está trabalhando no lugar de Caronte no Submundo, enquanto este não retorna de sua reencarnação. Como não sabia seu nome, Máscara o chamava de "Barqueiro."

* A declaração de Orphée sobre Athena ser "O Sol que ilumina o mundo dos vivo" faz referência ao seu mito e o de Euridíce. Onde eles foram autorizados por Hades a sair do Submundo, mas quando o músico pensou que viu a luz do Sol, e se virou para ver sua esposa e anunciar sua chegada, ela tornou-se pedra (em Saint Seiya).

* Vale recordar que método socrático consiste em uma forma de oratória que faz perguntas simples, quase ingênuas, para que assim a pessoa com que se fala perceba seus próprios erros de raciocínio. De acordo com Soleil, Milo dá aula desse método no Santuário, por isso a rápida identificação dele, além do desconcerto.

Qual será a doença de Milo? O que será que Camus fez para mantê-lo vivo? A quem Shaka é leal? E o que deve ter acontecido na mansão para que Ikki se exponha desse modo?

Novos mistérios surgem com essa terceira temporada!


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