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História Guerra e Paz - Capítulo XXXVIII - A resolução da mansão -


Escrita por: KimonohiTsuki e JonhJason

Notas do Autor


Esse é o novo capítulo mais difícil de escrever até agora!

Capítulo 39 - Capítulo XXXVIII - A resolução da mansão -


Fanfic / Fanfiction Guerra e Paz - Capítulo XXXVIII - A resolução da mansão -

Capítulo XXXVIII - A resolução da mansão -

- Eu não quero saber Blake, algo grande está acontecendo nessa mansão, a polícia não está dizendo tudo! Então, se você não quer que eu pilote esse helicóptero e filme tudo sozinha, você vai subir agora! - Uma mulher loira, de rabo de cavalo exigia parada ao lado de um grande helicóptero, identificado com o logotipo de uma rede de televisão internacional.

- Lynn, eu te entendo. Porém o espaço aéreo envolta da mansão foi fechado! Tem ideia do problema que nos meteríamos se desrespeitarmos isso? - Respondeu um homem de cabelos castanhos curtos.

- Amor, você nunca ouviu o ditado? Melhor pedir perdão do que pedir permissão! Todas essas explosões não podem ser apenas vazamento de gás!

- Mais uma razão para não irmos, pode ser perigoso. - Insistiu.

- Se você tem medo de algo assim, não deveria ter se tornado câmera - E dito isso, se posicionou para subir no veículo.

Com um suspiro exasperado, seu companheiro a seguiu.

Estavam organizando seus equipamentos quando notaram que o helicóptero começou a decolar sozinho.

Com um grito assustado, Lynn caiu no chão, enquanto Blake, mesmo segurando a câmera com o braço direito, fechou a porta com a mão esquerda.

- Quem está aí?! - Exigiu saber, segurando numa alça de segurança acima da porta - Não viu que estávamos nos arrumando?

Um homem alto e atlético, de cabelos encaracolados, quase loiros, e olhos azuis intensos virou-se para eles com um grande sorriso. Lynn ficou maravilhada, nunca imaginou que uma pessoa pudesse ser tão bela.

- Desculpe, é que eu sempre quis pilotar um helicóptero! - E ambos tiveram que se segurar com mais força, devido aos movimentos bruscos que o veículo fazia - Acho que estou até me saindo bem!

- Quem é você, afinal? - Exclamou o câmera caindo no chão, por uma guinada violenta.

- Vocês podem me chamar de Hermes - Respondeu com simpleza, desviando a vista do painel e tirando os óculos de piloto. - O prazer é todo de vocês.

-.-.-

A ventania e o fogo se desfizeram assim que os dois tocaram o solo, Kókkino franziu a expressão ao ver tantos inimigos reunidos.

- Se há tantos de vós aqui, assumo que todos os meus irmãos estão mortos. - Declarou o homem alto de pele morena, cabelos azuis mar até seus ombros e sanguinários olhos vermelhos.

- Infelizmente sim - Respondeu Shun, dando um passo à frente, com uma expressão séria. - Imagino que ainda assim, você não pretende se entregar e facilitar nosso trabalho.

- Nosso trabalho?  - Inquiriu curioso, um sorriso vicioso no rosto, notando a armadura de Ikki, e mais ao fundo a de Kairos - Tu também és um espectro? Por que estão defendendo Poseidon? Pensei que ele e seu antigo senhor Hades se odiavam.

- Não - Respondeu em tom grave - Não sou um espectro e nunca odiei Poseidon, apenas preferia não me meter em seus assuntos, vamos dizer que ele costumava ter um humor bem instável.

“...Bem instável é um elogio...” – Ironizou Hades.

Isso fez o haliano franzir a expressão, desconfiado.

- Falas como se fosse o próprio Hades, mas ele foi destruído, por isso eu e meus irmãos, e tantos outros finalmente conseguimos fugir do mundo inferior para ter nossa vingança.

“...Destruído é um exagero...” – Insistiu.

-Eu concordo.” – Respondeu mentalmente Shun.

- Isso é verdade? O senhor Hades foi destruído? – Questionou Violate, deixando Sorento ao lado de seu filho e senhor, voltando-se irritada para Kairos, mais afastado dos outros, não sendo mais escutada pelos demais. Enquanto isso, o Marina se arrastou para verificar a saúde dos seus.

- De fato, aconteceu na última Guerra Santa, há vinte anos. – Confirmou o deus do tempo, sentando-se no chão ao lado de Isaak e Kasa. Sua respiração era arfante e havia marcas de suor em seu rosto, mas não parecia ser exclusivamente por ter carregado os dois. – Athena ganhou no final das contas, e em sua vitória aplacou a alma de Hades.

- Como isso pode ser possível?! Mesmo ela não deveria ser idiota a tal ponto! Isso desestabilizaria o equilíbrio de todo o mundo! – Inconformou-se a espectro. – E se Hades foi destruído, quem é esse homem?

Em contrapartida, Shun respondia a Kókkino.

- Eu confesso que é um tanto repetitivo e incomodo ter que me apresentar tantas vezes – Declarou em tom despreocupado, embora sua postura ainda seguisse intimidante. – Eu sou o sucessor de Hades, senhor do submundo. E por tanto, responsável por levar suas almas apodrecidas de volta ao Tártaro.

“Talvez devêssemos fazer um cartão de apresentação” –Colocou com sarcasmo Shun.

“...Economizaria largos minutos de apresentação...” – Seguiu o deus.  “...Ainda mais agora, que nosso tempo se esgota, Kairos não resistirá por muito mais tempo, precisamos nos apressar se tu fazes questão de poupar a vida das pessoas dessa mansão...”

“Sim, eu sei”

Violate voltou novamente seu olhar inquisidor para Yohma. Apesar de parecer cada vez mais um esforço enorme, o deus sorriu com prepotência e tornou a responder.

- Você se lembra do nosso “querido” Alone?-  Ao ver a intensa expressão de desgosto no rosto da mais jovem, acrescentou, com satisfação - A raiva é um veneno que bebemos esperando que os outros morram, minha cara Violate, consigo compreender a extensão de sua aversão para essa nova reencarnação de Alone, contudo, ainda deve sua alma e existência atual a este homem. Você teve uma vida feliz, não teve minha cara Ione Kípos? Pense nisso antes de mostrar-lhe o punho.

- Como se eu fosse ouvir conselhos de um traidor – Declarou em tom rígido – Todos ficaram cientes de suas ações, quando voltamos a reencarnar na última guerra. Você é repugnante, e o fato desse novo Alone ter te libertado apenas reforça minha desconfiança.

- Você não pensava isso de mim quando salvei sua vida e a de seu pai – Respondeu simplesmente. Ione estava a ponto de retrucar, quando notou que o outro já era incapaz de responder, sua cabeça caída para frente, o suor empapando sua face e escorria por sua armadura, parecia ter uma enorme dificuldade de se manter acordado.

O imperador não precisava se virar para comprovar que a divindade do tempo estava a ponto de perder a consciência. Com isso, facilmente, perderiam dois marinas.

“Suporte mais um pouco Kairos” – Resolveu dirigir-lhe a palavra, enquanto caminhava de forma predadora em direção ao semideus, analisando-o, “Garanto que seu esforço será recompensado.”

“...Há!...Assim...Espero.” – Foi tudo que recebeu como resposta.

Enquanto tinham essa rápida conversa mental, o semideus continuava a falar.

- Se tu és apenas o sucessor de Hades, por que te importa tanto nosso pai? – Perguntou outra vez, inclinando a cabeça com olhar luxurioso, lambendo os lábios sujos de sangue.

- Eu estou perdendo a paciência com esse imbecil – Taxou Ikki, cruzando os braços, se aproximando de seu irmão.

- Ele está tentando ganhar tempo – Sussurrou Shun, seus olhos oscilando entre amarelos e esmeraldino.Então elevou sua voz – Tudo isso não importa para onde você está indo, chega de perguntas!

- É o que veremos~

Então impulsionou-se numa velocidade absurda, usando-se da água resultante da junção de seus golpes, dos de Mesógeios e do próprio Havok, que escorriam até a entrada da mansão, como propulsão.

- Navalhas de Oceano*!- Começava a dizer o filho rebelde, Neroda e o Dragão Marinho, em seu campo de visão.

Sequer se importou quando o homem de cabelos lilás que parecia ser o pai do menor se colocou no caminho, ou quando Poseidon apontou o tridente em sua direção. Arrancaria a cabeça dos três em um único golpe antes que pudessem fazer qualquer coisa para reagir, o mesmo movimento que usou para cortar o Grande Leviatã em pedaços, envolvendo seu corpo num turbilhão afiado de água, como uma enorme foice.  

-Sorento!

- Shun!

Tudo aconteceu muito rápido, Neroda exclamou por seu guerreiro de Sirene, que se posicionou como escudo, Ikki chamou por seu irmão que adiantou-se para impedir o golpe mortal. A respiração de todos parou por um segundo, observando o desenvolvimento da cena.

Sorento, de costas, envolvendo Poseidon e seu filho com os braços.

Shun, de frente e com os braços abertos, mostrava estranhamente um olho brilhando em amarelo vivo e o outro em safira, ambos decididos a proteger o imperador dos mares. Kókkino, por sua vez, deitado entre as águas que serviram para movimentá-lo, possuía a mão esticada, como o golpe excalibur dos cavaleiros de capricórnio, a milímetros do pescoço de Shun, porém seu braço, seu tronco, pernas e mesmo a cabeça foram perfurados por corais e correntes negras. Além disso, seu corpo pegava fogo, evaporando aos poucos a água ao seu redor, devido ao rápido movimento de Benu, para impedir que seu irmão fosse prejudicado.

- Corais?- Questionou o senhor do submundo, virando ligeiramente o pescoço para ver Havok, de pé, numa postura decidida que superava em muito sua prematura idade, sua armadura brilhando com uma intensidade ofuscante. Seus olhos, porém, pareciam sem foco, como se já não fosse ele mesmo.

-...Havok? – Questionou o músico, mas ao invés de uma resposta, o menino se desvencilhou dos braços do pai, sendo atentamente observado por seu senhor. – O que houve?

- Parece que a consciência ancestral do primeiro Dragão Marinho despertou nele – Informou Poseidon, a boca ligeiramente aberta, tornando a abaixar seu tridente.

Havok continuou caminhando, de cabeça baixa, sendo observado por um atônito Sorento e por um atento Shun, que nada fez assim que o antigo general parou ao seu lado.

- Creio que devo a ti, poder retornar ao exército de meu senhor – Declarou numa voz distante e adulta, tão peculiar para seu corpo tão infantil.

- Eu confesso que não estou acostumado a receber elogios em minha função – Respondeu o virginiano, vendo-o de lado – Contudo, devo dizer que este não é o momento adequado para palavras.

De fato, o fogo começava a se apagar, devido a emanação do cosmo do moreno, apesar das intensas marcas de queimaduras de alto graus e dos fatais ferimentos, o semideus se debatia, rasgando sua carne de forma violenta, deixando até mesmo partes de seus ossos expostos, apenas para voltar-se com olhos vidrados para o pequeno guardião.

- Tem razão – Concluiu Havok fechando os olhos.

- INSOLENTE!!! – Kókkino criou com seu cosmo um pilar de água, livrando-se uma vez das correntes e dos corais, devido a força da pressão. Shun imediatamente, tendo mais tempo para reagir dessa vez, conseguiu concentrar energia para criar um Kahn e proteger devidamente Neroda e Sorento às suas costas.

Ikki estava a ponto de tornar a atacar o inimigo, dessa vez com seu golpe mais forte, contudo, a presença esmagadora do Dragão Marinho o fez deter-se em seu lugar. Abrindo os olhos surpresos.

- O que ele pensa que está fazendo?! – Exclamou.

O vento causado pelo grande turbilhão balançava os cabelos loiros do menino de dez anos, ainda assim ele não se intimidou, dando mais alguns passos para frente, sendo envolvido pela corrente de água e desaparecendo dentro dela.

No pilar que se misturava com sangue, e por alguma razão, barro, que não parecia provir dos jardins. O semideus, claramente estava fora de si, juntava todas as suas forças para um último ataque suicida, quando seus olhos foram cegados por uma intensa luz vermelha, invadindo seu golpe. Assim conseguiu abri-los com dificuldade, viu à sua frente algo semelhante a um cavalo marinho, de meio metro, vermelho rubi, porém de um focinho mais longo e corpo mais esguio, além de uma cauda brilhante em dourado.

 - Um antropomórfico? – Falou sem qualquer dificuldade mesmo embaixo d’água. – Ora, ora, parece que nosso papai quer mesmo voltar às origens! – Declarava em tom alucinado, seus olhos saindo das órbitas – Mas tu continua não passando de um misero peixe com ossos!! E eu me certificarei de quebrar cada um deles! Éxodos Carmesim!

Esticando as mãos perfuradas e em pedaços, a correnteza se tornou ainda mais forte, ainda mais rubra devido ao sangue que deixava o corpo do hospedeiro. Corpo que convulsionava, apesar de morto, ainda forçado a se mexer pela alma vingativa que o possuía.

Porém, suas tentativas desesperadas criaram a camuflagem perfeita para o dragão, que começou a girar em círculos, criando um anel rubi, sua velocidade era tamanha que logo os anéis pareciam se multiplicar, apesar de ser apenas um, era como se dezenas deles estivessem ao redor de todo o pilar, impossibilitando Kókkino de usar seu Éxodos no verdadeiro, conseguindo então controlar apenas seu próprio sangue.

- Anéis de netuno*! – Uma voz imponente se ouviu mesmo por entre as águas, e os anéis dispararam na direção do semideus, cortando definitivamente seu corpo em vários pedaços, numa capacidade de corte bem superior a das navalhas de Oceano. Quando a consciência estava para se dizimar, uma única lágrima de sangue escorreu pelo olho do haliano, misturando-se imediatamente a todo o liquido rubro diluído na água.

- Eu lamento que tenha que acabar assim, filho de Poseidon. – E a última coisa que pôde ver foi a figura espectral de um homem alto, pele levemente morena, cabelos longos, volumosos e ruivos, espetados de cima até embaixo, como uma crista. A aparência do primeiro Dragão Marinho.

“Eu também” – Disse a alma do primeiro filho do mar, mas o Dragão era incapaz de ouvi-la.

Porém, Shun sim escutou, fechando os olhos, sentindo uma nova onda de ódio envolver seu coração, contudo, foi mais precavido dessa vez, não deixando sua aura escapar, tendo clara percepção que Sorento e Neroda estavam logo atrás de si.

O pilar, que mesmo de fora, possuía uma repugnante aparência avermelhada, elevou-se com um chafariz, e choveria sobre todos, se novamente Benu não tivesse tomado a frente de seu irmão e com uma Elevação das Trevas, evaporado o liquido e os restos do corpo mutilado, restando apenas um vapor denso e avermelhado, que encolheu momentaneamente os céus sobre a mansão.

Enquanto o espectro dissipava a chuva de sangue, a figura reluzente e semitransparente do Dragão marinho encontrava-se de pé, imponente, onde instantes antes o grande pilar se ergueu.

Virou-se para todos os demais, justamente a tempo de ver um assombrado Io, olhando aterrorizado para a imensa bola negra de calor lançada por Ikki atingindo as águas. Ele carregava no ombro esquerdo, Krishna e no direito Bian.

Então os olhos do marina passaram pelos corpos caídos de Isaak e Kasa, para logo pousar sobre Sorento, que observava a figura espectral, expectante, tentando reconhecer seu filho em meio à ela.

O ruivo caminhou novamente para o lado de Shun, quando o vapor avermelhado misturou-se com o inicio da escuridão da noite.

“...Agora acredito que posso agradecer...” –Declarou solene para o deus dos mortos.

- Dir-lhe-ei o mesmo que declarei ao seu pai nessa vida, vinte anos atrás. – Impôs o imperador simplesmente, sua calma restaurada - Me agradeça apenas quando tudo isso acabar.

- Aguardarei esse momento então. 

Shun se afastou, dando espaço para os três, encaminhando-se junto a Ikki até onde Kairos, Ione, os dois marinas, e agora Io e os outros estavam.

O Dragão então parou frente a Sorento e Poseidon. Sorriu para o primeiro.

-...Eu não tenho palavras suficientes para agradecer tudo que fizeste por mim. – Declarou o general. – Mais do que um líder, um guardião e guerreiro, tu foste um pai formidável.

- Você fala como se fosse um adeus – Respondeu Poseidon, uma vez que o músico parecia incapaz de falar, um grande nó formando-se em sua garganta.

- De certo modo, é. Minha consciência, adormecida até então, se fundirá de uma vez com a de Havok. Dentro de pouco tempo, juntos, nos tornaremos o general que por tantas reencarnações vós aguardais. – Dito isso, ajoelhou-se, frente à Neroda, sob o joelho esquerdo e o pé direito. – Me perdoe meu senhor Poseidon, por fazê-lo esperar por tantos séculos. De agora em diante, prometo que jamais me distanciarei da frente de seu exército.

A essa distância, Io não era capaz de ouvir o que a figura espectral dizia para o filho mais novo dos Solo, mas lembrou-se das palavras de Shun “teu verdadeiro senhor está agora lutando nos jardins” isso significava, que esse tempo todo, Neroda era Poseidon? Não havia outra explicação para a alma do primeiro Dragão Marinho estar ajoelhado à sua frente.

- Pytheas Solo – Chamou Poseidon, agachando-se frente ao seu mais leal homem, surpreendendo-o e fazendo o soldado erguer seus brilhantes olhos rubi – Você, séculos atrás, me deu mais do que sua lealdade, mais do que o seio de sua família para que eu pudesse reencarnar,  mais do que sua vida e alma. Você foi o primeiro humano que eu pude confiar. Reuniu os primeiros marinas ao meu lado, como seu líder, meus homens leais. Porém havia algo mais que eu não entendia na época, mas que agora, como Havok, você me fez entender. Você também foi meu primeiro amigo, um verdadeiro companheiro. E é isso que eu mais desejo agora, muito mais do que um implacável guerreiro, um amigo.

Em resposta o ruivo sorriu.

- Tu mudaste meu senhor. – Fechou os olhos – E eu não poderia estar mais orgulhoso de estar ao teu lado, mesmo sob outra consciência, outro nome. Meu senhor, meu amigo.

Tornou a abrir os olhos, decididos, e ergueu a mão direita, do tamanho de um adulto, o qual Poseidon apertou com a sua própria, a de um adolescente, com força. Então a imagem do ruivo começou a se dissipar, a mão tornou-se pequena, de uma criança, até a imagem do menino de cabelos loiros compridos ressurgir, tombando para frente, sendo segurado pelos braços do imperador dos mares.

-...Aii..Minha cabeça... – Resmungou o jovem, confuso, para logo abrir os olhos assustado, sem sequer notar que estava nos braços de seu senhor, levantando-se rápido, buscando o inimigo.

- Está tudo bem Havok –O menino voltou-se à Sirene que lhe sorria paternalmente, tornando a se agachar, preocupado. – Finalmente acabou.- Virou-se para Poseidon, com uma expressão culpada – Meu senhor, devido à todas as emoções que passamos hoje, acredito que agora irei realizar um ato de profundo desrespeito, então desde já, peço seu perdão e compreensão.

Antes que Neroda pudesse responder, usando-se de suas últimas forças, Sorento envolveu o pescoço de ambos com seus braços, juntando-os num apertado abraço, fazendo o deus dos mares se ruborizar, sem graça. 

- Que bom...- Sua voz fraquejou, lágrimas correndo por seus olhos – Que vocês estão bem, eu estava tão preocupado...

Então seus braços começaram a deslizar pelo tronco dos meninos, quando finalmente se entregou a exaustão e perdeu a consciência.

- Pai!!

Ia cair de costas no chão, porém, Poseidon e o Dragão Marinho, seguraram cada qual um dos braços do músico. Mantendo-o sentado.

Agilmente, o imperador dos mares inclinou a cabeça sobre o coração de seu servo, para logo respirar com alivio.

- Ele só desmaiou – Informou com um suave sorriso, com a ajuda de seu leal general, acomodaram o austríaco no chão.

Enquanto essa cena se desenrolava, Shun, com suas próprias preocupações, havia se ajoelhado ao lado de um arfante Kairos, que mantinha os olhos fechados, mas ainda estava consciente.

- O que aconteceu? – Questionou Ikki sem entender. Ione estava alguns passos de distância, mais próxima de Io e dos marinas desacordados, observando tudo com cuidado.

- Ele está a ponto de esgotar sua energia – Informou o senhor dos mortos – Ele parou o tempo de dezenas de empregados da mansão, de dois marinas, somando isso ao fato de que senti sua energia lutando e...- Sua expressão se franziu, numa clara mostra de desgosto, vendo o buraco que havia no alto da coxa de seu servo, onde a armadura não protegia. Sangue recomeçava a escorrer do ferimento, devagar, mostrando que o controle sobre o tempo estava prestes a findar. -...Ele está gravemente ferido.

Shun fechou os olhos, concentrando sua energia na palma das mãos abertas. Passando assim, por meio da sobrepeliz, seu próprio cosmo para o espectro.

- Se ele tivesse se mantido ao seu lado, como deveria ter feito, nenhum de vocês dois teria se ferido – Taxou com irritação Benu, cruzando novamente os braços.

- Não é momento para isso Ikki – Respondeu ainda concentrando-se – Além do que, você não é exatamente a melhor pessoa para reclamar quando alguém não cumpre ordens.

O leonino apenas resmungou, enquanto Violate observava a dinâmica entre ambos, curiosa. Quando Kagaho havia se tornado tão informal? Foi claro para todos, posteriormente, que o Benu era leal ao humano Alone, e não ao próprio Hades, por isso não foi realmente uma surpresa quando ele não reencarnou para ajudar na seguinte guerra santa. Ainda assim, ele costumava manter-se respeitoso com o humano que ousou manipular as energias de Hades. Na verdade, era o único ao qual ele mostrava respeito.

-..Você – Kairos tornou a  falar, abrindo os olhos devagar, respiração, contudo, ainda arfante - ...Se preocupa...Demais.

Shun sorriu, deixando de enviar-lhe energia, encarando sua face cansada.

- Vocês são meus leais espectros, me preocupar pela segurança de vocês é o mínimo que eu posso fazer – Dito isso levantou-se. – Vamos terminar logo com a limpeza desse lugar, assim que voltar para casa, o rio Flegetonte cuidará de sua ferida. Por favor, aguente só mais um pouco até lá. Então te recompensarei por seu grande esforço.

- Bom...- Disse arfante, tornando a fechar os olhos – Você sabe bem o que eu quero.

- Não fez mais que sua obrigação – Resmungou irritado Benu afastando-se, para recolher as almas dos Telquines e do Haliano que bruxuleavam pelo jardim.

O senhor das trevas então se voltou a Ione, que se mantinha mais afastada, com um semblante entre culpado e preocupado. Io, agora agachado ao lado do copo de seus companheiros, apenas observou a interação, sem dizer nada.

- Você recobrou sua memórias. – Não era uma pergunta.

Ela o esquadrilhou de cima a baixo, sua atitude era diferente da instável de Alone, além de mais impessoal do que a de Hades, ainda assim, parecia familiar. Seu senhor sempre havia se preocupado com o bem estar de seus homens, isso nunca mudou, contudo, com o passar dos séculos, o imperador acabou se tornando mais distante, frigido, cruel e melancólico. 

O ser que estava à sua frente não lembrava o antigo corpo humano que seu senhor possuiu, parecia mais, na verdade, o deus que jurou sua lealdade e concedeu-lhe sua alma, tantos e tantos séculos atrás. O Hades antes do inicio das guerras santas.

Era estranho, conseguia lembrar-se melhor de sua primeira vida agora, suas razões por segui-lo, quando conheceu seu líder Aiacos. Antes cada uma dessas antigas vidas pareciam ser meras sombras distantes e borradas, sem forma ou força. 

- Sim – Respondeu simplesmente, em tom seco – Lembro-me de cada detalhe agora.

Com isso Shun suspirou, a culpa se intensificando em seu rosto.

- Na minha última vida, como Alone, acabei manipulando você para lutar contra Aiacos. Eu estava instável, entre tentar me libertar de Hades e ajudar minha irmãzinha Sasha, tudo isso distorceu minha alma de tal modo que eu acabei me perdendo dentro do meu próprio ser. – Encarou os olhos vermelhos escuros e afiados, sem pestanejar -  Não pense que estou me justificando, apenas gostaria que você entendesse o que me levou a agir assim. Seria compreensível se você não fosse capaz de me perdoar, e eu tampouco te obrigarei a servir ao meu lado – Isso surpreendeu a jovem, que franziu as sobrancelhas e abriu a boca ligeiramente – Você tem o direito de voltar para a vida que tem agora se quiser, sua alma voltará a pertencer apenas a si mesma, e esquecerá todas as reencarnações como espectro.

Violate apertou os punhos com força, apertando também os lábios numa cara de desagrado. Esquecer sua vida como serva do submundo? Esquecer de...Aiacos? Seu peito apertou, de tal modo que por um fugaz instante pensou que alguém tivesse acertado um golpe sorrateiro em seu coração.

Depois de tantos séculos, tantas vidas servindo-o, amando-o, poderia mesmo dar as costas para tudo?

-...Não preciso que me responda agora, tome seu próprio tempo, apenas peço que nos acompanhe por hora, você e seu pai, até o castelo de Heinsteim, lá estarão seguros contra novos ataques. E por favor, olhe por Kairos enquanto cuidamos de tudo. – Dito isso começou a caminhar em direção a Neroda e Havok, o primeiro agora se usava de seu tridente para passar um pouco de sua energia para Sorento, como ele mesmo havia feito por Yohma.

- Aiacos – Finalmente falou, encarando agora as costas de Shun, para logo resolver obedecer, sentando-se ao lado de um cansado Mefistófeles – Ele é um cavaleiro de prata. Eu o conheci, quando era mais jovem...

- Sim, estou ciente, Kairos me informou com antecedência. – Respondeu sem virar-se – Será difícil tê-lo de volta, confesso que seria mais fácil se houvesse algo mais, além de sua secular lealdade a Hades, para trazê-lo de volta ao submundo. Creio que vocês dois possuem assuntos pendentes já há algumas reencarnações.          

Tal comentário fez um pequeno rubor subir as bochechas da grega, sem mais Shun tornou a seu objetivo, passando ao lado de Io, este, no entanto, dirigiu-lhe a palavra. 

- Então, esse tempo todo, Neroda era nosso senhor Poseidon – Declarou o marina, apertando os punhos com força, depois de presenciar a despedida de Pytheas, e o retorno da aparência do jovem Havok. – Você nos ressuscitou, Poseidon voltou antes mesmo da quebra do selo. E aparentemente ambos estamos sendo atacados.

- Assim que seus amigos forem devidamente encaminhados para o hospital, eu explicarei tudo com calma. – Inevitavelmente, o chileno lançou um olhar de pesar sobre Bian, Krishna, Isaak e Kasa, depois voltando sua vista para o Dragão Marinho, que apertava a mão de Sorento com força, enquanto Poseidon, de pé, com seu tridente em mãos, concentrava seu cosmo na ponta de sua arma.

Virou-se para a mansão. O belo prédio estava marcado por garras, várias janelas quebradas, parte da pintura do segundo e terceiro andar estavam queimados, os corredores cobertos de arranhados e sangue escorria por várias paredes, haviam cortes animalescos marcando os corpos dos empregados da mansão, um desses, de uma moça que havia sido recém-contratada, já não passava de um cadáver. Estava fazendo um enorme esforço para se acalmar, mas não parecia estar adiantando. 

- Eu não senti o coração de Krishna batendo quando...O trouxe para cá – Conseguiu dizer, tentando impedir-se de começar a tremer, tamanho o estresse que tomava seu ser nesse momento. Sempre foi um homem explosivo, de agir primeiro, perguntar depois, nunca ligou para detalhes menores e sempre deixou os assuntos mais complicados para Bian e Sorento. Porém ali estava agora, apenas ele e um menino de apenas dez anos eram os únicos ainda conscientes e num estado razoável, enquanto seus demais companheiros de anos, estavam cada um em um estado mais lastimável que o outro. – Isaak também não se mexe.

Como puderam ser derrotados de forma tão esmagadora? Por criaturas que sequer usavam armaduras e não possuíam exorbitantes quantidades de cosmo, apenas sua anormal resistência.

- Eles estão vivos, apenas paramos o tempo deles, por enquanto – Shun resolveu responder, voltando-se para o marina, Io o encarou sem entender – Eu sei que deve estar sendo um choque para você, mas precisa se acalmar.

- É fácil para você dizer isso – Alfinetou com tom agressivo, chamando a atenção de Ikki que mandava a última alma no jardim por um portal negro que abriu em pleno ar. – Não foi você que descobriu que seu senhor, que sempre cuidou e protegeu, simplesmente é um corpo vazio controlado por um antigo inimigo que agora é o próprio deus da morte!

Neroda, que havia terminado de passar parte de sua energia para Sorento, respirava mais descompassado, mantendo-se de pé com a ajuda de seu tridente, porém a voz que começava a se elevar cada vez mais chamou sua atenção, voltando sua vista para ela. Havok fez o mesmo, após verificar, com alívio, que seu pai parecia menos pálido e sua expressão menos dolorida.

-...Enquanto isso, seu deus agora é um adolescente que você só via como um jovem comum que impressionava-se fácil demais!

Ione, despertada de seus próprios pensamentos e divagações sobre lealdade, a igual que Kairos, que tornou a abrir os olhos, também se voltaram para a confissão frustrada do guerreiro dos mares.

- ...Todos os seus companheiros foram simplesmente derrotados como se não fossem nada! Restando apenas você e seu suposto líder que não passa de um podre menino de dez anos!  

Poseidon franziu a expressão, assumindo uma postura mais séria, seus olhos começando a brilhar em amarelo vivo. Enquanto Havok apertava os punhos, envergonhado.

Abaixou sua cabeça, batendo a testa contra o solo, lágrimas escorrendo de seus olhos, enquanto arava a terra com seus dedos.

- ...E você não poder fazer nada para impedir, enquanto todos os seus amigos quase morreram. – Seu corpo começou a tremer. – Eu nunca vou me perdoar se algum deles morrer assim, sabendo que eu não fui capaz de fazer nada para impedir. Eu não sei se posso viver carregando essa vergonha, essa culpa. 

- Esse é o problema da maioria dos mortais. – Declarou Shun em tom neutro, a igual que sua expressão – Não importa se você se perdoar ou não, se você se culpar ou não, “Eu podia ter sido alguém melhor”, “Eu deveria ter dito que a amava”, “Se eu ao menos estivesse lá”, “queria estar em seu lugar”. Nada disso importa, a morte sempre virá no final da linha. Os humanos só vivem intensamente por não saberem onde está o fim do tear.- Agachou-se - Não perca tempo pensando no que poderia ter sido. Escutamos esse tipo de lamentações o tempo todo no submundo. Dessa vez, ganhamos a batalha e todos continuam com vida, ao contrário da guerra santa vinte anos atrás, e você diz que não sabe se pode viver com essa vergonha?– Tomou o queixo do chileno, forçando-o a erguer a cabeça, encarando assim seus olhos surpresos - Agradeça sua vida e faça-se mais forte. Vocês, Marinas e os cavaleiros de Athena sempre lutam dispostos a morrer, “morrer lutando é a glória do guerreiro”, sacrificando suas vidas sem pensar duas vezes, eu sei, também costumava ser assim.

Soltou o queixo do outro, levantando-se.

- Mas tenha em mente Io, que morrer é fácil, todos vão conseguir um dia. Agora viver, viver sim é difícil. Aprender o valor da vida, buscar a sobrevivência ao invés da morte do herói – Deu-lhe as costas – Agarrar-se a vida ao invés da morte. Se vocês forem capazes disso, serão imunes ao miasma. Foi por isso que eu lhes dei a oportunidade de uma vida plena e em paz, por vinte longos anos, para aprender o valor de estar vivo, caso contrário, serão apenas massacrados nessa guerra. Por favor, não diga que meu esforço e o de Poseidon foram em vão.

Seu olhar se encontrou com o de Neroda, seus olhos que instantes antes se preenchiam aos poucos com raiva, pela forma que um de seus servos era tratado, e pelas palavras desse mesmo servo, agora eram preenchidos com compreensão, enquanto uma fina chuva começava a cair por toda a propriedade dos Solos, em resposta as emoções alvoratadas do imperador dos mares.

- Como você está? Por um momento eu pensei que você ia me atravessar com esse tridente – Confessou Shun finalmente aproximando-se de Neroda, antes de cruzar olhares com Ikki, que compreendendo a mensagem logo voo para dentro da mansão, recolher as demais almas.

- Estou com sono, e mentiria se dissesse que não pensei nisso – Confessou o adolescente, cujos olhos começavam a pestanejar depois da invocação da chuva - ...Mas Sorento sempre me disse que... Deveria contar até cem antes de...Descontar minha raiva em alguém. Eu ainda estava...Em...Quarenta e Quatro. – E desmaiou, sendo rapidamente amparado por seu irmão antes de Havok ser sequer capaz de piscar.

- Ainda bem que Sorento não te disse para contar apenas até dez então -  Comentou com um deixe de carinho, afastando os cabelos suados da testa do menino, e deitando-o ao lado do músico.

- Ele está bem? – Questionou preocupado o jovem marina.

-Apenas muito cansado, ele quis ter a certeza que a energia vital de Sorento não se findaria, e no final das contas, suas emoções ainda são as de um adolescente – Levantou o rosto, deixando as gotas do céu lavarem sua face.- Seu verdadeiro poder ainda está selado, essa chuva acabou drenando tudo que lhe restava.  Porém, ele vai ficar bem, todos vão. Não se preocupe.

-...Ainda bem... – Declarou, lágrimas também correndo pelos olhos do Dragão – Ainda bem...Eu...Eu tive tanto medo de perdê-los!

E colocou-se a chorar, desconsoladamente, diferente das lágrimas frustradas de Scylla, muito mais infantil. Afinal, fosse quem fosse, ainda era uma criança. Shun o observava com uma expressão muito mais amena do que a de instantes antes, porém antes que pudesse fazer qualquer coisa, surpreendeu-se ao ver Io se aproximando, agachando-se ao lado do menino e o abraçando, lançando um último olhar ao imperador dos mortos. Um olhar decidido.

- Me desculpe pelo que eu disse – Declarou, para ambos, enquanto amparava o menor.

- Tudo bem, todos nós explodimos de vez em quando. 

- Alguns com mais intensidade do que outros, eu diria.Tinha certeza que cedo ou tarde Poseidon ia acabar se deixando levar pelas emoções. E pelo jeito, eu não me enganei, porém acabou levando bem mais tempo do que eu calculei. Isso significa que reencarnar como um completo humano finalmente o fez entender algo que, embora nem todos os humanos o tenham, os que sim possuem o dominam com muito mais graça e maestria que qualquer deus. O autocontrole.

Havok parou de chorar ao ouvir a voz familiar vindo, no entanto, da entrada da mansão, arregalou os olhos sem entender ao focalizar uma figura envolta numa capa de chuva. Reconheceria aquele cabelo lilás em qualquer lugar.

- Pai?! M-mas...M-mas – Voltou-se ao corpo que estava deitado ao seu lado, Io também estava surpreso.  Eram idênticos! Ou quase. Vendo-o melhor, o sósia parecia ser mais novo, sem qualquer marca de expressão, seus cabelos eram curtos, chegando apenas até seus ombros. Não parecia ter mais que vinte anos, enquanto seu pai já possuía quase quarenta.                      

- Eu agradeço por ter vindo– Cumprimentou Shun com cortesia. Não parecendo nem um pouco impressionado com a replica. 

O músico caminhou até o imperador, a chuva parecendo ter um efeito peculiar sobre ele. Suas mãos, tomadas pela água, aos poucos pareciam derreter, porém ao invés de se consumirem, davam lugar a uma mão menos delicada, de dedos mais grossos e gastos, deixando um rastro de lama pingando por onde passava.

- Você tem um general muito eficiente Shun, nos manteve informado de tudo o que estava acontecendo, e ao menor sinal de perigo, pediu que agíssemos. – Parou ao lado do imperador, encarando-o com seus olhos róseos, para então esquadrilhar todo o lugar. – Parece que Hécate tinha razão, Chronos decidiu mesmo agir antes do combinado. A maioria dos deuses são mesmo incapazes de manter suas palavras, ao que parece.

- Eu fico feliz que Daidalos tenha pedido ajuda a vocês – Confessou o senhor dos mortos com um sorriso vencido – Sendo sincero, não tenho certeza se possuo energia suficiente para forjar os corpos destruídos sozinho. Suas habilidades serão muito úteis, se não se importar.

- Temos objetivos em comum Shun, por isso respondi tão prontamente ao chamado de ajuda. Tenho tanto interesse nessa nova era quanto você – Impôs em tom sério.

- Desculpe – Intrometeu-se Havok, ainda sendo amparado pelos braços do chileno, tão confuso quanto ele, vendo o Marina de Sirene falar de forma tão familiarizada e misterioso com o novo imperador das trevas – Quem é o senhor? Por que tem a aparência do meu pai?!

- Então você é o filho dele, me perdoe, não possuo a mesma habilidade que seu companheiro Kasa, eu apenas forjo uma imagem – Esticou a palma da mão, protegendo-a da chuva com a outra – Usando barro - Uma substância marrom acabou se formando através do cosmo – Como um molde, um disfarce, um corpo falso, nada mais, diferente de meu irmão Epimeteu que é capaz de forjar a verdadeira vida a partir do barro – Na sua palma, a figura de Shun tomou forma, exatamente igual ao original, até mesmo em suas cores, mas seu olhar era morto e sem vida – Para o restante, eu apenas me devo de minha atuação. 

- E eu devo dizer que ele é um excelente ator. – Interveio Shun – Capaz de persuadir qualquer um que realmente desejar. Conseguindo enganar Zeus duas vezes.

- Ele não era tão inteligente quanto diziam, apenas isso – Alegou com humildade – Sempre se deixando guiar pelas aparências, por uma camada falsa sobre uma carcaça de ossos. Contudo, Havok, creio que esse é seu nome, correto? –Voltou-se outra vez para o menino, que apenas confirmou com a cabeça – Usei a aparência de seu pai para enganar um velho conhecido de vocês, um humano peculiar que atende pelo nome de Kanon. Ele estava rondando essa propriedade enquanto vocês lutavam.

- Aquele traidor estava aqui?! – Exaltou-se Io, levantando-se.

- Estava. E devo admitir que foi um grande prazer enganar aquele que enganou Poseidon – Admitiu com um ardiloso sorriso,  que não combinava nada com os traços leves do rosto de Sorento  - Parece que eu não perdi a prática depois de tudo. – Voltou-se novamente para Shun – De qualquer forma, eu o despistei, enviando-o de volta ao santuário, enquanto isso criei alguns corpos falsos para se passarem por policiais e médicos. Os verdadeiros foram colocados para dormir por Morpheu. Enquanto o insalubre do Hermes está impedindo a impressa de bisbilhotar demais. Tudo que você precisa fazer agora é alterar a memória dessas pessoas através de suas ilusões para que ajudem os pobres humanos que se viram no fogo cruzado dessa guerra. – Voltou-se para a mansão – Além de uma boa ilusão nesse lugar, que parece ter sido atacado pelo próprio leão de Neméia.

- Muito obrigado, sua ajuda será valiosamente recompensada  - Declarou Shun com polidez -  Prometeu.

  - Prometeu?! – Repetiu Io, em choque – O Titã que roubou o fogo dos deuses?!

O mencionado virou-se para o humano, com um sorriso lateral, quase melancólico.

- Sabe, eu sempre achei estranho que os humanos lembrassem-se de mim por meu furto, e não por todo o conhecimento e desenvolvimento que conseguiram através do fogo eterno.

-.-.-

A noite caia devagar pelo santuário, Kiki de Áries conduzia a diplomata de Poseidon por entre a casa de leão, a caminho do décimo terceiro templo.

- Quem poderia imaginar que aquele menininho ruivo iria se tornar um homem tão imponente – Declarou a jovem, observando o mais novo com curioso interesse – Um nobre e honrado cavaleiro de Athena. Já não é mais um nanico insignificante.*

- Eu ainda era muito jovem e inexperiente, mas que bem me lembre, eu cheguei a te dar alguma dor de cabeça – Provocou o ariano, com um deixo de graça. – Apesar do meu tamanho.

- Hmmm Que estranho, eu não me lembro assim – Seguiu o jogo, enquanto se encaminhavam para as escadarias de Virgem.- Pelo que me consta, você só sobreviveu pela ajuda daquela amazona, Shina. A menos que você considere me chamar de “metade peixe, metade humana, polva, marisco, peixe espada”* como dor de cabeça.

- Eu disse tal coisa? – Fingiu educada surpresa – Senhorita, ouso dizer que talvez nossas memórias já não são mais as mesmas.

Ela riu, suavemente.

- Claro, deve ser isso. Vinte anos são vinte anos afinal de contas, mas seu senso de humor parece intacto ao menos – Declarou com seu melhor sorriso, já divisando a casa de Virgem.- Porém, pode me chamar de senhora, apesar da minha jovem aparência, já sou casada e mãe.

Kiki pareceu hesitar por um momento, mas Thetis não foi capaz de notar, seguindo a falar.

- Meu filho tem quase a idade que você tinha, durante aquela Guerra Santa – O olhar da jovem tornou-se melancólica, encarando o piso de mármore.  - Ouso dizer que ele puxou mais a mim do que seu pai.

- Ele também é metade peixe? – Tentou amenizar o clima o ariano, embora seu coração seguisse disparado desde o momento que a metamorfa revelou ter descendência.

“Daqui vinte anos e provavelmente dois meses, escute o apelo de uma mãe, e decida de que lado tu ficarás.”

As palavras de Moros inevitavelmente dançaram em sua cabeça, como se tivessem sido invocadas, porém desde aquele dia haviam se passado apenas vinte anos e um mês, e não dois, como o primordial havia mencionado.

- Na verdade ele é sim  - Impôs a antropomórfica, com orgulho – Um lindo e raro peixe, um dragão marinho, em todos os sentidos.  – Mas logo seu sorriso tornou a se perder - Durante nossa batalha, eu não hesitei em te matar, mesmo você sendo uma criança.

- É o que as guerras fazem – Declarou Kiki, agora assumindo uma postura séria. – Mas agora está no passado.

-Você ainda tem um nobre coração, pelo que vejo. Eu sei que está no passado...Mas olho para ele agora, e tenho medo. Ele é forte, corajoso, leal, mas é só um menino, meu coração sofre só de imaginá-lo num campo de batalha.

- Você fala como estivéssemos próximos de uma guerra iminente – Colocou perspicaz.

- E estamos Kiki de Appendix, não, Kiki de Áries – Seus olhares se cruzaram, parando nas escadarias para Libra, havia medo, preocupação e mesmo um deixe de desespero nos brilhantes olhos daquela mulher. – Dessa vez não apenas entre nossos deuses, é algo maior, bem maior, que pode até mesmo acabar envolvendo o Olimpo, ainda mais.

-.-.-

O castelo de Heinsteim era maior do que tudo que havia visto antes em sua vida. Encontrava-se no topo de uma colina, cercado por uma densa floresta afastado de tudo. Quando finalmente chegaram ao lugar a noite já havia caído. Um senhor de idade, que também foi o motorista que os conduziu até o local, que se apresentou como Thaddeus Crane, apresentou-se também como mordomo e os conduziu aos seus aposentos, enquanto Chris Champrouge, que havia os buscado no aeroporto, se ausentou.

Mileta estava cansada da viagem, e embora estivesse absolutamente impressionada com o enorme castelo e o grande quarto de teto de madeira, repleto de afrescos pela parede, além da cama de dossel, não demorou muito para pegar no sono, completamente vestida, o que aliviou Lucius bastante, pelo seu estado físico e gravidez de risco, era essencial que ela descansasse.

Abandonando o quarto com sua esposa, após retirar-lhe os sapatos para que pudesse descansar melhor, se dispôs a caminhar pelos corredores longos e repleto de quadros que retratavam diversos mitos gregos. Haviam duas coisas que o incomodavam terrivelmente nesse lugar, contudo. A primeiro era que o local mostrava-se estranhamente vazio. Quando chegaram, eles e Fausto receberam seus aposentos, o médico logo se retirou, esboçando um simples boa noite, que pôde entender com perfeição graças a esse colar que possuía uma tecnologia que jamais havia visto ou pensado ser possível.

Além deles, porém, parecia haver outros convidados que já haviam chego, viu por uma das janelas um rapaz moreno e de cabelos brancos espetados sentado no galho de uma árvore nas propriedades, pelas roupas não parecia ser um empregado. Outro, também nos terrenos, de cabelos roxos e longos, parecia desenhar algumas borboletas num caderno sobre seu colo. Por último, um sujeito que parecia estar apreciando uma replica do quadro "A Ilha dos Mortos", de Arnold Böcklin. Era uma bela pintura, de fato, muito comum nos lares alemãs na década de vinte.

E no entanto, todos pareciam ser apenas convidados, por mais que andou pelas torres, pelas propriedades, pelos exuberantes jardins e mesmo no estranho e singular cemitério posicionado nos fundos do castelo, não pareciam haver empregados em lugar nenhum, além do mordomo e de Chris.

A segunda coisa que o perturbava, era que todo aquele lugar soava estranhamente familiar, por mais que tivesse certeza que nunca antes havia estado ali.

- Sem sono? – Não se sobressaltou, havia escutado os passos lentos de antemão do senhor Crane.

- Apenas apreciando a arquitetura – Respondeu, vendo melhor o idoso, meio corcunda, que o observava misteriosamente, como se detivesse todos os conhecimentos do mundo.

- E gostou do que viu?

- Os Solo possuem um gosto refinado, eu diria.

- Senhor Astrapí  é um homem bastante simples, no entanto. Não modificou em nada essa mansão desde que sua família a adquiriu, contudo, tampouco exigiu que nada fosse acrescentado, com a única exceção de um quadro.

- Imagino que um homem que já tenha tudo não pode deseja nada mais.

- Talvez tenha razão.- Como o senhor seguia pacientemente em seu lugar, Lucius resolveu questioná-lo sobre a estranha ausência de funcionários.

- Ao que parece, seu senhor também não gosta de ter muitos...Empregados.

Thaddeus se manteve firme, imponente, sequer pestanejando ao responder.

- Meu senhor é muito generoso, mas pode ser bastante criterioso em relação àqueles que o servem.

- E quais seriam esses critérios? – Questionou curioso.

- O senhor já não trabalha para ele?- Rebateu educado.

- Sinceramente, nunca o vi, sempre tratei de negócios com seu assessor, Sorento.

- Tudo que meu senhor exige antes de contratar alguém é uma resposta digna para uma pergunta simples.

- E qual seria essa pergunta?

- O que você faria se soubesse que amanhã é o último dia de sua vida – Respondeu categoricamente.

Lucius fez silêncio por alguns segundos, estranhando o questionamento, mas logo decidiu agregar.

- E o que o senhor respondeu, quando foi sua vez? – Perguntou, curioso. - Se não se importar em me dizer, é claro.

O senhor se limitou a sorrir.

- Viver meu último dia normalmente. – Fez um suave cumprimento com a cabeça – Tenha uma boa noite, senhor Minos.

- Boa noite.

 E o norueguês apenas o viu sair, sem sequer notar que o misterioso homem havia lhe chamado pelo nome errado. Ou talvez, pelo mais correto.

-.-.-

- Eu não acredito que você vai mesmo se encontrar com aquela puta!

Várias pessoas que andavam pelo aeroporto movimentado pararam, em resposta àquele grito repentino e tão vulgar.

- Victor, por favor, não grite, estamos em local público – Declarou Peter com um deixe de irritação.

- Eu não me importo! Aquela mulher é grosseira, não tem ideia de quantas ofensas contra você ela disse quando notou que haviam trocado celulares, e você mesmo acabou de admitir que ela chutou a sua cara!

- É uma mulher de temperamento difícil, eu confesso, mas nada justifica você tratar uma dama por essas palavras – Impôs, cada vez mais impaciente.

- Nada justifica? Ela ofende sua honra, chuta seu rosto, leva seu celular, exige que você a encontre para devolvê-lo, sendo que o erro também foi dela, e você vem me dizer que não justifica? Ela é claramente uma mimada que sempre teve o quis, uma verdadeira vadi-

- É SUFICIENTE!  - Berrou o inglês, fazendo o menor tremer, e agora todas as pessoas ao redor pararem o que faziam para ver a cena – Uma única palavra mais sobre ela e eu- Mas deteve suas palavras, engolindo em seco. Passou a mão pela touca que levava sobre a cabeça, tentando acalmar-se – Desculpa, eu não sei o que deu em mim...Aquela mulher, é sem dúvidas a mais estúpida e arrogante que eu conheci em minha vida. Porém, eu preciso do meu celular de volta, há várias anotações do meu trabalho lá dentro.

Victor não respondeu de imediato, ainda impactado com o grito do irmão.

- Eu nunca mais verei essa mulher na minha vida depois disso, então você não tem com que se preocupar ou estressar – Insistiu -  Por favor, compre nossas passagens para a Alemanha, um voo saindo logo de manhã, e faça uma reserva num hotel das redondezas, eu só vou lá entregar o aparelho e volto logo.

- Tudo bem, boa sorte-  Declarou simplesmente, e seguiu encarando as costas do mais velho enquanto ele se afastava devagar - ...Eu não sei porque, mas eu estou com um péssimo pressentimento quanto a isso.  –Mas logo balançou a cabeça e se mexeu para cumprir com o pedido de seu irmão.

-.-.-.-

Afrodite recolhia os vasos sobre o balcão para fechar sua floricultura, quando uma velha senhora parou à sua frente. Imediatamente a reconheceu.

- Senhora Kyría! Há muito tempo que não a via – Deu a volta, ficando de frente para a mulher de pouco mais de noventa anos, com o rosto coberto de rugas, mas sorridente.

- Afrodite, meu rapaz – A senhora o abraçou, com carinho, gesto prontamente retribuído pelo mais alto. – Parece que foi ontem que você e sua esposa se mudaram para cá, e agora soube que terão gêmeos!

- Parece que as notícias correm pela Grécia – Comentou com um sorriso, indo buscar um banco dentro de sua loja e colocando frente a mesma, para que ela se sentisse confortável enquanto conversavam – Como está sua vida em Atenas?

- Aaah, corrida, sinto tanta falta da calma e tranquilidade aqui de Rodorio...Isso claro, quando não havia aqueles estranhos terremotos perto da área do santuário. – Declarou a senhora, sentando-se.

-...Claro, os terremotos eram...Incômodos – Respondeu simplesmente, sem entrar em detalhes – Mas o que trás uma bela dama como a senhora de volta para essa pacata vila?

Kyría riu, exibindo alguns dentes faltantes.

- Você sabe agradar uma mulher, meu querido! Sua esposa tem tanta sorte! E eu vim visitar minha neta, eu já estou no final de minha vida, sabe, então resolvi passar um tempo com ela.

- Exagero seu senhora Kyría, tenho certeza que ainda viverá muitos anos – Respondeu com cortesia – Mas tenho certeza que Engoní ficará muito feliz com a visita.

- E seu irmão? Ele está feliz com a chegada dos sobrinhos? – Tornou a questionar a senhora.

Afrodite sorriu mais amplamente, a primeira vez que a mulher havia visto ele e Máscara da Morte juntos, havia deduzido que eram irmãos, e por mais que tentasse explicar que esse não era o caso, a teimosa velinha simplesmente insistia, chegando ao ponto que ambos acabaram cedendo a fraternidade imposta.

- Eu diria que sim, ele sempre vem me visitar, mesmo sendo bastante incomodo e barulhento.

A grega apenas tornou a rir.

- Mas essa é basicamente a função dos irmãos.

Conversaram mais alguns minutos sobre trivialidades da vida, até que a jovem Engoní retornou e ambas foram para sua casa.

Era impressionante como havia se acostumado com essa vida simples, pensava o ex cavaleiro de peixes enquanto entrava pelo corredor de sua morada, já era noite e sua esposa já estava dormindo. Buscou um vinho na geladeira e sentou-se calmamente com uma taça no sofá, observando distraidamente as fotos da mesa de centro, entre elas a de um pequeno Albafica segurando um buque de rosas.

Às vezes, era como se sua existência como guerreiro fosse uma lembrança distante e sua vida se resumia a Albafica, as idiotices de Máscara, sua esposa e a loja. Nem recordava quando foi a última vez que viu Athena, mesmo sendo o antigo cavaleiro da décima segunda casa, a mais próxima dos aposentos da deusa. Fazia meses, quase um ano, que não treinava de verdade, desde que o Elo Carmesim com seu filho acabou e o mesmo conseguiu superá-lo em combate.

Sorveu o liquido devagar, lembrando-se de momentos aleatórios da infância de seu filho, uma sensação agradável em seu peito ao pensar que em breve sentiria tudo isso de novo, a verdade é que sentia falta de quando seu menino era isso, apenas um menino.

Mas logo seus pensamentos mudaram de rumo. Camus, e o encontro que tiveram embaixo da velha oliveira. Foi surpreendente para todos quando Camus, Milo e Kiki voltaram da Sibéria com Soleil ainda bebê, dezenove anos atrás, recém salvo do acidente aéreo que matou seus pais. O aquariano nunca deu muitas voltas ao assunto, mais surpreendente ainda foi sua declaração que se mudaria para Rodorio, e criaria o menino como seu filho, um simples civil.

E no entanto, nos primeiros meses, teve a clara impressão que Camus não cuidava do menino por amor, soava quase como se fosse obrigação. Provavelmente, não tinha sido capaz de salvar os pais do garoto e se sentia responsável por isso, apesar de ser um homem aparentemente insensível, sabia muito bem que o francês podia ser bastante super-protetor. Nunca souberam ao certo, mas com o passar dos anos, essa impressão foi desaparecendo, todos se conformando apenas que Aquário era um pai severo e nada mais.

Porém Máscara sempre insistiu que havia algo errado com o menino, e não era em relação à sua mania incessante de criar listas sobre tudo, parecia algo mais profundo. Não era como se o jovem norueguês não fosse capaz de despertar seu cosmo, era como se este simplesmente não existisse. O que é impossível, afinal, todo o ser vivo possui cosmo.

Era um mistério para o qual nunca tinham encontrado solução.

Estava bebendo as últimas gotas de sua bebida, quando um brilho negro chamou sua atenção.

“...Boa noite Afrodite...”

SATAN! – Exclamou em sueco, assustando-se, levantando-se e deixando a taça cair no chão, partindo-se.

Logo à sua frente, a imagem de seu filho havia sido substituída por uma superfície negra espelhada, na qual era possível ver o rosto de Daidalos o encarando.

“...Desculpe, eu te assustei?” – Questionou em tom ecoado e distante o general, sem graça.

- É lógico! – Exclamou ofendido –Ou acha que é normal simplesmente aparecer assim na casa dos outros?

“...Na verdade, para mim é normal fazer isso...” – Confessou.

- Bem, para mim não é nem um pouco normal que de repente um homem comece a falar comigo pelo quadro do meu filho, ainda mais o homem que eu ajudei a matar anos atrás –Declarou em tom zangado, tornando a se sentar e vendo com pesar sua taça quebrada.

“...Entendo...Deve ser mesmo estranho para você...” – Disse simplesmente – “...Como você não vem ao submundo desde sua última ajuda, esse foi o único meio que encontrei para falar contigo...”

- Se não vou é porque não tenho mais assuntos a tratar com o submundo – Desconversou.

“...Ainda assim, concedeu abrigo ao Ikki, quando o descobriram vasculhando os arredores...”

- Foi Máscara que o trouxe, causaria um alvoroço no santuário se não tivesse feito isso – Defendeu-se – Ainda assim, foi um caso isolado. Eu não pretendo ajudar mais o submundo e correr o risco de ser novamente taxado de traidor. Todos vimos o que Aioria teve que passar e eu não quero o mesmo para meus filhos.

“...Sim, Máscara nos avisou de antemão. Eu entendo e verdadeiramente respeito sua decisão. Por isso, não vim aqui pedir ajuda, na verdade, vim apenas informar...” – Colocou com cortesia.

- Informar...? – Repetiu sem entender.

“...Sim, a mansão dos Solo foi atacada pela manhã, como pode imaginar. Obra dos Telquines, seres meio peixe, meio cão, e dos Halianos, os primeiros filhos de Poseidon. Ambos possuíam sentimentos de vingança contra Poseidon. A ameaça foi neutralizada e enviada de volta ao Tártaro, Ikki voltou ao submundo junto com outros dois espectros, enquanto Shun se manteve na terra, mesmo após ocultar todo vestígio suspeito na mansão, que poderia gerar pânico, agora ele está no hospital com os feridos, entre eles cinco dos sete Marinas...”

-...Aparentemente foi uma batalha feia então – Analisou, colocando a mão em seu queixo, pensativo – Mas eu ainda não entendi porque está me contando isso.

“...Claramente Chronos está usando almas podres que desejam vingança contra os deuses, Mais especificamente, Athena, Hades e Poseidon...” – Explicou, sério “...Há dezenas que desejam vingança contra Athena, centenas que fariam de tudo para vingar-se de Poseidon e duas que caçariam Hades...”

- Impressionante – Colocou com sarcasmo – Hades então era mais popular do que eu pensava.

“...As almas podres, naturalmente, temem o senhor dos mortos que tem a chave de sua prisão, mas apenas dois não temem os castigos que o submundo pode oferecer...”

- Ainda assim, acredito que todas as almas gostariam de se vingar de seu carrasco se tivessem a oportunidade, então mesmo se o ódio deles for contra Athena ou Poseidon, provavelmente não se importariam de expandi-lo para Shun. Ou seja, todos são um potencial problema para vocês.

“...Precisamente, no entanto, dois dos nossos estão monitorando as almas há algum tempo, recentemente recebi o relatório deles, e posso afirmar com grande certeza que o próximo alvo será Athena, o Santuário...E a vila de Rodorio...”

Afrodite engoliu em seco, inclinando o corpo para frente, seu coração saltando uma batida.

- E vocês sabem..Quem atacará e quando?

“... Sobre quando, vamos aguardar um dos nossos, ferido na batalha da mansão, despertar, para determinar com precisão. Ele é muito bom para precisar o tempo oportuno para um novo ataque. Sobre quem são, sim, sabemos, por isso meu contato. Você, Máscara e Shaka precisam ficar atentos, caso contrário poderá haver algo pior que uma chacina..." -Sua expressão era tensa, preocupada - "...As Gorgonas estão de volta, e dessa vez, um deus está sobre o comando delas...”

-.-.-

- Então, aqueles peixes foram todos derrotados, em pensar que eram semideuses. Patéticos, realmente patéticos.

O homem levantou-se, cabelos lilás encaracolados, um corpo atlético e pele bronzeada. Usava uma toga grega branca de dois ombros, ao longos dos braços usava braceletes de ouro em formato de cobra, que subiam em espiral quase até seus cotovelos.

- Mas é natural, imagino, um semideus jamais substituirá um verdadeiro deus. -  E sorriu, um sorriso perturbador. Voltou-se para um senhor de idade que usava um capuz que escondia seu rosto, logo atrás de si, cujos longos cabelos e barba branca ainda eram visíveis por entre o tecido– E então Chronos, o que me diz? Já posso começar minha reunião de família?

- Não seja impaciente filho de Atenas, o tempo é uma dádiva para aqueles que sabem esperar o momento certo.- Sorriu o deus, ambos olhando no horizonte, de um rochedo distante, as terras do santuário.

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Notas Finais


E finalmente chegamos ao fim de um grande arco da história! Espero que vocês tenham gostado, deu realmente bastante trabalho.

Será que Hermes sabe mesmo pilotar um helicóptero? O que será agora dos Marinas após essa vitória? Como reagirão sobre a revelação da identidade de Neroda? Com o que será que Shun recompensará Kairos? O que acharam da tão esperada aparição de Prometeu? Que nova era é essa que ele e Shun desejam? Por que o castelo Heimsteim está tão vazio? O que levou Camus a cuidar de Soleil, e por último, quem será esse novo deus inimigo?

*Navalhas de Oceano - Golpe criado por mim, Oceano era o primogênito dos Titãs, primeiro filho de Urano e Gaia, e primeiro deus das águas.
*Anéis de netuno - Golpe criado por mim. Referência literal aos anéis do planeta Netuno, lembrando que este era o nome romano de Poseidon.
* Nanico insignificante foi como Thetis ofendeu Kiki quando se conheceram, no versão brasileira do anime.
*“metade peixe, metade humana, polva, marisco, peixe espada” foi como Kiki ofendeu Thetis quando se conheceram, no versão brasileira do anime. Nenhum dos dois estava sendo muito maduros...

CAÇADORES DE PISTAS

As vezes os títulos dos capítulos podem trazer mensagens interessantes. Um bom exemplo disso é o Capítulo XIV "Da morte. Do anjo" que finaliza a primeira temporada.Se notarem bem, esse título pode ser lido de duas formas.

Da morte, Do anjo, dá a ideia que falará sobre a morte de um anjo. Cap que finalmente Shun vem a falecer devido à repercussão negativa do poder da espada e das ações de Marin.

Porém, se vocês inverterem os títulos fica.

Do anjo, Da morte. Que faz referência sobre o nascimento de Shun como o senhor dos mortos, um anjo da morte.

Que outros títulos podem ter mensagens escondidas? Eu diria que o VIII também é suspeito.


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