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História Guerra e Paz - Capítulo LXXXVI Natureza maligna -


Escrita por: KimonohiTsuki e JonhJason

Notas do Autor


Voltamos do hiato!!! Uhuuul!

E começamos com uma boa notícia, eu dei um geral no que falta para acontecer na estória e decidi que G&P não acabará mais no 88, ao invés disso iremos até o 108 o/

Em segundo lugar, eu preciso avisá-los que mudarei o dia de postagem, isso porque comecei a trabalhar de domingo também (Até por isso o capítulo foi postado sem formatação nenhuma!!) passamos a partir do 87 para postagens às segundas para terça feiras, ainda a cada quinze dias. Ou seja, o cap pode tanto sair na segunda em horário normal, quanto na madrugada de segunda para terça, para n acabar emendando com meu outro trabalho.

Por último e não menos importante, como acabamos de sair de um looongo hiato, esse capítulo funciona, mais do que nada, como uma enooorme revisão dos últimos e principais acontecimentos. Além disso, será uma ótima ajuda aos perdidos!

É isso, espero que desfrutem!!

Capítulo 87 - Capítulo LXXXVI Natureza maligna -


Fanfic / Fanfiction Guerra e Paz - Capítulo LXXXVI Natureza maligna -

Capítulo LXXXVI – Natureza maligna -

 

 – Eu não posso voltar atrás. Já é tarde demais para mim, Shura, eu sinto muito. – Declarou com um claro deixe de melancolia – A deusa, esse santuário, nada disso me importa mais. Por isso eu te garanto que não tenho dúvidas em minha mente quando digo que executaria Athena sem hesitar, se em troca eu pudesse recuperar tudo aquilo que eu já perdi.

Capricórnio apenas se manteve encarando o outro, sem realmente acreditar no que dizia.

- Isso significa que temos um problema grave aqui – Uma terceira voz se uniu completamente séria, muito diferente do seu tom casual, parado no umbral que separava as duas alas hospitalares.

Na primeira, Muh e Jabu haviam parado tudo que estavam fazendo quando a discussão claramente audível começou a acalorar, estavam ponderando se interferir ou não, quando Aquário deu suas últimas respostas, deixando ambos estáticos e de boca aberta enquanto Rivera olhava de um para o outro sem entender, ainda mais quando outra pessoa entrou e ouviu tal confissão, parada agora na passagem que dividia as duas enfermarias.

-Isso te torna, expressamente, um traidor entre nós, Camus. – Findou Dohko em tom grave.

Camus piscou surpreso, havia exposto parte das frustrações que consumiam sua alma sem que pudesse se controlar ou evitar, realmente sentia que não havia nada mais a ser perdido depois do fim trágico de Milo, e da lavagem cerebral que Chronos deveria ter feito em Hyoga, ou pior, mas ao encarar o olhar sério e tão familiar de Dohko, um medo ressurgiu em seu ser.

Ficando frente a frente ao homem que havia sido um pai, tanto para o Grande Mestre quanto para sua esposa, não pôde evitar pensar em seu próprio filho. Soleil.

Soleil ainda poderia e iria sofrer por suas ações, da mesma forma que Aioria sofreu pela suposta traição de Aiolos. Engoliu em seco,baixando a cabeça, seu filho adotivo sem dúvidas já havia recuperado as memórias de suas anteriores vidas, desde aquele fatídico dia em que Milo foi atacado nas escadarias das doze casas, e acabou usando num ato não pensado o seu medalhão, que continha o adamantino que resguardava o cosmo do espectro, às três da manhã. Horário soturno que fez a energia das trevas retornar ao seu antigo dono.

Se Soleil recuperar seu cosmo, tirado de si quando tinha poucos dias de vida, não fosse prova o suficiente que recordava de sua existência como espectro, a forma culpada que o olhava, e a vergonha em dirigir-lhe a palavra eram indícios mais do que suficientes.

Descobrir-se um inimigo milenar em pleno santuário repleto de cavaleiros, sendo vários desses seus amigos, seus irmãos, já era um castigo demasiado grande para o norueguês sofrer, ainda mais quando nada disso era culpa sua.

Foi ele, Camus, que havia negociado com o demônio denominado Kairos, ele que havia aceitado roubar o cosmo de um bebê para usá-lo em Milo, que havia visto o sofrimento e frustração do pequeno com o passar dos anos ao nunca conseguir despertar sua energia interna, e ainda assim se manter firme em sua resolução pelo bem da alma de seu melhor amigo.

Era o verdadeiro culpado, inescrupuloso, cruel, manipulador e oportunista, e não o inocente espectro que havia vivido uma vida completamente limpa. Por isso, o mínimo que poderia fazer pela vida daquele que deveria ser seu filho, porém, viveu mais como sua vitima, era assumir todas as culpas.

Sim, esse era o plano, com dificuldade conseguia voltar a pensar com um pouco de claridade, enquanto Shura tentava argumentar algo com Dohko e mesmo Muh entrava no salão em uma rara demonstração de apreensão.

- Sinceramente de todas as pessoas desse santuário – Dizia o libriano de braços cruzados e olhar severo – Você é o último que eu esperaria que me pedisse para ignorar uma ofensa direta a Athena, Shura.

O mencionado lançou um olhar lateral ao acamado aquariano, que estava com um olhar ido e expressão vazia.

- Olhe para ele senhor Dohko, claramente está fora de si, eu tenho plena consciência da gravidade de suas palavras e o que elas implicam, não digo que não devemos deixá-lo sobre vigília, pois é claro que está mentalmente instável e pode ser perigoso até para si mesmo, quem dirá para Athena. Contudo, o que ele diz não deve ser colocado na balança por essas mesmas razões.  -  Seguiu para encarar o ancião – Ele não tem mensura do que está dizendo.

- Fico feliz em perceber que esses vinte anos te fizeram mais flexíveis Shura, porém – Tentou seguir sua argumentação o antigo cavaleiro, mas para seu completo assombro, Muh, que sempre o respeitou como se fosse uma extensão de seu mestre, o interrompeu. 

- Senhor Dohko, eu sou a prova viva de que Camus não pode ser culpado sobre suas ações no cenário em que estamos – Argumentou com uma expressão aflita que tão mal lhe caía  - Eu fui atingido e quase consumido pelo Miasma, ataquei Piada Mortal, Hyoga e Aldebaran sem hesitar.  –Baixou a cabeça, culpado sentindo o olhar surpreso de capricórnio sobre si – Minha cabeça estava confusa, eu via meus piores medos passando na minha mente, meus filhos morrendo...- Engoliu em seco – Um por um...Via meu mestre novamente como espectro, como inimigo, suas mãos sujas de...

- Não precisa continuar – O deteve Libra, com um olhar empático, notando o quão difícil essa confissão se mostrava na expressão do mais jovem – Eu entendo, e concordo com vocês – Sua expressão severa suavizou-se – Não sabem o quão feliz me fazem que estejam dispostos a me enfrentar por um companheiro, principalmente você Muh – Encarou diretamente os olhos do outro, vendo ainda o medo de suas visões reflexionadas naqueles orbes – Você e Camus nunca foram muito próximos, ainda assim está disposto a me questionar por ele. – Voltou-se ao espanhol - E como já disse antes, me orgulhece que tenha evoluído tanto Shura. Contudo, lamento que minha palavra pouco possa fazer a favor de Camus, uma vez que descubram sobre seu...”Estado”.

Isso fez ambos franzirem as sobrancelhas, Shura foi o primeiro a questionar.

- Os temores de Shiryu se concretizaram? – Perguntou temendo a resposta, Muh virou para ele interessado.

- Temores? – Repetiu, olhando de um para o outro – Se refere ao trato com o submundo? – Disse, recordando os dizeres de Ikki de que a aliança não havia se firmado.

- Sim, porém não apenas isso – Dohko suspirou longamente - Ele não é mais o Grande Mestre. – Declarou finalmente, Shura simplesmente apertou os punhos, enquanto o lemuriano piscou surpreso. – Athena o destituiu de seu posto, uma vez que a identidade do imperador foi revelada e a deusa percebeu que Shiryu já suspeitava de quem se tratava.

- Então a suspeita dele estava realmente certa...E mesmo que nós estejamos em plena guerra Athena o destituiu ? – Havia claro desgosto no semblante de capricórnio – Eu avisei Shiryu varias vezes que Athena tinha o direito de saber sobre suas suspeitas, mas ele insistia que ela não estava preparada para encarar o fato. – Então olhou de soslaio para Áries, que se limitou a fechar os olhos.

- Eu já sei sobre a identidade do imperador, não se preocupem. – Se limitou a dizer.

- Como?  - Questionou curioso.

- Piada Mortal enviou Muh forçadamente ao Yomotsu, para conseguir fazê-lo voltar a si apesar do controle do miasma – Explicou simplesmente Libra – E lá eles foram saudados por um espectro que o informou da situação, estou certo?

- Precisamente – Confirmou com a cabeça.

- No caso esse espectro é o mesmíssimo Ikki de Fênix, cujo cosmo sentimos emanar da mansão Solo semana passada enquanto a mesma estava sendo atacada.

O espanhol ergueu ligeiramente as sobrancelhas, mas logo tornou a baixa-las.

- Isso tem sua lógica, suponho, uma vez que seu irmão é o imperador.  – Concluiu.

- Agora quanto ao que você disse Shura, eu tenho que discordar – O libriano desviou o olhar, vendo como Camus baixava sua cabeça, aparentemente completamente perdido em sua própria mente, os olhos vazios e sem foco – Não acredito que Athena saber dessa sucessão antes teria sido um caminho melhor, pela forma descrente que ela reagiu frente ao próprio Imperador, como Shiryu descreveu em detalhes, se tivéssemos comentado a ela nossas suspeitas com anterioridade, no pior dos cenários ela poderia ter começado uma nova guerra santa contra o submundo, antes mesmo do ataque de Chronos, ou ainda, na melhor das hipóteses, colocar Shiryu em descrença perante todos do santuário, uma vez que não teríamos provas concretas e palpáveis para convencê-la da posição de Shun. Não posso idealizar um cenário que tal revelação teria sido benéfica para nós.

 - Ainda assim, ela é nossa deusa, é direito dela saber – Insistiu.

- Foi escolha dela se afastar do santuário Shura – Interveio Muh – Como foi a minha, para viver minha própria vida com Seika, e depois com nossos filhos. Porém, nós sempre retornávamos para saber a que pé andava tudo, e se Shiryu precisava de nós, ela, no entanto se ausentou por longos períodos, eu suponho que havia até mesmo vários aprendizes que nunca a tinhamvisto até a ocasião da Cerimônia de Aquário. – Seu olhar se voltou ao mestre ancião – Quando a batalha do santuário acabou, anos atrás, eu pude notar como Athena era, no fundo, apenas uma adolescente assustada com seus entornos*. Naquela ocasião, eu acreditei que ela cresceria como pessoa, que o certo era deixá-la viver sua vida humana enquanto podia, e quando a hora chegasse, o lado divino dela iria reluzir e ela nos guiaria como a guerreira que é. Porém, eu estava apenas parcialmente certo sobre isso – Virou-se para Shura, que ainda trazia o rosto franzido – Ela, de fato, amadureceu, forçou-se a tornar-se adulta antes do tempo, como nossa geração de cavaleiros de ouro,  porém não era em todos os momentos que víamos a deusa dentro dela. Contra Poseidon, ela agiu imprudentemente seguindo um dos Marinas até o templo submarino, mas pelo menos assim ela conseguiu dar tempo aos, na época, cavaleiros de bronze, para derrubar os pilares e salvarem a terra da fúria do senhor dos mares. No confronto contra Hades, porém, podíamos ver claramente a imagem de nossa deusa em Saori Kido, completamente desperta e racional, sendo fria e calculista ao ponto de seguir o plano de Shaka e matar-se para chegarem juntos ao mundo dos mortos.

- Sim, como poderia esquecer-me disso – Recordou o espanhol, encarando o chão – Acordei muitas noites assombrado por essa cena.

- Sim, contudo, desde que voltamos a vida, eu nunca mais vi essa “imagem” de Athena em Saori Kido – Completou Muh com desalento – Ela passou pouco tempo conosco, até que se retirou ao Japão, e se entregou exclusivamente à sua vida humana, nem mesmo a cerimônia de sucessão de Kiki para a armadura de Áries ela compareceu, eu digo isso porque jamais esquecerei a expressão de decepção no rosto de meu garoto, ele que foi tão ligado a Athena e os outros ex cavaleiros de bronze. É como se a persona da deusa tivesse desaparecido após a última guerra santa.

- Você bem sabe de tudo que Shiryu passou para lidar com o santuário sem a deusa, Shura, quantas vezes ele recorreu a nossa ajuda, que eu e Shion retornamos as pressas de nossa viagem para auxilia-lo. Afinal, durante quinze anos você foi como seu braço direito.

- Sim, eu sei – Voltou a encarar ambos, ríspido. – Eu sei disso melhor do que ninguém, como Athena permaneceu a maior parte de seu tempo no Japão,  Shiryu acabou se tornando a grande referência para todos no santuário, ganhando de todos uma devoção fervorosa.  Para alguns até mesmo maior do que sentem pela própria deusa – Sua expressão foi tomada de grande amargura – Não digo que Shiryu não mereceu isso, eu sou testemunha do quanto ele lutou para ser o líder que é, também sou testemunha do quanto ele pediu para que Athena retornasse. E ainda que ela não tenha agido como deveria nas últimas duas décadas, Muh, quem somos nós para decidir o futuro da terra sem o consentimento da Imperatriz escolhida pelo próprio Zeus?! O que somos nós cavaleiros, sem o apoio da deusa? Eu realmente entendo o receio de Shiryu e mesmo o seu senhor Dohko, em transmitir “suspeitas” da identidade do imperador do submundo a Athena, mas agora que ela descobriu da pior forma e destituiu Shiryu, o que será de nós?  Sem a postura de deusa de Saori Kido, estamos à mercê do divino, e sem a liderança de Shiryu, que deu seu sangue a esse santuário, estamos à mercê do caos! 

- Sim, você tem razão Shura – Confirmou Dohko, surpreendendo o mais novo que esperou que o outro  o contrariasse. – Shiryu e principalmente eu, arriscamos muito ao deixar a deusa da guerra completamente avulsa a nossas suspeitas e planos, mas agora estamos dispostos e preparados para assumir as consequências disso.

- E quanto ao meu mestre? – Interrogou Muh, preocupado. 

Quanto a isso, Libra sorriu de lado.

- Eu fiz o possível para manter Shion o mais longe possível desse mar de lama que nos enfiamos de cabeça – Então voltou-se novamente a Aquário – Com isso voltamos a razão de minha palavra ou proteção não poder ajudar mais Camus, como eu te disse antes Muh, minha cabeça já está praticamente a prêmio, a minha e a de Shiryu. Nada posso fazer por Camus, qualquer coisa que eu dissesse a seu favor, seria usado contra ele, pois assim que Athena retorne e o novo Grande Mestre seja nomeado, não há dúvidas em mim de que seremos acusados de alta traição. Ou seremos presos na prisão Sunion ou seremos executados.

- Eu não acredito que Saori Kido seja capaz de algo tão drástico, por mais informações que tenham sido ocultadas dela – Opinou Muh, Shura confirmou com a cabeça concordando.

- Sim, ela não seria capaz, mas Chronos sim seria, e já é óbvio para nós que ele está infiltrado no santuário, mais próximo do que gostaríamos – Declarou com firmeza.

-...Onde ele está? – Shura questionou, para então lançar um olhar preocupado para porta, como se temesse pessoas demais ouvissem o desfecho dessa conversa, então sua atenção recaiu a Aquário.

- Não se preocupe, assim que notei o rumo dessa conversa, envolvi meu cosmo nessa sala, nem Jabu, nem Rivera ou qualquer um que entrar pode nos ouvir. Digamos que foi um truque que aprendi  com os anos de vida – Disse indicando o umbral da porta que levava a entrada da ala hospitalar, que visualmente não parecia ter nada, porém, se visto com bastante atenção, era possível ver uma fina camada de cosmo ali. – Quanto a Camus, é importante que ele saiba disso também, embora não tenha certeza do quanto ele está escutando – O francês ergueu o rosto brindando-lhe sua atenção, estava claramente cansado, mas ao escutar sobre a localização de Chronos, seu olhar recobrou um pouco de lucidez, voltando-se a Libra ao ser chamado - O “receptáculo” que Chronos está usando seria capaz de convencê-la a executar-nos.

- Então por que não o expomos antes que isso aconteça? – Opinou Muh, notando como o corpo de Aquário tremia com o comentário, aproximando-se do companheiro numa tentativa de tranquilizá-lo com o cosmo, pois parecia à beira de um novo ataque, sentou-se ao seu lado na cama, apoiando as mãos em seus ombros. – Não evitaria que o que aconteceu com Shu- Digo, o Imperador, se repetisse?

  - Na verdade, o contrário – Dohko suspirou cansado, também notando o temor do mago de gelo -  Ela já não acredita em nós, devido a isso precisarmos de uma prova concreta e física para revelar sua identidade para Saori, algo que a convença acima de nossas palavras, que exponha Chronos de tal modo que seja impossível para ele ocultar-se mais, justamente para evitar que Saori tenha a mesma atitude e replique a mesma cena que houve com Shun, por isso colocamos um espião em seus encalços, para que possa encontrar para nós essa prova, e evitar que algo pior aconteça.

- Shoryu – Concluiu Shura com um sorriso ladeado – Eu tinha certeza que esse era o papel do garoto, mesmo Shiryu não tendo me dito nada. Isso significa que ele nunca deixou o santuário desde sua “deserção”, mesmo a própria deserção não passou de um teatro.

- Precisamente. – Dohko sorriu sutilmente - Colocamos todos os holofotes nele, esperando para ver quem seria o primeiro a apontar que Shoryu seria, na verdade, Chronos, ou que estaria sendo manipulado por ele. Observamos quem tentaria desvirtuar sua imagem perante o Grande Mestre e Athena, além de semear a discórdia no santuário. E quando isso aconteceu, colocamos o próprio Shoryu para segui-lo, não obstante, também pedimos que ele mantivesse um olho pelas doze casas, e monitorasse qualquer outro que desse um passo fora do esperado. – Seu olhar recaiu novamente no francês, que piscou surpreso, quase completamente consciente, o suficiente para temer o que essas palavras queriam dizer.

- O estranho vento que percorria o santuário – Concluiu novamente Shura –  Não fui o único a notar sua particularidade, como imaginei, se trata do garoto – Um sorriso orgulhoso também encheu sua face. – Sei que Afrodite também o notou, é impressionante como sua rapidez e habilidades furtivas se incrementaram nesses cinco anos que me mantive longe, deve ter passado despercebido por todos os cavaleiros da atual geração. Se fosse para chutar, diria que talvez apenas Julian o tenha visto perambulando, já que nem o vento passa por sua casa sem que ele saiba.

- Impressionante – Limitou-se a dizer Muh – Senhor Dohko, o senhor o treinou impecavelmente, para conseguir passar despercebido pelo santuário por tanto tempo.

Era evidente o orgulho do velho libriano quanto a isso, mas por hora deixou de lado.

- Eu apenas transmito a ele as habilidades que me permitiram vigiar o selo dos espectros por séculos sem ser precisamente detectado, porém... – Seguiu sério - Infelizmente não sabemos, ironicamente, há quanto tempo Chronos vem possuindo o receptáculo, sendo que nossa investigação mais profunda começou apenas após a chegada de Thetis e a revelação do nome de nosso inimigo, e com isso é difícil calcular o tamanho da influência dele com Athena.

- Então... Quem vocês “suspeitam” que Chronos possuiu? Quem entre nós cavaleiros é o traidor?

Camus baixou a cabeça, apertando seus joelhos.

- Hyoga de Aquário. – Mas as palavras saíram com simpleza dos lábios do libriano, porém elas ressoaram como trovões aos ouvidos do aquariano, enquanto os outros dois ex cavaleiros abriam os olhos, espantados, voltando-se ao mais novo também.

- Você já sabia Camus?! – Questionou Shura.

Fechou os olhos com força, seu corpo tornando a tremer ligeiramente.

- Isso é muito sério, nos diga! – Insistiu.

- Shura – Recriminou Muh numa expressão de desgosto pouco vista – Lembra-se que Camus não está em condições?

-...Erictônio me confessou, antes que eu o matasse – Por fim sua voz tornou a ressoar, mesmo que rouca, sentindo-se um pouco mais como si mesmo frente ao cosmo calmo do ariano, não deixando de recordar-se como essa centelha curativa dos arianos lembrava tanto o cosmo protetor de Asclépio. Pegou-se desejando que o deus estivesse ali, ao menos o médico entenderia seus sentimentos sobre a ruína da alma de Escorpião.

- Erictônio, aquele que era nosso prisioneiro? – Seguiu Capricórnio, ao que o outro apenas confirmou com a cabeça – Foi com ele que você lutou então, para ficar nesse estado? Todos nós achávamos que ele tivesse morrido depois de sua luta com Milo! – Outro aceno de cabeça, dessa vez em negativa – Então por que não disse nada dessa descoberta para nós quando nos encontramos?! Assim Kanon, Julian e Albafica já poderiam ficar em guarda!

- O que você esperava que eu dissesse?! – Respondeu em tom ríspido e amargo, mais parecido com o jeito afrontoso de Milo do que o seu próprio. – Que eu estive tão cego pela doença de Milo, tão preocupado por meus próprios pecados que não fui capaz de notar o que acontecia na minha frente?! Que eu não pude perceber que o homem que eu também considero como meu filho foi usado apenas como uma marionete sabe se lá por quantos anos?! COMO ESPERAVA QUE EU- Porém parou, engasgando-se com uma tosse errática, sangue começando a deslizar sutilmente pela comissura de seus lábios.

- Por favor, Camus, não se force – Recriminou calmamente Muh – Não foi culpa sua, não tínhamos como saber...

- Não...- Sua voz soou ainda mais rouca que antes, além de carregada de remorso – Eu deveria saber, deveria ter percebido, ele é o meu aprendiz, eu o criei...Eu... – Novos tremores fizeram as seguintes palavras morrerem em sua garganta, os quais fizeram Áries se limitar a abraçar seu companheiro, numa tentativa humana de acalmá-lo, jamais imaginou em sua vida ver o sempre centrado Camus naquele estado, porém, tampouco imaginou que ele mesmo poderia se tornar um assassino cego devido à influência do miasma, apavorado com perder seus filhos, depois de ver a chama de Kiki começar a se extinguir. Somando à situação de Aquário ao fato de Soleil estar na Alemanha, Milo morto e agora Hyoga possuído, era completamente compreensível o estado que ficou.

Isso fez uma pergunta circular sua mente, porém foi Shura que o proferiu.

- Por que Hyoga? Se fosse para se aproximar de Athena, não seria melhor Seiya, Suite, Shiryu ou mesmo Albafica que sempre ia ao Japão sozinho ou apenas com Ersa visitar seu tio avô? – Questionou Capricórnio.

Dohko não respondeu de imediato, ainda surpreso, mesmo que conseguindo disfarçar, que Camus havia matado pessoalmente o filho de Athena, constatava com pesar que a vida do francês provavelmente logo se consumiria devido a tal pecado. Entre tantos escritos destinados ao Grande Mestre, Sólon de Áries e seu sucessor e neto, Timeu de Câncer, deixaram escritos detalhados sobre a doença que matou Aquiles pela segunda vez, que tanto parecia estar associada a um castigo dos deuses pelo grande pecado de ferir diretamente Hades no submundo, durante a primeira guerra Santa.* De acordo com Sólon, que havia consultado o próprio deus da medicina, a enfermidade que maculava o corpo que deveria ser indestrutível era um castigo por terem começado a guerra santa contra Hades em primeiro lugar, atacado um deus puro e sujando-se com seu sangue, o mesmo sangue contaminaria o culpado, quase como uma peste, dilacerando a carne de dentro para fora com manchas rubras, do mesmo tom do sangue divino que derramou, para constantemente recordá-lo de seu pecado até o momento de sua morte lenta e dolorosa.

Não sabia a ciência exata do porquê de tal enfermidade não ter consumido outros cavaleiros que seguiram lutando contra os deuses, talvez seja porque o castigo de Aquiles foi o “Pecado original” dos cavaleiros, onde nenhum outro delito foi tão grave quanto o primeiro, ou talvez houvesse algo mais na morte de Aquiles* que nem mesmo Sólon e Timeu sabiam.

O fato era que, agora que sabia que Aquário havia matado o filho de sua deusa, não podia deixar de ligar sua aparência aos antigos relatos dos Grandes Mestres.  Estava absurdamente pálido, claramente não estava pensando com claridade, havia manchas vermelhas em seus dedos, como se suas unhas tivessem se tornado Antares cobertas de sangue. Também havia manchas similares por seu braço, além de seus olhos terem um estranho risco horizontal em seus orbes que o traziam uma má impressão ao libriano. Assustadoramente até mesmo suas íris começavam sutilmente a assumir aquele vermelho intenso e inconfundível do Ikhor, inclusive as pontas do cabelo azulado estavam sendo tomados por essa cor.

Contudo, a crua vista, não pareciam bubões ou simples borros, assemelhavam-se mais a manchas de sangue reais espargidas pelo corpo contrário, que por alguma razão não haviam oxidado.

- Senhor Dohko? – Shura o nomeou, preocupado, trazendo repentinamente o libriano de volta a sua realidade. – Desculpe, o senhor está bem?

- Sim... Desculpe, eu estava pensando sobre a situação - Disse Dohko, tentando esvair esses pensamentos por hora. -  Por que Chronos teria escolhido Hyoga, ao invés  de outros mais próximos de Saori? - Repetiu para ter certeza que havia entendido a pergunta.

-  Sim, exatamente.

- Suponho que Seiya sempre está muito em evidência, sempre rodeado de muitas pessoas que o conhecem muito bem, qualquer má atuação seria percebida facilmente,  além do que - Um sorriso se formou em sua face, uma lembrança de Tenma passando por sua mente -  Duvido que Chronos teria a capacidade e a paciência  de se passar por alguém como nosso Seiya por muito tempo.

 - Acho que o mesmo pensamento serve para Shiryu e Suite. - Seguiu Muh pensativo - Mesmo que fosse simplesmente perfeito tomar o controle do Grande Mestre, seria praticamente deitar a cabeça sobre a guilhotina, estando o senhor e meu mestre sempre pendentes das ações de Shiryu, o que tornaria a possessão muito arriscada, quanto a Suite, ela desde que veio para cá se tornou o centro do santuário junto com Julian e Shoryu, também seria muito arriscado possuí-la. Pensando assim, não fazia mesmo sentido de qualquer ponto que se veja que Shoryu fosse Chronos.

 - Por outro lado Albafica teria sido algo perfeito, ele é naturalmente reservado e isolacionista, por mais que tenha uma relação próxima com seus amigos e família, era alguém mais confortável de se "imitar" - Seguiu Shura com sua característica seriedade - Além do que, ele tem uma posição privilegiada acima de todos, como eu disse, ele podia ficar próximo de Athena no Japão, enquanto visitava seu tio-avô, matando-a quando estava completamente desprotegida.

- Se o objetivo de Chronos fosse matar Athena, já teria feito isso - Camus retornou a conversa, mesmo que de cabeça baixa. – Mesmo Hyoga não teria dificuldade de se aproximar dela sozinho.

- Sim, ao contrário de algo tão extremo quanto matar, acredito que ele tenha sido o principal responsável da mudança tão drástica na atitude de Saori Kido e do aparente desaparecimento ou supressão da persona de Athena. - Findou o libriano - Sinceramente, ainda não sei como o corpo de Hyoga resistiu a ser um receptáculo de um deus tão poderoso quanto Chronos, mas sem dúvida a divindade usou todo o isolamento de Hyoga após a morte de Shun e sua personalidade ríspida ao seu favor para conseguir se ocultar tão bem de nós, e mesmo assim, ainda seria um receptáculo confortável para conversar com Athena, apelar para seu lado sentimental, lembrando-a dos velhos tempos.

- Usar Aquário para apelar para o lado sentimental da deusa parece até uma má piada do Destino –Colocou com desgosto Shura, Camus se limitou a fechar os olhos.

- Sem dúvidas, embora não apontaria Moros como culpado. Chronos provavelmente é do tipo que prefere planejar a longo prazo, não por menos ele é o tempo divino, o tempo imortal, minar a confiança da deusa, influenciá-la por um longo período ao invés de atacá-la diretamente. Para termos certeza disso que usamos Shoryu como bode expiatório, porque com um planejamento assim só faltaria para Chronos um último empurrão para nos colocar em completo descredito, e foi justamente Hyoga que realizou essa ação, pedindo a deusa e ao Grande Mestre que considerasse Shoryu um desertor. Uma ação esperada de uma pessoa estrita como Hyoga frente à “irresponsabilidade” de Shoryu, ou seja, não levantaria suspeitas sobre sua verdadeira identidade, uma vez que encaixaria perfeitamente com a imagem severa e calculista do aquariano.

 - E esse foi o melhor plano para encontrar um culpado que vocês puderam chegar? – O tom do francês era carregado de um sarcasmo intenso que novamente não combinava nada com a sua figura – Dar ainda mais motivos para fazer Athena acreditar que você, Shiryu e Shoryu são os traidores?

Libra meditou alguns segundos antes de responder.

- "Se um ato como o sumiço de um cavaleiro fosse o suficiente para Athena apontá-lo sem hesitar como o grande traidor, mesmo sendo o filho do Grande Mestre, filho de um de seus amigos mais antigos e confiáveis, se ela duvidasse da índole de Shoryu mesmo não havendo outras provas que apontem alta traição além de um desaparecimento sem explicação, teremos a certeza de que a deusa está comprometida." – Recitou Dohko, encarando todos os presentes – Então seria uma questão de tempo, praticamente uma contagem regressiva, para que Shiryu perdesse o cargo, e para que eu fosse acusado também. Algo que, como podem ver, está acontecendo – Fechou os olhos por alguns instantes – Quando, antes de partir a Alemanha, Athena não se opôs a decisão de chamar Shoryu de traidor, Shiryu já foi preparado para o pior.

- Por isso vocês não estão tão surpresos com o desfecho dos acontecimentos. – Comentou Muh com tristeza.

- Infelizmente sim, mas seria uma mentira dizer que não ficamos decepcionados. A mesma deusa capaz de perdoar o ato de Saga, ser compreensível com o caminho que traçou Kanon, não nos dar sequer um aval de dúvida, mesmo depois de tudo que fizemos por suas forças , mesmo depois que eu permaneci quase trezentos anos fiel ao selo dos espectros e sua causa, sem acudir ao santuário durante séculos, mesmo sabendo que algo muito ruim havia acontecido... – Não terminou, sua voz amargando, deixando claro que se referia à morte de Shion, algo que apenas fez o único lemuriano presente abraçar lateralmente Camus com mais força – É verdadeiramente um golpe duro, mas temos que encarar a realidade, e sabermos lidar com ela. Nós cavaleiros de Athena não poderemos contar diretamente com ela nessa guerra.

Tanto Shura quanto Muh engoliram em seco essa afirmação coberta de blasfêmia, mesmo que Capricórnio quisesse rebater, não conseguia encontrar argumentos para tal.         

 Então seu olhar recaiu sobre Aquário, que apenas observava seus próprios pés com um semblante que ainda misturava muita culpa e dor, como uma criança que prematuramente tinha que lidar com o pior do mundo, não podia deixar de sentir piedade frente ao que restava do francês, mas sabia que não havia mais nada que poderia fazer por ele, provavelmente morreria em menos de duas horas, mesmo que os outros dois não soubessem disso.

Por outro lado, enchia o coração do libriano ver que Áries não havia deixado de abraçar seu companheiro em declive, se não fosse por Piada e por Ikki, não teria sido capaz de recuperar a sanidade tão rapidamente e poderia ter acabado nessa mesma situação ou pior, o que influenciava diretamente na sua empatia pelo estado de seu companheiro.   

Deveriam agradecer a Seika e seus filhos por essa personalidade ainda mais humana e compassiva, enquanto ele mesmo, Shion e Shiryu haviam atuado bem para melhorar a impessoalidade e indiferença de Shura. 

Isso fez um sorriso voltar a sua face.

- Porém ainda somos os guerreiros da esperança, Nike ainda está do nosso lado, eu posso garantir. – Disse com firmeza, tornando para si a atenção dos dois, mesmo Camus o observava com sua expressão vazia – Quando Athena, Shiryu e os demais retornarem para nós, e Saori tentar nomear um novo Grande Mestre, ela perceberá que, infelizmente, tornou-se uma estranha frente a vários rostos desconhecidos para ela. Chronos atuará nesse momento, provavelmente ele, como Hyoga, será nomeado o novo senhor do Santuário. A julgar por suas ações, ele deduz que o santuário se tornará um caos entre aqueles que seguem Athena, e aqueles que seguirão Shiryu. O que vocês acham?

Muh e Shura se entreolharam, mas para sua surpresa a resposta partiu de Camus.

- Principalmente a atual geração foi educada a exaustão para pensarem antes de agir – Recitou, lembrando-se com dor quantas aulas Milo ministrou no Parteon para diversos aprendizes, cavaleiros e amazonas – Eles protegerão Athena, como é esperado deles, mas seguirão o lado mais racional, cuja maior inclinação é o próprio Shiryu. Porém, se a “deusa” tentar impedir qualquer atuação dele, haverá aqueles dentro do exército que tomarão a frente e atuarão por si só, formando uma nova liderança se preciso, visando uma atuação mais lógica. Quem encabeçaria isso provavelmente seriam Julian, Shoryu e Suite, seguidos de perto por Izo e Albafica, tamanha a influência que esses têm no santuário, somando a ausência da “deusa” por tantos anos, é óbvio o lado que a maioria massiva resolverá seguir.

- Exatamente Camus – Disse surpreso o libriano, mesmo Aquário estava impressionado consigo mesmo ao conseguir pensar tudo isso com claridade, até ouvir um assobio em sua mente.

“...-Cavaleiros pensantes, que inimigo terrível!...” – Ressuou uma voz espalhafatosa em sua cabeça, a qual reconheceu imediatamente pelo tom irritante.

“-Eu achei que você tivesse morrido” – Sua resposta foi simples, e taxativa.

“...-Que sutil da sua parte, já eu pensei que ia te encontrar completamente louco, ou com desejos assassinos para com seus próprios companheiros...” – Revidou Verônica.

“- A meio caminho de ambos, eu diria” – Findou Camus inexpressivamente.

- ...Por isso – Dohko seguia falando, ignorante da conversa mental do ex cavaleiro. – Mesmo que eu e Shiryu caíamos, peço que não percam a esperança, e que acima de tudo, confiem uns nos outros, cuidem uns dos outros, como fizeram agora com seu companheiro – Sorriu calorosamente para Aquário, que enfim pôde dar-se conta plenamente de sua posição, sendo abraçado como se fosse uma criança pelo lemuriano, envergonhando-se ainda mais frente ao comentário “Que fofooo” do espectro que aos poucos trazia de volta a claridade e racionalidade ao seu ser, apenas com seu cosmo manipulando-o, tal qual um títere que desembaraçava as cordas de sua marionete, tornando-a novamente funcional – Nós somos melhores agora do que fomos há vinte anos, por isso, somos capazes de milagres ainda maiores, mesmo que os deuses estejam em nosso contra, tenho certeza que sairemos vitoriosos nessa guerra, uma vez que lutemos, não somente pela deusa ou pela terra, mas também por nós mesmos, nossas famílias e nossos amigos, os que estão aqui, e mesmo por aqueles que já se foram, vamos lutar juntos!

- Sim! – Disseram com força Shura e Muh, bem ao tempo que Jabu entrou no aposento, sentindo sensação frigida ao cruzar a barreira criada por Dohko, surpreendendo-se que os cavaleiros ali presentes não falavam baixo, embora fosse impossível escutá-los do outro cômodo.

- Hã...Desculpe interromper – Disse desconcertado. Havia uma barreira ali? Tão pouco confiavam em si, nem ao mesmo permitindo que escutasse o desfecho após a blasfêmia de Camus? Nunca havia se dado conta o quão pouco significava para a elite de ouro após sua afronta com Milo. - ... Houve duas explosões para o céu vindas do Santuário – Explicou mesmo assim, apesar do desanimo de sua constatação, havia coisas mais sérias em jogo – Se parecem com os golpes da casa de Touro, também outras duas explosões, igualmente para o céu, partindo do Cemitério, como coisas pesadas sendo lançadas para o alto pelo barulho que fizeram...- Hesitou – Vocês não ouviram?

- Digamos que estávamos absortos demais para notar – Esclareceu Libra, fazendo Unicórnio engolir em seco, confirmando para si mesmo que havia de fato uma barreira de som naquela sala – Além de Aldebaran, você falou para mais alguém do sinal, Muh?

- Sinal? – Questionou Capricórnio.

- “Uma explosão para cima, caso tudo esteja bem, e duas explosões caso algo esteja errado” – Recitou Áries – Assim podemos nos guiar sem telepatia, foi ideia do senhor Dohko – Então engoliu em seco, com evidente preocupação, soltando Camus no processo – Eu contei para Máscara da Morte, que havia ficado na casa de Afrodite com Seika, Shunrei e Ersa...

-  Shura – O libriano voltou-se imediatamente ao mencionado – Vá para a casa de Afrodite, há uma chance de que Máscara teve que abandonar o lugar, levando-se em conta a própria consideração que ele tem com Ersa, Seika e Shunrei, sem dúvida seria um motivo muito grave que o levaria a fazer isso.

- Sim, senhor, eu irei imediatamente – Lançou um olhar para Camus.

- Eu estou bem, farei um esforço para manter minha cabeça no lugar – Desconversou o aquariano, agora livre, deitando-se no leito – Há coisas mais importantes para vocês se preocuparem.

Confirmou novamente com a cabeça.

- Derrotaremos Chronos por Milo e por Kiki, você verá Camus! – Voltou-se para Muh – Não se preocupe, eu cuidarei deles por você – Recebeu um obrigado genuíno do companheiro e saiu rapidamente.

- Muh, vá para o cemitério, por lógica,  por ser um lugar ligado a morte, deve estar completamente repleto de miasma, agora que você está imune, é o melhor para ver o que Máscara pode ter achado. Não se preocupe, eu ficarei de olho em Camus.

Com uma afirmação com a cabeça, Áries também partiu.

- Agora Jabu – Disse chamando o outro, que estava a ponto de voltar a primeira parte da Fonte – Acredita que Afrodite esteja estável? Ou mesmo Ichi que também está numa posição delicada?

- Bem...A mão dele está no lugar, e ainda temos um pouco do sangue de Afrodite disponível – Disse simplesmente  - Por enquanto é o que dá pra fazer, eu acho...

- Certo, nesse caso quero que você vá e ajude Aldebaran, e traga os feridos para cá.

Isso fez o escorpiano piscar, confuso.

- Eu? Confia mesmo em mim para isso?

Dessa vez, foi o libriano que mostrou confusão.

- Por que não confiaria? – Questionou – Você é o segundo mais rápido do Santuário, o mais indicado para ajudar Aldebaran, afinal, velocidade é justamente o maior problema dele, sem mencionar que é o mais capacitado para trazer as possíveis vitimas para nós o mais rapidamente possível. Além de ter uma força de nível dourado, sem dúvida.

Ficou tremendamente feliz de ouvir tais palavras de confiança sobre sua agilidade e força de alguém tão importante, mas ainda assim ficou tentado a perguntar o porquê então não pôde ouvir a conversa que estavam tendo, mas conseguiu se conter.

- Eu farei o meu melhor – Disse simplesmente, inclinando-se a modo japonês  - Por favor, cuide de meus irmãos e de Afrodite, eu avisarei a Rivera de reportar ao senhor caso tenha algum problema.

- Claro, muito obrigado.

E o escorpiano se retirou.

- Parece que ele amadureceu um pouco mais – Analisou Dohko uma vez que ele e Camus estavam novamente sozinhos – Digo, como ser humano, porque como guerreiro sem dúvida ele seria um excelente cavaleiro de Escorpião. – Então voltou-se uma última vez ao mais novo, com um olhar extremamente sério que tanto o fazia parecer-se com Itia – Agora que ficamos realmente a sós, quero tratar de algo muito importante contigo Aquário, ou eu deveria dizer, Eri? – Isso fez o mencionado abrir os olhos de par em par - Àquele que está a um passo de aceitar um acordo vergonhoso como o Hiketeia e mergulhar-se de cabeça na indignidade para se tornar um espectro.

Então Shoryu havia estado na Fonte de Athena enquanto conversava com Milo, com horror recordou-se do estranho vento que havia entrado pela janela apesar do dia quente que fazia, era mesmo possível que o pequeno libriano havia conseguido evadir assim dois cavaleiros de ouro?!

Como se lê-se sua mente, Dohko acrescentou.

- Shoryu me contou que ficou muito surpreso com a conversa de vocês, o assustou o suficiente para bater a cabeça na parte de baixo da mesa que ele se escondia, mas mesmo assim vocês não o notaram ali – Então sorriu, mais para si mesmo, vendo a descrença no rosto contrário, incapaz de acreditar que não tinham visto um homem tão grande como Shoryu escondido simplesmente embaixo de uma mesa, tinha que haver algo mais aí. – Meu neto tem mesmo um dom, você não acha? Consegue reproduzir todas as minhas técnicas com perfeição.

-.-.-.-

Sentado ao lado do túmulo improvisado de Milo, Verônica engoliu em seco ao ouvir as palavras de Libra, enquanto tocava com a ponta dos seus dedos as pedras que simbolizavam a lápide. Como imaginou, o cadáver, mesmo tendo se transformado em pedra devido as ações de Medusa, desprendia uma pequena quantidade de cosmo soturno que deveria ser o suficiente para ocultar sua presença, além de desprender uma sensação de conforto, pois a suave energia que estava a ponto de se extinguir, e que à essa altura só deveria ser perceptível para espectros, de certa forma o lembrava muito a essência aconchegante da morte que sempre exalou seu saudoso senhor Thanatos.

Não por menos Escorpião era o signo da morte, como Câncer. Não havia se apaixonado por seu assassino Manigold por nada. Cosmos como esses eram realmente inebriantes!

Mordeu o dedo indicador, movendo esses pensamentos para um canto de sua mente, conforme Dohko de Libra explicava como ouviu sobre o Hiketeia através do cavaleiro chamado Shoryu.

Hiketeia era o contrato de servidão que tanto o falecido Milo quanto Camus haviam acordado assinar, um acordo que os despojava de qualquer honra, onde serviriam a Shun com suas vidas e almas, ao tempo que o próprio Imperador lhes outorgava sua completa proteção em troca, à custa de um julgamento severo frente as Eumênides se falhavam com sua parte.

Era um ritual antigo e que havia caído no esquecimento devido o quão desonroso e radical era, o mais peculiar no caso dos cavaleiros, no entanto, era que Shun havia proposto a ideia. Normalmente tal rito sempre foi um subterfúgio usado no desespero por pessoas que se agarravam a vida e imploravam o Hiketeia, preferindo uma servidão imposta e vergonhosa a encarar a morte.

Apesar dos privilégios de se ter um servo à sua completa disposição, os deuses e grandes guerreiros normalmente desprezavam esse caminho, pois se alguém se ajoelhasse aos seus pés e rogasse pelo ritual, aquele que recebia tal voto deveria matar quem pedia proteção antes de terminada sua prece, caso contrário, pelas leis divinas seria obrigado a carregar o novo servo até o fim de sua vida, sem jamais falhar em sua segurança da mesma forma que o servo não podia falhar em sua servidão.

E que o senhor da morte ofertasse Hiketeia, significava uma escravidão que ultrapassava mesmo o tempo e a morte.  

Seriam menos que espectros, porém pouco mais do que meros esqueletos, ambos seriam como escravos com títulos de vassalos, sem dúvida seriam desprezados por isso, mesmo por parte de outros servos do submundo.  

E mesmo que a alma de Milo tivesse sucumbido antes de terminado esse processo propriamente, Camus ainda seguia firme em sua resolução. Verônica não podia deixar de se impressionar com sua convicção.

Levou largos minutos para Dohko terminar de relatar tudo que estava sob seu conhecimento; além do Hiketeia,  foi lhe relatado sobre as muitas vidas de Aquário e Escorpião, o sacrifício desse segundo signo frente a Aiacos, como Astéria se dispôs a amaldiçoar todas as suas reencarnações para proteger a vida de “Eri”, que deduziu prontamente ser Erisictão, pela lacuna que existia em sua história e a de Astéria por milênios no santuário, também expressou conhecimento sobre para que fim Camus trouxe Soleil, que na verdade era o espectro sem memória Lune de Balron, ao santuário, onde a razão do jovem não ter cosmo era porque o mesmo estava selado por Shun, para fazer com que Milo sobrevivesse a sua doença o máximo que pudesse utilizando a energia soturna para retardar os efeitos do Flegetonte na alma da reencarnação da oitava casa. E quando o cosmo voltou ao menino junto com suas memórias, Kairos, o espectro que Shion havia enfrentado no passado, surgiu sorrateiramente no Cabo Sunion, para o qual Milo havia escapado para tentar suicídio e acabar com toda essa situação, este servo do mundo inferior então ofertou o colar do submundo, junto a proposta de que Milo se tornasse um espectro. Com isso, também soube da identidade do novo senhor dos mortos, embora não parecia minimamente surpreso com isso, como se já soubesse de antemão. Findou interessado no plano de Chronos; Conseguir o Oricalco, que já havia sido totalmente utilizado no barco da esperança, para forjar uma chave que abriria a caixa de Pandora, e nela selaria tanto Shun quanto Poseidon. Quando enfim Libra cessou com seus relatos, Camus guardou um longo silêncio, frente ao qual Verônica decidiu orientá-lo.

“Eu não sei o que você disse ou fez enquanto eu estive fora, mas é melhor ter cuidado com o que fala agora, ainda mais frente a esse homem...Ele já sabe absolutamente demais ” – Disse, estar de frente com o antigo cavaleiro de libra conseguia ser ainda pior que enfrentar seu companheiro de Áries.

“...-Por que você sumiu em primeiro lugar?” – Era a voz grave e claramente rancorosa de Aquário em retorno.

“Eu encontrei-me com Shion, e ele educadamente pediu para eu ir embora, com uma delicadeza que deixaria Ares orgulhoso” – Respondeu, ainda sentindo um arrepio quando lembrava como esteve prestes a morrer nas mãos do lemuriano, se não tivesse fugido para o submundo abandonando Camus à mercê do apodrecimento de seu corpo e alma, quando o ariano seguiu pistas deixadas pelo falecido, e destruído, filho da deusa, Erictônio até onde estava casualmente se escondendo. “- Mas esse aqui, Dohko de Libra, consegue ser mais assustador que seu amiguinho. Talvez se aqueles dois lindos, Shura e Muh, creio que assim que se chamavam, não? Enfim, se aqueles bofes não tivessem ficado do seu lado, como parece que ficaram, talvez esse homem na sua frente até mesmo já teria te matado.”         

O aquariano riu com ironia para si mesmo.

“...- Claramente você não conhece Dohko de Libra, ele guardou o selo de vocês por quase trezentos anos, confiou em Shion mesmo quando voltamos como espectro, e ainda foi capaz de perdoar e ainda ajudar Máscara da Morte que tentou matar todos de sua família, mesmo sua filha civil...” – Explicou o ex cavaleiro como se a simples ideia de ser morto por aquele homem que lhe lançava um olhar severo fosse simplesmente absurda. “...- Ele é a imagem do próprio equilíbrio em pessoa, não me deixará sem vigília, por tudo que fiz, mas jamais me mataria assim, a sangue frio, por mais degenerado que eu tenha me tornado, ainda sou um de seus companheiros.”

“...Dohko, o cavaleiro que Ikki salvou em sua última vida... Sim, eu imagino que foi um cavaleiro bem nobre para justamente Kagaho ter feito o que fez, mas ainda assim eu teria cuidado” – Insistiu em alertar, mexendo em suas mãos nervosamente – “Você ainda não sabe ver isso, mas nós espectros somos capazes de ver a alma das pessoas, e a desse cavaleiro está completamente desgastada. Você disse que ele ficou vigiando nosso selo por quase trezentos anos, isso faz sentido, nenhum humano “normal” é feito para viver tanto tempo sem acabar perdendo a cabeça, ainda mais estando por tanto tempo em contato direto com nossas almas ainda apodrecidas” – Suspirou “Digamos que não éramos uma boa influência, muito menos a longo prazo.”

“...-Sim, eu sei” – Acabou por confessar o mais velho, claramente transtornado “...-Antes dele, fui eu que vigiei o selo como Krest, e naquela vida fui até mesmo capaz de matar uma das reencarnações de...Milo.” – Admitiu com horror. - “...- Mesmo Itia, que eu tinha tanta consideração, acabou sucumbindo ao desgaste dos séculos, levando consigo Gateguard de Áries*, mas Dohko é diferente, ele é superior a nós, porque conseguiu passar por tudo isso e se manter integro” – Findou com firmeza.

“Eu não teria tanta certeza, mas concordo contigo, esse homem é uma balança perfeita, e é justamente isso que me preocupa.” – Ponderou, fechando os olhos e vendo através dos olhos de Camus a figura apoiada conta o batente da porta, calmamente esperando que o aquariano se pronunciasse contra as “acusações”, fisicamente não parecia ter pressa, apesar de seu semblante sério, havia uma calma inerente em sua figura que suavizava a delicada situação, contudo, sua alma estava em um equilíbrio delicado. “ – Em geral Camus, há no mundo três tipos de almas. Existem aquelas que nascem com uma natureza maligna, podemos dizer assim, almas cuja condenação no mundo inferior não foi o suficiente para limpar seus espíritos. Quando reencarnam elas tem duas opções, passar a existência lutando para recuperar a própria alma em vida, e assim não serem castigados novamente no submundo, tendo sempre que se esforçar muito para não sair do “bom caminho”. Ou se entregam completamente a podridão de seus seres, e pagarão severamente quando morrerem. Embora, sinceramente, existem aqueles que apesar de terem chego no fundo do poço, ainda tentam se levantar depois, mas são casos cada vez mais raros. Por outro lado, existem as almas puras, como a sua na primeira vida e a de Shun antes de se tornar imperador. Almas impecáveis, que tendem a ter mais facilidade em se manter nesse bom caminho, espíritos que já pagaram penitência em outras vidas, ou são limpas por natureza, elas são ainda mais raras, e levam uma vida sem cometer grandes pecados, injurias e crimes. Contudo, quando uma alma dessas apodrece, é um processo que leva séculos, até milênios para se reverter, como tentar pintar uma folha machada de negro com tinta branca, o papel pode não resistir tanta tinta sobre si e rasgar antes mesmo de completar seu cometido. Agora, sem duvida, a grande maioria são almas que tem as duas naturezas, as vezes pendente mais para a maligna, outras vezes mais para a benigna, mas oscilando entre as duas por toda a sua vida. É o mais natural, porque as pessoas são naturalmente seres que cometem erros, que violam a lei e cometem injurias, mas tem pleno poder e capacidade de se arrepender, e assim funciona e segue a humanidade.”

“...-Então Dohko estaria nesse último grupo, como a maioria...” – Concluiu Camus.

“Sim, mas as duas naturezas que existem nele estão no mesmo nível, ou seja, ele é tanto capaz das maiores empatias mesmo com seus inimigos, como também é capaz dos piores crimes capitais, tudo depende para que lado pende a balança de sua alma. Nisso, ele me lembra inclusive nosso imperador...Por isso, mesmo que confie nele, tome cuidado, sua alma está muito instável, mesmo com minha influência e o resguardo da fruta do submundo que você comeu, se você morrer antes das horas previstas, sua alma pode se despedaçar como...” – Porém não foi capaz de terminar.

“...- Como aconteceu com Milo” – Ainda assim não foi necessário, o aquariano entendeu completamente sua linha de raciocínio. – “...-Tudo bem, eu escolherei bem minhas palavras, não jogarei tudo fora depois do que Escorpião fez por mim...”

“...Acha que ele vai aceitar? Não sei se ainda conseguiremos cumprir com o seu plano.”

“...-Pela forma lastimosa que ele me olha, sim, ele deve saber que não tenho mais muito tempo nesse mundo, apesar do que você disse, eu confio na índole dele para me conceder um último pedido. Eu tenho que conseguir isso, é o mínimo que posso fazer por Soleil...E a Milo à essa altura.”    

-.-.-.-    

Dohko apenas observava pacientemente a cabeça baixa de aquário, como se perdido em seu próprio interior, ou mesmo imerso em uma conversa interna.

Talvez, pensou, estivesse falando com o próprio Shun, provavelmente pedindo orientações sobre o que fazer agora que foi “descoberto”.

Franziu a expressão ligeiramente, o incomodava profundamente como um cavaleiro como Camus poderia ter chego a tal extremo como o Hiketeia, soava algo tão baixo e inconcebível para um dos orgulhosos guerreiros de Athena, e ainda era sumamente pior do que renegar a deusa e servir outro deus, era rebaixar-se como um mero serviçal. 

Ainda assim, era impressionante o que esteve disposto a arriscar, a desistir, para a sobrevivência de seu melhor amigo.

Quanto a Soleil, mesmo que já houvesse descoberto sua identidade de espectro, ainda era chocante que, ironicamente, aquário teve a frieza de usar uma pobre criança inocente, porque sem suas memórias de espectro não passava de um inocente, para beneficiar Milo com o cosmo arrebatado. Quando Shoryu contou essa parte, havia raiva e repugnância em seus olhos, apesar de sua forma, alegando que se Milo não tivesse quase enforcado Camus, ele mesmo teria revelado sua posição e descontado sua raiva no francês.

Não era por menos, Soleil era muito querido no santuário, principalmente por seus amigos, Suite, Izo, Julian, Albafica II e o próprio Shoryu. Foi comovedor perceber que o fato do mensageiro ser um servo de Hades em outra vida não incomodou minimamente o libriano mais jovem, suas resoluções eram impecáveis, tinha muito orgulho do homem que havia se tornado. 

E mesmo apesar de todas as tentativas desesperadas do aquariano, Milo havia morrido, e pelas palavras de Shoryu, e pelo desespero dessas ações, era fácil imaginar que não se tratava de uma morte “normal”. Tudo havia sido em vão, acabado da forma mais amarga possível.

De algum modo essa situação deveria envolver o filho de Athena, ou talvez Camus já estivesse tão cego quando o encontrou que não pôde se parar, seja qual fosse o motivo, matar um deus já era um crime terrível, agora quando se tratava do único filho, mesmo que desconhecido, de sua deusa, era imensuravelmente pior. Como castigo o francês teria uma morte lenta e dolorosa, como Aquiles teve em sua época, e levando-se em conta tudo que passou para chegar nesse resultado, era lógico que o primeiro a fraquejar fosse sua sanidade.

Por isso esperava pacientemente que o menor se pronunciasse, ao invés de pressioná-lo por respostas, provavelmente estava sendo muito indulgente com um homem que, apesar de terem sido companheiros, mostrou-se um traidor praticamente sem escrúpulos, mas o fato que havia feito tudo o que fez por seu amigo, pesava no julgamento de Dohko.

Em dado momento se pegou perguntando-se, seria capaz de fazer o mesmo por Shion? Sacrificaria Shunrei, Izo, Shoryu ou mesmo outra criança para salvar o lemuriano?

Seu corpo tremeu ligeiramente, recordando-se o quão estranho o ariano havia agido desde que souberam da morte de Kiki. Como desmaiou, começou a esconder coisas e agir peculiarmente. Esse comportamento o havia perturbado muito, depois de vinte calorosos anos, era como se o menor tivesse se afastado bruscamente, quase como se fosse outra pessoa, isso o havia apavorado, lembrando-se dos séculos de solidão e clausura vigiando o selo dos espectros. O quão miserável se sentiu estando sozinho, como começou a duvidar de si mesmo e até de Athena.

Afastou esses pensamentos para um lado obscuro de sua mente, convencendo a si mesmo que seu melhor amigo apenas estava perturbado pela morte de seu neto, não poderia culpá-lo por isso.

Porém, por mais que não conseguia mais pensar em sua vida sendo novamente um eremita, não podia se imaginar fazendo tudo que Camus foi capaz de fazer, sacrificando tudo que o outro sacrificou.

Porém, mentiria se dissesse que não o entendia.

Afinal, sabia que a solidão e a culpa eram péssimos conselheiros.

Finalmente, o francês ergueu sua cabeça.

- Eu sou o culpado por tudo – Confessou por fim, fazendo o libriano erguer a sobrancelha – Todas as injurias que mencionou, são minha culpa e não pretendo me isentar disso. Por isso – Ergueu-se torpemente, Dohko fez menção de aproximar-se para segurá-lo, mas deteve seus passos ao ver que o mais novo se ajoelhava no chão – Se sabe minha história, sabe que eu não peço por absolvição, o que houve com Escorpião foi minha culpa, e eu fiz de tudo que pude para salvar sua alma, eu manipulei, enganei, traí. Porém, eu sou o único culpado, ninguém mais nesse santuário me ajudou, todos foram apenas enganados por mim, Soleil, Kiki, Afrodite e mesmo Milo, por isso eu peço o julgamento que vocês implementaram nessas duas décadas, eu quero que Athena olhe nos meus olhos, veja o que eu me transformei e me condene – Apertou seus punhos com força, arranhando a superfície de mármore aos seus pés – Me condene pelos meus crimes, que seja excomungado, lançado no Cabo Sunion, executado por veneno, esquartejamento, não me importa, tudo que eu desejo é ter um julgamento que exponha toda a minha vergonha.

Isso fez Libra abriu os olhos de par em par.

-...Por quê? – Foi tudo que foi capaz de dizer.

Camus, ex cavaleiro de Aquário ergueu o rosto lívido.

- Toda essa história começou porque Astéria se interpôs no meu julgamento, que seria feito por Aiacos. Quando eu era uma alma pura e estúpida, agora que chegamos a esse ponto, meu último desejo é que tudo termine como deveria ter sido, que dessa vez minha alma podre seja devidamente julgada frente a todos. Só assim eu sentirei que acabou, e poderei ir em...”Paz”...

Dohko o encarou descrente por largos segundos, até que a compreensão o atingiu.

- Você quer arcar com tudo sozinho, evitar que qualquer resquício de indignidade atinja a memória de Milo, ou mesmo Soleil. Como Aioria pagou pela suposta traição de Aiolos – Disse, sua voz saindo amarga em sua boca – Tem certeza disso? Duvido que a Saori Kido que voltará para nós será capaz de te julgar benevolentemente, mesmo com Hyoga se passando por Chronos, sua sentença será, sem dúvida, uma desonra e vergonha maior até mesmo que o Hiketeia. Seu nome será arrancado da história do santuário como acredito que possa ter acontecido com Erictônio.        

    Camus inclinou a cabeça ainda mais, um sorriso se formando em seu rosto.

- É exatamente isso que eu desejo – Os olhos contrários se abriram ainda mais de par em par – Ninguém deve pagar pelos meus atos e erros, além de mim. Se há algo que eu aprendi com Erictônio foi isso, então se eu puder levar toda a desonra comigo enquanto minha carne se desgarra de meus ossos, a aceitarei com sublime prazer, mesmo que seja para passar a eternidade na terra dos mortos em companhia da minha dor. Eu imploro por isso, é meu último pedido em vida.

-.-.-.-.-.-

Máscara da Morte respirava com dificuldade, enquanto seguia correndo tendo como objetivo o local de onde dois golpes de Aldebaran haviam cortado o céu, esse sinal, de acordo com o que Muh o havia orientado ainda na casa de Afrodite, significava que algo estava muito errado.

E que tivesse partido justamente do ex cavaleiro de Touro era uma preocupação a mais. Não apenas pelo fato de um orgulhoso guerreiro da patente dourada pedir ajuda, como justamente aquele cuja força bruta era a maior entre a elite.

Somado isso ao que o fantasma de Medusa havia lhe dito, apenas empurrava o canceriano ainda mais longe, ignorando os protestos de seu corpo que ainda sofria os efeitos do sangue de Afrodite, pois havia ingerido o antidoto há muito pouco tempo.

 As palavras dela ainda pareciam ecoar em sua mente, retando-o a seguir em seu caminho, por mais que seus olhos se embaçassem e seu pulso acelerasse.

“...-Chronos pretende usar-se de três cavaleiros para cumprir seus planos, para que vós se destruís de dentro para fora. Esses são: O Grande Mestre Shiryu, Aiolos de Sagitário e Dohko de Libra. Além de querer Camus de Aquário para algo que também não soube.

- Tirando Camus que se retirou, todos os outros são peixes grandes que sabem muito bem se defender sozinhos. – Retou importância – Além de terem uma índole impecável e por vezes muito irritante. Se Chronos pretende usá-los, boa sorte para ele.

- Vós não estais entendendo. – Insistiu ela – Chronos é o deus do tempo, ele sempre age de modo a causar um dano prolongado, que se estendas por anos a fio, por isso mesmo quer usar os mais honrados, aqueles cujos atos vis seriam lembrados por mais tempo, como Saga que era conhecido e idolatrado como um deus ou santo até que tudo aconteceu, e mesmo vinte quatro anos depois do fim da guerra, todos no santuário lembram e remexem nessa ferida...”

Tão absorto estava com essa lembrança, que acabou por não ver um paralelepípedo que se sobressaia no caminho, tropeçando nele e praticamente voando contra o chão pela velocidade que corria.

“No caso de Aiolos, o plano é fazê-lo cometer um ato ainda mais horrendo que Saga, que ficará para sempre marcado na história do santuário."

Sentou-se, notando que seus braços tremiam, sem se importar com isso, limpou o sangue que escorria de seu nariz, notando que o suor frio também escorria por sua face que não parecia ter realmente ligação com o esforço que fazia.

Tentou erguer-se, sentindo uma súbita tontura, sem conseguir se controlar, ali mesmo regurgitou, lívido.

-...Ah...Merda, sangue venenoso idiota, veneno idiota – Resmungou esforçando-se para ignorar a agitação do seu corpo e o cenário ao seu redor que parecia tremular, dando-lhe ainda mais vertigem – Parece que seu sangue ficou ainda pior mesmo Dite, deve ter dado um puta trabalho ao Shun te manter vivo depois do Elo Carmesin com Albafica*.   

“...Não há nada mais irônico e histórico do que a reencarnação de Caristo matar “acidentalmente” as crianças, da mesma forma que seu pai Quíron foi morto. Flechas envenenadas”.  

Não tinha tempo para isso, pensou, recordando-se plenamente da informação da alma penada, todos sabiam que Aldebaran não tinha passado um “bom momento” com veneno no passado, e agora teria que enfrentar um Aiolos dominado pelo miasma com flechas envenenadas, não importava como se olhasse, era uma péssima combinação.

“Essas crianças vão morrer, eu não tenho tempo para sofrer por um venenozinho!”      

Disse para si mesmo, novamente de pé e seguindo em direção ao cemitério do santuário. Se Aldebaran tinha pedido ajuda era porque havia chego numa situação crítica. Máscara nunca foi um cavaleiro digno, sabia disso a perfeição, seu passado e sua alma estavam manchados de crimes e sangue, mas o próprio submundo era testemunha de que, apesar de sua natureza maligna, havia se esforçado mesmo através do mar da culpa e dos precipícios da depressão, a seguir sempre em frente, havia tido a oportunidade de se tornar tio duas vezes, o primeiro devido ao desconhecimento de Afrodite, e depois graças ao acordo com Shun. Pôde testemunhar o inicio de uma vida, em contraste a todas as mortes que havia vivenciado desde tenra idade, e havia sido provavelmente a melhor experiência de sua lamentosa existência.

Devia mais a Afrodite, Albafica e a Piada Mortal do que jamais podiam imaginar, pois o haviam ajudado a brindar um pouco de luz à sua alma turva. Por isso, ao longos dos dezenove anos seguintes, se interessou em acompanhar quase todas as novas crianças que chegavam ao santuário, era divertido e engraçado conviver com esses pequenos tão diferentes de si, com uma infância tão mais plena e leve.

Em algum momento do caminho, que não sabia precisar com exatidão, acabou se tornando alguém muito querido entre os menores, por seu jeito engraçado e irreverente. Às vezes, olhando para trás, até mesmo tinha a impressão que havia se tornado outra pessoa, mas pensar nisso era estupido. Seguia sendo o mesmo Máscara da Morte, sádico, sarcástico, cheio de manias insalubres e de péssima educação, essas crianças estavam todas loucas em gostar de um assassino como ele, pois continuava sendo o mesmo homem, que a única coisa que tinha feito era tentado se erguer-se do poço que havia caído apenas aos seis anos, e aprendido a apreciar a estranha paz da vida que levava agora.

Por isso acelerou o passo, ignorando os lamentos de seu corpo, não estava disposto a deixar tudo desmoronar, faria o que fosse possível para proteger as crianças inocentes daquele santuário, mesmo que ninguém, mesmo Shion, havia feito o mesmo por si quando era jovem.

Infelizmente isso não dependia apenas de sua pessoa.

-  GÓRGONA DEMÔNIACA!

Parou de chofre, poucos metros do cemitério, reconhecendo o golpe de imediato, a tempo de olhar para baixo e ver dezenas e dezenas de cobras se formando aos seus pés. Contudo, sabia muito bem que isso era uma ilusão, por isso, ignorou a ameaça e olhou diretamente para cima, onde um brilho prateado vinha em sua direção.

- Sétimo círculo do inferno!* - Declamou deixando erguidos apenas os dedos indicadores e médios de ambas as mãos, e girando-os em um círculo perfeito à sua frente, até que ambas as mãos se cruzaram paralelamente, da ponta de seus dedos pareciam queimar chamas azuis, parecidas a fogos fátuos, que ao realizarem o movimento circular, formaram em pleno ar uma espécie de escudo, que mais se assemelhava a um espelho, cujo vidro vermelho sangue refletia a figura de um homem que caía em sua direção com um chute preparado.

  Ao chutar a superfície, no entanto, o atacante não obteve resultado, senão ser simplesmente lançado na direção oposta, como sofrendo o impacto de seu próprio golpe violento. E exatamente isso havia acontecido.

Acabou parando apenas quando estatelou-se contra uma lápide, quebrando em pedaços o nome de Algol de Perseu que nela estava gravado.

-...Essa técnica... – Disse com voz rouca, limpando o sangue que escorria de sua boca, olhando para o cavaleiro de ouro que desfazia a proteção e andava desconfiado em sua direção - ...Eu nunca tinha visto.

-...Eu já tenho mais de quarenta anos, já estava na hora de ter uma técnica defensiva. Uma variação inocente de minhas chamas demoníacas, que me fazem o favor de devolver um golpe físico dirigido a mim. Eu roubei a ideia do Kahn do Shaka. Bem útil, não, Logam?

O mencionado piscou surpreso, tinha cabelos loiros e completamente espetados até a cintura, usava uma armadura de prata, que o protegia completamente, além de contar com espinhos que saiam de sua ombreira direita e um grande e característico escudo que contava com o rosto de uma mulher que, ironicamente, tinha sido a mesma que o enviou até ali, apesar de agora ser apenas um espírito vagante.

- Senhor Máscara da Morte, então é o senhor mesmo...  – Imediatamente, o cavaleiro da segunda patente ajoelhou-se – Me perdoe, eu não tinha certeza se o senhor estava sendo controlado também, por isso...

- Ataque primeiro e pergunte depois, eu sei moleque, eu e Milo te ensinamos isso, esqueceu? – O jovem, que não tinha mais que dezesseis ergueu a face para encontrar-se com a mão estendida do canceriano, prontamente a aceitou, levantando-se com a ajuda ofertada – Mas se eu consigo falar normalmente como estou fazendo,  estou em minhas próprias faculdades mentais, certo? Eu digo o mesmo te ti, além de me sentir ofendido de saber que pensou por um segundo que um cavaleiro de Câncer como eu seria afetado pelo miasma.

Logam baixou a cabeça, sentindo-se claramente envergonhado.

- Eu sinto muito senhor, não queria faltar-lhe com respeito àquele que me auxiliou em meu treinamento, mas eu... –Apertou os punhos com força – Não podia arriscar...

Dito isso indicou com sua cabeça um pequeno grupo de pessoas e o coração do canceriano falhou uma batida.

- AGATHA! AÍRON! – Correu imediatamente na direção dos mencionados.

Uma mulher de longos cabelos castanhos presos num rabo de cavalo baixo, usando também uma armadura de prata que cobria-lhe os peitos, os ombros com ombreiras expressivas, a cintura, os joelhos e os pés, ergueu sua face mascarada, que era decorada nos lábios por uma pintura que parecia um batom roxo sobre o frio metal. Porém o que mais exasperava o canceriano era a flecha cravada um pouco acima de seu cinturão.

- E-eu estou bem senhor Máscara – Disse com a voz abafada quando ambos se aproximaram.

Ao seu lado direito, havia um adolescente de pele alva e cabelos negros como o ébano, curtos e cacheados, também usava uma armadura de prata, que protegia-lhe praticamente todo o corpo, em suas mãos carregava uma cítara alemã, um instrumento que parecia uma mistura de uma lira sobre a metade de um violino, tal item estava fortemente apertado contra seu tronco, possuía escoriações por toda a sua face contraída em amargura, mas de resto parecia estar bem.

Por outro lado, à esquerda de Agatha estava uma bolha dourada de tamanho considerável, onde vagamente podia se ver um menino de cabelos ruivos e armadura dourada de pontudas ombreiras, mas não era possível ver seu rosto, escondido entre as pernas, enquanto tampava fortemente seus ouvidos.

Sem dúvida era uma visão peculiar do pequeno virginiano, mas priorizou o estado da amazona em primeiro lugar.

- Não diga bobagens, essas flechas estão envenenadas.

- Nós sabemos – Decretou com pesar Logam de Perseu, indicando dois envoltos que sinceramente Máscara não havia notado, tendo focado sua atenção apenas na flecha que cortava a guerreira, agachou-se para vê-los melhor.

Eram dois corpos, não deviam ter mais que seis ou sete anos, suficientemente pequenos para que as capas brancas das armaduras de Virgem e Lagarto pudessem cobri-los a perfeição, mas com um aperto no peito o canceriano ainda podia ver sob o tecido o volume de uma flecha pendendo do tornozelo de um deles, e do pescoço de outro, o que cada vez mais empapava o tecido com sangue.

-...Quem...? – Disse simplesmente, surpreso consigo mesmo ao não conseguir reunir valor para levantar os panos e ver por si próprio.

- Seishuu, aprendiz de leão menor e Rangyoku, a aprendiz de camaleão. – Nomeou Lagarto com pesar -  Rang ainda estava viva quando nos refugiamos no cemitério, mas ela não resistiu ao veneno...

Máscara notou que o tecido ao redor do rosto do corpo que possuía a flecha na perna estava úmido, evidenciando que a pequena havia chorado até os últimos instantes.

- Ela não queria morrer – Era a voz quebrada de Aíron de Lira, vendo para onde Máscara olhava – Ela lutou até o último segundo, mas...! Mas... – Tampou o rosto, incapaz de seguir.

- ...Então Aiolos... – Começou Câncer. - ...Foi ele que fez isso?

- Sim – Respondeu Logam – Foi tudo muito repentino, pelo que sei Senhor Dohko deu ordens para que Senhor Aiolos e Shijima dispersassem o miasma, enquanto nós protegíamos o Partenon, de repente escutamos um barulho do lado de fora e a Senhora Marin e a Senhora Shina saíram para averiguar... – Hesitou - ... No momento seguinte as portas foram almejadas com flechas, Teseo teve que lutar com Rômulo para impedi-lo de desobedecer ordens e sair, ainda mais depois que Remo recebeu uma mensagem mental de sua mãe para não fazermos isso. Porém ele, teimoso, e saiu mesmo assim.

- Geminianos – Resmungou Câncer.

- Remo o seguiu – Continuou Agatha – Foi aí que notamos que Aiolos nos atacava, porque, por alguma razão, não sentíamos cosmo nenhum de dentro do...- Parou com uma expressão de dor - ...Partenon.

- Deixe que eu conte Agatha! Você está envenenada, esqueceu? – Ralhou o cavaleiro de Perseu.

- Eu treino com Albafica há anos, não é um venenozinho desses que irá me matar – Retrucou ela com mais força.

- Logam tem razão, se preserve um pouco – Interrompeu Máscara – Albafica ficaria arrasado se soubesse, e eu perderia minha esperança de ser tio-avô – Disse com picardia aproveitando a vergonha da amazona para pegar ambos os corpos de seu colo, como eram pequenos não teve dificuldade em tomá-los.

- Como assim? Você e Albafica...Estão namorando?! – Questionou o cavaleiro de prata claramente desapontado.

- NÃO! – Exclamou ela de forma aguda e pouco convincente. – Ele não...Nós não... Senhor Máscara, por que disse isso?

O canceriano apenas deu um sorriso fraco, colocando ambos corpos no chão, frente ao túmulo da direita, próximo de Aíron, que desviou o olhar.

- Por que eu disse? Quem sabe, apenas me ocorreu, talvez eu esteja ficando gagá. – Comentou falsamente desinteressado, mas satisfeito de ter aliviado minimamente a tensão e lamúria da situação, pelo menos um pouco. – Você foi propositalmente nomeada com o mesmo nome de uma antiga curandeira de Rodorio, que tinha uma profunda admiração por Albafica I, talvez seja o destino.

Ao deitar os caídos sobre a terra a qual logo pertenceriam, pôde ver de quem era aquele túmulo.

Ikki

Bronze

Cavaleiro de Fênix

Isso significava que a amazona, que sabia ser a mesma alma da rosa que um dia negociou com Shun*, estava justamente encostada no túmulo vazio do imperador, pois o simbólico túmulo de Benu ficava ao lado direito de seu irmão.

A distração vergonhosa não havia durado muito, embora o loiro ainda estava desapontado com o suposto caso amoroso da amazona com o pisciano, enquanto a virginiana seguia com trejeitos envergonhados, ambos olhavam decaídos para os corpos abatidos.

- Eu podia seguir carregando-os senhor, eles...- Seguiu ela com amargura - ...São bem leves.

- Infelizmente não podemos fazer mais nada por eles – Disse erguendo-se e encarando ambos, ao ver que a jovem ia refutar, acrescentou – Eles estão mortos, e suas almas já fizeram a passagem. Deixemos os aqui, nem Chronos teria a sorna de atentar contra cadáveres. – Mentiu, pois para seu desgosto não havia visto a alma dos dois em lugar nenhum, o que não fazia sentido se haviam morrido recentemente ainda mais de forma tão abrupta. Receava o que isso poderia significar, mas não havia porque passar essa preocupação adiante, muito menos para cavaleiros incapazes de ver espíritos. – Precisamos cuidar dos vivos agora, foi exatamente por isso que vocês se separaram do resto, não foi?

-...Sim...- Confirmou Logam com desgosto – Foram as ordens de Teseo, quando Rômulo abriu as portas e pudemos ver Aiolos...- Hesitou engolindo em seco – Ele já estava coberto de sangue, seus filhos até tentaram pará-lo, mas depois que ele acertou mortalmente a senhora Shina, ficou claro que ele estava fora de si...Começou a atirar flechas cegamente, e estava tentando forçar entrada no Partenon de qualquer jeito, por isso Teseo ficou para trás para tentar pará-lo, afastando-o o máximo possível para escaparmos. Insistimos em ajudá-lo, mas...

- As ordens do Grande Mestre foram proteger as crianças acima de tudo – Seguiu Agatha com igual tristeza e frustração - Por isso nos separamos em sete grupos...

- Eu e Agatha levamos conosco Seishuu, Rangyoku, Suisho, Ailá, Kassius, Regulus, Berenice e Ikki...- Apertou o punho com mais força - Porém...Acabamos nos separando quando Ikki* insistiu em ir junto com seu primo.Por serem irmãos, Kassius, Regulus e Berenice o seguiram.

- Típico vindo dos filhos de Aioria. E quanto a Ailá e Suisho? – Questionou o canceriano olhando ao redor angustiado esperando ver mais diminutos corpos cobertos com o pano branco, porém não havia sinais da jovem curandeira e do irmão de Suikyo de Taça, nem mesmo seus cadáveres.

-... Eu estava carregando Suisho – Confessou a amazona, lágrimas correndo de sua face – Foi muito repentino...Eu...

Contudo não pôde continuar seu corpo se contorcendo com ainda mais dor.

- AGATHA! – Logam praticamente se jogou aos pés da Amazona antes mesmo que Máscara pudesse dar um passo.

- Foi minha culpa...- Negava ela com a cabeça, sua voz quebrada - ...Eu o deixei cair! Se eu tivesse sido mais rápida! Ailá tentou pegá-lo e caíram juntos pelas escadarias que chegam ao cemitério, esperávamos vê-los aqui, mas não estão em lugar nenhum...

- Como você poderia saber que até mesmo as Dríades seriam nossas inimigas?! – Insistiu o cavaleiro. – Não tinha como prever que elas se agarrariam em sua perna assim!

- Dríades? As ninfas da floresta? – Repetiu Câncer desconcertado, o prateado voltou-se para ele assim que a amazona deixou de tremer – Os que elas têm a ver com a história, melhor ainda, como entraram no santuário?!

  -...Elas simplesmente brotaram do chão! – Porém a resposta veio de Aíron, que finalmente ergueu-se, seu rosto ainda marcado pelo pranto – Eu vi! Eu e Shijima! – Apontou para o virginiano, que seguia em cócoras, tampando os próprios ouvidos – Quando eu estava guiando meu próprio grupo, pessoas simplesmente começaram a sair do chão! Crescendo como plantas...Elas... - A voz do pequeno se cortava – Mataram Giotto antes que eu pudesse fazer qualquer coisa! Atravessaram Faye em seu coração...!

-...Aíron... – Nomeou com pesar o guerreiro de Perseu, tornando a erguer-se. 

- Shijima surgiu para me ajudar, mas...Mas...Elas estavam por toda parte! – E sem mais forças, caiu no chão chorando copiosamente. – Mataram! Mataram todos eles! Maez, Olivie, Mia e mesmo o Yong!

- É por isso que eu não queria crianças no campo de batalha – Resmungou cansado o canceriano caminhando a distancia que o separava do pequeno prateado, e sem mais o tomou pela gola de sua armadura, alarmando os outros dois, ignorando a surpresa deles o dourado ergueu o menor no ar mais de um metro – Sabe essa armadura que você veste? Ela pertenceu a um aracnídeo com culhões para ir ao submundo, enfrentar o mundo dos mortos inteiro, para recuperar sua amada, conhece essa história?

-...Senhor Máscara, ele é só– Tentou dizer a amazona, mas o canceriano ergueu a outra mão que não segurava o menino para indicar que ela não interrompesse.

-…Sim…Mestre Milo…Me…Me contou – Disse receoso.

- Sim, mestre Milo, outro aracnídeo que ia até as últimas consequências para conseguir o que queria, até mesmo andaria em meio ao fogo por seus amigos, sabe o que eles têm em comum? – Aíron simplesmente negou com a cabeça – Ambos morreram, Milo mais de uma vez, aquele idiota. E sabe em que mais eles se parecem? Que é o pior?

Novamente, o cavaleiro negou.

- Eles acreditavam que a morte deles não importa. - Soltou repentinamente o garoto, que caiu no chão com um estrondo surdo, rapidamente Logam foi a sua ajuda – Escorpiões idiotas, você também é um, não é Perseu?

O mencionado confirmou, olhando para o mais velho com expressão confusa, já tinha escutado histórias assustadoras do passado sobre o cavaleiro de ouro de Câncer, mas conhecendo apenas a figura irreverente e engraçada do maior, mesmo no campo de treinamento quando auxiliava no adestramento básico de aprendizes, sempre achou que as histórias de uma casa cheia de cabeças decepadas era um exagero.

Porém, o homem à sua frente agora desprendia uma aura sombria, que o fez trazer o corpo do pequeno músico mais próximo de si.

- Escutem o que eu digo. Seus amigos morreram, mas vocês ainda estão aqui. Isso serve para você também Shijima – Voltou-se para trás, onde o pequeno virginiano havia desfeito a proteção do Khan e aos poucos destampava suas orelhas, mesmo Agatha ouvia com atenção, segurando a ferida aberta. – Essa é a primeira vez que vocês vêm a morte de perto, a primeira vez que vocês perdem algo tão valioso quanto um amigo, a primeira vez que vocês dão de cara com uma guerra. Ainda assim, vocês são melhores do que nós – Voltou-se novamente a Lira e Perseu – Porque nós lutávamos por uma Paz que sequer sabíamos com o que se parecia, nós nascemos na miséria, e nos acostumamos com ela, lutar para proteger Athena e a terra era apenas uma desculpa para dar algum sentido a nossas existências patéticas. Agora vocês...- Balançou a cabeça, com descrença – Vocês não tiveram que aprender a matar aos seis, pegar uma armadura maior do que vocês ao sete, não tiveram que segurar a Terra como se fossem o puta Atlas em suas mãos antes mesmo de ter a primeira transa! – Agatha desviou o olhar, Logam se ruborizou e Aíron franziu a expressão com este último comentário, ainda assim Máscara seguiu – Mas isso não é ótimo? Muitos podem dizer que isso faz de vocês mais fracos, pois nasceram numa época de Paz que não os preparou a cada segundo para a Guerra, mas eu discordo. Vocês sabem o que está em jogo aqui, seu lar, suas famílias, os amigos que ainda respiram. Não lutam por uma ilustração ou um sonho idealista e inalcançável. – Voltou-se novamente para Shijima que o observava com seus brilhantes olhos azuis perolados  – Vocês são humanos, por mais que budistas loiros idiotas digam que não, é normal sentirem medo, vocês são só crianças, o que vence esse miasma todo não é fingir que o medo não existe, e sim conseguirmos andar por cima disso, segurem-se nas lembranças daquilo que existia antes dessa guerra, e busquem aí a força para chutarem o traseiro de quem seja, mas acima de tudo, lutem pela vida de vocês também, da mesma forma que estão agora sofrendo por companheiros caídos, outros chorarão sobre suas lápides se vocês forem idiotas. – Ao fim dessas palavras lançou dois golpes a esmo para o céu. – Principalmente, não sejam escorpiões idiotas.

“...Senhor Máscara...” – Reconheceu a suave voz mental do pequeno virginiano, que limpava seu rosto evidenciando que estava chorando,  o que, pelo aspecto inchado, não havia começado apenas agora.

“ –Eu não sei o que Shaka te disse Shijima, mas você só tem dez anos, nessa idade Albafica chorava só de perder um dente, eu duvido que Shaka não fosse um chorão quando pequeno também*, nem mesmo ele nasceu iluminado, então não se cobre tanto por não ter conseguido salvar aquelas crianças”

Um soluço se ouviu do pequeno ruivo, que logo foi abraçado pela amazona, não recuando, deixando-se envolver mesmo que estranhasse o carinho.

- O que é isso?  - Questionou Logam vendo o movimento com destino o firmamento.

- Um sinal, já que não estamos conseguindo nos comunicarmos por telepatia ou pelo cosmo, Dohko nos orientou a usarmos duas explosões caso estejamos com problemas. Eu já quebrei uma promessa deixando o lugar onde eu estava, ao menos isso também vai avisar que eu precisei mudar de posição, se eles forem espertos, vão entender. – Voltou-se ao grupo – Logo a ajuda virá, se abriguem com eles na Fonte, e certifiquem-se de explicar para Muh sobre isso de “Dríades”, eu duvido que ninfas da natureza ajudariam Chronos assim, deve haver algo mais que não estamos vendo.  Eu seguirei em direção ao Partenon, um movimento desses partindo de Aldebaran de lá foi o que me trouxe para cá em primeiro lugar.

- Vimos a explosão, achávamos que fazia parte da luta – Confessou Perseu – Eu iriei com o senhor! Com meu escudo, poderei imobilizar o senhor Aiolos, caso ainda não tenham conseguido, eu queria ter ficado antes de qualquer jeito para poder fazer isso, mas Teseo se lançou na frente arrastando-o consigo antes que qualquer outro pudesse reagir!

- Geki tem um aprendiz rápido, quem diria – Ironizou, então seu rosto se escureceu – Sinceramente, depois de tudo isso tenho certeza que Aiolos preferiria ser morto a ser parado – Sem esperar resposta de Logam, voltou-se para os outros três – Mantenham-se aqui, não saiam de perto dessa lápide, ninguém os atacará aqui, você os guiou bem Shijima – O virginiano agradeceu com um sutil movimento de cabeça, ainda se deixando abraçar – E acima de tudo, tomem cuidado.

- Sim... – Confirmou simplesmente Agatha. – Obrigada senhor...

Já estavam se afastando na escadaria que levava aos Partenons quando Aíron terminou de limpar suas lágrimas, com olhar decidido.

- Shijima, "cuite" da Agatha!

E antes que a amazona pudesse retrucar, o pequeno escorpiano correu atrás dos dois.

-.-.-.-

Quando Saga abriu os olhos, estava em um lugar totalmente escuro. Levantou-se apoiando em suas mãos em um chão úmido de terra. Olhou para todas as direções, tentando focalizar alguma fonte de luz, mas não havia nada.

-...O que aconteceu? – Disse para si mesmo, sua voz ecoando no vazio.

Levou uma das mãos à cabeça, que latejava, notando um pequeno fio de sangue que escorria de sua testa, além disso, seguindo a delinear sua face deparou-se com mais do líquido proveniente de seus lábios, e para findar, havia uma dor pronunciada vindo da boca de seu estômago.

Como se tivesse recebido um potente chute ali.

Então as memórias voltaram de súbito à sua cabeça. Sim, de fato, estava em um enfrentamento com ninguém menos que um olimpiano, Hermes, o próprio deus regente de seu signo.

A divindade o havia controlado para falar da “lenda” da Caixa de Pandora para Athena, a original, uma suposta relíquia com a qual seriam capazes até mesmo de selar o imperador do submundo, de um modo praticamente permanente. O que poderia levar a atual guerra contra Chronos a um caos ainda maior, sem uma potente força que poderia ir ao seu contra, ou talvez a prisão de um poder tão grande estabilizaria as coisas, uma vez que teriam um inimigo a menos que enfrentar, era muito impreciso dizer.

Hermes o havia manipulado para usá-lo como intermediário para revelar essa informação a Athena como parte de um acordo que o olimpiano havia feito com Moros, o primordial do destino, para conseguir uma das flechas do destino, um item mitológico que ao ser atirado contra alguém fazia a memória dessa pessoa voltar no tempo.

E se isso já não fosse ultrajante o bastante para o orgulho do cavaleiro de gêmeos, o mesmíssimo Hermes havia aparecido e exigindo que dê-se para si o cavaleiro de Sagitário Seiya, que estava num leito quase hospitalar aos seus cuidados, por ordem de Athena, pelo mesmo ainda estar se recuperando do descobrimento de que Shun, seu meio irmão, havia herdado de boa vontade o trono de submundo. Hermes queria Seiya para que o mesmo lançasse a flecha mística em seu próprio irmão, fazendo assim com que as memórias de Shun regredissem e assim se recordasse que ele e seu antecessor um dia foram a mesma entidade, Shun na verdade era Hades.

Tal resultado seria catastrófico, não importa como se encarasse, por isso acabou entrando em conflito com o mensageiro divino, enganando-o para que atacasse primeiro, e assim obrigando-o a quebrar o hospitium, o acordo de hospitalidade e não agressão, o que havia brindado ao deus geminiano o ódio da imperatriz dos deuses Hera. Devido a isso, tinha agora plena liberdade para lutar com o olimpiano, e até mesmo executá-lo, e ainda seria reconhecido por isso, se o berro que Hera deu quando o Hospitium foi quebrado fosse alguma pista.

A questão agora era, como derrotar um dos grandes deuses, sozinho, e ainda por cima, sem sua armadura?

Porém, antes de qualquer coisa, precisava descobrir aonde havia caído, se em algum lugar físico, ou estava sendo vítima de um golpe do deus, talvez até mesmo os dois, pelo menos instantes antes sabia que o havia seguido em sua fuga da ira da imperatriz dos deuses do castelo de Heinsteim até o mundo dos sonhos, talvez ainda estivesse numa parte desse reino.

-Por quê? - Uma voz fina chamou sua atenção, sobressaltando-o.- Por que você teve que fazer isso?!

Era a voz de uma criança, uma voz estranhamente familiar. Resolveu segui-la, aparentemente seria mais eficiente do que continuar procurando alguma luz nesse mundo de escuridão.

- Irmão...Por que, por quê?! Aiolos?!

Parou de chofre, era Aioria, não havia dúvida, quando não tinha mais que sete.

Repentinamente tudo se iluminou bruscamente, tão subitamente que Saga teve que cobrir o rosto até conseguir se acostumar. Quando conseguiu tornar a abri-los, notou, com horror, que estava no cemitério do Santuário, porém um cemitério diferente, sem flores que adornavam lápides limpas, sem um campo esverdeado que a rodeava, que faziam um delicado par com os poucos arvoredos que contornavam os partenons ao topo da escadaria.

Tudo que existia era um campo desolado e lamacento, com túmulos tortos e abandonados, isso significava que já fazia algum tempo que havia “assumido” o manto de Grande Mestre, porque Shion sempre cuidou zelosamente da memória de seus companheiros.

Procurou uma conhecida pedra memorial, e não se arrependeu, a encontrou justamente onde costumava ficar, há mais de vinte anos, mas não estava sozinha, uma pequena criança estava ajoelhada à sua frente, possuía cabelos castanhos claros curtos e pele levemente morena, sua roupa de treinamento estava completamente suja de terra.

- Aioria...- Disse para o vento, sentindo um terrível aperto em seu coração.

- POR QUÊ?! - A criança repentinamente gritou – Por que você tentou matar Athena, Aiolos?! Agora eu, agora eu... Não passo do irmão do traidor.

Em um surto de raiva, a criança pegou um punhado de lama e jogou contra o nome gravado na pedra, manchando-o completamente, deixando seu nome ilegível.

Quase imediatamente o garoto se arrependeu, usando as duas mãos para limpar o que havia feito, ainda assim, o nome estava impregnado pela substância escura. Com as mãos ainda sujas, Aioria levantou-se e virou-se justamente para onde Saga via tudo parado e sem saber o que pensar.

O rosto estava inchado, não apenas pelas lágrimas, claramente havia sofrido um golpe na bochecha e no olho esquerdo, que ainda estava roxo.

- Eu te odeio...- Resmungou, limpando com a manga o ranho que escorria de seu nariz pelo lamento, para então sair correndo.

E assim que atravessou o cavaleiro de gêmeos como se fosse um fantasma, tudo desapareceu e retornou ao breu.

- É uma ilusão – Disse com falsa convicção, levando ambas as mãos ao rosto, notando que suas palmas ainda estavam sujas de sangue – Tem que ser uma ilusão.

“...Não é...” – Uma voz distante ecoou, a voz de Hermes “...São coisas que aconteceram no passado, decorrente de suas ações, decorrente da maldade de sua alma...”

Tudo se iluminou novamente, e novamente Saga foi incapaz de acompanhar a mudança de trevas e luz sem ter que tampar seus olhos.

- O que você pensa que está fazendo aqui? – Era a voz de Milo, também de tom juvenil.

Estavam na copa repleta de aprendizes, todos trajando as roupas padrão de treinamento, desde crianças até jovens adultos.

Milo, cujos cabelos mal chegavam até seus ombros, trazia um olhar perigoso, raivoso, e sobretudo traído. Logo atrás de si, o pequeno aquariano tinha uma expressão receosa, frente a eles e no centro das atenções estava Aioria, dessa vez com o rosto intacto, mas com a mesma idade da última visão.

- Eu vim comer, como todo mundo...- Disse o leonino em tom decaído.

- Você não tem o direito de estar aqui! – Repreendeu o escorpiano dando um passo à frente – Você nem deveria seguir no santuário!

Saga novamente observava tudo apenas como um telespectador, porém dessa vez, também tentava buscar quaisquer sinais da presença do olimpiano, enquanto Camus tentava deter Milo com uma mistura de francês e grego que só Escorpião parecia entender.

- Mas ele é o irmão do traidor, Camus! Todos nós aqui fomos enganados, todos nós achávamos que Aiolos era um grande homem...!

Por que está me mostrando isso?! O que você quer?!”

“Eu? Apenas usando meu golpe “Lamúria da Alma” para mostrar a você “honrado cavaleiro de ouro” quem realmente é”

O som de um soco ecoou no ar, e Gêmeos se virou a tempo de ver Aioria caindo no chão depois de receber um golpe no olho.

- ELE TENTOU MATAR ATHENA!

- Milô!! – Exasperava-se Aquário lutando para segurar o mais velho pelos ombros.

- ELE MATOU SAGA! COMO PODE DEFENDÊ-LO!

A força do francês não foi suficiente e Milo soltou-se e conseguiu dar um novo soco em Aioria, agora na boca, mas dessa vez Leão revidou, e ambos foram parar no chão.

“-Você não precisa me mostrar que minha alma é podre, que meu passado é podre, eu sei disso muito bem!...” – Exclamava irritado, mas tudo que recebeu em troca foi uma larga risada.

- PAREM COM ISSO AGORA! – A voz imponente de Shura, mesmo sendo um adolescente, se impôs sobre os demais, e num rápido movimento arrancou o leonino do emaranhado de braços que era a briga das duas crianças. – O que pensa que está fazendo, Aioria?!

Um brilho de medo se viu nos olhos do leonino ao ser capturado pelo assassino do seu irmão, detalhe que não passou despercebido ao espanhol, que o soltou bruscamente.

Mal havia caído no chão, saiu correndo com lágrimas nos olhos, enquanto Shura se voltava para repreender o outro grego.

“...A ordem desses acontecimentos não importa, o que sim importa é que você, um ser capaz das piores atrocidades por benefício próprio, você que arruinou tantas e tantas vidas, ainda se acha no direito de se opor a mim, que apenas quero devolver aos deuses algo que foi tirados de nós quando Athena atacou o submundo pela primeira vez!...”

“-Se você despertar o Hades em Shun agora, as consequências podem ser simplesmente catastróficas, o santuário já enfrenta uma situação de sitio, não podemos correr o risco de ganharmos um segundo inimigo justamente nesse momento!”

A visão mudou.

Novamente Milo, porém agora com seus vinte e poucos anos. Era uma visão muito amarga vê-lo vivo, sabendo que havia encontrado seu fim no santuário. Novamente no cemitério, ainda mais degradado que da última vez, por alguma razão, o escorpiano levava consigo uma velha enxada, ao tempo que, em várias partes daquele triste terreno havia um mato alto que permeava tudo.

Repentinamente Escorpião soltou o objeto, e ajoelhou-se frente ao túmulo que provavelmente tinha acabado de limpar. A igual que a primeira visão, o lamento logo invadiu o mais novo, frente à pedra fria cujo nome de Camus estava gravado.

“-Eu entendo o que é se achar em cima das consequências” – Seguiu decretando o geminiano sem deixar de encarar seu passado. “-Todos ainda acham que eu sou uma alma pura, que se deixou corromper por seu lado maligno, mas...Todos estão errados”

Repentinamente o chão começou a ceder, e de um momento a outro, Saga se viu completamente em queda livre, mas isso não pareceu assustá-lo minimamente.

À sua frente, como se fossem diversos filmes passando, pôde ver quando Máscara da Morte caiu no Yomotsu em sua luta contra Shiryu, sua expressão de horror pela morte iminente, ao mesmo tempo, pôde ver como Afrodite apertava uma rosa na décima segunda casa ao sentir a morte do companheiro, sangue escorrendo entre seus dedos.

 O corpo de Cassius caindo morto no chão, e a cara de Aioria ao perceber o que tinha feito, um assassinato que jamais se perdoou, mesmo que não fosse sua culpa.

Viu Shura se consumindo na atmosfera, e como Camus baixava a cabeça com pesar pela fatalidade.

Presenciou o próprio Camus congelando-se lentamente, enquanto a luz abandonava seus olhos, ao tempo que escorpião socava as paredes de seu templo. E como com Afrodite, sangue escorria de seu punho fruto da raiva e frustração.

Para então estava frente a si mesmo, que gargalhava e ria de toda a desgraça e miséria que havia causado.

A luz tornou a surgir, junto com o final da queda, que foi bem real para o que parecia ser apenas uma ilusão, o corpo do geminiano estatelou-se com um som surdo, enquanto mais sangue era cuspido de sua boca, perto dos pés de alguém.

- Patético. Esse era o cavaleiro de gêmeos? Aquele capaz de usurpar o trono do santuário por 13 anos? Apenas um pouco sobre o peso de sua alma e já não suportou.

Hermes fez menção de dar as costas, planejando retornar ao castelo rapidamente, antes que o pegassem ali, levaria Seiya consigo.

Contudo, parou seus passos ao ouvir o som de movimentação em suas costas.

-....Todos estão errados...- Saga se levantava devagar, seus cabelos lentamente assumindo uma coloração branca, enquanto seus olhos passavam a vermelhos vivos – Eu sempre tive uma natureza maligna desde o principio, eu só não sabia o que fazer com ela – Um sorriso torcido assumiu sua face – Mas agora eu diria que estou bem mais experiente, então, por que não começamos do começo?

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Notas Finais


Sejam bem vindos de volta!

* "Quando a batalha do santuário acabou, anos atrás, eu pude notar como Athena era, no fundo, apenas uma adolescente assustada com seus entornos" está é uma constatação, com outras palavras, de Muh no mangá após a batalha das doze casas.
* Para os esquecidos, na verdade, Aquiles foi amaldiçoado com a "enfermidade divina" por ter sido o direto responsável do fim de Persefone além da morte de Zeus, relatados no capítulo final da quarta temporada.
* Porém, apesar de vocês leitores saberem a verdadeira razão da maldição de Aquiles, isso é desconhecido para a maioria.
* A traição de Itia de Libra e Guateguard de Áries são acontecimentos passados de Lost Canvas, na época que Sage e Hakurei eram jovens.
* Para os esquecidos, em troca da ajuda de Afrodite na restauração dos Elíseos/Abrigar a alma de Albafica, Shun se prontificou a fazer Afrodite sobreviver ao Elo Camersim.
*Sétimo circulo do inferno - Golpe criado por mim. Na obra "A divina comédia" o sétimo círculo se refere ao rio Flegetonte, tão mencionado em G&P. Um rio de sangue fervente para qual eram enviados os que cometeram o crima da "violência". Por isso o golpe funciona como um refletor de movimentos físicos.
*Para os esquecidos, Shun "colocou" a alma do fantasma de Agathia, de Lost Canvas, numa rosa, láá na primeira temporada. Essa mesma rosa acabou ficando para trás quando Shun foi para o submundo. Nessa quinta temporada, MdM usou a flor para negociar com Shun sobre assuntos pertinentes a sua mãe, isso nos capítulos do passado.
* Um dos filhos mais novos de Aioria se chama "Ikki", não confundir com nosso Ikki padrão rs. E o primo que ele foi atrás é Shun, filho mais novo de Aiolos.
*Sim, MdM tem razão, Shaka chorava muito quando pequeno, antes de entender como funcionava o ciclo da vida e da morte, e fazia principalmente isso pelo destino cruel e morte das pessoas.

É isso! Espero que tenham gostado! Lembrando que o próximo sai entre segunda de madrugada da terça da oooutra semana, e será um capítulo do passado!


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