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História Guerra e Paz - Capítulo XCII - A ousadia de Leão -


Escrita por: KimonohiTsuki e JonhJason

Notas do Autor


Eu estou muuuito atarefada nesse fim de ano, então talvez a correção demore um pouco para sair, qualquer coisa, por favor, me digam nos comentários!

Capítulo 93 - Capítulo XCII - A ousadia de Leão -


Fanfic / Fanfiction Guerra e Paz - Capítulo XCII - A ousadia de Leão -

Capítulo XCII – A ousadia de Leão.

Kiki andava com dificuldade, sendo guiado por um prestativo Havok, que auxiliava seus passos com a perna falsa feita de corais, enquanto ainda tentava oferecer seu ombro de apoio ao mais velho, o que não estava funcionando tão bem, já que o garoto tinha quase metade da altura do outro.

A cada passo, o lemuriano não deixava de se impressionar mais com a arquitetura do lugar. Atlântida possuía uma estrutura circular tal qual contavam as lendas, várias ruas partiam diretamente de uma grande meseta que se originava no centro da cidade, onde era possível ver o que restava de uma antiga estátua de Poseidon provavelmente de qualquer parte da ilha.

As ruas eram feitas de blocos de mármore que, mesmo corroídos, forjavam o movimento de ondas, de certa forma semelhante a calçada de Copacabana que Geki lhe mostrou em fotos uma vez, porém feitos de puro mármore talhado ao invés dos mosaicos portugueses usados no calçadão brasileiro.

E dos dois lados das vias diagonais que se juntavam à meseta, haviam construções clássicas gregas, com suas belas e perfeitas pilastras, e, no entanto, elas estavam rachadas pelo tempo, alguns quantos pilares quebrados, e ainda haviam marcas de corais, que provavelmente haviam sido arrancados, que tinham crescido ao redor das antigas construções, não melhorando muito seu aspecto de abandonada.

Ainda assim, não deixava de pensar que era um cenário digno de um sonho, pois se toda aquela estrutura milenar não fosse impressionante o bastante, os entornos não eram feitos apenas com o mármore impecavelmente branco, pois aqui e ali também haviam detalhes inteiros feitos com um cristal translucido de cor azulada, que reconheceu ser águas-marinhas, uma joia que se assemelhava a um pedaço do próprio mar congelado.

- É bonito, não é? – Comentou Havok, não deixando de notar como o maior parecia encantado.

-...Absolutamente – Concordou o lemuriano sem pestanejar – Nunca imaginei que algum dia poderia ter a oportunidade de ver esse lugar pessoalmente, mesmo tendo estudado tanto sobre.

- Você tem interesse sobre Atlântida? – Os olhos do pequeno brilharam de antecipação pelo detalhe.

- Sim...Eu...- Então sentiu-se um pouco sem graça, e em dúvida sobre revelar isso ou não, uma vez que mesmo Thetis não mostrou sinais de saber sobre esse detalhe.  - ...Tenho uma certa ligação com Atlântida, eu diria.

- SÉRIO?! – A criança praticamente gritou, fazendo Kiki dar um solavanco, tendo a clara impressão que cairia no chão, porém mais corais apareceram ao seu redor para sustentá-lo – Ah! Me desculpe por isso, por favor.

- Tudo bem, não se preocupe– Sorriu aliviado, a sensação de perda de equilíbrio e a falta de um membro para sustentá-lo era absurdamente agonizante como poucas coisas que experimentou na vida, mas o menino o lembrava um pouco de Rivera, por isso não podia irritar-se com ele de modo algum. 

O Dragão Marinho se conteve o resto do percurso, até que chegaram a uma enorme fonte, onde a quebrada estátua de Poseidon se encontrava, da qual da ponta de seu tridente jorrava a água que banhava a estrutura, recordando Kiki do mito de Atenas, onde o rei Cécrope I, pai de Erisictão de Aquário, numa disputa de presentes, não deu a vitória a Poseidon que fez jorrar água salgada com seu tridente, embora algumas versões do mito também diziam que ele ofertou aos gregos antigos os primeiros cavalos ao invés disso.

- É uma fonte de água salgada? – Não pôde deixar de perguntar, ao tempo que se aproximava mais, chegando na base do monumento, notando que a escama de Cavalo Marinho, Chrysaor, Lymnades, Kraken, Sirene, Scylla e Dragão Marinho se encontravam sendo banhadas pelo liquido que jorrava, as últimas duas sendo as únicas armaduras que não estavam completamente injuriadas.

- Nãaao, essa fonte é diferente daquela do mito da fundação de Atenas – Explicou com simpleza o menino, ajudando o cavaleiro de ouro a sentar-se em um pequeno muro circular que cercava a estrutura. - É uma fonte curativa, feita de água doce, também é a única fonte potável daqui.

Áries não pôde deixar de se impressionar que o menino de não mais que dez anos, reconhecesse prontamente a referência mitológica que havia pensado.

- Colocamos as escamas aqui na esperança de que se recuperassem, mas isso levará anos nessa velocidade – Seguiu com tristeza o pequeno marina, e o cavaleiro precisou de sua ajuda para curvar o corpo, estando sentado, para ver que, de fato, muito lentamente, a superfície dourada parecia remendar-se lentamente. – Isso porque o Oricalco que nosso senhor usou de base para criar nossas vestimentas, agora, não existe mais em Atlântida – Sua expressão entristeceu-se mais – O que restava não resistiu ao descongelamento da ilha, e a formação de mais leva, pelo menos, 700 anos.

- Eu ainda tenho dúvidas sobre revelar tanta informação assim a um antigo inimigo. – Ambos voltaram-se à voz, Kiki mais lentamente, pois seu tronco ainda causava-lhe dor. Para encontrar-se com duas pessoas que se aproximavam.

Um homem negro de cabelos brancos compridos, um olhar afiado e claramente desconfiado, usava roupas formais como Isaak e o próprio Havok, um terno azul escuro, uma camisa azul clara aberta e sem gravata, e calças negras. Ao seu lado, encontrava-se Épios, usando roupas mundanas, seus longuíssimos cabelos negros presos em um coque meio solto, e havia manchas de sangue em sua camisa branca. O médico era ligeiramente menor que o marina, coisa de apenas um centímetro.

O lemuriano encarou com firmeza e até mesmo rancor o homem de Poseidon, mas era uma expressão diferente a que dirigiu para Isaak. Kiki lembrava muito vagamente da aparência de Krishna, tendo-o visto apenas de bruços contra o chão, já morto, após seu confronto com Shiryu, mas mesmo assim, jamais esqueceu seu cosmo que ainda estava presentes nos olhos do antigo cavaleiro de Dragão na ocasião que ficou definitivamente cego após sua luta com Chrysaor.

- Se for pensar desse modo, eu também sou um inimigo. – Concluiu calmamente o antigo cavaleiro de serpentário, cruzando os braços para a interação áspera – Mas eu creio que nesse momento o que mais importa é o velho dito “O inimigo do meu inimigo é meu amigo” não acham?

- Siiim! O senhor médico tem razão! – Reforçou Havok, colocando-se frente a Áries e estendendo seus braços de forma protetora – Kiki é aquele que finalmente libertou nosso senhor, não apenas isso, ele tem a capacidade que precisamos para restaurar nossas escamas e partirmos para o santuário! Com todo o respeito senhor Krishna, ele é nosso aliado até que eu ou nosso senhor Neroda determine o contrário.

Nunca em sua existência, nem na única vez que bebeu mais do que deveria numa folga descontraída que passou com Geki em Atenas, passou por sua cabeça a possibilidade que um dia seria protegido desse modo por um marina. Quem dirá o Dragão Marinho.

Quanto a essa colocação Krishna apenas fechou seus olhos meditativo, para logo tornar a abri-los.

- Muito bem, que assim seja, se essa é a vontade de nosso líder, não irei contra ela – Isso fez o pequeno Neroda ruborizar-se ligeiramente. Por outro lado, toda essa atitude do mais velho fazia Áries lembrar-se de Shaka. – Porém, independente de suas habilidades, Lemuriano, sem Oricalco não há muito que mesmo você possa fazer.

- O comandante Sólon de Anfisbena foi junto a Kandam e Kanya Kumari, além de Pytheas de Dragão marinho, os criadores das escamas. - Começou o deus da medicina repentinamente. - Não é qualquer um.

- Sólon? – Repetiu impressionado Havok – Esse é...

- O grande traidor – Colocou Krishna franzindo a expressão.

- Para vocês sim – Acrescentou Épios com conhecimento de causa. – Mas para os cavaleiros de Athena ele foi o primeiro, e um dos mais importantes, Grandes Mestres do santuário, e Kiki é um descendente direto dele.

- Nossaa! – Exclamou Dragão Marinho, encarando o ferido com um novo interesse fazendo-o apenas sorrir constrangido. – Eu não sabia disso! Um marina cavaleiro como o Isaak! Embora...- Hesitou – Isaak não chegou realmente a ser cavaleiro...

- Por ter ido para o lado inimigo e ajudado a destruir Atlântida, que Sólon de Anfisbena é considerado um grande traidor, além disso, ele envolveu outros de sua raça na criação tanto das escamas quanto das armaduras de Athena, colocando em seu próprio povo um alvo na cabeça, considerados perigosos devido a sua capacidade de criação, mais do que a gigantomaquia, Sólon é o principal responsável da quase extinção de sua raça, que começaram a ser caçados com o inicio das guerras santas, principalmente pelo deus Ares. – Mesmo Épios voltou-se surpreso para Chrysaor e o quão longe iam seus conhecimentos.

- Como você pode saber de tudo isso? – Inqueriu, mesmo tendo conhecido Sólon pessoalmente, não foi nem um pouco fácil para si mesmo reunir informações sobre seu velho líder.

- Eu ousei investigar o passado de Atlântida nesses vinte anos, mesmo sem o consentimento de meu senhor. – Explicou com simpleza erguendo o rosto para encarar a gigantesca estatua de seu deus da qual jorrava água purificada. – Tanto eu quanto Sorento viemos para essas ruínas várias vezes, e nos esforçamos para traduzir a história antiga preservada em murais. E mesmo ainda hoje não conseguimos entender tudo. – Fez uma ligeira pausa, baixando a face para ver agora um surpreso Havok – Precisamos conhecer o passado para não repetir seus erros. Por isso, embora aceite a decisão de meu líder de considerar Áries um aliado por suas ações, ser descendente de Anfisbena não é exatamente um ponto a seu favor. A serpente nascida no deserto, porém, capaz de nadar, composta por duas cabeças em seus extremos opostos. O homem que serviu a dois senhores, responsável pela queda de Atlântida e da extinção dos seus.

Quanto a essas informações, Kiki baixou a cabeça. Não podia dizer que não sabia dessa história, depois de tanto ter revirado o passado, depois de ter tantas vezes seu nome vinculado a Sólon, não tinha sido difícil deduzir também que ao envolver sua raça de cabeça na criação de proteções para guerras divinas, o velho ariano acabou por ser seu principal condenador.

- Não se enganem, Sólon jamais se isentou de sua culpa, todo o contrário – Quanto a isso Épios suspirou longamente – O arrependimento dele o perseguiu por toda a sua vida, ser responsável direto da destruição de Atlântida, de seu povo, da morte de seu melhor amigo, é algo que o atormentou até o fim, talvez o único instante que teve de verdadeira paz foi quando ele foi morto. E ainda assim, depois da morte, sua alma se dividiu como aconteceu com todos os seus, e tenho sérias suspeitas de que metade dela segue penosa no santuário até hoje – Dizendo isso encarou diretamente Kiki, que exaltou-se com o comentário.

- Como assim “sua alma se dividiu como aconteceu com todos os seus” o que quer dizer com isso?! Quando nos conhecemos na África há 18 anos e eu te perguntei sobre Sólon, o senhor não mencionou nada disso! – Exclamou, terminando com uma ligeira expressão de dor.

- É claro que não, você só tinha treze anos, eu não sou Athena, sei muito bem as consequências de colocar muito peso nos ombros de alguém tão jovem – Disse com uma expressão de dor em clara referência a Erisictão – Além do que, não fazia diferença você saber naquela época, não ia mudar nada. – Então voltou-se a Krishna que o encarava interessado – Por ter traído seu deus original, Poseidon, e causado a ruína do mesmo e de seu povo, Sólon ao morrer teve sua própria maldição, aquele que foi o primeiro a atrever-se a servir dois senhores, teve a alma partida ao meio quando pereceu, e o mesmo aconteceria com todos os seus descendentes. Não acha que isso já é castigo o suficiente pelo que ele fez a vocês? Ter a alma dilacerada desse modo.

Krishna não respondeu, franzindo ligeiramente a expressão.

- O que acontece com quem tem a alma partida...? – Porém a pergunta, ironicamente, partiu de Havok.

- Ela se torna corrupta mais facilmente, se perde em si mesma, mas também pode dar origem a mais de um ser, que podem se tornar vis ou não, mas sempre tem uma tendência maior a sucumbir frente a uma Natureza Maligna. Máscara da Morte de Câncer e Afrodite de Peixes são ótimos exemplos disso, eles são parte da alma original de seus signos, Mortalha e Nasciso, respectivamente, enquanto Piada Mortal e Albafica II são a outra parte. – Dizia vendo entre o pequeno marina e o cavaleiro – Algo parecido também aconteceu com Castor e Póllux, mas no caso deles, ambos eram duas almas distintas que se juntaram para evitar a morte de Castor, e que foram separadas erroneamente ao reencarnarem, o que acabou corrompendo enormemente os dois espíritos.

- Agora sou eu que devo perguntar como você pode saber de tudo isso – Inquiriu Krishna com seu arrojo característico, sem mostrar grande respeito ao deus, mas Épios, acostumado a viver entre humanos, não pareceu se irritar.

- O amor da minha vida e o mais próximo de um irmão que eu já possuí tiveram as almas condenadas por milênios, lembra? Se você estivesse no meu lugar também estudaria o ciclo de reencarnações – Porém não se irritar com o pouco decoro contrário não significava que não responderia grosseiramente a ele por seu atrevimento. – De todo modo,  é por isso que vocês Lemurianos levam tanto tempo para reencarnar e são tão diferentes entre si, e ao mesmo tempo tão iguais.

- Isso aconteceu comigo também...?- Questionou incerto Kiki – Já que me chamam tanto de descendente de Sólon.

- Mas é claro que aconteceu, não te chamamos assim à toa. – Colocou a divindade como se fosse óbvio – Você é a reencarnação de Hegias de Altar, o filho mais novo de Sólon, enquanto seu mestre é a reencarnação do irmão mais velho Hegesias, o segundo cavaleiro de Áries.  A dualidade da serpente de duas cabeças seguiu Sólon até quando ele teve vocês, dois filhos, dois senhores, mesmo na morte da sua última reencarnação, ele ainda sofreu frente a isso, porém dessa vez pereceu pelas mãos da Dualidade de Gêmeos.

-...Você quer dizer que ele foi morto por um cavaleiro de gêmeos – Começou Kiki, Épios apenas confirmou com a cabeça -....ESPERA UM POUCO! Você não pode estar querendo dizer que...Meu avô Shion é a reencarnação do primeiro ariano?!

- Bem, não é como se Gêmeos saísse matando Áries a cada reencarnação, e sinceramente, eu estou surpreso que você não percebeu isso antes – Acrescentou – Eu pude perceber assim que o conheci, na ilha de Milos, e o guiei até o próprio Milo. – Kiki apenas o observava chocado quanto a essa constatação. – Seus cosmos são levemente parecidos, embora é muito dizer que são a mesma pessoa, como eu disse a alma de Sólon se partiu, então ele é só metade do meu velho companheiro, e como eu disse também, tenho sérias suspeitas de que metade da alma dele segue penosa no santuário até hoje. Você mesmo me disse Kiki, quando nos conhecemos, que foi um fogo fátuo do pilar de Áries que te guiou até meu livro.

-...Sim...- Confirmou o lemuriano, encarando suas próprias mãos abertas – Não apenas isso, tenho certeza que foi Sólon também que me guiou até o selo de Poseidon e me orientou a libertá-lo.

- Então se eu entendi esse Sólon nos ajudou no final – Adentrou novamente na conversa Havok, ao que Kiki confirmou com a cabeça, e o pequeno Dragão Marinho sorriu, sem entender ao certo porque essa constatação o deixava tão feliz. Provavelmente era porque o traidor de algum modo buscou sua redenção mesmo no pós morte.

Ou talvez fosse algo ainda mais profundo que isso.*

- Não me surpreende – Seguiu o deus médico – A culpa por dar as costas ao seu deus original e seu povo sempre o perseguiu, além disso, o próprio Poseidon me disse que foi Sólon que implorou que ele te ajudasse. Há milênios Mortalha Estirpe de Câncer usou suas habilidades para tomar fragmentos de alma dos treze primeiros e depositá-los na armadura de Altar, não apenas dando a ela a propriedade de lutar e parar qualquer um dos treze ao seu portador, como também servindo de receptáculo para os fragmentos até que um local apropriado para resguardá-las fosse criado*. Porém simples fragmentos não tem tanta personalidade como essa chama mostrou ter  contigo, não são capazes de se comunicar tão abertamente, ainda mais com seres que não são ctônicos, então aquilo deve ser mais que um simples fragmento, deve ser metade de sua alma que assombra até hoje o santuário, esperando o dia que enfim terá redenção e paz.

-...A câmara dos antigos, a câmara secreta sob os pés do Grande Mestre – Recitou Kiki sem se importar que dois Marinas ouvissem o que deveria ser um segredo – Shiryu me disse uma vez que as chamas sobre os altares são fragmentos da alma dos primeiros cavaleiros de ouro, as mesmas que vão para o Grande Relógio quando este é aceso, como se estivessem olhando por nós, mesmo nos momentos mais difíceis – Engoliu em seco – Então isso é realmente verdade? Foi o primeiro cavaleiro de Câncer que fez isso?

- Sim, Mortalha era insano, mas ao mesmo tempo era um gênio – Confirmou Épios.

- E a décima terceira chama? – O deus franziu a expressão quanto a sequência dos dizeres do lemuriano - Ela simboliza que o santuário sempre deve ter um líder...

- Há uma décima terceira chama? – Questionou o filho de Apolo confuso.

- Sim...

- Vocês têm uns rituais estranhos – Não pôde deixar de comentar Havok com certo desgosto – Fragmentando almas assim e usando-as como se não fossem nada....

Porém os mais velhos não consideraram o comentário do menor.

- Não deveriam existir treze chamas, pelo que Sólon me disse quando começaram a construir esse lugar, deveriam ser só doze...A menos que... – Então ruborizou-se ligeiramente – Aquele idiota! Eu me lembro que ele chegou a mencionar que deixaria uma chama sempre acesa para que eu soubesse encontrar o caminho de volta para casa*, jamais imaginei que estivesse sendo tão literal assim! – Envergonhou-se - Ainda assim, em pensar que ele tornou isso um ritual de milênios...Esse Sólon...

- Ele parece ser mesmo uma boa pessoa – Seguiu Havok que tentava com todos as suas forças tentar acompanhar o assunto, enquanto Krishna mantinha sua pose indiferente habitual -...Ou um bom...fantasma?

 -...Sim, essencialmente ele não passa de um fantasma agora. – Seguiu Épios – Então eu não faço a menor ideia de como Poseidon fez para ouvir uma alma penada, ainda mais de tão longe... Ele não tem essa capacidade, tem? –  Virou-se para Chrysaor que também respondeu com um gesto de cabeça, dessa vez negativo - ... Então eu não sei, porque Shion não é capaz de recordar de sua primeira vida, afinal, uma metade não pode representar o todo. 

-...Isso significa que eu nunca vou lembrar de ter sido filho de Sólon? – Questionou Kiki claramente desapontado. – Por que...Eu também sou só...”Uma metade”...?

- Você deveria ficar feliz, eu nunca passei por isso, já que essa é minha primeira e única vida, mas recuperar as memórias de outras vidas deve ser um processo bem doloroso e enlouquecedor – Sua expressão tornou a se mostrar triste – Por isso, quando eu trouxe as memórias de Milo de volta, com a intenção de parar Camus, eu o fiz da forma mais suave possível, ele não merecia sofrer mais...- Respirou fundo, mesmo o lemuriano mostrou uma enorme dor ao ser recordado do fim trágico de escorpião - ...Mas se você insistir – Seguiu, disposto a mudar de assunto – Você pode tentar negociar com esse Shun para ter a alma de Gateguard de volta. Provavelmente assim você lembraria.

Isso fez a expressão do cavaleiro abrir em descrença e horror.

- Está me dizendo que a outra metade da minha alma se tornou um dos maiores traidores da história do santuário?!* – Quanto a isso, o deus apenas deu de ombros - ....Ótimo...- Seguiu com desgosto - E nem lemuriano ele é! Não sei se isso é bom ou ruim... – Suspirou penteando os cabelos com os dedos em sinal de exasperação – Seja como for, estamos perdendo tempo aqui, se Sólon fez tanto para me salvar, eu não vou defraudá-lo agora – Disse voltando-se às escamas sob a água – Farei isso pela redenção dele, a Redenção de Áries. Se não temos mais Oricalco puro para consertar as escamas... – Sua expressão se encheu de resolução, voltando a encarar a todos. – Então usaremos o que temos. Havok.

- Sim! – Respondeu prontamente.

- Você poderia buscar a máscara de amazona da minha avó? – O menino inclinou a cabeça confuso quanto a isso – As armaduras também são feitas de Oricalco, além de possuir também Gamânio e Poeira Estelar. Se eu derreter a máscara, ao menos já terei algo com que trabalhar.

Isso assombrou o mais novo.

- Você vai sacrificar uma relíquia de família assim? – Colocou com pesar, ao que o lemuriano apenas sorriu.

- Minha avó era uma amazona, se for pelo fim de uma guerra santa, tenho certeza que ela entenderia – Disse com convicção, mesmo não tendo a conhecido.

O Dragão Marinho hesitou por alguns segundos, mas logo confirmou com a cabeça e correu de volta para a enfermaria improvisada.

-...Agora...Eu só precisarei de uma fonte de calor, vocês têm algo assim aqui? – Questionou diretamente para Krishna.

- Não, apenas fontes de água quente – Colocou em seu tom estoico.

Quanto a isso Épios ergueu a mão.

- Eu sou filho de Apolo, serve como fonte de calor? – E para provar seu ponto, começou a esquentar sua mão erguida, ao ponto de parecer ferro em brasa.

- Isso é perfeito! – Exclamou feliz, começando a erguer as mangas – Eu vou precisar da ajuda de vocês dois, já que não consigo me mover direito e não quero voltar a ser nocauteado para descansar. Vamos consertar essas escamas e retornar ao santuário!

-.-.-.-.-.-

Antes do encontro de Muh e Máscara da Morte na casa de Afrodite, portanto, antes da ida do ariano para a Fonte de Athena ajudar Jabu e Rivera com os feridos e da partida de Máscara para o cemitério.

Durante o conflito de Geki e Egas contra Heitor, paralelo a chegada de Athena e os demais no cabo Sunion.

Ikki corria a toda a velocidade segurando Piada como se não fosse mais do que um pacote, apesar dos reclamos do mesmo em italiano e grego.

- Cale a boca maldito, ou se não eu te largo em qualquer lugar! – Exclamou impaciente sem deixar de correr em momento algum.

Estava irritado, mais do que o normal, primeiro seu irmão tinha caído naquele sono profundo, para logo o rumo dos acontecimentos o levar até Muh e Piada Mortal, em pleno Yomotsu, o que acabou arrastando-o de volta para o santuário, mesmo que fossem oficialmente inimigos, tudo com a esperança de minimizar as tragédias que ali ocorreriam para que seu irmão não se sentisse culpado por não ter podido intervir.

...Embora, para ser sincero, também fazia isso por si mesmo, tinha que admitir, mesmo que apenas um pouco, ainda se importava com os idiotas do santuário.

E em meio a isso estava Aioria. Chegou realmente a respeitar o leonino, mesmo que não puderam interagir muito, o reconhecia como um guerreiro forte, e podia entender plenamente os sentimentos desse para com seu irmão Aiolos.

E agora, pela segunda vez em quase vinte cinco anos, o Leão de Ouro estava sendo controlado novamente contra sua vontade, dessa vez pelo Miasma manipulado por Chronos, para matar mais inocentes como fez com Cassios no passado.

Não ia permitir que algo assim acontecesse, qualquer um poderia dizer que o leonino nunca se perdoou por se deixar manipular pelo Satã Imperial, quem dirá se algo assim acontecer duas vezes.

Porém algo chamou sua atenção, fazendo-o franzir a expressão.

- Alguém está se aproximando... – Disse, sendo um dos poucos capazes de realmente sentir as presenças em meio àquele desastre de Miasma.

- Eu nã– Mas o canceriano não teve tempo de terminar a frase quando uma energia branca e amarela vinha em sua direção.

- Segure-se!

- COMO?!

Ikki pegou impulso e deu um mortal para trás, evitando o golpe com uma agilidade e flexibilidade que vinte anos haviam lhe dado, por enfrentar frequentemente um deus caído do tempo que se movia rápido demais.

Embora tinha a impressão de que o golpe não tinha a completa intenção de acertá-lo, e teve certeza disso quando tornou a pousar no chão sob os gritos de “DE NOVO” de Piada, e reconheceu o cosmo que se aproximava.

O som metálico de passos o precedeu, para então à sua frente revelar-se a figura do segundo cavaleiro da terceira casa.

- Aaaaargh, você de novo – Disse com desgosto Benu, levantando-se – Kanon!

-...Eu deveria dizer o mesmo Ikki de Fênix – Disse a conhecida voz aproximando-se a passos sigilosos, lançando um breve olhar para Piada que conseguia se soltar e voltar ao chão agora que seu “transporte” havia parado. – Se é que ainda podemos chamar um desertor pela constelação que abandonou. Pelo que me consta, você deveria estar morto, e não aqui, junto ao aprendiz de Máscara da Morte.

- Ei! Eu tenho um nome! E é Piada Mortal! – Resmungou Câncer, mas foi completamente ignorado pelo mais velho.

- Eu o trouxe comigo – Apontou para o menino – Justamente para não acharem que eu sou inimigo.

- É isso aí! – Confirmou Piada.

- Como se eu fosse acreditar nos disparates de uma criança – Decretou Gêmeos assumindo postura ofensiva – Eu senti, todos sentimos, seu cosmo sendo emanado da mansão Solo enquanto ela estava sendo atacada, e agora você simplesmente aparece aqui no santuário meio a outro ataque? Não acha que é coincidência demais para eu simplesmente te deixar livre por aí?

- Como assim disparate! Eu não sei o que é isso, mas eu não sou um disparate não! – Seguia resmungando o pequeno.

- Eu sou um homem de ação Kanon, ao invés de um manipulador como alguns. É normal eu estar onde a ação está acontecendo – Respondeu, também assumindo postura de luta – Então se você não me deixar passar, eu terei que te obrigar, e farei isso com prazer.

- Eiii, eiiii, não me ignorem! Kanon! Ele não é inimigo, vai nos ajudar com o miasma! – Voltou-se ao espectro – Ikki! Kanon não é nosso inimigo! Vocês dois estão sendo ridículos E SURDOS!

- Saia do caminho aprendiz de câncer, eu não tenho qualquer intenção de deixar um traidor suspeito passar por mim. – Seguiu Gêmeos com rispidez.

- Olha quem fala sobre traição, o “Dragão Marinho”. Você também está agindo de forma suspeita até onde eu sei, explodindo o cosmo do nada, sem razão aparente. Será que o miasma afetou ainda mais sua cabeça?

- Névoa Venenosa Delirante!! *

Notando que nenhum dos dois irritados pareciam prestar-lhe a mínima atenção, Piada ergueu o braço direito para o ar, começando a criar assim, a partir de seu cosmo, dezenas e dezenas de bolhas similares as de sabão, porém arroxeadas e densas, como se houvesse fumaça tóxica dentro delas.

As esferas permearam todo o centro do quase campo de batalha, rodeando principalmente seu convocador.

- Desde quando um cavaleiro de Câncer usa veneno?! – Exaltou-se Kanon, tampando o nariz, enquanto o leonino se mantinha na mesma posição, apenas observando seus arredores.

- Desde o ano 500 mais ou menos, numa colaboração de pai e filho, entre Lancelot de Câncer e Galahad de Peixes. – Explicou com orgulho o canceriano agora que finalmente havia conseguido a atenção dos dois. – Eu a ‘redesenvolvi’  com a ajuda de Albafica, mesmo que ele não saiba disso, e vocês definitivamente não vão querer saber o que acontece quando essas gracinhas estouram. Então parem de ser uns surdos idiotas e me escutem! – Pigarreou, enquanto Gêmeos apenas lhe lançava um olhar impaciente, e Ikki cruzava os braços, sem deixar de encarar de malgrado Kanon. – Fênix é nosso aliado, ele sabe um jeito de nos ajudar com o assunto do miasma.

- E como você sabe fazer isso? – Perguntou o geminiano batendo a ponta do pé no chão. Com esse comentário, o espectro tinha a confirmação de sua suspeita de que Saga não o havia informado sobre sua identidade como espectro de Benu.

Isso seria por uma ordem de Athena? Porém ao recordar-se da postura da mesma descartou imediatamente a ideia, devia ser uma ordem, ou mesmo um pedido, do próprio Shiryu, não conseguia pensar em outra razão que impedisse o geminiano de revelar informação tão importante para seu gêmeo.

- Meu irmão morreu graças a essa coisa, caso não saiba – Espetou disposto, para alívio de Piada, a seguir o jogo, tudo que não precisava nesse momento era uma luta sem sentido com Kanon, havia amadurecido o suficiente nesses vinte anos como para ser ciente disso. Muito embora ainda sentisse uma vontade enorme de socar o rosto do ex marina por sua arrogância. – Eu pesquisei tudo a respeito dessa porcaria, principalmente de como pará-la.

- Você não faz muito o tipo “Pesquisador” – Ironizou, enervando ainda mais o leonino – Você realmente espera que eu acredite que depois de vinte anos desaparecido você veio amavelmente nos prestar sua “valorosa” ajuda? eu não sou idiota, Ikki. É óbvio que existe algo mais por trás de seu retorno repentino. – Contestou, encarando diretamente o outro – A última vez que nos vimos seu irmão tinha acabado de se tornar Hades e agora estamos cercados por esse mias-

Contudo, não pôde terminar a frase, porque no momento seguinte a terra simplesmente começou a tremer com certa intensidade, fazendo Piada cair no chão, imediatamente então, mesmo sobre a terra fria, o menor ergueu a mão novamente e elevou as bolhas venenosas para os céus, para que explodissem sem causar problemas, enquanto as construções de Rodorio que se erguiam à uma esquina pareciam prestes a ceder. Leão e Gêmeos, por outro lado, sequer vacilaram em seus lugares.

-...O que foi isso? – Questionou o espectro sentindo familiar o cosmo que resultou no tremor, mas sinceramente não lembrava a quem pertencia.

- Geki, sem dúvida! – Colocou Piada, levantando-se quando a instabilidade parou – Ele também está lutando, ele tinha ido ajudar Kiki há algumas horas!

-...Geki...? – Repetiu Ikki tentando se lembrar quem era esse.

- Está vendo senhor Kanon?! – Enquanto isso o canceriano deu um passo à frente, decidido, encarando o geminiano – Estamos em um estado crítico aqui! Não é o momento de andar por aí julgando aliados!

O heleno encarou de malgrado o menor, porém, por mais que odiasse admitir, tinha razão. Se preocuparia com Ikki depois, ainda precisava saber o que tinha acontecido com Saga, o claro desaparecimento de seu irmão o estava deixando no limite, precisava se controlar e acalmar, tinha que encontrar Irekuha ou qualquer outro lemuriano e ir para a Alemanha o quanto antes.

-...Creio que teremos que deixar isso para mais tarde, Fênix, mas saiba que se estiver do lado errado, eu não terei qualquer clemência de ti – Colocou prepotente o cavaleiro, emanando seu cosmo para provar seu ponto.

- Eu adoraria ver você tentar! – Exclamou, erguendo o punho. – Mas eu também tenho coisas maiores para me preocupar agora, Aioria está prestes a matar um dos seus nesse mesmo instante. Um canceriano que está usando todas as suas forças para resistir, mas muito em breve irá sucumbir.

- Como pode sentir algo em meio a esse caótico miasma? – Questionou novamente desconfiado Kanon, mas sua fala foi sobrepujada pela seguinte exclamação de Piada.

- ESPERA! Ele está para matar um canceriano?! Você não tinha me dito isso! – Exaltou-se.

- Eu aprendi a lidar com o miasma, ao contrário de vocês, eu não fiquei parado por vinte anos relaxando nesses tempos de “paz”. E eu não sei quem está lutando, mas pelo cosmo é claramente um canceriano, deve ser um dos que nasceram depois que eu saí do santuário – Colocou com simpleza, sem deixar de encarar Kanon e sua desconfiança. Estava mentindo parcialmente, sabia que quem lutava era a reencarnação de Hakurei, mas realmente não o conhecia ou sequer sabia como se chamava.

-...Então – Piada engoliu em seco, pensando rapidamente - Para estar lutando contra Aioria e ‘tankando’ ele...Não pode ser Nachi, meu mestre...Não, ele já teria chutado o traseiro do Leão – Benu franziu a expressão em clara descrença – Suikyo está na Alemanha ainda, então... – Sua face tornou-se lívida – É EGAS! Mas ele deveria estar com Geki!

Pânico começou a tomar conta do seu corpo infantil antes que pudesse evitar ou se conter, afinal, com memórias passadas ou não, ainda era uma criança que tinha medo de perder quem amava.

- Precisamos ir, me diga onde eles estão!! – Exclamou perdendo a compostura, agarrando-se ao braço de Ikki e começando a puxá-lo – Por favor, eu não quero perdê-lo!

Não de novo” – Pensava – “O velho Sage merece uma vida maior e melhor do que isso!”

Ikki surpreendeu-se com a mudança de postura do menor que agia insolente e descontraidamente até então, mas sinceramente, não teria força para repreendê-lo, era apenas um menino no final das contas, e as lágrimas que estavam prestes a cair de seus olhos não ajudavam. Que uma criança chorasse, independente de quem fosse, sempre o lembrava de seu pequeno irmão Shun, na época que ainda era fraco e totalmente dependente de si. Isso, sem que pudesse evitar, tocava seu coração.

- Tudo bem, vamos – E por uma vez mais encarou Kanon – E o que você vai fazer?

- Se Egas está lá eu- Contudo, o mais velho não continuou, para a surpresa e choque dos outros dois, a boca de gêmeos repentinamente abriu como se fosse exclamar de dor, mas nenhum som escapou de seus lábios, ao tempo que seus olhos perdiam o foco.

No segundo seguinte, o corpo do ex marina simplesmente estatelou-se no chão, como se estivesse morto.

- Mas...Como... O que aconteceu? – Questionou Piada confuso, voltando-se ao espectro e se aproximando do geminiano, notando que ainda respirava – O que houve com ele? – Começou a cutucá-lo – Kanon? Senhor Kanon?

Por sua vez, Ikki observava a cena com a boca ligeiramente aberta, começando a olhar para todas as direções.

- Foi você que fez isso?! – Questionou receoso o menor, parando protetoramente frente ao guerreiro caído, também começando a desconfiar de seu suposto aliado.

- Não. Você não me viu fazer algo, viu? Além do mais, eu não tenho essa capacidade – Acrescentou com desgosto aproximando-se de Kanon também – Apenas um deus poderia fazer isso sem que um espectro como eu pudesse localizá-lo, o que significa que seja quem for, não deve estar aqui na terra. – O menino ainda parecia confuso, para o que Leão acrescentou – Veja o bem, se você for um canceriano minimamente decente, vai entender o que houve com ele.

Quanto a isso, embora ainda desconfiado e em pose ofensiva, analisou novamente o mais velho, abrindo os olhos em choque com sua constatação.

-   Mas....Como....Isso pode ter sido simplesmente tirado dele assim?! Na nossa frente! - Colocou assombrado.

- É exatamente o que eu disse, apenas um deus conseguiria fazer algo assim, passando despercebido – Colocou agachando-se e encarando a face sem foco do geminiano – Meu irmão seria capaz, mas... – Parou, não fazia sentido Shun fazer algo assim, ainda estava inconsciente, e seria o primeiro a saber se ele tivesse acordado.

- Quer dizer que seu irmão pode simplesmente roubar a almas das pessoas como se não fosse nada?! – Exclamou Câncer apontando para a carcaça do geminiano, cuja alma simplesmente havia desaparecido sem uma razão específica. -  Como isso é possível?! Se Hades tivesse o poder de fazer isso, ainda mais de outro reino ou dimensão, as guerras santas jamais teriam sido estendidas por tanto tempo.

- Shun é mais poderoso do que Hades jamais foi – Colocou Ikki com orgulho, tornando a se levantar. – Além do que, ele tem total controle sobre as almas que ressuscitou, isso inclui a dele – Indicou Gêmeos com seu pé – E dos demais dourados que voltaram a vida vinte anos atrás. Porém, não foi Shun que fez isso, tenho certeza disso. Então tem que ser outro deus ctônico para conseguir algo assim, se for isso, a alma dele está razoavelmente a salvo, nenhum deus do submundo ousaria destruir uma alma, porque se fizesse isso, não apenas teria que lidar com Shun, como também com Moros e as Eumênides, ninguém está disposto a tanto. Ele deve ficar bem.

 Essa perda repentina da alma com certeza tinha algo a ver com Saga, pensava Ikki, da mesma forma que Saga havia conseguido convocar a alma do irmão há mais de vinte anos para destruir o muro das lamentações, tendo ambos partes da alma um do outro devido a má separação de sua primeira reencarnação. Se perguntava no que o geminiano mais velho andava medito para ocasionar tal fim.

- “Deve ficar bem”?! – Repetiu Piada vendo como Ikki voltava a encarar a direção para a qual corriam instantes antes – Vai simplesmente deixá-lo aqui, assim?

- Não era você que estava com pressa para salvar esse tal de Egas? - Rebateu Benu – Então sugiro que se apresse, já sinto a morte rodeando-o.

Piada engoliu em seco, olhando hesitante para o geminiano.

- Mas não podemos deixá-lo aqui assim! Ainda mais sem alma! Chronos podia se aproveitar disso, usá-lo de receptáculo! – Argumentou.

Porém Ikki não respondeu, voltando para a direção da área rural de Rodorio, mais precisamente onde ficava a antiga oliveira franzindo a expressão.

-...O que foi?

- ATRÁS DE MIM! – Exclamou o espectro, repentinamente, tomando posição frente aos dois cavaleiros - Explosão da Coroa Solar!!

Tudo aconteceu muito rápido.  Com ambas as mãos para baixo, Benu começou a invocar um enorme sol de chamas negras, com quase o dobro do seu tamanho, que imediatamente posicionou-se à sua frente, em modo de proteção.

Antes que Piada pudesse perguntar qualquer coisa, pôde ver chegando uma poderosa onda de choque em sua direção, engoliu em seco, armando sua própria proteção de chamas, mesmo que soubesse que não seria o suficiente para se defender, nesse instante então um brilho dourado surgiu ao seu lado, e com assombro testemunhou como a armadura de Gêmeos deixava Kanon e projetava-se na frente dos dois, com seus quatro braços montados de forma erguidas, com tal de suportar o impacto junto ao sol que Ikki havia produzido.

Funcionou, ambos conseguiram segurar a onda de choque, e as poucas pedras e pedregulhos que se dispersaram com o impacto, foram detidos pela técnica de Piada.

-....Hã...Obrigado – Disse para a armadura de gêmeos, que como esperado, não emitiu qualquer resposta, mas a força que a atingiu havia sido o suficiente como para rachar e partir uma das máscaras em seu elmo, aquela que demostrava uma expressão maldosa. -...Sinceramente, eu não imaginava que Geki fosse capaz de...TANTO – Colocou, tendo reconhecido o cosmo imerso naquela emanação.

Ikki apenas seguiu encarando a direção da qual a explosão partiu, o único “Geki” que se lembrava vagamente era de seu suposto meio irmão, mas nunca aquele inútil seria capaz de uma proeza dessas, mesmo que o cosmo fosse familiar, só podia ser um engano.

- Já perdemos muito tempo aqui – Contudo, deixou isso de lado, voltando para Piada e agachando-se para jogar, sem qualquer delicadeza, Kanon sobre seu ombro, enquanto tomava a criança e a colocava sentada sobre o outro ombro, forçando-a a segurar-se em seu pescoço para não cair no chão devido ao pouco espaço – Essa onda também os atingiu, precisamos nos apressar.

Lançou um último olhar a armadura de gêmeos, que simplesmente subiu aos céus desaparecendo de vista, deixando para trás parte de sua máscara partida.

- Onde ela vai?

- Provavelmente para a Alemanha, mas isso não importa agora. VAMOS! – E tornaram a correr na direção de Aioria.

-.-.-

No entanto, quem lutava contra Aioria não era outro senão Irekuha, o principal aprendiz de curandeiro de Kiki. Estava cheio de escoriações e queimaduras provenientes dos golpes envolvendo choques que recebeu do mais velho. Sua camisa estava quase que completamente destruída, revelando um tórax bem formado demais para quem deveria ser apenas um suporte médico. Sangue escorria do canto de sua boca, e parte de seu cabelo estava queimado.

Na sua frente, encontrava-se o anterior cavaleiro de leão que também possuía visíveis queimaduras em seu corpo, parte de sua camisa e calça estavam negras a ponto da desintegração, suor permeava sua face, e sua expressão denotava um enorme incômodo e confusão.

Nenhum dos dois possuía uma armadura que os resguardasse, contudo, o que estava arrastando e muito aquele conflito era o fato de que ambos possuíam habilidades de cura e regeneração.

Nesse preciso instante Aioria estava usando o seu Rugido do Leão para recuperar-se de suas feridas que se curavam uma a uma em alta velocidade, enquanto Irekuha usava as habilidades inerentes de sua raça desde Sólon, para curar seus próprios ferimentos, contudo, não apenas não conseguia igualar-se com a rapidez contrária, como sabia que não havia energia para muito mais além disso.

Mas eu não posso deixá-lo ir nesse estado, quem sabe o estrago que pode causar” – Pensava com desgosto, encarando o homem fora de si, e dele para a raiz que se prendia em sua perna, como uma trepadeira espinhosa, que chegava quase ao joelho esquerdo do cavaleiro, essa coisa, seja lá o que fosse, sempre impedia que o leonino fosse arrastado para o Seikishiki, se não fosse por ela, já teria mandado a alma dele para o outro lado, e assim talvez acalmado seu ser da influência dessa fumaça arroxeada que tomava todo o fim do vilarejo.

Foi nesse momento que a enorme onda de choque proveniente do soco de um cavaleiro de touro os atingiu, sendo aqueles mais próximos da área de impacto depois de Julian, Albafica, Egas e os cavaleiros de prata, ela vinha destruindo tudo ao seu redor.

Imediatamente, Irekuha envolveu seus dedos indicadores em chamas azuis, girando-os para formar uma proteção, um escudo vermelho vivo, o mesmo que Piada havia invocado em outra parte de Rodorio para proteger-se da mesma emanação, golpe que havia sido criado por Máscara da Morte e ensinado a ambos.

E mesmo assim, ainda foi arrastado por oito metros, pelo chão de paralelepípedos que se ruíam ao seu redor, enquanto Aioria socava o chão com o seu Presas Relâmpago, criando assim uma parede cósmica para protegê-lo, a qual bateu de frente para com a onda de choque, criando um show de luzes e estrondos que forçou o curandeiro a fechar os olhos.

E esse momento foi fatal.

Antes que pudesse reagir, ainda desorientado pelas explosões, com um grito mudo se perdendo em sua garganta, o canceriano sentiu como algo perfurava sua perna direita.

Caiu de joelhos ao chão, trêmulo, desestabilizando sua proteção, recebendo o resto do impacto do golpe de Touro, por isso quando a sobrepressão negativa aconteceu, com o vento reverso voltando ao foco da explosão, acabou indo de cara ao chão, em meio a gemidos de dor,  assistindo como um dos ramos espinhosos saia de seu ferimento e voltava ao joelho de Aioria.

-...Essa onda... Espero que Egas esteja bem... – Grunhiu, tentando sentar-se e vendo como Leão também havia sido arrastado e cuspia sangue, estando de joelhos. – Nem assim você recuperou a sanidade, senhor Aioria?

O mais velho não respondeu, erguendo-se trêmulo e novamente assumindo postura de combate.

- Eu não vou permitir... Que condene o santuário novamente...SAGA! – Gritou o último reunindo seu cosmo, brilhando em dourado, e outra vez seus ferimentos começavam a se dissipar.

- Eu não sou Saga! – Colocou pela milésima vez exasperado o civil, reunindo sua própria energia para ao menos melhorar a situação de seu ferimento para que pudesse se levantar – A única coisa que temos em comum é o cabelo branco e comprido!

Porém, novamente o leonino era surdo às suas palavras.

- Coroa Relâmpago!! – Ao comando do mais velho, vários pilares de eletricidade começaram a surgir aleatoriamente ao seu redor, para vantagem do curandeiro, talvez sua única vantagem nessa luta, era que Aioria não parecia vê-lo realmente, fazendo com que todos seus golpes fossem cegos.

Porém ainda possuíam a velocidade da luz.

- Clone Espiritual!!* – Já havia tentado lançar tantas ondas do inferno, que havia acumulado o suficiente para fazer uma cópia fantasma de si mesmo, que foi atingido em cheio pelos pilares, enquanto o original, mesmo com uma expressão de dor, saltava para longe para evitar o foco do ataque.

Ao destruir a imitação, o corpo do leonino congelou, estando preso em uma emanação espiritual que muito se assemelhava a uma gaiola, embora fosse incapaz de vê-la.

- É minha chance... Chamas Demoníacas! – Exclamou, queimando as grades sobrenaturais que prendiam o leonino, o envolvendo numa torrente de chamas infernais, fazendo-o gritar de dor, mesmo que o objetivo fosse queimar o ramo que se ligava ao cavaleiro.

O que aparentemente estava funcionando. 

- ÓTIMO! Agora– Ergueu seu dedo indicador para o alto, abrindo assim um portal para o Yomotsu, com o objetivo de lançar a alma de Aioria para lá. - Ondas do Inferno!

Contudo, mesmo envolvido pelo fogo do submundo, os ramos não foram destruídos, e novamente impediram que a alma do grego deixasse seu corpo, envolvendo-o completamente, como uma prisão de espinhos que causou mais cortes e escoriações ao antigo guerreiro da quinta casa, como todas as vezes que havia tentado esse movimento antes.

- Droga! O que mais eu posso fazer?! – Exclamou, fechando com frustração o portal encarando a figura espinhosa à sua frente - ... Eu vou morrer aqui... Onde está Hayata com a ajuda? – E mesmo que questionasse isso, ainda se sentia aliviado que a irmã ao menos não estava aqui para vê-lo morrer, ou pior, perecer com ele.

-...Não importa o que você faça, eu não irei perder tudo novamente! – Exclamou Leão com ira, uma vez que a planta voltava ao seu joelho, deixando o cavaleiro novamente livre da prisão de sua alma.

- Você vai perder sim, caso não recupere a razão! – Exclamou o canceriano emanando seu cosmo a par com suas palavras – Estamos sendo atacados e você está aqui, perdendo tempo comigo! Eu deveria estar ajudando a curar os outros ao invés de estar aqui com os punhos erguidos, quem sabe o que pode ter acontecido com seus filhos, com Marin, ou mesmo com Aiolos. SUA FAMÍLIA PODE ESTAR MORRENDO E VOCÊ ESTÁ AQUI MATANDO QUEM PODERIA AJUDÁ-LA!

Isso fez o mais velho hesitar, levando ambas as mãos a cabeça em plena dor.

-...Minha....Família?! – Disse, fechando os olhos com força, lágrimas começando a cair de suas orbes – Eu...Saga...

- NADA vai mudar o que o senhor Saga fez no passado, mas enquanto existir ódio em seu coração, rancor e medo reprimido pelo que ele fez com você, o miasma não o deixará ir!

Aioria apenas se limitava a chacoalhar a cabeça, como se assim conseguisse se livrar das imagens que a invadiam.

Imagens de Saga encharcado com o sangue de Aiolos, enquanto gargalhava sobre o cadáver de Julian e Kassius, por vezes até mesmo de seus filhos menores, enquanto sempre evitava todos os seus golpes, até mesmo conseguindo imobilizando-o, mas sempre desesperando-o mais quando mostrava cenas de Marin nua, sendo arrastada pelos cabelos, mostrando claros sinais de violação.

No mundo real, fora de sua mente perturbada, Irekuha se surpreendia ao ver como Aioria estava em prantos ao ponto de que seu corpo começava a tremer.

- Justamente por minha família...Saga, que eu não vou mais permitir que você viva! Não existe redenção para uma alma como a sua!! – Dito isso, o cavaleiro começou a concentrar eletricidade e cosmo em seus punhos, o curandeiro via com assombro como as correntes elétricas passavam por todo o corpo do leonino, como se ele fosse o fio condutor, concentrando-se em suas mãos, criando assim uma imensa esfera de eletricidade – MORRA SAGAAAAA!! CHAMA RELÂMPAGO!

Irekuha deu um passo para trás, por reflexo do medo irradiado pelo sentido da autopreservação do seu ser de apenas quinze anos, ainda assim invocou novamente sua proteção que, contudo, rachou frente a absoluta massa de poder, pois o golpe era focado apenas em deter habilidades físicas, deixando-o vulnerável, tentou então cruzar seus braços numa última vã tentativa de defesa, sendo acertado em cheio.

Sentia, sem poder evitar, como seu corpo queimava, de dentro para fora, enquanto um grito de dor desgarrava sua garganta, seus músculos começavam a se contrair, sentia como seus órgãos internos, principalmente seu rim, se mexiam dentro de seu corpo, até que tudo cessou.

Sem forças, começou a tombar, ia estatelar-se no chão...

- IREEEEEEEEEEEEKUUUHAAAAAAAAAAAAAA!

E então sentiu algo quente o segurar, embora ainda assim pôde ouvir o som de um corpo estatelando-se no chão, para em seguida ouvir passos apressados em sua direção.

-...Quem...É você? – Questionou para a figura bronzeada que o encarava, de cabelos azuis espetados e olhos que pareciam ter visto muito na vida.

E na morte.

- Você lutou e resistiu bem, cuidarão de você do outro lado – Disse como uma voz suave, que não sabia que o homem rara vez empregava, enquanto o deitava com cuidado no chão.

-  ...Do outro...Lado? – Disse, para então levar a mão ao peito com uma intensa sensação de dor.

- Não, não, não, não!! – Piada jogou-se ao seu lado, de tal modo que, se não estivesse usando armadura, teria rasgado seus joelhos – Não! Ele não irá para lado nenhum! Ele ficará conosco!

- O choque que ele recebeu sem armadura acarretou em uma fibrilação ventricular. O coração não consegue mais bombear sangue, ele não vai viver por muito mais tempo, eu sinto muito – Disse dando as costas e vendo Aioria, que o encarava surpreso, tentando assimilar com sua mente nublada quem estava à sua frente.

- COMO SE EU FOSSE PERMITIR! – Berrou o menor, que juntou os braços e começou a fazer uma massagem cardíaca, com tudo que podia, enquanto o lemuriano balbuciava palavras sem sentido.

-...E....Ga...s...Ha...ya...tah.....Ri..ve aaaah raaa.... – Dizia, sua respiração falhando.

- Aguente Irekuha! Por favor! Aguente!! Egas jamais se perdoará se você morrer assim!

Ikki apertou os punhos com força, a igual que seus olhos. Se usasse um pouco de eletricidade contra o coração da reencarnação de Hakurei, o órgão poderia voltar a bombear sangue como deveria, contudo, como espectro não possuía o direito de retardar a morte de alguém, não sem que seu senhor fosse beneficiado com isso.

Porém, também não podia simplesmente ignorar o choro do menino, era como se estivesse ignorando um apelo do próprio Shun pequeno.

-....Você.... – Ao seu tempo, Aioria dava um passo para trás, em pânico - ...Não deveria estar vivo...

- Piada Mortal, o que você está disposto a fazer para salvar a vida desse jovem? – Colocou Ikki, em tom grave, enquanto começava a emanar seu cosmo com ferocidade.

-...Eu...Eu faria tudo que está ao meu alcance! – Exclamou com sua voz infantil embargada, sem jamais deixar de empurrar o coração do mais velho – Eu não quero... Que a vida do meu velho seja arruinada assim! Tão cedo! Ele que me deu tanto, que cuidou tanto de mim! Não merece perder o irmão dessa forma, ainda mais sendo Irekuha, que sempre nos ajudou, que abriu mão de uma armadura para zelar por todos! EU QUERO RETRIBUIR TUDO QUE ELE FEZ! EU NÃO QUERO QUE ELE MORRA!

- Muito bem...- Então Benu abriu seus olhos, que brilhavam em amarelo vivo, enquanto sua cosmo energia aos poucos começava a se tornar negra. “-Daidalos

“- Ele não está presente no momento, em que posso ajudá-lo~?” – Colocava a voz travessa de Kairos.

Perfeito, era de você mesmo que eu precisava.”

Isso claramente desconsertou o deus caído, nunca em sua vida imaginou que escutaria essas palavras do mais novo, porém, vendo a situação em que estava através do espelho, pôde entender em parte sua seriedade.

“-Parece que você foi pego em meio a um graaande fogo amigo, me pergunto para o que você me necessita em cenário tão caótico.”

Como irmão do imperador do submundo, eu ordeno que você pare o tempo desse humano chamado Irekuha” – Colocou com profundidade, fazendo Aioria recuar pelo cosmo negro que começou a ser emanado.

“- Ora, ora, mas que ousadia meu jovem!” – Ironizou o deus – “- Lamento dizer, meu segundo senhor, que não posso fazer isso, a menos que...”

“Eu sei, e o garoto está disposto a pagar o preço...Contanto que ele seja condizente com o que lhe é dado, e com a sua idade.”

“- Hmmmmm~ Certo, muito bem, meu segundo senhor, precisamos mesmo de um substituto para o nosso canceriano, o contrato dele já acabou~”

O deus caído pareceu passar a falar com a mente de Piada Mortal, se o salto que o menino deu fosse algum indicio.

- Como você pode estar vivo?! Como pode ter um cosmo assim tão sombrio?! QUEM É VOCÊ REALMENTE?!

- EU SOU IKKI, O ESPECTRO DE BENU – Berrou a par o leonino, sem dar a mínima se alguém mais podia ouvir ou não - COMANDANTE DO SUBMUNDO, E AQUELE QUE VAI TE TRAZER DE VOLTA A REALIDADE AIORIA DE LEÃO, NEM QUE SEJA A FORÇA! – E seu cosmo se intensificou ainda mais, forçando o outro a invocar uma nova Presas Relâmpago para se proteger.

Câncer, por sua vez, tomava como podia um temporalmente congelado Irekuha em seus braços, apesar dele ser mais alto, para desviar daquele cosmo nocivo.

- Você é idiota, por acaso?! - Exasperou-se, enquanto seguia negociando com o deus caído.

Por sua parte, o espectro já não lhe prestava atenção, quem dirá o antigo cavaleiro de ouro.

- ...Espectro... – Repetiu desorientado - ...Essa energia negra...Então...Você...- Dizia pausadamente, de forma hesitante – Vendeu sua alma, Ikki?!

- Sim, Athena é uma vadia e eu estou muito melhor servindo o imperador Hades – Quanto a isso o italiano virou-se com completa descrença para o japonês.

- O que você está fazendo?!

- Se ele está tendo visões terríveis por causa do miasma, eu quero mostrar para ele que a realidade pode ser ainda pior – Explicou com simpleza, cruzando os braços, numa pose similar a da casa de touro.

- E o que você acha que vai conseguir com isso? – Questionou o menor, se dividindo entre as duas conversas.

- Que ele se foque na realidade, que é o que realmente importa, nenhuma ilusão, seja ela positiva ou negativa, supera a dor e a felicidade que a realidade pode nos proporcionar. - Então acumulou seu cosmo no seu punho esquerdo, levando-o para trás.

- Eu não posso acreditar que você desceu tão baixo, IKKI! - De igual maneira, o leonino maior também levou o punho para trás, brilhando em dourado. - VOCÊ, QUE EU TINHA ESPERANÇAS DE UM DIA SER MEU DISCÍPULO!

- GOLPE FANTASMA DE FÊNIX!

- CÁPSULA DO PODER!!

Os guerreiros correram na direção um do outro, seus golpes se chocando, sendo que nenhum defendeu o golpe contrário, Aioria recebeu o indicador do japonês em sua testa, enquanto Ikki recebeu o soco elemental em cheio em seu rosto.

- Você é maluco! Até eu conheço esse golpe, onde isso irá ajudar em alguma coisa?! – Exasperou-se o pequeno canceriano – Primeiro berrando coisas que deveriam ser segredo e agora isso, qual a razão de eu ter vindo contigo para convencer que você não é inimigo, se você faz questão de exibir esse cosmo negro por aí?!

Como esperado, não houve resposta, quando ambos recuaram o punho novamente, concentrando energias similares, porém, a de Aioria eram raios dourados, enquanto a de Ikki eram raios negros e vermelhos.

- Relâmpago de Plasma!!

- Relâmpago negro!!

E dezenas, talvez centenas de feixes brilhantes surgiram de todas as direções, cortando tudo em seu caminho que a onda de choque de touro não havia levado.

- Eu vou para a Fonte, não tem mais razão para eu ficar aqui – Murmurou para si mesmo, apertando Irekuha para mais perto de si – A cada minuto que eu perco tempo com esse idiota, é um ano a mais que tenho que servir como coletor ao submundo – Acrescentou com ligeiro arrepio – Pelo menos o cara de cabelo verde parecia legal...

Então virou-se para trás, vendo como o corpo de Kanon se levantava de forma torta e desengonçada, como se estivesse sendo controlado pelas linhas de um títere muito desajeitado.

- ...Hãa...Tem certeza que consegue carregá-los? – Questionou - ...E qual o seu nome?

- Desculpa! É minha primeira vez possuindo alguém – Colocou desajeitadamente numa voz muito mais calma do que o dono daquele corpo costumava ter – Quando eu estava vivo, eu não era nem longe tão alto ou tão forte, andar é mais difícil do que parece...Ah, e eu me chamo Íatros é um prazer.

-... Certo...Eu sou Piada – Colocou com desconfiança, sem entender porque de todas as almas que aquele Kairos podia lhe oferecer para possuir o corpo de Gêmeos para ajudá-lo a chegar a fonte com Irekuha, tinha que ser justamente essa. “Ela possui tudo o que você precisa~” ele disse com aquela vozinha maliciosa, mas por onde quer que olhasse parecia ser apenas um turista surpreso com a paisagem de um novo país, não passava nenhuma segurança.

Era isso que significava ter um serviço conforme o preço?

- Então vamos embora daqui. – Voltou-se uma vez mais a Benu – VOCÊ CONSEGUE RESOLVER ISSO SOZINHO?! – Berrou, enquanto seu inusitado ajudante tomava com cuidado o curandeiro em seus braços.

Por sua vez, Ikki limpava o sangue de seus lábios, com um sorriso.

- Sim, não se preocupe, eu lido com Aioria. – Entrou novamente em postura de batalha - Se ele acordar e perceber que matou outro inocente estando controlado, jamais se perdoará, por isso salve esse menino, enquanto eu cuido do resto.

- Está bem – Virou-se para o pseudo-Kanon - Vamos!

O mencionado confirmou com a cabeça, e os dois saíram.

- Muito bem Aioria de Leão! – Exclamou o ex Fênix estralando seus dedos com antecipação, enquanto o cavaleiro cuspia o sangue que tinha na boca, o corpo de ambos cheios de cortes. – Agora você pode vir com TUDO, eu vou te mostrar que eu era bom demais para ser discípulo de alguém como você, um reles mortal comparado a mim, que sou praticamente um semideus do inferno!

- ORA! Seu insolente! – Leão então ergueu o punho direito, dessa vez, socando o céu - Centelha Relâmpago!!

- Centelha do inferno!!

Como se fosse um espelho, o espectro repetiu o mesmo movimento, e assim ambos cortaram o ar, formando uma barreira de eletricidade, que simplesmente chocou uma contra a outra, fazendo ambas se dissiparem.

- O que foi, isso é tudo que você tem? – Ironizou.

Por sua vez, Leão piscou, confuso.

- Como você pode conhecer esse golpe para reproduzi-lo?! – Exaltou-se, levando uma das mãos à cabeça – Eu nunca mostrei ele a você antes... Apenas Julian...Julian – Começou a olhar ao redor, confuso – Onde ele está...Ele estava aqui, Saga o tinha...

- Esqueça tudo isso, e apenas lute comigo! – Exclamou, batendo contra o próprio peito com força – Athena, “Julian”, nada disso importa, apenas eu e você!

- Mas... – O leonino hesitou – Eu não entendo.

- Se não vai atacar, eu atacarei! FÁTUO RELÂMPAGO! – E exatamente como havia feito com Irekuha, as correntes elétricas, novamente negras e rubras percorreram todo o corpo do espectro, chegando em suas mãos, criando também uma imensa esfera de eletricidade.

Rapidamente Aioria respondeu com seu Chama Relâmpago, porém como nas outras vezes, os movimentos se chocaram e se anularam, porque eram essencialmente os mesmos.

Sequer estavam mais conseguindo ferir um ao outro naquele conflito.

- ...Uma...Guerra de mil dias? – Perguntou para o nada, agora levando ambas as mãos a cabeça - ...Por que estamos lutando afinal?

- Não é óbvio – Colocou Ikki com arrogância – Você é um cavaleiro de Athena, eu sou um espectro a serviço de Hades. Por que questionar a razão disso agora, cavaleiro?! - O mencionado piscou. – Será que seu juramento para com a terra finalmente está para vacilar?!

- JAMAIS! – Exclamou com orgulho – Eu sou um cavaleiro até o fim!

- ENTÃO ME MOSTRE DO QUE VOCÊ É CAPAZ, CAVALEIRO DE LEÃO!!

-....Sim...SIM! – Bramou o cavaleiro, com seu cosmo se elevando mais e mais, focando-se no inimigo à sua frente. – EU NÃO IREI PERDER, ESPECTRO! INVOCAÇÃO DE FÓTONS!

Esticando ambos os braços, o heleno criou milhares de pontos brilhantes ao seu redor, a igual que de Ikki, muito semelhante à estrelas.

Por sua vez, Benu imitou o mesmo movimento de mãos.

- INVOCAÇÃO DAS TREVAS!

Várias esferas negras de energia formaram-se envolta de ambos.

- Aceleração de Fótons! – As estrelas começaram a girar rapidamente, começando a causar destruição por onde tocavam.

- Declínio às trevas! – O mesmo sucedeu com o movimento de Ikki, as partículas negras destruíram parte do chão e destroços que os cercavam, até que ambas as energias invadiram o corpo do adversário, sem que o mesmo sequer tentasse se defender.

- Explosão de Fótons!! – E então, o cavaleiro ergueu sua mão esquerda para frente com o punho estendido, ordenando que os fragmentos dentro de Ikki simplesmente explodissem.

E assim foi feito, um a um as explosões se deram, dentro do corpo do espectro, manchando suas roupas de sangue em diversos pontos diferentes, enquanto outras partes simplesmente começavam a apodrecer, escurecendo aos poucos até necrosar.

- Sério? – Colocou Ikki com prepotência, arrancando seu braço podre como se não fosse nada demais, sangue escorrendo por seu ferimento, encharcando ainda mais seu corpo – Quantas vezes eu tenho que dizer que sou um espectro?! RUGIR DO DÊMONIO*! – O mais novo foi tomado por seu cosmo escuro, e para horror de Aioria, um novo braço surgiu de onde estava o outro. – Agora, eu vou te mostrar como REALMENTE se faz!  IMPLOSÂO DEMONIACA! 

Foi a vez do leonino mais velho curvar-se de dor, enquanto sentia seu corpo sendo destruído de dentro para fora, começando a cuspir sangue, até cair de joelhos, impotente, sem cosmo suficiente para invocar um novo Rugido do Leão, havia gastado já toda a sua energia, encarando com horror como seus dedos começavam a apodrecer, tal qual o braço do espectro, porém, não tinha mais forças para trazê-las de volta.

- Agora... Eu te mostrarei o que é um golpe de misericórdia. – Colocou Ikki com superioridade, suas íris se tornando novamente amarelas, enquanto sua esclerótica passava de branca a negra, como um verdadeiro demônio, similar aos olhos de Byaku de Necromante - Implosão Relâmpago!!

Raios completamente negros começaram a se dispersar através do corpo de Benu, destruindo absolutamente tudo ao seu redor, não deixando absolutamente nada para trás, dizimando seu próprio corpo em um ataque suicida, mas levando o antigo cavaleiro de leão consigo.

Então estava de pé, seu adversário o encarava interessado, ao tempo que deixava gotas de sangue de seu pulso escorrer até a rama que antes estava presa à perna de Aioria, a qual se retorcia na mão do espectro, e inevitavelmente começava a murchar-se.

- O quê...? – Disse o leonino mais velho, olhando para todas as direções, desorientado.

- Você demorou Aioria – Ironizou Ikki – Como é a sensação de alucinar dentro de uma ilusão?

O dito não respondeu, caindo de joelhos no chão.

- O quê...? Onde...? -Questionou levando uma vez mais as mãos à cabeça.

- Eu já vou cuidar de você, o miasma ainda está afetando seu corpo, mas eu resolvi cuidar dessa coisa primeiro – Disse indicando a rama espinhosa que estava quase desintegrada– Eu não faço ideia do que é isso, meus ataques não surtiram efeito, mesmo os de fogo, então pensei que um pouco de ikhor resolveria, e parece que eu tenho razão.

-...Ikhor...? – Repetiu, apertando o crânio com ainda mais força -  Aquilo...Foi...Eu ainda estou numa ilusão?

- Eu usei meu golpe fantasma de Fênix em você – Explicou, enquanto dissipava o pó da planta que restaram em sua mão – Porque sabia que eventualmente você sairia dessa ilusão, finalmente notando tudo que estava errado ao seu redor, e voltaria a realidade, a verdadeira realidade. Mesmo que demorasse, ao menos não haveriam mais feridos pela sua insanidade.

Então sentou-se frente ao outro que ainda o encarava perdido.

- Agora se acalme, isso vai doer. – Disse, colocando ambas as mãos sobre os ombros contrários.

A igual que fez com Muh antes, começou a ferver o corpo do leonino, que apenas fechou os olhos enquanto seus cabelos esvoaçavam, ainda desorientado, até que todo o miasma que foi tomado pela corrente de ar criada pelo espectro ao redor de ambos, gerou uma eletricidade que Ikki consumiu junto ao seu cosmo.

 - Como se sente agora? – Perguntou com uma suavidade que fez Aioria se perguntar se aquele era o mesmo cavaleiro revoltado que conheceu vinte e quatro anos atrás.

-...Cozido – Respondeu simplesmente com uma expressão de dor. – Mas definitivamente sã...Agora...- Então seu olhar recaiu para algo atrás do mais novo, uma poça de sangue e rastros de queimadura no chão, com formato perfeito de sandálias. – Eu...Realmente?

- Sim – Confessou com desgosto já entendendo a que se referia – Eu não consegui chegar a tempo, o idiota do Kanon ficou no nosso caminho. Porém, ele vai sobreviver, tenho certeza.

Leão baixou sua cabeça, sentindo um enorme pesar e culpa sobre seu ser.

- Não posso acreditar que me deixei controlar novamente – Bateu ambas as mãos em sua face – Depois do que fiz com Cassius!

- Mas dessa vez ninguém vai morrer por isso! – Exclamou com convicção levantando-se, pois, por mais que odiasse admitir, Kairos jamais havia falhado nenhuma vez com suas habilidades temporais, mesmo estando selado – Então, de nada adianta ficar aí sentindo piedade de si mesmo, isso não é algo que um leonino faça!

Aioria sorriu frente ao comentário, aceitando a mão que o mais novo lhe oferecia.

- Parece que você amadureceu Ikki – Então o analisou, agora de pé, de cima a baixo – Embora você ainda continue baixinho...

Benu franziu a expressão com ódio, soltando com raiva a mão do outro leonino dez centímetros maior que ele.

- Isso é porque eu não pude crescer nesses vinte anos, apenas isso, agora deixe de ser um imbecil e vamos, eu te explico tudo no caminho.

- Para onde vamos? -  Perguntou com um meio sorriso, apesar do caótico da situação, tinha que admitir que sentia falta da petulância e ousadia do contrário, o lembrava muito de seu filho mais velho. – Você podia começar explicando como você pode estar vivo...E tentar ser mais educado com quem quase foi seu mestre.

- Vamos para a Fonte de Athena – Disse indicando a direção para a qual Piada havia se retirado, ignorando completamente o comentário sobre sua educação – É para onde todos estão indo, então é lá que acontecerá o último ato. – E então sua expressão perdeu ligeiramente a cor. – Eu não acredito que fiz uma citação teatral!

-....E por que isso é um problema? – Questionou Leão ainda mais confuso. Porém não houve resposta, Ikki apenas seguiu em frente, resmungando em japonês. -....Talvez ele não tenha mudado taaanto assim...

E não teve remedio se não segui-lo.

-.-.-.-

Próximo ao caminho para a antiga oliveira, havia um domo feito de ramos espinhentos, que apesar de seu aspecto natural, pareciam ser feitos de aço, pois correntes elétricas passavam por sua estrutura como um perfeito condutor.

A peculiar armação estava marcada com uma fissura que a entortava para dentro, como se alguém tivesse tentado cortá-la, mas não havia conseguido mais além de arruinar seu formato de cúpula.

Então, um a um, os ramos começaram a se abrir e recolher, formando uma passagem da qual saíram dois homens, que caminharam até a liberdade enquanto sua proteção agora não era mais que uma simples roseira, que, no entanto, ainda soltava incomuns destelhos de eletricidade.

- ...Isso foi o Geki? – Questionou Albafica impressionado, vendo que não havia restado absolutamente nada ao seu redor, as poucas árvores que levavam a parte rural haviam sido resumidas a pó, e todo o piso de paralelepípedos haviam sido levantados pela onda de choque, ou destruídos, criando buracos inteiros na estrada -...É um estrago e tanto, não imaginei que na casa de touro houvesse algum golpe com tamanho poder destrutivo.

- Exataamente! – Colocou Julian olhando para o cenário que os cercavam com o rosto franzido – Como ele pôde esconder algo  assim de MIM?! Assim que essa guerra acabar, eu vou exigir que ele lute comigo usando isso!

- E destruir o coliseu?! – Contestou exasperado o pisciano – O Grande Mestre jamais permitiria! E com razão.   

O leonino apenas crispou impaciente com a boca, cruzando os braços.

- Você sempre tem que ser o estraga prazeres, não é? – Provocou.

- Se você quis dizer, “você precisa ser o cérebro”, sim, eu concordo. – Colocou Peixes tornando a caminhar para seu objetivo, à passos rápidos, sendo seguido sem qualquer dificuldade pelo mais velho. – Você e Shoryu são excessivamente protetores com o resto de nós, mas podem chegar a ser idiotas impulsivos nos momentos errados, eu preciso estar do lado racional do grupo com Izo e Soleil, já que Suite às vezes se deixa levar por vocês.

- Às vezes na vida, Alba, é preciso improvisar, agir conforme os instintos. São assim que os grandes predadores caçam!

- Mas você não é um predador, embora pense que sim – Cortou o mais novo – É apenas um cavaleiro de leão com o ego grande demais. Embora eu acho que deve ser pleonasmo chamar um cavaleiro da sua casa de arrogante.

 Em meio às suas conversas e pequenas implicações, enfim chegaram à planície onde antigamente encontrava-se a oliveira.

A situação era de um completo caos. Não havia qualquer sinal da árvore, que não manchas de queimadura no solo, tampouco era possível ver a colina que costumava se estender atrás do milenar vegetal. Ao invés disso, havia apenas uma planta de enormes ramos espinhosos que pareciam consumir tudo ao seu redor.

- ...Isso – Disse Leão apontando para a coisa – É obra sua? Voltou a experimentar química nas suas rosas de novo?

- Claro que não! - Ofendeu-se o mais novo – Depois que conseguimos aquele condutor, eu não mexi mais nisso.

- Parece muito um dos seus para mim – Insistiu – E onde estão todos?

Era difícil ver qualquer coisa em meio aos destroços de terra que se erguiam do solo, formando paredes inteiras.

- Senhor Albafica! Senhor Julian! – A figura ruiva do cavaleiro de centauro foi o primeiro a vê-los, acenando para eles - Estamos aqui!

- Não me digam que vocês acabaram com toda a diversão, Santorini?

O cavaleiro tentou sorrir quanto ao comentário, mas a tentativa logo morreu, até porque logo em seguida a figura cansada e lívida de Egas apareceu.

- Senhor Albafica, Senhor Julian – Disse correndo na direção de ambos e fazendo uma ligeira reverência – Temos muitos feridos, quatro em estado grave, três impossibilitados de andar, apenas quatro de nós ainda conseguem lutar. Além disso – Sua expressão se franziu - ... Cavaleiro de Pavo, Cão de caça, Cão Maior e Pyxis morreram.

O leonino desviou o olhar desgostoso, para o que o pisciano confirmou com a cabeça, assumindo a tarefa de responder.

- Entendemos, lamentamos não termos podido chegar mais cedo e evitar essa tragédia – Disse com genuíno pesar – Vocês conseguiram derrotar os inimigos?

- Quase todos, a alma de trinta e três deles escaparam em meio a onda de choque, mas ela foi necessária para pararmos Heitor.

- Heitor? – Alba piscou quanto a essa informação – Heitor de Troia?! – Egas confirmou com a cabeça – O que fazia um herói lendário ao lado de Chronos?

- Chronos estava apenas se aproveitando da alma perturbada de Heitor – Uma nova voz ingressava, junto com Santorini de Centauro estava Geki, com seus ambos braços pendendo de forma estranha -  Ele era um cara legal que tomou decisões erradas.

- Se ele era um cara legal e você fez isso – Ironizou Julian, indicando seus arredores – Imagina se ele fosse “um cara mal”.  

Mas Touro não pareceu ver graça no comento, o que já era estranho por si só, o taurino costumava rir de qualquer coisa, mesmo quando não devia, ou não era apropriado.

- Eu e ele estávamos nos entendendo, mas aquela coisa – Indicou os estranhos ramos que pareciam crescer a cada instante – Começou a crescer do nada quando eu meti o nariz no vaso dela! – Alba franziu a expressão quanto à essa última parte, se perguntando se era mais uma das expressões brasileiras que o taurino gostava de usar, ou se ele realmente tinha, por alguma razão estranha, enfiado o nariz em um vaso – E simplesmente tomou conta do corpo dele!

- Uma flor capaz de manipular pessoas? – Questionou o menor impressionado.

- Sim, e além disso – Seguiu o ruivo cavaleiro de prata – Parece que nossos golpes simplesmente não causam nenhum efeito nela, senhor Geki chegou a conseguir desintegrá-la antes, mas logo em seguida ela ressurgiu como se nada tivesse acontecido.

- Não sabemos o que aquilo é, mas claramente é perigoso demais para deixarmos ali – Findou Egas com severidade.

- Sem dúvida – Seguiu Albafica, novamente vendo os ramos.

- Tem certeza que isso não é uma das suas experiencias, é realmente muito parecida com as Ramas Espinhais que usamos para nos resguardar da onda de choque - Insistiu Julian, cruzando os braços impaciente.   

- É claro que não Julian! – Rebateu impaciente o pisciano, surpreendendo o cavaleiro de Centauro, que nunca tinha visto o futuro cavaleiro ser grosseiro com alguém, quem dirá aumentar a voz com um dourado – Que imagem você tem de mim?

- Éee melhor você não saber meu amigo – Disse com ar de graça, fazendo o mais novo apenas franzir a expressão ao tempo que Leão sorria com ousadia, aproximando-se sem qualquer decoro da criatura vegetal.

- Não faça isso! – Exclamou Egas alarmado, também esquecendo sua educação ao tratar com um superior – Essa coisa foi capaz de manipular um guerreiro lendário como Heitor sem dificuldade, não tente sua sorte Julian! Não é o momento de ser arrogante.

O mencionado parou, porém não pelo que os outros diziam, e sim pela imagem que viu. Havia um cadáver sendo devorado pelas ramas, e sem dúvida, o mais grotesco da visão era que sempre quando o mesmo, cuja apenas as pernas eram visíveis entre os espinhos, começavam a secar e mumificar-se, logo tornavam a se refazer.

- ... Esse é Heitor? – Questionou esticando o pescoço, sem se afastar.

- Sim – Disse Egas, mantendo a distância – Ele é indestrutível devido as ações de Zeus, por isso o corpo dele apenas continua se regenerando depois que ela suga todo o seu sangue.

- Precisamos tirá-lo daí! Seu corpo não merece algo assim, não depois de tudo que ele já passou – Intrometeu-se Touro.

- Sim, até porque isso está alimentando a coisa e fazendo-a crescer ainda mais – Deduziu Julian, vendo como suas pontas já começavam a atingir dois metros de altura e pelo menos três de diâmetro. – É um grande problema botânico, mas sinceramente eu esperava coisa melhor.  O que Chronos tem a ver com plantas de qualquer forma?

- Que eu saiba, nada. – Respondeu Albafica, logo tornando a franzir o rosto, devido a uma estranha expressão de satisfação que tomou a face de seu amigo. -...O que você tem em mente?

- Eu tenho uma ideia para destruir essa coisa, e será divertido – Colocou animado apontando para Albafica – Você vai deixar isso te controlar, e então usamos a manobra 512.

Tal proposta descabida fez Santorini, Egas e Geki imediatamente palidecerem, por outro lado, o pisciano apenas suspirou cansado, nem um pouco surpreso com a ousadia de seu amigo em montar um plano perigoso desses.

- Eu tinha certeza que você sugeriria isso...

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Notas Finais


* A alma de Havok é uma mistura da alma de Alexer, o Cavaleiro Azul, e dos fragmentos de alma que estavam residentes na Escama de Dragão Marinho, para os esquecidos, isso aconteceu no Capítulo 72 - Capítulo LXXI - O que nos resta. Fim da quarta temporada. E o primeiro Dragão Marinho era o melhor amigo de Sólon desde a infância, por isso, essa parte do Havok se sente feliz ao ouvir falar sobre ele.
* Mortalha Estirpe fez o ritual das almas na Armadura de Altar no "Capítulo 17 - Dia XV - A primeira geração dos cavaleiros de ouro. Parte final", em uma estória extra chamada Dias de Guerra.
* A chama sempre acesa: Capítulo LXIII Corujas –
"...- Então, em respeito a teu juramento. Guardarei este códex junto aos nossos maiores tesouros, destinados as seguintes gerações, e manterei uma chama sempre acesa entre nós, para que tu sempre saibas encontrar o caminho de volta para casa, se algum dia quiser descansar de tão nobre missão. Assim saberá que, nas lembranças dos demais ou não, sempre aguardarei seu retorno, meu amigo..."
* Gateguard foi um dos Cavaleiros de Ouro durante Guerra Santa contra Hades no Século XVI (Lost Canvas) que acabou servindo ao Imperador dos Mortos no lugar de Athena junto ao Grande Mestre Itia devido a ambição de ambos em alcançar o sonho de um "Mundo Ideal", sendo então incumbido de ajudá-lo a liderar a conspiração dentro do Santuário de Athena de trazer todo o exercito de sua deusa para o lado dos espectros usando as Fadas do Submundo.
* Névoa Venenosa Delirante - É realmente um golpe de Lancelot de Câncer, em Episódio G.
*Clone Espiritual - Golpe de Sage/Hakurei em Lost Canvas Gaiden.
* RUGIR DO DÊMONIO - É a versão oposta de Ikki ao "Rugido do leão", é interessante ressaltar que em Episódio G, essa habilidade tem MESMO a capacidade de regenerar membros perdidos....

É isso!! Espero que tenham gostado, nos vemos!


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