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História Guerra e Paz - Capítulo XVI - Tristes irmãos -


Escrita por: KimonohiTsuki e JonhJason

Notas do Autor


Essa foi uma das piores semanas da minha vida... Mas pelo carinho que vocês vem tendo com essa estória, eu manterei o ritmo de postagem. Espero que apreciem o capítulo.

Capítulo atualizado em: 19/05/2023
Betado por: JonhJason & Rêh-chan

Capítulo 17 - Capítulo XVI - Tristes irmãos -


Fanfic / Fanfiction Guerra e Paz - Capítulo XVI - Tristes irmãos -

A avenida Storgata em Oslo estava coberta pela neve. A capital da Noruega parecia passar por um frio além do normal. Um homem alto, de cabelos platinados e olhos cor de mel, usando um longo sobretudo negro e um cachecol roxo caminhava até uma cafeteria. O limpa-neve passava pela avenida tentando abrir caminho para o bondinho voltar a transitar pelos trilhos que cortavam a via. Contudo, sua atenção estava na placa da loja que estava a ponto de entrar.

Onde deveria se ler Zagros Café Konditori*, haviam várias pichações que tampavam a versão do nome escrito em árabe, além de uma das janelas estar quebrada.

- Boa noite. – Anunciou, adentrando pela porta chamando a atenção de uma senhora de olhos castanhos e Hijab rosa claro cobrindo parcialmente seu rosto.

- Oh... Lucius, boa noite. – Cumprimentou a senhora que parecia já ter mais de cinquenta anos. – Eu vou avisar meu marido que o senhor veio buscar seu bolo. – Ela tentou sorrir, mas notavelmente estava muito aflita.

- O que aconteceu? – Aproximou-se do caixa, enquanto a mulher ia até a porta da cozinha e falava com alguém de lá.

- Vândalos! Isso que aconteceu! – Um homem moreno, careca, com barba avantajada saiu do local com um pacote embrulhado. – Eles pensam que nós, humildes trabalhadores, temos algum envolvimento com essa loucura!

Sem dizer mais nada, o homem voltou à cozinha.

- Perdoe meu marido. – Anunciou a senhora com pesar. – Ele ainda está muito estressado, tudo por causa do que aconteceu na França. É impressionante, mesmo estando tão distante de nós, ainda assim... – Ela suspirou, parecia a ponto de chorar.

- Na França? – Questionou curioso. A maioria das pessoas não daria mais voltas ao assunto, notando o estado abalado da mulher. Contudo Lucius, por muitos que não o conheciam, era considerado um homem frio. – Eu não pude ler as notícias, estive muito ocupado no trabalho hoje, o que aconteceu?

- Parece que houve um atentado em Paris, foi durante a madrugada. – Ela comentou com pesar. – Ninguém ainda reivindicou o ataque, destruiu uma rua e danificou a estrutura de alguns prédios.

-...Entendo... - Comentou simplesmente enquanto a dona parecia ao ponto de soluçar.

Pagou sua encomenda e a tomou entre seus braços, abriu para conferir se estava tudo certo, metodicamente como de costume.

- Muito obrigada pela compra Lucius. – Agradecia com um sorriso e a voz embargada.

O bolo estava absolutamente lindo, impecavelmente confeitado apesar do que havia acontecido. Olhou para o rosto aflito mais uma vez, e fechando o embrulho suspirou.

- Assim que a polícia tiver alguma notícia de quem fez isso, mesmo que eu ainda seja um estudante, eu posso ajudá-los se quiserem. Vocês sabem meu número e-

A senhora começou a chorar, assustando seu marido que saiu para ver, encarando seu cliente mais fiel sem entender.

- Aaaah! Lucius! Você não sabe como é bom ouvir isso! O dia inteiro só teve cancelamentos, ameaças por telefone, pessoas nos olhando desconfiadas! Bendito seja menino!

O senhor tentava consolar sua mulher. Ao tempo que o norueguês apenas sentia-se incomodado com a situação. Mesmo nunca tendo sido uma pessoa sentimental, sempre teve um forte senso de justiça. Aqueles atos contra o estabelecimento eram infundados e bárbaros, qualquer um com bom senso poderia julgar isso. Não estava sendo generoso, estava apenas sendo justo.

- É o mínimo que posso fazer, vocês nos ajudaram quando eu e Mileta nos mudamos, além disso, nunca atrasaram nenhuma encomenda.

A esposa explicou em seu idioma materno o ocorrido, e o marido observou o jovem com o primeiro sorriso daquele dia.

- Muito obrigado rapaz. Sempre dá esperança saber que ainda existem pessoas assim no mundo.

Com um simples aceno de cabeça, retirou-se do local.

Abandonando a loja de paredes cinzas, ao térreo de um prédio de quatro andares, encaminhou-se para seu destino não muito longe dali. Apesar de ser uma rua essencialmente de comércio, muitos estabelecimentos já estavam fechados devido a tanta neve que havia caído. Enquanto caminhava ao lado de uma construção de madeira em vermelho, notava que uma névoa arroxeada parecia misturar-se com os flocos que caíam do céu. Não era a primeira vez que via aquele fenômeno, e por alguma razão, parecia ser o único capaz de divisá-lo.

Circulava algumas pessoas e até mesmo alguns lugares.

A fachada da cafeteria, as pessoas que passavam discutindo ou com semblante aflito, todas pareciam estar cercadas por essa bruma, mas seguiam suas atividades ignorantes dela.

Ao fim de uma larga construção branca de três andares e várias janelas, Lucius entrou em um pequeno beco, ao lado de uma grande loja amarela de lembranças*. Ao fundo da viela ficava um prédio velho, de tijolos e cinco andares. A porta de madeira rangia e as paredes da escada estavam descascadas, além de não haver elevador.

No último andar, ele tirou as chaves do bolso, e abriu a porta de sua casa, fechando assim que passou.

- Lucius?

Era um apartamento antigo e pequeno sem grande decoração ou destaque, mas suficientemente aconchegante para duas pessoas. Sob o sofá vermelho estava uma mulher, aparentemente vendo televisão. Cabelos castanhos encaracolados e brilhantes olhos verdes, ela sorriu ao vê-lo entrar.

Ele também não pôde deixar de sorrir ao vê-la.

- Eu estava preocupada! O noticiário disse que a neve irá piorar, pensei que não chegaria a tempo.

- O trânsito estava complicado. – Tirou o cachecol e colocou sob um cabideiro velho. – O bondinho parou de funcionar devido ao tempo. Além disso, eu parei na pastelaria para pegar seu doce.

Ao ouvir isso os olhos da jovem, que não parecia ter mais que vinte anos brilharam, ela esticou os braços animada, e o outro logo atendeu seu desejo entregando a encomenda.

- Está lindo! – Ela exclamou satisfeita.

- Vandalizaram a loja, falando nisso. – Acrescentou com neutralidade tirando o casaco e pendurando-o também. – Algo a respeito de um atentado em Paris. Você viu alguma notícia sobre isso?

- Que horror!! – Exclamou Mileta. – Sim... Eu vi a notícia... Há três desaparecidos e um pobre menino internado, ele ficou preso em alguns escombros.

Lucius não comentou a respeito indo até a minúscula cozinha buscar os talheres.

- É horrível pensar que algumas pessoas façam atrocidades assim em nome de um Deus...

O norueguês congelou, deixando a faca escapar por entre seus dedos, tomando-a no ar com um reflexo invejável antes que tocasse o chão. Uma sensação amarga passando por sua garganta.

-...Lucius?

-...Sim... É verdade. – Sentiu a necessidade de mudar de assunto. – Você não ficou andando pela casa hoje, ficou? O médico disse que mesmo usando a muleta não é seguro.

Ao voltar para a sala, sua mulher estava com os dedos sujos de glacê e uma expressão de culpa. Lucius suspirou, retornando os utensílios inúteis para a cozinha.

- Eu não posso simplesmente ficar sentada o dia todo! – Reclamou.

- Além disso, comer tantos doces assim vai te deixar ainda mais gorda.

Agilmente desviou de uma almofada quando voltou ao cômodo.

- É um pecado dizer isso a uma mulher! – Colocou ela escandalizada. – Ainda mais uma grávida!

- É exatamente por isso que eu disse mais gorda. – Alegou com simpleza.

- Aaah! Seu cruel! Não vai desviar do meu próximo golpe! – Com isso, tentou pegar uma almofada maior, perdendo o equilíbrio no processo.

O homem de cabelos platinados correu para auxiliá-la antes que atingisse o chão, porém, estava longe demais e não daria tempo.

Mas alguém ou algo invisível pareceu segurar Mileta antes do fim da queda, contudo, tudo foi tão rápido que nenhum dos dois realmente notou, e no instante seguinte ela estava nos braços de seu jovem marido.

- Por favor, tenha cuidado! – Exclamou, seu coração acelerado com a possibilidade de não ter chegado a tempo.

- Me desculpe...

Suas pernas não mexiam mais, devido a um problema de paralisia de sua infância. Ela havia conhecido o jovem de misteriosos olhos ainda na faculdade, num dia, como hoje. Ele a salvou de uma séria queda pelas escadas. Desde então, haviam andado juntos, ficando mais íntimos e começando a namorar.

Em seu afã, mesmo sendo jovem, ela havia ficado grávida. Lucius, tendo nascido numa família extremamente religiosa e rígida, acabou tendo que desposar mesmo antes de completar seus vinte anos.  Mas não havia qualquer arrependimento em seu ser, amava sua esposa como nunca imaginou que amaria alguém, e alguma coisa em seu interior o dizia que deveria aproveitar cada minuto que passava ao seu lado.

Seu estado físico parecia piorar a cada mês de gestação, chegando ao ponto dos médicos dizerem que o melhor seria abortar. Nesse dia teve que segurar a descendente de alemães para que ela não agredisse o profissional.

Observou sua esposa com um desvelo ímpar, recolocando-a no sofá.

A linha de sua vida estava no final, ele sabia disso, também sabia que não podia fazer nada para impedir, afinal, era algo natural e esperado para todos os humanos. Por mais que doesse tanto pensar em vê-la partir.

Sentou ao seu lado, acariciando seus cabelos, enquanto esta lhe dizia como havia sido seu dia, o susto da queda tendo passado.

-...Ah sim, quase esqueci. – Ela esticou a mão em direção a uma pequena cômoda. – Chegou uma carta para você, parece que é daquele seu chefe excêntrico.

O europeu pegou o envelope e o abriu, franzindo a testa.

- Está escrito a mão... Quem escreve uma carta a mão em plenos 2014? – Colocou com espanto.

- O que você espera de um homem que usa cartola no verão? – Brincou, encostando a cabeça no ombro de seu marido. – O que diz aí?

Alguns segundos depois, sua expressão passou de espanto a choque.

- Ele quer que eu... Nós, viajemos até a Alemanha... - No envelope havia até mesmo informações sobre duas passagens aéreas.

- ALEMANHA! – Exclamou a jovem encantada. – O país dos meus paaais!! Isso seria fantástico!

- Mileta, preciso te lembrar de que você está gravida de sete meses?! Isso é ridículo. – Colocou dobrando a carta.

- Mas Lucius!!! Eu sempre quis conhecer a terra dos meus pais!

- É muito arriscado.

- Eu vou tomar cuidado!

- Você nunca toma cuidado.

- Poooor faaaavoooor! – Implorou se jogando no colo do homem, sujando a carta com glacê. -...Ah... Desculpa...

- Viu, eu disse. – Alegou com voz firme. –Você é incapaz de tomar cuidado.

Ela pegou o papel, tentando limpar a mancha e apenas piorando tudo, devido ao fato de que a carta parecia ter sido escrita com tinta ao invés de simples caneta.

- Minha nossa! Aqui diz que ficaríamos num castelo! Um lugar chamado Heinsteim.

À pronuncia do nome em voz alta, um enorme castelo branco ao fim de uma colina veio à mente do ariano. Um local frio e sombrio. Mas era um lugar seguro... Não sabia porque, mas sentia que era.

“Ela estará segura lá. Os dois estarão.” - Uma voz que nem parecia ser sua dizia em sua mente, enquanto Mileta seguia enumerando as razões para irem. - “Longe da névoa”.

-...Eu... Vou pensar... – Respondeu simplesmente, sentindo a cabeça doendo horrores.

- Eu vou quebrar a resistência do chuveiro e te forçar a tomar só banhos quentes que você detesta se não formos e- pensar?! Isso quer dizer sim?! – Seus olhos voltavam a brilhar.

- Pensar significa pensar Mileta. Por que não vamos dormir? Amanhã eu vejo com mais calma... Em pensar que a família Solo tenha tanto dinheiro ao ponto de pagar viagens assim aos seus funcionários...

Levantou-se e, sem qualquer dificuldade, apoiou sua esposa em seu ombro enquanto esta cantarolava algo em alemão esperançosa. Apagaram as luzes e foram se deitar.

Mas sonhos muito estranhos sobre um homem de cabelos verdes e pessoas de armadura negra esperavam por Lucius esta noite.

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- ...Era uma canção realmente linda. – O homem de cabelos e olhos azuis claros declarou, ajoelhando na altura da criança.

- Foi minha mãe que me ensinou! – Declarou contente o pequeno menino de não mais que sete anos. Orphée ajudou a pequena alma a sair do barco, colocando-a em terra firme.

Não precisaram caminhar muito para chegar a um grande portal de mármore onde se lia em grego: “És mais digno que os homens aprendam a morrer do que a matar."

Aos pés da entrada, a bela Eurídice esperava ao lado de Daidalos.

- Eu assumo a partir daqui. – Informou o juiz. – Shun me pediu que o levasse até os Campos Elísios. Não há porque julgar uma alma tão jovem... - Assim que o homem encostou no espirito infantil, este se tornou uma pequena chama fátua em suas mãos. – É triste pensar que a primeira vítima dessa Guerra Santa foi uma criança...

- Não há como fazer nada para remediar? – Questionou a jovem entristecida. – Afinal, sua morte não foi natural...

- Eurídice, meu amor, se algo aprendi em nossa história, é que é errado querer trazer de volta a vida alguém que já morreu... - Comentou com tristeza vendo o pequeno fogo. - Quando busquei isso por ti, eu só causei sofrimento a nós dois, e ainda traí a lealdade de Athena. Se não fosse pela bondade de Shun, eu continuaria lamentando pela eternidade por meus erros.

- Eu entendo que o ciclo da vida deva ser respeitado... - Continuou sua esposa. – Mas sua morte foi decorrência de um evento não natural.

- Você tem razão Eurídice, contudo, o corpo desse jovem foi esmagado por entre escombros. – Explicou sério o antigo cavaleiro de Cefeu. - Kairos parou o tempo de todas as pessoas ao redor, mas o impacto daquele monstro ainda foi o suficiente para desestruturar algumas construções. Fizemos o possível, mas não cabe a nós, seres do Submundo, zelar pela vida das pessoas. Nossa função é simplesmente guiá-las na morte.

- Por isso precisamos que Athena esteja nessa guerra. – Continuou Orphée olhando para o céu completamente negro do mundo inferior. – Cabe a ela e aos guerreiros da esperança proteger a Terra e os vivos. Eu realmente espero que Shun possa entender-se com nossa antiga deusa guardiã.

- Eu também espero. – Suspirou Daidalos. – Já temos nossas mãos cheias impedindo que as almas podres possuam mortais e destruam seus espíritos...Aqueles três jovens que atacaram Verônica... - Fechou seus olhos com pesar. – Suas almas foram completamente destroçadas pelo miasma delas... Não sobrou nada para descer ao Submundo, muito menos um meio para elas reencarnarem... Os três... Apenas desapareceram da existência.

Ele abriu os olhos, um olhar determinado.

- Eu compreendo sua dor Eurídice, como antigo cavaleiro de Athena, isso também me angustia. Mas precisamos zelar pelas almas, dar-lhes uma chance não de renascer, mas sim de reencarnar em uma nova vida. Confiemos a vida aos cavaleiros. Nós já fizemos o possível para cumprir nossa missão com Athena. Agora, como espectros, olhemos pelos mortos.

Orphée sorriu confirmando com a cabeça, mesmo Eurídice compreendeu suas palavras.

- Para tanto, precisamos primeiro reforçar a barreira do mundo dos mortos. Shun está fazendo o possível pelo lado de dentro, mas ainda precisamos que ela seja reforçada pelo lado de fora. – Daidalos franziu a expressão, mostrando preocupação. – Eu apenas espero que Poseidon realmente coopere conosco para isso.

Sem mais, o juiz se despediu dos outros dois e se encaminhou para os bosques Asfódelos, em direção aos Campos Elísios.

- Com um mestre tão integro, não é difícil descobrir como Shun tornou-se alguém tão forte. E não me refiro ao seu cosmo.

- Eu concordo. – Colocou a jovem em tom suave. – Agora temos que confiar que essa força nos ajudará a que essa guerra tenha um fim logo.

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- É muita coisa para eu associar... Senhor Hades, Senhor Thanatos... Destruídos... Não imaginei que isso sequer fosse possível!

- A adversidade põe à prova o espírito...*

Kairos caminhava com Verônica pelos bosques Asfódelos, enquanto explicava tudo que havia acontecido nos últimos vinte anos.

Vez ou outra passavam por alguma alma errante, que não lhes dava atenção e seguia em seu recorrido sem destino. O novo espectro estava com o braço enfaixado, além de levar agora um corte de cabelo mais curto, que ia apenas até seus ombros. Além disso, caminhava com dificuldade, mas havia feito questão de andar pelo mundo inferior assim que reconheceu sua velha geografia.

- Ainda não consigo acreditar que os bosques estão de volta. – Comentava com uma nota que soava quase como carinho, tocando a superfície fria de uma das árvores. – Me faz lembrar de minha primeira vida, quando jurei minha alma ao Senhor Hades. Fui encarregado de resguardar as almas desse bosque, este lugar sem sofrimento ou alegria. A região mais neutra da morte. Minha função era vigiar os espíritos em suas ações, caso fossem suficientemente dignas, guiá-los até os Campos Elísios.

 O local era gélido e úmido, de vento suave e tranquilo. O espectro de Nasu fechou os olhos respirando fundo.

- Depois da primeira Guerra Santa contra Athena, este lugar foi destruído quase que completamente, restando apenas o pequeno campo de flores. Aos poucos o que restava desse lugar calmo foi dando espaço às prisões, todo o Submundo foi se transformando num grande Tártaro.

Abriu os olhos, buscando o semblante avermelhado de seu companheiro.

- O que aconteceu? Eu sinto como se tivesse acordado de um longo sonho, talvez um pesadelo. Lembro das seguintes guerras como se fossem sombras, como se eu fosse apenas uma sombra. - Olhou para as próprias mãos, ainda arranhadas de quando foi jogado no chão. - Como se minha única função fosse renascer para guerrear contra Athena...

- O passado é um prólogo. - Começou Kairos tirando um cigarro do terno e o acendendo com um isqueiro de prata. - Se quer mesmo minha opinião, nos perdemos nos primeiros capítulos. Nossa existência foi reduzida a guerra, e cada um lidou com a frenesi da batalha ao seu próprio modo. Morrendo, e reencarnando apenas para provar o gosto do sangue mais uma vez. - Soprou a fumaça que sutilmente se desfazia com o vento. - Todos se tornaram apenas fantasmas do que costumavam ser.

- Eu não quero blasfemar... Mas isso teria acontecido mesmo com o Senhor Hades? - Questionou acompanhando o desaparecimento do fumo. - Sinto que ele tampouco era mais o mesmo deus que juramos lealdade. O deus justo e guardião da morte, severo, mas piedoso. Que olhava pela paz e justiça na morte. Por isso me senti atraído pelo poder do Senhor Thanatos e lhe jurei lealdade. Era o mais próximo da essência do Senhor Hades que nós 108 compactuamos em seguir. - Suspirou quando a fumaça se dissipou completamente. - Ainda assim, eu me sentia, a cada guerra, mais incapaz de ter qualquer empatia pelos vivos. Eu não quero justificar minhas ações, apenas não tenho certeza do que eu me tornei, lembrando agora plenamente como éramos em nossas primeiras existências.

- O pior pecado a nossos semelhantes não é odiá-los, mas sim tratá-los com indiferença. - Olhou para o homem andrógino com expressão séria. - Se há algo que nosso novo senhor deu a cada um dos espectros, é a chance de viver de verdade pela primeira vez desde a era mitológica. Agora o que cada um fará com esse redescobrimento ainda nos é um mistério. - Kairos sorriu enigmático, fazendo um cumprimento com sua cartola, e deixando o outro sozinho entre as árvores sombrias, perdido em seus próprios pensamentos e dúvidas.

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Quando saía de Rodorio e encontrou-se com Daidalos, Shaka e a criança reencarnada, Ikki ficou surpreso.

Quando Daidalos o informou que Chronos começou a guerra santa antes do prazo que as moiras negociaram, ficou raivoso.

Mas quando ele e o general sentiram a presença de Shun vacilar por alguns instantes, ficou com medo.

Ambos se apressaram para voltar ao Submundo, receosos do que poderia ter acontecido.

Apenas para serem saudados por um Shun de pé, respirando com dificuldade, apoiado contra o trono de mármore.

Numa velocidade impressionante Benu se adiantou até seu irmão e o ajudou a sentar-se. O Senhor do Submundo apenas disse num sussurro fraco que era uma sensação estranha ser físico novamente, que talvez levasse algum tempo para se acostumar. Contudo, quando chegou ao seu conhecimento que a Guerra Santa havia ocasionado a primeira morte, pediu que Daidalos acompanhasse a nova alma até os Elísios, enquanto sentia também que Kairos estava de volta com Verônica. Foram mais rápidos do que imaginou, mas novamente, Kairos era o tempo oportuno, não deveria se impressionar.

Para tanto, os dois irmãos ficaram a sós.

O de cabelos verdes já respirava com mais tranquilidade, mas ainda assim Ikki mantinha-se ao lado dele, seu instinto como espectro de Benu gritando para não se afastar. Sentado no braço do assento, aproximava o corpo de seu irmãozinho contra o seu com sua mão direita, permitindo que este descansasse a cabeça contra seu tórax.

Era a primeira vez que sentia o calor do corpo contrário em vinte longos anos, sua respiração suave, seus olhos esmeraldinos entre abertos, perdido em seus próprios pensamentos. Sentia um imenso furor enredar seu peito, ao mesmo tempo que um grande alívio.

Poder tocar as mãos mesmo que gélidas de Shun contra as suas, podia ser algo verdadeiramente banal, mas era uma sensação que sentiu mais falta do que podia imaginar.

Mesmo depois de duas décadas, mesmo presenciando tudo que o mais novo foi capaz de fazer, acima da lealdade servil, havia sua fraternidade latente. Shun sempre seria seu irmão caçula, mesmo não sendo o melhor em demonstrá-lo, o amava muito, e o cuidaria com sua vida.

- Como você está se sentindo? – Questionou a antiga Fênix quando Shun fez menção de se levantar, com um tato mais firme.

- Cansado, dividir minhas forças entre manter o Submundo de pé e controlar o poder em meu corpo é mais desgastante do que eu imaginei. Mas não se preocupe logo irei me acostumar, não temos tempo para eu me preocupar com essas fraquezas.

- Não seja estúpido Shun! – Exclamou irritado seguindo o menor que caminhava em direção ao antigo muro das lamentações, atrás da sala do trono. Agora o corredor levava a um grande salão com uma enorme mesa circular ao centro, dando acesso a uma sacada com vista para o rio Lete, que partia em direção aos Campos Elísios. – Não é uma fraqueza, todo Submundo depende de sua energia, é absolutamente normal que você se sinta enfraquecido, não trate isso como uma leviandade!

Shun sorriu com sutileza, vendo as águas correrem sob a fraca iluminação dos fogos fátuos. Sentia falta das broncas de seu irmão mais velho.

- Desculpe, terei mais cuidado.

Então foi até a borda da sacada esticando a mão esquerda sobre o rio do esquecimento. Seus olhos brilharam em amarelo vivo, e um filete da água começou a subir sob seu comando, até circular a sua frente como se fosse uma fina cobra. Abrindo a palma de sua mão direita, seu cosmo começou a girar, materializando conforme sua vontade um frasco comprido de cristal. Sem qualquer ordem vocal, o liquido dançou para dentro do frasco, sendo fechado em seguida por uma rolha cristalina.

Ikki apenas observou os movimentos sem emitir opinião.

-...Enquanto não trouxermos de volta todo o miasma que Chronos permitiu escapar do Submundo quando rompeu a barreira com o mundo dos vivos, eu preciso usar toda a minha energia para que tudo aqui mantenha-se existindo. Se eu vacilar, tudo pode começar a ruir novamente. – Voltou-se para Ikki sério. – Por isso é importante que reforcemos a barreira com a ajuda de Poseidon, caso algo me aconteça, a energia deve impedir que todo o miasma escape outra vez, além de proteger todas as almas do reino de invasões externas.

- Não me venha com se “algo me aconteça”! Não acabou de dizer que teria mais cuidado?! – Os dois voltaram a caminhar de volta a sala do trono.

- Sim, eu disse. E agora é diferente de antes, eu não pretendo me sacrificar mais, sou ciente da importância que minha vida tem para a existência do Submundo e para resguardo dos mortos. Mas eu seria muito ingênuo de acreditar que não irei me ferir nessa guerra.

- Os espectros não servem justamente para que você não tenha que passar por isso?! – Reclamou ainda irritado - Da mesma forma que nós resguardávamos a segurança de Athena?!

Shun parou um instante, olhando nos olhos de seu irmão.

- Mesmo que um a um os espectros voltem para nós, em sua maioria eles ainda serão dependentes da minha energia, ao contrário dos Marinas e dos Cavaleiros, sua verdadeira força vinha diretamente de Hades. Isso porque em sua primeira vida, poucos eram verdadeiramente guerreiros. – De onde estavam já podiam ver as cortinas vermelhas por trás do trono. – Nessa guerra, teremos que usar muito mais do que a força bruta para ganhar, porque nossas forças estão muito enfraquecidas. – Então ele sorriu suspicaz apontando para a própria cabeça – Mas há mais meios de se ganhar uma batalha, sem ter que recorrer aos punhos. Esse é o valor de uma verdadeira estratégia.

Ikki bufou, não completamente convencido, mas continuaram a caminhar, até estarem ao lado do trono.

Abaixo da escadaria, Kairos em seu costumeiro terno esperava ao lado de um contrariado Daidalos, provavelmente incomodado com alguma teatralidade que o primeiro havia dito. Verônica estava a uma distancia prudente atrás dos dois, olhando para o chão.

“...Tens certeza do que vais fazer? É um risco muito grande dar-lhes tal opção...” – Hades avisou em sua mente. - “...Pode ser uma oferta tentadora demais...”

“Você não teve que obrigar nenhum dos espectros a te seguir Hades, não faria sentido que comigo fosse assim.” – Contestou.

Então parou frente ao trono olhando para os três, enquanto Benu se apoiou em um dos pilares do topo.

O juiz foi o primeiro a falar.

- Já conduzi a alma até os Elísios. Além disso, há esta hora Shaka já deve ter se apresentado perante Athena.

O jovem imperador confirmou com a cabeça.

- Os homens poderosos têm mãos que alcançam longe. – Começou Kairos em seu tom lúdico. – Trazer alguém como este Shaka, além do cavaleiro de Câncer e Peixes a nosso favor, de fato, ainda terá muita utilidade – Sorriu com soberbia. – De todo modo, jovem mestre, eu passei a mensagem de formas diferentes para os demais espectros para irem até o castelo de Heinsteim, conforme solicitado.

- Muito bem... Eu posso sentir que alguns já se aproximam do local. – Então se voltou ao terceiro, que mantinha-se em silêncio. - Verônica, ou prefere que te chame por Chris? – Proferiu Shun. O mencionado se sobressaltou, enquanto Daidalos e Kairos davam um passo para o lado, deixando-o de frente ao imperador do Submundo. Estava a ponto de se ajoelhar, quando seu senhor disse não ser necessário.

- Que são os nomes? – Comentou teatral o deus mortal. - Aquilo a que chamamos rosa, com outro nome qualquer, continuaria a exalar o mesmo fragrante perfume.

- Verônica, meu senhor. Este afinal é meu primeiro nome. – Anunciou o loiro levantando a cabeça.

- Muito bem. Como está se sentindo? Kairos me informou que seus ferimentos não eram tão sérios, mas eu estive preocupado.

Nasu piscou. Hades sempre se preocupou com eles em alguma medida, era verdade. Mas a preocupação desse novo senhor parecia mais... Latente, palpável.

-...Eu estou bem. – Hesitou, sem saber se deveria olhar diretamente para Shun, uma vez que foi impedido de se ajoelhar. – Agradeço pela preocupação...

Então resolveu fazê-lo, surpreendendo-se com a expressão verdadeiramente preocupada naqueles olhos esmeralda. Não viu o cavaleiro de Andrômeda em sua última vida, tinha sido morto pela invasão do cavaleiro de Áries, Leão e Escorpião ao Submundo na última Guerra Santa. Esse homem chamado Shun, era fisicamente bastante semelhante a Hades, porém seus cabelos eram verdes, além de mais curtos. Tinha um rosto extremamente benévolo e jovem, sequer parecia ter vinte anos.

Estava verdadeiramente encantado. Se a presença de Thanatos o fascinava, a de Shun o extasiava.

Era como estar de volta a sua primeira vida, quando os 108 espectros foram formados, estar novamente perante ao antigo Hades, quando deu-lhe sua alma, por acreditar na nobreza e convicções da divindade. Não teria mais porque temer a morte, afinal sabia que ela era bem representada.

Lágrimas escaparam do rosto do francês, que rapidamente as limpou com a manga de sua túnica negra, pedindo perdão pela demonstração de fraqueza.

  A razão pela qual se tornou um espectro era por querer acreditar que a existência se seguia mesmo após a morte, todo o conhecimento adquirido em vida haveria de ter algum valor no pós mortem. E Hades, naquele tempo, soube valorizá-lo por isso.

Por que havia se esquecido de algo tão importante?!

- Verônica. – Seguiu Shun em tom macio. – Há muitos séculos, você jurou lealdade a Hades. Contudo, eu não sou, exatamente, o mesmo senhor.

Estendeu suas mãos e delas o frasco voou com sutileza, até parar flutuante frente ao francês.

- Portanto, eu lhe darei uma escolha. Você pode jurar sua lealdade a mim, o novo Senhor do Submundo, que sucedi a vocação de Hades, ou beber das águas do Lete, esquecer-se completamente de sua função como espectro, voltando definitivamente a ser uma simples alma mortal livre.

Chris abriu sua boca em choque pela a oferta, Ikki resmungou baixo e Kairos mantinha uma expressão insatisfeita, claramente mostrando-se contra essa ação. Daidalos manteve-se impassível.

- Sua mãe Claire irá morrer em breve, tenho certeza que já sabe disso, eu já estendi sua vida o máximo que pude. Em uma situação normal, ela sequer deveria ter sobrevivido ao parto. Mesmo que você escolha viver como humano, Kairos levará vocês dois ao castelo de Heinsteim, para que fiquem em segurança do miasma, uma vez que sendo humanos comuns poderiam ser mortalmente afetado por ele, até que essa nova guerra acabe. – Explicava em tom tranquilo. - Independente de sua decisão, manteremos ela segura até que seus últimos dias cheguem como deve ser, e uma vez morta, sua alma será conduzida por mim aos Campos Elísios. Mas saiba que uma vez que jure lealdade outra vez, não haverá volta, as águas do Lete não terão mais efeito sobre você e sua alma, pelo tempo que eu seja Imperador do Submundo, pertencerá a mim.

Os segundos transcorreram lentamente, enquanto Chris Champrouge* ponderava suas opções, contudo, já sabia qual seria sua resposta.

Apesar do que lhe foi dito antes, ajoelhou-se apoiando o joelho direito e o pé esquerdo no chão. Curvando a cabeça e colocando a mão direita sobre seu coração.

- Meu senhor, eu concedo minha alma a ti, sob a forma da Estrela Celeste da Contemplação, peço que me permita servir ao seu lado, como um dos 108 espíritos reencarnados.

Daidalos sorriu, Kairos ergueu as sobrancelhas impressionado, Ikki suspirou e Shun finalmente soltou a respiração que sequer havia notado que estava prendendo. Não que ainda precisasse respirar em seu novo corpo.

- Muito bem então. – Com um movimento de mão o frasco desapareceu, e em seu lugar uma grande mosca metálica surgiu. Logo a sobrepeliz desmontou-se e vestiu completamente seu mestre.

Verônica levantou-se, os três pares de asas abrindo às suas costas.

- Seja bem vindo de volta, espectro de Nasu. – Saudou cordialmente Shun sorrindo. – Em sua primeira vida, você era um exímio estrategista, vamos precisar de suas habilidades para vencer do melhor modo os conflitos que se avizinham.

- Fortes razões, fazem fortes ações! Muito bem! – Parabenizou Kairos, dando tapas nas costas de seu companheiro. – Mas antes de nos deleitarmos em seus conhecimentos sobre estratégia, precisamos de suas habilidades com vestimentas! Simplesmente não podemos permitir que nosso senhor saia ao mundo dos vivos trajando a túnica de um sepultado!

Um enorme sorriso abriu-se no rosto do francês.

- Será um prazer verdadeiramente sublime ajudar meu senhor a se vestir adequadamente~ - Cantarolou contente.

E Shun suspirou, sentindo-se ainda mais cansado que antes.

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- Acho que Verônica levou isso a sério demais...

- Eu me sinto ridículo...

- Do que estão falando? Pelas roupas rasgadas mostram-se os vícios menores. As vestes de cerimônia e as peles escondem todos eles. Se desejarem aparentar serem homens íntegros e de alta classe, é normal que se vistam assim. E devo admitir, que Verônica tem um bom gosto no fim das contas! Mas eu lamento a falta de minha cartola...

Shun mantinha seus cabelos presos num rabo de cavalo baixo, usava um terno longo negro de corte reto que chegava quase até seus joelhos. Sob ele uma camisa branca e uma gravata roxa, além de calças e sapatos sociais também pretos. Já Ikki um blazer azul escuro risca de giz, uma camisa de alguns tons mais claros, uma calça marrom também clara e sapatos negros, sem gravata. O único que parecia verdadeiramente confortável era Kairos com seu traje formal habitual e gravata cor de sangue.

Eles caminhavam próximo ao cabo sul da Ática, na pequena cidade nas cercanias à dois antigos templos, um de Poseidon e outro de Athena, onde ficava o Cabo Sunion, local em que Egeu se lançou as águas quando pensou que seu filho Teseu havia sido morto pelo Minotauro, dando nome àquele mar. Também à borda do penhasco, guardava a prisão onde Athena condenava seus piores criminosos a morrerem afogados pelos mares turbulentos, a menos que uma divindade se apiedasse deles.

   Mas o objetivo dos três era outro penhasco próximo, onde ao topo com privilegiada vista para o mar, erguia-se a mansão da família Solo, família a qual, desde a era mitológica, seu filho mais velho guardava o destino de ser o receptáculo do deus Poseidon.

Contudo, a caminhada se fazia difícil, pela tumultuosa e barulhenta cidade.

- Tem certeza que você está bem Shun? – Os dois espectros pararam, seu senhor novamente respirava com dificuldade além de já estar suando e mostrar uma expressão de clara dor.

Sua cabeça doía horrores. A luz do Sol nunca pareceu ser tão terrivelmente brilhante, mesmo que o céu estivesse nublado. A voz dos vivos, dos carros, eletrônicos e sons da natureza eram tortuosos e insanamente barulhentos em comparação com o silêncio quase absoluto do mundo dos mortos.

A Terra era incômoda e barulhenta, além de tão cheia de vida que chegava a dar-lhe um enjoo no estômago.

Podia sentir a aura de cada pessoa que passava ao seu lado, sua verdadeira índole por trás de sua máscara. Algumas que passavam sorrindo tinham espíritos tão podres que chegava a causar nojo ao imperador, ao tempo que alguns semblantes mais tristes ou preocupados resguardavam almas mais tembladas.

-...Eu... – Tentou responder. - Não sei... O mundo dos vivos foi sempre tão tortuosamente barulhento?

Ikki observou seu irmão com pesar, desconfiava que depois de duas décadas preso ao submundo não reagiria muito bem voltando ao mundo dos vivos, mas não imaginou que seria tanto.

- Devemos voltar pela noite? – Questionou Kairos sério. – O Sol será menos incômodo e haverá menos vivos nas ruas.

Ambos os espectros notavam como um pouco de cosmo negro irradiava de seu senhor, murchando algumas plantas que insistiam em crescer por entre o concreto. Se o ambiente continuasse transtornando seu controle do cosmo, era uma questão de tempo para que a energia se tornasse fatal para mortais que se aproximassem demais, além de chamar a atenção dos cavaleiros de Athena.

- Não, temos que nos apressar, eu já sinto a aura da morte sobre os marinas de Poseidon. O ataque já começou.

Numa mansão, ao topo de um cabo cujo mar contorcia-se contra suas rochas furiosamente, vários cômodos estavam completamente destruídos, evidenciando que algo terrível havia acontecido ali.

Num sótão escondido, um homem alto de cabelos cacheados, compridos e liláses estava coberto de sangue, manchando sua armadura de cor dourada.  O local era escuro, e a única luz provinha de uma lanterna ao lado do ferido.

Frente a ele, um menino de dez anos, olhos arroxeados como o do maior e longos cabelos loiros, o observava verdadeiramente preocupado.

- Pai! Você está bem?

Ao lado dos dois, com o rosto fracamente iluminado pela lanterna, estava um adolescente de longos cabelos azuis e semblante calmo, parecia desacordado.

- Me escute bem Havok, você é o legitimo marina de Dragão Marinho. – Tossiu, sangue escorrendo de sua boca. – É uma questão de tempo até que esses monstros cheguem ao quarto do primogênito dos Solo e descubra nossa grande farsa, Bian não conseguirá segurá-los por muito tempo, é triste pensar que Io, Krishna, Kasa, Isaak e eu fomos derrotados tão facilmente... Não podemos ver esse tal de miasma realmente acabou nos sendo fatal...

- Eu não posso abandonar o senhor assim!

- Seu destino é proteger Poseidon Havok, não a mim! – Colocou em tom firme. – É minha culpa que você ainda seja somente uma criança... Mas você deve ser leal ao seu... Dever...

Sua consciência parecia prestes a abandoná-lo.

- Agora vá! – Voltava a dizer com dificuldade, enquanto lágrimas caíam dos olhos do menino. – E por favor, tome cuidado... Sua mãe jamais me perdoaria se você morresse tão jovem...

Sem esperar resposta, Sorento de Sirene abriu a passagem e fechou logo em seguida, correndo por um longo corredor de pilastras gregas deixando rastros de seu sangue pelo chão, chamando a atenção dos seres que atacavam aquela casa.

Soluçando em meio ao pranto, o menino chamado Havok acomodou o adolescente sobre suas costas e se arrastou por entre uma passagem íngreme de terra batida.

“Por favor.” – Rezou em sua mente. - “Por favor, eu não quero que vocês morram... Por favor... Alguém nos ajude.”

Removeu uma pedra falsa e saiu numa lateral estreita do penhasco. Com sumo cuidado tentou caminhar pela borda de terra. Porém pisou em falso e parte do chão começou a desmoronar. Ao fim da falange haviam apenas pedras e o mar turbulento. Seria uma morte absurda para um guerreiro de Poseidon.

Contudo, antes que caíssem em queda livre, algo negro prendeu os dois rapazes.

- C-correntes?! – Tentava entender o pequeno grego.

No instante seguinte, começaram a ser puxados à superfície, até o topo do penhasco. Com dificuldade escalou as últimas pedras parando de frente a um par de pés de calçado social negro.

Levantou-se rapidamente, em posição de batalha, preparado para cumprir seu papel como fosse.

O homem que o ajudou fez sumir as correntes como se fossem feitas de ar, dando um sorriso tranquilo para o menor, indicando que ele poderia se acalmar, Havok hesitou, encarando os familiares olhos do homem de cabelos verdes.

- Não se preocupe Dragão Marinho, eu vim aqui para ajudar o meu pequeno irmão caçula. Seu pai já deve ter falado sobre mim, mas creio que você deve me conhecer pelo nome Astrapí*. O filho mais velho da família Solo. É um prazer enfim poder te conhecer. 

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Notas Finais


* Este lugar existe e pode ser visto aqui: https://goo.gl/Hd32wN

* E seguindo pela esquerda na avenida, você chega a morada de Lucius, o prédio de tijolos ao fundo: https://goo.gl/Hy9m7T Explorem à vontade!

* A maioria das falas de Kairos são referências a Shakespeare.

* Chris Champrouge e Claire Champrouge - O nome de Verônica foi criado por Shiori em Lost Canvas em referência ao jogo Resident Evil CODE: Veronica. Onde os personagens principais são justamente Claire Redfield e Chris Redfield. Deste modo, Champrouge é "Redfield" em francês.

*Astrapí - Um forte lampejo de luz rápido. Relâmpago.

Sobre os novos personagens.
Mileta Bedreull Herrestjerner - Mitela significa “A generosa”, de origem alemã. O sobrenome norueguês tem o sentido de “Melhor lã”.
Mileto era uma cidade que antigamente pertencia a Grécia, hoje pertence à Turquia, produzia a melhor lã do mundo grego.
Lucius Herrestjerner – Lucius é o nome que Plutarco, historiador, biógrafo, ensaísta e filósofo médio platônico grego, adotou ao receber cidadania romana.
Herre stjerner tem o sentido de “Senhor das Estrelas” em norueguês. Uma versão nórdica do nome grego clássico Asterion.
O título desse capítulo, além de fazer menção às relações fraternais mencionadas no mesmo, também é uma referencia a trilha sonora Sad Brothers de Saint Seiya.
https://www.youtube.com/watch?v=gQetFlEK1Wg

Sobre a rosa do último capítulo, vocês chegaram muito perto. Ele se chama "Rosas para a sepultura" em referência ao encontro de Shun e Hyoga na saída do santuário, onde Andrômeda alega que as rosas de Afrodite são as mais belas que ele já viu. Quando June visita o túmulo de Shun, o rapaz ainda desconhecido diz que o cavaleiro de Aquário sempre pegava rosas da casa de Peixes para colocar sobre a lapide.

Deste modo, "Rosas para a sepultura" faz referência a Hyoga, como ele nunca se conformou com a morte de seu amigo, e mesmo após 20 anos, frequentemente vai visitar seu túmulo vazio, como fazia com sua mãe.

Agora a pergunta da vez é: Por que raios Shun se apresentou como o primogênito dos Solo? Quais as suas teorias em relação a isso?


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