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História Gyeoul Seuta - Gyuri


Escrita por: TheCrown

Notas do Autor


Ah, vocês vão notar que eu ainda me refiro às vezes ao Jimin como "Park" e o Jungkook como "Jeon" mesmo agora que eles já são casados e o sobrenome correto para AMBOS seja JEON-PARK, isso porque eu eu tenho aquele agoniazinha qnd vc n gosta de repetir o nome do personagem e tenta usar substitutos como um adjetivo por exemplo como "loiro" para o Jimin, porque ficar repetindo "fulano" "fulano" "fulano" num mesmo parágrafo da uma certa agonia né? rçrç

Capítulo 53 - Gyuri


Fanfic / Fanfiction Gyeoul Seuta - Gyuri


 

Horas antes.


 

Casa da Família Park.

 

Bujeong-dong, Busanjin-gu, Busan.




 

Ligações súbitas no meio da noite nunca foram um bom sinal. Tanto que, a primeira reação dos Sr. e Sra. Park ao ouvir o telefone fixo da casa tocando depois das dez horas da noite, foi se entreolharem confusos.

 

Afinal quem poderia ser àquele horário tão inconveniente?

 

Foi a mamãe Park quem atendeu, e o comunicado que recebera, mesmo sob as palavras cuidadosas e bem veladas de seu emitente, a abalou muito. A pobre Eunseo quase desmaiou no ato – para maior preocupação de Namjoon do outro lado da linha. Suas pernas adquiriram uma consistência de gelatina depois da combinação das palavras "Jimin", "acidente de carro" e "hospital", e quase não conseguiu acompanhar as demais informações que vieram à seguir.

 

"...Não quero precupá-la ainda mais, Sra. Park, mas por conta do acidente... o Jimin entrou em trabalho de parto. Ele está sob os cuidados da Dra. Choi no St. Mary neste momento, e é para onde estamos indo agora mesmo. Sinto muito, é tudo que eu sei."

 

— C-como assim acidente? — o Sr. Park inquiriu não querendo acreditar no que a esposa lhe dissera. — Ele está bem? Ele...?

 

A mamãe Park tratou de engolir o bolo na garganta e tentou se recompor.

 

— Ele entrou em trabalho de parto, Jagi. Precisamos ir agora! — instruiu já à caminho de deixar a sala, a voz embargada e os olhos marejados. — Acorde o Jihyun, ele vai conosco.

 

— S-sim, claro. Vamos de KTX?

 

— Ér... o último trêm bala sai da estação às dez e meia, se corrermos da tempo de pegar!

 

Com isso a mamãe Park sumiu casa à cima, em direção ao quarto do casal para separar os documentos e fazer uma pequena mala para as essencialidades. O Sr. Park, ainda em choque, foi até o quarto do filho caçula despertá-lo às pressas; Jihyun entretanto ainda estava acordado sentado em sua cama, parecendo muito focado no celular em suas mãos até ser interrompido pela porta do cômodo sendo aberta subitamente.

 

— Appa?

 

— Não quero que entre em pânico, filho, mas seu irmão está com problemas. — declarou ainda com a mão na maçaneta da porta e uma expressão assustadora no rosto. — Estamos indo para Seoul, prepare suas coisas rápido.

 

Jihyun mal teve tempo para responder, mas só o fato de se tratar de seu irmão já acendeu um alerta em sua cabeça. Jimin grávido e sozinho em Seoul? Ah isso não podia ser coisa boa.

 

...


 

Momentos atuais. Manhã do dia seguinte ao acidente.


 

Hospital St. Mary de Seoul.

 

Banpo 4(sa)-dong, Gangnam-gu, Seoul.





 

Seu corpo estava tão exaurido que Jimin despertou em etapas, seus sentidos sendo ligados um à um como interruptores numa caixa de força. Primeiro o seu olfato, que foi brindado pelo odor asséptico de eucalipto; depois sua audição, tomando nota do som ambiente que se resumia ao sopro de um circulador de ar e um ronco pesado ao seu lado; seu tato, desperto pela sensação de sua mão direita sendo envolvida e então sua visão embaçada, ao que abriu os olhos cansadamente.

 

Jimin piscou algumas vezes para se acostumar com a luz branca do ambiente e com um suspiro frustrado percebeu que estava sem as lentes de grau, sua míopia dificultando como sempre sua capacidade de enxergar. Mas não precisava ver muito do ambiente não familiar para saber que não estava em casa.

 

Estava internado. E apesar de bastante requintado, aquele cômodo não deixava de ser um leito de hospital.

 

— Ai... minha cabeça. — protestou num muxoxo ao sentir uma pontada na mesma, fazendo sua mão livre ir de encontro à sua testa numa reação natural de tentar combater a dor. Com o movimento Jimin percebeu a agulha de soro injetada em sua mão e fez uma careta degostosa. Odiava tomar soro, odiava agulhas ou sentir dor no geral!

 

De repente, como se acabasse de recuperar uma parte de sua memória perdida, Jimin levou essa mesma mão ao seu abdômen dando por falta do volume que deveria ter ali.

 

— Gyuri!

 

Num movimento brusco e não muito bem calculado, Jimin sentou-se abruptamente. Em consequência ficou profundamente nauseado por alguns segundos, sua cabeça latejou de dor e outra pontada mais dolorosa em seu baixo abdômen se fez presente. Jimin gemeu sôfrego com a dor inesperada. E enquanto inspirava e expirava o ar com cuidado para se recuperar, o loiro percebeu de canto de olho um movimento ao lado de seu leito, e surpreendeu-se ao encontrar uma figura encolhida numa posição bastante desconfortável naquela poltrona estreita e baixinha de visitantes, com o braço esticado e a mão ainda envolvendo à sua em cima da coberta.

 

O moinho de cabelos castanhos e rebeldes familiar pendeu para o lado revelando a face inchada e cansada de Jungkook, quem parecia estar num processo letárgico de acordar. Quando o mais novo finalmente tomou nota de onde estava e ainda da figura de Jimin acordado à sua frente, seu rosto iluminou-se e ele imediatamente levantou para abraçá-lo.

 

Jimin não tinha idéia de como precisava daquele contato intenso e afetivo até estar envolvido nos braços aconchegantes do marido. O loiro fungou baixinho emotivo e Jungkook se obrigou a cortar o contato o fitando com preocupação extrema.

 

— Você está bem? Eu o machuquei?

 

— N-não, eu só... me abraça de novo. — Jimin já estava a desabar e não precisou pedir duas vezes para Jungkook imediatamente repetir o gesto, dessa vez sentando-se na beirada da cama para lhe dar mais acesso ao menor. — Eu nem acredito que está aqui...

 

— É claro que eu estou, meu amor. Como poderia deixar você sozinho? — Jungkook assegurou acariciando os cabelos de Jimin ainda sujos e desgrenhados, lhe passando mais conforto. Era tão bom estar nos braços um do outro, mesmo que em qualquer parte remota do mundo ainda seria como estar em casa.

 

Sentindo que o mais velho não ia conseguir soltá-lo por tão cedo, Jungkook juntou-se à ele na cama, escorando-se na espalda alta do leito e entrando debaixo das cobertas com cuidado. Jimin imediatamente se aninhou ao seu peito e apertou-o possessivo.

 

— Eu tive tanto medo. — confessou baixinho o loiro, com o rosto aconchegado contra o peito do outro. — Achei que ia morrer, a-aí... eu só conseguia pensar em como eu não sobreviveria, eu via os rostos de todo mundo que eu conheço chorando... eu me perguntava se conseguiriam salvar a Gyuri ao menos. Eu via você, Kookie, sozinho... e esse era o último cenário que eu gostaria de visualizar na vida.

 

Jungkook sentiu seu peito apertar, pois temeu a mesma coisa.

 

— Não pensa mais nisso, por favor. — pediu com a voz fraca, pondo sua mão sobre a menor que recostava sobre sua barriga, com cuidado para não tocar na agulha do soro.

 

— O que... o que houve com a Gyuri? — Jimin perguntou depois de algum tempo reunindo coragem, sua voz opaca, como se estivesse se preparando para o pior. Aquele serzinho tão pequeno e frágil dentro de si... era doloroso supor, mas haviam grandes chances que um acidente daquela gravidade tenha sido demais para ela.

 

Mas então Jungkook riu leve, seu peito vibrando sob o rosto de Jimin.

 

— Eu não a conheci ainda. — Jungkook soou quase culpado ao responder, recebendo um olhar ansioso de Jimin em retorno. — Eu queria estar aqui quando você acordasse e também... acho que estou protelando, por isso não fui vê-la ainda. Mas Hobeom disse que ela é linda.

 

— Então... isso quer dizer que... — Jimin voltou a sentar-se na cama, seu espírito renovado. Sua menina conseguira vir ao mundo em meio à todo aquele caos? Ela realmente foi forte o bastante? Céus! Àquela altura o loiro já conseguia ouvir seu batimento retumbar nos ouvidos. — Mas eu tinha acabado de entrar nas 33 semanas ainda... o-onde ela está?

 

— No berçário.

 

— Kookie, eu quero vê-la. Eu quero... ouch! — em sua urgência ao mover-se sentiu outra pontada no baixo abdominal. Desnecessário mencionar que Jungkook já estava apavorado. — Oh... como isso dói! — com o rosto crispado ele levou as mãos à barra da camisola hospitalar a erguendo sem cerimônias.

 

— São os seus pontos. Não devia se mover tão bruscamente. — Jungkook o advertiu observando a bandagem que atravessava o baixo abdômen – agora um tanto flácido – de Jimin, na horizontal de um lado à outro. As gazes brancas já apresentavam algumas manchas escuras indicando que já era hora de trocar o curativo. — É melhor você deitar, eu vou chamar alguém pra trocar as bandagens.

 

Mesmo à contragosto, Jimin concordou voltando à se deitar no leito. Jungkook desceu com cautela e o ajeitou sob as cobertas.

 

— Eu não demoro. — garantiu depositando um selar na testa do mais velho e fazendo a menção de se afastar.

 

— Jagi. — Jimin protestou manhoso fazendo um beicinho, Jungkook sorriu doce e debruçou-se sobre ele para deixar um longo selinho em seus lábios. — Agora sim, pode ir.

 

Jungkook saiu do quarto em dois tempos, deixando um Jimin letárgico para trás contemplando tudo e nada ao mesmo tempo. O mais novo foi surpreendido entretanto ao fechar a porta atrás de si e perceber que havia um homem estranho escorado na parede do outro lado do corredor, este o cumprimentou com um maneio de cabeça educado. O Jeon respondeu ao cumprimento e a confusão em sua face devia ser muito evidente, pois o estranho sentiu a necessidade de se manifestar.

 

— Jeon Jungkook, é um prazer conhecê-lo. Sou o agente Lee da divisão de investigação da polícia de Seoul, fui designado para a proteção particular do seu noivo. — se apresentou estendendo uma mão a qual Jungkook, bastante surpreso, apertou.

 

— Proteção particular? Por que o Jimin precisaria disso?

 

Sabendo de antemão que o rapaz não tinha idéia do caso que corria em sigilo, o agente Lee o inteirou do assunto, ou pelo menos o que lhe era permitido revelar. O que resultou num maknae nada feliz vasculhando as salas de espera à procura de Namjoon, e considerando o quão pequena e reservada a ala VIP do hospital era, não demorou à encontrá-lo. E para sua surpresa, este estava acompanhado da família Park.

 

— Eomeoni, abeoji. — Jungkook foi até eles de imediato e cumprimentou-os, menos Jihyun que ressonava escorado no ombro do pai. — Quando chegaram?

 

— No meio da madrugada, à algumas horas. — a mamãe Park respondeu com um sorriso cansado. Isso despertou o cantor para o fato de que não sabia nem que horas eram, e buscando checar a hora no celular no bolso da calça assustou-se à ver que não passavam nem das seis da manhã ainda. — Fomos ver o Jimin, mas ele ainda estava dormindo e depois de babar um pouquinho na pequena Gyuri no berçário decidimos esperá-lo acordar. A Dra. Choi disse que viria vê-lo assim que ele despertasse.

 

Jungkook trocou um breve olhar com seu hyung que não parecia mais descansado que ninguém ali e considerou tocar no assunto "sequestro", mas por fim decidiu que já foi emoção demais por um dia para a mamãe Park, talvez ela nem estivesse à par ainda desta informação e não queria ser ele o mensageiro das más notícias.

 

— A boa notícia é que ele já acordou. Eu estava até em busca de alguém para trocar os curativos dele.


  ...

Desafiando algumas regras básicas de visitação à pacientes, o quarto de Jimin lotou. Hobeom mesmo saiu do seu próprio ainda vestido no confortável pijama do hospital e juntou-se à eles, a família Park estava ali e, é claro, Jungkook e Namjoon estavam presentes também. E a Dra. Choi, ainda com olheiras profundas e o cabelo preso num coque frouxo, só faltou ser aplaudida de pé quando entrou no recinto.

 

— Como se sente, garotão? — perguntou ligeiramente mais calma do que esteve horas atrás, parando ao lado da cama.

 

— Nauseado e sujo. Quando vou poder levantar dessa cama, Noona? — Jimin quis saber com manha. — Eu quero ver minha bebê.

 

Sora sorriu complacente, enquanto vestia as luvas descartáveis. Ela trouxera consigo, numa bandeja de metal, um modesto kit de primeiros socorros, seringas, coletores de sangue e mais uma bolsa de soro. Jimin ficou mais enjoado só de olhar para aquilo.

 

— Vou providenciar isso. — garantiu já se pondo ao trabalho.

 

A doutora então dobrou a ponta da coberta até a altura da cintura de Jimin e afastou com delicadeza a camisola hospitalar revelando seu abdômen, com agilidade ela retirou as bandagens descartando-as de imediato – Jimin mal sentiu o puxão do esparadrapo contra seus pelinhos ralos –, mergulhou um tufo de algodão numa solução desconhecida e com a ajuda de uma pinça comprida ela espalhou o algodão geladinho pela extensão da sutura na pele do rapaz. Terminado de limpar o ferimento, ela fez outro curativo e deu espaço para que Jimin se recomposse, afinal estava nu sob a camisola e não estava muito a fim de se exibir.

 

— Passou por uma cirurgia delicada, Jimin-ah, vai precisar de algum tempo para se recuperar. Mas com a ajuda de alguém já pode tomar banho, se quiser.

 

— Ér, certo. Obrigado. Mas e a Gyuri? Quando vou vê-la?

 

— Vou levá-lo pessoalmente até ela mais tarde. — respondeu preparando em seguida a agulha descartável e os coletores de sangue. — Mas antes disso precisamos conversar.

 

— Oh Oh, não gostei desse tom. — Jihyun comentou ante a subita queda de atmosfera.

 

— Nem eu. — Jimin concordou sem fitá-lo, ao invés disso observando a médica retirar um elástico do bolso e envolver no seu braço num aperto suficientemente firme para fazer suas veias despontarem sob a pele.

 

Sora higienizou brevemente a área de articulação de seu braço, onde a veia estava mais grossa e proeminente, e então introduziu ali a agulha com a suavidade que desenvolvera com décadas de conhecimento, conectou ao primeiro dos três coletores de sangue e puxou a tampa da seringa preenchendo aos poucos o pequeno recipiente. E então se pôs à explicar.

 

— Acontece que minhas suspeitas estavam certas, Jiminie: por conta da intensidade da batida a sua placenta foi descolada da parede do útero. E isso por si só já expõe o bebê à um grande risco, a transferência de nutrientes do seu corpo para a criança fica seriamente comprometida, e ainda causa um sangramento que fica acumulado contra a parede do útero e traz bastante dor; mas no seu caso ela não foi só descolada como... como eu poderia colocar? Bem, ela apresentava um rasgo que aumentava cada segundo mais. E isso, além de naturalmente expor o feto às bactérias do seu corpo, causou um vazamento de liquido amniótico de dentro do saco, o mesmo liquido dentro do qual ele se desenvolve, e é muito importante. Por isso você sentiu tanta dor na região do final da espinha, o sangramento e o liquido amniótico estavam se acumulando entre a placenta e a parede do útero. Tivemos que abrir você para retirar a placenta inteira, era nossa melhor chance, e assim conseguimos salvar a Gyuri de sufocar, mas aí que vem a parte delicada... foi necessário arrancar um pedaço inteiro da parede do útero no processo.

 

Ao final de seu monólogo Sora já havia enchido com sucesso os três frascos com o sangue de Jimin e feito um pequeno curativo no furinho da picada. Todos ficaram em silêncio, mesmo que não entendenssem muito bem o que aquilo significava, pelo tom sério da doutora não parecia coisa boa.

 

— O que isso quer dizer? — Jungkook se pronunciou então.

 

— Quer dizer que danificamos seriamente o útero do Jimin, e tivemos que retirá-lo por inteiro. – a Dra. Choi respondeu retirando a bolsa vazia de soro do suporte do lado da cama, para então substituí-la por uma nova. — Quer dizer também que não haverá outro bebê. Eu sei que também não estava nos planos de vocês outra criança por tão cedo, mas... não deixa de ser uma pena. Era uma dádiva unica.

 

Jimin não ficou tão abalado assim por não possuir mais um útero funcional. Foi na verdade como ter uma dádiva temporária, apenas por tempo suficiente para que pudesse trazer sua menina ao mundo. Estava feliz assim. Além do mais, ter um útero saudável não gestante significava ter ciclos menstruais e... ele certamente não gostaria de passar por isso. Não novamente, pois da primeira vez chegou à pensar que estava tendo uma hemorragia interna.


 

À mando da doutora, Jimin precisaria permanecer deitadinho até esvaziar a última gotícula do soro que precisou tomar. Segundo Sora mesmo disse, o rapaz perdera muito sangue no procedimento e precisa ser cauteloso para se recuperar rápido. Quando enfim terminou a medicação intravenosa, o cantor acionou os enfermeiros através de um botão na cabeceira da cama e foi atendido. Ele teve o bendito tubinho retirado do braço e pôde enfim deixar a cama, colocando os pés no chão pela primeira vez em horas.

 

— Au...! — resmungou com a pequena fisgada que sentiu ao equilibrar enfim seu peso sobre as próprias pernas novamente. Era mais dificil que esperava.

 

— Não se esforce muito! — Jungkook ao seu lado chiou alerta, pronto para segurá-lo à qualquer passo em falso.

 

— Não, está tudo bem. Eu consigo. — insistiu o loiro dando passos vagarosos, com medo de atiçar seu sistema nervoso irritado com a sutura na barriga.

 

Jimin deu três passos até perceber que estava prendendo a respiração acovardado. E aí entrou em cena Jungkook e seu senso de preocupação para com o marido, ele alçou Jimin nos braços com o maior zelo do mundo e foi até o banheiro do outro lado da sala. O mais velho ainda sentiu uma leve fisgada no processo, mas foi com certeza mais fácil ser carregado do que ir caminhando até o cômodo adjacente.

 

— Eu ainda consigo sentir cheiro de pneu queimado e óleo, acho que ficou no meu cabelo. — comentou afagando os fios enquanto Jungkook o ajudava a se despir e em seguida tirar o curativo.

 

— Eu nem ia comentar. — Jungkook revelou arrancando uma risada gostosinha daquelas que faziam seu dia.

 

Céus, como era bom estar de volta ao lar! E malmente se passou um dia de separação.

 

Como se não conseguisse manter as mãos longe do outro, Jungkook arregaçou as mangas e se juntou à ele no box para ajudá-lo a se lavar. Tentaram encurtar o banho o máximo possível, tanto porque Jimin malmente conseguia se manter em pé – usando-se das barras de ferro na parede e os braços de Jungkook como apoio – como também porque estavam morrendo de ansiedade de descer alguns andares e visitar sua menina.

 

Depois de limpo e bem cheiroso, Jimin foi vestido num par novo de pijama hospitalar e um robe felpudo para aquecê-lo, e voltaram ao quarto à espera da Dra. Choi.

 

— Prontinho, agora é só repousar. — uma enfermeira aleatória que fizera seu novo curativo, anunciou antes de recolher sua bandeja e se retirar.

 

Para manter o sigilo, como combinado, foram criadas duas fichas para o paciente: uma exclusiva ao Diretor Kim e sua equipe e outra para os demais funcionários que por ventura viessem à visitar Jimin em seu leito – que ainda era irrestrito à todos os profissionais – ; nesta ficha adulterada dizia que o idol passara por uma cirurgia para remover uma ferragem que durante o acidente teria ferido-o. O próprio Jungkook conferiu a informação na prancheta que penduraram ao pé da cama, surpreendendo-se com a criatividade do Diretor Kim para contornar a situação.

 

— Olá garotos. — a Dra. Choi cumprimentou-os passando pela porta empurrando uma cadeira de rodas.

 

— Oh não, eu vou ter que andar nisso aí? — Jimin resmungou desgostoso. — Prefiro muletas.

 

— Ele mal consegue parar em pé. — Jungkook delatou rápido recebendo um olhar ofendido do esposo. Sora riu-se da interação dos dois e parou a cadeira ao lado do leito para facilitar a transferência.

 

O mais novo alçou Jimin com facilidade e o colocou na cadeira, o Park resmungou uma vez ou outra sobre como caminhar fazia parte do seu processo de recuperação, mas aquietou-se e ainda recebeu de bom grado a manta que foi jogada no seu colo para aquecê-lo – a temperatura ambiente não era tão bem controlada nos corredores quanto eram nos leitos, e o frio de outono sempre encontrava uma brecha para entrar. Os três deixaram o quarto logo em seguida e enquanto a médica liderava o caminho, Jungkook empurrava a cadeira de rodas.

 

— Lembra-se da contagem de semanas, Jiminie? — a médica quis saber.

 

— Sim, eu acabava de completar as 33 semanas ontem mesmo, segunda-feira. Gyuri ainda não tinha completado oito meses.

 

— Exatamente. Ela precisou vir antes do esperado e isso pede alguns cuidados, é claro. Gyuri está na unidade de cuidados intensivos neonatais, incubada como os demais bebês prematuros mas perfeitamente bem. Apenas receio que ela precise ficar por aqui por algum tempo, talvez até mais que você, Jimin-ah.

 

Isso não deixou de causar uma melancolia no casal, mas era de se esperar, é claro.

 

— Quanto tempo, Noona? — Jimin perguntou quando já pegavam o elevador.

 

— Até ela alcançar o peso ideial, que seriam dois quilos. Aí ela pode ser levada para casa e ser cuidada como um bebê de termo normalmente. Gyuri é bastante pequena, ela nasceu com um quilo duzentos e cinquenta. Não posso estimar o tempo exato que pode levar, cada bebê cresce no seu ritmo... mas a boa notícia é que recém nascidos ganham peso rápido. Pode levar uma semana no melhor dos casos.

 

O casal de primeira viagem prestava muita atenção em cada palavra da médica, adquirindo todo o conhecimento necessário de como proceder com um bebê prematuro. Estavam tão imersos nas breves perguntas e tópicos relacioados ao tratameto, que quando deram por si já estavam no berçário.

 

— Dra. Choi. — uma enfermeira veio cumprimentá-la polidamente assim que acessaram a área comum. — A senhora... ér, os dois vão entrar? — perguntou se referindo aos rapazes.

 

— Sim, caso especial. Não se preocupe, eu tomo responsabilidade.

 

Pelo tom quase banal de Sora e a forma como a agashi suspirou resignada, era possível dizer que a doutora estava acostumada a burlar uma regrinha aqui e ali dentro do hospital. Os papais ansiosos seguiram a doutora até uma saleta onde vestiram máscaras e aventais hospitalares, pantufas higiênias e ainda higienizaram as mãos antes que pudessem seguir adiante.

 

— Por aqui, garotos. — instruiu Sora os guiando sala a dentro onde haviam diversos berços hospitalares alinhados. Ao final da sala haviam as incubadoras, pouquíssimas delas ocupadas.

 

A médica então parou em frente à determinada incubadora e o coraçãozinho de Jimin só faltou sair pela boca.

 

— É ela? — Jungkook perguntou aproximando-se juntamente com Jimin na cadeira.

 

— Sim, venham dar uma olhada.

 

Jimin decidiu levantar-se da cadeira de rodas e, com a ajuda do marido, se aproximou com os olhos brilhando em ansiedade. Quando ambos pararam ao lado da incubadora e puseram os olhos pela primeira vez naquele pequeno e indefeso serzinho foi amor à primeira vista. Ela era tão pequena, delicada e bela.

 

Gyuri estava deitada de dorso ressonando ruidosamente, vestindo apenas uma fralda descartável enorme para seu tamanho diminuto e uma pulseira de identificação, tinha também monitores ligados ao peito e um pézinho enfaixado, e um tubo respiratório que saia de sua boquinha. E mesmo fechada naquela caixa de vidro e inspirando todos os cuidados do mundo ela ainda parecia tão... serena, calma como se ainda estivesse no ventre. Gyuri era realmente pequena e magrinha, encolhida em si mesmo, dona de um rosado saudável em sua pele e até mesmo um bom punhado de cabelos bem escurinhos e lisos.

 

Jimin sentiu-se tremendamente emocionado, era ela ali, seu fetinho, sua confidente... sua menina. A vida que gerara e carregara dentro de si por quase oito meses e pela primeira vez podia ver seu rosto, e céus! Como imaginou essa pequena face nos últimos meses. Sentiu um misto quase vertiginoso de emoções no peito, se permitiu sentir até orgulho de si mesmo, por ter conseguido dar à luz mesmo sob condições tão adversas. Jungkook ao seu lado não estava muito melhor, se rendendo lentamente as lágrimas enquanto admirava o fruto do seu amor, céus! Ela estava respirando, seu coração estava batendo, ela era real... ela estava viva. Não era mais apenas uma projeção da sua mente ansiosa, não, era muito melhor que isso pois agora estava vendo pessoalmente.

 

E ela era linda.

 

— J-Jagi, ela... ela é... — Jimin tentou expressar o que sentia no momento em palavras mas nada parecia ser suficiente. Jungkook não precisava de palavras no entanto, estava sendo invadido no momento pelas mesmas sensações, inundado de amor.

 

— Eu sei, eu sei. — respondeu puxando o loiro para os seus braços enquanto admiravam emocionados o pequeno serzinho transbordando vida.

 

Sora preferiu não interferir num momento tão tocante e se afastou, ela mesma ainda lembra-se vividamente da emoção que foi ter uma criança, e da emoção de trazer outras tantas ao mundo. Para todo e qualquer um que perguntasse, aquele era o melhor emprego do mundo, e aquilo que presenciava no momento era sua parte favorita: ver a mais genuína emoção nos olhos dos pais ao conhecerem seus filhos.

 

Ficaram em silêncio por algum tempo, mas pela forma como Jimin espalmava suas mãos pequenas pelo vidro era possível sentir sua necessidade de tato. Ele queria tocá-la, para provar para sua mente que aquilo tudo era real. Sua conexão com Gyuri era mais forte por conta dele tê-la gerado dentro de si, e acabou por desenvolver um instinto mais... materno, por assim dizer. Jungkook por outro lado estava um pouco apavorado, com receio de machucá-la, por isso contentava-se apenas em assistir.

 

— Pode passar as mãos pela abertura e tocá-la se quiser. — Sora deu um epurrãozinho. O loiro ainda a fitou como se pedisse permissão e a médica assentiu.

 

O Park levou a mão direita pela abertura na lateral da incubadora e passou por ali, e um tanto hesitante usou à principio apenas as pontas dos dedos para tocar o peito da bebê que subia e descia num ritmo tranquilo, constatou daí que Gyuri possuía um outro nível de pele macia. Jimin sorriu ao enconstar a palma inteira sobre o pequeno tronco, sentindo a pele quentinha e o batimento de seu coraçãozinho diretamente.

 

— Kookie, você precisa sentir isso. — insistiu e o mais novo engoliu em seco concordando. Talvez mais hesitante ainda ele enfiou a mão pela abertura e tocou os pézinhos da pequena, notando como a pele era mais lisinha e fina ali. — Oi pequena... lembra da minha voz? Sou eu, o papai. Ou pelo menos um deles. Jungkook, diga oi também! — sussurrou emocionado, como se estivesse trocando segredos com a filha.

 

— Olá, minha linda. — o maknae riu-se da ansiedade de Jimin, mas cumprimentou-a genuinamente encantado. — Ela é tão pequena, deve ter uns trinta centímetros de comprimento. — comentou deslumbrado, suas perninhas praticamente sumiam sob sua palma.

 

— Trinta e quatro centímetros e meio, na verdade. — a doutora corrigiu.

 

— Noona, e esse tubo? — Jimin perguntou analisando-o com a face crispada.

 

— É perfeitamente normal, para ajudá-la a respirar até que ela conseguia puxar o ar sozinha. Gyuri já passou pelos exames preliminares, os resultados foram todos promissores. Para um bebê prematuro, ela é bem saudável, tem todos os órgãos formados e não apresenta nenhum problema sério.

 

Como se esperasse até o final da explicação para interfirir, a enfermeira de antes apareceu na porta chamando pela doutora.

 

— Tem um homem aqui que deseja falar com os senhores Jeon e Park. — ela anunciou despertando o interesse do casal. — Ele se apresentou como Agente Lee, da polícia.

 

Jimin revirou os olhos desinteressado. Ainda era cedo demais para dar depoimento sobre o acidente, e estava num momento muito íntimo ali. Não gostara nem um pouco de ser interrompido.

 

— Eu vou ver o que ele quer. — Jungkook se ofereceu e o outro ainda lhe lançou um olhar manhoso como se pedisse para simplesmente ignorá-lo. — Eu não demoro. — garantiu o maknae de qualquer maneira, depositando um selar rápido na ponta de seu nariz antes de sair.

 

— Fazer o que. — deu de ombros para logo em seguida voltar a babar pela filhotinha.

 

— Seus pais estiveram aqui mais cedo para vê-la, eu dei meu jeitinho e deixe eles entrarem por alguns minutos. — Sora confidenciu, lhe lançando uma piscadela. — São os avós mais fofos do mundo, mas por um momento achei que sua mãe ia sequestrar a Gyuri e sair correndo.

 

Riram então cúmplices. A matriarca Park devia estar mesmo nas alturas com a chegada da netinha.

 

Demorou menos que o esperado para Jungkook retornar, parecendo ligeiramente mais tenso do que quando saiu. Notando isso, uma preocupação automática tomou o mais velho.

 

— Não me dê más notícias logo agora, por favor. — o loiro pediu soando cansado.

 

— Na verdade, a notícia é boa... a responsável por causar o acidente foi detida.

 

— Mas... — não convencido Jimin insistiu pela parte ruim a notícia boa.

 

— Mas tem uma parte... oculta dessa história que talvez você queira saber.

 



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