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História Half Bad (HIATO) - Meio desalinhados.


Escrita por: Infinie

Notas do Autor


Olá , meus caros sobreviventes!
Mais um capítulo para vocês. Espero que gostem

Capítulo 26 - Meio desalinhados.


POV Harley

-Carl, espera um pouco. Não estamos conseguindo te acompanhar! –Digo tentando chamar a atenção do moleque que anda mais rápido que um desgraçado correndo dos cães do inferno.

A minha situação não é das melhores. Estou torra amarrotada, suada e com sangue fresco e seco espalhado aos montes pelo meu corpo. Meu cabelo virou um chumaço pegajoso de fios loiros grudados em um couro cabeludo que não vê água há mais de três dias. Um zumbi entranhado nos galhos de uma árvore ao meu lado parece infinitamente mais limpo. Mas esse é só o estado do meu exterior, da minha casca.

Por dentro eu estou quebrada.

Daryl não está comigo. O pior de tudo é que eu não faço a menor ideia de onde ele possa estar, se está vivo e bem ou...Me recuso a pensar em outra possibilidade. Sei que ele é mais do que capaz de se proteger. Mesmo assim, meu estado de ansiedade e temor comprimem o meu coração  no aperto de um punho furiosamente fechado.

O meu único alívio é sentir o corpo ensanguentado de um manco Rick ao longo do meu e poder observar a figura de um Carl vivo, mesmo que rebelde, caminhando emburrado à nossa frente.

-Carl, anda um pouco mais devagar. – O Senhor Estranho pede e eu o estreito mais em meus braços, impedindo que ele caia.

Escondo uma careta de dor quando seu corpo parece muito mais do que eu possa suportar. Rick está ficando mais pesado a cada passo, um alerta de que precisamos encontrar um local seguro para descansarmos e cuidarmos de nossas feridas.

Merda.

A força que faço para equilibrar o meu corpo e o corpo do meu amigo pressiona os meus sistemas e rompe algum vasinho já fragilizado do meu nariz quebrado. Em consequência, o sangue desce sem impedimentos pela minha face, pingando em minha blusa e caindo em um leque líquido no chão.

-CARL, PARE! – Rick dessa vez grita, fazendo com que o filho pare no lugar, enquanto se afasta um pouco de mim e me encara com uma expressão assombrada.

-Porra. - Reclamo quando sou obrigada a desentrelaçar meu braço da cintura do xerife e apertar os dedos no nariz tentando estancar o sangue.

Uma grande cagada.

Estremeço e um silvo de dor sai por entre os meus lábios. Meus olhos enchem de lágrimas com o latejar que se espalha pelo meu rosto ao ter a cabeça inclinada para frente por Rick.O sangue não para de descer e eu estou começando a achar que a qualquer momento ficarei mais seca que uma folha no outono. A frase de que “o nosso corpo é feito de água” nunca fez tanto sentido como agora.

A respiração de Rick começa a acelerar ao meu lado, o homem ficando ofegante de desespero. É nessa hora que Carl resolve se aproximar de nós, estendendo um lenço sujo e ensebado para nós. Em outro momento, meus instintos me fariam recuar de nojo, a necessidade de ser higiênica em situações como aquela me fazendo ser sistemática. Mas eu não tinha outra opção. Levo o pedaço de pano até o rosto e tento estancar aquele fluido.

-Está vendo, Carl? Precisamos ficar juntos. Achar um lugar seguro e suprimentos. – O xerife censura o filho, a voz embolada pelo rosto inchado, um olho mal se abrindo, sangue manchando tudo de vermelho.Com um suspiro, ele continua, colocando um braço no ombro do garoto- Ei, nós vamos...

Ele não completa o restante de frase. Fica evidente que “ficar bem” é uma realidade pouco provável nessa nossa atual circunstância. Não depois de perdermos a prisão, amigos e.... Judith.

Um soluço escapa pelos meus lábios assim que Carl gira sobre os calcanhares e volta a caminhar se afastando de nós, carrancudo. Rick me abraça desajeitadamente e mergulha a cabeça no meu pescoço e cabelos.

Sou uma mistura suja de lágrimas e de sangue.

***

Após minutos, ou horas, andando sem um rumo definido, avistamos ao longe o que antes era uma churrascaria de beira de estrada. Arrastamo-nos até a entrada e eu alcanço a arma pendurada no meu ombro, preparando-me para a iminente exploração.

Rick se vira para mim e para o filho no instante em que eu me afasto um pouco dele, tentando equilibrar o meu corpo e a pesada AK-47.

-Vocês dois... me esperem aqui fora. Fiquem de olho.

Balanço a cabeça para ele em negação (já posso fazer isso, uma vez que o sangramento do meu nariz parou faz algum tempo).

-Não. Fique de olho você! - Carl intercede, petulante.

Arregalo os olhos e me viro em sua direção. Ele nem ao menos me encara. Me ignora desde que saímos da prisão.

-Você mal consegue se aguentar em pé, todo detonado como está. Não vou deixar que entre aí sozinho. - O garoto continua.

-CARL! – Repreendo-o.

Rick ergue uma sobrancelha e encara o filho, sem acreditar no acabava de ouvir.

-Não sei qual é a de vocês. Já fizemos isso antes. Não é como se fosse a coisa mais difícil do mundo.

Suspirando, entro com os dois no estabelecimento e fico ali sem muito o que fazer, entorpecida com os últimos acontecimentos e com o comportamento atípico do menino mais doce que já tinha conhecido. Pai e filho discutem e se estranham, os nervos à flor da pele. Em todo momento ali dentro, tenho a impressão de escutar os podres vindo atrás de nós, mas sei que pode ser somente meu próprio coração martelando em meus ouvidos.

Abastecidos com algum alimento, voltamos a caminhar pela estrada rumo a lugar-nenhum. É necessário nos abrigarmos para a noite, então entramos na primeira casa de um conjunto habitacional do que antes era uma robusta vila e iniciamos nova exploração.

Caio no sopé da porta, meu próprio corpo não aguentando mais a fraqueza oriunda da doença, do cansaço e do estresse. Rick tenta se agachar para me ajudar, mas eu nego com a cabeça, me endireitando para que eu fique voltada para a porta, a AK-47 pressionada firmemente entre as minhas mãos.

-Vão. –Articulo com uma voz quase num gorgolejo.

Os olhos do xerife se acendem em alguma espécie de medo contido. Eu apenas balanço a mão em um sinal para que eles sigam logo com aquilo.

De onde eu estou, posso escutar nova discussão acalorada entre os Grimes, algo como o garoto gritando alguns palavrões e o mais velho o repreendendo. Sei que devo ajudar Rick, mais do que nunca agora, a tomar conta de Carl, mas esse último precisa descontar a sua carga emocional em alguma coisa. Cada um tem o seu próprio jeito de estourar.

Enquanto tento prestar atenção nas vozes dentro da casa, um vulto se assoma à minha frente, seguido de um arrastar caraterístico. Grrrr. Temendo chamar atenção de mais melequentos se atirasse, rolo para o lado e coloco um pé à frente do zumbi que acaba de ultrapassar a porta. Ele se estatela no chão, o barulho dos seus ossos agora muito maleáveis reverberando pelo cômodo quando se choca contra o piso, e eu deixo a arma um pouco de lado, retirando uma pequena foice que guardava presa entre meus pés e o material do sapato.

-HARLEY! – Rick exclama assim que cravo com certo vigor a ponta afiada do objeto no crânio imundo da criatura moribunda ao meu lado.

Até para quem está mais parecendo uma vítima infortunada de um gato raivoso, você não está nada mal Harley Quinn.

-Está tudo bem, Rick. – Digo quando me levanto com certa dificuldade. – Carl, me ajude a empurrar essa coisa lá para fora. Isso está fedendo. Maldita coisa comedora de carniça dos infernos. –Esbravejo e me agacho para buscar uma perna daquilo.

O Senhor Estranho até tenta nos impedir, mas basta que eu lhe lance um olhar ameaçador para que ele desista do seu intento.

-Você esconde uma foice na sua bota? - Carl me pergunta depois que eu chuto aquele saco de vísceras ambulante escada abaixo.

-Olha quem resolveu reconhecer que eu existo! – Digo de forma acusadora.

O garoto revira os olhos e encara um ponto mais adiante da casa vizinha.

-Uma garota sempre deve estar preparada. É o apocalipse zumbi, docinho. Correr virou rotina e enfrentar aquelas coisas virou questão de sobrevivência!

Carl apenas dá de ombros e eu exalo uma quantidade significativa de ar, exasperada. Vendo que ele não diria mais nada, preso em seus próprios pensamentos, mágoas e rebeldia, guio-o pelos ombros de volta para dentro da mansão. Ele logo se infiltra em meio àqueles cômodos e eu encontro o pai voltando da cozinha.

-Tudo bem? - Pergunto.

Rick apenas me lança um gesto de pescoço, aquele que faz sempre quando está procurando as palavras certas para dizer, e caminha em minha direção, limpando com o polegar qualquer coisa que tinha no meu rosto.

-Você está horrível. – Dizemos ao mesmo tempo.

O homem estica os lábios em um pequeno sorriso, e  eu , por outro lado, enrugo as sobrancelhas.

-Que coisa feia para se dizer a uma mulher. Hm, pode pisar no meu orgulho, por enquanto, mas quando ele se levantar... corre! - ameaço.

Carl não nos deixa iniciar uma sequência de gozações. Surgindo com alguns cabos enrolados em torno da mão, ele nos avisa que irá amarrar a porta. Sem confiar muito na segurança daquilo, Rick me pede ajuda para arrastarmos o sofá até a porta, mesmo com sua expressão demonstrando um grito interno de dor.

-O que estão fazendo? Eu já amarrei a porta! – o garoto intercede, irritado.

O Grimes mais velho dá uma pausa em nossa extenuante tarefa e ofega como um animal, o pulmão direito provavelmente sendo comprimido por uma costela trincada ou quebrada. Sigo até ele e tento fazer com que se sente. Teimoso, desvencilha-se de mim e encara o filho.

-Não quero correr riscos.

-Acha que não segura? –Carl indaga. - É um nó forte. Shane me ensinou. Lembra-se dele?

Oh, cacete.

Alerta de merda sendo atirada no ventilador.

-Sim, eu me lembro. Me lembro dele todos os dias. Tem mais alguma coisa para me dizer? Ou...

-Já chega, vocês dois! – Brado, indignada. –Perdemos hoje muito mais do que poderíamos suportar em outro momento, mas aqui estamos, tentando catar as migalhas que restaram de nós. Carl, eu e seu pai não estamos bem. Tente cooperar um pouco, tente olhar para nós, também. Eu sei que está triste e zangado, mas somos tudo o que tem agora. E você, Rick...tente ter um pouco mais de paciência.

Quando termino meu pequeno discurso sinto como se tivesse falado para as paredes. Pai e filho ainda têm as expressões duras demais, mostrando que a minha tentativa de apaziguar o conflito foi inútil.

Santa Britney, esses dois são tão teimosos e cabeçudos como bois!

-Você está me zoando, não é? - Carl me pergunta, os olhos arregalados em uma expressão que não consigo identificar. –Como você quer que eu tente qualquer coisa por você sendo que tudo que pensa é em Daryl? Estou cansado de Pudinzinho para cá, Pudinzinho para lá. Isso me irrita! Se estivesse tão preocupada com a gente, teria se apressado e salvo Judith, mas a única coisa que fez foi chorar e procurar por seu primo estúpido. Vocês dois são estúpidos...

-CARL! -Rick tenta interromper o filho.

-...Se ele sentisse pelo menos alguma coisa por você, Harley, não teria te deixado para trás, sua idiota.

-Carl, olha a língua! Peça desculpas. Agora! - Rick o repreende, lançando lhe um olhar furioso.

Sentindo meu coração explodir em milhares de pedacinhos quando o garoto não se desculpa, giro sobre os calcanhares e corro (ando desengonçadamente) o mais rápido que consigo escadas acima. Estou soluçando e tremendo tanto, as lágrimas borrando a minha visão, que não enxergo a porta do banheiro à minha frente. A colisão é fulminante. Respeitando as leis do universo, meu nariz quebrado é a primeira coisa que se choca contra a madeira.

Chorando no chão, aceito a realidade de que acabarei ficando com o nariz tão torto quanto o de uma bruxa velha.

Fico sentada e sangrando ali no chão por alguns minutos até que escuto a respiração ruidosa de Rick quando ele sobe as escadas. Ele olha com pesar para mim quando me levanto. Eu passo o lenço que Carl me deu sobre o rosto e simulo uma expressão firme, seguindo até o Grimes mais velho e arrastando nós dois para o banheiro.

-Harley, me desculpe pelo Carl. Eu...eu não sei o que fazer. - Rick chama a minha atenção enquanto procuro por uma caixa de primeiros socorros dentro do pequeno cômodo.

Desvio minha atenção de uma prateleira e o encaro. As cicatrizes no rosto, a voz rouca de dor, aliados a um corpo ensanguentando passavam a impressão de que o sujeito tinha acabado de tomar banho com pregos e palha de aço.

-Não precisa se desculpar, Rick. Eu... ele só está precisando de um pouco de ar.

-Harley... –meu amigo se aproxima mais de mim, ficando nós dois de lado escorados na pia. – Entenda que ele não quis dizer aquilo. Ele te adora, só está um pouco confuso, como você mesma disse.

-Sei disso. - Confesso, fungando e lambendo o sangue que escorre do meu nariz – Mas é que dói da mesma forma. Eu não sou tão obcecada por Daryl assim, sou?

Vejo um lampejo de dor passar pelos olhos do xerife. Uma dor profunda, sentimental, e não, física.

-Bem, um pouco. Mas não é errado. Você só...quer estar perto dele. -Ofega-  Assim como eu quero estar perto de você o tempo todo.

Repuxando o canto dos lábios em um sorriso, Rick me puxa para perto de si e me abraça, tomando cuidado para não forçar o peito contra o meu nariz. Nós dois gememos.

-Sabe, não sei se já te agradeci, mas, se agradeci, eu agradeço de novo –Constato me afastando depois de um momento. – Você sabe...por ter me levado para a prisão e me oferecido abrigo e proteção, além de uma família. Então, obrigada.

-Não há o que agradecer. Foi você quem me salvou primeiro. Agora venha aqui, vamos dar um jeito nesse nariz. Já está ficando mais branca que papel.

Rick me ajuda a fazer um novo curativo –gemendo, rosnando e ofegando, os ‘hmm” e “ai, Deus” quase como num musical da Broadway- e logo estou encarando a minha imagem no espelho, esse refletindo uma figura imunda e descabelada com uma bandagem segurando o nariz e dando algumas voltas na nuca.

-Que droga- Digo.

Olho para o Senhor Estranho e nós dois seguramos o riso.

-Estou parecendo um membro esfolado daquelas boy band japonesas e seus visuais esquisitos. E com a voz tão anasalada quanto a da Kesha.

O Grimes se apoia na pia e solta um ganido.

-Harley, pare. As minhas costelas estão me matando. Essa é uma péssima hora para me fazer rir.

-Desculpe. Deixa eu te ajudar.

Puxando para baixo o colete que ele usava, tento ser o mais delicada possível. A respiração entrecortada dele se acelera quando o tecido se prende em um dos cotovelos. Com algumas manobras, finalmente nos livramos daquele pedaço de imundície.

Suspiro assim que percebo a massa roxa de um hematoma no lado direito do corpo masculino, bem onde ficam as costelas. Aquilo devia estar doendo um bocado.

-Muito ruim? – Rick pergunta num arquejo.

-Pense pelo lado bom: isso aqui está tão grande que quando ficar verde sua transformação no Incrível Hulk estará completa.

Sem deixar que ele se mova muito, enrolo algumas tiras de bandagem ao redor do seu peito e depois passo para a perna ferida. Limpo o ferimento com uma gaze, enrolo mais bandagens ali e sigo para o rosto. 

Um olho está praticamente fechado, o inchaço pesando as pálpebras. Passo um pano molhado sobre a face maculada e observo os inúmeros cortes e hematomas manchando tudo.

-Assim está bom, Harley. Preciso muito deitar.

Com um aceno de cabeça, ajudo-o a sair do banheiro e descer as escadas. Ao chegar à sala, Rick se joga no sofá e eu me lanço sobre um monte de lençóis mais ao canto do cômodo, onde Carl preparou duas camas improvisadas.

A visão do garoto se deitando ao meu lado é a última coisa que vejo antes de apagar.

***

Estou deitada, dormindo e me recuperando há um bom tempo. Ainda me sinto muito fraca e com preguiça, apesar da minha tímida vontade de sair daquela cela, daquele bloco e ir para o pátio tomar mais um pouco de sol.

Daryl saiu da minha companhia faz alguns minutos, murmurando qualquer coisa sobre ir encontrar com Rick para falarem com Tyresse. Pobre homem esse último. Está louco atrás de quem matou Karen, vasculhando concavidades e becos escuros da prisão. Ficará mais perturbado ainda quando souber que foi Carol.

Suspirando, chuto minhas cobertas e tento voltar para o mundo dos sonhos novamente. Sonho com dois bebês. Dois meninos, um em cada braço meu. Eles têm os meus olhos expressivos e grandes, mas a cor e a intensidade dos de Daryl, bem como as maçãs do rosto altas como as do meu primo e as madeixas claras como as minhas. Estou em uma casa modesta, a cozinha é branca com os armários e azulejos da mesma cor. O cenário do outro lado da janela é de um ambiente tranquilo. Vejo meu Pudinzinho conversando com alguns homens e, como se estivesse sentido meus olhos em si, ele vira o pescoço e me lança uma piscadela, voltando a fazer o que quer que estivesse fazendo depois. Uma vida perfeita.

Sou acordada daquele magnífica visão onírica por uma explosão. Me sobressalto com o barulho e juro sentir a estrutura da prisão tremer ao meu redor. Espero longos minutos e, quando vejo que ninguém vem me esclarecer o que diabos tinha acontecido, me levanto da minha cama e sigo cambaleante até o portão da cela. Olho para um lado e para o outro e é como se as pessoas tivessem sido abduzidas. Apenas Glenn me encara duas celas além da minha.

Antes que eu possa perguntar ao coreano se ele tinha alguma ideia do que pudesse ter acontecido, sons de tiros preenchem o espaço ao nosso redor, seguidos de gritaria e de uma movimentação caótica.

Maggie surge como um rojão subindo as escadas até onde estávamos. Sem dizer muita coisa, ela agarra a mim e ao marido pelo braço e nos empurra para fora do bloco.

-O que...- Minha pergunta é interrompida por um estrondo acima de nossas cabeças.

Olho um pouco para trás e vejo uma parede de concreto explodir, lançando fragmentos e fagulhas para todos os lados.

-Temos que sair daqui. – A Greene finalmente se pronuncia. – É o Governador. Ele está com um tanque e quer a prisão.

Enfiando a mim e ao coreano para dentro do ônibus escolar, a morena começa a chamar pela irmã. É nesse momento que um balde de água fria me atinge.

-Cadê o Daryl e os outros? - Pergunto ameaçando me levantar.

-Estão lutando. Fiquem aí. Eu vou tentar achar Beth.

-Não...

Antes mesmo de piscar duas vezes, Maggie já tinha desaparecido em meio à confusão de tiros e grunhidos. Glenn está inconsolável sentado nos degraus do ônibus. Não querendo ser uma inválida, praticamente pulo sobre o coreano e saio do veículo, desorientada, mas voraz à procura do meu Pudinzinho.

Vejo Lizzie e Mikka carregando Judith em sua cadeirinha e me tranquilizo quando elas seguem para o ônibus. Ando à procura de uma arma e encontro a minha AK-47 apoiada próxima às caixas d’água.

O barulho de pessoas lentamente vai diminuindo, mas eu não desisto e fico como uma barata tonta andando e gritando Daryl de um lado para o outro. É em um dado momento, depois de praticamente ter berrado à máxima potência dos meus pulmões, que percebo Carl sair das sombras e se jogar sobre o pai ensanguentado.

***

Na primeira vez que acordo, abro os olhos e enxergo apenas claridade e borrões. Minha cabeça pesa como chumbo e um martelar doloroso e irritante no fundo do meu crânio me faz querer voltar a dormir de novo.

Depois de alguns segundos, minha audição resolve finalmente funcionar e começo a ouvir a voz de Carl dizendo alguma coisa. Fazendo um esforço sobre-humano, giro o pescoço e encontro o garoto gritando e, pelas suas expressões, xingando um desacordado Rick no sofá.

Num suspiro, volto à escuridão do sono mais uma vez.

Não diga isso, Carl...

***

Na segunda vez, eu sou acordada.

Sem muito entender o que estava acontecendo a princípio, os solavancos que chacoalham meu corpo apenas me deixam mais desorientada. Me desvencilhando da chamada sedutora para a inconsciência, ouço um Carl desesperado em cima de mim suplicando para que eu acorde.

Então eu balanço a cabeça e foco a minha visão em um corpo se mexendo no sofá ao meu lado. O corpo geme e grunhe como um zumbi. Uma mão espasmódica se ergue e balança em nossa direção e eu me ergo sobre os cotovelos, tentando ir para longe da criatura.

Estou tão acostumada a fugir dos mortos que é só depois de alguns segundos tentando sair do lugar que eu me dou conta de que aquela coisa que se mexe no sofá é Rick. Arregalo os olhos e só tenho tempo de rolar para o lado e ficar de bruços antes que o corpo maciço se projete para fora do estofado e caia com tudo em cima das minhas costas.

Agora eu não tenho a menor dúvida de que ele é feito de carne e osso.

Um gemido de dor escapa por entre os meus lábios e um grito de desespero do pequeno Grimes reverbera pelo cômodo.

-Carl, corra! –digo com minha voz em um fiasco, o medo cravando um punhal em meus ossos, sentindo as mãos do Rick-zumbi subirem pelos meus braços.

O menino apenas se afasta mais e cola as costas em um outro sofá. Começo a me mexer no intuito de tirar o xerife – ou o que sobrou dele- de cima de mim, mas ele é muito mais pesado do que eu. Apesar da minha vontade ser a de desistir de tudo e aceitar a morte dolorosa e dilacerante, preciso lutar... por Carl.

O clique da Python nas mãos do garoto é como um tiro silencioso no meu peito. O garoto está chorando desesperadamente e, apesar de querer fazer o mesmo, mexo meus ombros e chacoalho o corpo mais uma vez... e mais outra, até que consigo rolar meu amigo para o lado e tirá-lo de cima de mim.

Porém, uma mão se lança em minha direção novamente e agarra o lado esquerdo do meu rosto. Carl abaixa a arma e parece desistir de querer atirar na figura do pai transformado. Eu o entendo e aceito com pesar o nosso fim.

-Carl...- a coisa resmunga, diz, tentando se erguer sobre o braço depois. – Harley... Não vão lá para fora. Fiquem seguros, aqui.

Soltando o choro que estava preso na minha garganta, me permito sentir alívio. Zumbis não falam!

Rolo para o lado e fico de barriga para cima, a tempo de conseguir me ajeitar para que o Grimes mais velho desabe sobre os meus membros inferiores ,com a cabeça batendo no meu colo no processo.

-Pai...Harley...- Carl soluça atrás de mim e ergue o meu tronco, depositando-o com cuidado sobre as suas pernas curtinhas. Depois estica um braço e tateia o pai, como se para certificar de que ele estava vivo e ali conosco. - Eu estou com tanto medo, pai. Eu estava errado. Eu estou com tanto medo.

Deixando que o garoto desabafe, acaricio os dedos de sua outra mão e espero que ele termine. Então o pequeno se volta para mim e diz:

-Harley... eu sinto muito. - Funga. - Eu não quis dizer aquilo. Era tudo mentira. Eu só estava bravo.

-Eu sei. - Garanto a ele. – Eu sei que não quis dizer aquilo. Já passou. Agora nós precisamos descansar, certo? Eu estou muuuuuito confortável aqui. Não é todo dia que tenho a oportunidade de ficar no colo de um príncipe.

Carl revira seus expressivos olhos azuis, mas sorri, uma amostra de dentes que ilumina toda a casa.

***

-Tinha mais, mas eu comi. - A voz de Carl me acorda do meu quase coma pela terceira vez.

-E o que era? - Rick pergunta, rouco.

Escondo um sorriso ao ouvir o diálogo tranquilo de ambos depois de tudo que aconteceu.

O roçar de alguma coisa acariciando o meu pé quase me faz desistir de tentar fingir estar dormindo.

-Hm... uns três quilos de pudim.

-Alguém disse pudim? –murmuro, abrindo os olhos de supetão.

Carl dá de ombros e encara a parede do corredor à sua direita. Eu me ergo sobre os cotovelos, cerro os olhos e espero, vendo pai e filho sentados lado a lado no chão e escorados no sofá. Quando o filhotinho de fuinha não volta a me olhar, movo meu esqueleto até estar rastejando em direção ao garoto. Agora próxima o suficiente, vejo seus lábios tremerem enquanto ele segura o riso, então eu o cutuco entre as costelas.

Carl perde o ar em uma gargalhada e esperneia.

-Onde... está...o .... pudim?! – perturbo mais um pouco.

-Ai, Har-Harley... eu comi tudo. Sinto muito. - O Grimes mais novo se desculpa depois de nova sessão de tortura, parecendo genuinamente arrependido. – Ah... Quer saber? Sinto muito coisa nenhuma. Estava muito bom.

-Ah, seu fedelho! - Esbravejo e dou um bote em sua direção, puxando-o comigo para o chão e rolando de um lado para o outro, apertando a cabeça de madeixas negras e lisas contra a minha barriga.

-Jesus, Harley! Vai virar o meu filho ao avesso. – Rick reclama me olhando de forma divertida.

Então eu paro de sojigar o garoto, giro em noventa graus sobre a bunda e lanço a minha perna em um ataque ao joelho bom do xerife, acertando-o num estalo que provavelmente pôde ser ouvido em Urano.

-Ai! Por que fez isso?

-Isso é por ter me assustado até as tripas ontem à noite com aqueles resmungos e gemidos dos infernos. E isso...-Empurro-o com o pé e ele cai de lado no chão como uma fruta madura. Ouço um gemido seu. – É por ter caído em cima de mim como uma jubarte desinformada.

Toc toc.

-Puta que pariu, quem é? –Pergunto, grito, esquecendo-me dos bons modos de sobrevivência.

Nunca pergunte. Ataque, cheire e descubra depois.

Essa parte de cheirar não é bem verdade, mas nunca se sabe.

Rick me olha tão torto que vejo a imagem do meu próprio pescoço rolando sala afora através de seus olhos. Ele se levanta com certa dificuldade e eu tento fazer o mesmo, mas meu pé direito está dormente e eu caio no chão com um baque surdo de ossos se chocando contra a madeira.

Rolo os olhos e mordo a língua. Mas que porr...

Antes de terminar as minhas blasfêmias, o Senhor Estranho espia pelo olho mágico e num instante depois está se jogando no sofá de novo, sorrindo como um retardado.

Meu coração se acelera.

-É para você, Carl.


Notas Finais


Hmmmmmmm... o que será do nosso casal agora que estão separados?
Façam suas previsões!
Bjs


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