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História Handcuffed - Algemada


Escrita por: mjhbates e ArabellaStark

Capítulo 10 - Algemada


Fanfic / Fanfiction Handcuffed - Algemada

A garota tira os sapatos e sobe na sacada do campus.

- O que você está fazendo, ficou louca? – um jovem grita atrás dela.

Ela apenas estica os braços e sente o vento bater em seu rosto.

- Não se preocupe, Kyle. Eu não vou me machucar.

- E como você pode ter certeza disso, Morgana?

- Porque... esse mundo é meu.

***

- Morgana? – Hillary acaba de acordar na cadeira em frente a minha.

- Boa tarde, querida. Você dormiu bastante. Como está se sentindo?

Os braços dela se agitam, mas ela percebe que foi algemada.

- Eu... – ela olha em volta – Me solta, por favor. Você sabe que eu sou anêmica e não posso ficar aqui por muito tempo. Podemos resolver isso de outra maneira.

- É claro que não podemos – encaro o copo de whisky que está na minha mão – Eu juro que eu não queria fazer isso, mas você precisa entender que eu não passei por tudo que passei até agora pra acabar assim. Se eu te soltar você vai me entregar pela segunda vez.

Ela respira fundo.

- Pelo menos me diz onde eu estou.

- Num galpão fora da cidade. É em cima de uma colina. Não existe qualquer forma de contato.

- Morgana – a voz dela sai ofegante – Por quanto tempo isso vai durar?

- O quanto eu achar necessário – me levanto e caminho até o balcão de ferramentas pra reencher o copo – Sabe, eu admito que te chifrar foi um golpe baixíssimo, mas tentar me prender foi mil vezes pior.

- Eu fiz o que eu achei que era certo! Quando eu fugi acabei encontrando pessoas que foram te buscar. Eles me trouxeram até aqui. Eles queriam te matar. Marcus me mostrou a ficha que a polícia tem de você. Eu não queria que você morresse, mas... – ela vacila – Parecia justo que você fosse presa. Por que, Morgana? Porque você fez tudo aquilo?

Tomo um gole da bebida, que desce amarga.

- Você sabia desde o começo que eu era traficante e nunca se importou. De onde surgiu esse falso moralismo? – levo a taça pra perto do assento.

- Isso é totalmente diferente do que matar pessoas por motivo nenhum. Você era uma pessoa boa, Morgana. Eu não consigo entender.

- Então vou te ajudar – sento bruscamente na cadeira – Você sempre soube que eu perdi meus pais muito cedo. Mas, logicamente, eu tinha que ter um lugar pra morar. Esse lugar quase foi a rua. Tentaram me estuprar várias vezes. Você acha que eu merecia isso?

- É claro que não, mas...

- E num belo dia, apareceu um príncipe encantado, ou papai encantado, que me ajudou. John. Ele era chefe do esquema naquela época, e eu estava a um passo do sucesso. Obviamente, eu agarrei a oportunidade. Mas as pessoas de lá não confiavam em mim – rio, abraçando as lembranças escuras – Então o que eu tive que fazer?

- O que? – a voz de Hillary sai fraca.

- Provar pra eles que eu era capaz. Assim, minha primeira função foi me livrar de... problemas. É aí que entram os inocentes.

- Mas isso é errado!

- Hillary, não existem pessoas inocentes! – grito, com as mãos no rosto dela – Não... existem.

- Será mesmo? – a lágrima dela escorre – E a sua mãe?

O meu sangue ferve.

- Eu estava tentando ajudar! – dou um tapa na cara de Hillary e jogo a taça no chão com a outra mão – Você não sabe de nada pra me julgar. Quando eu tinha seis anos meu pai meteu uma bala na própria cabeça, e minha mãe era uma viciada em remédios, já que aquela igrejinha ridícula dela não permitia o uso de drogas. Ela já estava quase catatônica e mal se alimentava. Eu sabia como usar a arma – meus olhos transbordam – Eu só queria acabar com o sofrimento dela. Só isso.

- Era tão difícil você ter me contado antes? Eu ache que confiasse em mim. Aposto que ninguém passou tanto tempo com você quanto eu.

- Na verdade, passou – olho pra baixo – Kyle. Ele sim foi meu príncipe encantado.

Penso em Kyle. O que ele deve estar fazendo agora?

Ela dá uma risada forçada.

- Aquele loiro idiota?

- Ele não é um idiota. Talvez seja, mas eu amo ele mesmo assim – limpo as lágrimas com meu dedo indicador – E eu amo você também, mas eu não tenho o direito de ser feliz. Eu nunca vou ser feliz de verdade.

- É claro que vai. Eu sei disso. Você não precisa fazer isso, Morgana. Por favor. Me solta e eu prometo que tudo vai ser como era antes. Eu sei que devo ser a pessoa mas besta do mundo, mas eu não consigo te amar menos. Vamos ouvir música de sapatão ou música de velho quantas vezes você quiser – ela sorri com o rosto molhado – Você só precisa me soltar.

Analiso a situação com cuidado. Talvez seja arriscado, mas de todas as diversões de um dia que eu tive, ela foi a que durou mais tempo. O cabelo dela está todo desarrumado e o rosto vermelho, mas ela continua linda.

Passo a mão numa mecha dela. Ela não merece isso.

- Ok – pego a chave no meu bolso me agacho.

As algemas fazem um CLICK e se desprendem.

- Morgana! – Hillary levanta e me abraça forte. Sem saber o que fazer, eu a abraço também.

- Obrigada por compreender – falo.

- Eu sempre vou estar do seu lado, Morgana – ela se livra do meu abraço e sorri – Mas antes temos que resolver alguns assuntos.

A expressão dela muda de repente, e o lado direito da minha cabeça começa a doer.

Estou no chão. Vidro. Sangue. Whisky.

Não.

Não pode ser.

Ela não teria feito isso comigo. Ela me ama de verdade. Ou ela... me enganou?

Hillary se vira com os braços esticados apontando uma arma pra mim.

- Abaixa isso, Hillary! – levanto meus braços, que tremem, mas meu grito sai firme – Abaixa essa porra agora!

- Não, Morgana – a voz dela sai cheia de cinismo, e ela ajeita o cabelo – Você nunca me enganou. Porque você acha que sua vida vale mais que qualquer outra? Chegou a sua vez de perder.

Me preparo pra receber as balas, mas ao invés disso ela corre e atira no mecanismo do portão.

A luz fraca da noite entra pelo enorme portão, que sobe lentamente. Me levanto ignorando o sangue e a dor e saio do galpão.

Ela me traiu.

Bem distante de onde eu estou, Hillary corre até a última parte reta da colina.

- Você não podia ter feito isso! – grito, enquanto as lágrimas gelam meu rosto por causa do vento.

De repente, ela para.

Hillary ergue os braços e descarrega toda a arma atirando pra cima. Quando enfim acaba, ela volta a correr.

Retomo os passos enquanto ela vai até o carro. Merda, ela também pegou a chave que estava no balcão. A porta bate e o motor liga.

Ela me traiu. Ela me machucou. Sangue. Dor.

Continuo correndo. O carro faz uma curva brusca em direção à ribanceira. Meus pés se movem errado, e eu caio no chão. Ela faz uma volta fechada e acelera no caminho da estrada.

Na ponta da colina, o carro derrapa e vira.

Não.

Em pouquíssimos milésimos o barulho repetitivo de vidro quebrado e metal retorcido chega aos meus ouvidos. Meu coração bate mais devagar, e não consigo ouvir mais nada.

Uma labareda de fogo sobe do pé da colina.

Uma explosão. Foi uma explosão.

Hillary!

- Não – minha voz sai fraca, mas a segunda vez sai como um estrondo – Não!

Meus pés vacilam, e não consigo forças pra me levantar. Sinto gosto de poeira. Do pé da montanha, sirenes começam a subir o morro, cada vez mais próximos. Inúmeros carros da polícia.

- Pare, você está presa! – o rádio do primeiro jipe a subir anuncia – Coloque as mãos onde possamos ver.

- Procurem o corpo no meio dos destroços. O homem ainda não foi encontrado – sai mais baixo de outro carro.

Então Kyle ainda pode fugir. E eu também.

Corro de volta para o galpão o mais rápido que posso antes que os tiros recomecem. Abro a porta traseira sem pegar nenhuma hora e me aventuro em direção à colina. Os jipes aceleram.

Eles não vão me pegar.

Derrapo enquanto posso, até que meu pé escorrega e eu caio sem poder enxergar nada. Devo estar rolando. Meu corpo todo dói, e não sei quanto tempo a dor dura. Só sei que dói demais.

Caio diretamente num rio gelado. A correnteza me leva. Faço esforço pra conseguir subir e manter boiando. O rio está muito forte. Ouço algum carro por perto e agarro um galho na margem.

Uma luz no meio das árvores. Uma estrada.

Pulo pra fora do rio com os pulmões doloridos e corro quase caindo até o meio da rua. Os faróis do carro me iluminam diretamente, e o primeiro veículo freia. Abro a porta no mesmo instante.

- John? – pergunto, sem acreditar em quem está dirigindo o carro.

- Seu dia ainda vai chegar, Morgana, mas não é hoje. Entre.

Ainda sob efeito da adrenalina, pulo cambaleando pra dentro do carro com as roupas todas molhadas, e ele pisa no acelerador, me fazendo ser jogada levemente pra frente. A imagem ao nosso lado começa a se mover.

- Eu vou ter onde ficar?

- É claro – ele responde, sorrindo e ligando o rádio – Nada pode te machucar. Esse mundo é seu.

O rádio toca a mesma música que a do bar onde eu e Hillary comemoramos um ano de namoro. Eu retribuo o sorriso, sem saber exatamente o motivo.

Agora, bem longe de nós, os helicópteros aparecem para me procurar.


FIM


Notas Finais


passando aqui só pra fazer alguns agradecimentos especiais
gostaria de agradecer por primeiro a ~arabellastark por ter me ajudado a compor mais uma história (principalmente com seus capítulos 2, 4 e 7);
agradecer por segundo as pessoas que leram o primeiro capítulo e deram chance pra essa história que não prometia nadinha;
e por terceiro, mas não menos importante, agradecer as pessoas que tem lido todos os capítulos (são poucas, assim como foi com surrender, mas ainda sim eu sou muito grato) tendo paciência com essas histórias pouco convencionais e diferente do que as pessoas desse site costumam fazer.
e questão final: a morgana merece ser presa ou não? lembrando que além de assassina ela é traficante rs


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