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História Hang On - Um presente


Escrita por: smakcamren

Capítulo 1 - Um presente


Miami, 17 de fevereiro de 2016.

POV LAUREN

Fui abençoada. Disseram-me que eu tenho sete meses de vida.

Você deve pensar que estou brincando ao emendar essas duas frases. Ou que sou completamente louca. Talvez pensem que eu tenho uma vida infeliz, sem realizações, e quanto mais rápido ela chegasse ao fim, melhor. Mas não. Nada disso. Eu amo a minha vida. Adoro minha família. Sou completamente apaixonada pela minha mulher. Desde sempre curto meus amigos, a carreira super conturbada que resolvi seguir, as empresas das quais faço parte e o volêi. Estou bastante lúcida. E falo bem sério, também: o veredicto que recebi na ultima semana de janeiro de 2016  - que era improvável que eu vivesse ate o primeiro dia de aula da minha irmã, Taylor, na oitava série, na primeira semana de setembro – acabou se tornando uma dádiva. Sinceramente.

Fui forçada a pensar sobre minha própria morte e, como consequência, tive que passar a refletir melhor do que nunca, sobre como estou vivendo a minha vida. Apesar de ser totalmente desagradável, reconheci que estava no ultimo estágio da minha vida, me obriguei a decidir como aproveitar ao máximo, os meus últimos duzentos e poucos dias.

Estou me esforçando ao máximo para levar a cabo essas minhas decisões.

Resumindo, fiz a mim mesma duas perguntas: “Será que o fim da vida precisa ser a pior parte?” e “Posso fazer dele uma experiência construtiva – quem sabe até transformá-lo na melhor parte da vida?”. Difícil responder. Desde que descobri meu diagnóstico, venho perguntando a mim mesma sobre isso.  E talvez até já tenha as minhas respostas. Se me perguntassem sobre isso hoje, eu responderia, “Não” “Sim”, respectivamente.

Aos poucos, às vezes mentalmente lúcida e quase fisicamente apta, consigo abordar o fim. Meus entes queridos a minha volta, fazem com que o fim não pareça ser realmente o final. Mas sim, um começo. Sinto-me grata por tê-los ao meu lado, nesse momento.

É claro que quase ninguém consegue imaginar em detalhes a própria morte.  Na verdade nem mesmo eu. Até eu simplesmente, precisar fazê-lo. Sentimos uma ansiedade geral e muito profunda, em relação à morte. Mas tentar descobrir os detalhes e em como aproveitar ao máximo os nossos últimos dias e, depois, garantir que o planejado seja cumprido para ajudar não só a mim mesma, mas também aos meus familiares, não são hábitos típicos dos moribundos e menos ainda de quem está saudável e cheio de vida.

Alguns não pensam na morte, porque ela nunca lhes foi anunciada, chega repentina e prematuramente. Uns poucos morrem dessa maneira – em um acidente  de carro por exemplo – nem sequer haviam começado a se perceber como meros mortais. A minha morte por outro lado, embora meio prematura, meio não, totalmente (tenho 24 anos), não pode ser chamada de repentina (ao menos não há como fazê-la duas semanas depois de digerir a sentença fatal) , já que fui informada de forma bastante explícita que meu último dia de vida nesta Terra teria um lugar durante o ano de 2016.

Alguns não pensam em como aproveitar ao máximo seu ultimo estagio porque, quando o fim se aproxima, já que não se encontram em condição, física ou mental, de gozar seus últimos dias como deveriam. O alivio da dor é seu principal objetivo.

Outros estão em total condição de planejar, aproveitar e viver bem até seu ultimo suspiro  fazendo aquilo que sempre sonhou. Mas não. Preferem ficar se lamentando, deitados em uma cama, pensando no quão infelizes haviam sido, até serem diagnosticados com alguma tal doença fatal.

Comigo, não. Eu não quero passar por esse tipo de sofrimento. Nas semanas que antecederam o meu diagnóstico, quando coisas atípicas (ainda que em geral passavam despercebidas) não senti dor alguma, nada mesmo. Fui informada de que meu fim será indolor. As sombras que muito lentamente vem se avolumando na minha mente, irão aumentar de tamanho, exatamente como acontece na quadra, no finalzinho de um tie-break. Naquela hora que é completamente mágica e meu momento favorito. A luz irá diminuir devido à ansiedade. A quadra adversária – objeto do meu foco – onde tenho que fazer com que a bola toque o chão, ficara cada vez mais e mais distante, ou seja, mais e mais difícil de enxergar. Vai acabar sendo difícil de identificar. O brilho embaçará. Virá o coma. Cairá a noite. E logo eu morrerei.

Devido aos fatores que cercam minha morte – minha juventude, o fato de gozo das minhas faculdades mentais e em bom estado geral de saúde, sem dores diárias e próxima aos meus entes queridos, a deles ainda na flor da idade assim como eu - , abordo de maneira diferente os meus últimos duzentos e dez dias, maneira esta que exige que eu mantenha  mais do que nunca os olhos abertos. Mesmo com a visão ficando turva.

Ah, sim... Um outro fator, provavelmente o principal, influenciou a forma como aboroi a partida: minha mente. O meu jeito de pensar. Primeiro como contadora, depois como empresária ambiciosa e finalmente como presidenta de uma importante empresa americana. Minhas convicções sobre trabalho e conquistas, sobre coerência, continuidade e compromisso, tem raízes tão profundas na minha vida profissional e são tão uteis nesse terreno, que não posso deixar de aplicá-las à minha derradeira empreitada.

Assim como um executivo de sucesso é levado a usar estratégia e a se preparar o melhor possível para “vencer” em tudo, eu estou agora motivada a ser a mais metódica possível durante meus últimos duzentos e dez dias. O conjunto de talentos de uma alta executiva (capacidade para pensar em todos os aspectos, lidar com um vasto leque de problemas, fazer planos alternativos etc.) está me ajudando na preparação para a minha futura morte.

Suponhamos que eu não soubesse do meu diagnóstico. Que eu não soubesse que possivelmente viverei por apenas 200 dias. O que eu teria feito? 
Teria pensado na minha próxima viagem de negócios, provavelmente a Ásia. Planejaria como atrair novos clientes, ao mesmo tempo em que estaria cuidando das contas já existentes. Formularia novas investidas para os seis meses, um ano, dez anos seguintes. Minha agenda é montada com 12 a 18 meses de antecedência: ossos do ofício. O meu cargo exige que eu pense o tempo todo no futuro. Como construir o sucesso da firma, como garantir a qualidade de serviços prestados. Sim, tecnicamente vivo no presente. Mas meu olhar sempre é focado em um lugar mais impalpável, aparentemente mais importante no tempo.
Antes de saber sobre meu diagnóstico, meu pensamento todas as noites antes de adormecer costumava ser sobre algo que talvez eu viria a realizar 6 meses mais tarde. Após o diagnóstico, meu último pensamento antes de adormecer, passou a ser... o dia seguinte. 
Sempre fui uma mulher que colocava os interesses do trabalho, acima de qualquer coisa. Mas graças a essa maldita doença eu mudei totalmente. Comecei a perceber o que realmente importa na vida. Quando morremos, levamos conosco apenas as lembranças. As coisas materias, permacem onde estão.
Nunca fui dada a formular hipóteses - meu raciocínio era demasiado direto para isso - mas, por um momento apenas, suponhamos que não surgisse uma possível sentença de morte ( ainda tenho esperanças de que isso seja apenas um engano). Não seria ótimo ainda poder por muitos anos planejar e construir, conduzir e colocar em prática, como eu vinha fazendo? Sim e não. Sim, porque logicamente eu ainda quero continuar por aqui por diversos motivos. Para ver minha irmã Taylor se formar no Colégio e na faculdade, casar, ter filhos e reinventar o futuro (seja qual for a ordem dos acontecimentos). Para poder me casar com Camila, ter os filhos que tanto fantasiamos e planejamos ter, para poder mostrar pra ela que o trabalho não é mais importante que nossa futura família. Para passar a próxima noite de Natal, véspera do aniversário de Sofi, irmã mais nova de Camila, comprando presentes de última hora com ela, conversando e rindo com a pequena, como fazemos a 7 anos seguidos nesse dia. Para viajar e jogar vôlei com minhas amigas Ally, Dinah e Normani, como a muito tempo eu não faço. Para ver a Jauregui, firma na qual trabalho até mesmo antes de me formar em administração, há mais de 7 anos, criar novos padrões de qualidade e sucesso. Para assistir a Vitória dos Yankees em outro campeonato mundial, ou em mais três. Para ir as olimpíadas de 2016 no Brasil. Para ver meus futuros netos crescerem. 
Mas também ouve o não. Não, porque, graças a situação em que me encontro, atingi um novo nível de consciência, ao qual não tive acesso nós primeiros anos da minha vida. É simplesmente impossível, pra mim, imaginar uma volta àquela outra maneira de pensar, quando está nova, tanto me enriqueceu. Estou perdendo? Sim. Porém também estou ganhando algo muito precioso.
Um dia, não faz muito tempo, estive no topo do mundo. De lá, eu gozava de uma vista que é relativamente rara para uma empresária americana, uma perspectiva que me revelava o acesso ao funcionamento interno de várias das maiores e bem mais sucedidas empresas do mundo, de todas as indústrias e até das mentes extraordinárias que as gerenciam. Eu podia ver tudo ao meu redor. Podia ter uma boa ideia de como as coisas evoluíriam economicamente em um futuro próximo. As vezes, eu me sentia como uma enorme águia no pico de uma montanha - não por causa da invencibilidade, mas pela visão panorâmica.
Da noite pro dia, me vi pousada em um lugar bem diverso: numa cadeira dura de metal, encarando friamente, do outro lado da mesa, um médico cuja a expressão revelava empatia demais para o meu ou para o gosto de qualquer pessoa.

...

Flashback on

- Senhoritas - dizia o medico olhando-nos de lado. Ele olhava para mim e Camila com certa tristeza. Era como se estivesse com dó. Seus olhos me diziam que eu morreria em breve.

- Diz logo, tenho coisas mais importantes pra fazer. Tipo, um contrato de 4 milhões de dólares pra assinar.

- Lauren, pega leve. Ele não tem culpa de nada. Controle-se. - Camila olhou pra mim com um pouco de desprezo, como se estivesse super magoada por eu ter reagido daquela maneira.

- Posso continuar? - pergunta-nos.

- Claro doutor, pode continuar. - Camila diz com toda a calma do mundo.

Até mesmo numa hora dessas, em frente a um médico que provavelmente irá me dizer o motivo pelo qual eu me encontro nesta situação, é impossível não perceber a beleza de Camila. Os cabelos descendo como uma cascata pelos ombros, até acima da cintura. A maneira como ela sorri mesmo estando nervosa. O jeito como abre e fecha a mandíbula pronunciando cada palavra. O olhar dela para mim, me encorajando. É realmente eu sou completamente trouxa por essa mulher.

- Pois bem, vamos lá. Senhorita Lauren Jauregui, não vou ficar dando voltas, pois como a senhorita mesmo disse, você tem coisas mais importantes para fazer. A senhorita está com uma doença seria. E provavelmente, só viverá por mais duzentos e cinquenta dias aproximadamente.

Flashback off

...

Todos os planos que fiz como presidenta da empresa naquele momento foram por água a baixo - ao menos da maneira como eu os estou vendo. Embora eu ainda acredite que a firma vem progredindo um bocado graças a minha visão, outra pessoa teria agora que liderar a luta. Tudo aquilo que eu e Camila planejáramos para o nosso futuro iria por água a baixo. Esta sendo difícil aceitar o fato de que um dos maiores motivos pelo qual eu sacrificará boa parte do tempo que podíamos passar juntas, ao longo desses sete anos, enquanto eu viajava pelo mundo e trabalhava até altas horas, de modo a poder, em compensação aproveitar a parte da vida onde teríamos nosso casamento, nossos filhos e até a nossa próspera aposentadoria, havia sido ilusório, embora não soubéssemos disso.



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