História He Was Art - 02

Houve um dia em que ele não atendia minhas ligações, e nem respondia minhas mensagens de texto.

Lembro o quanto que eu me desesperei. E lembro quando peguei meu casaco azul e fui correndo até a casa do maior, sem me importar se eram duas horas da manhã. 

Quando cheguei no lugar, a casa estava de cabeça para baixo e ChanYeol, encolhido em um canto, tremendo tanto que eu cheguei a me assustar.

—Eles voltaram... - ChanYeol sussurrou apavorado.

Não pensei duas vezes antes de abraçá-lo. 

Eu odiava vê-lo assim. Só Deus sabia o quanto eu amava seu sorriso. E o quanto ele me fazia feliz, sem ao menos fazer alguma coisa. 

Lembro de ver suas pinturas no chão e lembro de sentir-me muito mal. 

Obras de arte. 

Destruídas.

Mas eu lembro de notar algo que me deixou emocionado. 

Ele havia feito uma copia da minha pintura. 

E ela era a única intacta.

Ajudei Park a se levantar do chão frio. Seus olhos, tão lindos, mas tão perdidos, no momento. Seus cabelos, que eram levemente encaracolados, estavam molhados, assim como seu rosto.

Se alguém tivesse pintado seu estado, a obra se chamaria "Homem louco".

Mas eu não conseguia sentir medo do maior. 

Para mim, ele era um pequeno-não literalmente-cachorrinho que havia perdido seu caminho. 

E eu esperava ser sua luz.

~•~

Eu havia cuidado dele naquela madrugada.

Deitei com ele em sua cama, que era bastante aconchegante, e o abracei.

Cantei algumas músicas para o mesmo, fazendo-o adormecer em meus braços.

Era engraçado. Mesmo com minha voz, que não era uma das melhores, ele conseguia dormir.

Não era fácil quando ChanYeol tinha suas crises. Ele sempre se tornava agressivo, ou não conseguia parar de chorar.

Elas aconteciam, normalmente, quando ele não tomava seus remédios. Lembro que teve uma época em que eu tive que morar com o mesmo, para o lembrar de tomar-los.

Na verdade, ChanYeol nunca foi uma pessoa fácil de se lidar. Ele sempre dizia que eu fora o único a ficar com ele até o final.

Mesmo com suas loucuras, e papos estranhos, eu sempre tive uma sensação estranha no meu coração. Sempre a interpretei como amor fraternal, já que por muito tempo, considerei ChanYeol meu irmão.

Quando o mesmo acordou, acredito que era seis horas da manhã, ficou apenas me encarando; com seus olhos perdidos e boca vermelha pela adrenalina que o garoto havia transbordado algumas horas atrás.

E então eu comecei a chorar. Como um tolo.

—Por que choras? O que houve, Byun?

—Eu pensei que você tinha se machucado, seu idiota. Mas olhe pra você. Por que você gosta de me dar sustos?

E sabe o que esse bastardo fez?

Sorriu.

Sorriso idiota.

~•~

Tinha alguns dias desde que voltei a morar no centro da cidade. Meu apartamento era grande e bem confortável, e eu juro, tinha um cheiro tão bom, como se eu morasse em uma confeitaria. Chan havia me ajudado a ajeitar os moveis e montar minha nova estante, que contrastava em tons de azul aquário e branco neve. Livros de todas as cores possíveis enchiam aquela estante, quase não cabendo. A maioria, eu havia ganhado de meus pais, ambos professores em uma universidade no Canadá, British Columbia University. Chique, não? As paredes eram brancas mesmo, nunca fui criativo para nada, então deixei como estava. O chão de madeira maciça era escorregadio, então meu corpo já continha umas marquinhas roxas.

Os mesmos me ligavam todos os dias, e a resposta era sempre a mesma: "Estou bem, não se preocupem.". Minha vida estava melhor do que nunca, e todos os meus planos de vida estavam dando certo. Apesar de não gostar de morar no centro, era um lugar perto de tudo, hospitais, restaurantes chiques... O que estou pensando? Mal tenho dinheiro para pagar minha faculdade.

Mas não pense que isso é uma reclamação! Eu realmente gosto do jeito que vivo. Pode parecer papo de pessoas good vibes e etc, mas eu não faço questão de dinheiro na minha vida.

- Desse jeito está bom? - Yeol perguntou, com uma cara confusa, enquanto ajeitava o quadro que ele havia pintado exclusivamente para mim. Combinava perfeitamente com a casa.

- Sério que você não tem nenhum resquício de senso de angulo nessa sua cabeça? Você é pintor... - Falei, ajustando o quadro. ChanYeol se sentou em meu sofá perplexo com a minha pergunta. - Perfeito.

Após ele me contar tudo que havia aprendido em suas aulas na faculdade de artes visuais, fiz sua bebida favorita, café com leite. Coloquei nossa música favorita para tocar ao fundo. Baixa, mas audível.

- Baek.

Respondi com um grunhido, apreciando o gosto de meu chá. Eu realmente odiava café.

- Se você gostasse de uma amiga sua, você se confessaria?

Olhei para o mesmo, que sorriu amarelo. Essa, certamente, não era uma pergunta que Chanyeol fazia normalmente. Pelo que eu saiba, eu era a unica pessoa que Yeol conversava com frequência. Mas... Quem sabe? 

- Não sei... Nessa situação hipotética, ela gosta de mim? 

My darling, what did you expect?

I'd probably still adore you

With your hands around my neck

Or I did last time I checked 

- Você não tem certeza, mas ela gosta de estar ao seu lado sempre.

- Isso não significa que ela gosta de mim, então provavelmente iria ficar quieto no meu canto. Acho que amizade não é algo que a gente arrisca por causa de um romance bobo. 

Ele não respondeu, pensativo.

Estranho.

I'm going back to 505

If it's a seven hour flight or a forty-five minute drive

In my imagination, you're waiting lying on your side

With your hands between your thighs

And a smile