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História Hearts Collide - Vamos assumir?


Escrita por: alwaysthief

Notas do Autor


Oi, meus amores.
Mais um capítulo múltiplo de cinco saindo do forno e nesse especial, eu to muito nervosa para ver a reação de vocês.
Espero que gostem <3

Capítulo 20 - Vamos assumir?


Fanfic / Fanfiction Hearts Collide - Vamos assumir?

Cinco anos depois e a placa verde reaparecia.

― Welcome de Storybrooke. ― Leu ele em voz alta, fazendo um arrepio percorrer meu corpo.

Na língua francesa aquele sentimento era definido pela palavra déjà-vu, a estranha sensação de trilhar um mesmo caminho já percorrido antes, não como uma lembrança, mas como na irrealidade do subconsciente. Voltar para aquela cidade na data exata em que pisei ali pela primeira vez era como um sonho onde eu não sabia o que podia aparecer na próxima esquina, eu teria que lidar com um arco-íris? Ou uma tempestade? A ansiedade perante ao futuro e a nostalgia do passado gritavam em minha cabeça e eram fortes demais para que eu pudesse silencia-los.

― Ai como é bom voltar para esse lugar. ― Ele sorriu e suspirou alto, talvez falando mais para si do que para mim.

Não vou dizer que não concordava com a fala dele, Storybrooke era uma cidade linda, encantada, cheia de pessoas adoráveis, algumas delas partes da minha família agora, mas era um local onde as recordações pareciam estar vivas em cada esquina. Muitas delas eram boas, lindas, mas em outras o sentimento era o completo oposto, e eu tinha medo de encarar minhas lembranças e principalmente, a pessoa quem eu deixei para trás.

― O que foi, querida? Está calada. ― Disse olhando-me de relance e em seguida se concentrando na estrada novamente.

― Nada não, apenas pensando.

― Eu sei que não é só isso ― afirmou ―, conheço muito bem minha querida esposa para saber que algo está te incomodando.

Eu não esperava que minha resposta simplória o tivesse convencido, mas como explicar que estava feliz de voltar, mas em completo pavor que isso fizesse minha vida mudar completamente de novo?

― Podemos falar sobre isso depois?

Meu marido me olhou de novo e depois de ler o que meus olhos diziam, ele assentiu em silêncio, apenas movimentando a cabeça. Sua mão direita, que pairava sob o volante, deslizou para o encontro da minha, a acariciando com suavidade. Sorri com o gesto. Mesmo depois de anos, aquele era um hábito que Robin e eu nunca tínhamos perdido.

Unidas, nossas mãos simbolizavam o quanto nosso amor era forte, era mais que um mero contato, era uma ligação. Nossos dedos entrelaçados se apertavam e se afagavam em um sinal de força e presença, era como dizer: “Não tema, eu estou aqui ao seu lado”. Por atitudes simples como essas que eu me apaixonava por ele em cada amanhecer e agradecia a Deus por ter me abençoado com uma vida maravilhosa.

Confiar no nosso amor e lutar por ele foi a melhor decisão que Robin e eu já tomamos. Não vou negar, o começo não foi fácil, porém, eu não queria e nem conseguia esconder nossos sentimentos, não depois de quase tê-lo perdido.

Nos assumir para a família dele foi aterrorizante, principalmente por ela. Seus olhos se arregalaram e sua pele empalideceu quando adentramos na sala de estar de mãos unidas e dedos entrelaçados. Era a hora. Trêmula e com o coração batendo em um ritmo acelerado, eu mal conseguia erguer meus olhos e encarar Ava durante os eternos instantes em que Robin contava que estávamos apaixonados, nem quando ele explicou que não havia sido premeditado e como lutamos contra o que sentíamos, mas a força daquele sentimento era intensa demais para ser ignorada ou sufocada.

Altivo, a voz do meu amor ecoava firme pelo lugar, quebrando o silêncio que os demais alimentavam. Com exceção de Belle, todas as mulheres naquela sala sabiam do nosso segredo, e assim como eu, esperavam atentas às reações de Ava. Entretanto, a expressão em seu rosto não dava pistas sobre o que se passava em sua mente, ela apenas ouvia.

Meu amor, em nenhum momento, deixou que nossas mãos se separassem e que seus dedos acariciassem os meus com suavidade. Era um afago doce, mas que me acalmou e deu coragem. Com a cabeça erguida, vi que a caricia não passou despercebida por ela. Ava estava atenta as palavras do filho, mas seus olhos variavam entre nossas mãos e nossos olhares.

Ainda me lembro quando ela respirou fundo, levantou-se da cadeira e sem desgrudar seus olhos dos nós, aproximou-se. Tremi em cada passo dado por ela, sua feição era séria e seus olhos, antes sempre dóceis para mim, haviam ganhado um aspecto diferente, enigmático. De pé, a nossa frente, Ava voltou sua fala para mim e perguntou se era verdade. Engoli a seco, mas confirmei usando três palavras: “Eu o amo”. Minha sogra ouviu, fechou os olhos e seguiu em silêncio para seu escritório, trancando-se lá.

Foram dias difíceis, mas o tempo passou e levou consigo toda a carga pesada que envolvia nosso relacionamento perante ela. Aos poucos, os olhares decepcionados transformaram-se em de aceitação. Ava percebeu que o nosso amor não se tratava de um caso, um romance passageiro ou mera paixão carnal, era mais forte, sublime.

― Amor, minha mãe não disse mais detalhes? ― Ele nem imaginava que eu pensava sobre ela quando questionou sobre justamente o motivo que nos levou a voltar para Storybrooke

― Já te disse, Robin, Ava não quis falar mais nada, só disse que precisávamos conversar pessoalmente.

― Será que aconteceu algo ruim? ― Sua voz se agravou e seu corpo se tencionou.

― Ei, não se preocupa ― afaguei a pele da sua nuca ―, a voz dela estava alegre. Deve ser só saudades, você sabe como ela fica quando não vê a pequena por muito tempo.

Virei meu corpo em direção ao banco de trás, onde nosso pequeno anjo repousava serenamente. Robin fez o mesmo através do retrovisor, sorrindo ao ver como ela dormia agarrada ao seu macaquinho de pelúcia. Uma linda princesa com os olhos e cabelos do pai, mas com o jeitinho quase todo meu.

 ― Ela sempre fica eufórica no avião e acaba caindo no sono no carro. ― Meu marido completou voltando seus olhos para a estrada.

― Diferente da mãe, ela ama viajar de avião. Nunca vi uma criaturinha ficar tão empolgada com aquela máquina de ferro incrivelmente pesada, mas que magicamente consegue voar.

Robin riu e apertou mais minha mão, assim como fazia em cada viagem.

Depois de poucos minutos, o carro entrava na propriedade da família Locksley, da qual eu pertencia há algumas primaveras. Assim que sentiu o carro parar, meu anjo acordou. Com a carinha ainda amassada, ela piscou algumas vezes os olhos azuis iguais aos do pai e abriu um sorriso lindo quando percebeu onde estávamos.

― Chegamos, mamãe?

― Sim, meu anjo. Chegamos à casa da vovó. ― Seus olhinhos brilharam ainda mais. Minha pequena bailarina era o xodó de Ava e ela sabia disso, sempre usava do seu poder fofo para conseguir mais beijos e abraços.

― Será que a minha fiel escudeira vai me ajudar com as malas? ― Robin perguntou olhando para trás e se desfazendo do cinto que o prendia.

― Sim, papai!!! ― Ela respondeu empolgada. Mesmo sabendo que ele daria a ela apenas seus brinquedos leves, a pequena se orgulhava de ajudar o pai.

Apaixonada por ele desde sempre, Rosie vivia grudada em suas pernas, seguindo seus passos ou em seus braços. Companheiros de aventuras, os dois eram inseparáveis. Todos os dias, eu agradecia aos céus por ter me permitido dar a minha filha o melhor pai do mundo.

Deixei os dois na parte externa e segui em direção à casa. Talvez Robin não tivesse notado, mas o silêncio e a tranquilidade do lugar me deixaram pensativa. Eu sentia que havia algo anormal acontecendo, mas não conseguia identificar o que era. Seria o arco-íris ou a tempestade?

Abri a porta com cuidado e observei atenta o interior da casa, principalmente a área da sala de estar onde geralmente todos se reuniam. Silêncio e ninguém a vista. Antes que eu pudesse me virar e seguir para os demais cômodos, ouvi passos leves aproximando-se de mim e uma voz. Tremi. Eu nunca me esqueceria daquela voz e nem de quem ela pertencia.

― Regina? ― Chamou pela segunda vez e quando consegui juntar forças para olha-lo de novo, eu me virei.

Daniel estava igual há cinco anos atrás, um pouco mais magro, porém com o mesmo olhar empolgado ao me ver.

― Regina, querida. ― Ele se aproximava e eu não conseguia me mexer. ― Meu Deus, como é bom te ver. ― Os passos iam aumentando de velocidade e a distância diminuindo, mas ele interrompeu sua caminhada quando viu um pequeno ser chegando correndo com uma flor em suas mãos.

― Mamãe, mamãe, olha... ― Rosie parou de falar e correr assim que viu Daniel. Seus olhinhos cor de oceano observaram o homem que nunca tinha visto e mesmo envergonhada, ela o cumprimentou com um doce “oi” antes de se esconder atrás das minhas pernas.

Daniel, atônito, respondeu o cumprimento dela automaticamente, olhando para a menina e para mim. Os olhos arregalados demonstravam o tamanho do seu espanto, o que piorou logo em seguida.

― Filha ― Robin chamou por ela, enquanto carregava as malas para dentro de casa, sem perceber o que acontecia ―, já disse para você não sair correndo assim, você pode... ― Assim que viu Daniel, a fala dele se esvaiu. Com o cenho franzido e a boca aberta em surpresa, meu marido também empalideceu assim como eu. ― Daniel? ― Ele questionou incerto da veracidade do que via em sua frente.

― “Mamãe”? “Filha”? ― Daniel por sua vez, repetiu as palavras de Rosie e Robin, enquanto olhava desconcertado para nós três. As últimas peças haviam se unido e o quebra-cabeças em sua mente estava completo, a imagem formada, no entanto, não era o que ele esperava.

Pela primeira vez desde que eu o vi e ouvi, eu consegui reagir e virar meu corpo em direção ao meu anjo. Rosie não entendia nada do que se passava ali e eu queria que continuasse assim.

― Querida, por que você não vai ver como vovó está? ― Atenta às minhas palavras, a pequena assentiu e saiu correndo pelos corredores da casa. ― Vai com ela, Robin.

Como já era esperado, meu marido me olhou sem entender e incerto se deveria acatar meu pedido. Não por não confiar em mim perto do meu ex-noivo, mas por não confiar no irmão e em suas atitudes.

― Você vai ficar bem? ― Ele questionou baixinho, com o corpo voltado para perto do meu e tocando minha cintura, gesto esse que não passou despercebido por Daniel.

― Vou sim, querido ― sorri como consegui naquelas circunstâncias ―, ele merece uma explicação. ― Elucidei afagando seu rosto com uma de minhas mãos, o carinho lhe acalmou um pouco, mas não completamente.

Robin assentiu e foi atrás de nossa filha, não sem antes olhar sério para o irmão. Não era uma mirada raivosa, mas um aviso de que ele estaria por perto.

Meus olhos pousaram sob Daniel e em cada um de seus gestos, precisava ter ao menos uma noção de como ele reagiria para poder saber o tom daquela conversa. A coloração do rosto antes pálida, avermelhava-se com o passar dos instantes, o sangue impulsionado por uma fúria aparente convergia todo para sua face. Ele abria e fechava a boca frequentemente, treinando, tentando balbuciar algo que sua mente não conseguia pôr em palavras.

Esperei calada. Congelada.

Daniel com passos pesados e firmes foi diminuindo a distância que nos separava. Meu peito subia e descia de forma diferente, respirando mais rápido e seguindo o ritmo do meu coração temeroso. Meu ex-noivo parou há pouco mais de um metro de mim, seus olhos irados me analisaram e sua boca rompeu o silêncio. Todavia, apesar dos movimentos vocalizarem algo, tudo o que eu ouvia era um sonido musical, frequente e irritante.

Não fazia sentido.

O barulho incessante se fortaleceu ao mesmo passo que a imagem de Daniel se esvanecia, sumindo no escuro junto com tudo ao nosso redor.

Abri os olhos assustada e sem fôlego. Será que eu havia desmaiado?

O sonido continuava infindável, perturbando e me forçando a olhar em direção a sua fonte: a mesa de madeira onde meu celular apitava. Já desperta, eu conseguia identificar onde eu estava e o que de fato havia acontecido, mas mesmo assim, para ter certeza, olhei para o outro lado da cama. Robin, talvez sedado pela quantidade de medicamentos circulando em seu corpo, não se moveu ou mostrou-se incomodado com o alarme do telefone, ele dormia serenamente, alheio ao meu susto e comprovando que tudo não se passou de um sonho.

Não haviam se passado cinco anos, apenas alguns dias.

Respirei fundo. Aliviada por aquele enfrentamento com Daniel não ter acontecido, mas desapontada por meu pequeno anjo de olhos azuis não existir. Rosie parecia tão real, tão minha, tão nossa, que saber que ela era apenas fruto do meu subconsciente doía como se a tivesse perdido. Uma cruel prova do que eu provavelmente nunca teria.

Afastei aqueles tristes pensamentos da minha cabeça e foquei no que eu tinha de real, ele. O sonido do meu celular sinalizava que já havia chegado a hora de outra dose da sua medicação, então, eu precisava acordar o dorminhoco ao meu lado.

― Amor? Ladrão? ― O chamado não causou efeito, então comecei uma trilha de beijos que seguiam desde seu pescoço até o rosto. ― Acorda, meu amor.

Ainda adormecido, ele se mexeu, virando-se em minha direção e enroscando-se ao meu corpo como um gato manhoso. Seu braço me puxava para si através do toque em minha cintura e seu rosto foi ao encontro da curva do meu pescoço, afundando-se ali. Ri baixinho com aquele hábito que ele havia desenvolvido naqueles dias depois da sua alta do hospital, toda manhã era a mesma coisa e eu desejava que fosse assim para toda a vida.

Flashback On

Era madrugada da primeira noite que Robin passava em casa desde o hospital, os cômodos estavam mergulhados no escuro e no silêncio e não havia ninguém por perto para ver meus passos sorrateiros rumo ao andar de cima, especificamente, o quarto dele.

Eu não aguentava mais ficar longe dele. Nos dias que ele passou se recuperando no hospital, os horários de visitas eram de poucas horas, e em todas, nunca ficávamos sozinhos. Fazia dias que eu não o beijava, não sentia seu cheiro de floresta, não sentia seu calor em minha mão ou o ouvia me chamar de amor. Eu estava morrendo de saudades do meu ladrão e naquele momento, não havia força sobre a terra que me impedisse de chegar até ele.

Lentamente, eu caminhei e por fim cheguei até a porta do seu quarto. Olhei para os lados para me certificar que não havia ninguém ali, e quando confirmei minhas suspeitas, eu tomei liberdade para abri a porta com cuidado.

O quarto estava escuro como o resto da casa. Robin dormia serenamente na cama e eu me permiti o admirar por um instante. Sorri. Meu amor estava bem, estava na minha frente, respirando, vivo. Não havia nada melhor.

Caminhei devagar até a cama e me sentei na pontinha, perto da cabeceira. Meu intensão era só o observar por uns instantes e depois voltar para o meu quarto, mas quando eu acariciei seus fios loiros, meu amor acabou despertando. Robin abriu o mais lindo dos sorrisos quando me viu pertinho dele e mesmo escuro, eu também conseguia ver um brilho especial nos seus olhos azuis.

— Meu amor — ele levou os dedos até o contorno do meu rosto —, se for um sonho por favor não me acorda.

— Oi, ladrão — sorri emocionada —, não é um sonho, mas eu sinto muito por ter te acordado. Eu só queria ficar pertinho de você um pouquinho, estou com tanta saudade.

— Eu também, meu anjo. Ficar longe de ti foi o pior castigo que o Neal pode ter me dado.

— Bobo. — Acariciei seu lindo rosto e ele fechou os olhos com o meu toque.

— Eu te amo. — Proferiu ainda se deliciando com o carinho.

— Eu também te amo, Robin. — Ele abriu os olhos e eu selei meus lábios nos dele. — Mas agora, infelizmente, eu preciso voltar para o meu quarto.

— O quê? A senhorita vem aqui, me beija e logo depois quer ir embora? Não, não, não pode.

— Amor — eu ri com sua carinha indignada —, eu tenho que dormir.

— Problema resolvido — ele sorriu mais —, dorme aqui comigo.

— Robin.

— Vamos, Regina. Eu estou morrendo de saudades de sentir seu cheirinho e além do mais é só para dormir mesmo, esse bendito ferimento ainda dói para fazer coisas mais interessantes. — Terminou sua fala rindo como um menino levado.

— Você não presta, sabia? — Ele assentiu com a cabeça e se afastou no colchão. — Está bem, eu durmo com você. Mas assim que amanhecer eu vou embora, entendeu, Locksley?

— Entendi, Mills. Agora vem cá, meu amor.

Sorri e fiz o que ele pediu, deitei no lado esquerdo na cama e me colei ao seu corpo. Robin suspirou alto quando eu repousei minha cabeça em seu peito e o abracei com cuidado para atingir seu ferimento. Senti o seu calor emanando e o seu aroma foi o suficiente para que eu caísse em um sono profundo e sereno.

Todas as noites depois dessa foram iguais, eu fugia para os seus braços e dormia sorrindo.

Flashback Off

— Amor… — se não fosse pela hora do remédio, eu me renderia a aquele momento —, querido, acorda. — Comecei um carinho gostoso em seu braço, enquanto sentia sua respiração calma e adormecida contra minha pele.

— Hm. — Ele resmungou ainda dormindo e se agarrou mais a mim.

— Você precisa acordar, Robin. — Olhei para a mesinha, já se passava dois minutos do horário do medicamento. — Amor!

No instante seguinte, a porta do quarto dele se abre de rompante, causando um barulho alto e forte que quebrou completamente a paz que pairava sobre aquele cômodo. Robin, desesperado e sem entender o que acontecia, sentou-se de imediato na cama, olhando para os lados, para mim e para a causadora do seu abrupto despertar.

Puta que pariu, Emma. — Ele praguejou antes de deitar no colchão novamente e levar uma das mãos até a altura da cicatriz. — Ai.

— Está doendo, amor? — Perguntei preocupada afagando seu rosto.

Como um menino manhoso que era, ele assentiu e se aconchegou mais ao meu corpo.

— Tadinho do meu ladrão. — Acariciei seu braço ao redor da minha cintura e depositei um doce beijo em sua testa.

— Ai pelo amor de Deus — A loira bufou e fechou a porta —, lembrem que eu sou uma mulher grávida e todo esse doce está me fazendo enjoar. — Emma enrugou o rosto em uma careta engraçada e depois caminhou ao nosso encontro.

— Você não tinha nem que estar aqui, querida irmã — Robin levantou o rosto e a observou requerer através de gestos mais espaço no colchão para que pudesse se sentar ao meu lado.

— Quem não devia estar aqui é a sua majestade — ela nos olhava séria —, vocês já pensaram no tamanho da confusão que seria se minha mãe entrasse aqui primeiro e visse vocês dois agarradinhos nessa cama?

— Culpa do seu irmão aqui. — Respondi apontando para o meu lado direito onde ele estava.

— Minha? Por que a culpa seria minha? — Ele questionou se ajeitando no colchão, sentando-se colado ao encosto da cama.

— Porque, meu amor, você ficou fazendo dengo para acordar. — Eu o olhava fingindo estar brava. — Se você já tivesse despertado, já teria tomado seu remédio e eu já estaria de volta ao meu quarto para fingir que havia passado toda a noite lá. — Enquanto falava, eu sinalizei para Emma pegar remédio na cômoda e o copo d’água ao lado, dando para o dorminhoco tomar em seguida.

— Ah — ele disse fazendo uma carinha travessa, depois de finalmente estar medicado —, não vou me desculpar por gostar de dormir sentindo você pertinho de mim. — Um sorriso lindo apareceu em seu rosto e quando viu que eu também sorria, ele se inclinou para selar meus lábios com os seus.

— Oh, pombinhos, não se esqueçam que tem uma terceira pessoa nessa cama. — Reclamou nos separando aos risos. — Na verdade — ela suspirou e olhou em direção ao ventre, o tocando com um sorriso singelo —, são quatro pessoas contando o sobrinho ou sobrinha de vocês.

Emma falou com naturalidade e sem perceber o efeito de suas palavras, mas quando ela me incluiu também como família daquela criança que estava por vir, meu peito se aqueceu e insistentes lágrimas inundaram meus olhos. Eu amava o Robin, tinha certeza, mas nossa situação não era das mais fáceis e simples de entender. Apesar da loira ter compreendido e até nos apoiado, não mudava o fato de ainda estar atrelada a um noivado sem fundamento. Entretanto, apesar de toda essa confusão, ela ainda me considerava tia do seu anjo. Um pequeno ser para quem, se o Deus permitisse, eu daria todo amor e carinho, zelando como o filho que eu talvez nunca possa ter.

— Nosso sobrinho ou sobrinha? — A voz embargada sinalizou meu estado emocional, Emma e Robin olharam para mim e com os cenhos franzidos notaram meu choro.

— O que foi, meu amor? — Robin indagou acariciando meu rosto, limpando os vestígios molhados da minha emoção.

Emma agiu diferente. A loira mirou diretamente nos meus olhos e logo entendeu o que se passava comigo. Sorrindo, ela pegou uma de minhas mãos e com cuidado, a levou até sua barriga.

— Seu sobrinho ou sobrinha. Não duvide que você é parte dessa família, Rê.

— Eu sei — levei a mão livre até os olhos, impedindo o rolar de outras lágrimas —, sua mãe já havia falado sobre isso, mas a situação é…

— Complicada — encarou o irmão —, eu sei. Mas vocês vão resolver logo isso, não?

Procurei os olhos de oceano e percebi que ele fez a mesma coisa, Robin buscava a resposta para a pergunta da irmã na minha mirada.

Bem no começo da nossa relação secreta, havíamos combinado de esperar Daniel acordar do coma antes de revelar para todo o mundo. Era o certo. Eu queria contar a verdade olhando nos olhos do meu noivo, porém, os acontecimentos dos últimos dias mudaram a situação. A possibilidade de perder Robin foi tortuosa demais para eu cogitar senti-la de novo ou não viver o nosso amor em sua plenitude. Além de que, o despertar de Daniel era uma incógnita. Seu coma havia evoluído de induzido para um estado sem controle dos médicos, ele poderia acordar há qualquer momento, amanhã, em duas semanas, em meses, anos ou em um futuro muito distante. Não tinha como prever.

Era uma fala muito egoísta, mas eu não queria mais deixar o meu futuro suspenso, eu queria aproveitar o presente, ser feliz, amar e viver ao lado de Robin.

— Sobre isso — comecei entrelaçando nossos dedos —, precisamos conversar, amor.

Ele não teve tempo para responder, vozes femininas começaram a ecoar pela casa. Julgando pelo aumento constante do volume delas, quem as proferia estava chegando cada vez mais perto.

— Ava, por favor, venha aqui. — Granny era uma das vozes e parecia nervosa em tentar convencer minha sogra de alguma coisa.

— Mãe, depois vemos isso, está bem? Já passou a hora do remédio do Robin e não sei se ele já acordou para toma-lo.

Droga. Droga. Droga.

— Merda, a mamãe está vindo para cá e definitivamente ela não pode ver vocês juntos aqui essa hora. — Emma, assim que ouviu a voz da mãe, pulou da cama e me puxou para fazer o mesmo.

— O que você está fazendo, Emma? — Robin questionou quando viu a irmã me empurrar para dentro do banheiro.

— Salvando vocês, é claro. — Ela fechou a porta com firmeza, não me deixando alternativa a não ser ficar ali e esperar.

— Mas…

— Mas nada, teimoso, vai dar que outra desculpa? — Ouvir pela porta de madeira deixa a voz dos dois abafada. — Então, mãe, Regina e eu passamos a noite jogando baralho, por isso que ela está de camisola aqui e não no quarto dela. — Ela engrossou a voz para o imitar.

— Emma, nada aconteceu — ele nos defendeu —, nós só dormimos, como em todos esses outros dias!

— Shhh, elas já estão chegando — falou de novo aos sussurros —, agora finge que está falando sobre outra coisa.

— O quê? Do que você…

O barulho da porta do quarto sendo aberta fez meu coração disparar.

— Bom dia, querido… Emma? O que você está fazendo aqui, filha?

— Oi mãe, oi Granny, bom dia. — A voz da loira estava estridente. — Eu acordei cedo por causa desses enjoos matinais chatos e quando passou, eu não consegui mais dormir. Então, vim até aqui acordar o Robin. A senhora sabe como ele vira criança de novo quando está doente, fiquei com medo dele perder o horário do remédio. — Emma, eu te amo.

— Ah, entendi — pela voz, Ava não parecia ter entendido tão bem assim —, obrigada, querida. Medicamento tem que ser tomados na hora certa — concordo, agora diz para o dorminhoco acordar no primeiro chamado —, mas, e você Robin? Como você está se sentindo, filho?

— Bem melhor, mãe. — Respondeu brevemente.

— Isso é ótimo, não é? — Novamente, Emma falava em tom agudo e alto. — Agora que tal nós darmos tempo para o Robin se arrumar e descer para tomar café da manhã?

— Mas... — eu não precisava ver para imaginar a expressão confusa da minha sogra —, você consegue descer sozinho, filho? Não precisa de ajuda?

— Imagina, mãe, ele está ótimo!

— Emma, eu estou falando com o seu irmão e por que você está agitada assim?

— Eu estou bem, mãe, não se preocupe que eu desço sozinho as escadas.

— Viu, Dona Ava? Não tem nada com que se preocupar! — Eu ouvia passos se movimentando no cômodo. — Vamos, por favor, porque eu estou morrendo de desejo do bolo de chocolate que só minha querida mãe sabe fazer.

— Mas...Emma...

O próximo sonido que eu escutei foi o barulho da porta batendo e reverberando para todos os cantos daquela casa. Continuei parada e quieta, com o ouvido colado na superfície de madeira da entrada do banheiro, atenta para tentar notar alguma outra voz no ambiente. Todavia, quando percebi nada mais além do silêncio, respirei aliviada e em seguida ouvi a voz do Robin dizendo que eu podia sair.

— Essa foi por pouco. — Ele falou rindo nervoso quando me viu sair do banheiro.

— Eu não quero mais isso, Robin. — Minha expressão fechada e a voz séria fizeram a sombra do medo passar por seus olhos de oceano. Ele se movimentou para fora da cama e com cuidado se levantou.

— Você está dizendo que... — Andava em minha direção, dando a deixa para eu completar seus pensamentos.

Cruzei meus braços. Robin analisou meu gesto e logo depois olhou em meus olhos, castanho e azul se misturando e conversando. O peito de Robin começou a subir e descer em um ritmo mais rápido, consequência do pensamento errôneo que pairava sob sua mente.

— Eu andei pensando muito e... — fiz uma pausa dramática proposital —, e não quero mais esconder. — Sorri. — Não quero mais nos esconder e nem esconder o nosso amor.

A tensão demorou um pouco para deixar seu corpo. Alguns instantes depois, Robin respirou fundo, levou a mão no peito e aos poucos foi deixando crescer um lindo sorriso.

— Meu Deus do céu — exclamou aliviado —, eu pensei que... jesus eu pensei que...

— Pensou que eu fosse te abandonar? — Caminhei para perto do seu corpo e contornei meus braços em seu pescoço. — Eu não quero e nem pretendo fazer isso, ladrão. Você tem o meu coração, esqueceu?

— Ai, vossa majestade, que susto você me deu. — Ele sorriu ainda mais e contornou minha cintura com seus braços fortes. — Mas, meu amor, você tem certeza disso?

— Tenho, já tinha tomado essa decisão e te disse quando você dormia no hospital, ainda se recuperando da cirurgia, mas agora eu repito. Eu quero viver o presente ao teu lado, não quero te perder de novo.

— Não tem chance nenhuma de você me perder, meu anjo, eu vou sempre estar contigo.

Robin depositou um terno beijo na ponta do meu nariz e eu o puxei para um abraço forte a aconchegante. Em seus braços eu tinha paz, em seus braços eu ganhava minha morada. Nos separamos um pouco e eu pude ver refletido em sua imensidão azul, a mesma felicidade e coragem que transbordava de meu peito.

— Então... vamos assumir? — Perguntou mesmo já sabendo a resposta.

— Vamos assumir! — Respondi convicta.

Um passo em direção ao futuro, nosso futuro.

***

Desci as escadas com cuidado para não ser ouvida e muito menos vista, andei metro a metro me esgueirando pelos cantos e pelas sombras até chegar no meu quarto em segurança. Respirei aliviada. Todas as manhãs desde a alta do Robin, eu repetia, nervosa e com o coração na mão, o mesmo caminho, temendo que em qualquer deslize meu, alguém que não fosse Emma ou Granny me pegasse no ato.

Era uma circunstância complicada, mas que estava com as horas contadas.

Antes de deixar seu quarto, Robin e eu decidimos falar a verdade para todos naquele mesmo dia, mais precisamente ao anoitecer, na hora do jantar. Não esperaríamos mais outro amanhecer para assumir o nosso amor, não importava quais fossem as consequências, nós as enfrentaríamos juntos.

Meu coração estava certo, mas minha mente em pânico.

Tic e Tac. Tic e Tac.

O restante do dia, eu passei tensa e ansiosa pelo que estava por vir. As minhas mãos ora suavam ora tremiam, minha respiração estava desregulada e meu coração pulsava em um ritmo diferente, bem mais rápido. O nervosismo, entretanto, não venceu o lado positivo das minhas emoções, a felicidade e a empolgação que eu sentia eram mais fortes. Em poucas horas eu podia dizer para quem quisesse ouvir que o amor da minha vida era o Robin, não havia sensação melhor.

Tic e Tac. Tic e Tac.

Instantes antes de girar a maçaneta do meu quarto e sair para enfrentar a realidade, eu parei e sorri. Um flash de imagens percorreu meus olhos, lembrando de cada um dos momentos trilhados até chegamos a esse ponto decisivo. Pouco mais de um mês atrás, eu conheci no um homem britânico, incrivelmente lindo, com um sotaque sexy e olhos tão azuis quanto o oceano. Eu furei sua vez em uma fila e ele roubou meu carro. Ri com a lembrança. Lá no aeroporto, o xingando mentalmente com vários palavrões existentes e alguns nem tanto, eu sequer cogitaria que seria aquele homem o amor da minha vida. Obrigada por perder minha mala, destino.

Sai do meu quarto e fui em direção a sala de estar onde todas as mulheres da família Locksley se encontravam conversando antes do jantar ser servido. Respirei fundo. Um passo de cada vez, Regina, um passo de cada vez.

Um alivio percorreu meu corpo quando o vi sentado em um sofá duplo, Robin assim que ouviu meus passos se virou e sorriu. Era tudo o que eu precisava. Renovada de força e coragem eu andei até ele e sentei ao seu lado. Olhei em seus olhos azuis e por através de nossas miradas, nós conversamos e concordamos. Era a hora.

— Com licença — ele tomou a palavra —, antes do jantar, eu gostaria de fazer um pronunciamento.

Todos os olhares se voltaram para ele, minha respiração voltou a acelerar e eu coração pulsar freneticamente em nervosismo.

— O que eu quero dizer é que... é que... ham... — ele começou a gaguejar e eu segurei em sua mão, entrelaçando nossos dedos. Robin me olhou, sorriu e voltou a encarar sua família. — O que eu vou dizer é algo muito importante para mim e espero que vocês compreendam. Regina e eu...

O toque do telefone de Ava o interrompeu no momento crucial de toda aquela conversa.

— Desculpa, filho. Eu preciso atender, é rapidinho. — Ava sorriu e apertou o botão verde do telefone.

— Oi, sim, é ela. — Ava ouvia atenta. — Sim, compreendo. — De um instante para o outro sua expressão serena tornou-se espantada. — O quê? — Ela ficou pálida. — Você tem certeza do que está me dizendo? — Suas mãos tremiam e um sorri começou a nascer em seu rosto. — Ai, meu Deus. — Lágrimas começaram a inundar seus olhos. — Sim, sim, muito obrigada.

Ava desligou a chamada e continuou o encarando sorrindo e chorando.

— O que foi, mãe? — Robin indagou preocupado. — Quem era no telefone?

Dizem que os sonhos podem ser avisos, presságios do que estaria por vir, mas eu nunca acreditei nisso. Até agora.

— Um milagre aconteceu. — Ava disse entre o choro. — Daniel acordou!


Notas Finais




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