O liquido quente descendo pela minha garganta, de novo foi... divino.
_ Eu nunca vi ninguém suspirar com café antes _ gargalhou antes de beber do próprio caneco, e foi abrindo o saco de salgados _ Você come, hibrida?
_ Raramente.
_ Me acompanha, vai?
Peguei um doce comendo como resposta.
Dois canecos de café depois, mais uns dois doces e três salgados, eu estava finalmente satisfeita.
_ Acho melhor eu ir embora, antes de meter você em encrenca _ falei levantando da cadeira.
Neste momento, um circulo de lobisomens apareceu nos cercando.
_ Como funciona isso de ser hibrida? _ disse um que devia se o alfa do grupo.
_ A Helena come, e bebe sangue de imortais _ o Chris respondeu.
_ Pode se transformar pra gente, docinho? _ outro disse.
_ Não é uma boa ideia _ respondi.
_ Pode se transformar quando quiser?
_ Sim, mas não faço isso sem perigo real.
_ Por que?
_ Não quero machucar ninguém.
Todos riram, menos o Chris. Ele acreditava em mim.
_ Me machuca, estou mandando _ disse um alfa muito convencido.
_ O que eu ganho? _ negociei.
_ Pode recomeçar daqui, e nós esquecemos o seu escorregão. Está bom pra você?
_ Quero um emprego como enfermeira. Pode ser?
_ Você quer ficar perto de sangue? Por que?
_ Eu era enfermeira antes, quando era humana. E não tenho compulsão por sangue, se eu tiver uma fonte imortal.
_ Tudo o que você quiser, mas só se me machucar.
Aquele alfa arrogante me dava nos nervos, além de todas as vantagens que eu teria se conseguisse, valia a pena tentar. Fiz um esforço e consegui. O meu corpo musculoso fez rasgões no jeans que eu usava.
_ O quanto você quer ser machucado? _ quis saber do alfa com a minha voz rouca.
Ele quis lutar comigo e se transformou. Todos riram do meu corpo pequeno em relação ao corpo do alfa transmutado.
Segurei a mão que tentou me socar e quebrei seus dedos apertando, na minha pequena mão. Outros tentavam me acertar de surpresa, mas se davam mal. Não que isso os impedisse de fazer de novo. Voltei a minha forma normal, quando ele voltou a ser humano, tremendo de dor e olhando a propria mao destroçada.
_ Temos um trato? _ me certifiquei com o alfa.
_ Sim _ disse sentindo a mão com os ossos fora do lugar.
_ Posso te ajudar com a mão _ falei, pedindo a sua mão com um gesto.
Depois de por todos os ossos e tendões no lugar, com a ajuda de uma maleta de primeiros socorros, ele se regenerou e parou de sentir dor. Foi engraçada a forma como ele ficou grato por não sentir mais dor, logo depois de ter me feito machucá-lo.
_ Você terá tudo o que quiser, Helena _ me olhou dentro dos olhos _ Terá o seu recomeço. Mas seguirá as nossas regras.
_ Regras?
_ O Christian te informa _ se afastou de mim _ Nos vemos em breve.
Assim que a conversa com o alfa acabou, todos os lobisomens sumiram.
_ O que foi isso, Chris? Você me traiu? _ quis saber do lobisomem imperturbavel em sua mesma posiçao.
_ Digamos que eu não quis te deixar ir. Bem vinda a sua nova vida, Helena.
Levantou me abraçando aconchegante. Depois me mostrou o quarto com uma beliche _ O cara grande dorme em cima _ informou.
Me mostrou o banheiro com banheira de hidromassagem _ Sei que vampiros não precisam de banho, mas fica à vontade. Vou liberar um espaço no meu armário pra você. E nem pense que vou deixar você se mudar agora _ previu o que eu ia dizer já me proibindo.
_ Mas por quê?
_ Você não está pronta pra ficar sozinha, Helena. Precisa de companhia, mesmo que sua companhia seja eu _ nos entreolhamos concordando _ Eu vou assistir TV. O quarto é só seu por uma hora. Use o seu tempo com sabedoria.
Eu estava com o quarto só pra mim. Fui tomar banho.
Enquanto olhava e sentia a água, lembrei dos meus filhos. Da hora do nascimento, de quando esbarraram em mim no baile de mascaras e de quando os vi, em minha mente, antes de tentar me jogar na fogueira de corpos. Será que eu voltaria a ver o Uriel de novo algum dia? E se eu o visse, será que ele deixaria que eu conhecesse os meus filhos? Me negava a pensar no Louie e no Will. A carência tomaria conta de mim. Depois disso, faltaria pouco, para eu enlouquecer de novo.
Eu não tinha roupa pra dormir e, não podia dormir nua, como era o meu costume, por isso, peguei uma camiseta surrada do armário do Chris. Fui pra sala. Sentei ao seu lado para assistir TV com ele.
_ Quem diria que minha roupa ficaria melhor em você, do que em mim? Já sei que você usou a minha escova de dentes.
_ Era a única disponível _ justifiquei.
_ É bom que você saiba, que vou imaginar que estou te beijando, quando eu for usá-la, e que a culpa disto é toda sua.
Falava comigo sem tirar os olhos da tela.
_ Eu mereço isso. É justo. O que estamos assistindo? _ perguntei para mudar de assunto, antes que ele falasse do sabonete, o que iria ficar ainda mais estranho, e funcionou.
Na hora de dormir eu fui para a cama e o Chris foi tomar banho.
Logo o Chris estava de volta ao quarto só de toalha.
Pensou que eu dormia, pois tirou a toalha da cintura, depois de lançar um olhar na minha direção. Vi a marca de sol indicando aquele lugar onde ele nunca pegava sol. Havia uma grande contraste de pele ali. Ele era lindo! Será que sabia disso? Pessoas bonitas, raramente, sabem.
O seu corpo tinha tatuagens, que a blusa que usava antes, escondia. A inclinação do corpo era muito máscula. O Christian era todo másculo. De corpo, alma e atitude. Não havia ar, ao seu redor, que estivesse livre de feromônio masculino.
Havia uma pequena cicatriz na face direita, era quase imperceptível. Mas a marca sem cor, apenas um leve e mínimo sulco, estava lá. O seu queixo tinha um furinho muito bem marcado. O cabelo preto, muito liso, caído de lado. Aparentava uns vinte e seis anos. Tinha muitas caras sérias, mas só três tipos de sorrisos, até agora. Entre eles, o sorriso irônico, cheio de desdém escondido nele.
Vestiu uma cueca box e secou os cabelos com a toalha antes de estendê-la no grande vitrô aberto que era a única coisa parecida com uma janela naquele quarto. Nenhum vampiro entraria pelas janelas. Desligou a luz e se subiu na cama de cima da beliche, fazendo a estremecer sob seu peso.
_ Me desculpa por ter usado as suas coisas _ pedi quando ele parou de mexer na cama acima.
Soltou uma espiração mais alta, por ter se assustado com a minha voz _ Não me importo de verdade, Helena. Não é como se pudéssemos trocar germes. É só que você é uma garota, e eu não tenho sangue frio. Muito pelo contrário.
Entendi os seus motivos. Fiquei em silêncio, como se dormisse e a conversa acabou. Não era o tipo de coisa que eu quisesse ouvir naquele momento.
Na manhã seguinte, o cheiro de café, que vinha da cozinha me acordou. Levantei imediatamente e segui descalça para a cozinha. Até ver o meu grande amigo, só com um jeans por cima da cueca box, que ainda aparecia. Estava de costas pra mim, lavando algo na pia.
_ Bom dia, Chris!
_ Bom dia, Helena! Sente-se _ disse sem se virar.
Sentei vendo suas grandes mãos, se movendo por sobre a mesa, terminando de por a mesa. Até ele me estender uma caneca de café fresco, e eu olhar nos seus olhos agradecendo.
_ Tão educada! _ ironia no seu tom.
_ Desculpa.
_ Olha ela aí de novo! Quando você vai se acostumar comigo?
_ Eu já me acostumei com você. Você é quem está tendo problemas aqui.
_ É assim que as coisas são, mesmo?
_ Sim, Chris _ bebi um gole de café, sob o seu olhar _ O seu café é divino! _ suspirei.
Ele riu balançando a cabeça _ Eu nunca vou me acostumar com isso. É só café, caramba!
Gargalhei da sua reação _ Admite?
_ Tá certo _ desistiu, sentando e se servindo de mais salgados, recém comprados na padaria, e um caneco de café _ Vou te levar pra dar uma volta no seu novo lar, depois do café.
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