História Hello Suga - Capítulo Trinta e Três

Suga’s POV

Quem em sã consciência chegaria atrasado na própria formatura? Eu. Min Yoon Gi.

Na tentativa de ser um homem responsável e organizado, planejei tudo para que eu chegasse trinta minutos antes do inicio do evento. Eu tinha passado minha roupa cuidadosamente, tinha deixado meus sapatos brilhando e cronometrado os minutos para ter tempo o suficiente de passar no Starbucks.

Mas, e talvez sempre haja um "mas", cá estou eu correndo feito um louco para pegar o metrô. Minha namorada está no exato momento me ligando, e como estou a todo vapor, é claro que não vou atender esse celular. Se eu atender, minha mãe vai acabar pegando o celular dela para berrar no meu ouvido e convenhamos que eu preciso chegar na estação sem sofrer um acidente.

—Droga, droga, droga, licença! Droga!

Paro e respiro um pouco me apoiando na parede mais próxima. Eu não deveria está sofrendo assim, afinal comprei uma moto pra não precisar correr, e a miserável achou de quebrar ontem. Ou seja, minha moto está recebendo tratamento de princesa na oficina enquanto eu estou aqui, sem oxigênio.

—O senhor está bem? —uma velhinha pergunta e eu levanto o indicador para que ela espere um minuto.

—... Eu...só...estou...um pouquinho fora de forma.

—Aah... —ela diz e volta a correr. Sim, ela voltou a correr, talvez porque ela seja fitness e eu não.

Recomponho-me e volto a minha maratona, até que finalmente chego e entro no vagão e finalmente me largo num banco. As pessoas me olham como se eu fosse um vagabundo, não sei o motivo, estou até usando terno. Lembro do pique da senhorinha e dou risada, aquela roupa de academia era pior que a da minha mãe. Pensando bem, meu sedentarismo me envergonha. Eu poderia começar a correr também... Não, melhor não.

O silencio no lugar era tão grande que achei que eu tinha entrado num templo, estava tudo tão na paz e eu comecei a relaxar. Meu celular tocou. Tocou e trouxe todos os olhares para mim novamente. E eu fico pensando qual o problema desses seres sem vida. Só por causa desses olhares de reprovação deixo tocar mais cinco vezes e aproveito para aumentar o volume.

—Eu heim...— resmungo e pego o celular.—Alô...

—MIN YOONGI!!!!

Deus é mais. Que susto. Afasto o celular do ouvido e todo mundo ouve a gritaria. Tenho certeza que até uma pessoa do outro lado do mundo ouviu esse grito histérico da minha mãe.

—Oi mãe.

—"Oi mãe"? Você acha que é o convidado de honra ou nasceu pra passar vergonha mesmo?

—Primeira opção. Afinal, eu sou o orgulho dessa turma de merda.

Um ahjussi me olha por causa da minha ultima palavra e eu apenas reviro os olhos.

—MIN YOONGI! SE VOCÊ NÃO CHEGAR EM CINCO MINUTOS, NÃO PRECISA NEM VIR! PEGO ESTA DROGA PRA VOCÊ E NOS RESOLVEMOS EM CASA.

—Mãe...já estou che...

Sim, ela desligou na minha cara e ainda chamou o meu certificado de "droga". Minha mãe acha que quando ela termina de falar, a ligação acaba e eu não existo mais. Ela faz isso sempre. E em todas às vezes eu preciso contar até dez, respirar fundo e lembrar que ela é minha mãe.

Apesar de eu saber que tenho que ter uma bela desculpa para o meu atraso, essa desculpa simplesmente não existe. Eu só dormi demais. Dou um tapa na testa só em pensar na burrice e a criança no colo da mulher ao meu lado ri. Me endireito no banco e olho o horário, serei o ultimo a chegar e ainda ganharei um sermão de brinde.

Termino de ajeitar a gravata,  abro a câmera para ver a minha aparência e meu cabelo está bagunçado. Com a certeza de que Jisoo achará charmoso, eu deixo pra lá e só encaro minhas olheiras que estão péssimas. O individuo nasce com uma pele de açúcar e não dorme direito, então vira um panda e passa vergonha. Se bem que Min Suga é um pandinha muito charmoso. Rio com a minha presunção e atraio alguns olhares.

—Aigoo...—reclamo e olho as ultimas mensagens. A primeira é da minha mãe, a segunda também, a terceira é da minha mãe só que pelo celular da Ji, a quarta é da Jisoo, a quinta e a sexta também e a ultima é do Jeon, aquele ordinário. Nem preocupado com o Hyung ele está, só disse que a Jisoo está muito bonita e que vai roubá-la se eu não chegar logo. Não preciso de mais motivos para matar esse sem noção.

Olho para o lado e um garotinho está me olhando. Sorrio e ele vira o rosto. Okay, fui ignorado. Fecho os olhos e respiro fundo.

A verdade é que ontem à noite eu estava me sentindo sozinho naquele apartamento. Pensei que se eu bebesse um pouco logo dormiria. Então bebi um pouco de soju enquanto pensava nos anos de faculdade que passaram e agora chegaram ao fim. Senti um pouco de nostalgia. Então fechei os olhos e lembrei daquele dia que no inicio tinha tudo pra dar certo. Pensei em como eu estava feliz por começar uma faculdade. Mas, e sempre haverá um, meus pensamentos vagaram e foram parar na queda que eu levei quando fui sentar naquela cadeira e inevitavelmente na pessoa que provocou tudo aquilo. E ai começou o problema.

Fazia tempo que eu não pensava naquela pessoa. Era destrutivo e eu sabia disso, por isso tentei esquecer tomando mais uma garrafa de soju, só que o perfil dela foi se construindo aos poucos na minha memória. E confesso que tomei mais duas garrafas para que ele ficasse completo e eu pudesse lembrar daqueles olhos, que no final me traíram. No inicio não foi fácil cumprir a promessa, eu não suportei e comecei a observar ela de longe, mas logo desisti.

Ela saiu do curso e sumiu por um tempo, ela fingiu tão bem que eu não existia que por um momento eu comecei a achar que tudo aquilo tinha sido invenção da minha cabeça, aquele relacionamento tinha sido invenção de um louco. E doeu tanto quando eu soube que eles estavam juntos. No fundo eu sabia que aquele melhor amigo não tinha nada de amigo.  Não suportei trabalhar no mesmo local e sai em busca de outro emprego em que eu não precisasse encontrar ou esbarrar com ela. Ela não me queria mais, e para sobreviver com aquilo me apeguei a ideia de que ela nunca me quis. E que na verdade, o que tínhamos não era amor. E se fosse, partia apenas de um único lado, porque ela nunca me amou. Essa era a verdade irrefutável. Se amasse não teria me feito prometer ficar longe. E o que eu poderia fazer a não ser ficar longe?

Os anos passaram e lá estava eu jogado no chão da minha sala, com um sorriso amargo e bebendo uma garrafa de soju atrás da outra.

Abro os olhos e percebo que tem um garotinho querendo tocar meu rosto. Ele me ignorou e agora tenta me alcançar. Será que ele sabe que estou triste? Percebo que isto está claro porque preciso enxugar a maldita lagrima que escapuliu. Seguro sua mãozinha gordinha e sorrio. Ele sorri também e eu faço uma careta engraçada, ele solta uma risada fofa e aperta a minha mão. Vejo que a minha estação chegou e me despeço dele, agora, sentindo um pouco de paz.

Desço do metrô e ajeito o casaco. Estava fazendo frio mas isso logo iria mudar porque eu precisava ser rápido e isso infelizmente implicava em correr. Quando finalmente passei pelos portões da faculdade, fui em direção ao prédio em que já estava ocorrendo a minha formatura. Como o prédio tinha dois teatros, no andar de cima estava tendo a festa de formatura dos alunos de Artes Cênicas. Quando terminamos o ultimo ano, todos da minha turma ficaram chateados por causa do atraso em realizar a formatura mas eu estava rezando pra não ter que compartilhar o lugar com os formandos de Artes Cênicas. O motivo era simples, a mine celebridade Kim Taehyung estaria lá e talvez eu odiasse aquele cara.

Caminhei até a porta de entrada do teatro e dei de cara com Jisoo e minha mãe. Graças a Deus, Jisoo foi a primeira a me notar.

—Yoongi! Por que demorou tanto?

—Eu acabei dormindo demais Ji...

—Vai logo, entra no final da fila! — ela me deu um leve empurrão.

—É um preguiçoso mesmo. Toma, veste logo isso e corre para a fila. —Minha mãe jogou a beca preta e esperou que eu vestisse. Diferente de Jisoo, ela me empurrou com tanta força que eu quase cai.

—Pronto. Podem ir. —disse irritado, e finalmente entrei no grande teatro.

—Espera, falta uma coisa. —Jisoo falou e colocou o capelo em mim. Ajeitou alguns fios do meu cabelo e sorriu. —Pronto, você está tão lindo, Suga...

Minhas bochechas coraram um pouco com o elogio e pigarreei tentando disfarçar.
Corri para a fila e quando o mestre de cerimônia olhou para o final, lá estava o prodígio Min Yoongi. Ele ergueu a sobrancelha e lhe lancei um sorriso amarelo. Era um milagre, eu sei. Mas todos sabem que o melhor vinho fica para o final.

—Senhor Min Yoongi.

Subi no palco, recebi o canudo e um aperto de mãos. Era oficial. Eu estava formado em Relações Internacionais. E agora a brincadeira ia ficar séria. Meu chefe iria ter que me pagar mais. Se bem que esses anos não foram nada engraçados e estou super feliz por não ter mais que ouvir esses professores chatos e os meus colegas barulhentos. Ok, talvez um dia eu sinta um pouquinho de saudades.

—Cara quem você pensa que é pra chegar mais atrasado que eu? —Kookie, o garanhão do pedaço perguntou.

—Sou o rei daqui, Jeon. — respondi sorrindo.

—Haha, rei da preguiça só se for.

—Me respeita moleque! E tira o olho da Jisoo ou dê adeus ao seu...

—Ta, Hyung. A Jisoo noona é só uma amiga.

—Amiga? Nem ferrando. Te conheço. Mas vamos logo para o salão de festas! Precisamos comemorar!

—Nossa...você animado para uma festa?

—Preciso comemorar a minha liberdade!

—Sabe, eu poderia acabar com a tua graça te dizendo quem eu encontrei lá em cima, mas vou ser um bom amigo e te dizer parabéns!

—Haha, muito engraçado. Vai agora ou não?

—Pode ir na frente, Hyung. Tenho que passar no banheiro primeiro.

—Ah ok. Espera, Kookie é impressão minha ou uma garota entrou no banheiro masculino?

—É só impressão...

—Ta, não importa xau.

Eu, Jisoo e minha mãe, estávamos indo para o salão quando um grupo passou por nós. Estavam rindo e não perceberam nossa existência. Parecia que alguém tinha contado algo muito engraçado e um bando de hienas foram soltas. Continuei andando e recebendo bronca gratuita da minha mãe até que percebi que Kim Taehyung estava no meio deles e mantinha o braço ao redor do ombro de uma garota. A primeira coisa que notei é que ela tinha as pontas do cabelo pintadas de um azul discreto. Travei. Como eu fui burro. Se aquele miserável tinha se formado, e se eles ainda estavam juntos é claro que ela estaria lá. Parando para pensar, no fundo eu reconhecia o som de uma daquelas risadas. Reconhecia muito bem.

Puxei Jisoo e minha mãe para longe, e elas foram obrigadas a acompanharem meus passos. Meu coração batia rápido e eu sabia que estava fugindo. Fugindo de um passado que me machucava. Fugindo da ideia de encontrá-la. Depois de tanto tempo, eu não tinha percebido o som daquela risada, mas meu cérebro tinha que me ferrar, Kim Taehyung tinha que aparecer pra estragar de novo, aigo, por que eu não posso viver em paz?!

—Yoongi! Para! Pra onde você está indo? O salão de festas fica naquela direção. —Jisoo falou parando na minha frente.

—E-Eu...

Coloquei a mão no rosto. Droga de destino. Meu coração ainda estava descontrolado e pela primeira vez, eu não sabia o que fazer. Ou era a milésima vez?

—Você esta bem, filho? Está mais pálido do que o normal. Olha, se você queria que eu parasse de dar sermão era só dizer.

—Estou bem. Desculpem, eu achei que tinha visto o NamJoon.

Fomos para a festa, mas a única coisa que eu queria era voltar para meu apartamento. Minha mãe ficou por pouco tempo pelo simples fato de ser uma velha que odeia festas e que prefere dormir. Tipo eu. Continuei empacado no puf enquanto Jisoo tentava me animar e me puxava para a pista. Minha mente estava tomada por mechas azuis. Tinha uma mulher linda me chamando pra dançar e eu estava pensando em mechas azuis. Ô santa misericórdia! Terminei cedendo e agora estamos no meio da pista dançando uma musica lenta. Por incrível que pareça eu sou bom nesse tipo de dança.

—Você tem ideia de como eu adoro o seu perfume? —perguntei a trazendo um pouco mais perto.

—Posso ir pro seu apartamento hoje? —perguntou baixinho.

—Sua mãe sabe?

—Quero te dar meu presente de formatura. —Ela sussurrou no meu ouvido e sorri.

—Gostei da ideia. O que esta usando?

—Preta, rendada e ela não ver a hora de parar na sua cama, assim como eu.

—Jisoo...não fale assim em publico.

Ela soltou um risinho e começamos a nos beijar lentamente aproveitando a musica. Minha namorada é tão apaixonante. O jeito 4D foi o que me encantou nela. Sem contar o corpo maravilhoso, o sorriso encantador e o jeito fofo e mandão ao mesmo tempo, que só ela tem.

—Vai fazer massagem no meu pé quando chegarmos. Esse salto ta me matando.

—Por que não veio de sapatilha? —Ela me olhou surpresa.

—Porque a namorada do formando mais gato tem que está gata também.

—Hum...não gosto disso. Os outros ficam te olhando. Até o Jeon est...

—Eu só olho pra você. —me interrompeu e eu sorri, meio convencido.

—Você é muito linda, sabia?

—Tirou sorte grande então.

—Humrrum...

Voltei a beijá-la, mas o som daquela risada surgiu do nada me fazendo cortar o beijo. Quatro anos e eu ainda lembro do riso divertido daquela mulher. A mesma que quebrou meu coração e depois de um tempo desapareceu. Eu não tive escolha a não ser cumprir aquela promessa. Eu a deixei em paz e  agora ela atravessou meu caminho novamente, eu sinto que não deveria pensar nela, é errado eu sei, mas eu não consegui esquecer aquela ingrata.

—O que foi amor? —Jisoo me olha preocupada.

—Não estou me sentindo bem.

—Vamos voltar para os pufs. —ela pegou minha mão e tentou me levar mas eu a puxei para mim novamente e cravei meus olhos nos dela.

Aquela mulher está feliz sem mim, e eu também aprendi a ser feliz sem ela.

—Olhar para você me deixa melhor. —falei e minha namorada sorriu. —Mas ai! Acho que só posso ficar curado com um beijo seu...quer tentar?