Depois de colocar o filho para dormir, Stenio caminha para o próprio quarto e para na porta, o advogado fica ali encostado, em silêncio, observando a esposa andar de um lado para outro enquanto recolhe coisas e coloca na mala que estava aberta sobre a cama.
— Vai ficar parado me olhando ou pretende ajudar, meu querido?
— Não acredito que finalmente vamos viajar.
— Ué, tu chegou de viagem outro dia.
— Você entendeu perfeitamente o que quero dizer. Falei “vamos”, nos referindo a nós. Fui sozinho e a trabalho para São Paulo, não tinha você, não é a mesma coisa.
— Aham, aham.
— Quê?
— Nada!
— Helô, estamos juntos há anos. Quando você resmunga “aham, aham” sempre tem algo.
— Tem?
— Fala, doutora.
— Tu aproveitou muito lá em São Paulo. Vi as fotos, todo sorridente com as amigas advogadas. Parecia um pavão com as penas abertas, cercado de mulher bonita.
— Ah Helô! — ele diz o nome dela aos risos — São amigas, apenas amigas.
— Sempre são...
— E você conhece todas, sabe que não passam disso.
— Não sei de nada.
— Heloísa! — ele sussurra, indo até ela e abraçando-a por trás. — Tem dias que cheguei de São Paulo e agora você quer desenterrar isso? — fala sem deixar de sorrir.
— Não me pega que preciso terminar de fazer essa mala.
— Poderia ter pedido ajuda da Creusa e da Dialinda.
— Elas já farão muito ficando com o Miguel esses dias.
— Quatro dias, Helô. Queria que fosse mais.
— Mais? Stenio, não sou dona da delegacia como você é dono do teu escritório, meu querido.
— Podíamos prolongar essa viagem por uma semana sim. Você é que cabeça dura e pensa demais naquela delegacia. Seus comandados ficam muito bem sozinhos. E também... não é você que vive elogiando seu colega de trabalho, que ele te substitui muito bem quando precisa. Que é o cara mais competente do mundo e tudo mais.
— Inacrê que esse teu ciúme não passa, né, Xxxxtenio? — ela não resiste e gira, ficando de frente para ele.
— Não gosto daquele cara. É nítido que ele sente algo por você.
— E eu sinto por ele, tu sabe disse. — provoca.
— Heloísa Alencar!
— Sampaio! — corrige apenas para implicar.
— Alencar! — ele insiste, apertando os braços em torno da cintura dela, puxando-a para que fique colada em seu corpo. Automaticamente a delegada fica na ponta dos pés e ergue o rosto, sorrindo ao ganhar um selinho demorado.
— Ciumento!
— Sou! Aliás, somos.
— Quatro dias serão mais do que suficiente. Prometo fazer valer a pena.
— Promete, doutora? — questiona, malicioso.
— Aham, aham! Agora me larga, é serio, preciso fechar a mala ou vamos perder o voo.
— Você não acha que já tem roupa suficiente ali dentro, Helô?
— Não acho não. Talvez mais uma bota e uma manta?
— Helô!!!
— Me larga, vai. — pede manhosa.
Stenio a solta depois de beijar seus lábios e cheirar seu pescoço. Ao fazer menção de se afastar, ela sente a mão dele bater em sua bunda em um tapa carinhoso.
— Saímos em quarenta minutos, o motorista já está nos esperando. Você já colocou o guarda-roupa inteiro aí, amor.
— Xxxxtenio, a sua mala é enorme e está carregada de coisas. Não reclama da minha não.
— Não precisa de tudo isso. São quatro dias no Chile.
— E se eu precisar? Vamos para um resort no meio do nada, sabia? Não tem loja ou um shopping perto para socorrer.
— Tem lojas sim.
— Lojas para turistas cobrando um absurdo por uma meia que seja. — ela para de falar e bate a palma da mão na testa — Esqueci de colocar meias.
— Helôooooo...
— Stenio, me espera na sala. Não fica aqui falando, me olhando e me julgando que vou demorar mais. Ainda quero me despedir de novo do terroristinha. Aí e minha maquiagem... escova de dentes, preciso pegar.
— Amor...
— Sala, me espera na sala. — ela o interrompe e aponta o dedo para fora.
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