Helô já estava quase dormindo quando sente o movimento do colchão. Levantando com cuidado, Stenio segue até a sacada do quarto. Ela sabe o motivo da inquietude, tenta ignorar, mas acaba ligando o abajur e sentando na cama. Lá fora o barulho do vento se mistura ao som das ondas quebrando na areia.
— Stenio?
— Amor, te acordei? — Ele se assusta ao ouvi-la chamando.
— Na verdade, ainda não estava dormindo profundamente. — Ela diz com voz aveludada. — E você? Perdeu o sono?
— É! Perdi!
— O que você tem, meu querido?
— Nada, Helô. Volta a dormir. Ficarei só um pouquinho tomando um ar aqui, depois volto para nossa conchinha. — O advogado força a voz e um sorriso, mas é em vão. O rosto estava com rusgas e a testa franzida.
Suspirando, a chefe de polícia levanta da cama e vai até ele, abraçando-o pela cintura.
— Não fica assim, Stenio. Parece que estou indo para a guerra.
— Ah, Helô, é como se fosse. — Ele sussurra o nome dela, acariciando seu queixo com ternura e amor.
A delegada ergue o olhar, encarando-o.
— Eu volto no final de semana, meu filho. Tu não terá tempo para sentir saudade.
— Volta no próximo final de semana, não nesse.
— Amanhã já é sexta, meu querido. — Ela acha graça.
— Helô, vai só na segunda.
— Stenio, preciso despachar tantos documentos na PF amanhã. Não posso adiar. Sábado também trabalho.
— Fico preocupado com você, sabia? — O advogado choraminga ao falar.
— Sei que sim, meu amor. Também ficarei preocupada com vocês aqui nessa casa sozinhos. Sem minha voz de comando.
— Helô, será que não tem um jeito de...
— Já conversamos sobre isso, Stenio. Preciso voltar. Não é justo com as crianças todo mundo voltar também. Além do mais, não é seguro. Estarei me expondo e precisarei manter distância de vocês. Mesmo quando voltar nos finais de semana, não poderemos nos abraçar, muito menos beijar. Será uma realidade diferente de agora.
— É injusto, Helô.
— Mas infelizmente não temos muitas opções.
— Tem uma. — Ele diz com voz falha.
— Não ouse falar o que sua mente está pensando, Stenio. Me magoaria demais, você sabe disso.
— Eu sei, mas no desespero... — Ele admite.
— Stenio, poderemos nos falar por telefone, mensagem e chamadas de vídeos. Prometo te entreter muito durante a noite, depois que chegar da PF. — Pisca o olhar, insinuando-se para ele.
— Quem fará sua comida? Você é péssima cozinheira.
— Me viro.
— Helô...
— Peço as marmitas fitness, pronto.
— Faz isso mesmo, Doutora? Você não pode ficar com imunidade baixa, tem que comer bem. Tomar a vitamina C como prevenção e usar máscara e álcool o tempo todo.
— Pode deixar papai. — Ela brinca.
— Não sou seu pai, mas fico muito MUITO preocupado e não tente me distrair com brincadeiras. Estou com medo, sentindo que você não deveria ir. Meu coração diz para te prender aqui, talvez amarrada na cama.
— Para de bobagem. Isso tudo é carência antecipada.
— Helô... pensa, reflete um pouco.
— Stenio, é meu trabalho.
— Tudo bem, não tentarei mais te fazer desistir. — Ele dispara.
— Obrigada!
— Mas estarei o tempo inteiro te incomodando para que se proteja, se cuide. Estou realmente com muito medo, amor. Não gosto da ideia de você voltar para o Rio de Janeiro sozinha, a última vez que estávamos aqui e...
— Agora é diferente, Stenio. Não acontecerá nada. Tá Bom?
— Tá...
— Melhor deitarmos. Amanhã cedo quero estar na estrada. Vem deitar... vem... vem... — Puxando o amado, Helô o faz deitar novamente e de conchinha, porém o sono demora bastante e, eles conversam mais um pouco sobre os próximos dias que ficariam tão distantes.
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