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História Herdeiros do Império - Reylo - Solidão


Escrita por: howardlev

Capítulo 11 - Solidão


Fanfic / Fanfiction Herdeiros do Império - Reylo - Solidão

"Eu não posso correr mais, eu caio diante de você.
Aqui estou, eu não tenho nada sobrando.
Entretanto eu tentei esquecer, você é tudo o que eu sou.
Me leve para casa, eu lutarei por isto" 

(October - Evanescence)

•••

Alfheimr, 9 anos atrás.

Dois anos, dois longos anos de espera. Nesse tempo Rey não teve quase nenhuma notícia de Ben. As vezes ouvia comentários de seu tio quando recebia notícias de seu sobrinho sobre como as coisas estavam indo. Sempre tão aflita, esperava pelo dia em que receberia algum recado de seu grande amigo, mas nada, sempre nada. 

Todas as noites quando a dor surgia, a garota seguia em direção à ponta da praia e observava as estrelas antes de dormir. Era tão estranha a sensação de fazer sozinha aquilo que estava acostumada a sempre fazer acompanhada dele. Seu coração batia mais forte ao pensar na possibilidade de que talvez Ben também estivesse olhando para as estrelas e sentindo aquilo que ela sentia. E doía tanto. Além da preocupação de nunca saber quando realmente ele voltaria, Rey ainda contava com o medo da possibilidade de Ben voltar outra pessoa, que o beijo tivesse mudado tudo entre eles e que talvez ela nunca mais teria aquele Ben, que ela considerava como sua única família, de volta. 

Os primeiros dias foram os mais difíceis. Luke notara a diferença na expressão da garota, lhe perguntava várias vezes porque lhe parecia tão triste. Ela evitava o assunto, evitava ter que dar explicações, até o infortunado dia em que Luke, inocentemente, comentou que Ben tinha feito seu primeiro contato, e então quando disse que ele não havia deixado nenhuma mensagem para ela, a garota desabou, e ele descobriu o motivo da sua falta de apetite, da sua falta de vontade de viver. 

Ele não sabia mais o que fazer, não havia nada que alguém dissesse que ajudaria Rey a se reerguer, nem quando fora deixada por seus pais no planeta houvera chorado tanto. Após alguns meses e dez quilos perdidos pela menina, Luke resolveu tomar alguma atitude. Pensou em mandar Rey em missão para que pudesse se encontrar com Ben, mas ela própria recusou.

"Mestre Luke, Ben está em seu treinamento para se tornar um mestre. Sei o quanto ele ansiou por isso, sei também que isso passará e eu vou ficar melhor."

"Você está muito fraca, Rey!" Lhe olhou nos olhos. "Não posso deixá-la definhar dessa forma." Ela apertou os olhos. "Por que tão forte, Rey?"

"Ele é como um irmão, mestre Luke." Falou baixo, entre soluços. "Foi minha única família até hoje." 

"Nós todos somos sua família, Rey!"

Após alguns meses e com o o costume de viver tanto tempo sem ele, Rey começou a voltar às suas ações cotidianas, ganhou alguns quilos e se reergueu com a ajuda dos novos colegas. Ela tentou muito, se esforçou, e quando se deu conta já haviam se passado vinte meses. Rey tentava levar uma vida normal, treinara com o mestre Luke, fizera novas amizades e quando se lembrou de fazer a conta, faltavam apenas quatro meses para vê-lo novamente. 

Ela respirou fundo e seguiu até a praia, mais uma vez tentando criar algum contato com ele. Seu coração palpitou, a brisa serena batia em seus cabelos e seus olhos se fechavam suavemente.

"Por favor, Ben. Se consegue me sentir mande algum sinal!" Ela implorou com o coração apertado. "Por favor, eu sei que está me ouvindo, eu sinto." Ela andou em direção ao mar e sentiu a onda baixa bater contra seus pés. "Você disse que se eu me sentisse sozinha eu poderia olhar as estrelas pois com certeza você também estaria fazendo isso. Por favor Ben, sinto sua falta." 

Mas nada, ela não recebia nenhuma resposta, apenas o som das ondas batendo contra as rochas. Respirou fundo mais uma vez e sentou-se na areia úmida. Deitou-se sobre a mesma e fechou os olhos. 

"Rey!" Ela ouviu um sussurrar e abriu os olhos imediatamente, observando Ben de pé parado atrás de onde repousava sua cabeça. 
"Ben?" Ela exclamou e levantou em um pulo e em seguida se jogou nos braços de seu amigo. "Pela força! Você está aqui!" Ela não conseguia deixar de abraçá-lo. "Senti tanto sua falta!" Bufou. "Não me deixe mais, nunca mais." E então enterrou a face no peito dele. Ben a abraçou em resposta, aninhando-a. 

"Você não mudou nada!" Ela sorriu acariciando os cabelos dele, que continuavam curtos como no dia em que ele foi embora. Quando olhou em seus olhos novamente pôde perceber que algo estava mudado, estavam mais negros que o de costume e ele não dizia nenhuma palavra até então. "Ben?" Ele estava paralisado olhando ao horizonte. "O que está olhando?" Ela tornou para procurar por onde a visão dele havia se perdido, e então viu uma sombra muito alta e negra. Quando o fez, sentiu um forte desconforto em seu coração, e quando olhou de volta para Ben, ele não estava mais lá, e então ela despertou.

Rey ainda estava deitada sobre a areia do planeta, tudo não passara de um sonho, uma ilusão. Sentiu-se mal por não ter sido uma aparição física de Ben, mas sentiu-se aliviada pois sabia que temia aquela sombra mais que tudo, sem ao menos saber o que aquilo era ou significava.

"(...) e então a figura apareceu, como um homem bem alto e magro, mas era totalmente sombra. E Ben desapareceu." Rey passou para trás da orelha uma mecha que insistia em cair sobre sua face. "Não entendo, mestre Luke. Ben estava tão pálido e hipnotizado olhando para aquela coisa... estou preocupada com ele."

"O sonho que teve realmente não é muito típico entre os outros, Rey. Digamos que possa ser alguma visão do futuro, ou até mesmo do presente." Ele coçou o queixo. "Quem sabe a força está tentando nos alertar de algo. De fato, é bom que tenha me contado sobre o sonho, temo que signifique algo a mais, talvez algo relacionado ao lado sombrio, algum parasita que esteja tentando persuadir meus aprendizes... Talvez seja a hora certa para Ben voltar." Ela imediatamente levantou a face e fitou Luke com os olhos brilhando. "Não precisa me agradecer." Mas antes que terminasse a frase ela já estava nos braços dele, o abraçando em euforia.

"Obrigada, mestre!" Sorriu.

Era uma noite bela, o céu estava limpo, as estrelas brilhavam com toda sua força e a nave que trazia Ben reluziu no céu escuro em conjunto com elas. Rey houvera adormecido mas bastou um único som da nave rasgando a atmosfera do planeta e um frio na barriga para que pensasse: é ele! E então levantou abruptamente e seguiu em direção ao pouso da nave, onde Luke o aguardava. 

"Pressenti que viria!" Luke lhe sorriu enquanto ela tentava disfarçar a alegria. Foi então que a porta da nave se abriu e Ben andou em direção ao solo arenoso. Carregava alguns sacos de pertences em seus braços mas quando seu olhar se cruzou com o dela suas bolsas colidiram com o chão enquanto seus braços lentamente se abriam e ele corria para abraçá-la. Quando seus corpos colidiram todo fluxo de calor que estava guardado nos dois corações passaram de um para o outro, ambos puderam sentir a energia fluir, como o fogo e o gelo que se chocam. 

Ele a girou no ar por alguns segundos e em seguida a colocou no chão, e então permaneceram quietos por um tempo enquanto apreciavam aquele momento único. Ela estava em seus braços e ele nos dela finalmente, e tudo parecia ser como antes, sem ressentimentos, sem distúrbio na relação, na verdade parecia até que a conexão entre eles havia aumentado. Era como se o peso da galáxia estivesse sob ambos. As pernas de Rey estavam bambas, sua respiração ofegante.

Ele tomou a face dela em suas mãos e sussurrou: "Pela Força! Senti tanta falta!" Tornando a abraçá-la. Ela fechou os olhos enquanto lágrimas caiam deles. 

"Eu também senti, Ben! Não houve um dia sequer em que eu não tenha olhado as estrelas!" Ela sussurrou. "Tentei me comunicar e por mais que você não pudesse responder eu o sentia perto de mim." 

"Eu sei, Rey... eu também senti!" 

"Olhe só para você!" Começou a dizer enquanto apalpava os ombros do rapaz. "Como está mudado, como cresceu! Olhe seus cabelos!" Ela os enrolou em seus dedos. "Estão enormes!" Os cabelos de Ben agora batiam em seu ombro, diferentemente de quando partiu. 

"Você também está mudada!" E realmente estava, ele pôde sentir ao abraçá-la o quanto aquele corpo magrinho do dia em que a deixou tinha se desenvolvido, estava deixado a adolescência e se tornado mais "adulta" nesse tempo em que estava fora, tanto mental como fisicamente, e Ben pôde sentir isso. "Está tão bela Rey, tão forte!"

Ela sorriu e retornou o abraço enquanto Ben corava ao sentir o corpo agora delineado de Rey entre os seus braços, mexendo com suas emoções. Ele a afastou timidamente antes que seus pensamentos, aqueles que ele tentava tanto evitar, transparecessem fisicamente.

"Ben! Olhe só para você, está um homenzão!" Disse Luke dando tapinhas no peito de seu sobrinho. "Quero saber de tudo, mas então... o que você achou do treinamento?" E então Luke roubou Ben de Rey por um tempo, todo entusiasmado para conhecer as novas habilidades do sobrinho e agora o mais novo mestre jedi da geração.

•••

"Rey, pode me acompanhar!?" A suavidade na voz de Ava de certa forma a incomodou. Seus olhos rolaram para os da loura e a única coisa que fez foi assentir com a cabeça. 

Ava a locomoveu até a porção Oeste do corredor, onde no fim encontrava-se um grande terraço artificial, imitava um local aberto, cheio de flores, mas era lacrado com os grossos vidros da base.

"Hux não gostou muito da ideia mas eu disse que as flores nos ajudariam na meditação." Ela sorriu enquanto acariciava uma rosa. "Sente-se." 

O sorriso estonteante de Ava fazia Rey indagar-se cada vez mais sobre sua permanência na Ordem. "Deve estar se perguntando por qual motivo solicitei que me acompanhasse. Não vou me estender muito, eu prometo." 

Duas serviçais aproximaram-se da mesa e serviram Rey com uma xícara de chá e alguns biscoitos. Ava lhes agradeceu e dispensou a presença. 

"Gosta de flores, Rey?" 

"Ah..." gaguejou a garota. "Na verdade de onde eu venho não existem muitas flores."

"Não?" Fixou seu olhar em Rey. "Lamento muito."

"Mas são lindas, quero ter a chance de conhecer diversas ao longo da minha vida." 

"Claro, claro." Assentiu. "Eu a levaria para conhecer diversos planetas repletos de flores se tivéssemos mais tempo e a nossa vida não fosse tão... conturbada." Ava sorriu ao entonar a última palavra e Rey fez o mesmo sem muita vontade. "Vamos ao ponto, então. Não fingirei que não notei seu desconforto ao me encontrar no quarto de Ren ontem de manhã."

Rey tossiu o conteúdo do chá de volta na xícara em razão da surpresa na fala de Ava. 

"Perdão?" Indagou. "N-na-não... não me senti incomodada."

Ava sorriu enquanto levantava uma de suas sobrancelhas para a garota. 

"Ora, vamos Rey, não precisamos ter segredos uma com a outra. Confesso que foi uma situação bem constrangedora. Por que mais eu lhe chamaria para uma conversa, afinal?" Rey sentiu-se profundamente invadida com as palavras da mulher. "Não sou Mera, Rey, pode confiar em mim." 

Ava seguiu com as mãos para o bule e serviu Rey novamente com chá. 

"Bom... já que se sente livre para entrar no assunto, digo a senhora que não precisará se preocupar com minhas ações daqui em diante, estou planejando voltar a Jakku."

"Jakku?"

"Sim, Jakku. Estou apenas esperando que seu mestre me dê sua permissão."

Ava cruzou os dedos ao redor da xícara enquanto uma risada lhe invadia a garganta. Ela tentou evitar mas não conseguiu, fazendo com que Rey ficasse ainda mais irritada.

"Não conte com isso!" Ela disse firmemente. "Acha mesmo que mestre Ren irá deixar a aprendiz favorita dele ir embora? Mas é claro que não."

"Aprendiz favorita? Ele só tem uma aprendiz..." Rey rolou os olhos em desaprovação. "Pois então ele deverá aprender a viver com essa hipótese, me ter aqui não irá lhe ser útil em nada. Eu me recuso a ser treinada por ele novamente." Rosnou fitando Ava, enquanto a loura mantinha sua expressão serena. "As ações de Ren comigo estão o prejudicando quanto aos interesses do líder supremo."

"Então é essa sua preocupação? Bem, então talvez o que eu tenha a lhe contar mude sua ideia." Ava reposicionou-se na cadeira entrelaçando as mãos sobre a mesa. "Estamos enfrentando alguns problemas com os outros Cavaleiros de Ren, Mera está agitando uma certa revolta contra Kylo e é aí que eu entro. Estou aqui para protegê-lo de todas as formas. Eu o sigo, Rey. Eu e Kendrick temos nossa total devoção à Kylo, o que significa que se ele precisar de você nós faremos de tudo para protegê-la também... e parece que Eslo não quer seguir os interesses de Mera e..." Rey já se sentia desnorteada, tentava prestar atenção e conectar as coisas mas era tudo tão confuso. "Snoke quer você como nossa oitava. Ele a quer na ordem dos Cavaleiros de Ren ao lado de seu mestre. Era isso que eu estava fazendo no quarto de Ren quando você nos encontrou. Estávamos conversando sobre você!"

"O que?" Rey soltou um chiado. "Eu estava no hospital há dias por ter sido torturada e agora você vem me dizer que Snoke me quer na ordem? Qual o problema de vocês!?" 

"Não se exalte, querida." Ela sorriu perfeitamente. "Não sabe a sorte que tem."

Rey permaneceu em silêncio enquanto as palavras de Ava rolavam pela sua mente, confusas, trêmulas, irreais. A catadora de lixo estava prestes a se tornar alguém muito importante para o sustento do lado sombrio, mal ela sabia. Seu estômago revirava, ouvia Leia em sua cabeça dizendo o quanto Snoke era manipulador, seria Ava uma manipuladora também? 

"Rey, deveria saber que Kylo já planejava tê-la ao seu lado. Sabe que ele não vai desistir de torná-la uma verdadeira... Imperatriz." Ela sorriu. "Todos sabem que seu maior desejo é que imperasse ao seu lado no dia em que ele se tornar um imperador." 

"Imperador?" Ela riu com certa ironia. "Vocês estão querendo reconstruir um Império? É mesmo?" Ela revirou os olhos. "A Resistência não permitirá!" 

"A Resistência é fraca perto de nós, Rey. Perto de Kylo Ren!" Ava fixou seus olhos em Rey. "Subestima o poder de nosso mestre!"

"Então impere você ao lado dele, Ava!" Rosnou inclinando-se em direção à loura. "Impere você ao lado dele, eu tenho certeza que ele adoraria, fariam um belo casal de Imperadores!" 

"Ora, Rey! Pare de ser tão tola! Eu não tenho nada com Kylo..." ela rolou os olhos. "Se eu pudesse ter um relacionamento com alguém aqui, essa pessoa não seria Kylo." Olhou para o chão. "Mestre Ren é incrível mas somos apenas amigos. E ele só tem olhos para você. Todos sabem." Rey respirou fundo enquanto as palavras de Ava rasgavam seu peito. "Se você sente o mesmo, querida, o deixe saber." Ela aproximou-se. "Não queira acabar como eu, reprimindo um amor por pura ambição." 

"Eu, não... sinto."

"Ora, Rey, olhe só para você! Tentando mentir para si mesma! Tolice, querida." Ava agitava-se sobre o assento. "Ora, não deixe esse homem escapar, enxergue o quanto vocês podem ser grandiosos juntos!"

Grandiosos, Rey permaneceu em silêncio enquanto sua mente digeria as palavras de Ava. Ela sentiu seu coração arder e um fluxo de poder correr entre suas veias. Por um segundo ela pensou: Será? Eu e Kylo como imperadores? Reconstrução de um império? Que ideia sem fundamento. E soube naquele momento que a ambição começara a crescer dentro dela, o sentimento era semelhante à vez em que ouviu uma voz profunda lhe ordenar que matasse Kylo em sua primeira luta, o fluxo de poder que a tirava de seu eixo, o fluxo de desejo, ambição, o poder do lado sombrio que florescia dentro de seu corpo.

•••

Quando Rey retornou ao quarto a sua imagem refletida no espelho chamou sua atenção, ela finalmente pôde olhar em seus olhos e conversar consigo mesma. Perguntava se de fato Ava poderia ter razão sobre seus sentimentos. Ela se odiava por isso, odiava-se por sentir-se feliz ao ouvi-lo dizer que a amava, odiava-se por sonhar com ele todas as noites, odiava-se por cogitar estar ao lado dele governando a galáxia — algo que fugia totalmente de seus princípios — e odiava-se, principalmente, por estar desistindo de voltar para Jakku. Sentia que estava traindo sua família ao querer estar perto dele. 

Ela lavou o rosto com água fria enquanto tentava afastar os pensamentos sombrios de sua mente. Ela sabia que era isso, sabia que estava confusa. 

O que está acontecendo, Rey! Lembre-se de quem você realmente é e porquê está aqui! Suspirou.

Enquanto isso em seu quarto, Kylo Ren vivia um conflito interno imenso. Ele foi informado por Ava sobre a conversa que teve com Rey mais cedo, e que ele poderia deixar de se preocupar sobre conflitos que incluíam ela. Disse também que Rey estava apenas esperando a permissão de Ren para ir embora, e isso fez seu estômago revirar.

Como ele poderia negar um pedido da mulher que ele amava? Sim, ele a amava, e ele já não pretendia mais esconder isso de si mesmo. Por outro lado, ele não poderia deixá-la partir e mais uma vez ficar isolado, ainda mais agora que ele atribuía sua felicidade à existência daquela sucateira. 

Em conjunção, sua imagem no espelho não estava sendo tão gentil. Sua face estava limpa, a cicatriz a cada dia parecia diminuir e seus cabelos estavam um pouco mais compridos do que o de costume, o fazendo perceber o quanto do tempo ele ignorou. Pela Força, onde foi que ele se perdeu? Pensou. Em que momento ele simplesmente largou tudo e decidiu seguir o caminho das trevas? E droga, ele sentia como se faltasse algo, como se dentro de seu corpo algo gritasse por sua atenção. Ele não conseguia compreender, e ele também não deixava Ben lhe explicar. 

"Argggg." Ele murmurou quando percebeu que a água estava fazendo arder os machucados em suas mãos, cortes superficiais. Ele enrolou a porção de sangue do ferimento que fora aberto em uma toalha e pressionou para que estancasse. 

Quando fixou novamente seu olhar no espelho sua imagem estava congelada e não seguia o reflexo de suas ações. 

"Não!" Ele exclamou. "Não diga uma palavra." 

E então a imagem sorriu, o perturbando. Ben vestido em trajes de um jovem jedi, com um sabre de luz verde em uma das mãos, reluzindo e iluminando o banheiro com a cor. Havia se esquecido de quão bela a luz verde do sabre era, o quanto aquela cor lhe chamava atenção na época de padawan, sua cor favorita.

Ele olhou em sua volta, como aquilo era possível? Ele fechou os olhos enquanto seu corpo deslizava sobre a parede indo em direção ao chão. Ele se sentou com as mãos sobre os ouvidos e pressionando os olhos. 

"Isso não é real!" Ele dizia para si mesmo mas inevitavelmente a voz de Ben ecoava dentro de sua cabeça, não valia de nada tapar os ouvidos. 

Você é fraco. Disse Ben. 

"Não, eu não sou fraco!" Ele gritou. "Estou cansado de você!" Respirou fundo. "Eu matei dezenas de aldeões, jovens inocentes, fraco é você!" As palavras saíam com dor, trêmulas. 

Não! Você pode ter matado dezenas de jovens e inocentes, mas toda sua bravura acaba quando você está diante dela!

"Cale a boca!" Ele rosnou.

Deixe esse sentimento fluir, Ren. Deixe te consumir, é disso que precisamos agora.

"Não diga no plural, eu não preciso disso!" Ele grunhiu. "É você que está colocando essas ideias estupidas na minha cabeça."

Agora você sente a minha dor, Kylo Ren. Não consegue se conter em amá-la, desejá-la. Você a quer como um dia eu a quis, você a ama como eu a amo, quebraria as regras como eu quebrei.

"Está mentindo! Você não tem o direito de amá-la, você não a conhece." Ele abriu os olhos, se levantou e encarou sua imagem. "Ela não conhece Ben Solo, ela conhece a versão mais forte de você." Ele rosnou. "Você nunca a terá!"

Eu já a tive! Ben sorriu. 

"O que?" Kylo sentiu um aperto em seu coração. Ele se levantou indo em direção ao espelho, olhou no fundo dos olhos de Ben enquanto sua imagem o encarava. Droga! Estou delirando, pensou chacoalhando a cabeça tentando desfazer-se da imagem de seu outro eu, mas era impossível.

Olhe para dentro de você, você e eu... Você não é essa imagem que construiu de si mesmo, você é Ben Solo, nós somos apenas um, e ela ama apenas um de nós. Ela ama aquele que lhe deu amor pela primeira vez, esse alguém sou eu, é isso que ela busca em você... a pessoa pela qual ela esperou todo tempo em Jakku.

"Espere!?" Ele exclamou, com um frio na barriga. "Você... Rey... não pode ser..." ele caiu de joelhos. 

Isso, sinta! Deixe fluir. Ben dizia com um brilho ambicioso do olhar. Deixe o raciocínio vir, deixe-se conectar!

"Estou louco!" Kylo gritou. "É impossível." Disse num tom abafado, sem ar"A pessoa que ela sempre esperou em Jakku é você?" Ben sorriu. Kylo estava no caminho certo rumo à verdade, foi quando seu corpo tremeu todo ao sentir um alavancar enorme vindo do chão. Todo o banheiro tremeu. No espelho não havia mais seu outro eu e as luzes do recinto piscavam. Ele imediatamente se levantou e correu para o corredor, com uma única coisa em sua mente:

"Rey!" Ele gritou em plenos pulmões ao chegar no corredor e presenciar a correria. Ele foi até a porta do quarto da garota e o abriu imediatamente sem pedir licença. Ela não estava lá.

Seu corpo todo tremeu, um calafrio que subiu por toda extensão de sua carne. 

Ele saiu do quarto de sua aprendiz e correu para o outro lado em direção ao centro de comando onde estaria Hux. As sirenes no corredor gritavam com toda sua força e a iluminação era feita pelas luzes de emergência para que fosse poupada a energia da base.

"O que está acontecendo?" Ele gritou para Hux. 

"Estamos sofrendo um ataque interno." Respondeu, ríspido.

"Onde está Rey?" 

"Todos os aprendizes foram direcionados ao salão principal." Ele direcionou seu olhar para Kylo. "Sua catadora de lixo não está entre eles." Ele sorriu.

"O que?" Ele gritou trazendo o pescoço de Hux para sua mão. "Onde ela está?" 

"Eu não sei!" Hux dizia com todas as suas forças e então Kylo apertou seu pescoço mais forte, o impedindo de respirar.

"Eu posso acabar com você!" Ele rosnou enquanto Hux arranhava seus dedos. "Onde ela está!?"

"Ela está conosco, Ren." Ele ouviu a voz de Ava entrando na central de comando. "Venha, vamos!" Ela o segurou pelos braços o fazendo soltar Hux. Ele seguiu Ava e quando chegaram ao memorial das estátuas dos antigos Lords Sith, ele avistou Rey entre os outros Cavaleiros, acuada, olhando para o chão enquanto sua mão coçava o pescoço. Ela levantou o olhar e seus olhos se encontraram. Ren podia jurar que suas pernas o trairiam e ele cairia ali à frente dela, mas antes que a fraqueza pudesse comandar seu corpo ele seguiu em passos determinados até sua aprendiz.

"Está machucada?" Ele dizia examinando os braços e torso de Rey.

"Não." Ela respondeu.

"Tem certeza!? Deixe-me ver." Ele virava o corpo dela procurando alguma marca. "Alguém viu você? Alguém se comunicou? Algum conhecido seu?"

"Não, não, não e não!" Ela disse ríspida tirando as mãos de Ren de seus braços. "Estou bem!" 

"Pare com isso Ren..." Mera caçoou, rindo daquela cena.

"Ava, leve Rey com você. A vista com um de seus trajes, quero que ela fique escondida com você, disfarçada como uma de nós. Ande!" Ele comandou e Rey seguiu com Ava sem hesitar, não queria ter que trocar palavras com Ren, por isso obedeceu.

"Patético!" Mera rosnou. "Pode vesti-la como uma de nós mas eu duvido que não a identifiquem!" Ela cruzou os braços. "Eu posso sentir o cheiro de catadora de lixo a quilômetros de distância." 

Kylo a fitou a poucos segundos de cravar seus dedos em sua jugular e matar Mera ali mesmo. Ele não suportaria mais um insulto sequer. Ele deu uma última trocada de olhares com Rey e ela desapareceu pela porta. Kylo seguiu em direção à Hux novamente.

"O que está acontecendo aqui? Ataque de rebeldes? Como eles nos encontraram?" Kylo quebrou o silêncio. "Preciso de informação!" 
Kylo berrava com Hux para que ele lhe desse alguma palavra, mas o general continuava quieto analisando as imagens das câmeras e dando as ordens necessárias para seu pessoal. 

"Senhor, os rebeldes foram identificados, devemos executa-los?" Uma voz feminina interrompeu a fala de Kylo Ren.

"Deixe-os chegar mais perto..." 

"Não." Ele gritou. "Não pode deixar eles chegarem perto dos nossos." Disse Kylo em fúria.

"Perto dos nossos ou perto da sua sucateira?" Hux levantou a sobrancelha. 

"Você gosta mesmo de enfrentar a morte, Armitage." Kylo respirou fundo, com os punhos cerrados tentando controlar sua raiva.

•••

Jakku, tempos presentes.

"Unkar vai pagar por tudo que está fazendo com a gente." Kira bufou enquanto limpava com toda força uma espécie de cabeça despedaçada de um droid encontrado caído e sem utilidades no deserto. "Minha mãe vai usar os poderes dela e ele irá se arrepender de ter encostado essas mãos sujas em nós." 

"Eu não conheci minha mãe." Disse Amber, uma garotinha ruiva que também chegara em Niima a partir da fuga que o ataque da Primeira Ordem ao vilarejo causou. "Como era sua mãe?"

"Minha mãe?" Kira sorriu. "Meu pai sempre dizia que eu me parecia com ela, então ela é como eu, só que mais velha. Mas ela dizia que meus olhos tinham vindo do meu pai." Ela fechou o sorriso enquanto observou o horizonte. "Minha mãe é linda, e doce... e brava também. Ela sempre andava com um sabre de luz no cinto quando meu pai tinha que viajar a trabalho, ela trancava tudo porque tinha medo que fossemos atacadas. Mas no vilarejo só tinham pessoas boas, eu nunca entendi do que realmente ela tinha medo."

"O que é um sabre de luz?" Amber perguntou. 

"Uma arma de combate jedi."

"Jedi? Não é uma lenda?"

"Não, claro que não... meus pais me contavam histórias de quando eles eram jedi."

"Mentirosa!" Amber caçoou de Kira. "Todo mundo sabe que não existe mais nenhum jedi!" 

Kira se levantou e seguiu em direção à Amber, com a voz alterada.

"Eles existem sim, eu não estou mentindo!" 

"Então os seus pais são mentirosos, mentirosos como você!" 

"Não fale dos meus pais!" Kira gritou pulando pra cima de Amber, as duas rolaram no chão enquanto puxavam os cabelos uma da outra. Kira gritava o quanto ela acabaria com Amber e o quanto ela se arrependeria de ter chamado seus pais de mentirosos. As outras crianças tentavam se intrometer mas não conseguiam, levavam tapas das duas e então ficavam longe, foi quando os capangas de Unkar chegaram, levando Kira e Amber consigo, direto para o castigo.

Mais um castigo para a lista de arrependimentos que viria da parte de Unkar no futuro.

•••

 



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