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História Heroína - Impressões de uma má pessoa sobre um mau relacionamento


Escrita por: erohime

Notas do Autor


FELIZ 2019 PRA VOCÊS ♥♥♥♥
Mais um ano, mais fics pela frente! Espero que gostem da primeira atualização do ano, obrigada a todos que acompanham, significa muito para mim ♥

Capítulo 8 - Impressões de uma má pessoa sobre um mau relacionamento


Eu não vou mentir para você

Eu sei que ele não é certo para você

E você pode me dizer se eu estiver enganado

Mas eu vejo isso em seu rosto

Quando você diz que ele é o que você quer

Você está desperdiçando todo seu tempo

Nesta situação errada

— Treat You Better, Shawn Mendes

 

—Capítulo VIII–

Impressões de uma má pessoa sobre um mau relacionamento

 

Naruto estava irritado.

De fato, ele poderia utilizar diversos adjetivos mais incisivos para descrever seu estado de espírito naquele momento, mas sua mente nublara-se, tamanha era sua ira. Seus olhos enxergavam pontos vermelhos, e, em passos duros, marchou até o estacionamento, trombando em alguns estudantes que não conseguiram desviar – ele tampouco escutou suas reclamações posteriores ao empurrão –. Quando entrou em seu carro, bateu a porta, vendo os vidros estremecerem, e, contra o banco de couro, respirava pesadamente, como se houvesse pesos em seus ombros. Em um ímpeto, socou o volante, seguidas vezes, até que seus punhos latejassem, criando dolorosas manchas avermelhadas.

Tentou respirar fundo. Algumas horas mais cedo, ele não saberia prever que estaria naquela situação – e quem poderia? Quando acordou, até mesmo seus instintos lhe diziam que aquele seria um grande dia. Teve sorte de se mudar durante as férias, no fim do semestre da universidade americana que cursava na Califórnia, de maneira que pôde trazer seu histórico mais recente e conseguir algumas equivalências. Era seu primeiro dia de aula de novo, em uma sala provavelmente já formada, e, apesar da perspectiva do aluno novo, não estava com medo. Pelo contrário, sentia-se extasiado. Estar estudando o que amava fazer, depois de tantas semanas à toa, realmente o empolgava, e ele até mesmo se dignou a comprar novos materiais.

Acordou sem reclamar, preparou seu próprio café, apreciou a vista dos prédios comerciais pela grande janela de cortinas distendidas. Se vestiu com roupas limpas, pegou sua bolsa e os óculos escuros. Enquanto dirigia a caminho da faculdade, com os vidros baixos, se deixou pensar em como estava feliz, e em todas as coisas que contaria quando ligasse para seus pais, mais tarde, naquele dia. Chegou cedo, e conseguiu uma boa vaga no estacionamento principal. Se perdeu entre as salas, conheceu alguns colegas e puxou conversa com a garota que dividia a bancada com ele.

A aula foi fantástica. Mesmo que já tivesse visto a maioria daqueles propósitos teóricos em outras disciplinas, de períodos anteriores, Naruto se prendeu na maneira que o professor falava, com tanta paixão e intensidade. Ele fez anotações e participou com perguntas e sentiu que estava exatamente onde deveria estar. Admirava toda a estrutura dinâmica da sala, a arquitetura e a disposição dos materiais – ele basicamente se sentia como um garoto no parquinho. Os quatro créditos passaram com impressionante fluidez, o suficiente para que o garoto percebesse apenas quando os colegas começaram a se levantar. Próximo ao horário de almoço, conseguiria carimbar seus papéis na secretaria antes de ir embora, o que o deixou ainda mais feliz.

Se dissesse que parte de sua consciência não esperava por um encontro oportuno, estaria mentindo. Não tinha conhecimento dos horários dela, mas, considerando que seu curso também era matutino, muito provavelmente ela cumpriria seu turno pela tarde. Graças as informações precisas e despretensiosas de Sakura, o escritório do departamento de graduação talvez pudesse se tornar seu lugar preferido do campus.

Quando chegou, cumprimentou a sempre ocupada Shizumi, que conhecia de outras reuniões, há muito tempo. Conversou rapidamente, jogando todo seu charme, mas não avistou sinais dela na recepção ou na sala interna. Ligeiramente desacreditado, deu a volta e entrou pela portinhola da lateral, indo até os fundos para pegar seus documentos assinados. O horário era propício, o ambiente estava quase calmo demais. Atravessou duas saletas até o almoxarifado, onde ficavam as impressoras, e, quando alcançou, qual foi sua surpresa.

Céus, ela estava linda. Quando seus olhos identificaram o cabelo escorrido sobre seus ombros e o corpo esguio, suas pernas tremeram vergonhosamente. Ela tinha uma espécie de feitiço que o deixava embasbacado, era apenas inevitável. Mesmo de costas, Naruto conseguia vislumbrar cada detalhe de seu rosto simétrico, harmonioso, e até a maneira que sua pele refletia com as lâmpadas era como uma poesia para ele. Embora estivesse acostumado com uma Hinata de cores vibrantes e vivas, não podia dizer que a calça justa e a blusa de um ombro só não a deixavam sexy.

Naruto só queria tocá-la. Sentir o calor da sua pele, como aconteceu na festa, quando seus dedos ainda conseguiam sentir-se afundar em sua cintura. Estava hesitante, sim, mas, quando se tratava de Hinata, seu corpo se movia sozinho, de alguma forma, sempre tentando alcançá-la. Seus olhos viram seu braço se estender, procurando por seu ombro, e, quando o tocou, soube que ela também sentira aquela corrente eletrificante percorrer suas células – foi uma super-reação. Em milésimos, Naruto sentiu seu antebraço arder com um tapa estralado, afastando sua mão para longe. Ele estava preparado para superar a rejeição com um comentário sarcástico, mas, no momento em que seus olhos capturaram o rosto da Hyuuga, as palavras se esvaíram subitamente, trancando sua garganta.

Era um sentimento novo, que ele nunca tinha sentido antes. Queimava, incômodo, se alastrando pelo estômago e subindo. Fagulhas, faíscas, trepidantes de vermelho. Quando chegou na faringe, Naruto queria vomitar. Estava confuso – seu corpo e sua mente reagiram de maneira diferentes, no mesmo instante. Enquanto seu corpo incendiava, sua mente tentava lhe convencer, túrbida, que aquela era uma fantasia de péssimo gosto. Um sonho. Um devaneio, uma ilusão, um pesadelo – não importava como chamasse. Aquelas imagens em seu cérebro se reproduziam, enganando-o, e parte de si queria gritar para que parasse com isso – não tinha graça.

No entanto, os minutos passaram, escorrendo, e ele piscou. Vagarosamente, como se estivesse mergulhado em gel, e todo seu redor se movesse em câmera lenta. Naruto viu a própria carne aquecer, e seu rosto de moldar em uma faceta de horror. Ele viu o semblante de Hinata lhe espelhar, convertendo-se em uma máscara ora culpada, ora aterrorizada. Algo não estava certo – Naruto queria lhe dizer para desfazer aquela expressão, porque o rosto assustado não combinava com seus traços delicados e suaves. Porém, um segundo atrasado, ele percebeu que o olho inchado e os hematomas não eram algo que ela poderia desfazer.

Ele não estava entendendo. O que era aquilo? O que eram aquelas manchas arroxeadas dispersas por sua face, cobertas por camadas de maquiagem que já havia escorrido com suor? Por que sua pálpebra parecia doentiamente dilatada, de forma pungente? Havia cortes em seu supercílio e em seu lábio, desfigurando a imagem como um todo. Parecia, de fato, que a maquiagem escondia grande parte dos hematomas, mas gotículas de suor que brotavam em sua franja escorriam pelos cantos, levando parte do pó. O outro olho continuava fortemente marcado pelo delineador, com um encarar agressivo, e a boca, escura e matte, também tremulava.

Naruto via, direta e claramente, mas ele não conseguia aceitar. A garota parada a sua frente era firme, decidida. Era alguém que intimidava, compelia sua personalidade, não se deixava domar. Ela era uma fera, uma força da natureza. Seu espírito era grande, como ele jamais conhecera. Era alguém a quem ele tentava acompanhar, lado a lado, porque jamais conseguiria caminhar à sua frente. Naruto nunca soube descrever Hinata, apenas porque ela era brilhante demais para ser minuciada com palavras. Como, como, de repente, ele estava parado diante de uma garota que apanhara do namorado?

O Uzumaki não fora nada racional naquele momento, tomando aquela conclusão puramente baseado nos ciúmes – imprestável, mas era a verdade –. Assim que seus olhos processaram a visão, ele soube que havia sido aquele filho da puta. Mas, em seguida, quando a indignação já não tomava conta de seu corpo, era quase estúpido de tão lógico que apenas um homem conseguiria deixar aqueles hematomas no rosto de alguém. Não pretendia ser machista, ou algo do gênero, apenas concluiu pelo formato e pela extensão do inchaço – ele também tinha um parecido em seu lado esquerdo. A altura, o tamanho, a força impregnados detinham extrema potência. Por outro lado, os poucos minutos agradáveis que teve junto do tal Inuzuka deixaram nele a impressão de que ele, certamente, era alguém que não gostaria de encontrar em um bar, pela madrugada.

Mas era claro que ele raciocinou isso quando já estava muito longe. Naquele momento, o motivo que fazia seus membros rangerem eram legitimamente brutos. Movido pela ira, seu braço se estendeu, querendo tocar — talvez o tato tornasse mais real. Hinata se afastou, como um animal acuado, prensando-se contra a mesa. Naruto quase riu. Ela estava com medo – com medo dele. Como se ele pudesse machucá-la. Como se pudesse sequer pensar naquela possibilidade. Ele morreria antes de erguer a mão contra Hinata, contra qualquer mulher, mas, como uma piada realmente cruel do destino, era ela quem namorava o monstro. Deixou o braço cair, e, antes que pudesse dizer mais alguma coisa, ouviu Shizumi chamando por eles. Puxou as folhas, querendo amassá-las em seus punhos, e, antes que pudesse dar as costas, sustentou um olhar amargurado, deixando que aquelas pérolas opacas derretessem seus pensamentos. Ela tinha visto a decepção estampada em seu rosto – ele não fez questão de esconder.

Passou pela secretária sem se despedir, e, mais tarde, sentiu-se culpado pela falta de educação. Todavia, enquanto sua mente se enchia de cólera, não conseguiu ter um só pensamento razoável. Novamente, era ela influenciando em seu humor, suas ações, sua consciência. Do modo mais nojento, animalesco, imperdoável que poderia existir. Naruto não sabia o que o zangava mais: estar de mãos atadas, ou apenas não conseguir entender. A ignorância o desesperava, enquanto sua mente continuava a gritar memórias do passado, a garota que havia domado seu coração e conquistado-o com sua individualidade aceitando, se subjugando, a algo tão repugnante. Ao mesmo tempo, parte de si cegava-se pela sede de justiça, e ele estava morrendo para encontrar o Inuzuka e socá-lo até que estivesse afogando no próprio sangue. Naruto nunca fora a favor da violência – de fato, era relativamente pacífico e não gostava de se envolver em conflitos físicos a não que fosse de extrema necessidade –, porém, parecia inevitável que não se sentisse daquela maneira.

Para ele, um covarde que agredia mulheres – mais, que agredia Hinata – merecia o pior tipo de morte.

No carro, ainda parado, assustou-se com seus próprios raciocínios, e obrigou-se a respirar fundo, ainda que suas mãos ainda tremessem e ainda sentisse enjoo. No banco do passageiro, a folha amassada parecia irreconhecível, e ele teria que tirar uma cópia aceitável para enviar à Califórnia. Não sabia há quanto tempo estava parado, mas novos alunos estavam chegando, e as aulas vespertinas estavam para começar. Possuindo um controle que não sabia que tinha, Naruto ligou o carro, saindo do estacionamento na velocidade mínima, abrindo todos os vidros e deixando que o ar gelado batesse contra sua orelha. Ajudou para que se elucidasse, mas a raiva ainda permeava suas veias.

Estava na rodovia quando seu celular tocou, em seu bolso. Puxou, resmungando, e não olhou no visor para atender.

— Alô? – não disfarçou a voz rude.

— Naruto! Onde você está? — tudo que ele precisava naquele momento era da voz estridente de Sakura – Está todo mundo te esperando! Estamos com fome, sabia? – gemeu internamente ao se lembrar que tinha combinado de almoçar junto com os amigos na lanchonete. Havia sido antes que tudo aquilo acontecesse, e a última coisa que ele queria naquele momento era estar com outras pessoas. Não achava justo descontar suas frustrações em alheios, mas se conhecia, e, como estava, uma briga seria inevitável.

— Eu não vou mais. – respondeu, curto e grosso. Sua têmpora latejou de dor de cabeça.

 Como assim não vem mais? Está brincando? — mordeu os lábios com força para não xingar a amiga.

— Eu não vou mais. – repetiu – Nos falamos depois.

Desligou sem se importar. Se desculparia mais tarde, mas apenas não tinha condições. Apertava o volante como se quisesse esfarelá-lo entre seus dedos, e sentia o gosto de sangue na boca, provavelmente por ter mordido forte demais. Seus olhos ardiam, e ele não se surpreenderia se lágrimas quentes de asco começassem a escorrer. Daria tudo para apagar de suas lembranças a imagem doentia do rosto suplicante da Hyuuga, a maneira que seu corpo se curvava, abraçando a si mesmo, os cortes, as feridas. Deus, o que estava acontecendo?

Não soube como chegou em casa, ou quantos sinais vermelhos tinha ultrapassado até virar a esquina do prédio em que morava. Entrou no estacionamento subterrâneo, parando na última vaga, e se atrapalhou ao procurar suas chaves. Subiu pelas escadas – não teria paciência para o elevador. Chegou no apartamento, e a luz solar das duas da tarde incomodou seus olhos. Largou a carteira e o celular sobre a bancada, caminhando de um lado a outro, extravasando a raiva pelos pés, e provavelmente estressando o vizinho de baixo. Olhou em volta, encarando os móveis novos e bem distribuídos, e como pareciam deslocados. Em um acesso repentino, puxou um enfeito de vidro e jogou contra a parede, vendo os estilhaços voarem por diversas direções.

Grunhiu, alto, embrenhando a mão entre os fios e puxando-os com força, aumentando sua já eminente dor de cabeça. Era como se quanto mais fúria tentava dispersar, mais surgia. O pequeno diálogo – monólogo – no almoxarifado ainda o perturbava. Desferia uma série de palavrões quando, de repente, a porta foi aberta de supetão.

Fitou-os, exasperado, perguntando-se porquê não tinha passado a chave, enquanto o casal que invadia sua casa encarava a cena descrentes. Naruto, em posição defensiva, xingou internamente, enquanto Sakura parecia a beira de uma síncope, e Sasuke o encarava de volta, com a testa vincada verdadeiramente preocupada.

— Mas que merda está acontecendo aqui? – a rosada não se conteve, deixando a bolsa sobre a bancada e gesticulando furiosamente. Seu rosto chegava a ser cômico, com uma careta inconformada. O Uchiha entrou e fechou a porta, olhando do chão para Naruto repetidas vezes.

— O quê? O que vocês estão fazendo aqui? – retrucou, nervoso, mas a Haruno não se intimidou, falando sozinha.

— Sakura disse que você estava estranho e deixou tudo mundo para vir aqui. Eu a acompanhei para evitar um possível massacre. – o loiro não acreditava que Sasuke desenvolvera aquele tipo de humor, e o fuzilou, incrédulo.

— Eu disse que nós conversávamos depois. – o Uzumaki sibilou para Sakura, que não se intimidou, bufando em sua direção.

— Você estava superestranho no telefone, fiquei preocupada. E com razão! – frisou, estridente – Olha isso, você vai acabar se cortando. O que aconteceu? – arregaçou as mangas longas da blusa de tecido brilhante que usava, e, mesmo com seu jeito, Naruto via um brilho inquieto em suas esmeraldas.

— Eu encontrei a Hinata quando fui pegar meus documentos. – desabafou, jogando-se no sofá e apoiando a cabeça sobre as mãos, escondendo-a.

— Ah, Naruto. – Sakura respondeu prontamente, debochada – Por favor, você está tendo um ataque de birra por ter encontrado a Hinata? Você está um pouco velho para isso. – comentou, cruzando os braços, sem ver o olhar alarmante que Sasuke lhe dirigia. Ainda assim, capturou o olhar profundo que Naruto lhe deu ao erguer subitamente a cabeça. Ela se calou, assustada com a intensidade.

— Ela estava com o olho inchado, Sakura. – sua voz soou gélida, mais do que pretendia. Como facas, atingiram a garota, deixando-a atônita e sem fala – Hematomas, toda roxa. Você sabia, Sakura? Hinata apanhou.

Dizer, daquela maneira, em voz alta, tornava tudo dolorosamente mais real. Naruto não sentiu prazer em ver o rosto dos amigos se converterem em máscaras iguais a dele – descrença, incredulidade, dor. Eles eram pessoas que o entendiam, em sua plenitude, porque sabiam exatamente o que era aquele sentimento se apoderando deles. O que eram as memórias, o que eram os laços que criaram. O loiro se sentiu culpado por ter dito, no momento em que Sakura ameaçou desabar, levando uma das mãos a boca, arfante. A cor havia sumido de seu rosto, e ela precisou apoiar em um dos banquinhos.

— Isso... isso é verdade? – Sasuke perguntou, com a voz trêmula e os olhos sérios. Naruto assentiu, mudo, e ele tornou o rosto, transtornado. O Uzumaki sabia, se lembrava, de como os amigos gostavam de Hinata tanto quanto ele o fazia. Não era algo fácil de se ouvir.

— Eu... eu... – Sakura gaguejou, paralisada. Sasuke se moveu até ela, apoiando-a pelos ombros. Ela parecia culpada, arrependida, e mais alguns sentimentos que ele não soube identificar.

— Eu sei. – Naruto sussurrou, aceitando seu pedido de desculpas silencioso – Ninguém poderia imaginar.

— Ele era sempre tão gentil. Tão educado. – a rosada murmurou, tão baixo que pareceu como um pensamento perdido. Naruto desviou os olhos, sacudindo a cabeça – Controlar, mandar nela, mas b-bater... – sua voz se esvaiu, deixando a frase morrer no ar. Naruto apertou as mãos com força – Por quê? – era uma pergunta implícita.

— Nós nunca conseguiríamos dizer os motivos dela, ou arrumar uma explicação. – foi Sasuke quem respondeu, sombrio, e Naruto olhou para o amigo, sabendo que devia estar sendo particularmente duro para ele também.

— Mas nós precisamos ajudá-la! – Sakura exclamou, retomando a voz, embora seu rosto ainda estivesse vermelho e as mãos, trêmulas – Naruto, nós precisamos ajudá-la!

— Ela sequer me aceita no mesmo ambiente que ela! – o loiro replicou, quase gritando, por impulso, mas, em seguida, respirou fundo, baixando o tom de voz – Hinata me odeia. Como eu vou conseguir ajudar ela desse jeito?

— Ela não te odeia. – a Haruno teimou, quase irritantemente – Você não viu o estado em que ela ficou quando você foi embora. Eu tenho certeza que um sentimento como aquele não desaparece, nem mesmo com o tempo. – Naruto sentiu que merecia aquela. Uma chama, pequena, de esperança se acendeu em seu peito, mas ele procurou não alimentá-la – Eu vou fazer alguma coisa, nem que precise bater nela também. – firmou, e, pela primeira vez, Naruto sentiu vontade de rir, porque Sakura não saberia bater em alguém nem que sua vida dependesse disso. Sasuke também tossiu disfarçadamente, e o clima se tornou menos pesado.

Naruto se levantou, passando por Sakura e beijando o alto de sua cabeça, indo para a lavanderia pegar uma pá e a vassoura. Voltou, e os amigos tinham se sentado, conversando possíveis abordagens. Aquele era um assunto delicado, e, sobretudo, difícil de se lidar. Não queria deixar que a amiga continuasse naquele relacionamento, mas não podiam simplesmente chegar dando ordens e se metendo em sua vida – até porque há muito não se falavam.

— Não adianta nós querermos nos meter se ela não quiser ser ajudada. – Sakura comentou, já recuperada, abraçando uma almofada. Naruto se ajoelhou, tomando cuidado ao juntar os cacos.

— Não sei se é o tipo de coisa que pedimos permissão. – comentou – Sinceramente, não sei de mais nada. Parte de mim quer ajudar ela, salvar ela – respirou fundo – mas eu não posso insistir em algo que vai machucar nós dois. – era difícil ser tão sincero, e os amigos o fitaram, compadecidos.

— Hinata é orgulhosa demais para qualquer coisa. – foi Sasuke quem opinou – Ela pode não perceber que está em um relacionamento abusivo. Pior, ela pode querer estar nele.

— Querer apanhar?! – Naruto rebateu, rápido, virando-se, mas Sasuke sequer piscou.

— Nós já tivemos essa conversa antes, Dobe, você sabe disso. As motivações dela são diferentes, desesperadas. – o loiro se calou, novamente culpado.

De uma maneira ou outra, a culpa sempre recaía sob seus ombros, intencional ou não-intencionalmente. Seu peito se apertava excruciante, aceitando a responsabilidade pelas atitudes do passado. Ficou fora por quatro anos, mas, de algum modo, o efeito borboleta parecia ainda mais atroz no presente. Tudo que ele fizera e dissera agora se voltava para ele, do jeito mais cruel que poderia ser – colocando contra si a única pessoa que um dia amou, e ama, tão dolorosamente.

— Nunca tinha ficado com tanta raiva antes. – Naruto confessou, enquanto se levantava com os cacos reunidos – Imaginar que alguém pudesse bater em uma mulher... bater em Hinata... – fechou os olhos com força, com o estômago revirando novamente. Sentiu uma mão em seu ombro, e fitou Sakura, que o encarava, complacente. Ele sorriu, mínimo – Se eu pudesse fazê-la me ouvir, eu sei que ela ainda me ama também! – não queria que soasse como se estivesse tentando se convencer. Em seu âmago, sabia que era verdade. A maneira que reagiam quando estavam próximos era inegável. Como se nada tivesse mudado, afinal.

— Ela não escutou a nenhum de nós. Quando começou a se afastar, e parou de usar suas roupas, e cortou o cabelo. – Sakura sorriu tristemente – Ela era minha melhor amiga, sabe. – Naruto sentia a garganta fechada, fitando os próprios pés, como um covarde – Eu não consigo vê-la afundar dessa maneira. Se existe alguém que pode fazer alguma coisa, é você, Naruto. Por favor. – as esmeraldas o encaravam marejadas, e o aperto se tornou firme. Mesmo que quisesse, o Uzumaki não poderia negar.

Não disseram nenhuma palavra por um bom tempo. A atmosfera estava densa, imersos em pensamentos e suas próprias mágoas. A tarde passou lentamente, morosa, como se ela mesma não tivesse interesse em seguir em frente. O clima estava quente e seco, tão diferente dos últimos dias, e, mesmo com as cortinas fechadas, os raios entravam pelas frestas, iluminando o mesmo apartamento. Naruto preparou um almoço tardio quando sentiu que seu estômago seria capaz de ingerir comida sem nausear, e falou sobre assuntos aleatórios – todos que distraíssem sua mente –. Os amigos concordaram em não dizer nada aos demais, por enquanto, apesar de que nada poderiam fazer caso esbarrassem com Hinata no campus. Temiam causar uma reação em massa – apesar de Naruto ter tido uma capacidade extraordinária de controlar a si mesmo, não poderiam garantir o mesmo de Gaara, por exemplo, que gostava da garota tanto quanto os outros.

Apesar do diálogo franco e dramático, Naruto ainda sentia-se perdido. As frases motivacionais tinham sido reconfortantes, mas não estavam falando sobre um acontecimento fortuito – era uma agressão. Movido por seu lado emocional, não pensaria duas vezes em socar o Inuzuka, ou até mesmo fazer uma denúncia. Todavia, nenhuma das duas soluções trariam resultado. A situação poderia se voltar para ele, e, até que conversasse com Hinata – ou tentasse – e conhecesse seus pretextos, uma queixa de nada adiantaria se não fosse feita pela vítima. De mãos atadas, o garoto odiava aquele sentimento de insuficiência.

Sakura e Sasuke foram embora juntos ao entardecer – Naruto sequer se importou em perguntar porque estavam tão juntos –, deixando o Uzumaki sozinho. Tentou se ocupar lavando a louça, limpando o balcão e a estante, tomando um banho demorado e organizando o restante das roupas no armário. Ainda assim, quando terminou todas as tarefas que não precisava fazer, não passava das sete horas.

Ele não gostava da noite. Sempre preferiu o dia – o sol, o resplandecente, o calor. Quando mais novo, sua mãe lhe contava que costumava ficar acordado por toda a madrugada, com medo de dormir. Mesmo depois de crescido, ainda não gostava da escuridão, ainda que Konoha, onde passou grande parte da sua infância, fosse bastante iluminada. De maneira irônica, ela amava as noites. Quando começaram a namorar, costumavam sair durante esse horário, para ficarem admirando o céu e as estrelas. Naruto gostava da maneira que ela apontava e explicava, infindavelmente, histórias sobre o universo e sobre os astros, disposto a ignorar seu desconforto apenas para ficarem juntos. Não deixava de pensar, agora, sozinho em seu sofá, que o destino fazia questão de deixar claro como eram diferentes – e como se completavam tão bem.

Talvez ele nunca fosse capaz de explicar porque foi embora. Não saberia esclarecer a maior parte das decisões que tomava, mas era assim que era. A impulsividade sempre fora seu forte, para bem, e para mal. Quando o presságio de aperto se fazia presente, quando sentia-se perdido, como naquele momento, havia uma coisa a se fazer. Caminhou até seu quarto, apagando as luzes quando passou, e, na mesa de cabeceira, puxou um pesado livro. Acendeu o abajur, sentando-se com as pernas cruzadas, e começou a folhear do começo. A medida que passava os olhos pelas páginas, seu coração se acalmava, e conseguia abrir um sorriso – conhecia aquelas telas como a palma de sua mão, mas as cores iluminavam até mesmo o ambiente mais escuro.

Naruto tinha partido, sim – mas uma vida de arrependimentos não combinava com ele.

Adormeceu naquela posição, meio sentado, meio deitado, com o abajur ligado. Não teve sonhos, apenas um torcicolo, e despertou muito antes do alarme, com os primeiros raios solares entrando pela janela aberta.

Quando sentiu suas juntas estalarem, Naruto resmungou, ponderando se o dia anterior tinha sido apenas um sonho muito realista. O livro de obras escorregava entre suas pernas, o abajur continuava ligado e a cama estava bagunçada. Mais que isso, apesar de sua mente estar confusa pela manhã, ele se lembrou de todas as imagens e os diálogos. Com um suspiro, afastou todas as tralhas de cima de seu corpo, esfregando os olhos. Não sabia que horas eram, nem quanto tempo tinha dormido, mas seu pescoço doía como o diabo, e a claridade ainda era morna. Sem pegar o celular, caminhou direto para o banheiro, esvaziando a bexiga e escovando os dentes. Demorou alguns segundos para decidir que tomava outro banho, mas, como sempre, acabou debaixo da ducha quente. A água ajudou a relaxar seus músculos sensíveis. Saiu, deixando as roupas do dia anterior no cesto – se pudesse, as queimaria, para se livrar daquela energia ruim.

No armário, encarou as camisetas devidamente penduradas e as calças que pareciam todas iguais. O clima estava quente, mesmo nas primeiras horas do dia, e ele puxou uma sarja. Pegou uma camisa qualquer, sem se importar em combiná-las – até mesmo riu sozinho pensando no sermão que dona Kushina lhe daria se visse aquele show de horrores.

O cabelo molhado pingou em seu ombro, e, distraído, procurou pelo celular no meio das cobertas. Guardou seu livro na cômoda, enquanto desbloqueava as mensagens. Algumas dos amigos, notificações das redes sociais e de blogs que seguia. Bloqueou, sem paciência, e deixou para ver depois. Com a cabeça fresca, ficava mais fácil de pensar, planejar seus próximos passos. Parte de si queria agir impulsivamente, mas aquela seria a abordagem fadada ao fracasso – ele precisava ser calmo, e aguentar todas as acusações que sabia que viriam – e que ele merecia cada uma delas –.

Saiu do quarto, abrindo as cortinas da sala. Olhou o relógio da parede da cozinha – mal seis e meia. Com outro suspiro, apoiou contra a bancada pensando se deveria fazer um café forte ou não. Havia uma confeitaria muito bem falada na esquina do quarteirão, mas estava com preguiça o suficiente para considerar sua própria comida. Em um longo debate interno, optou por colocar a cafeteira para funcionar. Era estranho que o único barulho daquele apartamento fosse do eletrodoméstico. Quando pensava nos anos que passou com os pais, viajando, morando com eles, não conseguia sentir nada além de saudade. Tão diferente quando pensava no outro lado – na vida que deixou para trás. Os dois lados da mesma moeda, mas por que um machucava tanto mais que o outro?

A cafeteira apitou. Naruto deu a volta no balcão, pegando a caneca quente e provando. Fez uma careta – forte e amargo, perfeito para a alma. Separou uma xícara e procurou no armário se tinha pão ou cereal. Nenhum dos dois. Anotou mentalmente uma lista rápida de compras de emergência para depois da aula, e pegou sua mochila. Revisou se tinha todos os cadernos e os materiais auxiliares. Tinha aula prática – estava ansioso para usar seu avental novo.

Tomou duas xícaras de café quente, mordiscou duas bolachas murchas que encontrou perdidas e enrolou no sofá. Quando acabou, ainda eram sete horas, e ele não conseguia mais enrolar. Fosse a cafeína ou sua ansiedade, decidiu sair para a faculdade naquele momento. Pegou a chave do carro e suas coisas. Encontrou dois vizinhos no elevador, falou sobre o tempo e agradeceu as ofertas de ajuda com a mudança. Ficou feliz em saber que o prédio ainda era frequentado por boas pessoas. Ligou a estação de rádio local, ouvindo notícias despreocupadas e, decidiu, em um momento de tranquilidade, que esperaria por Hinata nem que fosse plantado na frente da sala. Conversaria com ele por um, cinco, dez minutos – o quanto ela permitisse. Não sabia o que iria dizer, o que iria fazer, visto que se transformava em um verdadeiro idiota quando estava perto dela. Mas iria fazê-lo.

A rodovia estava praticamente vazia, e o céu se abria conforme avançava para fora da cidade. Em velocidade constante, demorava menos de dez minutos para chegar à UK. Encontrou um bom lugar para estacionar ficou um pouco parado, meditando – tinha acordado bem-humorado, como no dia anterior, e, por isso, sentia medo. Saiu, comprimindo os olhos contra a luz, carregando a bolsa e seus pertences. Considerou que o melhor lugar para esperar era no hall principal, o único caminho para as salas de Administração, e onde tinha uma boa visão de quem chegava. Quando visse Hinata, não poderia hesitar, o mínimo que fosse – precisava abordá-la antes que fugisse.

A sorte estava do seu lado. Não precisou olhar o relógio, mas não esperou muito até ver o ônibus parar na frente da universidade, onde poucos alunos desceram. Aquela era a primeira linha, e a maioria chegava no próximo horário. Mas Naruto a viu – ele sempre a veria. O cabelo preso para trás, vestida de preto, da cabeça aos pés. Céus, ela estava tão linda! A cor escura ressaltava a pele de seu pescoço, branco. Usava uma jaqueta com muitas tiras, e uma saia que refletia – o garoto jamais poderia imaginar Hinata usando uma peça de roupa daquele tamanho, mas não podia negar que suas coxas expostas eram, de fato, monumentais. A bolsa velha do lado e a cara amarrada, afastando possíveis simpáticos. Ela andava com os olhos erguidos, imponente, e Naruto sequer sentia coragem suficiente para se aproximar. Sua aura, mesmo de longe, parecia repeli-lo.

Não era hora de recuar. Desceu os poucos degraus em passos largos, correndo em direção da garota. Ninguém olhou para ele ou ficou em seu caminho. O estacionamento, embora largo, parecia diminuir conforme ele corria.

— Hinata! – gritou, e, como esperado, a garota parou, fitando-o surpresa e assustada. Durou poucos segundos. Seu rosto mudou, endurecendo, e ela fez menção de ir para outro lado. Naruto foi mais rápido – Hinata, espere!

A alcançou sem demora e, por reflexo, segurou seu pulso. Não parou para pensar que estava tão perto que conseguia sentir seu perfume. Esse continuava igual. Pedindo aos céus por todo o autocontrole que poderia ter, afrouxou o aperto o suficiente para ela se desvencilhar, se quisesse. Hinata estava de lado, parecendo querer fugir e rosnar ao mesmo tempo – tudo nela gritava agressividade. Naruto não se intimidou. Estava sendo movido pelo toque em sua mão, como ainda se encaixa, como anos atrás. Hinata não se afastou, embora mantivesse a defensiva. O Uzumaki também conseguia ver seu rosto, e, pela manhã, a maquiagem estava quase imperfeita. Se não fosse pela saliência nas pálpebras, jamais diria que havia ali um hematoma. Esse pensamento lhe deu força, e ele manteve-se firme também.

— Eu quero conversar com você. Alguns minutos. Por favor. – tentou soar calmo e gentil – Eu vou insistir até você concordar. – completou, vendo-a ponderar. Ela não parecia querer discutir, tampouco aceitar, mas, com as sobrancelhas franzidas, se soltou e começou a andar na frente. Não corria para se livrar, e não tinha negado. Satisfeito, a seguiu.

Seus passos eram duros, e Naruto quase riu – aquele era o dèjavu perfeito, onde Hinata saia irritada por algum motivo, e ele a seguia, alegre. Ela fez o mesmo caminho que no dia da visita, contornando o hall e seguindo pela lateral rumo aos jardins nos fundos do prédio. Havia poucas pessoas, de qualquer maneira, mas ele não questionou. Já era uma conquista tê-la convencido, e agora vinha a segunda fase do plano – que ele ainda não tinha.

Pararam perto das árvores, ela, encostada na parede, e ele na sua frente, com as mãos nos bolsos. Hinata parecia inquieta, e não o olhava nos olhos. Retorcia os dedos, como se quisesse fazer algo com eles. Naruto resolveu não abusar da sorte.

— Não vou tomar muito do seu tempo. – começou, neutro, e Hinata o encarou, finalmente, com os olhos marcados com delineador. Ser encarado por aquelas pérolas ainda fazia Naruto tremer.

— O que você quer? – parecia querer soar ríspida, mas Naruto a conhecia bem demais. Sua voz estava instável.

— Falar sobre isso. – sério, estendeu o dedo, apontando para seu rosto. Ela mordeu o lábio, desviando, sabendo do que ele se referia. O cabelo escorreu, cobrindo seu lado esquerdo.

— Não existe nada para falar. Me deixe em paz. – retrucou, arrancando da parede com menção de passar, mas Naruto, novamente, a segurou pelo braço, a parando.

Lado a lado, suas respirações se misturavam, entrecortadas. Ele conseguia ver as pequenas manchas em seu rosto, a maneira que seus olhos estremeciam e que seus ombros se mexiam por baixo da jaqueta. A diferença de altura não era tão evidente, mas, perto de seu corpo, Naruto apenas conseguia pensar em como queria protegê-la dentro de seus braços.

— Eu não vou aceitar que isso continue. – murmurou para que ela escutasse, deixando que a raiva transpassasse.

— Você não tem que aceitar nada. – como um animal bruto, livrou-se do toque, parecendo afetada. Mas não foi embora – Meu relacionamento não é da sua conta. Minha vida não é da sua conta, desde que você saiu dela. – ok, Naruto sabia que merecia aquilo. Hinata falava com uma mágoa cortante, como se quisesse, de fato, feri-lo. O loiro se lembrou das palavras de Sakura, e engoliu em seco. A garota recuou, apoiando os ombros na parede, como se estivesse subitamente cansada demais.

— Hinata, eu não vou deixar que você fique em um relacionamento com um cara que te agride! – sentiu que estava perdendo a cabeça, e tentou se controlar. Acusá-la não ajudaria em nada. Em outros tempos, Naruto conseguiria ler aqueles olhos tempestuosos, mas, naquele momento, era apenas um fitar conflituoso.

— E agora eu preciso da sua permissão? – as respostas eram rápidas e afiadas – Não fale sobre o que você não sabe! Deixe Kiba fora disso, deixe meu relacionamento fora disso, quer saber, Naruto, me deixe fora disso também! Eu não ligo para o que você acha, você não tem o direito de me perseguir e ficar opinando em assuntos que você não sabe! – Hinata não estava mais falando baixo, e apontou em seu ombro com furor.

— Hinata, ele te agrediu! – cuspiu a palavra de volta – Não existe uma explicação para isso! Não existe um contexto, um motivo, isso é uma atitude deplorável e pronto! Como você pode defender um monstro, um animal, um-

— PARA DE FALAR ASSIM DELE! – Hinata o interrompeu, gritando, jogando seu peso em um empurrão. Desprevenido, Naruto desequilibrou-se, indo para trás. Encarou a garota com descrença, vendo sua face convertida em cólera e angústia – Não fala assim dele! Você não conhece nada sobre ele, não conhece! – bateu contra seu peito, com força, novamente, mas, dessa vez, Naruto esperava, e segurou suas duas mãos com facilidade – Me larga!

— Por que você continua mentindo? – o Uzumaki respondeu no mesmo tom, agradecendo por estarem afastados. Olhava para baixo, tentando distinguir algo daquele rosto – Esse cara só está te fazendo mal! Ele te controla, te prende, te bate! – seu tom mudou para indignação, enquanto ainda segurava a garota – Ele só te machuca!

— Ele nunca vai me machucar mais que você!

Naruto queria que aquelas palavras não doessem tanto. Ele queria olhar para Hinata e não ver seus olhos marejados, furiosos. Ela se debatendo em seu aperto, porque o toque entre eles era lesivo. Mas era impossível ser de outra maneira – havia muito rancor. Era justo, sim. Mas era imenso. Ele sabia que ela não conseguiria perdoá-lo. Mas, apesar de tudo, apesar das ofensas, das acusações, dos xingamentos, o que mais doía era vê-la defender aquele canalha tão ferozmente. Protegê-lo, como se ele fosse digno de qualquer outro sentimento que não fosse repulsa. Não era ciúmes – Naruto só não conseguia aceitar que ela defendesse um indivíduo tão asqueroso.

Não era ciúmes. Era?

Ver Hinata defender outro cara que não fosse ele o machucava? Fazia seu peito pesar, e sua visão enturvecer? Por que o incomodava tanto que o nome dele escorresse com tanto carinho por sua boca, enquanto o dele era atirado como espinhos que machucavam? Aquilo era justo? Depois de tudo, tudo.

Não. Naruto sabia da verdade. Ele via, exatamente como si mesmo, a inquietação em sua fisionomia. Como ela evitava encará-lo, ou tocá-lo, ou respirar fundo perto dele. Como seu corpo reagia em contato, como cada lembrança a atacava sem trégua, porque ali estavam as provas inegáveis. Não importava quantas vezes eles fossem capazes de negar – não conseguiriam esconder a realidade.

O Uzumaki sorriu, quase presunçoso. Suas mãos soltaram os pulsos de Hinata, demorando apenas o instante necessário para que substituísse em sua cintura. Foi um ápice, quando a garota se desequilibrou, repentinamente assustada, e tombou. Naruto não perdeu tempo – não tinha mais o que esperar. E, se pudesse contar, depois, o que tinha acontecido naquele momento, ele diria que bastou um milésimo para que Hinata percebesse o que ele estava prestes a fazer, e, nesse mesmo milésimo, ela resolvesse não se soltar. Bastou um átimo, e estava tudo perdido. As brigas, os gritos, as queixas, as cicatrizes abertas.

Nada mais importava.

Quando ele se inclinou para beijar Hinata, e seus lábios encontraram-se, mais uma vez, unidos, Naruto soube que estava exatamente onde deveria estar.


Notas Finais




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