História Hey, Noona? (Imagine Jeon Jungkook) - Sua falta.

— O que aconteceu, cara? – Jimin perguntou assim que me viu olhando para a carta.

— Entra – falei ainda encarando a letra da noona, tentando processar tudo aquilo.

Entramos em casa e então entreguei a carta para Jimin, que sentou no sofá para ler.

Peguei um pacote de salgadinho e me sentei ao seu lado.

— Ela tá se sentindo realmente mal – Jimin suspirou, dobrando a carta e colocando-a no braço do sofá.

— Mas por que ela não falou isso antes?

— Acho que ela não sabia disso antes da carta...

— Que carta?

— Taehyung mandou uma carta e assim que ela terminou de ler começou a guardar suas coisas, quebrou o celular e disse que ia passar um tempo longe de vocês.

— O que será que ele escreveu pra ela ficar desse jeito?

— Não sei mas pelo jeito fez ela pensar muito e entender seus erros também.

— Mas ela podia ter conversado comigo, podia ter ajudado...

— Acho que ela precisava ficar sozinha – sorriu fraco — Não sei se ela chegaria nessa conclusão acompanhada de alguém.

— Talvez você tenha razão.

Respirei e olhei pra ele.

— Mas o que ela quer que eu faça com isso?

— Ela quer que você siga em frente, Kook.

— E como eu vou fazer isso sabendo que ela me ama? Você viu o que ela escreveu... Eu esperei oito anos pra ouvir essa merda e agora eu faço o que com isso? Finjo que nunca li isso e sigo minha vida?

— Talvez seja a melhor opção.

— A menina que amei a vida inteira finalmente diz que eu não amei sozinho e me manda arranjar uma namorada? Essa mulher quer me deixar maluco, só pode.

— Não, não é isso que ela quer – Jimin colocou a mão em meu ombro — Ela quer que você a deixe pra trás, como se ela fosse apenas uma fase da sua vida. Ela te ama mas acha que não te merece e se culpa por ter te deixado esperando por algo que não poderia cumprir.

Suspirei e peguei a carta.

— O que você quer que eu faça afinal? – sussurrei olhando para o pequeno papel.

[...]

Jimin foi embora e eu comecei a caminhar até a casa de Yoongi mas não conseguia parar de pensar no que Taehyung teria escrito na carta que mandou para ______.

Eu não acredito que vou fazer isso.

Se tem alguém mais otário que eu, desconheço.

— Quem é? – disse assim que atendeu.

— Jungkook – suspirei desacreditado, eu realmente liguei pra esse cara...

— O que você quer?

— _____ mandou uma carta pra você também, não mandou?

— Te importa?

— No momento sim, me importa.

— Mandou, por que?

— Jimin contou que ela foi embora depois que leu a carta que você enviou.

— Sério?

— Sim – chutei uma pedrinha — Poderia me contar o que você escreveu?

— Falei sobre você.

— Como assim? – perguntei surpreso.

— Sempre tive a certeza de que nosso relacionamento estava abalado por sua causa, então decidi mandar essa carta e perguntar pra ela diretamente... O fato de ela ter fugido sem me responder já confirmou o que eu esperava.

— Sinto muito.

— Não sinta, eu que fui burro – suspirou — Sabia que não teria chance contra você.

— Sempre pensei exatamente ao contrário – ri sem graça — Quando vocês ficaram juntos ficou claro que eu não tinha chance alguma com ela. Você é o cara descolado, anda de modo, tem presença e é popular.

— Isso nunca significou nada pra ela...

Taehyung ficou em silêncio por alguns segundos e então voltou a falar.

— Ela falava de você sempre, sobre seu jeito, sobre sua risada e sobre a saudade que tinha de passar as tardes com seus “irmãos”. Sempre foi sobre você, Jungkook.

— Por que ela nunca me contou?

— Provavelmente porque nunca tinha notado isso – senti sua respiração pesar na ligação — Fui idiota em achar que poderia substituir a sua presença na vida dela. Os sentimentos que desenvolveu por você vão seguir com ela pro resto da vida, e eles seriam um fantasma me perseguindo por toda a minha existência ao seu lado, eu nunca seria seu maior amor, nunca!

Fiquei em silêncio pois não sabia o que falar para Taehyung. Senti em cada uma de suas palavras o peso que eu representava em sua vida, atrapalhei todos seus planos sem ao menos saber disso.

— Olha, Jeon, a gente não se deu bem desde o começo e acho difícil que se dê bem algum dia – confessou — Então só te peço que faça o que quiser, fique com ela e tudo mais, mas por favor, não faça isso na minha frente.

— Não faria isso nunca – suspirei — Eu sei como é amar alguém.

— É a pior coisa do mundo – senti a dor em sua voz e então um breve silêncio novamente— Tchau, Jeon.

— Tchau, Kim.

Yoongi P.O.V

Estava sentado em meu escritório com os pés apoiados na mesa enquanto Hoseok estava em uma poltrona do outro lado da sala, fumando enquanto balançava um copo de vinho com a outra mão.

— Eu nunca achei que ele apareceria de novo – falei referindo-me à Namjoon.

— Ainda mais com esse papinho ridículo como se ele fosse um grande protetor do Jungkook, qual é, ele nem conhece o moleque.

— Provavelmente Taehyung deve ter falado alguma coisa e ele comprou a briga.

— Ele que se foda – Hobi respondeu bravo — Foi um amigo de merda e quer agir como se tivesse sido o injustiçado da história.

— Na cabeça dele foi isso que aconteceu – suspirei.

— Se ele tivesse confiado mais no próprio melhor amigo nada disso teria acontecido.

— As condições não eram favoráveis pra mim.

— Ele te pegou com a menina porque ela planejou essa bosta – assoprou a fumaça — Se ele tivesse perguntado pra você ao invés de aceitar a versão daquela imbecil, teria sido muito diferente.

— Ele preferiu acreditar na namorada... normal.

— Normal onde? Vocês se conheciam há anos, ele tinha que ao menos ter escutado sua versão.

— Já foi, Hobi.

— Já foi o caralho, eu não vou deixar aquele filho da puta falar sobre algo que ele nem ao menos sabe a verdade.

Hoseok levantou e pressionou seu cigarro no cinzeiro, logo vindo em minha direção.

— Espero que esse desgraçado apareça longe da faculdade da próxima vez, ele só saiu de boa porque Jungkook me segurou.

— Não precisa me defender – sorri — Dessa vez ele me pegou desprevenido mas na próxima eu mesmo faço questão de resolver.

— Sabe que pode contar comigo.

— Sempre contei – sorri.

Hoseok se tornou meu melhor amigo assim que briguei com Namjoon.

Ele que me ajudou em momentos como o de hoje onde me senti fraco ou inseguro. Me ajudou a entender como a vida funcionava e que nem tudo eram flores como achei que eram.

Hoseok me ajudou a entender quem eu era e quem eu queria me tornar.

Com ele entendi o que era ter um amigo de verdade.

E foi por causa dele que decidi manter uma amizade com Jungkook também.

Jeon me lembrava de uma fase diferente da minha vida, onde eu acreditava mais nas pessoas e em seu amor por mim. Onde eu queria ser o cara legal e queria ser aceito por todos ao meu redor.

Ele me trazia a sensação da inocência que eu tinha, do amor incondicional por alguém, da vontade de lutar por alguém além de si mesmo.

Jungkook queria ser mais como eu.

E eu queria ser mais como ele.

[...]

Estava bebendo com Hoseok na sala enquanto esperávamos Jeon chegar, então recebi uma ligação anônima no celular.

— Quem é? – perguntei rapidamente assim que atendi.

— ______.

— Jungkook não está.

— Eu quero falar com você mesmo, Yoongi.

— E por que eu falaria com você? – perguntei curioso.

— Porque eu preciso da sua ajuda.

— Engraçado – ri irônico — Eu não era o demônio que iria destruir a vida do pequeno e frágil Jungkook? Por que estaria precisando da ajuda de alguém como eu?

— Não faça drama, Min – respirou fundo — Preciso conversar com você, pode ser?

— Na minha casa?

— Não, não quero ver o Jungkook antes de falar com você.

— Tem um bar perto da minha casa, acho que deve conhecer.

— Ótimo, te encontro lá em quinze minutos.

— Estarei lá – desliguei e olhei surpreso para Hoseok.

— Quem era? – ele perguntou.

— A noona do Jeon – coloquei o celular no bolso — Disse que precisa conversar comigo.

— E você vai mesmo?

— Estou indo por sinal – sorri fraco — Jungkook tem sido um bom amigo, tá na hora de fazer minha parte também.

Coloquei uma jaqueta, peguei a chave de meu carro e então fui ao encontro de _______.

Depois de alguns minutos a vi descer de sua moto e então saí de meu carro, entrando no bar praticamente ao seu lado.

Entramos em silêncio e fomos até uma mesa de dois lugares que ficava bem próxima ao balcão.

— Você bebe? – perguntei.

— Às vezes.

— Moço – chamei o garçom — Duas piñas coladas, por favor.

Ele anotou o pedido e logo entregou para o bartender.

— Gostaria de saber o motivo do seu chamado – falei enquanto observava o homem preparar nossos drinks.

— Jungkook deve ter comentado do meu sumiço.

— É, pode ter falado – me fiz de desentendido.

— Assim como você deve saber que eu terminei meu noivado com o Taehyung.

— Olha, essa novidade eu não estava sabendo não – sorri sem graça — E por que?

— Não poderia casar com ele sem saber o que sentia por Jungkook também, não seria justo.

— Vou ser bem sincero com você – suspirei — Eu te achei uma grande desgraçada desde o começo dessa história.

— Agradeço pela sinceridade – ela sorriu sem graça e abaixou a cabeça.

— Acho importante que você escute a opinião de alguém de fora da sua bolha – olhei em seus olhos — Taehyung engoliu muita coisa pra não te magoar, Jimin é seu irmão e no final das contas sempre vai passar a mão na sua cabeça e Jungkook é completamente cego de amores, então vamos ignorar a opinião dele por alguns instantes.

— Tem razão, então me fale sua opinião, Yoongi – disse pegando o copo que o garçom trazia em sua bandeja.

— Jungkook tentou mudar de personalidade por sua causa, tentou deixar de ser o cara legal que ele sempre foi para se tornar um grande otário igual seu ex.

— Achei que ele queria ser igual você.

— Também – sorri irônico — Talvez seu ex e eu sejamos mais parecidos do que pensávamos.

Peguei meu drink e dei um grande gole no mesmo.

— Mas não é esse o caso – suspirei — Você fez ele se sentir mal com sua própria personalidade, como se o errado fosse ele sendo que sempre foi você.

— Você seria um péssimo psicólogo – falou enquanto mexia com o pedaço de abacaxi na borda de seu copo.

— Sim, eu seria.

— Mas entendo seu ponto, Min. Eu realmente me senti mal quando percebi o quanto estava prejudicando a vida deles, por isso decidi me afastar para entender melhor meus próprios sentimentos.

— É o mínimo.

— Agora você já pode parar de ser tão estúpido.

— Foi mal, força do hábito.

— Reconheci meu erro com ambos e pedi desculpas também.

— Ainda quero saber o que eu tenho a ver com tudo isso...

— Eu pedi que Jungkook me esquecesse e queria que você o ajudasse no processo.

— Filha, eu não sou terapeuta e nem sou um grande entusiasta da hipnose, não posso te ajudar nessa.

— Eu quero que o incentive, Yoongi, quero que aponte defeitos ou algo do tipo. Faça ser mais fácil pra ele.

— Seria uma honra e tanto falar mal de você o dia todo, seria sensacional dedicar minha vida pra fazer a sua parecer miserável – sorri — Mas é uma missão masoquista.

— Por que?

— Jungkook é um cara muito legal até o assunto ser você, aí ele se torna a pior companhia do mundo. Ele não vai esquecer você e nem ao menos vai tentar fazer isso, e eu não vou ficar ouvindo elogios e chatices dele em sua defesa, nem fodendo.

— Você acha mesmo?

— Tenho certeza, ele é idiota o suficiente pra ignorar seu pedido mesmo sabendo que pode sofrer por isso.

— Eu não sei o que fazer.

— Não tem o que fazer – bebi mais um gole — Eu tenho tentado fazer ele mudar de ideia esses últimos tempos e o máximo que consegui foi um amigo ainda mais obcecado por sua amiga de infância.

— Eu não quero fazer ele sofrer.

— Você já fez isso antes – sorri fraco — E ele ainda te ama mesmo assim.

— Você acha que pedir pra me esquecer não vai adiantar nada?

— Claro que não.

Tenho certeza que ele vai continuar atrás dela como sempre.

Fazer exatamente ao contrário do que ela pediu é tão sua cara, Jeon.

­­­­­­­­­­­­­­­­­­_______  P.O.V

Depois de conversar com Yoongi por mais de uma hora e meia no bar nos despedimos e decidi passar em frente a minha casa, para dar uma olhada em Jimin e dizer que voltaria pra casa assim que criasse coragem de falar pessoalmente com Taehyung.

Subi em minha moto e fui à toda velocidade para casa, avistando um monte de balões presos nas grades da varanda de meu quarto.

— Não acredito nisso – sussurrei enquanto tirava meu capacete.

Coloquei o mesmo sobre o banco da moto e então caminhei até a porta de casa. Bati repetidas vezes mas Jimin parecia não estar em casa.

E agora, como que eu vou entrar?

Coloquei o pé no beiral da janela da sala que ficava bem embaixo do meu quarto e então pulei, segurando rapidamente na grade de ferro da varanda.

Com toda minha força me impulsionei para cima, conseguindo passar a perna por cima das barras.

— Nos filmes isso parece bem mais fácil – respirei fundo enquanto puxava a outra perna pra dentro.

Tinham diversos balões coloridos presos nas grades e pude notar que mais alguém havia entrado ali da mesma forma que eu por causa das pegadas na beira da varanda.

Abri a porta de vidro que dava entrada para meu quarto e então vi uma caixa grande e simples de papelão em cima da minha cama.

Me aproximei devagar e comecei a puxar as fitas adesivas que a fechavam.

Quando abri a caixa mais alguns balões saíram voando de dentro dela e então ficaram presos ao teto.

Sorri e voltei a mexer na caixa, sentindo algo gelado bem no fundo dela.

Puxei um pequeno baú de madeira que logo reconheci a quem pertencia.

Haviam dezenas de fotos dentro dele:

Fotos do dia em que levei Jungkook e Jimin ao parque de diversões, do dia que fizemos uma noite do pijama aqui em casa, dos carrinhos de controle remoto que os meninos brincavam tanto, do Jimin dormindo no meu colo enquanto assistíamos Shrek, de Jungkook brincando com uma joaninha que ele encontrou no quintal e também uma foto que reconheci como sendo dos nossos pés no dia em que assistimos “De Repente 30”, também conhecido como o dia em que beijei Jeon pela primeira vez.

Assim que tirei as fotos de dentro do baú encontrei uma outra foto que estava colada em um papel dobrado.

Conhecia bem aquela foto, Jungkook e eu usamos ela como papel de parede dos nossos celulares por mais de 5 anos. Nela eu estava de olhos fechados, sorrindo e fazendo um sinal de ‘’v’’ com os dedos e Jungkook estava abraçado comigo, segurando em minha cintura e me dando um beijo na bochecha.

Descolei a foto do papel e logo vi que havia algo escrito atrás dela.

“Eu não sei quando comecei a te amar mas também não sei como fazer isso parar”

Reconheci a antiga caligrafia de Jungkook e imaginei há quantos anos ele tinha escrito aquilo nessa foto.

— Você perdeu tanto tempo comigo, meu bem.

Peguei o papel e o desdobrei com calma, reconhecendo sua atual caligrafia dessa vez.

‘’Bom, a essa altura você já deve saber quem fez tudo isso, não é?

Eu deveria estar trabalhando nesse momento e Yoongi deve estar me odiando porque eu estou absurdamente atrasado.

Achei que esses balões chamariam sua atenção, afinal, nós sempre compramos vários deles quando íamos nos parques e você disse que os adorava.

Enfim, não consegui ficar em paz desde o momento em que li sua carta e sei que não trabalharia direito se não tirasse esses pensamentos de alguma forma, então decidi falá-los diretamente para a causadora deles.

Não sou um bom escritor e minha letra é um garrancho e tanto, mas decidi te mandar uma carta assim como fez comigo.

Você me aconselha a casar, namorar e conhecer outras pessoas, mas... Eu não sei fazer isso, noona.

Vivi minha vida toda na expectativa de que algum dia você me reconhecesse como um potencial namorado ou até mesmo, marido.

Mas então você voltou do intercâmbio e ficou noiva do Taehyung.

Mesmo com tudo contra mim eu sentia que valeria a pena.

Confesso, teve muitos momentos em que eu não queria te amar tanto.

Cheguei a rezar pra que levassem a dor do meu coração embora junto com o amor que senti por você todos esses anos.

Imaginei seu casamento, imaginei Taehyung no altar te esperando e então me imaginei no lugar dele. Te vi em minha mente, entrando com um vestido lindo e flores no seu cabelo. Imaginei Jimin te acompanhando até lá e quando me toquei que ele estaria te levando para outro me vi em prantos.

Eu chorei, chorei tanto que tive que me esconder pra que ninguém me visse naquele estado.

Yoongi teria me aconselhado a te deixar pra trás e falado que eu merecia mais do que isso.

Mas não existe ninguém melhor do que você, ______.

Eu queria seguir em frente, conhecer outro alguém e ser aquele que esperaria seu amor no altar, mas quando penso nisso, só imagino você.

Não consegui ignorar o fato de que você disse que me ama, não poderia ignorar sua carta desse jeito.

Eu também te amo, sempre amei.

Você me pediu para desistir de você, noona...

Mas acho que não sei o que essa palavra significa.”

Com lágrimas em meus olhos dobrei o papel novamente, segurei-o perto de meu coração e então sorri.

— Yoongi tinha razão – sussurrei.

Escutei um barulho no vidro e então vi uma pedrinha caída no chão.

Levantei e fui até a varanda, vendo um balão azul surgir de trás de uma árvore e então Jungkook apareceu segurando-o.

Sorri novamente e apertei a carta em minhas mãos, como se o sentisse ali.

— Ei, noona? – gritou e então sorriu — Senti sua falta.