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História Hierarquia (HIATOS) - Seja sincero! Parte 1


Escrita por: Mascaradak e girlseries

Capítulo 35 - Seja sincero! Parte 1


Fanfic / Fanfiction Hierarquia (HIATOS) - Seja sincero! Parte 1

Tudo estava pronto, até mesmo o que ela pensava que não estava, estava. Após mais de trinta minutos perdida em um sono conturbado por um pesadelo indecifrável, ela se via sentada na cama com sua nécessaire ao seu lado, sua carteira que continha seus documentos e algum dinheiro também sobre ela. Por uma enorme e não tão infeliz coincidência, uma mochila preta com um aspecto masculino estava posicionada sobre a poltrona bege não tão distante de sua cama, que era usada pelos visitantes que muitas vezes passavam horas sentados vigiando os pacientes. Mais tarde Lily foi descobrir que lá continha uma calça legging preta, que ainda estava com a etiqueta, o que “supostamente” indicava que a vestimenta era nova, uma blusa com mangas de musselina também com a etiqueta, um blazer preto que provavelmente era para o frio que estava fazendo fora do hospital, e no segundo bolço da mochila possuía uma pequena embalagem com uma calcinha e um sutiã, ambos brancos e em um estilo bastante confortável.

Assim que a viu, Lily teve certeza de quem era aquela mochila. Era a mesma que ela havia tropeçado na alça quando estava no banheiro, a mesma que já havia contido pertences masculinos e também um arma. Scorpius com certeza tinha vindo ao hospital em torno dos 30 minutos em que ela pegara no sono, e deixara os itens necessários para que ela se trocasse. Apanhou as vestimentas que estavam dentro da mochila e, olhando mais uma vez para cada peça com certa atenção, Lily respirou fundo e desatou os laços de sua camisola hospitalar.

Quando estava deslizando a blusa na altura do abdômen, uma batida na porta chama a atenção de Lily, que murmura um “entra", sabendo perfeitamente quem era. Não demorou muito e Scorpius adentrou ao quarto com um buquê de lírios brancos nas mãos. Lily estava de costas, portanto não o viu com os lírios, embora pensasse ter sentido o cheiro deles.

- Como você está? – ele perguntou a Lily com a voz rouca e ela, que agora estava penteando seus cabelos com um pente largo, se virou para olha-lo.

Seus olhos foram atraídos pelo ramalhete de lírios que ele segurava. Fazendo-a pensar por um instante que aquelas flores poderiam ser para ela. Scorpius ao notar o olhar de Lily, se prontificou a lhe estender o buquê.

- São para você, achei muito parecidas contigo. – disse ele abrindo um pequeno sorriso, que foi retribuído lentamente, conforme ela aceitava o buquê de suas mãos. O simples toque de seus dedos nos dele, foi o suficiente para uma sombra de calor subir por seu corpo.

- Obrigada. São lindos. – Lily abaixou o nariz e cheirou os lírios, aspirando aquele aroma lírico que era tão familiar para ela em sua infância.

- Fiquei sabendo que você teve um ataque de pânico. Como você está se sentindo agora? – Scorpius se aproximou e tocou o braço de Lily.

- Bem. Eu estou pronta para...sair daqui os médicos me liberaram. - Ela se afastou dele e colocou o buquê sobre a cama. Pegou o blazer que estava estendido sobre a mesma e o vestiu.

- Foi a minha mãe que comprou às roupas, ela espera que tenha gostado. E ela também pede desculpas pela noite de ontem.

- Eu adorei às roupas, são ótimas. Ela não precisa se desculpar, seus pais não me magoaram. Eles não disseram nada além do que eu não esteja acostumada a ouvir. – dizia Lily enquanto recolhia os itens que tinha utilizado para se arrumar.

Em momento algum tinha se sentido magoada com os pais de Scorpius, tinha se sentido triste por eles não a terem aceitado, porém já era esperado e não os culpava por isso.

- Então por que está agindo tão friamente comigo? Você só me responde o que lhe pergunto. Isso não é do seu feitio. – ele indagou Lily que agora segurava sua carteira e nécessaire em suas mãos.

Antes de responder ela negou com a cabeça e soltou uma risada seca e sem humor.

- Você ainda pergunta o motivo de eu estar agindo assim? Aqui não é o lugar certo para falarmos sobre isso. – ela o cortou antes que prosseguisse em um assunto que não era adequado para um ambiente hospitalar, muito menos para ela mesma.

- Eu vou matar aquele cara, pode ter certeza que os dias dele nesse plano estão contados. Dylan Thompson vai pagar caro pelo o que fez com você. – Scorpius esbravejou mais para ele do que para Lily.

- Você me assusta quando fala desse jeito. Ele está preso, Scorpius, a justiça vai se encarregar dele e lhe punir da forma que acharem melhor. – retrucou Lily desconfortável pela forma em que a voz dele soou. Coberta de fúria.

- Ele merece a morte por ter tocado em você dessa forma...abrupta e inconveniente. Não vai ser a policia que irá me impedir de vingar o que ele fez com você. – insistiu Scorpius, fazendo Lily soltar um suspiro cansado.

- Já parou para pensar que não desejo ser vingada? – antes que ele respondesse, ela fez um gesto com a mão em direção à porta e pediu: - Será que você pode, por favor, me tirar daqui, prolonguei demais à minha estadia neste hospital, agora quero sair daqui o mais rápido possível.

Lily passou por Scorpius e caminhou até a porta, a abriu e preferiu espera-lo do lado de fora do quarto, para assim impedi-lo de continuar aquela conversa que poderia ser adiada por pelo menos alguns quilômetros até um lugar onde poderiam ficar realmente sozinhos.

Em questão de instantes Scorpius saiu do quarto e dirigiu a Lily um aceno para que o seguisse em direção ao subsolo do hospital, onde seu carro estava estacionado. Ele foi na frente e Lily seguiu logo atrás dele, dando uma pequena distancia para que ele não a sufocasse com suas costas sólidas.

Quando entraram no elevador dois técnicos de enfermagem e uma médica acompanhada de uma criança que aparentava ter os seus seis anos, estavam encostados nas paredes do elevador, todos completamente inertes a entrada de qualquer um ao elevador. Scorpius, que praguejou instantaneamente assim que notou a presença das pessoas, apertou o último botão e ergueu um olhar ameaçador para os dois enfermeiros de baixa estatura que estavam encostados lado a lado. A reação dos dois foi amedrontada, mas não se moveram de imediato, foi preciso Scorpius erguer a sobrancelha em um gesto indagativo para que eles olhassem um para o outro de olhos arregalados e fossem apressados para o outro lado do elevador, eles não ousaram erguer a cabeça para ver se o homem ameaçador ainda os encarava.

Scorpius repuxou os lábios em um sorriso sarcástico e se encostou no mesmo lugar em que um dos enfermeiros estava encostado. Lily, que permanecia parada de frente para às portas do elevador, sentiu mãos firmes, mas cuidadosas agarrarem seu antebraço. Ela não precisava nem se virar para ter certeza de que era Scorpius que à tocava, ele a puxou para se encostar ao seu lado e Lily, com certa relutância, ficou ao seu lado.

Os andares foram descendo e conforme foi acontecendo, as pessoas que estavam dentro do elevador saíram para seus respectivos andares, os últimos a saírem foi a mulher e a criança, que desceram no primeiro andar e foram recebidos por uma mulher na faixa dos trinta com cabelos castanhos avermelhados, ela sorriu para à médica enquanto pegava a criança no colo, a mesma retribuiu o sorriso e pegou a mão da mulher, entrelaçando-a na sua. Era uma cena linda, pensou Lily com um sorriso nos lábios. As portas do elevador se fecharam e Lily se viu novamente sozinha com Scorpius. Ele estava com os braços cruzados e com uma das pernas dobrada e apoiada contra a parede do elevador. Era uma posição completamente despreocupada.

De onde estava, Lily conseguia ver claramente o visor com letras vermelhas que indicava os andares em que estavam, assim que “subsolo” apareceu em seu campo de visão, ela tentou conter um suspiro, mas foi em vão. Às portas se abriram e Scorpius se desencostou da parede, fazendo um sinal para que ela o seguisse até o carro que estava estacionado não muito longe dali. Se Scorpius não tivesse lhe direcionado até o carro, Lily não teria sabido que era aquele. Não era o mesmo que ele costumava usar, o carro era um SUV grafite, e desde que conhecera Scorpius, seus carros sempre eram pretos e no modelo sedan. Com o cenho franzido Lily abriu a porta do carro e se sentou no banco que ainda continha o plástico e o cheiro de carro novo.

Scorpius girou a chave na ignição, deu ré para sair da vaga e seguiu em direção à saída. Quando pararam na pequena fila de três carros para devolver cartão de visitante, Lily virou seu rosto para olhar o banco traseiro e vislumbra-lo igual aos da frente, cobertos por plásticos. Se endireitou em seu assento e voltou seu olhar para o painel do carro, sem nenhum arranhão ou poeira. Definitivamente aquele carro era novinho em folha, e esta constatação não era apenas fruto do cheiro de carro novo.

Lily encostou sua cabeça no encosto do banco e fechou os olhos, tentando relaxar sua mente cheia e cansada. No instante em que viu Scorpius entrar em seu quarto no hospital, Lily soube que sua mente não seria descansada por pelo menos esta noite, que em breve cairia.

- Gostou do carro? – perguntou Scorpius quando estavam alguns metros a frente. Seus dedos estavam brancos com a tamanha força que ele segurava o volante. Lily olhou para ele, que permanecia com os olhos na estrada, antes de responder ela o viu repuxar o lábio em uma pequena careta de desgosto quando avistou um pequeno engarrafamento se formando.

- É muito bonito, a cor e tudo mais. – Lily respondeu e ele assentiu lentamente enquanto pisava no freio antes que batesse no carro da frente, que acabara de corta-lo. “Desgraçado”, ele murmurou com a voz grave. O motorista da frente colocou a mão para fora e fez um sinal de desculpas, que foi ignorado por Scorpius.

O engarrafamento passou e ao se ver novamente em um bairro que Lily conhecia, ela ergueu seu corpo para olhar pela janela, se familiarizando com às casas, com os prédios, com os parques e com os jardins, que ficavam para trás cada vez mais rápido conforme o carro acelerava.

O condomínio foi aberto e eles entraram, Lily queria descer para afirmar ao porteiro que estava bem, ela tinha um imenso afeto pelo senhor de 54 anos que sempre perguntava se ela estava bem, e quando podia à ajudava a carregar às sacolas pesadas que trazia do mercado. Scorpius, ao perceber o entusiasmo dela, disse que depois ela poderia cumprimenta-lo, pois no momento eles tinham muito o que conversar, dizendo isso ele seguiu para estacionar em uma vaga distante. Lily queria contesta-lo, mas percebeu que ele estava certo e que o senhor estaria lá no dia seguinte e no mesmo horário, então poderia falar com ele.

Scorpius desligou o carro, abriu a porta e saiu, e antes que Lily pudesse fazer o mesmo, ele tinha aberto sua porta e estendia sua mão pálida para que ela pudesse se equilibrar, já que o carro era um tanto alto. Era tentador toca-lo, entrelaçar seus dedos nos dele e sentir o calor da palma dele contra à sua, mas ela não queria por momento algum que ele pensasse que ela tinha esquecido a discussão que tiveram antes de tudo acontecer, o que não era o caso, pois as palavras dele martelavam em sua cabeça com estrema força e constância.

Por sua sorte, suas pernas eram longas o bastante para que ela pudesse pisar diretamente no chão, e não no estreito degrau que o carro possuía. Lily apanhou suas coisas e ignorou a mão estendida quando desceu, recebendo um olhar duro do homem que a acompanhava, o qual ela também fez questão de não prestar atenção.

Eles pegaram o elevador e chegaram ao devido andar com uma rapidez mais longa do que ambos gostariam. Lily estava sem a chave do apartamento e só se deu conta disso quando estava à dois edifícios de distância do mesmo. Ela comunicou a Scorpius que teriam que ir à portaria pedir a chave extra, mas ele lhe disse que não seria preciso. Lily estava pronta para perguntar o porquê quando apressou mais seu passo e viu que no lugar da típica maçaneta de sua porta, havia algo que ela nunca tinha visto antes. Era preto, possuía um visor que mais parecia de celular e ao lado uma luz verde.

- O que é isso? – Lily perguntou a Scorpius, que remexeu no bolço interno de seu casaco e de lá tirou dois cartões com um selo que ela não fazia ideia de qual era.

- É para a sua segurança. – respondeu ele com simplicidade colocando o cartão no que ela supôs que fosse uma abertura e logo depois pressionou a porta, que abriu como se ele tivesse usado uma chave.

- Quando você instalou isso aí? – Lily indagou quando passou pela porta, entrando em seu agora tão familiar apartamento. No começo pensara que seria difícil se adaptar a um lugar estranho, mas agora que estava morando lá algum tempo, não sabia como poderia deixar o lugar sem sentir uma imensa saudade, tinha feito algumas transformações na decoração e tudo agora estava do seu jeitinho.

- Não faça muitas perguntas, Lily, por favor, só saiba que é para o seu bem, e principalmente para que fique segura. É um projeto que o condomínio estava pondo em prática, só dei uma incentivada com um técnico de minha confiança. – disse ele servindo uma dose de uísque para ele, Scorpius ofereceu a Lily, mas a mesma negou com a cabeça. As bebidas que continham ali somente ele bebia, Lily nem se lembrava da última vez que enjerira algo forte como uísque ou tequila, provavelmente quando ainda era garota de programa e ela era obrigada a beber para fazer figuração para os clientes.

- Eu preciso saber, ao menos para entrar e sair daqui. – ela justificou, largando suas coisas em cima do sofá.

- Tenho mais um cartão, vou entrega-lo a você. – disse Scorpius em um tom despreocupado enquanto bebia a terceira dose de uísque. – Pelo menos agora tenho um pingo de esperança. – ele comentou ainda estando de costas. Lily franziu o cenho com o comentário.

Ao perceber que ela não o entendera, Scorpius vira de uma vez só o conteúdo que possuía no copo e se vira para fitar Lily, que aparentava estar desconfortável.

Sabendo o que viria em seguida, ela se adiantou dizendo:

- Eu queria adiar isso o máximo possível. Mas pelo visto...

- Não será possível. – ele completou e Lily balançou a cabeça, sem ter outra alternativa.

Scorpius deu três passos na direção de Lily, mas parou quando se deu conta de que tanta proximidade não seria o ideal para nenhum dos dois. Teria que tomar coragem para dizer a ela tudo o que estava explodindo dentro de seu corpo desde que ela saíra de maneira abrupta do escritório de seu pai. Não iria mentir para Lily, diria a ela tudo o que estava pensando, e infelizmente — nem tanto assim — o que estava sentindo.

- Eu odeio te ver naquela situação, naquela cama de hospital, vestindo aquela camisola horrorosa. Já é a segunda vez, e por causa da mesma pessoa. Dylan a mandou para à emergência duas vezes, não irá haver uma terceira, tenha convicção disso. – ele afirmou para ela, que não esboçou nenhuma reação. – Diga alguma coisa. – pediu Scorpius suspirando e pressionando seus olhos.

- Não me sinto à vontade quando você fala desse jeito. Como se estivesse insinuando que o mataria. É horrível falar e ouvir. Dylan me fez sofrer muito, ainda faz, mas não desejo sua morte, nunca desejei. – disse Lily e Scorpius a encarou incrédulo.

- Eu não estou insinuando, eu vou mata-lo! Já devia saber que blefar não é uma característica minha. – Scorpius deixou claro que estava falando sério, e isso foi o suficiente para que Lily tivesse certeza de que ele realmente faria. – Agora, como você pode não sentir vontade de vê-lo estendido no chão? Caramba olha o que ele fez com você. Primeiro ele lhe deu uma surra que te deixou com hematomas no corpo por mais de um mês. E ontem ele...- Scorpius passou às mãos em seus cabelos freneticamente, deixando os fios loiros um tanto desalinhados. – Ele se aproveitou de você, abusou do seu corpo como se você fosse uma qualquer que ele encontra na rua. Mesmo que você não queira demonstrar, eu sei que dessa vez não foi como das outras vezes, ele à marcou. Por saber disso que me sinto na obrigação de...zela-la.

- Eu não preciso de zelo. – ela o cortou com a voz irredutível. – Muito menos que você mate um homem por mim.

- Não é por você. – retrucou Scorpius com o olhar parado em um vaso de cerâmica que estava atrás de Lily. – Apesar de você ter sido à ponte para que eu levantasse a ficha dele e descobrisse que Dylan Thompson trabalha para o homem que quer minha cabeça em uma bandeja de prata.

- Como assim? Por quê? – Lily o questionou com os olhos levemente saltados e com um misto de aflição e preocupação na voz. Não conseguia de jeito nenhum disfarçar a agonia que sentiu ao saber que tinha um homem querendo mata-lo.

- Uma hora eu conto a você, eu prometo. Mas agora quero falar de nós, esclarecer todas às nossas pendencias de uma vez por todas. – disse Scorpius decidido.

Lily suspirou, levando sua mão direita até sua nuca, massageando ali com a ponta dos dedos. Seu pescoço parecia estar cada vez mais rígido. A conversa que teriam seria longa, e não teria mais como adia-la.

- De fato nós precisamos conversar. – ela concordou remexendo seu corpo inquietamente.

Scorpius nada respondeu por um tempo, ele estava procurando em sua mente por onde começar e quais palavras deveria utilizar para que não parecesse rude ou desinteressado. Nunca tinha sido bom com palavras, muito menos familiarizado com sentimentos. Entretanto, seu coração estava o pregando uma peça, daquelas bem maçantes, que demorava quase o espetáculo inteiro para que o espectador pudesse constatar o que estava acontecendo, sendo que na maioria das vezes era bem evidente, e somente o espectador não via.

Decidiu que não teria mais como fugir, teria que encarar à mulher ruiva que estava à sua frente e a si próprio. Se não enlouqueceria.

- Ontem, antes de você sair da casa dos meus pais, eu a magoei?

Sua resposta foi uma risada seca, o que mais pareceu uma bufada.

- Você disse que eu te desconcentrava, que eu o deixava louco e que eu era tóxica. Como acha que eu me senti ouvindo isso do homem que eu...- Lily não se permitiu completar a frase, se não sabia que se debulharia em lágrimas, e o que menos queria era chorar, seu objetivo era se manter firme.

- Você não me deixou terminar, disse que queria ir embora, sozinha. Olha o que à sua imprudência causou. – no instante em que a última palavra saiu de sua boca ele se arrependeu de tê-las dito.

- Então a culpa é minha? Eu só queria sair daquela casa, onde eu sabia que não era bem-vinda. Principalmente depois deu ficar sabendo que o seu pai queria demiti-lo ou tira-lo da máfia. Nãos seria justo prejudica-lo. Eu sei o quanto gosta dessa vida que leva.

- Dane-se o meu pai, Lily. Ele precisa de mim, estava só blefando quando disse que me tiraria. – Scorpius respirou fundo para poder prosseguir: - À sua presença me faz bem. Entrar pela àquela porta – ele indicou a porta com o queixo – e saber que você estaria aqui me esperando, me fazia e faz bem.

- Foi para isso que você me colocou nesse apartamento, não foi? Para eu estar aqui sempre que precisasse. – disse Lily com tranquilidade na voz. Se lembrando do dia em que Scorpius lhe disse que não precisaria mais fazer programa.

- Para eu poder dormir com você! Essa era a minha intenção, ter uma amante disponível para quando eu quisesse. Mas nem sempre quando nos encontrávamos dormíamos juntos, às vezes apenas jantávamos ou ficávamos deitados na cama conversando e você sempre dando um jeito de me oferecer carinho. Além da minha mãe, nenhuma mulher tinha acariciado os meus cabelos antes. Aquilo foi uma surpresa. Ontem, quando você disse que iria embora, tive vontade de explodir, e foi aí que a minha ficha caiu, pois se eu ficasse sabendo que você voltara para à sua antiga vida, eu ia morrer de ciúmes. E de lastima também, porque você, Lily, é uma das mulheres mais dedicadas e batalhadoras que eu conheço. Eu sentiria sua falta. Em uma festa de noivado de um colega, eu fiquei com algumas prostitutas, elas eram boas, contudo eu só conseguia pensar que elas não eram tão boas quanto você. Não estou me referindo às habilidades na cama, mas à falta de carinho, de atenção e de amor próprio. Esses três requisitos foram os que mais me chamaram atenção quando nos encontramos pela primeira vez. – Scorpius declarou com dificuldade, só Deus sabia o quanto fora difícil para ele admitir que Lily não poderia ser substituída por nenhuma outra mulher.

Ele continuou:

- Eu tenho um temperamento difícil, muito difícil. Às vezes eu próprio não me reconheço, quando explodo nada mais faz sentido, apenas aquele estado de estupor em que me encontro. Admito que preciso trabalhar isso se quiser algum dia me relacionar com alguma mulher, me relacionar com você. Só quero que saiba que não faço por mal. Naquele dia em que vi a mensagem no seu celular, sim, eu fiquei com ciúmes. Só de imaginar que você poderia estar com outro cara... – ele balançou a cabeça, negando. – Eu não sei o que faria.

Lily estagnou dando passos para trás, se afastando de Scorpius, que estava com seu olhar voltado para o piso emadeirado. Diante de dizeres que ela nunca pensou ouvir da boca dele, ela se assustou por um segundo, com medo que a qualquer momento ele pudesse se transformar no homem frio e possesivo que Scorpius costumava ser com ela. Mas a sensação de medo deu um lugar instantâneo para uma sensação boa e de fascinação, seria possível que seus sonhos e idealizações estivessem finalmente se tornando realidade? Que ele pudesse pela primeira vez demostrar sentimentos a ela além de carinho e atração?

Porém algo que também à perturbava era ela mesma. Lily queria ser mais impulsiva com Scorpius, desafia-lo, ter mais garra. Contudo, sempre que estava perto dele era como se sua verdadeira personalidade se tornasse um bloco de gelo. Ela também sentia que tinha algo à trabalhar em si para poder se relacionar com ele.

Mas tinha algo que precisava saber antes de qualquer coisa.

- Eu irei prejudica-lo? Me perdoe, Scorpius, mas...não irei me sentir à vontade com você se souber que estou o prejudicando – ou – desestabilizando, como você mesmo disse ontem no escritório do seu pai.

- Pensamos nisso depois. Tudo o que eu disse foi verdade. – ele admitiu - Você é completamente tóxica para mim, Lílian. Você domina à minha mente, como se fosse uma vampira sugadora de sangue, do meu sangue, da minha alma.

Lily olhou para ele escandalizada, há instantes Scorpius estava dizendo que ela o fazia bem, que ela era insubstituível, e agora estava dizendo que ela era uma vampira sugadora.

- Você é inacreditável! Sinceramente, eu não sei como sou capaz de amar um homem como você. – bradou ela com exasperação. Queria tentar entende-lo, entender o que se passava na cabeça daquele homem, todavia parecia algo impossível. Lily nunca foi de desistir fácil, sempre foi interessante e motivador não desistir, mas com Scorpius, ele era um completo enigma que Lily fazia de tudo para desvendar.

- Não, você não entendeu. Quando digo que você é tóxica, é porque...porque, diabos, como isso é difícil! – exclamou Scorpius coçando a barba por fazer.

- Diga, Scorpius. Se não eu não vou aguentar ficar com você sem saber o que te causo, ou o que eu posso causar. Você foi incrível para mim, me ajudou tanto, vou ser imensamente grata para o resto da minha vida. Mas não posso continuar junto de ti sem que me diga com todas às letras o que isso significa. – Lily tocou seus lábios com a ponta de seus dedos gelados, sentindo-os ressecados pelo frio. Por instinto, ela ergueu seus olhos para os lábios de Scorpius, sentia-se atraída por ele. E se tivesse agido com seu coração, teria o beijado e acariciado os fios loiros de seus cabelos nesse mesmo instante. Do jeito que ele gostava.

Entretanto, sua cabeça precisava de respostas.

Com um grunhido de exaltação junto de um passar de mãos pelo rosto, ele prosseguiu, recebendo toda à atenção de Lily.

- Não quero que seja grata, eu não lhe dei nada. Pelo menos não o que você realmente merecia. Somente paguei às suas dívidas no bordel, e lhe dei este apartamento, que coloquei no seu nome recentemente. Mais nada. – Scorpius lamentava não ter oferecido mais a Lily, portanto ele não se sentia digno da gratidão dela.

- Como fez isso? – Lily questionou se referindo a menção que ele fizera sobre colocar o apartamento em seu nome.

- Não foi difícil conseguir à sua assinatura, tirei uma foto dela e mandei para um falsificador, ficou perfeita. – explicou ele com um ar de riso na voz. – Não precisou de quase nenhuma burocracia, apenas o que eu exigi. Este imóvel era meu, mas pertencia a Mercilessly. Os documentos estão ali. – ele apontou para um criado mudo encostado na parede.

- Eu agradeço, Scorpius, do fundo meu coração. Mas isso é um só um bem material, bem caro, mas material. Eu desejo além de um apartamento de alto nível, ou dinheiro. Eu quero você, quero que seja sincero comigo. – havia sido além de uma súplica, se pudesse teria caído de joelhos em sua frente e implorado para que ele apenas dissesse.

- Eu...eu estou confuso, pela primeira vez em mais de quinze anos eu admito isso com todas às letras. Mas quando digo que você me intoxica, é porque você desperta em mim o que há de melhor, tenho dificuldade em admitir porque nunca houve nada de bom em mim, pelo menos não o que realmente significa bondade. Fico inerte quando você está por perto, me esqueço de tudo do que importa para mim, tanto que já abdiquei de muitos compromissos para ficar com você. Consigo aceitar suas opiniões, eu não aceiro opiniões de ninguém, nunca aceitei, principalmente de uma mulher. Quando descobriu o que eu fazia, você não me questionou, muito menos me julgou. Tendo plena certeza de que o que eu fazia ia contra tudo o que você acreditava. Inclusive dos seus morais. – com às mãos juntas cobrindo suas narinas, ele suspira. – O fato é que preciso de você, gosto de ficar com você.

- E o que isso quer dizer? – sussurrou Lily em indagação.

Scorpius revirou os olhos com impaciência. Queria terminar logo com aquilo, e ela não estava facilitando em nada sua tentativa.

- Quer dizer que eu preciso de você na minha vida! – Scorpius exaltou – Demorou para eu perceber, foi preciso você ser abusada para eu poder ver e acreditar, mas você é igual uma bombinha de asma, do tipo que eu não conseguia ficar sem quando era criança. Se você quiser, é claro, nós podemos tentar.

- Tentar o quê, Scorpius? – perguntou Lily dando passos na direção dele, ficando cada vez mais perto para que pudesse ouvi-lo.

- Uma relação. Bom, não exatamente um relacionamento, mas quero que tenhamos mais do que temos, por hora um namoro não convencional, mas com o tempo...- ele ia dizendo quando Lily deu passos apressados em sua direção.

Ela se aproximou envolvendo seus braços em torno do pescoço de Scorpius, que correspondeu o gesto, abraçando à cintura de Lily.

- Eu esperei tanto para ouvir isso, tanto, tanto. – balbuciou Lily aspirando o cheiro do perfume de Scorpius, uma típica colônia masculina. Tinha sido uma realização ouvir que ele queria algo a mais com ela. Mas ele não estava sendo hipócrita, não estava lhe dando falsas esperanças de que viveriam um amor avassalador. E isso fazia com que ela o amasse mais ainda. E cultivasse certa esperança.

Lily deixou seus braços escorregarem pelas costas de Scorpius, deixando-as paradas ali enquanto descolava seu corpo do dele para poder fita-lo. Ele possuía um sorriso sedutor nos lábios, um sorriso que a encantava e a descontrolava ao mesmo tempo.

- Eu gosto de você, mais do que deveria. – disse Scorpius, o que resultou em uma risada de Lily, que se lembrou de suas próprias palavras. Ele a acompanhou.

- Eu sou completamente apaixonada por você. Amo você. E é por isso que me sinto na obrigação de te perguntar, tem certeza? Se sim, saiba que às coisas vão mudar entre nós. – Lily quis esclarecer para que não houvesse nenhuma dúvida.

- Tenho certeza, como eu disse, preciso de você. – ela sorriu em resposta e Scorpius a beijou em meio ao sorriso – O que exatamente vai mudar? – ele questionou com a ponta do cabelo de Lily entre seus dedos.

- Tudo vai mudar, se queremos realmente investir nisso, precisamos estabelecer algumas regras. E a principal é você não me privar de fazer às coisas, e isso inclui eu poder sair com meus amigos quando quiser.

- Você quis dizer amigas, certo? – ele ergueu uma sobrancelha.

- Não, quis dizer amigos, eu tenho amigos homens e vou sair com eles quando me convidarem. E outra, não quero que você duvide de mim. – decretou Lily com firmeza.

- Não quero um monte de homens te rondando, eu não aceito isso! – ele exclamou.

- Eles não me rodam, só querem o meu bem e eu o deles. Promete para mim que não vai ter uma crise de ciúmes caso você chegue aqui e os encontre sentados no sofá? Promete? – Lily o indagou e comprimindo seus lábios com força, ele assentiu. – Ótimo.

- Vamos pular esta parte e ir direto para o que interessa?

Ela viu a curva sutil que era o esboço de um sorriso. Então ele desceu seus lábios até os dela, deixando-os se tocar genuinamente.

O beijo, ah...o beijo! Não era nada parecido com os muitos outros que trocaram antes, este era calmo e... limpo. Sem desejo extremo, sem volúpia carnal, possuía apenas a vontade de estarem com os lábios juntos. E isso, ambos tinham há bastante tempo.

Scorpius moveu seus lábios sobre os de Lily com cuidado, tocando o ombro dela com a ponta dos dedos. Não se sentia à vontade em toca-la mais intimamente, por mais que tivesse um enorme desejo talante de ergue-la em seu colo, carrega-la até a cama e possui-la até o dia amanhecer, porém se sentia na obrigação de ter o mínimo de consideração com ela. Em vista disso, a beijava calmamente, como nunca tinha feito antes. Porém, não deixava de ser cálido.

Lily ainda estava fragilizada, ela não demostrava, mas ele sabia que por dentro ela estava em frangalhos pelo o que Dylan fizera com ela. Contudo, sua força era maior do que sua dor.

Scorpius tinha orgulho de Lily, de si próprio também, por ter tido coragem de expor seus sentimentos para alguém pela primeira vez. Ela tinha uma força tão grande que o deixava espantado. Se continuassem juntos por mais um tempo, tinha certeza de que ela transformaria seus pensamentos, Scorpius não duvidava em momento algum que ela fosse capaz de fazer isso com ele. Já estava fazendo. E não iria impedi-la. Lílian, à sua ruiva, era o seu melhor.

Continua...


Notas Finais


Oh gente! Me desculpem pela demora, mas enfim saiu. O capítulo está dividido em duas partes, então no próximo será a parte 2, que terá a continuação de onde paramos e às outras cenas que ficaram entreabertas.

Agradeço os comentários do capitulo anterior, eles foram motivadores.


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