História High - Sasusaku - Vinho

    Conversei com Sasuke e estabelecemos regras para o nosso “relacionamento”, pois sem isso as coisas não iam funcionar, percebi que teria que manter o moreno na rédia curta ou ele passaria dos limites, como quando me deu aquele maldito chupão, que graças a Deus na segunda já tinha quase sumido e só precisou de um pouco de corretivo e base para ser escondido.

    Chegamos a conclusão que era justo Sasuke me dar carona para ir e voltar da faculdade, ao meio dia almoçaríamos lado a lado e que ele podia fazer pequenas demonstrações, como segurar a minha mão, me abraçar e beijar a minha bochecha. Sem beijos de surpresa, sem mãos bobas e sem chupões. 

Meio contrariado Sasuke aceitou, já que deixei bem claro que era isso ou nada. 

O início da semana passou com Karin me encarando mortalmente e grudando no Uchiha sempre que eu o deixava sozinho, então passei a ficar bastante tempo com ele para evitá-la. Era visível que ela não gostava de mim, e mesmo que nunca tivéssemos conversado apropriadamente eu também não ia muito com a cara dela. 

Sasuke me contou de uma vez em que ela roubou as chaves do Naruto e invadiu o apartamento enquanto ele estava com uma garota. Ela fez um escândalo acusando a menina de ser amante e tudo mais, óbvio que isso  fez a garota rapidamente pegar suas coisas e ir embora, Sasuke botou Karin para fora, e no fim das contas e acabou a noite sozinho e de pau duro. Tive que rir quando ele me contou isso e inevitavelmente imaginei a cena, era realmente um pecado deixar ele sozinho naquelas circunstâncias.

Na quarta-feira o Lee não deu atenção para a minha presença, e sinceramente isso me causou alívio, ele sentou com a Tenten e o Neji e não interagiu comigo. Por baixo da mesa eu estendi a mão para Sasuke dar um soquinho, e sorrimos cúmplices, provavelmente o problema Lee estaria resolvido em breve, o foco agora era Karin. 

Seguimos o resto da semana da mesma maneira, andávamos juntos no corredor, ele segurava minha mão ou passava o braço na minha cintura, algumas vezes me dava um chocolate de presente ou então chegava me dando um beijo na bochecha de surpresa, eram coisas fofas que quem quer que visse teria a certeza de que tinha algo entre a gente.

Mas a Karin continuava insistindo em ir atrás do Sasuke, especialmente quando ele estava sozinho, além disso ele me disse que ela mandava muitas mensagens em todas as redes sociais, e que ele mal dava conta de bloquear ela. Que garota chata dos infernos! 

Então finalmente era sexta feira novamente, Sasuke tinha me deixado em casa e saiu dizendo que tinha coisas pra fazer. O pessoal estava combinando e ir em um karaokê, até poderia ser legal mas acabei recusando, não gostava muito de cantar e tinha um trabalho enorme para fazer que poderia ocupar muito bem minha noite. 

Acabei pedindo comida por um aplicativo e me dediquei aos estudos, o silêncio na casa era agradável e eu me surpreendi com o meu próprio rendimento. Peguei o celular e vi que havia uma notificação do sistema da faculdade, o professor Kakashi tinha finalmente postado as notas e eu estava ansiosíssima, abri o app e cliquei na opção, porém meu mundo caiu assim que ví o número pintado em vermelho, 3,8. 

Foi como se eu tivesse levado um soco, não podia ser verdade!Aquilo era impossível! Eu tinha certeza de que estava indo super bem.

Atualizei a página várias vezes até sentir meus olhos se encherem de lágrimas, como eu pretendia ser médica daquele jeito? Eu toda confiante achando que estava indo bem quando na verdade eu me fodi bonito. Ótimo Sakura, realmente esse é o caminho né! 

Encarei o notebook aberto a minha frente com o trabalho quase concluído, 'foda-se' foi a única coisa que pensei antes de fechá-lo. As lágrimas desciam silenciosas pelo meu rosto, e eu me permiti chorar, é bom e acalma, eu estava muito decepcionada comigo mesma, e nessa situação só um pouco de álcool para me ajudar.

Fui até a cozinha e nem me dei ao trabalho de ligar as luzes, peguei a garrafa de vinho que eu sabia que Ino tinha escondida, outro dia eu devolveria, naquele momento eu precisava daquilo. Usei o abridor e consegui remover a rolha sem maiores problemas, servi uma grande taça e bebi escorada na bancada, refletindo sobre a minha miserável existência de estudante de medicina. 

Ri sem humor da minha própria situação, chorando e bebendo por causa de nota, patético. Agarrei a garrafa e me virei para ir em direção ao quarto porém tomei um susto ao perceber uma silhueta no chão da sala no escuro. 

-Sasuke? - reconheci.

Ele não executou nenhum movimento então me aproximei mais. Estava sentado no tapete com as costas apoiadas no sofá, seus joelhos estavam flexionados e os braços apoiavam-se nos mesmos.  

-Sasuke você está bem? - ele não me olhou, era óbvio que não estava tudo bem Sakura!

-Quer conversar? - me aproximei dele e em seguida sentei ao seu lado no chão, ele negou com a cabeça, seus olhos estavam tristes.

-E beber? - ofereci minha taça e ele inclinou a cabeça na minha direção parecendo pensar, em seguida me surpreendeu ao agarrar a garrafa e dar um gole generoso. Bebi da minha própria taça e ficamos ali em silêncio por um longo tempo apenas saboreando o vinho e encarando o escuro. Inicialmente o clima estava pesado, mas conforme os minutos passavam eu me sentia confortada pela presença dele. 

-Eu me fodi hoje. - falei quebrando o silêncio. 

Ele apenas me olhou de canto de olho.

-Tirei uma nota tão baixa em uma disciplina que acho que não vai dar pra recuperar… - suspirei e bebi mais um gole - Às vezes eu duvido de mim  mesma, da minha capacidade em exercer a profissão que eu escolhi, salvar vidas é algo tão nobre que eu não sei se vou ser capaz, eu só quero ajudar as pessoas, mas não sei se consigo - eu falava para ele, mas acho que quem mais precisava ouvir aquilo era eu mesma, talvez eu tivesse feito a escolha errada e medicina não fosse pra mim.

-Você vai ser brilhante Sakura - a voz de Sasuke saiu mais rouca que o normal, mas foi extremamente reconfortante - Você só precisa relaxar e dar o seu melhor. 

As palavras dele eram genéricas mas me confortaram de maneira absurda, realmente eu precisava dar o meu melhor, e com certeza não aquilo.

-Obrigada - lhe dei um pequeno sorriso, ele ralemente me ajudou - Quer me contar o que te deixou assim? - questionei o encarando, ele já havia bebido metade do vinho sozinho, peguei a garrafa de sua mão o impedindo de dar um gole para evitar a minha pergunta e me servi mais uma taça, antes de devolvê-la. 

Sasuke deu mais um gole e suspirou antes de começar a falar. 

-Hoje é o dia dela… Do aniversário dela… - a voz dele era rouca, como alguém que já tinha chorado muito antes - Já fazem quase 13 anos e eu não consigo superar… Ela se foi pra sempre e me deixou aqui… 

Engoli em seco antes de fazer a temida pergunta, mas que era necessária. 

-Quem?

-Minha mãe - ele apertou os olhos com força ao dizer aquilo mas não foi suficiente para evitar que a lágrima solitária descesse pelo seu rosto. 

-Sasuke eu sinto muito - instintivamente toquei o ombro dele acariciando levemente, eu era incapaz de imaginar o tamanho da dor que era perder a mãe.

-Ela morreu quando eu tinha sete anos - ele começou a contar - Estávamos saindo de férias quando sofremos um acidente, um animal entrou na frente do carro e meu pai tentou desviar, mas a pista estava molhada e o carro derrapou, batemos em um outro veículo que vinha no sentido contrário e depois caímos em um barranco - ele falava olhando para o nada, como se as imagens estivessem passando diante de seus olhos - O carro capotou várias vezes e ficamos presos de cabeça para baixo, meu pai conseguiu sair e tirou eu e depois meu irmão, ele fez a gente ficar longe e depois voltou para pegar minha mãe que  estava desacordada - ele cobriu o rosto com as mãos - Ele estava tentando tirar ela mas teve um vazamento de gasolina e então uma explosão… Meu pai não pode salvá-la... perdemos os dois naquele dia, mas a falta que ela me faz é insuportável... - Sasuke subiu as mãos para os cabelos e puxou com força, a voz dele era chorosa mas nenhuma lágrima escorria de seu rosto, ele estava lutando contra aquele sentimento.

-Sasuke... - eu tinha lágrimas nos olhos, larguei minha taça e me virei para ele ficando de joelhos, o abracei passando as mãos pelos fios de cabelo e ele não me afastou. 

Então senti seu corpo começar a tremer e percebi que ele estava chorando, o apertei com força contra meu peito tentando fazê-lo se sentir seguro. Ele chorou por vários minutos, e algumas lágrias também escaparam de mim, depois de um tempo ele começou a relaxar em meus braços e gradativamente foi se acalmando. Ele se virou para o lado e agarrou a garrafa, continuou apoiado no meu peito porém bebendo, passamos um bom tempo assim, eu o confortando silenciosamente e ele apenas bebendo mais vinho. 

Sinceramente eu senti vergonha dos meus problemas depois de ouvir o que ele disse, nada podia se comparar a passar por aquilo.

Ele já havia acabado com quase toda a garrafa quando ouvi vozes animadas no corredor, provavelmente era o pessoal voltando para casa do karaokê. Tratei de me levantar rapidamente e puxei Sasuke comigo, ele estava mole e pesado e eu tive que fazer muito esforço para conseguir puxá-lo até meu quarto, no momento em que fechei a porta ouvi a entrada principal ser aberta. Tranquei minha porta por garantia, não precisava de ninguém se metendo ali.

Sasuke estava bêbado e triste, não precisava dos olhares curiosos dos outros sobre ele, e muito menos de perguntas inapropriadas. 

-Deita na cama - falei o empurrando em direção a mesma. 

-Sakura? - ele falou com tom estranho por causa da bebida.

-Sasuke, deita e dorme, você precisa descansar - falei e ele apenas virou, puxou a camisa pela cabeça e se jogou atravessado no meio da cama de casal. 

Ótimo, ele tinha se lembrado de tirar a camisa mas não os sapatos, sério mesmo? Revirei os olhos e fui até ele desamarrando seus tênis enquanto ouvia as vozes do pessoal chegando no apartamento. 

Depois de me livrar de seus tênis e meias tentei o empurrar na cama para que não ficasse atravessado no meio. Tocar naqueles músculos descobertos e segurar aqueles braços tatuados era uma tentação, a pele dele era quente e aquele toque me pareceu familiar, mas tentei ignorar, com certeza era só o efeito do vinho em mim. Sasuke estava bêbado e em um momento delicado, não era hora de eu estar passando as mãos pelo corpo dele com aqueles pensamentos nada puros.

O empurrei para que ficasse melhor colocado no travesseiro e puxei o cobertor sobre o seu corpo. A história que Sasuke tinha me contado tinha me tocado profundamente, eu não estava agindo por pena nem nada do tipo, ele precisava de ajuda e naquele momento eu era essa ajuda. 

Me abaixei ao seu lado, ele estava meio acordado ainda. 

-Você está melhor Sasuke? - perguntei. Ele assentiu levemente com a cabeça e fechou os olhos, por um instante achei que ele tivesse pegado no sono então permiti meus dedos deslizarem pelos fios de cabelo bagunçados fazendo um carinho. Seus olhos voltaram a se abrir e eu rapidamente recolhi minha mão.

-Desculpa - disse eu um pouco sem jeito. 

-Obrigada - ele disse me encarando, parecia estar mais consciente naquele momento e eu sorri com seu agradecimento.

-Claro, agora vê se dorme um pouco, vai ajudar - me apoiei na beirada do colchão e me levantei mas meu braço foi detido antes que eu pudesse dar um passo.

-Fica aqui comigo? - ele pediu me encarando de forma intensa. 

Não consegui dizer nada então apenas nos encaramos por alguns instantes. 

-Deita aqui - ele se afastou abrindo espaço na cama - Por favor? - ele me puxou um pouco mais e eu não resisti, estava em choque. 

-Sasuke, eu… - tentei formular mas os olhos dele estavam pidões, havia sofrimento e carência ali, eu não conseguiria negar. Assenti e apaguei a luz para em seguida me deitar ao seu lado na cama. 

Havia espaço suficiente para que ficássemos afastados, mas Sasuke pareceu não querer isso, ele se aproximou e me abraçou, com força pela cintura, aquilo me deixou tão nervosa que quase parei de respirar. Ele aconchegou mais a cabeça contra meu corpo e levou minha mão até seus cabelos.

Ele queria carinho? 

Comecei a alisar os fios novamente e senti o corpo dele relaxar completamente contra o meu, em apenas alguns instantes, aquelas atitudes eram ele ou o vinho? Só podia ser o vinho, jamais imaginaria Sasuke agindo daquela forma, era impossível. 

Respirei fundo sentindo o meu próprio corpo cansado começar a relaxar, o calor que emanava dele me alcançava e a respiração tranquila me acalmou, fazendo com que logo eu também adormecesse, com ele em meus braços.