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História Hino ao Amor - O segundo quádruplo


Escrita por: makkachin

Capítulo 29 - O segundo quádruplo


Voltar para casa era um  pouco triste, porque Yuuri queria ter ficado mais tempo com Victor. Mas por outro lado era bom também porque ele poderia ficar com sua família, comemorar a medalha numa competição internacional importante que ele tinha ganho, e comer um pouco de katsudon, pelo menos antes de ele voltar a treinar com tudo, porque o Grand Prix na Rússia seria em menos de duas semanas, e Yuuri já tinha dado o primeiro passo para conseguir a sua classificação à final, só que apenas metade do caminho tinha se ido, agora viria a outra metade.

E agora uma coisa bem diferente iria acontecer, porque no Japão ele estava em casa, os juízes eram mais amigáveis, por isso sempre tinha a possibilidade de conseguir mais nota, só que na Rússia não. Não que fossem inimigos, claro, só que Yuuri precisava competir ainda melhor para conseguir o seu lugar no pódio.

Às vezes parecia até piração que ele estava pensando em lugares no pódio depois de ter ficado longe dele por tanto tempo.

“Eu acho que eu preciso colocar um quádruplo a mais no meu programa, você não acha?”  Falou Yuuri logo no primeiro dia em que ele voltou aos treinos com Yuuko.

Ela parou por um tempo, olhou para ele, e suspirou. “Eu acho que não seria uma má ideia, porém a gente tem que ter certeza que você vai conseguir competir com os dois quádruplos.”

“Pode ser a diferença entre o terceiro lugar e o quarto, e eu tenho certeza que o único jeito de eu conseguir a vaga pra final do Grand Prix é ficando no pódio.”

Yuuko assentiu. “Mas você sabe que com mais quádruplos a chance de você errar aumenta.”

“Eu sei. Só que nessa competição vai ter o campeão russo, Yuri Plisetski, o campeão canadense, JJ, o Otabek, o Emil, todos esses caras tem mais quádruplos do que eu, e se acontecer de eles estarem em um dia bom e acertarem tudo, eu fico de fora mesmo dando o meu melhor, e eu não posso dar margem pra isso.”

Yuuri falou com solvência sobre os problemas de competir com saltos mais fáceis, e ele sabia como aquilo era. Muitos patinadores poderiam competir com menos quádruplos quando eles estavam no final de carreira, mas eles conseguiam boas notas porque já tinham se estabelecido na cena mundial, já tinham o carinho dos juízes. Mas Yuuri ainda não tinha nada, e nem tempo para conseguir conquistar aquilo. Ele nem sabia se iria conseguir continuar a competir nesse nível nos anos que viriam, porque agora ele já tinha encontrado uma maneira de treinar pesado mas não se machucar tanto, porém aquilo não seria a realidade para sempre.

Ele e Yuuko continuaram a debater sobre como manejar os programas com mais quádruplos, e Yuuri foi mudando um pouco do layout dos saltos dele no programa para conseguir acomodar o segundo quádruplo. Como ele só conseguia fazer o quádruplo toe, ele tinha que juntar um deles com outro salto, porque senão os juízes considerariam dois saltos iguais sem combinação como uma repetição, e ele iria perder pontos.

Mas além disso, Yuuri teria que tirar algum dos outros saltos, porque ele só podia repetir dois tipos de saltos no programa, e como agora iria repetir o quádruplo, ele teria que tirar um de seus triplos. Como o triplo axel era o melhor triplo que ele tinha, não fazia sentido tirar aquele, então um dos triplos lutz teria que sair. Enquanto ele foi pensando sobre seus quádruplos, Yuuri analisou como seria a execução do programa.

Ainda estava bem balanceado, com quatro saltos antes da metade e quatro saltos depois, porque ele não tinha confiança de que conseguiria fazer como no programa curto onde todos os saltos estavam além da metade do programa, e todos ganhando o bônus. Essa era a primeira competição que ele iria fazer assim, e quem sabe no futuro ele teria que mudar, mas agora Yuuri queria se testar.

Na primeira vez que ele tentou passar o programa inteiro com a nova organização de saltos Yuuri teve alguns problemas. Caiu uma vez, se perdeu no meio da coreografia, mas quando ele passou a segunda as coisas melhoraram. E na terceira foi melhor ainda. Logo no primeiro dia ele já tinha certeza que tinha feito a escolha certa, pois colocando esse quádruplo a mais ele já tinha quatro pontos de sobra na sua nota técnica, e aquilo era importante, sem falar que com dois quádruplos no programa os juízes já respeitavam um atleta muito mais, porque com os programas mais difíceis você já parece um patinador que briga pelo pódio com todos os outros.

E era exatamente aquilo que Yuuri queria.

~*~

Victor sempre chegava em casa à noite pronto para conversar com Yuuri. E nessa última semana as coisas tinham sido ainda mais importantes para os dois. Depois da revelação o relacionamento deles quase nada mudou, as Victor tinha percebido alguns olhares diferentes para ele, algumas caras feias. Não que as pessoas estivessem livres para falar mal dele, só que ainda assim aquilo não segurava muitas delas de olharem para Victor com o canto dos olhos em desdém.

Óbvio que ele pouco se importava. Victor tinha a pele dura, preparada para aguentar tudo, e dentro do seu mundo da patinação as coisas continuaram normalmente. Algum que outro patinador parece que tinha desenvolvido um medo de chegar perto de Victor, como se fosse pegar alguma doença ou coisa assim, mas Victor pouco se importava.

Yakov não falou nada, afinal de contas ele tinha seus próprios problemas de relacionamento para se importar, e as pessoas mais próximas de Victor não tinham problema algum com ele. De fato, Yuri e Otabek tinham ficado ainda mais amigos de Victor, como se fosse alguma coisa que tivesse feito tudo mudar.

Sim, sim, ele estava em um relacionamento com Yuuri Katsuki, mas não tinha motivos para ele ser nada diferente agora. E ele disse aquilo para Yuri e Otabek um dia, mas Yuri contra-atacou.

“É só você que não percebe o quanto diferente você está, Victor. Depois da morte do Makkachin você ficou bem longe de todo mundo, e não era só uma questão de se afastar do mundo da patinação, você se afastou de todos nós, dos seus amigos,” disse Yuri com uma voz irritada, mas era possível perceber os sentimentos dele por trás da fachada.

“E desde que eu conheci Yuuri isso mudou?” Victor pediu.

“Da água pra vodca,” Otabek falou, fazendo Yuri rir dele. Os dois se olharam com corações nos olhos, e Victor ficou se perguntando se era assim mesmo que ele e Yuuri se olhavam. Não tinha nenhum problema em ser assim, porque ele realmente tinha sentimentos fortes por Yuuri.

Não era apenas por causa do passado, por causa daquela vez em que Victor viu Yuuri se sentindo sozinho, mas é porque tinha algo em Yuuri que fazia o coração de Victor bater mais forte, que fazia ele sorrir sem nem querer pensar no motivo. Yuuri tinha uma pureza que acalentava Victor, porque correr para as boates secretas na Rússia sempre tinha uma certa adrenalina que deixava todo mundo maluco, mas ao contrário de uma montanha-russa, Yuuri era um mar calmo, era uma viagem de barco por um lago, apreciando o sol nascente. Era um das coisas simples da vida, e Victor nunca achou que iria querer essas coisas simples, mas agora ele não podia esquecer delas.

Ele continuou auxiliando nos treinos de todo mundo, mas vez ou outra sua cabeça se perdia e ia direto para o Japão. Victor não via a hora de poder terminar essa temporada e decidir o que ele queria para sua vida, se iria se mudar para o outro país, ou se iria pedir para Yuuri vir morar com ele. Os sentimentos entre os dois eram fortes, e Victor jamais iria querer ficar longe dele por tanto tempo.

E se ele tivesse alguma escolha, ele nem teria saído do Japão.

 

~*~

 

O presidente da Federação Russa de Patinação, Vladimir Sokolov, estava olhando o catálogo com os nomes de todos os atletas que viriam para a Copa da Rússia, o Grand Prix de Moscou, e ele notou que um daqueles nomes não era desconhecido dele. Esse tal de Yuuri Katsuki tinha sido o pivô de uma discussão quente na sala dele no outro dia.

“De onde já se viu um de nossos maiores atletas, um dos nossos heróis nacionais se agarrando com outro homem?” Um dos conselheiros disse.

“Eu também acho que isso é uma falta de respeito com nosso país, e tinha que ser terminado já,” disse outro.

Ao mesmo tempo em que ele como presidente conseguia ver o lado dos conselheiros que estavam enojados com o comportamento de Victor, não tinha como ele simplesmente expulsar o maior expoente da patinação na Rússia nos últimos cinquenta anos. Ninguém tinha chegado perto da fama que Victor tinha alcançado, e não só aquilo, mas antes de Victor começar a competir a Federação estava com todas as contas atrasadas, com muitas dívidas, e com pouca credibilidade. Muito dinheiro era enviado a eles sem retorno de resultados, e especialmente com as medalhas de ouro que a ginástica trazia para a Rússia, a patinação começou a ficar de lado.

Foi ele que pediu a Yakov que apresentasse o seu melhor atleta, que dissesse tudo que ele iria precisar, que o presidente iria agir. E foi o que Vladimir fez, levou Victor para todos os cantos do mundo, para chegar aos melhores técnicos e especialistas, para conseguir ajuda dos melhores coreógrafos, de todas as pessoas que sabiam de patinação mais do que os outros, e todo esse trabalho tinha custado milhões de rublos.

Mas tinha valido à pena. Victor tinha virado um multi-campeão mundial, tricampeão olímpico, campeão do Grand Prix inúmeras vezes, acumulando recordes de pontuação um atrás do outro, e tudo isso trouxe grande prestígio para a Federação outra vez. Eles começaram a receber mais verbas, mais apoio, mais patrocínio, e foi possível encontrar o caminho de volta para o topo outra vez.

Era por causa de Victor que as outras disciplinas da patinação russa tinham evoluído tanto nos últimos anos, porque o dinheiro que Victor trouxe tinha sido injetado para trazer os melhores técnicos e formar uma escola nova na Rússia. E tudo foi feito com muito suor, com muito trabalho.

Só que agora que Victor estava mostrando ao mundo que ele era diferente, a Federação tinha que colocar o pé atrás. Não que ele fosse custar tanto para os cofres da Rússia, afinal de contas ele não competia mais, não receberia mais tanto dinheiro do governo, só que ter um homem sem tanta credibilidade ali dentro acaba por manchar o nome da modalidade, e não tinha como isso acontecer.

Depois que Victor se aposentou demorou um tempo para os juízes começarem a se acostumar com as novas figuras russas, e com as antigas que sempre ficavam à sombra de Victor. Tanto Georgi como Yuri tinham um futuro promissor, e Yuri estava no caminho para, quem sabe, quebrar os recordes de Victor em um ano ou dois, e trazer mais medalhas e prêmios para a Rússia. E já estava complicado de controlar Yuri agora, porque por ironia do destino ele tinha se saído igual a Victor, só que ao contrário de Victor, ele ainda era jovem, tinha um longo futuro pela frente, e não teria como eles terem um atleta que iria virar a casaca no meio de sua carreira.

O único problema era que não haviam outros atletas a curto prazo para substituir Yuri se ele fosse se rebelar contra a Federação, por isso era necessário que ele encontrasse um modo de solucionar o problema sem envolver o seu atleta mais promissor, o que significava que as coisas tinham que ser fixadas na raiz do problema.

Havia uma ideia se formando na cabeça de Vladimir, e com a vinda de um dos motivos daquele problema para a Rússia, a Federação poderia dar as suas boas vindas da melhor forma que sabia, porque se havia alguma coisa para ser resolvida, tinha que ser agora antes que os problemas aumentassem ainda mais.

O presidente respirou antes de pegar o telefone e fazer a primeira ligação.



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