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História Hinokami Kagura - Uma chama que não se apaga


Escrita por: Vagabundomaster

Notas do Autor


[leiam as notas finais se estiverem curiosos sobre algumas clarificações!]

Ia lançar esse amanhã, mas rolou uma putaria no trabalho e agr eu tô com o turno da tarde pelo resto da semana; o que significa que n vou poder revisar os capítulos restantes. Devo tá postando eles no domingo, entretanto :v
É mané, tamo aqui.
Espero que gostem, vejo vcs lá embaixo.

Capítulo 56 - Uma chama que não se apaga


Fanfic / Fanfiction Hinokami Kagura - Uma chama que não se apaga

 

Uma Lua Superior… Caiu.

Doma não conseguia explicar exatamente como essas palavras soavam mais e mais estúpidas toda vez que ele repetisse-as em sua mente, olhos focados no corpo decapitado de Akaza tremendo e tropeçando como uma galinha zonza.

As Luas Superiores, 6 deles…

Eles são o pico da força e do poder, os verdadeiros deuses que os patéticos humanos deveriam adorar e beijar os pés, temidos e realizados em templos! Apenas tentar imaginar qualquer um dessas divindades centenárias que compõe o panteão do Mestre caindo pelas mãos de uma espécie tão abaixo deles—literalmente o gado do qual eles se banqueteiam em seus salões—, é idiótico, quase revoltante.

Mas havia acontecido diante dos seus próprios olhos arco-íris.

O terror que o fez sorrir foi o mesmo que arrancou o sorriso de seu rosto imediatamente, um gelo que não era seu subindo por sua espinha, o loiro não podendo ligar isso à atmosfera que estava tão quente quanto as malditas Ilhas do Sul. O que ele viu não é um truque ou ação do calor, se isso é possível de qualquer modo.

Deveria ser impossível, não deveria ser real.

Mas ali estava Akaza-chan, sua cabeça rolando pelo chão em uma poça sangrenta, olhos esbugalhados e cheios de fúria encarando as costas do homem enfermo que havia destronado-o.

E ele estava voando na corrente, se desintegrando.

Não… Isso não deveria ser possível.

Sua mente reagiu na ação de um forte sentimento devorador e intenso, pés impulsionando-o como uma flecha na direção do Hashira das Chamas parado e encarando o chão como uma estátua, braço erguido para trás e enrijecido com gelo duro e pontudo, adrenalina fluindo pelas suas veias como um mar violento no mísero pensamento de cortar a cabeça desse humano, rosto paralisado em uma expressão neutra de frieza assassina. Ele já matou milhares por toda sua vida, mas apenas esse humano loiro ultrajante o fez encontrar forte necessidade no ato—!!

Hyakusoku Jabara!! – o grito ecoou em ouvidos ainda zunindo pelo estrondo causado pelo ataque da Respiração das Chamas, um vulto de roxo zigue-zagando apressado e, logo que seu braço estava no alcance de rasgar a carne do Hashira das Chamas em um balanço limpo, a espada quase rachada da mulher irritante perfurou sua palma por baixo e arrancou seu braço do ombro com uma força que ela não tinha demonstrado antes. Seus olhos se encontraram, um brilho intenso de esperança e fúria líquida nas piscinas de roxo, mal importando-se com os sangramentos profusos que seus movimentos tão ousados tinham a garantido. – Você não vai tirar mais nada de mim, oni! – e, alimentada pela raiva feroz, a Hashira começou a estocar a lâmina sem nenhum escrúpulo, seu objetivo claro em afastar Doma o máximo possível do Hashira das Chamas.

Saia da minha frente, mulher! – Doma gritou, sorrindo loucamente com essa vertigem que o está fazendo sentir tantos sentimentos diferentes; raiva pura, desespero, terror.

Já ela lutará com tudo que tinha a oferecer, a Respiração de Concentração Total Mestra energizando suas artérias com a vitória do milênio para a Corporação de Caçadores. Pela primeira vez em séculos, um Hashira cortou a cabeça de uma Lua Superior.

… Ela não ia deixar essa vitória digna de ser recontada em livros se transformar em um ato de última resistência, mesmo que seu coração rasgado sussurrasse palavras contrárias!

No céu de sua boca, tentando não deixar uma lágrima escapar enquanto focava-se em manter a Segunda Lua o mais longe possível de Rengoku, ela sussurrou;

Viva, Kyo-kun… Por nós.

Akaza—

Força… Ele queria ficar mais forte. Ser o mais forte.

… Ele não quer morrer aqui, ele não quer morrer agora. Essas costas desse homem enfermo, desse homem agora tão fraco e que mal pode se manter de pé, não serão as costas do seu último inimigo.

Ele se recusa a deixar isso acontecer.

Ele vai ficar mais forte…

Por algum motivo—por algo, por alguém?—ele tem que ficar mais forte…

Ele não vai desaparecer ao vento. Ele não vai morrer.

Não agora. Nem nunca.

Não enquanto ele não ficar mais forte para… poder fazer…

Alguma coisa…

Rengoku—

O mundo enegrecido era… estranho. Ele sabia que ainda estava de pé; que segurava sua espada; que sangue escapava de tantas e tantas partes diferentes do seu corpo que uma vez foi impenetrável.

Mesmo tendo noção de tudo isso, era como se ele estivesse em outro lugar—mais calmo, mais bem iluminado, mais bonito do que um mundo onde toda a extensão é a cor de um negro total, até os tão comuns flashes de luz que passam pelas pálpebras fechadas estavam ausentes.

Quando ele “piscou”, ele encontrou-se nesse lugar que ele descreveu simploriamente.

Era uma pequena caverna iluminada apenas por uma pequena fogueira—significando que sua Nichirin vermelha estava fincada em um amontoado de madeira cercada por pedregulhos e cascalhos, vários filés amadoramente cortados de carne de javali espalhados por sua extensão—, uma pesada folhagem na frente da entrada impedindo que gotas de água e o vento frio entrassem… Assim como os onis.

– Às vezes eu não te entendo. – havia outra pessoa com ele. Virando-se, ele encarou a menina apenas um ano e meio mais jovem que ele, cabelo curtinho na altura do pescoço pintado com um vibrante violeta no fim de suas mechas soltas, espada sentada ao lado e um olhar questionador pesando suas ametistas. – Você quer ser o mais forte de todos, mas você se joga em toda e qualquer situação de perigo que aparece em sua frente, desconsiderando chances de sobrevivência e cenários de perda e ganho. – o olhar dela se moveu desgostosamente para o braço esquerdo enfaixado dele, sangue seco pintando as camadas superiores do membro lacerado e com diversas contusões.

Essa é a Seleção Final, ele não deveria estar pulando por aí salvando todo mundo; estava custando muito a ele mesmo...

Rengoku, entretanto, respondeu antes de propriamente pensar.

– É isso que os fortes fazem—não nos importamos se somos mais fracos ou mais fortes do que os nossos inimigos. Damos tudo de nós mesmos para proteger os inocentes!

– E se isso te matar? Se você morrer, não só o mundo perde um caçador capaz, mas o oni mata todo mundo presente, até mesmo fortalecendo-se comendo seu cadáver. E então?

– Então eu peço mil desculpas por minha carne ser muito dura!! – ele curvou-se violentamente.

– Isso não é resposta! – ela brigou, qual Rengoku respondeu apenas com uma leve risada.

– Bem… Então não há o que eu possa fazer. Eu vou lutar com o meu máximo e, se eu tiver que morrer, será por qualquer um mais fraco que eu, a qualquer hora que precisarem! – sua voz pesada e decidida carregava toda a determinação flamejante de um jovem de 14 anos.

– Mas e as pessoas que se importam com você—eu digo: amigos, parentes, filhos… esposa.

Rengoku já ia responder, mas sua boca travou levemente, a pergunta batendo nas paredes de sua mente e o fazendo pensar em um inquérito válido qual ele não tinha se feito antes. O que será dessas pessoas que são tão, supostamente, importantes para ele quando ele morrer lutando? Elas vão ficar tristes, entrarão em negação? Ficarão como seu pai que, anteriormente uma lenda, agora um homem que não reconhece a vida e a perde bebendo e olhando para o nada, ansiando por dias passados…? Ainda mais esses últimos dois pontos que Shinobu deu.

A garota o observou com ambas mãos abaixo do queixo e cotovelos contra as coxas, deleite escondido por trás de um rosto emburrado enquanto apreciava o rosto contemplativo do garoto.

Um rosto que foi tomado por um quente e pequeno sorriso, olhos cheios de resolução.

– Eu só vou querer uma coisa: que eles não me vejam como alguém fraco.

Isso… pegou Shinobu de surpresa.

– Qual é o problema de parecer fraco, em?! – a voz dela saiu com um pouco de irritação, mais curiosidade do que qualquer outra coisa. Não que ele fosse deixar barato.

– Não foi um ataque pessoal, acalme a bunda, mulher! – ele prontamente desviou de uma pedra que acertou a parede atrás dele com um baque ressoador, uma risada escapando de si antes que ele silenciasse-se novamente, deixando o silêncio calmo cair apenas por alguns momentos antes de começar a falar, encarando sua espada flamejante na fogueira. – Porquê… porque se eles virem o mais forte caindo como um fraco, então por que continuar tentando? Um samurai quando de pé e empunhando sua espada é um herói, mas de joelhos ele é um homem. Eu acredito que, para inspirar aqueles que se importam comigo—o filho que tenta ser como eu, a esposa que eu tanto amo e até mesmo o vilão que desintegra-se diante de mim—, morrer como um simples homem é levar comigo para o outro lado tudo que inspira a filosofia por trás de “Ser o mais Forte”, e se outros não tiverem essa inspiração para tentarem ser o mais fortes que eles puderem… Então eu vou ter falhado completamente. – seu sorriso então levantou-se, ombros firmes e braços cruzados. – Mas, caso eu consiga em minha morte inspirar alguém a continuar seguindo em frente para proteger os mais fracos com tudo que eles têm, então eu sempre serei vitorioso, não importa meu destino!

Shinobu acenou lentamente em admiração disfarçada, remoendo as palavras dele em sua mente por alguns momentos antes de, remexendo em sua bolsa medicinal, respirar profundamente.

– Isso… soa bem como você.

– Ei, que decepção é essa, Shinobu? Você vai chorar se eu morrer, por acaso?

– O quê? Eu, chorando por você?! Você enlouqueceu de vez?! – a risada de Rengoku ecoou longe, especialmente por causa do tom rubro que tomou o rosto da garota esquentadinha. – Vem cá, tá na hora de trocar essas bandagens, Kyo-kun. Ah, e nem pense em fazer aquele negó—

– Eu sempre respeito a minha médica! – e, sem escrúpulos, ele arrancou as bandagens com um puxão poderoso, não tomando um momento antes do machucado reabrir.

– POR QUE VOCÊ SEMPRE FAZ ISSO?!

– VOCÊ AINDA ESTÁ TREINANDO SUA SUTURA, ENTÃO ESTOU TE DANDO TODAS AS OPORTUNIDADES POSSÍVEIS PARA MELHORAR, SHINOBU!!

E então o mundo desapareceu e tudo que o deu boas-vindas foi escuridão…

Mas, ainda que nessa escuridão infindável, Rengoku firmou suas pernas no chão e segurou a espada com tudo que suas mãos fracas e esfoladas permitiam, impedindo-a de escorregar para fora de seu alcance, lábios prensados com força. Shinobu ainda estava lutando sozinha contra aquele outro oni, o 2° Superior, cair de joelhos e lentamente apagar aqui como uma brasa fraca no meio de uma nevasca não é o que o velho Hashira das Chamas, Rengoku Kyojuro, pretende! Ele não viveu uma vida inteira bradando sobre força para deixar alguém mais fraco do que si para sua sorte, mesmo aqui, no final!

Travado e respirando todo o ar que seus fraquejantes pulmões pudessem aguentar e assim acelerar o seu coração em suas últimas batidas, Rengoku virou-se na direção dos sons de metal e presença demoníaca, já preparado para avançar—

Entretanto, a presença estava diante dele.

Não era um clone de gelo ou o próprio Doma… Ele reconhece essa presença na própria carne!

De dentes embebidos de sangue apertando uns contra os outros, Rengoku defendeu o melhor que pôde o punho de Akaza, seus pés quase cedendo quando a explosão de golpes desconexos choveram em si. Como ele ainda estava vivo?! Ele cortou sua maldita cabeça com uma Nichirin!

Incrédulo, o Hashira das Chamas cego custou para seguir os movimentos lentos e complexos, porém ainda extremamente poderosos de Akaza que tentavam loucamente acertá-lo, vários golpes passando pelos lados e arrancando fios de cabelo, criando cortes profundos em sua carne mal tratada ou tirando seu equilíbrio com um osso que se desfez.

Desafiando a realidade, ambos estavam de pé.

Rengoku queimou até o fim, Akaza perdeu a cabeça.

E, ainda sim, quando a mão da Lua Superior 3° tentou explodir sua crânio com um punho voraz, nenhuma chama presente na lâmina tomada por uma cor carmesim pulsante, Rengoku rangeu os dentes e cortou o braço da Lua diagonalmente em dois pedaços, exatamente como o primeiro golpe dessa luta…

Com extrema facilidade….

Ele cortou o braço do demônio com enorme facilidade; o braço que não se regenerou.

Em sua dor lancinante, o oni só conseguiu atacar mais e mais. Por sua vez, como um fósforo apagado, Rengoku não conseguia mais respirar para criar qualquer tipo de técnica da Respiração das Chamas, tendo que sofrer cada golpe de frente sem o anestésico adrenalinogênico…

Cada golpe ameaçou colocá-lo de joelhos.

E, ainda sim, ele recusava-se a cair como um fraco!

Seu coração quer parar de bater… Mas até o fim, até que não haja mais perigo…

Ele vai queimar, mesmo apagado!!

Tanjiro—

Ele ignorou uma Kanao de olhos arregalados e que, subitamente, saiu correndo na direção de alguma coisa. Ele ignorou o mundo em chamas, os gritos, os cheiros nocivos, a dor pelo corpo…

Tudo foi ignorado a favor da luta na lama de seu mestre contra o oni sem cabeça.

Seus olhos refletiam nada além dessa fúria escrita em magma, espada tão apertada entre os nós de seus dedos que, se ele não tivesse cuidado, eles começariam a sangrar. Mas ele não se importava!

Lá estava seu mestre, uma lenda prezada como um semideus entre homens… Negado a vitória por uma súbita mudança de regras. Por que todas as vantagens são dos onis?! Até agora, cortar a cabeça é morte—ele matou um trem cortando sua cabeça, pelo amor de Kagura—, só que os onis, por conveniência, mudam essa regra, removendo uma de suas únicas fraquezas?! Não! Ele se recusa a deixar isso sair impune!! Seus olhos piscaram para as nuvens que preguiçosamente se clareavam, talvez a única coisa que ainda, supostamente, estava do lado dos humanos.

Mas o tsuguko das chamas não era 100% burro…

Ele sabia muito bem que não era forte o suficiente para chegar lá e começar a atacar indiscriminadamente a 3° Lua, servindo mais como um estorvo atrapalhando Rengoku do que causando qualquer dano substancial. Ele sabia que, se chegasse perto demais do Terceiro Superior, ele morreria e então todo o trabalho todo de Rengoku-san teria sido inútil…

Então—

Chamas sem descrição nasceram em toda a extensão do fio de sua Espada do Salgueiro quando ele a trouxe para trás, pulou um passo e então a lançou como um arpão…!! Acertando o oni diretamente através do peito, impedindo-o de erguer-se totalmente do chão e assim tropeçar de joelhos.

Ele vai dar toda ajuda que ele pode!

RENGOKU-SAN, O SOL ESTÁ NASCENDO!! – ele gritou para seu mestre no topo dos pulmões.

O Hashira não demorou um segundo para reagir. O próximo balanço de espada acertou Akaza como um machado no peito, cessando seu avanço e dando toda a abertura para que os braços fortes do Hashira das Chamas passassem por debaixo do único da Lua e, violentamente, puxasse ele consigo para trás, deitando-se no chão e segurando o oni estendido como um sacrifício encima de uma mesa de pedra, suas pernas separando as dele e as prendendo juntamente da chave de braço.

Cada membro de Akaza foi incapacitado com sucesso, a faca que era o Sol subindo preguiçosamente através do azul-claro do céu.

Mas o oni lutou. E ele lutou com tudo.

Em um momento, um dos cotovelos dele se soltou de seu aperto e, como uma maldita rocha caindo em uma parede de vidro, conectou-se com o lado direito do seu abdômen, destruindo os ossos e rasgando a carne, seu cérebro balançando e sangue subindo através de sua garganta procurando pela saída mais rápida, o oni logo contido novamente pelo loiro. Os pés enlouquecidos da Lua puxavam com tudo, se debatendo tão furiosamente que o próprio chão rasgava-se embaixo de seu fraquejante corpo humano, as tentativas animalescas de soltar-se do captor apenas aumentando enquanto a frieza da manhã começava a desaparecer.

O SOL ESTAVA PERTO, ELE PODIA SENTIR…

VOCÊ VAI MORRER AQUI, DEMÔNIO! VOCÊ NUNCA VAI FUGIR DE MIM!! – Rengoku gritou, uma força brutal vinda diretamente dos confins da natureza humana segurando aquela criatura pestilenta.

SÓ…

MAIS…

UM POUCO!!

Segundos tornarem-se horas, cada momento segurando essa força da natureza destruindo ainda mais seu corpo implorante por qualquer descanso da dor interminável.

ELE VAI VENCER…

ELE VAI FAZER ESSE MUNDO UM LUGAR MELHOR!

ELE VAI DEIXAR SUA MÃE ORGULHOSA!

ELE VAI CRIAR UM MUNDO BOM PARA SUAS CRIANÇAS!!

Barulhos de rachadura começaram a encher o ar, Rengoku esforçando-se o máximo que seu corpo queimando com adrenalina o permitia—!!

APENAS

MAIS

UM POUCO!!

Do fundo de sua garganta, músculos moendo um conta os outros, Rengoku soltou o grito mais selvagem e determinado que ele podia criar naquele momento—

E então—

De repente, o oni explodiu, sangue voando para todos os lados e enriquecendo ainda mais o cenário de morte e destruição daquela campina que antes era verdejante, agora um cenário marrom e negro de guerra. No ar, o cotoco que era o corpo de Akaza—sem pernas, braços e cabeça—, rapidamente regenerou três dos membros, apenas o braço cortado pela espada de Rengoku não voltando ao normal, rodopiando e caindo com os joelhos dobrados…

E então ele correu.

Para a floresta.

Para qualquer segurança.

Para longe do Sol

Para longe da batalha.

As pernas de Tanjiro o fizeram se mover antes de qualquer coisa, olhos arregalados, corpo tremendo com uma ira que ameaçava derretê-lo caso ele não a liberasse de imediato;

COVARDE!! VOLTE AQUI E TERMINE DE LUTAR, SEU COVARDE!

As palavras ecoaram pela floresta e caíram em ouvidos surdos, olhos encarando a verdejante escuridão destruída e desmatada com uma efervescência trovejante, sua voz ameaçando rachar com a potência dos sentimentos dolorosos.

Mais atrás e mostrando ao mundo um sorriso falso de animação, Doma observava o garoto gritando enquanto defendia e esquivava dos ataques de Shinobu com facilidade, o cansaço extremo pintando seu rosto fino, o oni andando a centímetros de distância da luz do Sol que cobria o terreno com morte abrangente em um ritmo certo e lânguido.

RENGOKU-SAN LUTOU COM TUDO QUE ELE TINHA, NA PIOR DAS SITUAÇÕES! ELE USOU TUDO, ELE QUEIMOU TUDO QUE PODIA QUEIMAR!! E VOCÊ AINDA OUSA IGNORAR A MORTE, IGNORAR UMA DAS NOSSAS ÚNICAS VANTAGENS?! NÓS LUTAMOS CONTRA VOCÊS SOB A LUZ DA LUA, NUNCA REGENERAMOS O QUE PERDEMOS, COM ARMAS QUE QUEBRAM DIANTE DE UM PEQUENO ERRO!! E VOCÊS AINDA TIRAM UMA DAS NOSSAS ÚNICAS VANTAGENS?! COVARDES!!

De olhos fechados e soltando lágrimas grossas e ácidas que mais doíam nele do que qualquer coisa, Tanjiro não havia notado o oni poderosíssimo parado diante dele.

NINGUÉM MORREU HOJE! TODOS DO TREM SOBREVIVERAM, ELE CORTOU A CABEÇA DE UM DE VOCÊS!! COVARDES, MALDITOS ONIS PERDEDORES COVARDES!! ELE VENCEU E VOCÊS PERDERAM!! MEU PAI... meu p-pai... ELE VENCEU!

Abrindo seus olhos, ele notou com uma alienígena bravada a Segunda Lua Superior parado no limiar da sombra e da luz solar há meio metro dele, sorrindo com emoções tão curvadas quanto seu sorriso enquanto abanava-se sem importar-se com o mundo ou seus alicerces.

Nós vamos voltar, garoto.

E ele havia desaparecido, a lâmina de Shinobu silvando como uma abelha ao penetrar em casca de árvore e nenhum oni meio momento depois, a força do golpe dobrando a arma como um pão e—!! Um crack ecoou. Bufando e suando tensa, sangue quente escorrendo pelo seu rosto, ela abaixou a lâmina quebrada com olhos arregalados e injetados de sangue. Mais um pouco, talvez alguns poucos segundos lutando, e o calor corporal teria incinerado o coração dela até virar pó.

Mas Tanjiro não se abalou.

No topo de seus pulmões, com olhos arregalados e enlouquecidos, seu haori branco destruído balançado no ritmo do vento quente da manhã, ele gritou;

POIS QUE VENHAM!! NÓS VAMOS MATAR TODOS VOCÊS!!

Infelizmente, seus gritos não alcançaram nenhum dos onis, o Sol assegurando a área.

Pássaros estavam cantando. Flores desabrochavam em lindas cores e formas. Era uma manhã tão simples, onde muitas mães estenderiam as roupas lavadas nos varais, cuidariam de seus bebês; onde pais trabalhariam, fariam compras, ensinariam algo a suas crianças; onde jovens namorariam escondidos, se encontrariam com amigos e conversariam sobre as mais diversas coisas.

Era uma manhã como tantas, tantas outras. Uma em que, para muitos, passou com o piscar de olhos que é ir dormir e acordar no outro dia, tão mesquinho quanto o anterior.

Mas, para Tanjiro que corria até sua figura de pai deitada no chão, membros demoníacos espalhados ao redor se desintegrando, foi uma noite excruciante e uma manhã cheia de dor—

– Rengoku-san… Rengoku-san!! – ele ofegou ao aproximar-se, o cheiro dele encoberto pelo de oni que velozmente desaparecia sob a ação do Sol mostrava que havia vida, mesmo que houvesse brevidade estampada em cada lado. Ele sorriu triste, lágrimas escapando de seus olhos. – E-Eu vou ir buscar Nezuko, por favor espere, Rengoku-san… por favor, espere, por favor…

E então ele saiu correndo com pressa, mal vendo o sorriso mínimo que apareceu nos lábios do mais velho de olhos destruídos—!

De repente e silenciosamente gentil, mãos delgadas agarraram sua cabeça suavemente e a levantaram, um travesseiro dos mais inesperados encontrando sua nuca. Ele não reclamou, preferindo por respirar fundo, a chama da Respiração falhando dentro do seu peito.

– Pensei que nunca mais ia sentir tais coxas nessa vida… Hum, confortável como me lembro! – ele riu suavemente, um rosto rangido e doce enquanto o sangue escapava pelos lados.

…!

Algumas gotas acertaram seu rosto, lavando um pouco do sangue residual.

– Se me lembro bem, você prometeu não chorar quando—

–… Me perdoe. – saiu tão apressado, tão cheio de emoção, a mão dela tremendo sob sua testa. As lágrimas caíram em uma velocidade assustadora e sem nenhum padrão. – Eu… Tudo que eu fiz, tudo que aconteceu—

Sua voz foi cortada pela mão dele agarrando a sua.

Queime… Mais um pouco.

– Ei… Nós já perdemos tanto, tanto tempo. Brigamos, ignoramos, reduzimos o outro a nada. Anos perdidos chafundando em teimosia, impedido pela minha própria filosofia de vida de contemplar esses sentimentos tão sensíveis que acumulavam-se em meu coração e que, vendo agora, causaram tanta dor desnecessária a nós dois... Tanto tempo perdido...

Ele respirou fundo, um som ríspido de uma bucha contra um quadro negro que fez as lágrimas dela ficarem ainda mais grossas.

– Eu pensava que, por guardar tudo, eu nunca teria nenhum tipo de fraqueza que o inimigo poderia explorar; que eu seria eternamente forte. É uma ideia tão boba, agora que eu penso. – o sorriso dele era de uma frustração resignada. – Antes, eu teria remoído o que aconteceu hoje como um completo fracasso; essas pessoas sobreviveram, mas o oni também; e agora ele vai ir caçar outros para matar. Eu teria me considerado um perdedor, e Tanjiro um ainda maior por tentar passar pano em minha derrota patética… Entretanto, nossas pequenas conversas nos últimos tempos, essa batalha e Tanjiro gritando tudo que pesava seu coração me fizeram entender um novo lado surpreendente de "força"... Meio tarde, mas antes tarde do que nunca!

Os olhos arrasados dele se encontraram com os delas, o sorriso alongando-se enquanto o dedão rígido acariciava a mão pequena dela.

– Força não existe apenas na capacidade de matar, ou de curar ou de seguir em frente além das adversidades… Há força em olhar para dentro de si e entender que nem tudo são paredes para se erguer ou fogo para queimar. E, aqui dentro. – ele apontou para seu próprio coração falho. – há um homem cheio de medo da morte; de perder suas crianças; de não ter tempo o suficiente para fazer tudo que ele sempre sonhou em fazer… E de felicidade por saber que os dizeres de seu pai não são verdadeiros, que seu trabalho é essencial e que hoje, mesmo nessa visão deplorável em que ele se encontra, nos olhos daquele garoto gentil... ele venceu. – ele sorriu abrangente, o sorriso de uma criança que conseguiu, finalmente, andar de bicicleta sem rodinhas e agora observava seus pais aplaudindo em orgulho. – Mesmo fraco, mesmo perdendo, eu venci… Eu não fraquejei em nenhum momento da minha vida, e hoje eu me sinto tão recompensado.

Ele apertou a mão dela suavemente, as lágrimas caindo pelos lados de seu rosto.

– Meu Deus... isso é terrível… me desculpe por nunca ter estado lá, Shinobu. Foi tão egoísta escolher treino acima de ajudar uma amiga que tanto precisava de mim, e eu me arrependo todos os dias disso; e então, quando você precisou do meu suporte, eu escolhi me afastar, muito teimoso para entender exatamente que errei e que te devia desculpas e conforto… Eu fui um péssimo amigo e um companheiro ainda pior. Você me perdoa? – a Hashira ergueu a mão junto da de Rengoku até seu rosto, sentindo o toque quente e forte dele na sua pele molhada pela água salgada e o vermelho da vida.

Ela suspirou pesarosamente, sentindo-se mais limpa e viva do que nunca ao dizer:

– Sim, eu… te perdoo, Kyo-kun. – ela sussurrou, o nome dançando em sua língua. – e a mim? Você me perdoa pelas atrocidades, pela injustiça… por tudo que eu cometi contra você?

Rengoku sorriu mais largamente do que ele podia nessa condição.

– Eu posso perdoar uma parte. – o sorriso dela ameaçou morrer, complexidade que a mente sagaz tentou resolver em um período de menos de um segundo, tempo que ele demorou para continuar a falar, sorrindo sapeca. – A outra… apenas se você me der um beijo. – e então ela estava brilhando tão forte quanto o Sol da tarde mais sossegada de outono, genuinidade brilhante e capaz de iluminar uma sala escura de tão bonito que devia ser ao soltar aquela risada melodiosa, balançando a cabeça sem nenhum propósito.

E, sem nenhuma palavra para adicionar, anos de dor e sofrimento, ignorando um ao outro e apenas trocando os piores dos sentimentos: tudo de ruim, para se resumir. Tudo esfarelou como pó ao vento diante de um beijo dolorosamente necessitado e feliz.

Tanto tempo perdido, tempo irrecuperável que ele gastou estando longe e desconsiderando sua vida, escolhas que ele se arrepende mais do que qualquer coisa silenciaram-se no beijo doce, familiaridade perdida preenchendo ambos com estática da mais excitante.

Infelizmente, nada disso anteriormente citado desaparece de verdade, tal é o caso do sangue demoníaco espalhado pelo campo de batalha, Rengoku sabia disso muito bem…

– Você… não beija tão bem quanto antes. – ele comentou após separar-se daqueles lábios nostálgicos dela.

– E você acha que está melhor?

– Não! Envergonhante, um homem da Casa Rengoku que não sabe beijar! Minha mãe ia me arrastar para o Distrito da Luz Vermelha a modo de me corrigir se soubesse que o primogênito dela tem a pró-eficiência de uma porta… Ambos precisamos de bastante prática!

– Minha nossa… você falou algo certo pela primeira vez na vida!

Todavia, ele decidiu apenas ficar aqui, rindo suavemente junto de Shinobu, suas testas tocando e as lágrimas dela lavando essa tristeza escravizadora para longe do seu rosto, selinho atrás de selinho enchendo seu coração de uma felicidade imensurável, nada impedindo-o de aproveitar esse momento mágico.

Tanjiro—

Ele não pode agradecer a Kanao o suficiente.

Assim que ela viu o Sol nascer, ela saiu correndo para tirar Nezuko de uma área em que a luz solar pudesse bater, efetivamente salvando sua vida e garantindo a sobrevivência da figura paterna deles.

A sua irmã, entretanto, machucou-se demais durante o acidente e protegendo todas as pessoas no trem, então ela pôde dar apenas um bule cheio de sangue—o que ele carregava agora com pressa—, antes de desmaiar de exaustão e a técnica demoníaca perdesse seu efeito.

Cada segundo longe de Rengoku-san foi preenchido de dor e tensão, passo rápido e cuidadoso para que o sangue não derramasse. Foi excruciante… mas ia valer a pena.

Rengoku-san ia ficar bem, ele ia viver para vê-lo matar Kibutsuji Muzan! Seu sorriso aumentou ao ver a Hashira do Inseto acariciando os cabelos dourados dele, um cheiro intenso de felicidade e leveza partindo dela, nenhum vestígio do pântano negro que eram seus sentimentos reluzindo nos olhos roxos cheios de brilho enfeitando seu rosto. Rengoku-san também parecia feliz, mesmo que houvesse algum entendimento triste escondido no seu sorriso—pelas Luas que escaparam, mesmo depois de cortar a cabeça de uma delas? Ele não soube e nem gastou tempo discernindo, preferindo por acelerar o passo, corpo rangendo de dor e cansaço.

– Eu trouxe o sangue, não se mexa, Rengoku-san!

– Tanjiro… É verdade? Todos do acidente sobreviveram? – sem nem esperar um momento, levado pela emoção, Tanjiro derramou o sangue sob o corpo enfermo de seu mestre.

– Todos, Rengoku-san, todos eles. Você não falhou! – Ele sorriu suavemente.

– Então meu trabalho foi completo…

Antes mesmo de alcançar a pele do Hashira, o sangue virou pó ao vento.

Um pouco dele foi lançado na penumbra e conseguiu acertar os olhos do mais velho, rapidamente começando o processo curativo por lá… Entretanto, o resto foi inutilizável, deixando furos e cortes que a Respiração das Chamas nunca ia curar propriamente por causa de suas extensões e profundidades, intocados.

O silêncio foi ensurdecedor.

Ainda não.

Continue queimando, mesmo apagado…

– Shinobu. – ele chamou a mulher de olhos roxos arregalados, ambas mãos escondendo a boca em choque e negando imperceptivelmente com a cabeça, lágrimas grossas batendo contra a represa. – Você… poderia deixar eu e Tanjiro sozinhos, por favor?

A mulher encarou a face sangrenta de Rengoku e, depois, a de Tanjiro, o corpo tremendo enquanto a mente tentava exatamente processar o que tinha acontecido. Esse transe quebrou como um espelho ao ter o dedo rígido e grosso dele acariciando a palma de sua pequena mão suave de todo trabalho preciso medicinal, olhos ametistas semicerrando com o rio de água salgada que ameaçava explodir suas pálpebras, uma barragem fraca demais para essa piada sem graça de uma situação… Seu rosto contorceu-se em uma careta e quase era audível o seu coração rasgando enquanto ela segurava a cabeça de Rengoku e a colocava no chão com todo o cuidado de um ferreiro habilidoso centrando um diamante no topo de um anel que seria usado para o casamento da rainha, um último beijo casto em sua testa.

Ela então ergueu-se do chão, tropeçando, e saiu de lá o mais rápido quanto possível, olhos queimando com essa realidade que a fez pagar outro preço grande demais.

Já Tanjiro?…

– Eu… m-me desculpa… se eu tivesse jogado com você numa sombra… – suas sílabas carregavam um tom assustado e uma culpa mortal que começava a esmagar seus ombros já cheios de um peso monstruoso.

– Não é verdade, meu garoto. – para a consternação de Tanjiro que até tentou pará-lo com palavras sussurradas, Rengoku ergueu-se do chão e sentou-se propriamente encima de suas pernas dobradas, toda a ação que antes era um hábito fútil e comum, agora exigindo o maior esforço do mundo, uma quantidade entristecedora de sangue seco e novo marcando seu corpo—especialmente aquele corte perfeito feito no lado esquerdo do peito… Um corte de espada. Quando ele prendeu aquele oni na chave de braço, ele deve ter se cortado com sua Nichirin do Salgueiro.

A sua primeira arma, a que ele carrega desde o início e que prometeu usar para destruir Muzan…

Tomada por aquele oni.

Akaza, a Terceira Lua… Seu punho fechou-se tão fortemente que as unhas cavaram na pele grossa e rígida, a ira que refletiu momentaneamente em seus olhos sendo um tipo novo para ele: ódio puro.

– No momento que eu dei início à Técnica de Maestria, eu sabia qual seria o meu destino. Eu tinha algumas esperanças que o sangue de Nezuko poderia reacender a chama no meu coração queimado, mas agora vejo que não; não são esses machucados que estão me levando, afinal… E, certamente, não é sua culpa.

As lágrimas de Tanjiro não podiam ser maiores, frustração, raiva e dor misturando-se para formar um circo de horrores onde ele era a atração principal, olhos encarando a face de Rengoku religiosamente em busca de qualquer conforto nesse inferno pessoal.

– Você gostou?

–… Do quê?

– Oras, eu nomeei minha técnica mais poderosa em seu nome, Tanjiro. – ele tentou rir, mas uma pequena explosão de sangue manchou seus dentes de vermelho carmesim, um baixo “Rengoku-san” saindo de Tanjiro. – Aquela… É a minha última lição, o cúmulo total de tudo que eu quis te ensinar durante o tempo agraciado em que pude ser seu mestre; Não há limite para até onde você pode levar sua respiração, enquanto você o fizer com todos aqueles que você ama e protege em mente—mesmo que você queime no final.” Espero que tenha sido poético, eu não sou muito bom nessas coisas, hahaha… – aprendendo com a última risada, essa saiu mais suave e leve.

Tanjiro estava sem palavras.

Como alguém assim realmente existe? Como alguém pode ir tão longe a ponto de usar uma técnica suicida e, literalmente, escolher queimar-se completamente por dentro?!

Como alguém pode ser tão forte assim?!…

– Eu te ensinei tudo que eu podia, e você aprendeu muito bem. Você matou duas Luas, meu garoto, assim como aprendeu que uma Lua Superior não morre com a cabeça sendo cortada… – ele tateou ao redor pela sua espada, encontrando-a e, cuidadosamente, colocando-a na bainha e então a passando para um mesmerizado Tanjiro. Suas mãos tremiam ao pegar o que ele pode considerar uma relíquia digna dos mais incrustados templos onde os próprios deuses usariam com honra para defender o Paraíso dos Guerreiros da escuridão. – No final, entretanto, algo aconteceu com minha espada. Eu não sei o quê, mas tornou cortar os membros do oni muito mais eficiente…Você poderia?

Complexado e com a mente latejando, Tanjiro puxou a lâmina apenas um pouco de dentro da bainha, observando com fascínio sua nova coloração carmim pulsante.

– Ela está… carmesim. É muito profundo.

– Entendo. De algum modo, Nichrins ficam carmesim e cortam onis mais facilmente… Deixo esse mistério para você resolver, assim como te deixo minha espada, Tanjiro. – seu sorriso alargou-se, um único segundo de silêncio antes de, lentamente, curvar-se diante do discípulo formado. – Por favor, viva de cabeça erguida. Não deixe minha morte parar seu avanço; o tempo não vai esperar, Tanjiro, e você não está ficando mais jovem. Você viu hoje o que a Respiração levada ao limite pode fazer… e eu tenho certeza de que você vai me superar ao ponto daquilo parecer fraco! – um sorriso doce pintou seu rosto. – É claro, lembre-se de descansar um pouco ao longo do caminho, aproveite a vida junto daquela garota que, formalmente, dou minha permissão para ser sua esposa; não termine como eu, que deixei tudo isso pro final… Mas, quando for a hora, use essa espada para fazer o mundo um lugar melhor; salve todos que você puder e aniquile Muzan… Como seu mestre, é tudo isso que eu te peço, Tanjiro Kamado-Rengoku.

Não pare agora, ainda há o que falar…

O corpo dele tremeu com uma eletricidade estranha, a mente que não colocava fé na situação diante dos seus olhos finalmente acordando e entendendo a contragosto. Em melhores palavras, a ficha caiu: Rengoku-san… está morrendo.

O mundo tornou-se, de repente, muito assustador e muito escuro, esse conceito louco e estrangeiro penetrando fundo na sua cabeça… E as lágrimas só aumentaram, o jovem fechando os olhos e curvando-se também.

– E-Eu… Eu prometo! Mas… eu não sei se consigo, Rengoku-san…

– Você pode falar isso agora. – a mão dele viajou ao redor e tateou o lado de sua cabeça, subindo para fazer um cafuné em seus cabelos. – Mas logo mais você estará nesse caminho justo; você é cabeça-dura desse jeito… e mais parecido comigo do que pensa! Hahaha… Agora, agora, ah… Venha cá, Tanjiro.

O gelo na garganta dele começou a derreter ao abrir os olhos, braços fracos e abertos convidativamente o dando salgadas boas-vindas, chamando por ele e prometendo coisas que sua mente quase adulta julgava juvenis, sem sentido…

Mas ele não se importou e, querendo correr para longe dessa situação terrível, ele se jogou dentro dos braços do Hashira com notas de desespero, apertando suas costas com força enquanto que as mãos calmas e fracas dele fechavam-no com leveza.

Naqueles braços ele imaginou que, de algum modo, ele acordaria desse pesadelo apavorante para o intricadamente belo cenário dos jardins floridos de treino da Mansão Rengoku, durante uma manhã quente e ventosa onde seu mestre, pacientemente bebendo cerveja e observando as nuvens, estaria lendo preguiçosamente as cartas sobre seus deveres mais diversos como Hashira como ele sempre fazia… E então ele ia olhar em seus olhos, sorrir, acariciar seu cabelo e dizer; “tudo está bem, voltamos a treinar daqui há pouco”.

Ainda sim, o cheiro de sangue persistiu, suas lágrimas aumentando.

Não havia escapatória…

– Você vai ficar bem, meu garoto. – ele ergueu a cabeça, sentindo o Sol aquecendo sua pele demarcada por vermelho, a mente nublada e o corpo perdendo os sentidos. – Você e sua irmã.

– Não, por favor, não… você também não… Eu não quero perder outro pai, Rengoku-san. – ele sussurrou fracamente, essa situação toda sendo demais para ele.

– Eu daria tanto para poder ver o rosto de você e Nezuko só mais uma vez… Mas isso não é possível, certo? O que um homem como eu tem pra dar agora? – ele riu docemente. – Então, eu estou relembrando daquele seu sorriso que você me deu ao voltar pra casa após a Seleção; a animação de Nezuko quando ela te abraçou, e a felicidade que compartilhamos. – ele parou por um momento, a voz morrendo e as memórias falhando, lágrimas despencando dos olhos em processo curativo. – … Aquele momento foi tão cheio de emoção. Me fez sentir vivo de verdade… Orgulhoso de vocês.

Não, não, não…

– Estou tão feliz por poder ter sido igual à minha mãe, eu gostaria de te contar. Ela morreu acreditando que o filho dela era o seu maior orgulho… não é mentira que eu não usei meu tempo da maneira mais efetiva, e não fiz tudo que eu queria fazer, também… Mas, agora que eu revejo minha vida, eu posso apontar as medalhas que colecionei com um sorriso; te ensinei tudo que eu podia, fiz um homem de um garoto—

– Por favor…

– Vi você e sua irmã crescerem em duas lindas crianças—

Fique comigo, por favor.

Só mais um pouco…

– E agora parto sem nenhum arrependimento pesando meu coração, deixando para trás um legado em ensinamentos; um menino bondoso e poderoso e uma esperança para uma aflição que desolou o mundo por tempo demais… – suas mãos ficaram fracas, a força por trás do abraço o escapando. – Eu fiz o mundo, mesmo que apenas um pouco, um lugar melhor. Eu fui forte… até aqui, no final. Você estaria orgulhoso de mim, como eu estou de você, Tanjiro? – suas mãos caíram no chão, as costas batendo silenciosamente contra a grama queimada.

O sangue de Nezuko, finalmente, curou-o apenas o suficiente para que um único olho nublado abrisse-se e visse, além do ombro de seu tsuguko trêmulo e derramando pesadas lágrimas, no horizonte que o Sol pintava de ouro, um brilho de branco.

Eu te amo… – o garoto implorou de um modo abstrato, mas que fez todo o sentido para ele.

– Eu sei, meu garoto. Eu sei…

Não há mais nada que ele possa queimar.

Sim… é o suficiente.

É hora de passar a tocha para ele…

Não é mesmo, mãe?

– ... Obrigado. – e, sorridente como uma criança, ele confortavelmente deitou sua cabeça no ombro do avermelhado, onde lá fechou os olhos para ter algum descanso muito merecido.

————

Não demorou nada para que, ao redor do Japão, duas notícias mudassem completamente o modus operandi da Corporação de Caçadores de Demônios. Alguns dos pilares reagiram com olhares de espanto, lágrimas pequenas recuando de seus olhos. Outros rezaram pela alma bondosa que deixou esse mundo. Outros, irritados, fecharam os punhos e foram treinar, murmurando ódio no céu da boca. Alguns esconderam seus sentimentos por trás de indiferença.

Apenas uma chorava tão penosamente quanto a chuva que apagava o fogo e derretia o gelo residual dessa luta épica, preenchendo buracos com lama e lavando sangue.

O palco dessa guerra das guerras rapidamente desaparecia; o mundo seguia em frente, sem esperar pelos três caçadores que sobreviveram o encontro mais brutal e influente dos últimos dois séculos.

A 3° Lua Superior teve sua cabeça cortada, mas ela não morreu.

Kyojuro Rengoku, o Hashira das Chamas, faleceu.

 


Notas Finais


Deixe o seu F nos comentários pelo nosso homem.


O Rengoku desenvolveu a marca em questões simbólica acima de tudo, dizendo "do mesmo jeito que Tanjiro e Nezuko são da minha família, eu sou da deles", e ela surgiu por algo parecido como a marca passando para espadachins poderosos próximos de um detentor da marca. Vínculo familiar q n tá na obra e eu tô criando aqui e tudo mais, vou utilizar lá na frente ;3
A nichirin é pq ela é pika dms--e pq o Rengoku teve de morrer para ativá-la naturalmente, dando veracidade a tudo que ele disse sobre o Tanjiro estar ultrapassando-o rapidamente.
Então, sem romance do Rengoku x Shinobu? O nome é "Tragédia Grega", prazer :v
Que personagem lindo e incrível de escrever time. Se vcs manjam da escrita, recomendo darem uma tentativa em escrever o Rengoku; dá uma puta animação escrever os trejeitos, a quantidade líquida de fodelagem dele e as relações que ele pode ter com outros personagens. É simplesmente bom demais.
Vejo vcs daqui um tempo!
Vagabundo fora.


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