Hoje é segunda feira, não tenho coisas boas pra falar de ontem, está escancarado na minha cara que foi um dos piores dias da minha vida, senão o pior, meus olhos ainda estão inchados de tanto chorar.
No relógio marcam exatamente 6:40, hoje irei para a escola mais cedo, evitando ter que sair junto com o Paulo, sinceramente estou sem saco nenhum pra ver a cara de ninguém, mas é inevitável de qualquer forma.
Levantei da cama querendo morrer, fui para o banheiro escovar os dentes e tomar um banho, acordei totalmente suada, o calor está difícil de se lidar por esses dias. Liguei o chuveiro no morno e prendi o cabelo para não molhá-lo, depois do banho apenas fiz um rabo de cavalo e passei base nas olheiras, o uniforme já estava em cima do banco da penteadeira como eu sempre deixo na noite anterior, vesti e calcei os sapatos, olhei novamente para o relógio, 07:15.
Fui para a cozinha e abri os armários, novidade: não tinha absolutamente nada que fosse um pouco menos calórico ou gorduroso. Bufei.
Abri a geladeira, peguei uma maçâ e saí de casa com a mochila no ombro direito como de costume. Segui o caminho com fones nos ouvidos e mordendo cada pedaço da maçã devagar para não ter uma indigestão, já que a minha vontade de comê- la era 0.
Ao chegar na escola, Firmino assustou-se ao me ver tão cedo.
- Caiu da cama hoje, Santa Diabinha?
- Eu sequer dormi essa noite, serve? - Sorri tentando ser simpática, mas acho que foi fail.
- Você não parece muito bem, mocinha, aconteceu algo? - Ele perguntou com sua voz doce e bem humorada como sempre.
- Vai ficar tudo bem. - Sorri novamente para ele enquanto jogava o resto da maçã no lixo.
Veja só, a sempre atrasada hoje foi a primeira a chegar. Pensei.
O segundo a chegar da minha turma foi Daniel.
- Perdi alguma coisa? - ele sentou-se ao meu lado no banco.
- Acho que fui eu quem perdi. - Sorri.
- Você parece triste. - Ele levantou meu rosto com os dedos me fazendo encará-lo.
- Ele é um idiota. - Disse a primeira frase que veio à minha cabeça.
- Mário?
- Paulo também.
- Pode contar se quiser.
- Eu prefiro esquecer mesmo.
- Como quiser. - Ele sorriu tirando a mão do meu rosto.
Pouco tempo depois o pessoal foi chegando, inclusive Ally e Paulo, que me fuzilou com os olhos por eu não chamá-lo.
Mário, que juntamente comigo, Paulo e Ally tinha a fama de "atrasado", foi um dos últimos a chegar, e olhou para mim esperando alguma reação minha, virei-me para Daniel e o ignorei completamente.
- Vamos para a sala?
- Já?
- Sim.
- Oi gente! - Marga chegou atrás de mim e me assustou.
- Oi amiga! - Nos abraçamos.
- Eaí Marga! Tudo bem? - Daniel lhe cumprimentou.
- Beleza! Só quero dar uma alegrada na Marce hoje, ela tá muito murchinha.
- Margarida! - falei fingindo ter me irritado com o comentário.
- É ou não verdade, Dan? - Ela me passou o braço sobre o meu pescoço.
- Ela parece bem tristinha hoje mesmo. - Ele disse e sorriu de lado, não era como ver o sorriso do Mário, mas o de Daniel também era confortador.
- Eu quero ir pra sala. - Falei pegando a mochila de cima do banco .
- Vou junto então. - Marga.
- Eu vou lá conversar com o Adriano um pouco, nos vemos daqui a pouco. - Daniel.
- Beleza Dan! - Marga.
- Ok Daniel, obrigada pela companhia. - Falei. Ele sorriu novamente e foi ao encontro dos garotos.
Marga e eu nos sentamos nas carteiras, eu sentei na minha e ela na de Alicia, ficamos conversando sobre coisas que me animaram um pouco, como músicas, novelas e a viagem até o sinal tocar, Alicia entrou e não gostou muito de ver Marga em seu lugar, era perceptível no olhar que ela lançou para nós, Marga apenas levantou-se e seguiu para seu lugar na sala.
Mário sentou na carteira de trás, como imaginei, obrigado Senhor, quem seria eu sem mais um dia de tortura, mesmo? Pensei e revirei os olhos.
- Bom dia, meus amores! - Disse a professora Helena ao entrar na sala e deixar seus livros sobre a mesa. Como de costume, no começo do ano letivo eles trocam o horário de aula todas as semanas.
- Bom dia Professora Helena! - Dissemos todos, sem gritar como fazíamos antigamente, mas foi engraçada sua expressão quando falamos assim, era quase nostáugico.
- Estão animados para a viagem?! - Ela perguntou sorridente.
- Claro! - Todos responderam.
- Estão animados pra fazer os exercícios que eu vou passar?
-Aaaaaah! - Toda a sala cessou a animação.
- Pois vamos abrir os cadernos. - Ela disse enquanto já anotava a página do livro no quadro.
-- Quebra de Tempo --
Nossa terceira aula seria educação física, lembrei da invasão ao vestiário masculino, não pude conter o desgosto, grande perda de tempo.
Segui para a quadra junto a Marga, fomos as últimas a chegar, talvez pela minha falta de ânimo, ou porquê Marga enrolava um pouco falando sobre algum assunto aleatório enquanto caminhávamos.
- Amiga aquela abraçando o Mário não é a Iris? A do primeiro ano? - Ela disse olhando confusa para dentro da quadra.
Meu sangue ferveu, as cenas de Carmen e Mário no acampamento se misturaram a que meus olhos viam agora dele com Iris.
- Achei que ela tava dando mó mole pro Cirilo na festa. - Marga disse compreendendo o quanto eu estava chocada.
- Eu vou ao banheiro. - Falei literalmente me segurando pra não ter um ataque, entrar naquela quadra e arrancar cada fio do cabelo loiro daquela vagabunda.
- Quer que eu v...
- Não Marga, vou sozinha.
Saí andando em passos rápidos e torci pra que o banheiro estivesse vazio.
- Marcelina! - Droga, Daniel.
- Pode por favor seguir seu caminho? - Falei, já era visível pra ele que eu estava chorando.
- Não posso não! Você vai se acalmar e me contar o que houve, só estamos nós dois aqui. - Ele disse firme.
Fui para perto dele e sem pensar duas vezes eu o abracei. Ele me abraçou devolta.
- Eu to me sentindo mal. - Falei tentando me acalmar.
- Eu acho melhor você esperar aqui e eu chamar a Alicia ou a Marga, você não tem muita confiança em mim pra falar ainda, né? - Ele disse passando a mão entre meus cabelos.
- Alicia não, chama a Marga. - Falei baixo.
- Espera só um pouquinho.
Sentei no banquinho do corredor e fui secando as lágrimas na manga da blusa amarela do uniforme.
- Marcê! - Ela correu ao meu encontro.
- A Marga me disse o que aconteceu com você. - Daniel.
- Eu só preciso sair daqui. - Falei decidida.
- Ta doida? Não pode matar aula sozinha, vai pra casa? - Marga disse me olhando como se isso fosse "muuuito bizarro".
- Vamos comigo então. - Levantei.
- Acho que vai ser tortura demais pra Marcelina aguentar mais duas aulas, mesmo, Marga. - Daniel disse, ele parecia mesmo preocupado comigo. Acho que todos deveriam ter um amigo como o Daniel.
- Nesse caso eu topo ir. - Marga disse. - Mas como faremos isso?
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