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História Hold me Tight - O que você ganha por ser estúpido


Escrita por: KiitaT

Notas do Autor


Antes que vocês comessem a ler, eu queria que todos olhassem minha capa nova.
Quarta eu recebi uma mensagem que dizia mais ou menos assim "gosto muito da sua fanfic e fiz um presentinho no meu tempo livre, se você gostar ficaria feliz se usasse". E ai o que eu ganho? Exatamente, essa capa linda e maravilhosa, que ainda por cima mexe. (vocês já perceberam como eu amo gifs, né?) Nunca imaginaria nem em um milhão de anos, que alguém pudesse pensar em mim e me presentear só porque eu escrevo. Nunca imaginaria que a minha história fosse tocar alguém dessa forma. Mas eu fico feliz por ter tocado. Quando eu digo "obrigada", eu realmente estou muito agradecida. Não só às pessoas que tomam um pouquinho de seu tempo pra comentar e criar capas maravilhosas pra essa fanfic, mas também a todos os 150 (pokemons -n) que leem e favoritam. Então, muito obrigada, @okumura_isa, você que sempre me faz rachar de rir com teus comentários à lá crackfic (?), por gastar um cadinho do seu tempo pensando em mim e me dar esse presente maravilhoso. Sério, de verdade. Titia te ama. <33333

Enfim, retornando ao capítulo. Antes que vocês venham me crucificar nos comentários, saibam que eu também não estou nenhum pouco feliz comigo mesma. Enrolei horrores pra escrever isso, não porque estou desistindo da fanfic (deus me livre), mas porque eu realmente não queria ter que fazer isso. Mas isso já estava planejado antes mesmo de começar a escrever a história, então... infelizmente é um mal necessário. Tô meio séria hoje, né? HUAUHSUHAS Ok, chega.
Boa leitura!

Capítulo 28 - O que você ganha por ser estúpido


Fanfic / Fanfiction Hold me Tight - O que você ganha por ser estúpido

- Jimin POV -

Desde o momento que aceitei a mão estendida de Zelo do lado de fora daquela boate, percebi que havia encontrado nele um grande amigo. Não, mais do que isso, era quase como se fôssemos duas faces da mesma pessoa; compartilhávamos os mesmos gostos, a mesma paixão pela dança, os mesmos interesses. Eu descobrira que ele era apenas um ano mais novo do que eu, apesar de seu rosto aparentar ser bem mais jovem. Sua voz doce e quieta lhe dava a imagem de um garoto tímido, o que ele realmente era, no começo; conforme fomos nos conhecendo e conversando noite adentro, o lado risonho e brincalhão que ele escondia acabou por ser revelado. Zelo não passava de uma criança travessa que gostava de implicar com seu hyung – principalmente sobre nossa diferença de altura. Em certos aspectos, ele me lembrava Jungkook; em outros, eu podia ver um pouco de Taehyung. Era como se ele fosse uma combinação mágica e maravilhosa dos dois.

Foi exatamente por esse motivo que eu me via ansioso pra encontrar-me com ele novamente no dia seguinte e nos dias subsequentes. Eu precisava conhecê-lo melhor, descobrir mais daquela criaturinha que conseguiu fisgar minha atenção em tão pouco tempo. Estava fascinado, não podia negar. Também tinha plena consciência de que passava cada vez menos tempo com Taehyung e Jungkook, mas não podia evitar. Não era como se eu estivesse fazendo de propósito pra me vingar ou algo do tipo; sim, admito que no começo eu quis brincar com Taehyung, aproveitando-me de seus ciúmes pra irritá-lo um pouco. Afinal de contas, fora por culpa dele que eu quase cometera o pior erro da minha vida. Em contrapartida, também fora graças à ele que eu conhecera o Zelo. Então, de alguma forma, eu queria agradecê-lo. Só não arranjara o tempo pra isso ainda.

No momento eu estava servindo mesas no restaurante de Qian-noona. Hoje era um dos raros dias que os clientes preferiam comer dentro do estabelecimento do que pedir a entrega em suas casas, por isso eu trocara a bicicleta pelo bloco de anotações. Por mais que eu gostasse de trabalhar no restaurante chinês – ainda mais de Qian-noona, que sempre fora tão gentil comigo – era exaustivo trabalhar num domingo, e eu contava os minutos para que meu turno acabasse. Eu ficara tão perdido e ocupado com os inúmeros pedidos provenientes das mesas cheias do restaurante, que acabara não notando o garoto alto de cabelos róseos que entrara no ambiente; pelo menos não até que eu ficasse encarregado de atender a mesa sete, justamente a mesa na qual ele estava sentado.

- Oh, você por aqui! – exclamei, incapaz de conter o sorriso ao cumprimentá-lo.

- Jiminie-hyung. – devolveu-me o sorriso timidamente. Ah, esse garoto era fofo demais para seu próprio bem. – Não sabia que trabalhava aqui.

- Pois é, eu preciso pagar as contas de alguma forma. – ri, arrancando uma risada baixa do mais novo. – Então, Zelo, o que vai querer? – perguntei, bloquinho e caneta em mãos.

- O que o hyung recomenda? – indagou-me, apoiando os cotovelos na mesa e o rosto entre as mãos, encarando-me de forma expectativa. – Pode me trazer o seu prato favorito, eu sei que o hyung tem bom gosto.

- Tem certeza disso? Você pode se decepcionar. – brinquei, rindo, mas anotei o pedido assim mesmo. – Vai querer algo pra beber?

- Só uma água, por favor. – assenti e corri para levar o pedido até a cozinha, deixando-o sozinho até que eu voltasse com a comida pronta em mãos – a especialidade da casa – juntamente com a água. Desejei-lhe um bom apetite e apressei-me para atender as outras mesas.

Momentos mais tarde, enquanto Zelo ia até o caixa pra pagar pela refeição, aproximei-me dele a fim de me despedir antes de trocar o uniforme, uma vez que meu turno havia terminado. – O que achou da comida? Estava do seu agrado?

- Estava maravilhosa, hyung. Eu sabia que você não me decepcionaria. – sorriu, estendendo as notas para Liang, a encarregada do caixa esta noite, curvando-se levemente ao fazê-lo. Assim que recebeu o troco com um “volte sempre”, Zelo virou-se pra mim cheio de expectativa nos olhos. – Que horas o hyung sai do trabalho?

- Agora, na verdade. Por quê? – perguntei, curioso, assistindo Zelo praticamente saltitar no lugar de tanta excitação.

- Eu queria te levar pra um lugar. Podemos ir? – seus olhos brilhavam tanto que era difícil resisti-los. Eu havia prometido à Tae e Kookie que jogaria videogame com eles quando voltasse... mas eles não se importariam se eu me atrasasse um pouco, certo?

- Tudo bem. – concordei, arrancando um sorriso ainda mais largo do outro. – Me espere do lado de fora, ok? Eu preciso me trocar. – Zelo assentiu e dirigiu-se à saída do restaurante, enquanto eu ia até a área exclusiva para funcionários, onde ficava o vestiário. De volta às minhas roupas casuais, saí despedindo-me de Qian e meus colegas de trabalho, encontrando o mais novo embaixo da marquise do restaurante, emanando aquela mesma aura de cachorrinho perdido que ele tinha sentado sozinho na calçada da boate quando o conheci. Um brilho de travessura iluminou meus olhos quando tive a grande ideia de assustá-lo. O pulo que ele deu quando eu tocara suas costas repentinamente e gritara em seu ouvido fora simplesmente impagável.

- Hyung! – choramingou. – Não me assuste desse jeito!

- Desculpa. Você estava fazendo uma cara tão fofa que eu não resisti. – expliquei entre risadas. Zelo estava prestes a me acertar no braço com um golpe fraco quando fui salvo pelo toque do meu celular. A foto mostrada no visor que indicava o remetente da ligação – eu e Taehyung com as bochechas e narizes sujos de sorvete – me causou um leve aperto de culpa no peito.

- Tae-Tae? – minha saudação acabara saindo como uma pergunta entre as risadas que eu tentava reprimir.

- Você tá vindo pra casa? – eu sabia que Taehyung esforçava-se ao máximo para não choramingar, mas eu ainda podia ouvir o tom carente na sua voz.

- Hm, Tae... acabou surgindo um imprevisto e

- Hyung, vamos. Eu quero te mostrar uma coisa. – chamou Zelo, puxando-me pela mão e guiando o caminho. Deixei que ele me conduzisse, ciente de que quanto mais cedo eu visse o que Zelo estava tão determinado a me mostrar, mais cedo eu poderia voltar pra casa. Voltar para Taehyung.

- Você tá com ele, não é? O seu amigo. – indagou, sem nem ao menos tentar esconder os ciúmes na voz. Pude ouvir uma risada seca do outro lado. – Eu nem sequer sei o nome dele.

- Eu sei, foi culpa minha. – suspirei. – Aquele dia eu só não te contei porque estava com raiva por ter sido abandonado na boate. Agora eu sei que foi criancice da minha parte. Desculpa, Tae.

- Você prometeu, Jiminie. Prometeu que nunca mais esconderia nada de mim. – recordou-me, sua voz falhando no final. A lembrança me causou outro aperto no coração. Eu era um péssimo melhor amigo, não era?

- Tae-Tae, me perdoa. – implorei. Eu realmente não pretendia afastá-lo de mim dessa maneira; só estava muito animado por ter feito uma amizade nova, e acabei deixando que isso interferisse nas outras amizades. Porém, eu estava determinado a compensá-lo por tudo. – Prometo que quando eu chegar em casa, te contarei tudo sobre ele, tá bem?

- Tá bem... – choramingou, derrotado.

- Eu preciso ir agora. Te vejo mais tarde, ok? – despedi-me, incapaz de andar e falar ao telefone sem tropeçar pelo caminho. Zelo ainda me puxava impaciente pelas ruas de Seoul, iluminadas pelos postes públicos conforme a lua ia tomando seu lugar no céu. Deixei que ele me guiasse pelo caminho todo, virando esquinas e atravessando faixas de pedestres, até que as ruas antes movimentadas deram lugar à calçadas vazias e prédios abandonados. – Onde é esse lugar que você está me levando?

- Você vai ver, hyung. Já estamos quase lá. – respondeu num tom animado, olhos fixos no caminho à frente. Um sentimento estranho aflorou no fundo de minha mente, como se fosse o soar de um alarme. Estávamos perambulando por um bairro deserto e perigoso, a noite caindo rapidamente sobre nós, e meu bom senso me dizia para ir logo pra casa. De repente eu não sentia mais tanta vontade de conhecer esse lugar que Zelo mencionara.

Apenas quando uma van escura parou no cruzamento à nossa frente, homens armados e com os rostos cobertos por bandanas vermelhas saindo pelas portas, foi que eu entendi que havia caído numa armadilha. Eu me xingava internamente por minha colossal estupidez e capacidade de confiar cegamente nas pessoas, ao mesmo tempo que temia pela minha vida. Virei-me para Zelo em busca de respostas, mas antes que meu pescoço completasse o movimento, senti uma dor aguda na parte de trás da cabeça e tudo ficou escuro. 

 

Despertei sobressaltado ao som de alguém falando ao telefone. Imediatamente fui assolado por uma dor perfurante na nuca, tão intensa que eu temia desmaiar de novo. Cerrei os dentes e apertei os olhos, quase deixando um grunhido de dor escapar, mas por alguma razão eu me mantivera quieto. Por puro instinto, mantive os olhos fechados e procurei usar meus outros sentidos para entender o que estava acontecendo. Além da voz – que eu agora reconhecia ser de Zelo – sussurrando ao telefone respostas que eu não conseguia compreender, o ambiente estava quieto, mas não vazio; alguns passos abafados e cliques metálicos deduravam a presença de outras pessoas além de mim e do mais novo. Eu podia sentir que estava pendurado pelos pulsos, pois os músculos dos meus braços erguidos tremiam, protestando sob o peso do meu corpo; peso este que tinha que ser sustentado única e exclusivamente por eles, uma vez que meus pés não encontravam o chão. Obviamente que a mordida da corda sobre a pele fina dos meus pulsos também servia para dedurar minha situação.

Fazendo o possível para manter a calma e permanecer imóvel, tomei coragem para abrir os olhos lentamente; eu me encontrava numa espécie de armazém abandonado, espaçoso e praticamente vazio, com apenas alguns maquinários e contêineres de sua ocupação anterior. O luar inundava o ambiente através das janelas zenitais, um pouco filtrado pela poeira acumulada durante os anos, porém mais brilhante nos lugares onde o vidro estava quebrado. Meus olhos logo confirmaram o que minha audição já suspeitava: além de Zelo, que estava de costas pra mim abafando o telefone com a mão a alguns metros de distância, haviam cerca de seis homens, todos igualmente armados e mascarados com a mesma bandana vermelha sobre a parte inferior do rosto. Lançando um breve olhar pra cima, constatei que eu estava suspenso por um gancho preso ao teto, que suportava a corda em meus pulsos; infelizmente, o movimento denunciou meu estado consciente aos demais ocupantes do armazém, que agora tinham os olhos sobre mim.

- Yah, Zelo! O garoto acordou. – exclamou um dos mascarados, atraindo a atenção do mais novo, que virou-se para mim com o telefone ainda grudado ao rosto.

- Entendido, hyung. – despediu-se no seu tom de voz normal, já que não havia mais a necessidade de abaixá-lo. Encerrando a chamada e guardado o aparelho no bolso traseiro da calça, Zelo encurtou a distância entre nós com passos lentos e relaxados. – Dormiu bem, Jiminie?

- Zelo... – chamei, tentando sem sucesso impedir que minha voz falhasse. Minha garganta estava seca pelo desuso, minha língua áspera e estranha contra o céu da boca. – O que está acontecendo?

- Você realmente não sabe? – riu, como se achasse toda a situação muito divertida. – Será que os pulsos atados e os brutamontes armados ao redor não são dica o suficiente?

- Por que... Por que está fazendo isso? – indaguei, a gravidade da situação finalmente caindo sobre mim. Aquele não era o mesmo Zelo quieto e doce que eu conhecia; se é que esse Zelo sequer existiu. Então, quem era esse estranho diante de mim? O que ele seria capaz de fazer?

- Aigoo, não me olhe com essa cara, Jiminie. – zombou, estendendo a mão para apertar minhas bochechas entre seus dedos. – Medo é uma expressão que definitivamente não combina com você. – soltou minhas bochechas bruscamente, me empurrando um pouco no processo, o que fez meu corpo balançar como um pêndulo. As juntas dos meus ombros chegaram a estalar diante do esforço. – Você quer saber por que está aqui? Não é nada pessoal, não se preocupe. Mas você devia tomar mais cuidado com as pessoas que te cercam.

- O que quer dizer com isso? – questionei, dobrando os joelhos na altura do peito a fim de tentar parar a cinética da corda que me sustentava. Uma ideia passou por minha mente numa fração de segundo, mas Zelo puxou minhas pernas para baixo antes que eu pudesse colocá-la em prática, me encarando com um olhar que gritava “não tente nenhuma gracinha”.

- Você está ciente que uma gangue deu uma bela de uma surra no seu amigo, não? Qual era mesmo o nome dele... Jungkook? – indagou-se, pendendo a cabeça para o lado como se não recordasse muito bem.

- Você estava envolvido nisso, não estava? – perguntei entredentes, as peças começando a se encaixar na minha cabeça.

- Quem, eu? Não. Não pessoalmente, pelo menos. – deu de ombros. – Mas fui eu que vi o namoradinho do grande e temido Suga, pra começo de conversa. Sabe, Yongguk-hyung queria algo pra usar contra ele já fazia bastante tempo. Uma sujeira, uma fraqueza, qualquer coisa. E eu tinha a chantagem perfeita bem ali na minha frente. – inclinou-se, deixando a boca bem próxima de meu ouvido. – Você fica lindo jogado contra a parede, hyung. – sussurrou.

- O q-que você viu? – arregalei os olhos, incapaz de conter o rubor que coloria minha face.

- Tudo. Vi vocês discutindo, vi quando ele atacou seus lábios, vi quando você gemeu o nome dele. – o sorriso que estampava seus lábios não era nada parecido com os sorrisos tímidos que eu estava acostumado a encontrar. Estremeci, deixando que a vergonha tomasse conta de meu corpo. – Não se preocupe, eu não estava ativamente procurando por vocês. Até então, eu sequer sabia que Suga-hyung era capaz de sentir alguma coisa. Mas parece que o destino sorriu pra mim ao me colocar diante daquela cena. Assim como ele me colocou diante de você na boate. – sorriu. – Imagine minha surpresa ao reconhecer o garoto que eu vira há tantos dias atrás próximo ao clube de rap... e o pior, imaculado. Justamente quando minha gangue acabara de te encher de porrada. Só que não era você naquela noite, não é? De alguma forma Suga conseguiu nos enganar. Tsc. – estalou a língua no céu da boca, um meio sorriso ainda adornando seus lábios. – Não se deve confiar em empregado nenhum hoje em dia. Se quiser algo bem feito, faça você mesmo.

Ao proferir tais palavras, Zelo me acertou com o primeiro golpe da noite. Levei um tapa tão forte na bochecha que meu rosto chegou a virar com o impacto. Em seguida senti fortes dores no estômago e costelas, tão intensas que cheguei a ver estrelas e pontos coloridos dançarem diante de meus olhos. Meu rosto estava contorcido numa careta dolorida enquanto meu cérebro mandava comandos inúteis para que meus braços aparassem os golpes, mas nada podia ser feito. Eu apenas aceitava-os quieto e imóvel, cerrando os dentes para impedir que escapassem os gritos de dor.

- Pare! P-por fav-vor... Pare! – implorei, a queimação nas áreas agredidas tornando-se insuportável. Fechei os olhos com força, recusando-me a cair em prantos e mostrar fraqueza diante ele.

- Shh, não chore, Jiminie. – Zelo tentou me confortar, passando o dedão por minhas pálpebras fechadas a fim de secar as lágrimas que se acumularam ali, lágrimas estas que eu nem reparara que havia derramado. – Não é nada pessoal, ok? Estou apenas fazendo o meu trabalho. Olha pra mim. – quando não abri os olhos, Zelo segurou um tufo da minha franja no punho e obrigou-me a encará-lo. – Você devia me agradecer. Eu gosto de você, por isso não vou matá-lo. Mas ainda precisamos mandar uma mensagem pra Suga-hyung. Ele está sendo um garoto muito levado ultimamente. – o sorriso no rosto de Zelo era quase demoníaco. Não restava nada do meu querido dongsaeng ali. Suas palavras atraíram minha atenção, como se elas significassem algo além do que aparentavam, mas eu não tive tempo de debater sobre o assunto. Logo um punho estava chocando-se contra minha boca, rachando meus lábios e me fazendo sentir gosto de sangue, enquanto o outro encontrava minha maçã do rosto, um golpe tão forte que certamente deixaria hematomas.

Zelo agrediu-me até sentir-se satisfeito. Mais alguns socos e chutes foram desferidos por toda a extensão do meu corpo, deixando-me exausto a ponto de mal conseguir manter a consciência. Os outros ao redor apenas assistiam a cena, sem mover um músculo ou proferir qualquer som. Quando notei minha visão começar a escurecer nas bordas e minha cabeça pender baixa devido à incapacidade do pescoço de mantê-la erguida, ouvi Zelo gritando ordens ao fundo; mesmo que ele estivesse a meros passos de distância, minha mente já estava escorregando para o inconsciente. Mal notei meu corpo ser abaixado aos poucos, até que minhas coxas e costas encontraram-se com a madeira firme de uma cadeira. Meus braços ainda estavam erguidos, mas pelo menos assim eu poderia descansar um pouco. E foi o que fiz.

 

Eu não sabia quanto tempo havia passado desacordado, mas quando abri os olhos, o sol já estava alto no céu; e pra minha sorte grande, havia um raio especialmente forte que passava por entre as janelas quebradas e focava diretamente em meu rosto. Apertei os olhos numa tentativa fútil de fugir da claridade, e prestando atenção ao meu redor, notei que eu estava novamente pendurado e não havia o menor sinal de Zelo no recinto. Porém os seis mascarados ainda estavam lá, espalhados pelo armazém ocupando-se da melhor maneira que podiam, já que sua única função era vigiar o prisioneiro que, sinceramente, não tinha a menor chance de escapar. Eles poderiam até não ser os mesmos de ontem à noite, e talvez não fizesse a menor diferença. De qualquer forma, estavam todos muito bem armados.

Sem ter com o que me ocupar e decidindo que chamar a atenção desses caras e implorar pela minha vida era perda de tempo – além de uma péssima ideia – deixei que a minha mente vagasse sem rumo por qualquer pensamento depreciativo e auto piedoso que pudesse me ocorrer. O que mais me assolava no momento era o arrependimento: me arrependia de ter ido à boate, de ter conhecido Zelo, de deixar que ele me enganasse esse tempo todo. Eu sentia ódio de mim mesmo por ser uma pessoa tão inocente e entusiasmada. Eu fui imediatamente atraído pela personalidade de Zelo – que a essa altura se mostrara deveras falsa – e agi de acordo com seus planos como um ser descerebrado. Deixei que ele se aproximasse numa velocidade alarmante, fui estúpido o bastante para confiar nele, confidenciar-lhe coisas do meu passado, lugares que frequentava, onde morava, com quem morava; contei-lhe tudo sobre mim: meus medos, minhas paixões, meus sonhos. Certamente algo em sua persona denunciara suas reais intenções, mas eu fora muito cego pra ver. Tão cego a ponto de pôr em risco as próprias amizades, e pelo quê?

O mesmo sentimento de culpa que apertara meu peito horas atrás retornava agora com força total. Eu era um imbecil, um completo idiota. Eu decepcionara Taehyung, quebrara nossa promessa. Eu merecia tudo o que estava recebendo, e mais um pouco. Meu melhor amigo nunca irá me perdoar; eu não irei me perdoar. O fiz passar por tanta coisa, e... oh, Jungkook. Era exatamente desse tipo de situação que ele estava tentando me proteger. Meu coração doía ao saber que foi por essa intensa dor que ele passara, mas doía ainda mais por saber que seu sacrifício fora em vão. O que ele iria pensar, se visse o estado em que me encontro? Certamente se arrependeria de ter aceitado participar dos planos de Suga. Não... Yoongi. Meu Yoongi. O que foi que fizemos? Nunca imaginaria que ceder aos meus desejos fosse me render problemas tão grandes... Eu deveria me arrepender, certo? Me arrepender de tê-lo beijado, me arrepender de sequer tê-lo conhecido. Mas tudo que eu pensava era em como eu queria estar em seus braços agora. Yoongi...

Fui tirado de meus devaneios por uma tigela de sopa diante do meu rosto, oferecida por um dos mascarados que agora tentava enfiar uma colher por entre meus lábios. Quando percebi o que era, aceitei de bom grado o alimento quente, nem sequer me importando quando este queimava minha língua, tamanha a fome em que eu me encontrava. O recipiente estava pela metade quando a ideia que eu tivera ontem retornara à minha mente. Antes que eu repensasse meus atos e mudasse de ideia, dobrei meus joelhos junto ao peito e empurrei-o com os dois pés usando toda a força que tinha, jogando-o para o chão junto com a tigela de sopa, que espatifara-se criando uma tremenda bagunça. Ao mesmo tempo, aproveitei-me do impulso para chutar outro mascarado que viera em seu socorro no rosto, deixando-o inconsciente com a força do golpe. Eu estava pronto pra acertar um terceiro quando a inércia me alcançou, diminuindo meu impulso e tornando-me alvo fácil para os outros três que conseguiram me segurar com facilidade. Eu debatia-me sob seu domínio, mas os outros eram bem mais fortes do que eu. Enquanto um segurava minhas pernas para que eu não conseguisse revidar, os outros dois me golpeavam sem dó; a essa altura eu já tinha um olho roxo, sangue na boca e uma dor tão intensa nas costelas que eu tinha quase certeza que pelo menos uma delas estava quebrada. Não aguentei muito tempo até sucumbir à mais um sono profundo, embalado pela dor aguda dos golpes que ainda eram desferidos sobre mim.

 

Quando acordei novamente, eu tinha os olhos de Zelo travados sobre os meus. Estremeci com a expressão no seu rosto; seus lábios sorriam, mas suas orbes estavam frias, vazias. Era noite mais uma vez, porém eu não sabia se haviam se passado doze horas ou trinta e seis. Meu corpo doía tanto, que até mesmo respirar se mostrava uma tarefa difícil. Por incrível que pareça, o que mais doía não eram os ferimentos e sim meus braços, já que eles permaneceram na mesma posição sabe-se lá por quanto tempo; eu temia que eles podiam simplesmente destacar-se do meu tronco assim que eu relaxasse os músculos. Minha mente entrava e saía do estado consciente, e apesar disso ajudar a suportar a dor, também servia para me deixar ainda mais desorientado. Eu gostaria de manter a contagem dos dias, das horas que eu passava nesse lugar infernal. Eu gostaria de manter-me alerta para sempre observar o que eles faziam com meu corpo.

- Tenho boas notícias pra você, Jiminie-hyung. – anunciou Zelo, como se não estivesse me olhando como um completo psicopata agora a pouco. – Está na hora de ir pra casa.

- Não tem graça. – rosnei, fazendo uma careta ao notar que minha voz saíra fraca, quase um sussurro. Minha garganta ardia por falta de água. Não era hora pra brincadeiras.

- Não estou contando nenhuma piada. – falou sério, antes de soltar um longo suspiro cansado. – Eu já disse, hyung. Você só está aqui pra mandar uma mensagem pro Suga-hyung, nada mais.

- E que mensagem seria essa? – perguntei, sentindo-me ousado o bastante para desafiá-lo. Se eu não pudesse me defender, ao menos quieto eu não ficaria.

Em resposta, Zelo apenas sorriu, aproximando-se o suficiente para que eu sentisse seu hálito roçar minha pele a cada respiração que saía de sua boca. Ao tentar mover as pernas, notei pela primeira vez que meus joelhos estavam dobrados num ângulo esquisito, meus pés atados junto às nádegas por uma corda que envolvia os tornozelos e depois ligava-se à minha cintura. Tal realização não passou despercebida por Zelo, que alargava ainda mais o sorriso diante das minhas tentativas frustradas de escapar das amarras.

- Por favor, escute bem, pois você terá que repeti-la com estas exatas palavras. – pediu, passando a mão por meus cabelos a fim de tirar a franja dos meus olhos, assegurando-se de que tinha minha total atenção. – Nunca. Se. Deve. Foder. Com. Bang. Yongguk! – disse, pontuando cada palavra com um soco no meu estômago. Ao final da mensagem, eu já estava engasgando e tossindo profusamente. Zelo sorria com satisfação, dando alguns passos para trás com a intenção de admirar seu trabalho. – Acha que consegue transmitir o recado? – perguntou, e eu só consegui assentir fracamente em resposta. Franzi o cenho ao vê-lo fazer um sinal discreto com a cabeça, sem entender exatamente o quê ou a quem ele estava sinalizando.

Logo em seguida eu tivera minha dúvida sanada, quando minha cabeça fora envolvida por um saco preto que impedia-me de enxergar qualquer coisa além da escuridão. Eu podia sentir meu corpo sendo abaixado, e quando um par de mãos apertou minha cintura, comecei a me debater freneticamente contra quem quer que fosse, não que meu estado possibilitasse algum tipo de progresso. Dentro de instantes eu me encontrava jogado sobre os ombros de alguém com um braço forte mantendo-me no lugar. Eu tentava chutá-lo, sem sucesso algum, já que meu captor nem se dera ao trabalho de libertar meus pés, que continuavam firmemente presos às minhas costas.

Eu era transportado para algum lugar que só imaginava ser a saída. Sem conseguir ver nada, gritei por socorro utilizando todo o ar que tinha nos pulmões, mas meus gritos saíram falhados e patéticos. Pude ouvir as portas do armazém sendo abertas e um veículo entrando no local, chegando cada vez mais perto. Ouvi a porta da van correr e fui arremessado lá dentro, caindo sobre o banco de barriga pra baixo com um grunhido. Notei o veículo tremer levemente com o peso dos homens conforme eles se acomodavam um a um nos demais bancos, e a porta da frente ser aberta e fechada com um baque, seguida imediatamente pela porta de correr. Não custou para a van estar em movimento novamente, conduzindo-me rumo ao desconhecido. Uma música antiga tocava na rádio, e além dela, havia o mais absoluto silêncio. Eu realmente gostaria de ficar acordado e tentar captar alguma pista, qualquer coisa que me indicasse para onde estava sendo levado, mas essa simples tarefa parecia exigir demais do meu corpo abusado. Antes que eu me desse conta, minha consciência já estava longe demais para ser alcançada. 

A próxima coisa que percebi foi a voz suave de Zelo anunciando “lar, doce lar” ao mesmo tempo que o saco era bruscamente retirado da minha cabeça, despertando-me do meu estado sonolento com um sobressalto. Assisti impotente meu corpo ser lançado pra fora da van na calçada fria e dura, meus membros ainda amarrados em posições incômodas, antes do motorista pisar com força no acelerador e dirigir para longe, desaparecendo após uma curva. Minha cabeça latejava e meus músculos protestavam diante da dor excessiva. Olhei ao redor, desorientado, procurando descobrir onde estava antes que apagasse de novo. Meus batimentos cardíacos ficaram acelerados diante do desespero quando minha visão começou a escurecer novamente. Ao fundo, tão baixo e distante como num sonho, ouvi meu nome ser chamado não uma, mas duas vezes. Era isso. Era só disso que eu precisava para agarrar-me à consciência por mais alguns instantes. A última coisa que vi foram vislumbres de cabelos negros elevando-se sobre mim, antes que a escuridão me envolvesse de vez. 


Notas Finais


Não tenho nenhum comentário engraçado pra fazer aqui. Só... me perdoem. </3


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