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História Hold me Tight - Isso é uma competição


Escrita por: KiitaT

Notas do Autor


Olá, meus queridos! Como vão? Sentiram minha falta? :v *foge*
Enfim, eu queria me desculpar pela demora pra postar, e toda aquela balela, mas né. O que eu posso dizer, esse capítulo levou mais tempo do que eu esperava. x_x' Mas olha só que lindo, eu cheguei nos 199 favoritos e nas 199 páginas do word. Será o destino? *O* -n
Vou ficar quietinha e deixar vocês lerem, que todo mundo ganha mais. JIASJASUHSA
Boa leitura~ ♥

Capítulo 32 - Isso é uma competição


Fanfic / Fanfiction Hold me Tight - Isso é uma competição

- Jimin POV -

Os últimos dias passaram numa rotina tediosa e repetitiva. Eu estava me recuperando bem, graças ao repouso constante e aos remédios e pomadas que Jin me prescrevera, além de suas visitas esporádicas para checar meus ferimentos e ver como estavam cicatrizando. Todo dia era a mesma coisa: eu discutiria com Taehyung e Jungkook pela manhã, obrigando-os a ir pra faculdade apesar de todos os seus protestos – eu estava bem, não havia a necessidade de matar aulas por minha causa – e passaria o resto do dia sozinho, descansando, ou na companhia de Seokjin-hyung, quando este conseguia um tempo para me ver.

Numa de suas visitas, confidenciei-lhe que estava preocupado com o destino das minhas notas, uma vez que o fim do semestre se aproximava e eu ainda não podia retornar às aulas. Foi no dia seguinte que ele apareceu na minha porta com um atestado médico em mãos, justificando minha ausência com um acidente automobilístico e assinado sob um nome que não era o seu, apesar do sobrenome ser o mesmo. Quando o questionei sobre os problemas que poderia se meter por minha causa, Jin apenas sorriu daquela forma maternal e me assegurou de que tinha tudo sob controle. De qualquer forma, eu não poderia estar mais agradecido.

Um pouco relutante, mas desesperado por ajuda e incapaz de pensar numa alternativa melhor, pedi pra Tae trazer Jackson consigo quando voltasse das aulas mais cedo. O dançarino havia ficado horrorizado com o meu estado, mesmo que os hematomas que ele via agora fossem apenas uma versão mais branda de como eles pareciam quando os adquiri; Jackson, como o esperado, fez várias perguntas que eu não era capaz de responder, mas fiz o meu melhor para mentir o mínimo necessário e omitir o máximo que podia. No final das contas, ele ainda estava um pouco desconfiado, custando a acreditar na mirabolante história do atropelamento que eu havia inventado, mas concordou em me ajudar do mesmo jeito. Agora, além das visitas de Seokjin, eu recebia também auxílio nos estudos sempre que o dançarino estava disponível, enquanto tentava me preparar para as provas finais.

A única pessoa que eu não vira desde aquela noite fora Yoongi. Confesso que acordar numa cama vazia havia sido decepcionante, mas assim que meus olhos pousaram nas roupas dobradas sobre a cadeira ao lado, minha mente compreendeu de imediato o pedido de desculpas por trás do gesto. Eu sabia que Yoongi ficaria ocupado atrás daqueles que me fizeram mal, e minhas suposições foram confirmadas quando mencionei o assunto com Seokjin. O médico não fizera questão nenhuma de esconder fatos nem de omitir detalhes, e por isso eu era extremamente grato. Jin ainda fora gentil o bastante para manter-me atualizado sobre o progresso da busca, além de transmitir pequenos recados durante suas consultas, dizendo-me como Yoongi estava e o que ele estaria fazendo no momento – ainda que reclamasse o tempo todo, resmungando sobre como o loiro deveria ele mesmo vir me dar as notícias. Não que eu pudesse discordar, já que começava a sentir falta da sua voz rouca e do modo como rosnava as palavras quando estava irritado. Quem diria que um celular fizesse tanta falta na vida de uma pessoa.

Hoje era um daqueles dias que eu não tinha nenhuma consulta médica ou grupo de estudos marcado, por isso tomei a liberdade de acordar mais tarde do que deveria. Pelo silêncio do apartamento, Jungkook e Taehyung já haviam saído pra mais um dia cheio de aulas. Levantei-me e fui até o banheiro a fim de me lavar e trocar os curativos, do jeito que Jin me ensinara. Já completamente despido e com as bandagens removidas, fiz uma pausa para avaliar minha situação diante do espelho da pia. Já podia abrir meu olho direito, agora bem menos inchado e escuro do que antes, meus músculos já não estavam mais tão doloridos – mesmo que certos movimentos ainda me causassem desconforto – e as marcas que antes coloriam minha pele com os mais diversos tons de roxo e negro, agora transformaram-se em vermelhos raivosos e verdes doentios. Não consegui segurar um suspiro frustrado; eu sabia que só estava me recuperando nessa velocidade graças aos cuidados de Seokjin, mas ainda não era rápido o bastante. Eu precisava voltar pra faculdade, precisava voltar a dançar, ou toda essa inércia acabaria me matando.

Uma vez de banho tomado e vestido com roupas limpas, eu me encontrava novamente parado diante do espelho colocando as lentes de contato – já que meus óculos também se perderam em meio às agressões – antes de refazer os curativos, quando uma série de toques na campainha soou de forma insistente pelo apartamento. Pensando que talvez eu tivesse me confundido sobre o dia que teria o compromisso de estudos com Jackson-hyung, saí rumo a origem dos toques urgentes sem ao menos cobrir meus ferimentos – coisa que me causou grande arrependimento quando fui saudado por um rosto que eu não via há bastante tempo.

- Jiminie! – Hoseok praticamente catapultou-se na minha direção assim que abri a porta, envolvendo-me num forte abraço antes que eu pudesse registrar seus movimentos. – Onde você estava? Por que não atendeu nenhuma de minhas ligações? O que houve? Você está me evitando? Por que—

Suas infindáveis perguntas cessaram de imediato assim que o ruivo colocou-me à distância de um braço com as mãos firmes nos meus ombros, na intenção de me olhar nos olhos enquanto esperava por respostas, e só então reparou os machucados que adornavam meu rosto e espreitavam por baixo da gola da camiseta. Sua expressão transformou-se de um leve bico preocupado pra uma carranca horrorizada em tão pouco tempo que seria engraçado, se não fosse um assunto tão sério.

- Olá, Hobi-hyung. Como vai? – tentei desviar sua atenção com um cumprimento tímido e um sorriso fraco, mas obviamente não obtive sucesso algum. Hoseok trouxera uma de suas mãos do meu ombro para meu queixo, virando delicadamente meu rosto em diversas direções para avaliar melhor os ferimentos. Me senti extremamente vulnerável diante de seu olhar crítico, mas agora já era tarde demais – não havia como se esconder.

- Jimin... o que aconteceu com você? – questionou num tom sussurrado, quase como se tivesse medo de perguntar, ignorando completamente minha tentativa fútil de mudar o assunto. Engoli em seco, tentando não demonstrar o nervosismo que sentia.

- Hm, é que... e-eu fui atravessar a rua, e veio um c-carro e eu não vi, e... – gaguejei. Tive que controlar a vontade súbita de bater na testa devido ao meu péssimo desempenho de atuação. Eu sabia a história que devia contar de cor, havia memorizado cada detalhe pra deixar a narrativa o mais crível possível, mas por algum motivo a presença repentina do mais velho me pegara desprevenido. Dei-me conta de que mentir pra Hoseok não era tão fácil quanto mentir pra Jackson, e de certa forma isso me assustava um pouco.

- Você está tentando me dizer que foi atropelado? – indagou com a expressão incrédula, ao passo que eu apenas concordei fracamente com a cabeça, incapaz de formar palavras e temendo que minha gagueira pudesse denunciar a mentira. Hoseok riu seco, como se não pudesse acreditar na absurdidade da situação. – Eu não sou estúpido, Jimin. Muito menos cego. Eu sei muito bem que esse olho roxo foi parar ai por causa de um soco, não de um para-choque de carro. Eu gostaria que você parasse de resistir e me dissesse a verdade.

- Eu... eu não posso. – admiti com os olhos grudados no chão; a última coisa que eu queria era encontrar a decepção no seu olhar.

- Por que não? – seu tom de voz aumentou alguns decibéis num quase grito raivoso, fazendo-me vacilar diante de uma reação tão hostil. Eu nunca vira Hoseok sem um sorriso no rosto, muito menos ralhando com alguém. Era uma visão assustadora. – Por que eu não posso saber? Pensei que era seu amigo, Jimin.

- Você é. – assegurei-lhe, tentando acalmá-lo enquanto o conduzia pra dentro do apartamento e longe de olhos e ouvidos de vizinhos curiosos. Uma vez que estávamos seguros na privacidade da minha sala de estar, sentei-me no sofá e indiquei com um gesto para que fizesse o mesmo. – Nós somos amigos, mas eu não posso te contar o que aconteceu. Me desculpe.

- Isso tem a ver com o Yoongi, não é? – perguntou sem rodeios, a naturalidade com a qual sugeria tal coisa me pegando de surpresa. Minha reação deve ter sido o suficiente pra esclarecer sua dúvida, já que eu não consegui controlar o modo como meus olhos se arregalaram e minha pele ficara dois tons mais pálida. O olhar de Hoseok já dizia tudo: ele sabia. Mas ainda assim esperou por uma resposta.

- Como você sabe? – sabia que a essa altura negar seria inútil. Hoseok conseguia ler-me como um livro aberto, vendo através das minhas mentiras e tentativas de desviar do assunto. Mesmo que eu não pudesse contar com detalhes o que aconteceu, pelo menos não tentaria esconder a verdade.

- Você parece se esquecer de que eu conheço o Yoongi. – disse com um suspiro cansado, como se estivesse farto de repetir a mesma coisa diversas vezes. – O conheço o bastante pra saber que ele não poderia trazer outra coisa além de perigo pra sua vida. Se você não quiser me contar, tudo bem. Eu respeito sua privacidade. Mas eu me sinto na obrigação de perguntar... – a pausa a seguir fora excruciantemente dramática, recheada com um silêncio pesado e tenso. – Foi ele quem fez isso com você?

- O quê? Não! De onde você tirou essa ideia? Não, não mesmo! – fui rápido em corrigi-lo, fazendo gestos negativos tanto com as mãos quanto com a cabeça, como se toda a negação do mundo ainda não fosse suficiente. A mera sugestão de que Yoongi pudesse ter me tocado dessa forma já ultrapassava os limites do ridículo por si só, mas o que mais me assustava era a possibilidade de criar algum mal-entendido.

- Eu já imaginava, mas precisava ter certeza. – disse ao me dar alguns tapinhas reconfortantes no ombro, tentando acalmar um pouco os meus nervos histéricos. Quando falou novamente, seu tom era brando e o leve bico preocupado estava de volta aos seus lábios. – Você me deu um tremendo susto, Jiminie. Você simplesmente desapareceu por semanas, ignorou todas as minhas chamadas e mensagens, me deixou completamente no escuro. Eu fiquei com medo. Precisava saber se ainda estávamos bem depois... da boate.

- Desculpa, hyung. Eu perdi meu celular, por isso não mantive contato. – expliquei, me sentindo extremamente culpado e no dever de compensá-lo de alguma forma ao ver sua expressão abatida, como um cachorrinho que fora esquecido pelo dono.

- Mas nós estamos? – insistiu, porém não entendi muito bem sobre o quê.

- O que?

- Bem. – clarificou, e a insegurança se mostrava forte tanto na sua voz quanto nos seus olhos. Eu contive a vontade de abraçá-lo, mas não consegui impedir um sorriso de tomar forma nos meus lábios. Essa era a primeira vez que via Hoseok sem a sua habitual segurança que chegava a beirar a presunção.

- Claro, hyung. Por que não estaríamos? – indaguei com a cabeça tombada pro lado e uma sobrancelha levemente arqueada. Não via motivos pra estar ressentido com ele.

- Não sei... talvez... talvez eu tenha passado dos limites na boate. Eu queria te pedir desculpas. – ah, então era disso que se tratava. Os acontecimentos dos últimos dias deixaram-me tão atordoado que aquele quase beijo não tivera o menor espaço nos meus pensamentos. Tal realização me trouxera um entranho sentimento de culpa, que fora incitado ainda mais quando vi sua cabeça baixa em vergonha. Meus dedos encontraram o caminho para seus fios tingidos de vermelho por conta própria, o pequeno gesto atraindo sua atenção.

- Não se preocupe, Hobi. Já te perdoei há muito tempo. – assegurei-lhe, sorrindo, e conseguindo trazer um sorriso para seu rosto também. Agora sim, eu estava diante do Hoseok que conhecia e adorava.

- Ótimo. Porque eu tenho grandes notícias pra você. – sorriu, a habitual animação retornando para sua voz. Ri com a mudança repentina e o incentivei a continuar. – Meu próximo show foi marcado pra daqui a dois meses. Você se lembra que o ganhador da última competição subiria no palco comigo?

- Oh! – exclamei estupidamente, meus olhos esbugalhados e boca entreaberta numa expressão cômica de quem não se lembrava de nada daquilo até dado momento. – Eu tinha esquecido completamente! Hyung, o que eu faço? Preciso praticar! – disse histericamente, já podendo sentir o começo de um ataque de pânico apertando meu peito. Eu não treinava há séculos – não realmente, mas parecia muito tempo – e pra piorar, ainda estava com alguns movimentos restringidos. Maldita hora pra se meter em encrenca, Park Jimin.

- Relaxa, Chim-Chim. – minha reação parecia diverti-lo, pois agora ria abertamente como se minhas preocupações fossem infundadas. – Hyung tá aqui pra te ajudar. Não vou deixar você se envergonhar na frente de centenas de pessoas.

Se sua intenção era me assegurar, poderia afirmar com convicção que ele estava fazendo um péssimo trabalho. Com certeza a ideia de errar algum passo diante da plateia e virar motivo de chacota no cenário underground da dança não era algo a ser tratado com tanta leveza. Felizmente, os braços cruzados, cenho franzido e beicinho nos lábios foram o suficiente para lhe transmitir o recado de que eu não achava graça nenhuma naquilo. Sua risada foi morrendo aos poucos, mas o sorriso ainda permanecia intacto.

- Ei. – chamou, cutucando a mancha agora esverdeada no meu queixo pra chamar minha atenção. – Sua cara tá horrível. Você não tinha que cobrir isso com curativos, ou algo assim?

- Eu estava fazendo justamente isso antes de você tocar minha campainha como se estivesse sendo perseguido por demônios. – retruquei, mantendo a posição hostil com os braços cruzados e careta irritada no rosto.

- Bem, já que eu te atrapalhei antes... – começou, levantando-se do sofá e me estendendo a mão com um sorriso terno no rosto. – Posso te ajudar com isso agora?

Desde o momento que aceitei sua mão, nós caímos na costumeira conversa amigável, cheia de piadinhas e provocações, como se nunca tivesse existido uma noite embriagada repleta de más escolhas e desentendimentos, ou o tratamento de silêncio – mesmo que não intencional – ou até mesmo os hematomas. Era como se eu tivesse voltado no tempo, antes de uma experiência deveras traumática, antes da dor e do sofrimento. Era isso que eu mais gostava em Hoseok: sua capacidade de me fazer esquecer de todas as coisas ruins, de me fazer acreditar que tudo ficaria bem de novo. Hoseok despertava em mim o jovem de vinte anos que eu deveria ser, descontraído e despreocupado, ignorante a todos os males desse mundo. Sua presença era reconfortante – mais do que isso, era revigorante. Por isso, após algumas horas de brincadeiras e risadas, quando despediu-se com uma promessa de me visitar novamente, pela primeira vez em algum tempo eu ficara ansioso por algo.

 

Portanto, no dia seguinte, quando ouvi a campainha ecoar pela sala, esperava encontrar fios vermelhos e um sorriso reluzente do outro lado da porta. Porém fui surpreendido pela segunda vez seguida ao me deparar com olhos negros e profundos parcialmente escondidos sob uma franja loira.

- Suga-ssi! – exclamei, a surpresa que eu sentia ao vê-lo sendo embaraçosamente representada na forma de seu antigo tratamento; algo que não passou despercebido pelo loiro, que agora me encarava com fendas no lugar dos olhos.

- Por que está tão surpreso? Estava esperando outra pessoa? – indagou-me de maneira rude, mal contendo a curiosidade e os ciúmes na voz.

- N-não! Na verdade... e-eu só... – gaguejei, abanando as mãos num gesto negativo como se elas pudessem apagar qualquer pensamento errado que tivesse, meus olhos comicamente esbugalhados como num desenho animado. Fazendo uma pausa pra respirar fundo e tentar controlar o nervosismo, continuei num tom de voz bem mais controlado que antes. – Só não esperava vê-lo tão cedo.

- Posso entrar? – pediu o loiro, suas feições retornando à sua habitual fachada desinteressada enquanto aguardava desconfortavelmente na soleira da porta com as mãos enfiadas nos bolsos da calça. Lembrando-me de algo chamado boas maneiras, praticamente pulei pra fora de seu caminho, abrindo mais a porta para que pudesse passar.

- Oh, sim. Por favor. – pedi, fechando a porta atrás de si antes de guiá-lo até a sala de estar. Entretanto, Yoongi não se acomodou no sofá nem em nenhum outro assento, preferindo recostar-se contra as costas do mesmo enquanto mantinha aquela expressão neutra ao me analisar da cabeça aos pés, como se comparasse meu estado atual com aquele que encontrara da última vez que nos vimos. Preso sob seu olhar e me sentindo um pouco auto consciente, brinquei nervosamente com a bainha da camisa antes de prosseguir. – O que te traz aqui? Pensei que estava ocupado.

- De fato, estou. Mas Seokjin não parava de me importunar pra vir. – admitiu com um encolher de ombros, suspirando pesadamente enquanto tentava passar a impressão de que estava ali porque não tinha escolha, mas havia um brilho nos seus olhos, uma leve contração de seus lábios que me dizia o contrário. – Como você perdeu seu antigo celular e seria irritante ter que sair do meu caminho pra vir aqui todos os dias ver como você está... eu te trouxe isto.

De repente Yoongi tirou uma de suas mãos do bolso, trazendo consigo um smartphone, oferecendo-o à mim. Era bonito porém simples, longe de ser o melhor produto no mercado, mas definitivamente era melhor do que a velharia que eu fora capaz de comprar com o meu salário mirrado. Minha primeira reação fora surpresa, depois gratidão e por fim o sentimento de que eu não era digno de tal presente. Porém, algo no fundo de minha mente apitou, como um alarme, deixando-me mais apreensivo do que qualquer outra coisa.

- O que é isso? – olhei para o objeto em suas mãos como se ele pudesse criar vida a qualquer momento, sem fazer a menor menção de aceitá-lo ou de tirá-lo de sua posse.

- Por acaso esse olho roxo te deixou cego também? É um celular. – respondeu como quem constata o óbvio, e eu quase pude ouvir o “duh” no final da sentença. Tive que resistir a vontade de revirar os olhos.

- Sim, isso eu posso ver, obrigado. O que eu quis dizer foi: onde você arranjou isso? – questionei cautelosamente. Pelo pouco que pude ver de sua casa e seus pertences – seu carro ainda possuía as marcas que Taehyung fizera –, Yoongi não parecia ter condições de presentear outras pessoas com celulares, sem mais nem menos.

- Agora você me ofendeu. – resmungou, seu rosto se fechando numa carranca enquanto mantinha o braço teimosamente erguido na minha direção, oferecendo-me o aparelho que eu até então me recusava a aceitar. – Se você está sugerindo que eu o tenha roubado ou coisa parecida, saiba que eu o comprei com meu próprio dinheiro. – seu cenho ainda estava franzido quando alcançou minha mão e forçou o celular contra minha palma aberta, obrigando-me a segurá-lo. – Os acessórios estão aqui, junto com a nota fiscal. Por algum motivo eu sabia que você não acreditaria em mim. – riu seco, sem humor, enquanto me estendia uma sacola que levava o nome de uma popular loja de eletrônicos – cuja presença eu até então não havia notado.

- Não, não é nada disso! Eu acredito em você! É só que... bem... e-eu... – tentei reforçar minhas palavras com gestos de mão, mas como ambas estavam ocupadas, acabei me atrapalhando e parecendo mais ridículo do que soava. Por fim, desisti de tentar resolver o mal entendido e optei por encarar meus pés, envergonhado demais pra encontrar seus olhos. – Obrigado.

- Tanto faz. Não ter um meio de falar com você estava se tornando um problema, não precisa interpretar isso como algo além do que realmente é. – encolheu os ombros, um hábito que Yoongi havia adquirido quando queria parecer indiferente, enquanto contornava o pequeno sofá para tomar um dos assentos. Fui rápido em ocupar o lugar ao seu lado, deixando a sacola sobre a mesa de centro sem ao menos inspecionar seu conteúdo. Liguei o aparelho apenas para constatar que ele já estava carregado e desbloqueado, o protetor de tela genérico que me saudara denunciando o fato de que era novo e só estava esperando que eu o personalizasse da minha maneira. Notando que eu explorava suas inúmeras funções, Yoongi pigarreou nervosamente ao meu lado, chamando minha atenção, seus olhos grudados na pequena tela presa entre meus dedos. – Eu tomei a liberdade de adicionar meu número nos contatos. Pra te poupar o trabalho.

Fui conferir com meus próprios olhos aquilo que suas palavras afirmavam, e de fato encontrei um único número salvo na lista de contatos. Um número salvo sob o nome de “Yoongi-hyung”. Era puro e simples, como era de se esperar vindo do loiro, mas o uso de um determinado honorífico trouxe um sorriso aos meus lábios. Um sorriso que eu não pude esconder quando virei-me para encará-lo com olhos brilhantes e cheios de malícia.

- Hyung? – indaguei, meu tom carregado com provocações. Ao notar que Yoongi desviava o olhar com um leve rubor colorindo suas bochechas, ergui uma sobrancelha em descrença.  

- Não tenha ideias erradas. Você vive chamando Jin e Namjoon de hyung, então pensei que eu não poderia ficar pra trás. – tentou explicar da maneira mais indiferente que conseguia, mas ainda se recusava a encontrar meu olhar – o que acabou intensificando meu sorriso.

- Você é tão fofo, hyung. – não resisti e belisquei levemente uma de suas bochechas, dando especial ênfase para o tratamento; com isso eu conseguira atrair sua atenção, mas junto com ela vinha sua ira.

- Cala essa boca, Park Jimin. – Yoongi afastou minha mão com um tapa, mas sua reação hostil só serviu para arrancar de mim algumas risadinhas infantis e divertidas, o tipo que risada que eu estava desacostumado a soltar, o som se tornando uma agradável surpresa. Num súbito surto de adrenalina e ousadia, selecionei a câmera do celular e apontei-a para seu rosto.

- Sorria! – exclamei ao bater a foto, eu mesmo sorrindo como um bobo. Infelizmente Yoongi fora mais rápido ao colocar a mão na frente de câmera, estragando a fotografia. Ainda rindo, eu tentava avaliar os danos enquanto lutava contra um Yoongi exasperado e determinado a arrancar o aparelho das minhas mãos, numa tentativa de apagar a foto. – Ai! Você está me machucando! – não era realmente verdade, mas foi o suficiente para impedi-lo de prosseguir com seus ataques implacáveis. Ao invés, o loiro resignou-se a me apunhalar com o olhar e torcer para que as feridas imaginárias sangrassem. Finalmente livre, pude apreciar a qualidade artística da primeira fotografia que eu tirara de Min Yoongi.

A primeira coisa que se podia notar era sua palma aberta tomando quase todo o espaço da imagem, a palidez de sua pele três vezes mais acentuada pela proximidade do flash da câmera. Apesar disso, ainda era possível encontrar fragmentos de uma carranca adornada por fios loiros espreitando por baixo de um gorro preto. Mesmo que eu não pudesse ver seu rosto, não havia dúvidas quanto ao possuidor de tal mão. Mesmo que a foto estivesse um pouco borrada e fora de foco, a situação em que fora tirada a tornava especial e única. De alguma estranha maneira, expressava exatamente quem ele era, e que tipo de relacionamento tínhamos. Mesmo estando bem abaixo de um trabalho amador, era perfeita. Não demorei para atualizar seu contato com a foto, apreciando o modo como sua palma pálida e quase reluzente complementava bem o “hyung” ao lado de seu nome.

Sem desfazer o sorriso – eu sentia como se minhas bochechas fossem entrar em combustão a qualquer momento – abri a aba de conversa para encontrá-la vazia; coisa que eu pretendia remediar neste exato momento.

A foto ficou ótima.

Ouvi seu próprio celular apitar com a notificação enquanto ele deixava brevemente sua posição hostil para alcançar o aparelho no bolso de trás e abrir a mensagem. Nos poucos segundos que levou para lê-la, seus lábios se puxaram num meio sorriso que tentava esconder ao morder o lábio inferior, sem sucesso.

- Se você mandou isso pra que eu salve seu número, saiba que eu já pensei à sua frente. Tenho seu contato salvo desde o momento da compra.

- Jura? Sob que nome? Aposto que foi “Jiminie” com um coração do lado! Deixe-me ver. Hyung~! – agora era eu quem o atacava a procura de seu celular, enquanto Yoongi fazia de tudo para mantê-lo longe do meu alcance com o corpo esticado sobre o braço do sofá e a mão erguida no alto. A curiosidade era tanta que eu nem me importava de choramingar e implorar pela informação como uma criança; Yoongi, por sua vez, suava ao tentar me afastar, cuspindo maldições e ameaças na minha direção. Estávamos tão absortos na nossa pequena brincadeira que nem notamos o familiar bipe da porta da frente.

- Jiminie~! Cheguei. – cantarolou a voz de Hoseok. Imediatamente o rosto de Yoongi fechou-se numa carranca levemente confusa, mas principalmente irritada. Virei-me na direção do som apenas para assistir o ruivo entrar no apartamento como se fosse dono do local, antes de congelar no lugar ao ver a cena diante de si.

- Então você estava mesmo esperando outra pessoa. – Yoongi acusou-me, suas orbes negras alfinetando as minhas próprias enquanto as vasculhava por respostas.

- E-eu... eu posso explicar. – tentei me defender, quase como se tivesse sido pego no flagra ao traí-lo. Tive vontade de rir com tal pensamento estúpido, mas a raiva que encontrara em seus olhos tirara toda a graça da situação.

- O que você está fazendo aqui? – indagou Hoseok, seu tom levemente hostil indicando-me que não era à mim que ele se dirigia. O ruivo estava parado ao lado do sofá, elevando-se sobre nós. Quando me movi para sair de cima de Suga, o loiro não perdera tempo em se levantar e encarar o outro nos olhos.

- Eu te pergunto o mesmo. Desde quando você tem tanta liberdade com o Jimin pra entrar na casa dele quando bem entende? – rosnou, invadindo o espaço pessoal de Hoseok sem quebrar o contato visual. Eu quase podia ver as faíscas resultantes da intensidade de seu olhar. Hoseok, sempre seguro de si, respondeu com um meio sorriso convencido e uma sobrancelha arqueada.

- Você ainda não reparou que eu e Jiminie somos amigos? Sou tão próximo dele que até sei a senha da porta da frente. – anunciou todo orgulhoso, tomando prazer nas caretas que transformavam as feições do loiro.

- Isso é verdade? – Yoongi perguntou, dirigindo seu olhar mortal à mim. Infelizmente, eu estava tão surpreso quanto ele; não me lembrava de ter dado senha nenhuma à Hoseok. Voltei-me para o dançarino, buscando respostas em seu olhar.

- Ok, não foi Jimin quem me disse, foi Taehyung. Quando o trouxe pra cá naquela noite da boate. – admitiu um pouco relutante, talvez até envergonhado, mas rapidamente descartou o assunto como se já não importasse mais, ocupando o assento que antes era de Yoongi. O loiro parecia estupefato com tamanha ousadia, encarando Hoseok como se ele fosse louco, antes de soltar uma risada de escárnio e ocupar uma das poltronas ao meu lado.

- Eu já devia imaginar. Isso é bem do seu feitio mesmo. – comentou Yoongi, cruzando os braços e encarando o outro com olhos tão afiados que eu não me surpreenderia se Hoseok caísse morto ali mesmo.

- O que isso quer dizer? – Hoseok questionou, parecendo um pouco ofendido.

- Quer dizer que você sempre se mete na vida das pessoas sem ser convidado. – rosnou.

- Oh, é mesmo? E o que será que isso diz sobre você, hm? O garoto solitário, aquele que foge de todos que tentam se aproximar, e morde a mão daqueles que conseguem. Como um animal selvagem. – cuspiu, sua voz pingando veneno. – Pobre Jimin, veja só o que aconteceu com ele ao tentar fazer amizade com um cão raivoso.

- Cala essa boca, Hoseok. Eu estou avisando. – ameaçou o loiro, o tom de sua voz caindo algumas notas, grave e rouca, e eu podia ouvir o rosnado reverberando dentro de seu peito. Notei também que Yoongi segurava os braços da poltrona com tanta força que suas juntas ficaram brancas, e seus braços tremiam levemente. Era óbvio que Hoseok havia atingido algum nervo, algum ponto fraco no ego de Yoongi – não que fosse muito difícil irritá-lo, mas aparentemente Hoseok chegara a um outro nível. Antes que o ruivo abrisse a boca pra retrucar, decidi intervir e, com sorte, evitar uma briga no meio da minha sala de estar.

- Olha, hyung! Agora eu tenho um celular. – exclamei na voz mais alegre e despreocupada que conseguia, torcendo para que o nervosismo não invadisse minha fala e me dedurasse. Praticamente esfreguei o aparelho diante dos olhos de Hoseok, comemorando internamente ao notar que conseguira atrair sua atenção.

- Nossa, finalmente. Como conseguiu um tão rápido? – indagou-me ao tomar o celular da minha mão e digitar alguma coisa na tela, provavelmente salvando seu próprio número.

- Yoongi-hyung me deu. – contei, minhas bochechas corando levemente pelo honorífico anexado ao nome de Yoongi. Hoseok ergueu uma sobrancelha na direção do mencionado loiro, como se não pudesse acreditar no que ouvia, mas logo retornou ao aparelho em suas mãos sem dizer uma palavra.

- O que pensa que está fazendo? – Yoongi perguntou à Hoseok, que por sua vez nem sequer lhe poupou um olhar.

- O que parece que estou fazendo? Estou salvando meu número, ora. – respondeu naquele tom óbvio, elevando a câmera sobre seu rosto e fazendo um biquinho e sinal de paz para a foto, antes de me devolver o aparelho. Quando olhei seu contato, lá estava a selca recém tirada acoplada ao nome “o hyung que eu mais amo <3”. Não consegui deixar de rir diante de tamanha rivalidade. Os dois pareciam querer competir um com o outro em todos os aspectos da vida, o que me fazia ponderar sobre seu relacionamento anterior. Eles pareciam se conhecer muito bem.

- Quem permitiu? – insistiu Yoongi, tentando alcançar o aparelho nas minhas mãos e tirá-lo de mim, porém eu fui mais rápido; por impulso, tirei o objeto do seu alcance na tentativa de proteger o contato recém adquirido, sem saber que tipo de reação meu gesto poderia proporcionar.

A expressão de choque e dor que atravessou seu olhar durou apenas uma fração de segundo, mas não passou despercebida por mim. Ao mesmo tempo que Hoseok ria ao meu lado, comemorando a vitória de alguma competição imaginária, o rosto de Yoongi tomou aquela tão conhecida expressão neutra, se não um pouco sombria. – Muito bem, você venceu dessa vez, Hoseok. – admitiu ao se levantar da poltrona, fazendo menção de sair. Antes que eu pudesse tentar impedi-lo ou me desculpar, sua mão estava na minha nuca e seus lábios gentilmente pousados contra a minha testa. – Até mais, Jimin. Fico feliz que esteja se recuperando bem.

Eu queria falar algo, agarrar seu pulso, fazer qualquer coisa para convencê-lo a ficar. Mas ao invés disso, fiquei petrificado no lugar assistindo suas costas se afastando, seus ombros ligeiramente caídos, esperando que ele olhasse pra trás pelo menos uma vez – porém meu desejo nunca fora realizado. Depois de tanto tempo sem vê-lo, eu deixara Yoongi ir embora, afastado por minha causa, e a culpa que eu sentia não poderia ser mais dolorosa. Hoseok já havia parado de rir, e agora me olhava com uma expressão preocupada, se não um pouco culpada também.

- Me desculpe, Jimin. Eu não queria estragar tudo. – pediu, envergonhado.

- Não, tudo bem. Não foi culpa sua. – tentei assegurar-lhe, mas eu sabia que o sorriso que puxava meus lábios era fraco e não atingia meus olhos. Não que eu o culpasse, de maneira alguma. Eu só estava decepcionado comigo mesmo.

- Não se preocupe, ele sempre foi assim. Yoongi não está realmente com raiva. – Hoseok disse enquanto apertava levemente meu ombro, tentando me passar um pouco de segurança. Não adiantou. – Você quer que eu vá embora também? – acrescentou, consciente de que meu humor não era dos melhores no momento. Hesitantemente assenti, minha cabeça baixa em vergonha e culpa.

- Desculpa, hyung. É que... eu preciso estudar. – não era mentira, já que eu realmente precisava me preparar para os exames finais, mas por algum motivo as palavras soavam como desculpas esfarrapadas.

- Tá bom, Chim-Chim. Vou nessa, então. – Hoseok acenou com a cabeça num gesto compreensivo, envolvendo-me num abraço acalentador. – Não se culpe tanto. Sorria. – acrescentou num sussurro ao pé do meu ouvido, dando-me tapinhas amigáveis nas costas. Fiz o que pediu, tentando sorrir um pouco mais verdadeiramente dessa vez, sendo retribuído com um sorriso duas vezes mais reluzente.

Ao acompanhar Hoseok até a porta, despedindo-me com promessas de ligar e mandar mensagens o tempo todo, eu contemplava o motivo de estar me sentindo culpado por dois motivos completamente diferentes.

 

 

Quando Hoseok passou pelas portas do saguão em direção ao ar livre, o que ele menos esperava era encontrar uma figura loira sentada sobre o capô de um carro preto, fumando um cigarro enquanto parecia esperar por si. Mas, ao mesmo tempo, teve aquela sensação de que algo assim não deveria surpreendê-lo mais. Contendo um sorriso debochado, trotou até onde estava o sujeito, do outro lado da rua.

- Estava esperando por mim? – zombou, sabendo muito bem que não receberia uma resposta.

- Você não deveria ter falado aquilo na frente dele. – Yoongi, como esperado, ignorou sua pergunta e foi direto ao assunto. Realmente, algumas coisas nunca mudam.

- Por que não? Tudo que eu disse era verdade. – Hoseok tombou a cabeça pro lado, um sinal de falsa inocência. – Não adianta negar, Yoongi-ah. Você é perigoso, vive num mundo perigoso, rodeado por pessoas perigosas. Jimin não merece ser arrastado pra sua bagunça.

- Deixa eu adivinhar. – caçoou o outro, erguendo-se sobre os dois pés e tentando intimidá-lo com o olhar, mesmo que sua altura não o ajudasse muito. – Você pensa que você seria um candidato mais adequado?

- Bom, você me conhece bem o bastante pra saber a resposta. – Hoseok sorriu, o fato de que suas palavras ainda mexiam tanto com o loiro trazendo-lhe grande prazer.

- Não me faça rir, Hoseok. – escarneceu Yoongi. – Você é tão podre quanto eu, se não mais. Afinal, não há nada pior do que um traidor.

Por mais que Hoseok não quisesse admitir, as palavras de Yoongi atingiram-no como um punhal no coração. Pela primeira vez, ele ficara sem resposta. Yoongi notara a mudança em seu semblante, o pequeno sorriso vitorioso que tinha nos lábios já dizia tudo. Ciente de que a discussão estava ganha, o menor entrou no carro e deu a partida, lançando um último olhar para o antigo companheiro antes de desaparecer pelas ruas desertas. Um olhar repleto de acusações, questionamentos, raiva... e dor. 


Notas Finais


Alguém aqui lembra como tava o placar Yoongi x Hoseok x Jungkook? É tanta alfinetada que eu já me perdi. HUASUASUHSA


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