História Hold me tight, please! - Explicações

Uma mistura de sentimentos ruins tomou conta de mim enquanto aquele breve ritual de acasalamento acontecia bem na minha frente. O que eu mais queria era sair correndo para longe, mas meu corpo não respondia aos meus comandos e eu permanecia imóvel e lutando contra as lágrimas, lágrimas que eu não permitiria que caíssem, não no meio de toda aquela plateia que soltava risadinhas e comentários maldosos sobre a linda demonstração de amor verdadeiro.

            -Sua idiota, o que deu em você? Por que se sente desse jeito? – a voz da consciência ecoou dentro da minha cabeça e encarei os meus pés – Você não vai chorar por alguém que mal conhece, vai? – pressionei o celular contar o peito, suspirei e fechei os olhos por alguns segundos, e quando abri-os, vi o Tae se aproximando rapidamente.

            A expressão em seu rosto era uma mistura de ódio e decepção e quanto mais ele se aproximava mais eu tinha medo do que ele poderia fazer, mas continuava paralisada no mesmo lugar e antes que eu pudesse tentar para-lo ele já estava de pé na minha frente encarando o perfect match.

            -Não sabia que isso era permitido aqui na escola – falou irritado e os dois finalmente deram uma pausa na troca de saliva.

            -Algum problema TaeTae? – SunHee perguntou cinicamente ainda tentando recuperar o folego, mas continuava abraçando o Jimin pela cintura.

            -Problema nenhum e não me chame de TaeTae – ele praticamente gritou as ultimas palavras e desviou o olhar para o garoto com cara de trouxa – Você é rápido novato – debochou e o Jimin se afastou da SunHee.

            -Eu não queria fazer isso, eu... – Tae o interrompeu com uma risada irônica.

            -Jura? Porque não foi isso que eu e metade da escola acabamos de ver – aumentou ainda mais o tom de voz e os murmurinhos de “será que eles vão brigar?” começaram a se espalhar.

            -Tae – chamei quase que sussurrando e ele rapidamente virou na minha direção – Você vai mesmo fazer isso? – o nó na minha garganta fez com que as palavras saíssem falhadas e ele percebeu o meu estado.

            -Vamos! – seu braço envolveu os meus ombros e depois de dar uma bela encarada na cara de tacho do Jimin, me levou até a nossa sala.

~~x~~

            O lugar estava vazio, todos os outros já tinham ido se trocar para aula de educação física, que começariam em menos de dez minutos. Paramos em frente à porta e depois de me soltar, Tae recostou o corpo na parede e esfregou as mãos rapidamente pelo rosto depois de murmurar algo que eu não consegui entender e também não arrisquei pedir para que ele repetisse.

            -Sinto muito – sussurrei e ele forçou outro daqueles sorrisos amarelos.

            -Você também não ficou muito bem com isso, não foi? – passos pesados começaram a ecoar vindo em nossa direção e antes que eu pudesse responder a pergunta, Park Jimin apareceu e parou na minha frente com uma cara de criança que perdeu o ursinho de pelúcia, a mamadeira e a chupeta.

            -YuMi, eu...é...eu... eu queria explicar o que aconteceu – seu rosto ficava cada vez mais vermelho e ele não parava de esfregar as mãos e de suar.

            Novamente, antes que eu pudesse responder, TaeHyung me empurrou para trás e parou de frente para o Jimin com os punhos fechados.

            -O que te faz pensar que você deve alguma explicação pra ela, Park Jimin? – mandei-o parar, mas ele fingiu não me ouvir.

            -Isso é uma coisa que eu tenho que dizer pra ela, e não pra você – Jimin respondeu irritado empurrando Tae pelos ombros – Então se você puder nos dar licença... – Tae empurrou-o de volta e levantou o punho para soca-lo, mas eu entrei entre os dois.

            -Quantos anos vocês tem? Parem de agir feito duas crianças – gritei irritada e empurrei o Tae para dentro da sala voltando minha atenção para o Jimin, que parecia assustado com a minha reação.

            -Não sei o que te fez pensar isso, mas você não me deve explicação nenhuma, Park Jimin. O que você faz ou deixa de fazer é um problema seu, então sinta-se a vontade para voltar ao que estava fazendo – tentei não parecer rude, mas foi exatamente o que aconteceu.

            Seus olhos marejaram e ele soltou um suspiro de frustração depois de ouvir o que eu disse, e aquilo era a ultima coisa que eu queria, mas não me permiti demonstrar o quanto a reação dele mexeu comigo e apenas desviei o olhar.

            -É Melhor eu ir, senão vou me atrasar pra aula – falou timidamente e apenas assenti com a cabeça e dei as costas entrando na sala.

            Meu coração parecia querer sair do lugar, uma mistura de sentimentos ruins fazia com que ele batesse cada vez mais rápido causando leves ondas de tontura e uma dor de cabeça irritante. Tristeza, raiva, culpa e outras sensações que eu nem sabia explicar percorriam o meu corpo e se intensificavam a medida que o Tae se aproximava aparentemente irritado como se pretendesse me culpa por alguma coisa.

            -O que deu em você? – perguntei antes que ele chegasse mais perto – Você ia mesmo arrumar briga com alguém por causa da SunHee, a garota que já deu em cima de 70% dos caras dessa escola ? Isso realmente ia valer a pena? – tantas perguntas o fizeram para por alguns segundos, mas ele logo tinha uma resposta e deu-a gritando.

            -Eu não faço ideia se valeria a pena ou não YuMi, mas não tenho culpa de me sentir desse jeito e nem de gostar da SunHee, assim como você não tem culpa de se sentir atraída pelo Park Jimin só porque ele te lembra o JaeHyuk – bateu a mão com força sobre a mesa, o que provocou um som ensurdecedor e fez meu corpo estremecer – E assim como a SunHee não é uma boa garota, o Jimin também não é o Jae, porque o Jae... – só então ele se deu conta do que estava dizendo.

            -...porque o Jae está morto – completei a frase e senti aquele velho nó na garganta – Jeon JaeHyuk, o garoto por quem eu era completamente apaixonada morreu e agora tudo que me resta é a culpa pela morte dele – a dor de cabeça se intensificou e sentei sobre uma das mesas massageando as têmporas - Todos os dias quando eu encaro meu reflexo no espelho, as lembranças vêm e eu começo a imaginar como seriam  nossas vidas agora se nada daquilo tivesse acontecido, se estaríamos juntos, se ainda gostaríamos das mesmas músicas e filmes, se ainda voltaríamos pra casa juntos depois da escola e tantas e tantas outras coisas que pra muita gente seriam bobas, mas por mais que eu queira estar com ele, não tem volta, assim como não teria se você se metesse em uma briga desnecessária. Então agora, sinta-se a vontade pra pensar o que quiser sobre mim e pra ir atrás do Jimin, mas sabe Tae – sequei as lágrimas que corriam pelo meu rosto - no fim do dia, por mais triste que seja dizer isso, você não vai ter a SunHee, assim como eu não tenho o Jae – ele abaixou a cabeça e pude ver uma lágrima cair – E talvez você até a tenha, mas ela nunca vai merecer alguém como você, então se você acha que estar com alguém que não te merece realmente vai valer a pena, vá em frente e bata nele – deixei-o sozinho na sala e comecei a caminhar rumo ao vestiário.

            Tudo o que eu tinha acabado de dizer ainda ecoava pela minha cabeça e eu até me arrependia de ter dito tantas coisas ao Tae, mas eu conhecia a SunHee melhor do que qualquer um naquela escola e sabia bem do que ele era capaz, e a ultima coisa que eu permitiria era que alguém como ela entrasse na vida de uma das pessoas que eu mais amava no mundo e o fizesse sofrer. Quando cheguei ao vestiário, tive a sorte de encontrá-lo vazio. Troquei de roupa rapidamente e corri até a quadra rezando para que a aula ainda não tivesse começado, porque a ultima coisa de que eu precisava era de reclamações do professor por eu estar atrasada. Mas foi exatamente o que eu ouvi.

            -YuMi, a aula começou a dez minutos atrás – o Sr. Kang falou rispidamente quando me viu entrando na fila ombro a ombro que já estava formada.  – E você TaeHyung-ah Também esqueceu a hora da aula? – perguntou quando viu o Tae fazendo o mesmo que eu.

            -Desculpe Professor – respondemos em uníssono fazendo uma reverência rápida.

            -Tudo bem, mas se isso se repetir os dois serão punidos. Entenderam?

            -Sim! – respondemos juntos de novo e o professor recomeçou a explicação sobre o que seria feito durante a aula, mais eu estava me sentido culpada demais depois de ter visto o Tae com os olhos vermelhos entrando na quadra e não ouvi uma única palavra.

            Sinceramente, eu não era boa em nenhum esporte, mas conseguia ser pior no vôlei do que em qualquer outro e era exatamente isso que faríamos, um jogo de vôlei, então estava torcendo para não ser escolhida por nenhum time, mas minha torcida não funcionou. A ordem era para que tirássemos um dos papeis enumerados 1 a 18 de dentro da caixinha que Joo YeJin estava segurando e assim fizemos. E quando cada um estava com o seu número em mãos, a ultima ordem foi dada pelo Sr. Kang.

            -Como todos já sabem, YeJin e SunHee são as melhores jogadoras da sala, então serão as capitães – revirei os olhos, não pela YeJin que era uma pessoa legal, mas por causa da segunda “melhor jogadora da sala” – E para que não haja confusão na divisão dos grupos, que hoje serão mistos, os papeis numerados indicarão a qual time cada um pertence. Todos os que retiraram números pares serão parte do time da YeJin-ah e consequentemente os que tiraram os ímpares serão o time da SunHee... – blá, blá, blá.

Continuei ignorando o que tinha escutado até me dar conta de que o meu número era o 9 e 9 era um número...ímpar?

-Não, não, não, eu não posso ter tanta má sorte – praticamente gritei no meio da quadra depois de abrir o papel pela enésima e até chamei o professor para ter certeza de que aquilo não era um 6 de cabeça para baixo, e não, não era um 6 camuflado, eu realmente tinha muita má sorte e era parte do time da pessoa que eu queria ter o prazer pendurar de cabeça para baixo dentro da cesta de basquete. E como se estar perto daquela criatura sozinha já não fosse o suficiente, a Dona vida, em todo o auge da sua ironia, fez com TaeHyung e Park Jimin tirassem da caixinha os números 3 e 15.

Belisquei meu próprio braço ainda rezando para que aquilo fosse um pesadelo, mas não era. SunHee, Park Jimin, TaeHyung e eu éramos um time.