Bae Joohyun tinha uma mania feia de tempos em tempos fazer um evento no meu quarto e falar sobre assuntos constrangedores do nada. Eu tinha uma conspiração quanto a isso, sempre apontava que ela queria tirar minha inocência! Ela intitulava essas interações como “tempo das garotas”, a coisa era tão profissional que tinha mandado fazer até uma tag para colocar na maçaneta da porta do meu quarto quando isso acontecia. Deixando assim um alerta para ninguém nos interromper.
Já era domingo, 19:00hrs, e eu tinha chegado da igreja faz pouco tempo e sabe cansaço? Acabou de virar meu sobrenome depois do banho. Amanhã seria uma jornada e tanto pois começaria o ano letivo. Minha mala estava pronta e eu só havia planejado uma coisa naquele momento: desligar o celular e dormir.
Porém nem tudo que a gente quer pode se tornar realidade né?! Pelo menos o universo não costumava me mimar me dando exatamente tudo que eu desejava. Então aqui estou eu, sentada na minha cama descontente com duas coisas: em não estar dormindo e em ver a pessoa que tanto evitei nesse final de semana, Sana.
As duas garotas estavam sentadas na minha cama e Irene se apresentava completamente energizada.
– MyungSoo tá ocupado jogando com Wendy e Seulgi no quarto, então é o momento perfeito para termos conversas de garotas. – Irene explicou com os olhos brilhando, enquanto olhei pra Sana como quem dizia “o que ela vai aprontar com a gente hein”.
– Wendy e Seulgi são garotas também... – apontei.
– Elas não contam para essa reunião exclusiva. – Falou mostrando a língua. – Seguinte, encontrei um filme muito do seu interessante nos arquivos do meu hd externo antigo e me deparei com algo no meio do filme...
– Era pornô, não era? – Sana se pronunciou com a voz risonha.
Irene ficou vermelha.
– Um vídeo deveras interessante de Park Sooyoung gravado e feito exclusivamente para a minha pessoa. – A mulher nem se achava, né?!
– Me poupe dos detalhes. – Me apressei em dizer.
– Não vou poupar exatamente. – Irene anunciou e intercalou o olhar entre mim e Sana. – O que vocês acham sobre uma mulher conseguir ter um orgasmo só masturbando os seios?
– Eu definitivamente não precisava ter a imagem da Joy apertando os seios na minha cabeça em um domingo à noite. – Sana reclamou, porém se sentou de forma mais confortável na cama. Inclinou o corpo levemente pra frente, fazendo menção que iria continuar. – Não sei se é possível, mas se for... caramba hein...
– Como assim caramba hein? – Olhei pra ela um pouco assustada.
– Seria poderoso não? – Falou bem baixo. – Ser sensível nesse ponto, parece erótico demais pra mim.
– Eu vou testar com meu cheiroso. – Irene contou animada. – Um público para a tentativa deve ser fodido de bom.
– Uma pessoa não é um público, Unnie. É um show íntimo particular. – Sana comentou.
– Ireneee – Chamei em tom de reclamação. – Eu definitivamente não preciso saber o que você faz entre quatro paredes, principalmente pelo simples fato que é com meu irmão!
Irene riu levemente e agarrou meu braço.
– O que você acha?
– Não acho nada. – Respondi molhando os lábios.
– Pensa comigo... – Irene continuou. – Masturbar os seios na frente da pessoa que consegue te fazer sentir todo tipo de coisa boa e gostosa, não parece... gostoso pra caralho?
Fechei os olhos por um segundo e depois encarei ela de um modo bem sério.
– Vou te denunciar pro meu irmão. – Contei mostrando a língua. – Fica tentando cutucar uma curiosidade que desejo deixar dormindo até chegar a hora certa.
– Fala logo. – Sana mandou impaciente comigo.
Bufei, que raios de necessidade por uma opinião.
– Acho estranho e talvez mais difícil? Penso que deve ser mais complicado masturbar os seios e sentir efeito lá... do que se masturbar lá e sentir lá mesmo o estímulo funcionar... – Falei extremamente baixo. – Além do mais, fazer isso pra alguém seria no mínimo necessário toneladas e toneladas de intimidade.
Irene sorriu satisfeita com minha resposta.
– Mudou de ideia sobre masturbação?
– Eu não. – Falei simplista.
– E você? – Perguntou pra Sana, que riu de nervoso.
Ela mordeu os lábios e as bochechas ficaram levemente avermelhadas.
– Talvez, não sei ainda. – Sua voz saiu muito baixa.
– Eu não acredito... Você tentou, Sannie? – Perguntei levemente alterada pela surpresa.
Ela se remexeu na cama provavelmente se sentindo um pouco desconfortável.
– Usou minhas dicas? – Irene perguntou com a voz enfeitada de safadeza.
– Você incitou a minha melhor amiga em se masturbar? – Acusei franzindo o cenho.
– Nós conversamos muito outro dia sobre se conhecer melhor e tal... Irene frisou esse tópico, foi isso... – Sana comentou baixo e ainda com as bochechas com certo rubor.
– Mudou mesmo de ideia? – Perguntei mais suave, tentando ser o mais casual possível. Não tinha estruturas psicológicas para formar a imagem de Sana se masturbando na minha cabeça.
Enquanto eu falava, Irene pegou o celular, digitava falando com alguém.
– Não sei, Dah. Talvez Irene não esteja tão errada quanto o nosso poder de conhecer nosso próprio corpo... Ainda me parece sombrio pensar que um dia vou ter que me entregar pra alguém e eu mesmo não saber que toque eu gosto ou não... – A vergonha em sua voz estava reluzindo.
Antes que eu pudesse comentar algo, Irene saiu do quarto anunciando que ia ver o que meu irmão queria que já estava a chamando e ser a vez da Sana pegar o celular na minha cômoda, por vibrar anunciando uma mensagem.
– É o meu pai, ele está aqui na porta. – Falou enquanto digitava e se levantava da cama.
– Eu não sabia que viria aqui hoje... – Comentei baixo e curiosa.
No sábado, havia voltado pra casa bem tarde da noite para evitar topar com a Sana. Pois sabia que ela estaria por aqui pelo fim da tarde, hoje ocupei meu dia na igreja e não a vi participando dos grupos. O que foi bem estranho e gerou alguns comentários que fiz questão de ignorar, mas a vi de longe na reunião.
– Eu achei que te encontraria aqui ontem... Seu pai e eu voltamos por volta das 19:00hrs. – Comentou guardando o celular no bolso da calça jeans surrada – Dei uma passada aqui hoje pois Irene me chamou, queria conversar algo comigo... Por onde esteve?
Seus olhos eram carinhos e atentos em cada micro movimento que eu pudesse fazer. Sorri suavemente e me levantei também.
– Ontem depois de ajudar na escolinha na reunião das 18:00hrs, fui até a Chaeyoung... Mina me recebeu também.
– Como ela está? Faz tempo que eu não a vejo e não quero parecer pressionar com minhas ligações...
– Chaeyoung está com medo, Sannie. Ela não parece bem, apesar de ser perceptível que ela está tentando muito... Está bem magra e a tristeza em seu olhar é tão profunda que pode perfurar qualquer um. – Suspirei em pensar na japonesa. – Ela me disse que vai pra escola... Finalmente, vai abandonar o ensino em casa, sabe?! Espero que isso a ajude...
Sana alcançou minha mão e segurou ternamente.
Não era preciso dizer muitas coisas sobre esse assunto, tudo relacionada a Myoui Mina, nós duas sentimos tanto. Por todos que a rodeiam e pela japonesa que carrega uma ferida grande demais em sua alma desde os 9 anos de idade! Por sermos próximas de Chaeyoung, sofremos por ela também... A pequena garota sofre uma carga muito grande, desde muito tempo e eu sempre acho que ela nunca viveu o luto de seus pais por conta disso. Não havia tempo, seu tempo era exclusivamente para Mina e para sua irmã.
– Tudo pronto? – Perguntei baixo me referindo as malas para a escola.
– Fala só arrumar os materiais escolares na mochila... – Sana disse demonstrando que procrastinou um pouco na organização, o que era novidade.
– Não durma tarde, ok? – Dei um tom de despedida na minha voz.
Ela assentiu com a cabeça e suspirou passando os olhos no meu pijama.
– Eu gosto desses antigos... – Me contou e a cada dia achava mais graça sobre sua fascinação na roupa que eu uso para dormir.
Hoje estava com um pijama mais velho, de botões e manga curta, e o short era mais longo. O conjunto era todo amarelo pastel e tinha desenhos de patinhos na parte de baixo.
– Os novos estão todos na mala, não quero ter que levar uma mini mudança toda semana... – Eu vi um singelo sorriso crescer em seus lábios enquanto eu falava, por isso comprimi os lábios. Quando na verdade tentava reprimir falas inapropriadas saírem da minha boca.
– Sorte a minha de ser sua colega de quarto... – Ela disse bem baixo e mordeu o lábio inferior antes de beijar brevemente minha bochecha. – Até amanhã, Dah.
– Manda um abraço pro meu casal pomposo favorito do mundo, ok? Só não vou até o carro para beijá-los pois já estou de pijama... – Pedi e emendei uma explicação meio apressadamente.
– Vai sonhando que o recado vai ser dado... – Sana disse rindo um pouco já segurando a porta.
– Ei, depois eu sou a ciumenta... Que absurdo... – Reclamei enquanto ela fechava a porta.
Nas próximas noites, teria ela dormindo comigo. Era óbvio, esperado, comum... De segunda a sexta, teria ela comigo em uma pequena cama de solteiro. Posso dizer, que meus sentimentos em relação a isso me davam certa apreensão.
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Fui uma das primeiras alunas a chegar no auditório, tendo assim o privilégio de sentar na segunda fileira. Mandei mensagem para a Sana, avisando que já havia passado no nosso quarto no prédio A de dormitórios e pedi para se apressar. Logo o auditório estaria cheio de alunos, tanto veteranos quanto novatos.
No dia de hoje, a escola recebia os alunos do ensino médio apenas. Daqui uma semana, seria o dia dos alunos internos da segunda metade do ensino fundamental. Era o sistema eficaz que utilizavam para receber os jovens mais próximo de faixa educacional, para dar os devidos avisos, cronogramas, programas que seriam abertos e atividades extracurriculares obrigatórios.
Aos poucos, alguns alunos iam aparecendo e acenei para um ou outro que conhecia. Ainda estava sentindo um pouco neutra no dia de hoje, bom, sentimento que durou até Park Jihyo aparecer na porta do auditório, com um sorriso simpático nos lábios e conversando com um dos alunos mais antigos da instituição. Ela simplesmente brilhava!
Jihyo era absolutamente a estrela da escola e até um tempo atrás, era apenas por ser a garota prodígio. Hoje em dia tinha duas coisas que as pessoas sempre falavam para se referir a ela. Frequenta essa escola desde o início do fundamental, mas pulou três anos, após realizar provas que comprovavam de sua habilidade ser superior do que a maioria dos anos. Jihyo também era uma afronta direta ao estereótipo de nerd de clichês americanos, ela sempre foi a garota mais moderna, madura, gentil, humilde, inteligente e empática da instituição.
Não existia nenhum professor que não adorasse ela! Aliás, todos ali admiravam e eram bons quando se falava nela. Era uma garota que não criava círculos e um grupo popular, sempre estava com pessoas diferentes, sendo amiga de todas. Na hora do almoço, qualquer um podia procura-la na cantina e não iria encontrar de forma alguma. Nos almoços, eu sabia, Jihyo estaria na sala debaixo da escada do prédio de artes (onde era exclusivo para os funcionários, que cuidam da limpeza da instituição, realizarem suas refeições).
Ela sempre foi esse tipo de pessoa. Mas, ainda assim, eu me surpreendi de vê-la nesse primeiro dia de aula. Esperava encontra-la pelos corredores amanhã, ninguém julgaria, certamente ela não levaria falta e ninguém abriria a boca para reclamar quanto a isso.
Mas Jihyo só não tinha vindo, mas estava usando um vestido florido rosado. Era algo muito simples, que parecia um soco no meu estomago. Eu sabia o motivo dela usar um vestido daquela estampa e quando nossos olhos se chocaram, meus olhos se tornaram mais úmidos.
Quando me dei conta, ela me abraçou forte.
– É uma homenagem bonita. É como se ela estivesse aqui também. – Comentei bem baixo, me afastando e tocando suavemente o pingente prata de rosa que ela usava.
O segundo motivo da popularidade de Park Jihyo era a tragédia que viveu, um dia antes do início das aulas do ano passado. Eu estava entrando no ensino médio e tudo era muito novo, da minha turma eu apenas tinha uma colega muito próxima de mim e lembro que fiquei um pouco desesperada quando não a vi ali. Sana não tinha ido no primeiro dia de aula pois estava muito resfriada, ela só foi pra escola dois dias depois.
Park Mi Do, era a minha companheira de todos os trabalhos existentes e minha companhia para estudar qualquer assunto. Como sua irmã, Park Jihyo, ela também era uma garota prodígio. Porém seu talento era absurdo mesmo no piano, composição e canto. Completamente o oposto de Jihyo, eu posso afirmar.
Enquanto Jihyo conversava e interagia com todos, Mi Do só fazia interações necessárias.
Jihyo abraçava calorosamente qualquer um, Mi Do não era aberta para toques que não fossem avisados previamente.
Jihyo era extremamente boa em exatas, Mi Do tinha dificuldade com os números.
Jihyo sempre demonstrou se sentiu confortável com atenção e honestamente, todas sabiam que ela amava aquilo, Mi Do só gostava de atenção quando estava em um palco deixando toda a plateia sem ar com seu talento musical.
Jihyo sempre teve um estilo extremamente feminino, Mi Do gostava mais de um estilo sóbrio e casual. Suas roupas, em maioria extrema, eram com paleta de cores neutras e lisas. Não gostava de estampas com uma exceção: flores. As únicas peças que usava por aí com estampas continham flores, seguindo sua paleta de cores neutras.
Mi Do era apaixonada por flores. Sua flor favorita era rosa, mas não vermelhas como a maioria ama, ela era amante de rosas amarelas. Lembro que em uma aula de física, perguntei pra ela o porquê de sua flor favorita ser rosas amarelas.
Ela me respondeu que amava as divergências de significados. “Muitos acreditam que seja amizade, outros desconfiança, alguns segundas intenções. O que a pessoa acredita, é a verdade que será cultivada e eu amo isso” lembro de sua voz doce me dizer.
Park Mi Do era encantadora como sua irmã é, porém de um jeito mais reservado, calmo e sereno. Ela não gostava de estar em multidões, não conseguia processar interações em grupos de mais de três pessoas das quais não eram próximas, se assustava facilmente com gente super energética que chegasse berrando/pulando e era amante de animais. Eu deveria certamente ter cultivado mais o significado de amizade com ela, essa é uma das coisas que mais me arrependo na vida.
No primeiro dia de aula do ano passado, a diretora da escola deu um aviso para todos: A família Park tinha sofrido um acidente de carro grave e a única sobrevivente estava internada na UTI em estado gravíssimo.
No mesmo dia, a escola mandou um ônibus para o velório de Mi Do e sua família. Apenas a nossa turma e alguns professores foram, lembro que fiquei particularmente impressionada sobre a quantidade de pessoas no local. Eu tive certeza, era uma família amada por todos.
Apesar da quantidade de pessoas, não havia familiares. Apenas uma mulher, chamada Sunmi, que estava recepcionando todos que chegavam para prestar luto. Minha intenção era ficar invisível, estava em completo choque com aquilo. Não tinha realmente vivenciado alguém próximo de mim partir...
Porém os professores me puxaram para perto de Sunmi, alegando que eu era a amiga mais chegada de Mi Do. Não era mentira que eu era a pessoa mais próxima dela da turma e talvez da escola toda, porém a palavra amizade me cortava um pouco. Na época eu achava que não tínhamos um laço tão forte para ser chamado de amizade, pensava isso por comparar o que eu tinha com a Sana, Chaeyoung e Somi.
Descobri através de Sunmi que os pais de Mi Do se conheceram crianças em um orfanato, ambos não possuem familiares e com a maturidade, se apaixonaram e cultivaram esse sonho de ter uma grande família. Realmente, a família de Jihyo era grande, como pude ver na sala sob a quantidade de caixões que estavam sendo velados.
O casal teve 5 filhos, Jihyo era a mais velha, depois vinha Mi Do e logo atrás os trigêmeos. Lembro que nitidamente quando cheguei mais perto para conhece-los no velório, quando o fluxo de gente tinha diminuído, até então não havia chorado. Primeiro conheci o pai e a mãe de Mi Do, serenos e envoltos com margaridas. Eu lembro de ter olhado os detalhes dos rostos dos dois e o pensamento como uma facada passar por minha cabeça: Se você tivesse saído com Mi Do algum dia antes, teria os conhecido apropriadamente.
Parte de mim foi destruída ao ver os trigêmeos, dois meninos e uma menina. Os caixões eram brancos e menores, tinham 5 anos de idade. Pareciam bastante com Jihyo, o queixo e os lábios principalmente. Eu me senti terrivelmente afetada ao vê-los, ao perceber que a vida deles foi ceifada tão cedo e de modo tão inesperado.
Mas só foi quando vi Park Mi Do dentro de um caixão e rodeada com rosas amarelas, que as lágrimas tomaram meu rosto como cachoeira. Doeu em minha alma vê-la sem vida, usando um vestido branco liso, pálida.
“Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece.” Tiago 4:14
Esse foi o versículo que veio na minha mente quando eu toquei meus dedos timidamente na bochecha de Park Mi Do, com a imagem dela sorrindo em minha direção em uma manhã ensolarada de sexta-feira, num horário livre, perto da estufa da instituição. Mi Do também brilhava, poucos conseguiam enxergar o seu brilho fora dos palcos..., mas eu tive a honra de vivenciar seus sorrisos e o brilho de seus olhos amendoados por tantas primaveras.
Eu passei mal nesse dia, precisei ir pra um hospital e tomar medicação na veia. Meu pai sempre diz que tudo que minha alma sente, meu corpo grita. Naquele dia, me senti sem vida após lidar com seis pessoas sendo veladas e ainda com uma conhecida lutando para viver em um hospital sem ao menos ter a mínima noção que havia perdido toda sua família.
Assim como Chaeyoung, Jihyo não teve a chance de se despedir de seus familiares apropriadamente no tempo certo. A recuperação de Jihyo foi conturbada, perdeu um ano letivo, mas também teve muitas reviravoltas em sua vida.
Sentando-se do meu lado naquele dia que certamente doía em sua alma, ela tentava ter um sorriso gentil e praticar o que tinha me dito que faria há sete meses atrás... Se permitir viver. Sunmi, sua madrinha, nos aproximou muito e sou grata a isso. Tenho trilhado um caminho para cultivar a amizade de Park Jihyo.
Porém hoje sei que, apesar de toda a simplicidade, Mi Do não era apenas uma conhecida. Meus momentos com ela, me permitia saber muito mais que sua idade. Sei que éramos amigas, na época só não conseguia enxergar isso por algum motivo. Era como se minha ótica em relação a ela fosse embaçada, apesar de sempre amigável e sincera.
– Como foi as férias? – Perguntei de forma distraída.
Sabia que Jihyo tinha “viajado” com as pessoas que mais amava no mundo.
– Melhor coisa foi viajar, ter paz e tranquilidade. – Sua voz tinha gentileza.
– Vocês só alugaram uma casa um pouco mais distante da cidade com quintal enorme e fingiram ter saído da cidade... – Impliquei um pouco para o que ela chamava de “viagem”.
– Mas o quintal enorme nos permitiu acampar, foi muito legal. Não sair de casa e não ver ninguém, foi revigorante.
Eu dei uma breve risada e ela me deu um olhar mais atencioso, o que me chamou bastante atenção e então, ergueu a mão esquerda e aproximou de seu rosto. Seu sorriso era tímido, mas me dizia tudo.
Surpresa e feliz, rasguei um sorriso nos meus lábios.
– Você merece um universo inteiro de felicidades. – Disse a abraçando como pude, afinal, estávamos sentadas já naquelas poltronas almofadadas.
– Em três meses faremos um jantar para oficializar o noivado e trocar esse anel por aliança de noivado. Sua presença é obrigatória! – Sentenciou quando nos afastamos um pouco.
Uma das coisas que foram uma montanha russa na vida de Jihyo, foi a aproximação e sua paixão inesperada por Kang Daniel. Lembro do dia que ela me contou sobre quando o conheceu! Era um dia chuvoso e tinha a visitado no hospital. Ela me contou que havia um rapaz inconveniente que tinha acesso a todo o hospital, mesmo que teoricamente não pudesse ter.
Ela descobriu através de uma enfermeira que ele era filho dos donos do hospital e que invés de festas, amava estar nos corredores do lugar. Tanto que havia acompanhado desde o início a progressão da maioria das pessoas internadas a mais tempo ali e a entrada/condição/história de Jihyo chamou atenção dele. Ele por vontade própria se aproximou de Jihyo, que sofria amargamente com a perda da família e que devido ao seu emocional tão abatido, estava tendo dificuldades na recuperação de sua cirurgia ortopédica.
Jihyo o afastava de todas as formas, mas todo dia ele voltava para falar com ela, aos poucos foi cedendo e se abrindo. Devido a cirurgia em sua perna direita, acabou com uma discrepância de membros de 1,5cm. Facilmente resolvido com palmilhas ortopédicas. Foi a única sequela real do acidente. Jihyo passou por duas cirurgias cardíacas e uma cirurgia neurológica, felizmente não obteve sequelas. Apenas algumas cicatrizes de cirurgias e a pequena discrepância de membros inferiores, foi no pior estado de Park Jihyo que Kang Daniel se apaixonou perdidamente.
Eu não o julgo, honestamente, é complicado estar perto de uma pessoa tão iluminada e maravilhosa sem amá-la completamente em pouquíssimo tempo. Daniel era paciente, companheiro, amigo e cúmplice dela. Quando aconteceu os dois, foi simplesmente natural.
Algumas poucas más línguas gostavam de indicar sobre Kang Daniel ser mais velho que Jihyo, além de já cursar a faculdade de Medicina. Felizmente, Jihyo não ligava quando ouvia esses comentários em tons maldosos sobre eles. Ela merecia reconstruir a vida aos poucos, enquanto ainda absorvia a falta constante de sua família. Como os pais, havia se tornado órfã. Como os pais, também conheceu o amor em momento de dor. E como os pais, Jihyo passou a sonhar em estar em uma casa lotada de sua prole.
O noivado era um início de um novo sonho cultivado por ela.
Eu a admiro muito.
Enquanto Jihyo tem uma verdadeira força de mover montanhas, eu tenho uma verdadeira covardia dentro de mim.
– Você pediu pra ela te ajudar nos preparativos, certo? – Assim que escutei o tom melodioso da voz de Hirai Momo, virei minha cabeça automaticamente.
– Não, Momoring... Pois isso é cargo seu. – Jihyo sentenciou divertida enquanto observava a expressão de falsa animação da amiga e companheira de quarto desde sempre.
Momo sentou-se no lado da Jihyo, fazendo com que meu lado esquerdo continuasse vazio à espera da minha melhor amiga.
– Você não está grávida, está? – Momo perguntou para a Park com um olhar que poderia dizer que é de alguém que quer provocar.
– Pare com isso. – Jihyo respondeu tentando segurar um sorriso nos lábios. – Fizemos um esboço do nosso planejamento familiar e tentaremos daqui três anos...
– Você estará na faculdade.
– Tudo bem, as pessoas se virão nos trinta tendo filho sob qualquer idade. – Jihyo demonstrou sua opinião formada sobre o tempo certo de ter uma criança brevemente. Eu já conhecia decorada a versão explicativa! A visão de Jihyo sobre o mundo é uma das minhas coisas favoritas. – Eu quero que seja durante a faculdade pois pretendemos ter pelo menos três filhos.
Momo pareceu se perder em seus pensamentos após Jihyo fechar a boca, logo observei quem chegava perto da nossa fileira. Sana vestia uma jardineira de calça e uma blusa branca de manga ¾, básica e deslumbrante. O sorriso no rosto dela era tão grande e transmitia tanta alegria que contagiou os meus lábios, sorri vendo a forma que abraçava calorosamente Momo e Jihyo. Perguntou coisas casuais as duas antes de passar por mim, no pequeno espaço puxou minha mão e me abraçou. De forma tão calorosa quanto as outras garotas, porém me senti especial quando seus lábios selaram carinho supremo na minha bochecha direita.
Ao se sentar, começamos a conversar em grupo sobre professores, matérias e aulas opcionais que gostaríamos de fazer esse ano. Sana contou pra gente que fez uma apresentação com slides e estatísticas para convencer seus pais de pagarem um curso online de preparação as provas de entrada na universidade. A partir daquele momento, Jihyo e Sana conversaram entre si sem parar. Tinham um sonho em comum e interesse nas mesmas universidades, enquanto isso, Momo ficou no celular sorrindo que nem uma boba o tempo inteiro e eu me senti confortável de observar tudo.
Assim que a Diretora entrou no auditório, todos que estavam em pé em rodas de conversas se apressaram para se sentarem e se calarem. Sana se acomodou melhor na cadeira e virou o rosto para falar algo em sussurros comigo.
– Obrigada pelo café da manhã no quarto... O que eu seria sem você? – Dito isso, estalou outro beijo na minha bochecha.
Imaginei que pela Sana estaria correndo hoje pela manhã e trouxe comigo de casa um pequeno lanche, deixei no quarto arrumado com bilhete. Ganhar aquele beijo na bochecha estalado era sem sombra de dúvidas, uma satisfação gigante.
É assim que namorados se sentem quando cuidam da garota que ama?!
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Nosso quarto era o mesmo dos anos anteriores, um tamanho ideal, eu diria. Poderia ser maior? Sim, mas do jeito que estava dava pro gasto completamente. Tinha uma única mesa de estudos, que fica entre nossas camas, poderíamos ter mais espaço se esse móvel tivesse ficado quando no dia que passamos a compartilhar esse espaço. Colada na parede, com a cadeira e a vista perfeita da estufa e horta da instituição para inspirar bons estudos! Porém um fato engraçado é que a Sana tem uma paranoia singular: ela não se sente segura sem ver a porta, ao se sentar para estudar. Por conta disso, agora, a disposição do móvel fica de forma que quem se senta tenha a visão do quarto e fique de costas pra visão que a janela proporcionava.
Depois da reunião no auditório, tivemos muito trabalho para fazer: organizar nossas roupas nos pequenos armários, trocar as roupas de cama, organizar o banheiro e a pequena mesa que era simplesmente nosso quebra galho em quesito cozinha pois tinha uma chaleira elétrica e um fogão elétrico de uma boca apenas, pequeno e portátil. Era uma mão na roda fora dos horários de refeições principais na cantina.
E então, estávamos ali depois do banho. Quase como um sonho pra mim, o dia indo embora transformando o ambiente do nosso quarto em um cenário de cinema, e a japonesa sentada na mesa de estudos com uma concentração atraente, usando fones de ouvido e assistindo uma videoaula logo em nosso primeiro dia. Eu poderia ter me sentado do lado da cabeceira da minha cama e ficar de costas para ela, mas não, de forma inocente acabei me sentando de costas pra porta e tendo a perfeita visão da minha colega estudando.
Deveria estar me concentrando no livro que peguei com intenção de ler, mas era impossível não me perder com a beleza de Sana Minatozaki naquele momento. Não com uma iluminação alaranjada, não com ela vestindo suas blusas largas como pijama, não com a forma que ela passa a franzir o cenho em alguns momentos, não com a forma que ela morde os lábios em outros momentos...
Ela realmente estava absorvida pelo conteúdo que assistia, o que me fez ficar mais tempo admirando-a e de forma vergonhosa pensar algo impuro quando ela combinou o molhar e uma mordida em seu lábio inferior.
Havia um pensamento que eu lutava contra por força da vergonha na cara e respeito: a resposta de Sana para masturbação. Sua resposta sobre a mudança de ideia no tópico de masturbação pregou no fundo da minha mente como chiclete.
Para ser sincera comigo, tenho tido problemas ao ficar completamente sozinha pois eram os momentos que mais me invadiam de um pensamento sobre a possibilidade da minha querida amiga ter tentado o ato de masturbação. Pois sequência da curiosidade despertada em minha mente, projetavam-se imagens eróticas de Sana fazendo o ato.
Eu me sinto envergonhada e desconfortável com isso. Como uma jovem comum, já havia lidado com projeções eróticas na minha mente. Porém, era diferente. Nessas outras vezes, nunca tive coragem de projetar uma mulher. Sempre foi sobre homens sem rostos, detalhes, sem personificação. Eu trato essas projeções com homens mais como um treinamento para o futuro, pensar no que poderia ou não querer fazer com um homem no futuro.
Agora, essa situação nova que vivo nas terras desconhecidas da minha mente, é completamente constrangedor. Assisti-la estudar, focar tanto em seus lábios e expressões, quase faz meu corpo entrar em combustão... por apenas passar na minha cabeça de relance uma mudança de cenário, com suas expressões concentradas em se dar prazer...
Provavelmente, estava quebrando um recorde sobre a falta de vergonha na cara de..., deseja-la. Por mais vergonhoso e desrespeitoso que seja, pelo calor do meu momento em me permitir sentir desejo por ela, continuei focada em seus lábios entreabertos mesmo no segundo seguinte quando ela tomou conhecimento do meu ato libidinoso.
Sana leva sua mão para o celular que estava em um suporte rosa, não tira os fones, não move a mão direita que permanece com a ponta da caneta encostada no papel. Seus olhos vão de encontro com os meus de uma forma tão desnuda que o ar em meu peito se prende e passo a ter dificuldade de respirar.
A forma que seus olhos escorregam para os meus lábios faz uma abertura de desespero na minha alma. Desespero em qualquer leve desconfiar que não sou somente eu que sinto desejos inapropriados nesse quarto, algo que seria inaceitável.
Longos segundos se passam para que seus olhos sem nenhuma vergonha passem sobre o colo do meu peito desnudo. Nesse momento vejo que já abaixei meu livro pois as forças dos meus braços sumiram, assisti quando seus lábios foram umedecidos suavemente.
Me perdi ali por mais alguns momentos até que meus olhos foram de encontro com os olhos dela e por mais distante que tivesse nossos corpos, era como em cada fio de cabelo do meu corpo sentisse que o ar que nos envolvia estava denso e queimando.
Isso era o que chamavam de clima? De simplesmente saber quando tem algo?
Pulei da cama com o peito ardendo por dentro.
– O que está lendo? – Sana perguntou com leveza em sua voz como quem simplesmente sabia o que tanto queimava meu peito e em uma talvez em tentativa de emancipar o clima formado por nós.
Eu não tinha o que responder.
Eu não me lembrava e por mais que encarasse o livro na minha cama, minha cabeça estava bagunçada demais para processar qualquer coisa. Por esse motivo me troquei rapidamente no banheiro, coloquei minha camisola na cama e quase corri pra porta.
– Vou deixar você estudar em paz. – Falei de forma audível e firme, com as bochechas formigando e sem olhar em sua direção, antes de sair do quarto.
Como a grande covarde que eu sou, estou fugindo.
Teria no mínimo 2 h antes que funcionários passassem em todos os cantos enxotando os alunos para seus dormitórios. Ainda assim, resolvi ir para o prédio comum entre os estudantes, ele ficava entre os dormitórios femininos e masculinos. Em uma quadra próxima podia escutar meninos jogando basquete, alguns grupos formados conversando calorosamente e em busca de um refugio maior resolvi fazer algo útil.
No quadro de avisos e inscrições para aulas opcionais, buscava uma atividade voluntária para contribuir com a instituição e passar mais tempo fora do meu quarto nesse ano. Entre as opções de aulas não obrigatórias, acabei me interessando na turma de web design e matemática avançada 2.
No ano passado tinha me dado bem com matemática avançada 1, ocupou minha mente mesmo que estudos como este sempre iriam me lembrar de Park Mi Do. Entre as atividades voluntárias não achei nada que fosse mais solitário, precisava de algo que ocupasse tempo e que não tivesse tanta gente envolvida.
– Vai escolher que aulas, Kim? Não sei você, mas esse ano faço web design... – A voz de Kim Woojin surgiu pouco atrás de mim. Me virei pra ele e sorri gentilmente.
– Não sei quando vai deixar de ter tantas coisas em comum comigo. Fala sério. – Falei em tom queixoso puxando um certo divertimento na voz.
Uma das coisas mais engraçadas da minha vida escolar inteira foi a existência desse garoto, desde a aula de arte do ano passado em que nunca tive que lutar pela preferência de um tema até ele desejar o mesmo tema que eu.
Talvez estudantes comuns não fossem tão emocionados como eu absolutamente sou, lembro bem daquela aula. Qualquer tema pra qualquer um ali seria mais uma obrigação a cumprir então ninguém ali dava importância entre as escolhas. Enquanto eu estava inquieta por conta da ansiedade de porventura não conseguir escolher a arte Renascentista para realizar o trabalho. Meu número era o 10 e o número de Kim Woojin era o 11, ele ficou muito indignado com o fato que não ficaria com aquele tema quando eu fiz a minha escolha e eu puxei os tons de reclamações dele para uma discussão árdua.
Confesso que no final ele fez uma terça muito mais interesse com tão pouco e a partir daí, considero-o uma grande caixa de surpresas. Mas falava sempre que ele não passava de um copiador nato! Tanta semelhança de gostos ainda era motivo de surpresa pra mim em cada descoberta natural, apesar disso, desenvolvemos uma relação social de colegas muito legal.
– Então vai se inscrever na aula? – Ele perguntou interessado usando seu sorriso charmoso.
– Não sei ainda... – Comentei pensativa. – Gostaria de fazer uma atividade voluntária, mas essas divulgadas não tem muito minha cara!
Ele deu um passo a frente, ficando do meu lado e analisando bem a lista de atividades de voluntariados. Depois de um pouco de silêncio, se virou em minha direção.
– Engraçado não ter lista para cuidados com a horta. – Ele começou a comentar casualmente. – Hoje mais cedo quando fui na administração resolver uma pendência de documentos, a Sra. Taeyeon estava comentando que só tinha uma pessoa pra ajudar o Sr. Choi.
Olhei pra lista de novo observando que já haviam pessoas demais com inscrições naquelas outras opções.
– Talvez eu devesse conversar com a sra. Taeyeon amanhã... Obrigada pela informação, Woojin. – Ele assentiu meu comentário com um sorriso de lado.
– Então... Frango frito com...? – A pergunta arrastada dele me fez rir suavemente. Mudando o rumo de nossa conversa para novas descobertas de coisas em comum. Quando a gente se encontrava e conversava, era uma mania natural que se tornou costume.
– Frito duas vezes com curry na massa. – Ele fez uma expressão engraçada que me indicou que também gostava daquela forma.
– É igualmente gostoso como...
– Como frango com aquela crosta caramelizada apimentada e adocicada... – Completei sem evitar rir com ele concordando com a cabeça de forma exacerbada.
– Beringela?
– Empada. – Ele comentou e eu o olhei desacreditada.
Nosso jogo sobre coisas em comuns na categoria seguiu e eu descobri que tinham três coisas que nos diferenciavam: ele não gosta de chocolate, única bebida com gás aceitável pra ele eram as levemente gaseificadas (sabores não importava) e seu gosto por doces com matcha eram altamente duvidosos.
Woojin foi embora primeiro, depois de quase duas horas e o alarme de aviso soar, e eu fiquei o observando até que ele virasse o corredor indo pra direção dos dormitórios masculinos. Não evitei criar cenários na minha cabeça, como: se eu tentasse ter algo com ele?! Era cristão, bonito, sua idade é bastante próxima da minha, não possuí a cabeça tão fechada, nunca foi desrespeitoso nem mesmo nas nossas discussões sobre arte renascentista, havia cerca de um milhão de coisas em comum comigo, a sociedade o aprovaria, meus pais gostariam dele, provavelmente meu irmão ganharia um melhor amigo e Irene iria importuná-lo sempre. Ele é gentil e talvez por conta disso valesse a pena sair com ele algum dia.
É simplesmente algo que precisarei lidar um dia. Não posso deixar de fazer uma nota mental que, preciso saber ou aprender o que seria tolerável estar com um homem.
Com essas coisas passando na minha cabeça, tentando pensar racionalmente, voltei pro meu quarto. Ao abrir a porta, pude notar que Sana já estava deitada, ela deixou apenas a luz do banheiro ligada.
Resolvi tomar outro banho, tentei tirar o máximo de umidade dos meus cabelos e vesti minha camisola. No espelho do banheiro, eu enxergava alguém levemente hipócrita. Eu fugia, me amargurava, não consigo aceitar que tenho atração por uma amiga, havia um medo me perseguindo, questionamentos demais na minha cabeça... E ainda assim, no final do dia, eu vestia uma camisola com um bom decote, com uma fenda na coxa direita e com partes rendadas. Sabendo que o motivo de toda essa confusão na minha cabeça vai dormir comigo assim...
Mesmo sentindo um certo impulso de vontade de mudar minha roupa novamente, apaguei a luz, fechei o banheiro com cuidado, mas ao virar meu corpo percebi que Sana já estava sentada na minha cama.
– Eu já tranquei a porta. – Ela avisou suavemente quando fiz menção de ir em direção a porta de entrada.
Andei em sua direção tentando parecer tranquila, porém meu corpo estava tremendo com uma ansiedade incomum. Seus olhos não se desviaram dos meus por nenhum instante e havia um sorriso sereno em seus lábios.
– Foi produtivo os estudos? – Perguntei casualmente enquanto engatinhei na cama para ir pro meu lado, o lado menos articulado. Busquei não me importar com o fato da minha camisola subir consideravelmente com aquela ação.
– Foi muito bom, na verdade, gostei da plataforma do cursinho online. – Ela comentou com a voz baixa e suave.
Me ajeitei na cama, deitando de lado, virada pra parece e sentindo todo o nervosismo passar como uma corrente elétrica no meu corpo. Com tão pouco, meu corpo virou escravo, e a verdade que estava com expectativa da forma que a outra iria tocá-lo para dormir.
O que me viria hoje? A versão da Sana sem vergonha na cara que se agarraria em mim e distribuiria alguns beijos em meu pescoço? Ou a versão da Sana amiga com medo de dormir sozinha e com o mínimo de toque possível?
Minha razão queria a segunda opção.
Meus sentimentos gostariam de ter a primeira opção.
– Tenho certeza que você vai passar. – Comentei positiva sentindo-a se ajeitar na cama também, o meu coração vacilante tremia na expectativa.
– Você será a primeira a saber, se eu passar. – Sana sussurrou uma promessa que parecia um abraço caloroso em um dia chuvoso, pois me fez especial.
A minha coberta passou a ter a complicada tarefa de esquentar dois corpos e a mão de Sana pousou suavemente na minha cintura. No final, esta noite, estaria com a versão dela de amiga buscando companhia para conseguir dormir.
Um breve silêncio foi feito e ouvi o suspiro que ela deu, outro ponto do meu corpo teve contato com o corpo dela. Sana encostou sua testa em meu ombro e eu pude sentir sua respiração esquentar minha pele.
– Dah, alguém especial me pediu para tentar algo e hoje percebi que talvez seja necessário mesmo... – Sana me contou com uma voz que mais parecia uma lamentação.
– Você vai tentar o que? Masturbação? – Perguntei fazendo certa graça e recebi sua risada gostosa na pele do meu ombro.
Senti um beijo suave ali.
– É isso mesmo? – Questionei de novo estranhando a demora de resposta da minha brincadeira.
– Não... – Percebi hesitação em sua voz. – Isso... Já tentei... É outra coisa...
Tal afirmação me fez ficar vermelha.
– Com sucesso?
– Sim. – Ela respondeu acanhada.
– Pensando em alguém? Ou sem ser alguém especifico? – Certo, talvez ser uma pessoa curiosa demais possa ser perigoso demais.
– Sim, em alguém.
– Uau... como? – A surpresa da minha voz e pergunta surgiu espontaneamente.
Ela sorriu. Eu a ouvi sorrir.
Sua mão que apenas se apoiava na minha cintura, desceu um pouco sobre a lateral do meu quadril e eu gelei.
– Está pedindo que eu te ensine sobre masturbação, Kim Dahyun? – Sana usou sua voz rouca e seus dedos carinhosamente passearam sob a fenda da minha roupa.
Eu ri de nervoso, literalmente. Minha mão encontrou a mão dela, segurei firme e a puxei com delicadeza. Logo, Sana estava abraçada junto do meu corpo, ainda risonha.
– Brinque nos seus sonhos, Sannie. – Enquanto minha fala era uma breve rejeição dita em tom doce, minha mão a segurava firme e meu sorriso foi audível quando senti os lábios dela selarem rapidamente o meu pescoço.
Minha mente dizia uma coisa.
Meu coração, meu corpo e minha alma, talvez mostrasse um pouco do que realmente se tratava meus sentimentos por Sana Minatozaki.
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