História Homeostase - Falling fast

    Nos dias seguintes, Sasuke passou a me levar em um dos melhores psicólogos da cidade. Eu comecei a tomar alguns anti-depressivos passados pelo médico e havia parado de beber, já que ele dizia que álcool é a pior coisa para quem está em depressão porque ele te joga mais ainda no fundo do poço.

     Quando comecei a me sentir melhor, voltei a ir pra escola e a Hina fez questão de tirar xerox do caderno dela pra repor o que eu tinha perdido. Nenhuma  das meninas –e isso inclui o Sai- sabia o que tinha acontecido pra eu ter desaparecido por tanto tempo, por isso resolvi chamar todas para dormir na minha casa, assim eu explicaria tudo o que tinha acontecido e nós poderíamos nos divertir, como costumávamos.

....

    Eram sete da noite da sexta-feira quando as meninas e Sai chegaram lá em casa para a tão esperada “noite das garotas”.

-SAKURAAAAA, MENINA, VOCÊ DESAPARECEU! QUANDO ME LIGOU PRA ME CHAMAR PRA CÁ EU ME SENTI FALANDO COM UM FANTASMA! –gritou Sai, me dando um abraço tão forte que senti meus ossos quebrarem- NUNCA MAIS FAÇA ISSO!

-Pode começar a nos dar as satisfações que você nunca deu a ninguém. –Ino  reclamou.

-Realmente, estávamos preocupadas! –Hina disse

-Eu não, como assim vocês se preocupam com essa daí? –brincou Temari, apontando pra mim.

-Vamos entrando que eu to com fome. –falou Tenten

     Todos entraram e foram guardar as coisas no quarto. Meus pais, pra variar, estão viajando. Quando voltaram, eu já havia ligado para a pizzaria e pedido 7 pizzas grandes de sabores distintos. Fizemos uma rodinha no chão da sala e todos estavam me encarando, esperando eu começar a falar.

-Bom, acredito que não sou só eu que tenho coisas pra dizer aqui... –falei- mas provavelmente eu que devo começar. – todos continuaram me encarando- Eu vou ser bem rápida e clara com vocês e aí vocês me perguntam qualquer coisa depois que eu terminar, ok? Enfim, já fazia um tempo que eu estava estranha e bem diferente e aí descobri que o motivo disso era que eu estava em depressão, mas essa última foi a pior de todas as fases da doença. Eu simplesmente não conseguia levantar e nem ter animo pra fazer nada, por isso não atendia vocês e nem olhava as redes sociais.

-Como assim? Por que você não nos contou que tinha depressão? Nós poderíamos ter ajudado! –falou Tenten

-Desculpa gente, eu não sabia na época e nem fui eu que descobri sobre isso, foi o Sasuke, e desde lá ele vem me levando no psicólogo e eu to  tomando remédio agora.. –disse

-Mas por que não nos contou quando descobriu? –Ino perguntou

-Eu não queria preocupar vocês e nem que vocês me vissem mal daquele jeito. Eu estava desesperada pra sentir vontade de viver de novo.

-Mas você contou ao Sasuke! –protestou Sai

-Como eu disse, não contei não. Ele que descobriu.

-Como ele descobriu? –perguntou Hina

-Um dia, quando eu consegui levantar da cama, fui beber lá no Seven pra tentar sentir alguma coisa e o Sasuke tava lá. Ele me trouxe pra casa, cuidou de mim e eu desabafei com ele, falei tudo o que tava acontecendo. Ele disse que ia me ajudar e aí a gente transou e eu realmente deixei  ele entrar na minha vida. Ele sempre estava comigo, em  todas as horas. Ele chegou a vir na minha casa de madrugada várias vezes e até me dar banho enquanto eu chorava, como  se eu fosse uma criança. Se não fosse por ele, eu realmente não sei o que seria de mim hoje.

-Puta que pariu. Tudo isso aconteceu e você não nos contou. –Tenten estava perplexa com minhas palavras.

-Caralho. –Sai pulou em cima de mim, me abraçando e todas repetiram este ato, quase me esmagando.

-Você deveria saber que pode contar com a gente pra tudo, testa. –Ino falou.

-É isso aí. A gente te ama, sua tabacuda. –Temari falou

-Eu sei que posso contar com vocês. Eu também amo vocês.

-Desculpa por não estarmos lá pra você nesse momento. Nunca mais faremos isso. –Hina estava emocionada

-É! Da próxima, quando você não atender o celular nem a campainha da casa, vou pular a janela. Fuck the police. –Brincou Ino

-Só você? Eu venho junto! –falou Sai, dando um tapa na testa de Ino.

-Todas nós.-falou Tenten.

-Não foi culpa de vocês, vocês não sabiam pelo que eu estava passando. –falei

-Mas nós devíamos ter percebido que alguma coisa estava muito errada! –Sai falou

-Nada disso é importante. A única coisa que importa é que nós estamos juntas agora. –eu disse e nós demos um abraço grupal.

     Depois dessa conversa, a pizza chegou, nós fizemos brigadeiro e batata frita pra acompanhar. Colocamos uma série pra assistir no netflix e passamos a noite inteira rindo, vendo filme, comendo e jogando just dance. Foi uma das melhores madrugadas da minha vida.

....

         Era quarta-feira e eu estava desesperada na escola porque as provas estavam chegando e, apesar de eu ter estudado muito,  ainda estava insegura pra muitas coisas em diferentes matérias. Os meninos do CIC e nós do QDR estávamos muito próximos e nosso grupo cada vez tinha mais histórias pra contar, nós agora éramos o TDT, que significava “turma do treloso” e treloso significa maconha. Isso tudo porque, um dia, euzinha aqui fui comer biscoito treloso e tinha escrito “turma do treloso” no pacote e aí mudei o nome do grupo do whatsapp pra isso e acabou pegando. Eu amava aquele pessoal, sentia que tinha achado as pessoas certas.

     Enfim, voltando ao assunto, nessa quarta-feira Sasuke não passou o intervalo com a gente, e isso foi bem esquisito. Os meninos tiraram onda dizendo que ele devia tar comendo alguém no banheiro, e isso me irritou profundamente. Dei a desculpa que eu ia beber água e saí de perto da galera, me dirigindo ao bebedouro.

     Estava andando de boa até que escutei a voz de uma certa ruiva vindo da sala de aula e fiquei ouvindo por trás da porta.

-Mas se você gosta de mim, por que a gente não namora? –Karin perguntou a  alguém.

-Karin, eu já disse que acho que ainda não estou preparado! Eu quero ser o namorado perfeito pra você! –Era a voz do Sasuke.

-Não, Sasuke! Eu não sei se posso esperar mais tempo.

-Eu gosto de você, ruiva! Você não esperaria por mim?

     De repente, tudo estava em silêncio. Olhei pela janela e vi que os dois estavam se beijando intensamente. Me encostei na parede e fui escorregando minhas costas por ela até sentar no chão. Que porra foi essa que eu acabei de escutar? Talvez o Sasuke só esteja iludindo mais uma, ele tem esse fetiche. Ele sempre disse que a Karin “só era boa pra comer” e que ela era uma louca, psicopata. Mas por que me coração falhou uma batida quando eu o escutei dizendo que gosta dela? Por que doeu tanto vê-los se beijando daquele jeito? O que é isso?

     Já fazia um tempo que eu me perguntava o motivo pelo qual Sasuke me fazia sentir essas coisas estranhas o tempo todo. Ele me deixava nervosa com uma facilidade monstruosa, eu odiava vê-lo ficando e iludindo outras garotas, mas sempre mostrava apoio, ele me faz sorrir só de vê-lo feliz com alguma coisa, eu pensava nele toda hora e ainda teve o nosso  sexo. Pela primeira vez, eu senti algo a mais no sexo. Foi tão especial pra mim. Se fosse qualquer outra pessoa comigo ali naquele dia, eu não sei se confiaria nela pra cuidar de mim do jeito que ele fez e ainda faz.

      Quando eu dei por mim, o sinal já tinha tocado, mas passei o resto das aulas pensando na cena que eu tinha presenciado e no que eu sentia pelo Uchiha, mas a única coisa que concluí foi que seja lá o que fosse, esse sentimento era forte.

...

     Quando cheguei em casa, de tarde, tentei estudar mas estava sem conseguir me concentrar em nada. Minha mente voltava sempre àquele “Eu gosto de você, ruiva.” que eu havia escutado mais cedo. Eu  estava sentindo dor, mágoa e raiva ao mesmo tempo e liguei o foda-se pro mundo. Vesti qualquer coisa, peguei meu skate e me direcionei ao parque pra beber e esquecer. Quando cheguei lá, a primeira pessoa que encontrei foi Konan. Vê-la me deu uma sensação de conforto enorme.

-Sakura? Há quanto tempo! –ela falou, me abraçando.

-Konan! Que saudade! –eu disse

-Caramba! Você tá viva, pantera cor-de-rosa! –Yahiko gritou, feliz.

-Eu tava morrendo de saudade também.-Satoru falou, com malícia, no meu ouvido.

-Satoru.. –falei baixo, me virei e taquei um beijo bem dado nele.

     Quando acabamos a sessão de pegação, nos dirigimos a Konan e acendi um cigarro que comprei no caminho pro parque.

-Me dá um desses aí.. –pediu Konan.

-Só se você me der uma garrafa dessas aí- falei, apontando pras garrafas de cerveja que estavam encostadas em uma árvore.

-Pegue quantas quiser, hoje é por nossa conta.-Konan falou, me dando uma garrafa e eu a entregando um cigarro.

-E aí? Como vocês tão? Aconteceu alguma coisa interessante nesse tempo  em que eu morri  e ressuscitei? –perguntei, brincando

      Konan foi me contando os babados enquanto eu me entregava mais uma vez ao álcool e a Satoru. Quando estava muito bicada, já passava das oito da noite, Satoru me levou pra casa dele e nós transamos. O normal era eu ter aproveitado e amado muito o sexo, mas eu senti falta de algo a mais. Ou será falta de uma pessoa?

    Quando cheguei em casa, me joguei na cama e refleti novamente sobre o que eu sentia por Sasuke. Como é que alguém conseguia me deixar tão confusa? Me fazer tão feliz e tão miserável ao mesmo tempo? Eu não sei como. Ele era a pessoa com a qual eu mais me irritava, mas a que eu mais queria feliz. Ele me fazia sentir doente, ás vezes,  de tanto que eu dependia dele. Era como se eu fosse uma viciada. Sentia que eu não era nada sem ele e que, de algum jeito ele me completava. Eu não sei como foi nem por que isso aconteceu, mas eu cheguei a conclusão infeliz que eu estava apaixonada pelo melhor amigo que um dia eu tanto odiei. E eu nunca fui boa com essas coisas, eu não sei o que é amor. Eu não consigo evitar as lágrimas que estavam saindo pelos meus olhos e nem as batidas fortes do meu coração. Eu não sei o que fazer.