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História Homewrecker - Hinny - Hold On



Notas do Autor


Kelly: Oie!! Ficamos muito felizes com o retorno de vocês!!! Muito obrigada pelo carinho ❤️❤️❤️
Se vocês não leram as notas do capítulo passado, sugiro reler, tá bom? 🥰
E para quem não viu e quiser entrar no nosso grupo Hinny, manda uma mensagem para mim com seu nome e seu número que eu adiciono!

Nikoly: Olá, pessoal! Como vocês estão? Começo dizendo que estou deveras feliz e emocionada com o retorno de vocês!!! É tão lindo 🤧 Obrigada, obrigada, obrigada! (e desculpa não responder os comentários ainda, eventualmente, eu respondo hehehe)

Enfim! Boa leitura e bom fim de sexta-feira! 💗✨

Capítulo 2 - Hold On


Fanfic / Fanfiction Homewrecker - Hinny - Hold On

Loving and fighting, accusing, denying

I can’t imagine a world with you gone

Hold On; Chord Overstreet

 

 

Gina Weasley

 

Hampton não era nem de longe o pior lugar que eu já havia visto, mas também não era o melhor. Ficava às margens do South River, a 55 quilômetros de Wilmington e da costa e, à primeira vista, não parecia diferente dos milhares de vilarejos e cidades com comunidades autossuficientes, de trabalhadores braçais, orgulhosos e cheios de histórias e tradições típicas do sul.

Havia alguns semáforos pendurados nos fios que interrompiam o tráfego em direção à ponte sobre o South River. De ambos os lados da rua principal podiam-se ver pequenas casas térreas de tijolos, geminadas, estendendo-se por mais de meio quilômetro, com nomes das lojas escritos nas vitrines, anunciando lugares para comer, beber ou comprar ferramentas.

Algumas velhas magnólias espalhavam-se por lá e suas raízes rachavam as calçadas. Mais ao longe, dava para ver um outdoor antigo de uma barbearia, e até uns velhinhos sentados no banco, em frente à loja. Sorri.

– Mamãe, parece aqueles filmes que assistimos! – a minha pequena Gina havia dito, animada o suficiente para uma garotinha de quatro anos.

– Verdade! – mamãe sorriu bondosamente. – Sabia que nós vamos morar aqui agora?

A pequena Gina franziu o cenho, olhando para a mãe intrigada.

– Por que, mamãe? – ela fez um biquinho. – Eu gostava do parquinho de casa!

Mamãe ergueu-a no colo, olhando profundamente em seus olhos castanhos como chocolate.

– Eu também gostava, acredite, pequena – sussurrou. – Mas agora a gente vai morar juntinhas aqui! Não é legal?

– É sim! – a pequena Gina disse animada. – Mas e o papai? Também vai ficar com a gente?

Mamãe desviou o olhar, pigarreando logo em seguida.

– Lembra o que eu havia dito quando estávamos no carro? – ela disse séria. – Que o papai virou uma estrelinha no Céu e que não ficaria mais com a gente?

A pequena Gina assentiu com a cabeça, as bochechas gordinhas coradas com o vento gelado que batia em sua face.

– Ele vai ficar lá no Céu com os anjinhos, ok? – mamãe ergueu uma sobrancelha, a feição ainda irredutível. – E nós vamos nos divertir aqui. Juntas, sem o papai.

A garotinha assentiu com a cabeça, mordendo a bochecha por dentro.

– Eu queria o papai aqui – sussurrou, finalmente.

– Eu sei que queria – disse a mãe. – Mas não podemos ter tudo que queremos. E o papai está feliz, igual a gente vai ficar.

– Mas a mamãe não está com saudades do papai? – a menininha questionou.

– Você está? – replicou com a sobrancelha levemente arqueada.

– Um pouquinho – a pequena Gina fez um sinal pequeno com os dedinhos da mão. – Eu estou com saudades de quando ele me jogava para cima. Ou de quando ele trazia chocolate de presente porque eu fui uma boa menina.

Molly engoliu em seco, dando um sorrisinho nervoso.

– Então para você não ficar com saudades a mamãe vai fazer isso também, ok? – a menininha anuiu alegre, batendo palminhas. – Mas antes, vamos entrar, está ficando frio. Nós não queremos ficar com o narizinho escorrendo, queremos?

A pequena Gina negou com a cabeça, um sorriso pequeno no rosto. Um sorriso que indicava que as coisas ficariam bem, de uma forma ou de outra, com a ingenuidade de uma criança que acreditava que princesas sempre seriam salvas pelos príncipes em seus cavalos brancos.

Contudo, anos depois e juntamente de uma análise mais minuciosa, percebi que as primeiras impressões eram enganadoras. Por mais que esteja localizada à margem do rio, percebi a decadência nos telhados, nos tijolos próximos às fundações, nas manchas de água um pouco acima das fundações, o que indicava inundações no passado. As lojas estavam todas vazias, e fiquei imaginando quanto tempo ainda ficariam abertas visto a ausência de carros estacionados à frente delas. Os centros comerciais das cidadezinhas pareciam estar fadados ao mesmo fim dos dinossauros e, se aquela não fosse diferente das outras pelas quais eu havia passado, um centro comercial mais novo, provavelmente ancorado em lojas do tipo Wal-Mart ou Piggly Wiggly, seria levada à falência.

Mesmo assim era estranho. E, mesmo depois de quatorze anos em que morava ali, nada havia mudado. Mas eu, sim.

A balada não foi das melhores naquela noite. Não compensou todo o trabalho que tive para sair às escondidas de mamãe, que me proibiu mais uma vez de sair durante a semana.

Cheguei em casa mais cedo que de costume, por volta das cinco da manhã, louca para cair na cama.

Para não atrair atenção, subi sorrateiramente os degraus da escada dos fundos que ligava a cozinha ao andar de cima, mas que obrigatoriamente me fazia passar pelo corredor do quarto da minha mãe. Prendi a respiração, tentando fazer o mínimo de ruído possível ao passar pela porta branca. Meu esforço foi inútil, óbvio.

 – Ginevra – chamou mamãe, numa voz baixa, porém firme.

Suspirei pesadamente, soltando os ombros antes de abrir a porta e enfiar a cabeça por uma fresta no quarto iluminado apenas pela luz do abajur. Mamãe estava sentada na enorme cama, um livro nas mãos, o rosto desapontado.

– Você achou mesmo que eu não notaria sua escapadinha? Não acha que é um pouco tarde para estar indo para a cama? – quis saber ela, me observando por sobre os óculos.

– Tecnicamente é cedo, já que está quase amanhecendo...

– Entra, Gina – ordenou.

Grunhi. Tudo que eu queria era ir para minha cama, de preferência sem levar bronca. Contudo, eu sabia que mamãe correria atrás de mim até soltar todos os cachorros. Era inútil tentar escapar. Arrastando-me bravamente, como um condenado à cadeira elétrica, me sentei no pé da cama.

– Onde você estava? – ela indagou, a testa enrugada, os cabelos levemente grisalhos ligeiramente desarrumados.

– Com o Liam. Era aniversário dele – Liam era meu melhor amigo desde... bom, desde que eu me lembrava. Nós nos conhecemos quando tínhamos sete anos e, depois que ele me salvou de um monstro horrível no parquinho do colégio, nunca mais nos afastamos. Éramos inseparáveis.

– Claro – mamãe suspirou pesadamente. – Ele está com quantos anos agora? Cento e nove? Porque nos últimos dois meses você foi a pelo menos oito festas de aniversário do seu melhor amigo.

Merda, merda, merda...

– Eu disse aniversário? – franzi o cenho. – Eu quis dizer despedida de solteiro.

– Ginevra, eu já sou velha o bastante para saber quando estão querendo me enganar – ela fechou o livro com um movimento brusco e tirou os óculos de leitura. – Eu não entendo. Sempre dei tudo a você, nunca lhe faltou nada. Acho que o problema foi exatamente esse, não é? Acabei mimando você demais. Você é uma mulher adulta agora. Tem dezoito anos, mas ainda age como uma adolescente irresponsável. Quando vai criar juízo, querida?

– Mamãe, eu...

– Isso não é hora de voltar pra casa, ainda mais numa terça-feira. Já se deu conta de que você passa todas as noites e madrugadas na rua, só Deus sabe fazendo o quê?

– Eu não estava fazendo nada errado. Eu nunca faço nada errado – me defendi. Seus olhos castanhos, exatamente da cor dos meus, se estreitaram, as rugas ao redor tornaram tudo mais ameaçador.

– Precisei enviar dois advogados a Amsterdã para livrar você da cadeia. Amsterdã, Ginevra! – ela frisou, o rosto duro. – Onde tudo é permitido! Evidentemente, você teve que encontrar uma forma de burlar isso...

– Foi um mal entendido, eu já expliquei! – ninguém nunca me deixaria esquecer aquela história? Caramba! Uma garota não podia cometer um errinho de nada?

– Bulgária. Ucrânia. Itália – ela continuou a apontar meus erros. – Aquela noite em que você foi parar no hospital por causa de um coma alcoólico... tudo não passou de um mal entendido?

– A prisão na Ucrânia eu já expliquei, foi abuso de autoridade. A da Bulgária... – suspirei, tentando lembrar o que havia me levado a participar daquela passeata. Na época, protestar nua com outras oitocentas pessoas pareceu tão bacana... – Ok, não tenho desculpa para essa. Nem para a da Itália. E eu me excedi um pouco na formatura, o que é normal pra alguém da minha idade – baixei os olhos para o lençol bege.

–  Nada disso aconteceu comigo nem com a sua avó, ou qualquer amiga dela. Não acho que seja algo normal – ela suspirou pesadamente. – Ginevra, nem sempre estarei por perto para salvar você das encrencas em que se mete. Estou ficando velha e não aguento mais ver você brincando com a sua vida. Eu temo que, quando eu me for e deixar tudo por sua conta, você vai acabar sem nada, passando fome e... – blá, blá, blá. Eu já conhecia bem aquele sermão.

Fiquei esperando que ela chegasse à parte em que seria enterrada como indigente e nem teria direito a um enterro cristão, o que me impediria de ir para o céu encontrar meu pai e viver feliz para sempre na chatice do Paraíso.

 – ...Você vai passar a eternidade vagando por aí. Uma alma condenada. É isso que você quer?

 – Ok. Eu juro que amanhã vou ficar em casa e fazer algo bem entediante – prometi, desejando escapar o mais rápido possível para minha cama, a três portas de distância.

 – Não quero que fique em casa – ela apontou. – Quero que crie juízo e entenda que a vida é muito mais que festas e rapazes.

Eu duvidava muito.

– Tá bom, mamãe. Vou tomar jeito, prometo, ok? Agora descanse um pouco. Já está tarde, você acorda muito cedo. Teve aquela dor de cabeça de novo? – perguntei, tentando mudar o foco da conversa. Ela sacudiu a cabeça.

– Não tive. Mas você me tira o sono, filha.

– Desculpa – eu disse sinceramente. Não gostava de causar aborrecimentos a mamãe. Ela era tudo que eu tinha; minha família inteira se resumia àquela mulher de quase sessenta anos, dona de um bom humor ímpar e do sorriso mais carismático que eu conhecia.  – Não precisava ter me esperado acordada.

– Não consegui dormir. Aproveitei para ler um pouco – ela voltou a abrir o livro e colocou os óculos sobre o nariz reto. Respirei aliviada. O pior já tinha passado.

– Boa noite, mamãe – dei um beijo em seu rosto. – Amo você.

Mamãe tocou meu rosto, dando um sorriso doce.

– Eu também amo você, pequena.

 

 

Dias Depois

 

Eu agradecia a presença de Liam ao meu lado. Era a única pessoa que conseguia manter meus pés no chão, me impedindo de desabar sobre meus joelhos ao encarar a terra escura que cobria o caixão, a minha frente.

Meus ombros sacudiam, toda vez que eu lembrava rapidamente do rosto frio e sem vida da minha mãe. O rosto inexpressivo coberto por uma leve maquiagem, tão diferente da mulher que eu conheci.

Não era possível... ela não podia ter me deixado. Não podia... não podia...

Mamãe era a única pessoa além de Liam que eu tinha... e ela não tinha o direito de me deixar sozinha. Eu não podia... não podia viver sem ela! Era como tentar respirar embaixo d’água. É algo inimaginável, improvável e impossível. Minha vida sem minha mãe se resumia a nada.

Eu ainda precisava dela para me colocar na linha com suas palavras sábias e doces. Precisava de seu carinho de mãe depois de um coração partido por mais um carinha qualquer. Precisava de seu chocolate quando estava de TPM. Precisava de seus conselhos, seus abraços, sua risada. Eu daria de tudo para ter isso mais uma vez.

Tantas coisas que eu deveria ter dito... ter dito que a amava, que era a minha melhor amiga, que era a pessoa mais importante do meu mundo. Eu deveria ter a abraçado mais, conversado mais, amado mais...

– Sis – Liam me chamou pelo apelido que havia me dado quando ainda éramos crianças, tirando-me dos mesmos pensamentos que ainda rondavam a minha mente. – Você está muito pálida. Tem certeza que não quer comer nada?

– Eu não quero sair daqui – minha voz saiu miúda e arrastada. Doía até para falar. Eu não conseguia acreditar. – Eu... não pode ser real. Isso não pode ser real.

Com o dedo indicador e o dedão, pressionei a pele do meu braço num beliscão que provavelmente deixaria uma marca roxa ali.

– É a sexta vez que você se belisca, Sis – Liam advertiu, preocupado. Um vinco entre as sobrancelhas.

– Eu não quero acreditar que é real. É um pesadelo horrível, eu quero acordar – engoli em seco, contendo um soluço. – Não pode... minha mãe, não...

Liam previu a convulsão de lágrimas que vieram a seguir, puxando-me para seu peito e afagando meus cabelos, murmurando palavras de alento em meu ouvido.

– Com licença, querida – uma mulher alta e esguia tocou meu ombro, ao mesmo tempo que eu retesei com o toque inesperado. – Meus sentimentos, florzinha. Eu e Molly... bom, nós fomos amigas por um tempo, durante a faculdade. Sou Marta McCall.

Acenei com a cabeça, duvidando da minha capacidade de pensar e falar. Não queria parecer tão fragilizada quanto estava realmente.

– Hum – a mulher passou a mão pelos cabelos negros, suspirando. – Bom... como... como ela... enfim, qual foi a causa da morte?

Senti meus pulmões sendo esmagados por uma imensa bigorna, os soluços voltando à tona.

Que tipo de pergunta é essa? – Liam rosnou, puxando-me para seu peito mais uma vez. – Não vê que ela está sofrendo? Amada, te falta empatia com o caralho dos sentimentos das outras pessoas!

– Desculpa, eu... – e começou a ladainha que eu já havia escutado mais vezes que o imaginado em apenas um dia.

– Foi um tiro – sussurrei, calando-a do seu discurso totalmente ensaiado e falso. Liam apertou seu braço na minha cintura, apenas ele sabia o quão doloroso aquilo estava sendo. – A porra de um tiro no peito durante a merda de um assalto. Foi isso que matou minha mãe.

A mulher engoliu em seco, assentindo com a cabeça. Os olhos, úmidos.

– Sinto muito.

Eu também sinto – respondi, secando os olhos com as mãos e passando o rastro molhado das lágrimas na barra do meu vestido preto.

Ela acenou com a cabeça para mim, olhou para a terra mais uma vez e saiu dali rapidamente.

– Vaca deplorável – Liam resmungou, trocando o peso de um pé para o outro. Soltei o ar pelo nariz.

– Eu... eu preciso respirar, Liam – comentei tão baixo que não passava de um sussurro inaudível, sentindo a garganta fechar mais uma vez. – Acho que vou desmaiar se ouvir isso mais uma vez.

– Venha, Sis – Liam segurou meu cotovelo e começou a me puxar para longe da lápide da minha mãe.

Não consegui dar dois passos completos, antes de me sentar numa mureta e puxar para dentro do meu pulmão uma quantidade exacerbada de ar. No segundo seguinte, coloquei o rosto entre as mãos e chorei. Altamente. Profundamente. Dolorosamente. Como nunca havia chorado.

– Eu quero morrer com ela – me vi sussurrando. – Eu quero que você me enterre junto com ela, não posso...

Shii – Liam tocou meu braço. – Não fale isso. Como acha que sua mãe se sentiria ouvindo isso de você?

– Ela provavelmente ficaria muito brava – dei um sorriso triste, o rosto ainda escondido nas mãos. – Me mandaria bater na madeira e parar de falar bobagens.

– Sim. E você sabe que agora ela está descansando e olhando lá de cima, para você – Liam segurou meu queixo, obrigando-me a olhá-lo. – Sei que já ouviu isso demais num dia só, mas eu sinto muito. Muito mesmo.

Abracei meu amigo, apertando seu pescoço com meus braços finos.

– Foi a primeira vez que eu escutei sinceramente, se quer saber – funguei. – Eu amo você, Liam. Obrigada por estar aqui. Eu não sei o que seria sem você.

– Eu também amo você, Sis – ele apertou-me no abraço mais uma vez. – Só seja forte... mais um pouco.

Ficamos num silêncio confortável, enquanto ainda nos abraçávamos. Tal silêncio que foi quebrado com um suspiro alto de Liam, claramente de surpresa, e as palavras enroladas saindo da sua boca:

– Por Deus do Céu, é a sua versão masculina, Sis – sussurrou, enquanto olhava para um ponto atrás de mim.

E foi nesse segundo que eu me virei na mesma direção.

Eram vários homens, todos vestidos de preto, andando em nossa direção. O homem a frente... Deus, não podia ser real.

– Lembra do que eu disse sobre desmaiar? – sussurrei, em pânico, enquanto Liam anuía com a cabeça. – Acho que vou fazer isso bem agora.

Eu levantei instantaneamente, meus olhos piscando rapidamente para fazer meus olhos acreditarem no que estavam vendo. Não era possível. Não mesmo.

– Papai? – as palavras saíram. Enroladas, sussurradas, gritadas... não sei. Eu não sabia de mais nada. Minha mente só registrava o fato de estar vendo meu pai em anos.

– Sua memória é boa, criança – disse ele, e a voz reverberou em meus ossos.

Você – sussurrei, dando alguns passos para trás. – Você morreu. Estou ficando louca. Você morreu. Eu sei que sim. Você morreu, minha mãe disse...

Minhas costas bateram no peito de Liam e ele segurou meu braço, se pondo a minha frente.

– Não, criança. Sua mãe morreu. Eu, seu pai, não.

O buraco já aberto no meu peito ameaçou abrir mais um pouco e Liam grunhiu, me escondendo ainda mais atrás de si, como se pudesse bloquear algo.

– Olha o respeito com o luto dela, seu babaca miserável – rosnou ele, os olhos cravados nos do meu possível pai.

– Você por acaso sabe quem eu sou? – o homem ruivo a minha frente replicou, seus olhos passando pelos seguranças postos atrás de si.

Liam segurou uma risada, olhando para os lados e gritando:

– Gente, alguém sabe que ele é? O homem se perdeu e não sabe quem é! Será que estamos tratando de um indigente?

O homem riu, enquanto os demais encaravam Liam como se fossem matá-lo.

– Cale a boca, por favor – sussurrei, apenas para que Liam escutasse. – Não seja idiota. Eles têm cara de quem têm armas.

Ele baixou os ombros, ainda encarando meu pai.

– Você morreu. Eu sei disso. Foi por isso que eu e minha mãe viemos para Hampton... que vivemos sozinhas... que eu cresci sem um pai...

– Veja bem, criança, isso era coisa da sua mãe – Arthur deu de ombros, as mãos arrumando o terno. – Eu... bom, digamos que meu trabalho não é muito digno aos padrões de Molly Prewett.

– Não ouse insultar minha mãe na minha frente! – rosnei, o rosto esquentando de ódio, a vontade de dar de dedo no peito dele, aumentando. – Se alguém aqui não sabe o que é padrões, esse alguém é você, que sumiu por anos e só agora resolveu dar o ar da graça e aparecer!

Arthur riu, os olhos claramente debochando de mim.

– Criança, tudo isso, foi ideia da sua mãe, já disse – respondeu, dando de ombros. – Ou você acha que estudar na escola mais renomada da região... ou poder ir para todas as festas mais badaladas... até mesmo todas as prisões magicamente solucionadas em um estalar de dedos. Você acha que tudo isso foi resolvido por uma mulher que nem trabalhava? Que jamais conseguiria sustentar a sua vidinha de luxo se não fosse por mim?  

Engoli em seco, ruborizando mais uma vez.

– Minha mãe... não pode, por que...?

– Criança, eu já disse que meu trabalho não é o que ela considerava digno – Arthur rolou os olhos. – Te afastar de toda a minha vida, fingir minha morte e fugir com você para Hampton foi tudo ideia dela. Eu só arquei com todos os seus custos. Bem-vinda a nossa história trágica, lindinha.

Minha cabeça começou a girar, o mesmo com o meu estômago. A minha visão, turva.

– Acho que agora é a hora de retomar o tempo perdido, não acha? – Arthur ergueu uma sobrancelha e abriu os braços. – Senti saudades, criança.

Liam se empertigou e eu mordi os lábios, piscando rapidamente para não chorar ou surtar.

– Você é um mentiroso – apontei para ele. – Isso tudo é uma mentira. Me tire dessa merda logo, Liam. Eu quero voltar para a minha mãe.

Ginevra – cortou ele, a voz firme causando arrepios de medo no meu corpo. – Sinto muito, mas sua mãe morreu. Eu sou o único que restou.

Alguém avisa ele e seu ego, pelo amor de Deus? – Liam sussurrou, rolando os olhos e crispando os lábios.

– Está na hora de começar a trabalhar no que foi destinada a fazer, criança – Arthur falou, e apontou para um dos capangas. – Se não for por bem, será por mal. Você quem escolhe.

Ergui o queixo em desafio, olhando-o nos olhos. Arthur deu um sorriso sarcástico, enquanto um dos capangas molhava um lenço numa substância desconhecida por mim.

– Você não me dá outra escolha, querida.

Segundos depois, homens avançavam contra mim e Liam. O mesmo lenço foi colocado em minha boca e fui levava pela escuridão, sem ao menos ter tempo de me debater.

 

 

Eu levantei a cabeça, coçando os olhos, estranhando o cheiro de lavanda dos lençóis e a claridade insistente que me fez acordar totalmente zonza. Pelo jeito, a noitada dessa vez tinha rendido uma bela ressaca.

Sentei na cama, tateando às cegas o colchão à procura do meu celular. Foi quando eu notei seu sumiço que eu abri os olhos rapidamente.

Eu não estava em casa. Nem em algum lugar que eu conhecesse. E nem havia estado numa noitada.

Levantei da cama num pulo, ainda usando o vestido do velório. Pedaços de memória voltando de uma vez só. Os cabelos bagunçados e o rosto inchado, sem ter ideia de que horas eram. Ou o que estava acontecendo.

Foi na busca de um sinal de vida que encontrei um papel sob a penteadeira. A caligrafia rebuscada fez-me franzir o cenho e pegar para lê-lo.

“Criança,

Como havia dito, tomei medidas drásticas. Sim, antes que me pergunte, seu amigo está bem. Confesso ter ficado impressionado com o fato de ele ter te protegido tão veementemente. Mas isso não vêm ao caso. Não agora.

Segundo: você está num hotel, perto de Londres. Não tente fugir, já adianto que não dará certo. Há seguranças por todos os cantos. É apenas um... momento de introspecção e para VOCÊ pensar. Você NÃO tem escolha. Aceite isso.

Terceiro: há roupas e tudo que precisar aí mesmo. Uma empregada ficará encarregada de cuidar de você por esses dias que te manterei sob “custódia”. Seja gentil. Não paguei cursos de etiqueta para que fossem jogados no lixo.

Quarto: você ficará aí até EU julgar suficiente. Então, mandarei alguém da minha confiança te buscar.

Quinto (e último): sinto muito tudo isso. Mas sinto muito mais por não ter sido o pai que você merece. Espero retomar esse tempo perdido.

Pense nisso.

Arthur.”

 

Ainda encarando atônita àquele pedaço de papel, a porta se abriu e eu me levantei em espanto. Uma garota entrou por ela, empurrando um carrinho que julguei ser de comidas, seu rosto impassível e delicado.

 – Senhorita Weasley – ela sussurrou, sua voz baixinha como ela. – Seu almoço está servido. Suas roupas estão no closet ao lado, e o banheiro está equipado para suas necessidades. Se precisar de qualquer coisa, não hesite em me chamar. Estarei por perto.

Olhei dela para o papel, tentando entender como o meu mundo havia virado de ponta cabeça em tão poucos dias. Ou o que minha vida realmente era. Ou todas as mentiras que eu julgava serem verdades até poucas horas.

– Suma da minha frente – respondi, somente, antes que quebrasse tudo daquele quarto, inclusive ela. A garota fez uma mensura rápida com a cabeça, e tão logo chegou, ela saiu.

Eu só sabia que depois do surto que tive (em que quebrei a maior quantidade de coisas possíveis naquele quarto, que foram substituídas com a reprovação do gerente do hotel), os dias se arrastaram para passar. Já era o sétimo dia presa ali, naquela merda de suíte presidencial, e eu estava ficando entediada (e, apenas um pouco menos irritada), levando em conta que já tinha visto todas as minhas séries preferidas do catálogo da Netflix. E claro, havia o fato de eu estar sentindo falta de alguma interação humana além de Alie, a tal garota “responsável” por mim.

Depois de um banho relaxante, onde eu fiz questão de demorar-me mais que o necessário, ainda usando a toalha enrolada no corpo, escutei a porta se abrir.

– Alie, eu já disse que não quero porra nenhuma! – gritei, do banheiro, sem me dar o serviço de ir até lá.

O silêncio foi sepulcral, e quando eu me virei para sair do local para xingar a garota, o meu coração ameaçou sair pela boca.

Quem é você? – murmurei, apertando a toalha contra o corpo, me afastando dele até encontrar a parede gelada. – O que faz aqui?

O homem a minha frente limitou-se a sorrir levemente, os dentes brancos brilhando para mim. O cabelo negro estava totalmente bagunçado, como se tivesse viajado de moto por todo uma rodovia, os olhos incrivelmente verdes me encarando com um misto de espanto e diversão.

Ele ergueu apenas uma sobrancelha, o piercing prateado ali chamando minha atenção imediatamente. Para logo depois cruzar os braços na frente do corpo, o que me fez passear com o olhar pelo mesmo. Um ato impensado, e eu não consegui me controlar.

Ele era incrivelmente alto, e eu sabia que aquela roupa social escura escondia diversos músculos torneados e completamente atraentes que eu tinha ideia de que eram mesmos fora da minha visão. Minha vontade era de tocá-lo, para contornar e descobrir as tatuagens que eu via despontar na gola da camisa preta e nas costas da mão.

Mas aquele sorriso cretino que estava em seu rosto bonito... esse sim eu desejei ver mais algumas vezes. Ele tinha um sabor de arrebatador, e eu me vi arrematada por ele.

– Sou seu cavalheiro numa Lamborghini branca, princesa – disse ele, a voz rouca e grossa reverberando por todos os meus ossos, como se fizesse um contato elétrico e direto com todas as minhas ligações nervosas. – E eu vim te resgatar.


Notas Finais


Kelly: eu amo tanto essa menina que vocês não tem ideia. Esse capítulo é tudinho e o próximo já está 🔥🤭
Beijoooos

Nikoly: SIMMMM, Gina Weasley chegou com tudo! Essa Gina é a minha preferida, minha vida, minha religião!

hahahaha espero que tenham gostado do capítulo! Comentem, por favor, comentemmm!

Nos nossos perfis do Instagram há spoilers dos próximos capítulos:

https://www.instagram.com/p/CRosEZTjVknCZTSMl3AH9nH38v-C3HhGoqlJq80/?utm_medium=copy_link

https://www.instagram.com/p/CRosa9KjhAFUoq0sMX0lZh1KPpuhvXo9UrMHlU0/?utm_medium=copy_link

Beijoss! Até segunda 🥰

✨Playlist oficial de Homewreker ✨

Youtube: https://music.youtube.com/playlist?list=PLUdwQnVZYaF0uErTsfgDqrqdWtnsDZ6sB

Spotify: https://open.spotify.com/playlist/3AtLTZyB4NulqncUJXEqOz?si=8035e481b17a456a

✨ Pasta do Pinterest✨
https://br.pinterest.com/kellymedeiros13/homewreker/


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