História Hope - Capítulo 9

A tesoura entrou em ação no tecido graças ao meu fiel escudeiro Hyungwon. Com uma linha e uma agulha a barra foi refeita. Puxei a meia três quartos e coloquei o sapato padrão. Deixei alguns botões da blusa abertos e a gravata desarrumada. O único resquício do meu antigo look era o laço rosa que prendia meu cabelo em um rabo de cavalo. 

- Bom dia senhorita Gomes - A senhora Jung desejou. Hoje era dia dela aparecer, os meninos iam trabalhar. 

- Bom dia - Respondi. 

- Bom dia - Jooheon engasgou com o suco assim que olhou para mim - Omma, me desculpa, com todo respeito, mas pegou pesado com o pobre Jooheon hoje em. 

Todos ergueram os olhos para mim e meu cúmplice apenas disfarçou um sorriso. Se Minhyuk quer que eu chame a atenção de Shownu eu vou chamar. 

- Você vai assim? - Falando no capeta, digo anjo, perguntou assustado me olhando. 

- Vou. Está ótimo - Olhei para minha saia um palmo mais curta. 

- Se... - Ele disse meio corado - Se der um vento... 

- Não tem nada de mais - O cortei. 

Peguei uma maçã e sai porta a fora sem perder meu tempo com mais uma discussão sem fins lucrativos para ambas as partes. 

... 

Após algumas semanas a novidade na escola, no caso eu, deixou de chamar a atenção. Os alunos apenas ignoram a minha presença como ignoram uns aos outros todos os dias. A rotina cansativa de acordar, ir para a escola, ficar lá o dia inteiro, passar umas horas no café com as meninas e depois voltar já vem se arrastando por alguns dias e a data do casamento se aproxima cada vez mais me trazendo um frio na barriga com ela. 

Três dias para o noivado e uma semana para o casamento eu nem escolhi o vestido ainda. Meu coração bate forte quando penso nessa possibilidade. A desistência que eu tanto cogitava agora está em segundo plano com tantas coisas na minha cabeça. 

O hábito de tirar os sapatos assim que chego em casa virou uma mania que me agrada. Aos poucos estou me adaptando com os costumes sem nenhuma dificuldade. Essa semana um homem veio aqui, ao que parece um advogado do governo, perguntando sobre o casamento. Graças aos céus e ao bom Wonho os convites já estavam prontos e o mesmo foi convidado para a cerimônia. 

A possibilidade de ser deportada era uma coisa que me atormentava. Já não consigo mais me ver sem eles. Eles... Às vezes me pergunto por que em tão pouco tempo eu me apaguei tanto? Pergunto-me também o motivo de me sentir em família, chegando em um lar todos os fins de tarde. Chegar em casa e sentir o cheiro da comida saborosa de Kihyun, escutar a risada alta de Minhyuk e as gracinhas de Jooheon. Ver, o que para mim, é um casal muito amoroso, Wonho e Hyungwon. Mas além de tudo, sentir a serenidade que Shownu e I.M me passam. 

Subi as escadas do segundo andar e o barulho começou a aumentar. A voz de Minhyuk é tão notável que me faz rir sem nem mesmo saber do assunto. Bati na porta entreaberta do quarto do mesmo e escutei um "entra". 

- Olá. 

- Olá Alexia. Como foi seu dia? Espero que bem - Ele emendou sem nem me deixar responder - Diga a esse psicopata que eu preciso sair e que já ensaiamos demais. 

- Ensaiar nunca é demais - Shownu fez birra com os braços cruzados. 

- Por que não deixam ele sair só hoje. Vocês estão de férias e já tem total noção da coreografia para amanhã à noite. 

- Viu - Minhyuk bateu o pé - Eu vou sair só hoje. A gente está de férias e eu sei a coreografia. Obrigada Alexinha - Tá que apelido gay. 

Ele me deu um beijo na bochecha e saiu todo feliz e cheiroso porta a fora. 

- Ele nunca aprende. E você sempre apoia. 

- Shownu ele não é nosso filho - Gargalhei - Ele é maior de idade e merece se divertir. 

... 

Os deveres de matemática sempre tomam a maior parte do meu tempo. Tentar entender inúmeras fórmulas e cálculos sempre foi o que eu mais odiei na minha vida. E aqui estou eu olhando a quase uma hora para esse problema incompreensível. 

Passos no escritório denunciam que alguém deu o ar da graça no ambiente. Ergui meus olhos flagrando Shownu que rapidamente fingiu estar olhando os livros da prateleira de forma bem atrapalhada. Segurei o riso, mas não resisti assim que ele abriu um. 

- Leitura interessante? - Arrisquei. 

- Oh sim - Disse convicto - O autor expressa muito bem seus pensamentos. 

- Sério? - Entrei na brincadeira. 

- Sim - Ele fechou o livro - Ele conta a história de um casal improvável que não poderiam se amar. Ele a amava e fez de tudo para ficar com ela. 

- E no fim? 

- Eu não sei. 

- Isso é Romeu e Julieta de Shakespeare? 

- Talvez 

- Shownu esses livros são falsos. Não há nada escrito neles. Somente folhas em branco. - Ele ficou sem graça e olhou para o chão. 

- Podemos preenchê-las. 

- O que você... 

- Talvez não seja esse tal Romeu e essa Julieta. Talvez sejam pessoas comuns como nós - Prendi o ar involuntariamente. Esse garoto tem o dom de dizer coisas bonitas? 

- Shownu... 

- Dificuldades? - Ele apontou para o caderno mudando de assunto. 

- Sim - Suspirei. 

Shownu teve a paciência de puxar uma cadeira ao meu lado e me explicar do começo ao fim. Ler o problema com outros olhos era totalmente diferente. Ele não me pareceu nenhum bicho de sete cabeças, muito menos algo difícil. Acho que vou contratar os serviços particulares do professor de reforço Shownu. Assim que conclui a tarefa um bocejo involuntário consumiu meu corpo. 

- Hora de dormir. 

Terminei de guardar meu material na bolsa e ele pegou a mesma enquanto caminhávamos até o quarto. 

- Shownu? 

- Hum? 

- O diretor deixou um bilhete para mim dizendo que quer falar com você - Abaixei a cabeça. 

- Eu falei para você não ir com aquele uniforme - Sua expressão era de: Eu tinha razão. Sorriu vitorioso. 

- Bom ninguém falou nada quando eu entrei na escola. Eles repreenderam várias garotas, mas a mim não. Não acho que seja isso. 

- Alexia - I.M vinha da cozinha em direção à escada atalho para o segundo andar. Seu sorriso se desfez quando viu Shownu parado na porta do meu quarto - Não vai me dizer que ele já está brigando com você de novo porque não foi dormir as sete em ponto? - I.M brincou em tom de ironia e eu ri pelo nariz. Olhei para Shownu que parecia conter um sorriso. 

- Não. Ele só estava me dando boa noite, não é? - Olhei para o mesmo que afirmou. 

- Hum - Ele não pareceu convencido - Deixe-me dar boa noite também - Ele se aproximou e depositou um beijo no topo da minha cabeça e sussurrou em meu ouvido - Durma bem. 

- Obrigada - Agradeci. 

- Boa noite hyung - Ele desejou a Shownu, que forçou um sorriso em meio à cara fechada de ver o contanto de I.M comigo, e subiu as escadas nos deixando a sós novamente. 

- Amanhã eu passo lá e vejo - Ele entregou minha mochila parecendo chateado ou algo do gênero - Bom, boa noite. - Ele passou a mão na nuca sem saber o que fazer já se preparando para se afastar de mim como sempre faz. 

- Boa noite Hyunwoo - Abracei a cintura do mesmo de forma rápida como se estivesse fazendo algo errado. Soltei o mesmo que me olhava com uma expressão de bobo e surpreso. Entrei não dando tempo para perguntas e fechei a porta.