Um céu sem nuvens, mas com o clima ameno; as flores insistiam em exalar seu perfume, mas não as da primavera, e sim as do belo arranjo que Gumball carregava em seus braços. Ele abriu um sorriso orgulhoso e um pouco egocêntrico ao inalar o aroma mais uma vez.
— Ahhh, a Penny adora astromélias. Eu sei disso porque somos namorados, e como sou um bom namorado da Penny, é minha função saber de tudo que ela gosta.
Gumball dialogava como se alguém estivesse prestando atenção no que ele dizia, mas nem Darwin — que era seu ouvinte — estava se esforçando para prestar atenção; ele já ouviu o mesmo discurso inúmeras vezes. O garoto negro revirou os olhos, soltando um suspiro arrastado e desviando o olhar para fora do ônibus escolar.
— O que foi, mano? — Perguntou ao ver a irritação do irmão.
— Nada.
— Ué, mas você é o peixe aqui.
Após a provocação, decidiu “desencanar”; afinal, ele sabia que não adiantava dizer “não” a Gumball, pois quando este insistia em uma coisa, não largava até conseguir.
— É que... em todo começo letivo você fica assim, “Penny isso”, “Penny aquilo”.
— Mas nós somos namorados...
— E eu não sei? Por favor, já faz quase quatro anos que esse relacionamento começou; todo mundo já sabe o quanto vocês se amam e são felizes juntos, não precisa ficar martelando essa informação como se fosse uma novidade!
— Seria inveja? — Provocou mais.
— Não, não é, já que estou namorando a Carrie.
Eles se levantaram e saíram do ônibus, pois haviam chegado na escola de Elmore; contudo, antes de adentrá-la, Darwin parou no meio da escadaria, virando-se para o irmão, que, consequentemente, fez o mesmo.
— A propósito, isso não são astromélias, são narcisos. — O irmão adotivo começou a caminhar antes de Gumball, pois o garoto azul se colocou pensativo por alguns segundos, segundos estes que não foram suficientes para ele perceber os próprios erros, como sempre.
— Bom, sendo narcisos ou não, ela vai gostar. Eu sei disso porque sou o namorado dela!
— (O problema aqui não é esse...)
Ambos adentraram o colégio, e o sinal tocou não muito depois disso. Todos andavam em passos acelerados para não chegarem atrasados para suas aulas, mas não muito rápido para não enfurecer a senhorita Símio em plena segunda, o dia da semana em que praticamente só ela gostava. Na aula, Gumball flertava à distância com Penny sempre que tinha chance; no entanto, a moça tentava fazê-lo prestar atenção na aula, senão o pobre gatinho azul teria que ficar na detenção em pleno começo do ano, o que era surpreendente que não tivesse ocorrido antes.
— Gumball Watterson! — Professor Cornélio chamou a atenção dele com a de toda a sala.
— Saberia me dizer quando e onde Napoleão Bonaparte deu seu grito de “Independência ou morte”? — Era uma pergunta com pegadinha.
— Err... claro que sim. — Sorriu suando frio.
— Essa não é a resposta que quero. — O adulto de cabelos já grisalhos, misturados com o verde natural de seu cabelo, franziu ainda mais a testa.
— ......"Só sei que nada sei"? — Gumball tenta usar sua carta na manga, afinal, todos sabiam que o professor Cornélio possuía mais amor pela Filosofia do que pela geografia. Alguns segundos de silêncio e desconforto foram gerados.
— Boa resposta. — Gumball suspirou de alívio. — Mas prossegue incorreta!
O garoto arregalou os olhos; seu plano não tinha dado certo, o que era óbvio. Alguns colegas como Tobias, Jamie e Carmen que assistiram ao acontecido riam da infelicidade de Watterson; já outros ficaram apenas entristecidos pelo garoto. — Quero que passe na sala do Sr. Pequeno mais tarde. — O professor voltou para junto de sua lousa.
— (Ah, não... o Senhor Pequeno não...) — Fez uma careta de insatisfação.
As aulas passavam, a cada minuto Gumball se colocava mais ansioso para o intervalo, sua barriga já até sentia frio. E a espera sempre valia a pena, o sinal finalmente soou, indicando que era o tão amado horário de intervalo. Gumball quase correu em direção ao seu armário, o abrindo às pressas e puxando o buquê de lá de dentro; mesmo as flores estando um pouco murchas, ainda perfumavam. Em instantes, cruzou os corredores até a biblioteca, lugar onde ele e a namorada normalmente se encontravam. E em meio àqueles inúmeros romances, lá estava à sua frente a mais bela e encantadora história de amor de sua vida juvenil, Penny Fitzgerald. Radiante como sempre, a garota passava os delicados dedos sobre os livros velhos das estantes; ela não percebeu Gumball aproximando-se dela, mas sabia que ele chegaria a qualquer minuto.
Esforçando-se para não fazer som algum, ele se aproximou dela, ficando atrás da garota e limpando a garganta como preparo de dizer:
— Bom dia, milady, à procura de algum herói nos livros? — Ele ergueu uma sobrancelha enquanto alterava a voz para uma mais sedutora.
— Hum? Ah, Gumball, oi!
— Não precisa procurar mais, eu estou aqui. — Sorriu galanteador ao mesmo tempo, em que estendia o buquê.
— É muita gentileza.— Ela pegou o buquê, sorrindo.
— Faço de tudo por você. — Ele continuou forçando sua voz e aquele jeito bobo de agir.
— Então, Gumball... acho que agora é uma boa hora para conversar com você sobre uma coisa...
— Não vai dar um beijo no seu milorde antes? — O azulado fez um bico e fechou os olhos, aproximando o rosto perto dos lábios da namorada.
— Não, Gumball... — A garota recuou alguns passos para trás.
— O que foi? Não vão nos pegar, praticamente ninguém vem aqui.
— É que, na verdade...
— Se bem que tem o João Banana e a Terie, aqueles dois são meio nerds. — Interrompeu a namorada.
— Gumball...
— Falando em “nerds”, os gêmeos Colin e Felix acham que o RPG de mesa é um milhão de vezes melhor que os digitais, dá para acreditar em como aqueles dois são caretas?
— Gumball! — Aumentou mais a voz.
— Isso me faz lembrar que eu preciso upar o meu guerreiro, estou quase no Level set-
— GUMBALL WATTERSON!!!
Penny ignorou a primeira regra da biblioteca e gritou, fazendo tanto barulho que a voz quase ecoou pela sala. Já o garoto azul ficou com os olhos igualmente azuis arregalados, como se tivesse visto um monstro; Penny aumentava raramente a voz, e naquele momento, ela conseguiu fazer com que o adolescente ficasse quieto. Respirando fundo, mudou sua feição de irritada para uma entristecida, olhando uma última vez para o namorado antes de fitar o chão.
— Eu... eu quero terminar.
Subitamente, Watterson sentiu como se tivesse levado um soco diretamente em seu coração; ele arregalou ainda mais os olhos e sentiu o mundo desabar. Não havia nada ali, nada ao não ser o eco daquelas palavras temerosas ditas pela garota dourada. Ele começou a tremer, pensou em dizer algo, mas o som não saía de seus lábios; não, eles sequer ousavam escapar do fundo da garganta, se entulhando ali, acumulados sob a epiglote, quase se engasgando com tudo aquilo.
— Por favor, não pense que eu não gosto mais de você, Gumball. Sou grata por tudo que você me deu, e ainda me dá. — Ela olhou para o buquê em suas mãos. — Nosso namoro foi bom, por um tempo. Especificamente, por um ano e seis meses.
— Então... — Ele quase sussurrou, até decidir forçar mais algo da garganta. — Por que não mais?
— Sério que você não sabe? Sei que é difícil para você entender certas coisas, mas você parou de prestar atenção em mim ou sequer no que digo; agora há pouco você estava fazendo isso.
— Mas, você não poderia me dar...
— Não, Gumball, não irei te dar uma segunda chance. Existe um limite para o quanto se pode errar. E sem ofensas, eu não quero alguém narcisista me dando narcisos. — Ela devolveu o buquê, recebido de volta sem pestanejo. — Eu espero que ainda sejamos bons amigos. — Ela sorriu uma última vez antes de se distanciar aos poucos do garoto.
— Mas... eram para ser astromélias...
Antes que pudesse se controlar, Gumball começou a chorar. Assim como os inúmeros livros clichês de romance ao seu redor, ele também perdeu sua amada.
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