História House of Cards - O Jogo Obscuro - Inside Beast

Jung Hoseok

Abri os olhos vendo a luz do dia entrar pela janela. O céu estava claro, mas ainda sem sinal da luz do sol. Ainda era muito cedo. Não sei o que houve noite passada depois que Jungkook e Namjoon foram chamados para aquela porta misteriosa no final do corredor. Levantei olhando o meu quarto, era até bonito e bem organizado, mas mesmo com todo conforto eu ainda estava com o pé atrás.

Decidi levantar da cama e ir lá fora ver se alguém já tinha acordado além de mim. A casa era bem aquecida, então não importa o frio que fizesse lá fora não era preciso vestir roupas mais pesadas. Dormi apenas com um pijama de seda verde com alguns detalhes em branco. Me olhei rapidamente no espelho grande redondo, ficava na parede acima do gaveteiro estilo vitoriano com detalhes em dourado. Meus fios lisos e num tom alaranjado não embaraçavam com facilidade.

Saí do quarto, andei pelo corredor e desci as escadas. A casa estava bem iluminada ainda que não houvesse a luz solar. No sofá estavam Jimin, Jin e Taehyung conversando.

- Hyung! Acordou bem cedo também. – Jimin estava deitado apoiando os pés na mesinha de centro feita de mármore branco.

- Pensei que não conseguiria dormir. – respondi me aproximando. – Mas senti um cheiro de lavanda no quarto e fiquei com muito sono.

- Eu também senti esse cheiro antes de dormir. – Jin me olhou estranhando.

- Então pelo jeito todos sentiram. Pelo jeito era sonífero. – O menor encarou o Tae que estava concentrado em algo. – Tae? Faz tempo que está olhando essas cartas.

- São cartas de jogo? – Perguntei.

- São as que eu recebi naquela caixa, mas são muito...como posso dizer... – Taehyung ficou envergonhado.

- Deixa eu ver. – Jin puxou uma carta olhando. – “Escolha um jogador para te fazer um bo...” – Parou de ler fazendo uma cara de espanto. – Tá! Ninguém vai usar isso certo? E pra que você está lendo elas?

- Hyung é só curiosidade! É claro que eu não vou usar, mas ninguém aqui é criança. –Taehyung reclamou. – Eu só quero ver o que elas dizem.

- Quero ver também! – Jimin puxou uma carta da mão do platinado. – “Escolha um jogador para fazer sexo na piscina com você. ” Wow!

Por um momento não tinha entendido sobre o que se tratavam aquelas cartas. Confesso que pensei em “bolo” na primeira que Jin citou e não compreendi bem o que havia de errado em fazer bolo para outra pessoa. Até que com essa que Jimin leu, sem ocultar nada pude entender melhor e não escondi minha cara de espanto.

- Quer saber... – O mais velho de nós se levantou indo em direção a cozinha. – Vou fazer o café.

- O Yoongi ainda está dormindo? – Perguntou para os dois.

- Ele não desceu, mas pode estar acordado no quarto. – Jimin me respondeu.

Suspirei e deixei os dois curiosos lendo as tais cartas, definitivamente se qualquer um deles surtassem e decidissem jogar, com certeza eu não participaria daquela brincadeira. Voltei para o andar de cima, mas dessa vez andei pelo corredor até parar diante da porta que fica em frente ao meu quarto. Era o de Yoongi. Bati e não obtive resposta. Eu sabia o quanto ele odiava que o acordassem, mas não me sentia bem com toda aquela situação e como sempre fomos muito próximos, iria me sentir melhor se desabafasse com ele.

Entrei no quarto olhando em volta. Fechei a porta, mas a cama pelo o que pude notar estava vazia. O quarto de Suga era mesmo muito bonito e moderno. Todo preto e branco. Uma luminária que imitava um lustre em preto, no chão tinha um tapete bem felpudo de pelo sintético branco que contrastava com o mármore preto do chão. Um mini estúdio no canto e havia até um piano elétrico. Olhei uma porta que imaginei também que dava para o closet. As cortinas brancas de um tecido fino e transparente balançaram com uma leve brisa que entrou no ambiente, percebi que entre elas existia uma porta de vidro. Me aproximei e vi que dava acesso a uma pequena varanda e no canto a direita um sofá que comportava bem duas pessoas e Yoongi estava deitado sobre ele com um edredom.

Me aproximei sem fazer barulho, de repente não era mesmo uma boa ideia acordá-lo. Pensei em sair dali e deixar ele descansar.

- Algo errado Hoseok? – Sua voz ainda rouca pelo sono me deu um leve susto quando eu já estava quase saindo.

- Pensei que estava dormindo. – Respondi. – Eu só queria conversar.

- Senta aqui. – Ele se levantou sentando, deixando um espaço para que eu pudesse me sentar ao seu lado.

- Aqui fora está frio! – Fui até o sofá sentando cruzando as pernas. – Por que você saiu lá de dentro e veio pra cá?

- Queria ver o dia clareando. – Puxou o cobertor para cima de mim cobrindo nós dois. – Sobre o que quer falar?

- Ainda estou achando tudo isso muito estranho e ainda não sabemos o que houve com Namjoon e Jungkook. – Suspirei.

- Eu entendo, mas você sabe que não podemos perguntar nada a eles lembra? Fomos avisados disso.

- Eu sei, mas não posso evitar o medo que sinto as vezes. Tem horas que me sinto até calmo, mas também parece que vou entrar em pânico em alguns momentos.

Suga me ouviu e me ajudou a ficar mais calmo. Era relaxante conversar com ele, pois sempre me entendia. Depois de algum tempo o frio não sessou, mas o sol já mostrava seus primeiros raios de luz. Pudemos sentir o cheiro do café que provavelmente Jin ainda estava fazendo, resolvemos descer e nos alimentar, além de esperar por respostas ou pelo menos ver Namjoon e Jungkook.

Kim Namjoon

Acordei um pouco atordoado sentindo um cheiro forte de café. Levantei assustado ao lembrar de tudo o que aconteceu na noite anterior, eu queria que tudo aquilo tivesse sido um sonho e até poderia já que acordei em meu quarto e totalmente vestido. Será que foi um sonho? Só tinha um jeito de descobrir. Levantei rapidamente e corri até o quarto que era de Jungkook. Entrei e o mesmo estava deitado em sua cama. Talvez eu tenha mesmo sonhado.

Fui até a cama do mais novo e percebi que o mesmo estava acordado, ao notar minha presença se encolheu soltando um gemido de dor.

- Kookie? Está...bem? – Tentei me aproximar sem assustá-lo, pela sua reação parece que eu errei sobre o sonho.

- Você...lembra de tudo o que aconteceu? – Falou evitando me olhar.

- Pensei que havia sido um sonho, já que acordamos nos nossos quartos... Jungkook desculpa. – sentei na ponta da cama. – Confesso que perdi a cabeça, eu não sei o que aconteceu, não era eu. Aquele cheiro doce e eu fui induzido a beber aquele negócio...apesar de lembrar de tudo eu não sei explicar, não era eu.

- Você não foi o único... – Ele respondeu, parecia confuso. – Eu nunca me senti daquele jeito. Parte da culpa é minha, você não me forçou a nada. Lembro do que eu senti, do que eu disse...do que...eu quis que fizesse comigo. – Suspirou envergonhado. – Não sei o que deu em mim, não sei se devo me perdoar.

- Não diga isso. Acho que...a única coisa que podemos tentar fazer é ser forte. – Suspirei. – Olha, eu...

-Hyung! – Interrompeu. – Entenda. Se pudéssemos voltar no tempo ia acontecer do mesmo jeito, não seria diferente. Não estou te culpando pelo o que aconteceu. É só que, me sinto estranho com isso tudo. Foi algo que...uma experiência diferente, muito diferente do que eu planejava pra mim e sei que pra você não foi diferente...e não estou com raiva de você, talvez um pouco envergonhado...mas...eu só estou me sentindo estranho e dolorido. Só quero descansar.

- Tá...eu vou te deixar descansar então... – Levantei. – Vou ver se consigo algum remédio pra te ajudar com as dores.

Deixei Jungkook onde estava e saí. Fui até meu quarto e comecei a olhar as gavetas a fim de achar algum kit de remédios ou primeiros socorros. Ouvi alguém bater na porta e entrar, era Jin.

- Joon? – Entrou parando no meio do quarto. – Quer café? Está pronto.

- Não vai perguntar o que aconteceu? – Continuei procurando sem me importar com sua presença ali.

- Não posso. – O observei confuso. – Disseram ontem que não podíamos perguntar sobre o que aconteceu.

- Estranho, mas é melhor... aliás você sabe aonde tem remédios? Jungkook está com algumas dores, acho que precisa de analgésicos...e também, acho que ele está indisposto, é melhor levar café no quarto dele.

- Remédio eu vi na cozinha. Vou ver se encontro e peço para Jimin ou Taehyung levar lá. – Suspirou indo para a porta – Venha antes que a comida esfrie.

Depois que Jin saiu fiquei pensando no que disse. Talvez fosse melhor mesmo eles não saberem o que havia acontecido por enquanto, mas desconfiava que aquele era o motivo de todos nós estarmos ali, mas por que? Não sei. Fui tirado de meus pensamentos ao ouvir um barulho característico. Olhei para o cofre e a luz que tinha em sua porta estava verde, significava que algo havia chegado para mim. Corri até lá e abri. Dentro tinha apenas uma carta de baralho dourada.

- Rei de espada...você de novo. – Falei irônico ouvindo a porta do meu quarto trancar.

“Bom dia Rei! Espero que tenha dormido bem!”

- O que quer agora? – Respondi impaciente.

“Calma, sua noite foi boa, não tem razão para estar bravo. Mas se quer saber logo... Essa carta é um presente, por ter feito seu dever.”

A raiva subiu, mas procurei me controlar, apenas sentei na cama e fiquei esperando aquela voz terminar de falar.

“Essa carta pode te dar qualquer coisa. Você pode fazer qualquer pedido, exceto algumas coisas óbvias, como morrer, falar com pessoas de fora da casa... Você já deve imaginar, mas ela ainda pode te dar coisas que até mesmo pequenas regras o impede de fazer.”

- Grande merda... – Me joguei na cama pensando em tamanha inutilidade, mas pensando melhor posso burlar regras mesmo que sejam pequenas. Provavelmente algo que não me permita escapar dali ou falar com alguém de fora, mas que ainda seja proibido. – Fora isso, os outros não podem saber o que houve ontem...

“Não...”

- Mas se eu usar a carta...

“É um pedido significativo e uma regra que não irá interferir no andamento do jogo, apenas não queremos criar mais alarmes... Está começando a agir como um jogador Rei.”

- Não acho que Hoseok evitaria de ficar paranoico se soubesse de algo assim, mas por outro lado eu sei que Jin estava preocupado. Acho que ele me ajudaria com Jungkook também.

“A carta pode ser guardada e quando quiser pedir, basta coloca-la na máquina ao lado da tranca de seu cofre, quando o fizer você irá perdê-la e seu desejo será realizado, mas não se preocupe, poderá ganhar outras no futuro. Caso seu pedido seja recusado a mesma não será devolvida. Pense bem!”

Me levantei um pouco mais confiante e fui até o cofre, a pequena maquina embutida na parede lembra aqueles aparelhos das maquinas de sacar dinheiro, onde você precisa colocar o cartão para poder fazer qualquer coisa. Respirei fundo e coloquei a carta ali que logo foi puxada.

“Faça seu pedido.”

- Isso não vai mudar minha vida, então quero poder contar ao Jin tudo o que vi e o que aconteceu lá em cima. Estou burlando uma regra pequena que não vai interferir em seus planos. – Falei esperando alguma resposta. Independentemente do que acontecesse, nada ia melhorar ali então me arrisquei.

“Usando minhas palavras contra mim? Que feio!”

Não deixei de notar um tom manhoso naquela voz, ela estava mesmo jogando comigo, a cada segundo. Fato! A questão era agir na defensiva ou ignorar a situação e entrar no jogo? A ideia de jogar e sair dali vitorioso era tentador, haviam muitos enigmas naquela casa e eu tinha a capacidade de desvendá-los, não sei como, mas poderia começar a analisar cada detalhe e usa-los ao meu favor. Talvez as cartas douradas fossem uma falha ou uma jogada muito bem planejada, mas ainda assim poderia obter vantagens com isso.

- Mas tem que ser tudo, sem exceções! – Sorri.

“Você é bem exigente não é?”

- Normal já que sou um “Rei”, não acha?

“Que esperto hn? Isso é uma provocação ‘Majestade’?”

- Pode até ser, mas não é um jogo? Eu posso jogar também não acha? – Ri.

“Sobre seu desejo, você pode conversar sobre tudo o que quiser com Seokjin por 24 horas. Ele não poderá comentar sobre suas conversas com os outros e nem você. Isso deve ser mantido em segredo por vocês dois. Tenham cuidado para não serem escutados. Seu tempo começa agora.”

Bingo! Eu consegui provocá-la, um ponto pra mim.

- Muito bem! Obrigada! – Sorri me sentindo quase vitorioso.

“Não se gabe rei, eu gosto de ser desafiada em um jogo de cartas. Até!”

Em poucos minutos a porta se destrancou e Jin entrou no quarto confuso e preocupado.

- Namjoon me disseram para eu vir aqui, o que está havendo?

- Jin eu preciso de ajuda ou de apoio...preciso conversar e sei que posso confiar em você. – Sentei na cama enquanto ele vinha para perto de mim ainda demonstrando preocupação e interesse no que eu tinha para falar. – Aconteceram muitas coisas ontem o que me possibilitou em ganhar uma espécie de bônus e eu podia desejar qualquer coisa então pedir para poder falar com você sobre tudo o que houve lá no terceiro andar. Claro que tem limites para os pedidos e enfim. Eu não sei o que faço.

- Jin tá...Não entendi muito bem, mas me conte o que houve lá.

- Primeiro, você não pode comentar com mais ninguém sobre o que falarmos aqui e nem mesmo com Jungkook e depois de 24 horas não poderemos mais tocar nesse assunto. – Expliquei e ele entendeu mostrando um pouco de impaciência e nervosismo. Respirei fundo e comecei a contar. – Resumindo antes de entrar em detalhes... Eu dormi com Jungkook.

- Ta...mas como assim? – Jin ainda estava confuso não havia compreendido bem o sentido da frase. – Vocês chegaram lá e foram dormir... Eu não entendo.

- Não Jin... – Respirei fundo. – Eu dor...Transei com ele. Sexo! Entendeu? Drogaram a gente e eu acabei fodendo ele literalmente.

Jin me olhou aterrorizado, não sabia o que dizer. Sua expressão era um misto de espanto e terror. Passamos um tempo sem dizer uma palavra. Foi difícil também contar tudo aquilo. Ele se acalmou, bebeu um copo de água e voltou a sentar perto de mim dando o sinal para que eu pudesse continuar. Contei tudo nos mínimos detalhes sobre o camarim, como era lá em cima, o quarto em que tudo aconteceu, o cheiro doce e até mesmo o comportamento estranho de Jungkook durante essa manhã quando fui vê-lo.

- Então... – Ele se pronunciou depois de um bom tempo me ouvindo. – Provavelmente estamos todos destinados a passar por isso. Deve ser mesmo o objetivo da casa, mas por que fariam isso?

- Eu não sei.

- Não sei nem o que pensar sobre isso, mas eu, você e Jungkook já sabemos o que vai acontecer quando aquela mulher “invocar” dois de nós de novo...Eu estou mesmo assustado. – Jin andou pelo quarto, estava visivelmente alterado. – Vamos cuidar do Kookie, logo ele não será o único a agir desse jeito. Infelizmente, mas é mesmo estranho que ele tenha conversado com você de uma forma tão calma pelo que aconteceu ontem, na situação dele eu estaria traumatizado.

- O que vamos fazer? Daqui a pouco todo mundo vai passar por isso e não podemos fazer nada nem avisar e não sei o que fazer pra fazer o Kookie pelo menos melhorar. Ele não quer olhar na minha cara e eu entendo. – Me joguei na cama encarando o teto com o lustre de cristais transparente.

O moreno veio até mim parando perto da cama me encarando.

- Namjoon... Como o Jungkook reagiu quando você foi falar com ele? Tipo, a expressão a reação corporal entende? Ele pareceu encolher de medo ou ficou com nojo sabe...

- Ele me olhou, mas muito rápido só que ele estava envergonhado. Tímido. Ainda fez aquele discurso de que “Tá tudo bem!”...Por que? – Perguntei confuso.

- Joon, será que o Jungkook agiu desse jeito porque ele ficou com vergonha de ter...sabe...curtido um pouco, gostado. – Jin enlouqueceu, só pode ou estava arrumando desculpas para amenizar seu medo. – Tá é loucura, mas a forma como ele falou com você e pelo que você contou que não foi forçado, além disso essas drogas afrodisíacas fazem esse efeito...Ah Namjoon eu não sei!

Pedi pra Jin me esperar no quarto e corri para fora, atravessei o corredor e entrei no quarto de Jungkook. O mesmo já se encontrava sentado com uma bandeja de café da manhã no colo. Entrei e fechei a porta sentando em frente o mesmo que dessa vez não me evitou , mas pude perceber suas bochechas corarem levemente.

- Kookie eu sei que você não está bem e provavelmente não quer me ver, mas eu preciso muito falar com você e preciso que me escute, que me responda algo muito importante sem medo e sem esconder a verdade. – Ele apenas me encarou ainda envergonhado, assentiu, mas não disse nada então resolvi jogar a pergunta na mesa. – Eu sei que você pode me odiar pelo o que vou perguntar, não é algo simples, não está sendo fácil, mas por favor não se ofenda eu não estou aqui para piorar a situação. Só preciso que seja sincero e vou aceitar a sua resposta, apenas me diga se sim ou não. Ok? – Mais uma vez ele concordou desta vez demonstrando um pouco de nervosismo. – Você...sentiu mesmo algum prazer ontem? Algum momento você, chegou a gostar?

Fiquei muito preocupado, ótimo, ele iria me expulsar dali, me agredir, nunca mais iria querer olhar na minha cara. Jungkook não falou absolutamente nada. Estava mudo, apenas inclinou a cabeça olhando para a bandeja, não quis pressioná-lo, então esperei alguma resposta. Diante da demora decidi que tinha ido longe demais e era melhor esquecer aquilo e deixa-lo em paz. O observei ainda por alguns segundos. Ele fechou os olhos e o sua reação me deixou mais surpreso do que qualquer palavra que pudesse ser dita.

Eu havia pedido uma resposta, pois bem, depois de um tempo, ele fechou os olhos e assentiu com a cabeça inclinando-a ainda mais para baixo. Queria ter visto coisas, mas não, ele realmente admitiu que sim.

- É...por isso...você ficou com vergonha? – Tentei manter o controle porém ao mesmo tempo me aprofundar no assunto.

- Sim... Quer saber, não me importo que me julgue, mas sei que sou sujo por pensar assim em uma situação dessas, talvez devesse estar traumatizado, aterrorizado, me sentindo mal por tudo aquilo, mas a verdade é que eu não senti nada disso. Foi o contrário. Já pensei que pode ter sido por sua causa, provavelmente por não ser alguém desconhecido e uma pessoa em que confio, mas não sei. – Ele dizia aquelas palavras como quem não tem nada a perder e está disposto a mandar um grande “foda-se” para a vida. -  Enquanto eu estava aqui pensando sobre tudo isso e criando coragem para admitir isso apenas para mim mesmo aquela mulher falou comigo e me lembrou de algo.

- O que ela te disse?

- Algo foi nos dito ontem. Dúvidas são os primeiros sinais de aceitação. Cada pessoa nesse mundo guarda segredos obscuros dentro de si que podem não ser tão ruins, podemos aceita-los e admitir que temos esse lado negro dentro de nós ou apenas esconder isso do mundo, mas na verdade ele nunca deixará de existir. – Suspirou. – Essa foi minha descoberta sobre mim. Talvez eu seja louco, anormal, mas sempre fui visto como o maknae de ouro, o certinho, o tímido, mas ninguém é perfeito. Todos tem algo obscuro dentro de si e me deixar levar pela loucura ou pela vontade de fazer algo absurdo, inusitado que tirasse de mim o pouco dessa “inocência” toda que me impõem foi mesmo uma experiência incrível. Fiquei assustado pela forma como meu corpo e minha mente reagiu, cheguei a me sentir mal, mas sou adulto, não um garotinho bom em tudo. Tenho idade o suficiente para cometer loucuras, erros e pagar por eles. Então não, eu não achei ruim e só consegui me sentir bem porque foi com você. Agora pode me chamar de doente o quanto quiser. Vou tomar banho.

CA

RA

LHO

Fiquei ali com cara de tacho enquanto o mais novo se levantava e ia para o banheiro. Eu mal conseguia processar o que havia acontecido, não conseguia pensar em nada e provavelmente não iria dizer nada sobre aquela conversa para ninguém nem mesmo para Jin. Mas meu estado era de choque. Depois de respirar um pouco desisti de tentar organizar as ideias e me levantei saindo de lá e voltando para o meu quarto. No caminho uma coisa não saía de minha mente, todo aquele discurso sobre lado obscuro. Eu já tinha uma certa fama por admitir que entrava em sites de “entretenimento adulto”, mas estava mesmo mais preocupado com o que Kookie pensaria e não com o que eu pensava ou sentia a respeito daquilo tudo. Meu medo era a reação dele, o que ele falaria, se me perdoaria, mas em nenhum momento parei para pensar em mim e em meus próprios sentimentos sobre aquilo. Por que? Não sei eu não estava confuso, talvez eu estivesse satisfeito comigo mesmo, talvez eu tivesse aceitado e admitido aquilo, sem nem  perceber.

Não sei.