História Human Universe (Steven Universe) - Visita maldita

Acordei bem cedo, queria correr no quarteirão, eu era muito apressada, não conseguia ficar muito tempo parada, era como se uma energia infinita me consumia. Me sentir livre era tão bom. Não precisava ficar deitada na cama, fingindo gostar daquelas pessoas me tocando, depender de alguém que nunca disse um “eu te amo” ou me chamou de filha.

Aquelas lembranças ainda me incomodavam. Tentava fingir que estava tudo bem, já que pela primeira vez era bem tratada. Morgana nunca me deixou passar fome, sei que as vezes sou energética demais para o jeito dela, mas ainda sim ela me atura. Até deixou eu comprar pão sozinha. Mesmo que não pudesse ir em alguns lugares sem ela. Mas isso era de menos, comparado a liberdade que não tinha.

Cheguei novamente no apartamento dela, ajeitava meu óculos escuro, as vezes escorregava no nariz com o suor, que não era pouco. Devo ter corrido quilômetros, na verdade não faço ideia de quanto tempo fiquei correndo. Sei apenas que foi o suficiente para ver o café da manhã pronto e Morgana com uma cara de sono bebendo uma xícara dele.

-Bom dia.- falei animada.

-Dia.- respondeu sonolenta.

-Vou comprar pão.- procurava dinheiro na caixinha, ela sempre deixava ali.

-Compra só cinco, sobrou de ontem.- acenei de maneira positiva com a cabeça e corri para fora do apartamento, descendo escadas, adoro escadas.

Comprei o que me foi pedido. Ainda estava energética, mas a barriga roncava como nunca. Parei em frente a rua, esperando o sinal ficar verde para eu puder atravessar. Claro que era o sinal de pedestres e não aquele dos carros. Aprendi tanta coisa.

Ao olhar para o lado, vi de relance aquele que eu acumulava ódio.. meu pai.. ele parecia surpreso em me ver. Como ele me encontrou? O homem vinha em minha direção, mas bem na hora o sinal abriu. Sem pensar eu corri, mas corri, tão rápido. Dei algumas voltas na quadra com intuito de despistá-lo. Acho que deu certo, pois não o vi quando entrei no prédio. Ao chegar no apartamento vi Morgana já com sua expressão de tédio normal, ainda bem que a mente dela já acordou.

-Eu vi meu pai.. ele estava lá..- falei em desespero deixando o pão cair no chão.

-Ok.. fica calma, ele não pode tirar você daqui.- tentou me acalmar.

-Vai me proteger?- fiz uma carinha fofa, não suportaria voltar à aquela rotina novamente. Eu já nem sentia mais dor em meu pescoço, as marcas roxas estavam quase sumindo.

-Pode ser.. agora vá tomar um banho.- aquele olhar sem expressão dela.. não conseguia saber se ela foi irônica ou não, mas considerei um sim.

Após meu longo café da manhã, deixei só um pão pra Morgana, fui tomar um banho. Dessa vez eu podia escolher o que vestir. Coloquei uma camisa de gola, na cor laranja, era bem colada ao corpo, abria na frente e tinha um pequeno bolso na direita. Dobrava as mangas até acima do cotovelo. Adorei. Vesti uma calça jeans e botas marrom até metade da canela. Eram confortáveis. Coloquei o óculos escuro e penteei meu cabelo. Já estava um pouco maior, agora até o ombro, e queria deixar crescer mais, pra fazer uma enorme trança.

-Vamos Gwen.- bateu na porta.

-Estou indo.- saí do banheiro sorridente.

-Vou buscar uma coisa, quer vir?-

-Claro.-

Fomos até a garagem, insisti pra descer as escadas, apesar dela preferir o elevador. Me entregou um capacete, o pus e sentei na moto com ela. Era sempre divertido andar de moto. Muito divertido.

-Tomou seu leite matinal?- perguntou antes de fechar o capacete.

-O litro inteiro.- leite? Claro que não poderia faltar, adoro.

Ela não me falou onde iríamos. Fechei meus olhos apreciando o vento, minha vontade era de voar por aí, como em um sonho, se bem que... eu não conseguia fazer isso. Pra minha tristeza o vento parou.

-Vamos, desça da moto.- sério que chegamos?

Saí da moto e retirei o capacete. Estávamos em frente a um grande prédio. Ficamos alguns minutos ali o observando, será que ela não queria entrar?

-Qual o problema?- perguntei.

-É o apartamento da Amber.- suspirou.

-Ainda gosta dela não é?- percebi um rubor ao rosto dela.

-Não serei trouxa novamente.- focou na porta.

Dei de ombros e a acompanhei. Infelizmente não consegui convencer ela a subir as escadas, fomos de elevador. Chegando em frente a porta, Morgana ergueu o braço para tocar a campainha, mas não o fez. Então fui eu quem toquei.

-O que querem aqui?- acho que ela nos viu por aquele “olho” que tem na porta.

-Vim buscar meu vídeo-game.- disse Morgana.

-Já joguei fora, vão embora.- respondeu.

-Sei que está mentindo... Amber.. por favor.-

-Ok.- falou grosseira e abriu a porta, entrei no lugar junto com a menor. -Ela é sua nova namorada agora?- cruzou os braços.

-Só uma amiga tá?- se abaixou para desencaixar os fios do console, eu me mantive de pé observando a garota.

-Está tão bonita, faz tempo que não nos vemos né ruiva?- sorriu e se aproximou de mim.

-É.- ainda estranhei a atitude dela.

-Que tal se sairmos qualquer dia desses?- ficou na ponta dos dedos, para aproximar seu rosto do meu.

-Não.- franzi a testa.

-Como?- ela fez o mesmo.

-Não quero sair com você. Bom.. é tão má comigo, nem sabe meu nome.- cruzei os braços.

-Charme não funciona?- passou a língua entre os lábios, apenas virei o rosto.

-Não te acho atraente.- soltei.

-Como não? Todos acham.- parecia incrédula.

-Não sou todos.- cruzei os braços.

Durante alguns segundos ficamos em silêncio. Porém um som de uma risada quebrou o silêncio. Olhei para o lado, Morgana estava gargalhando, sim gargalhando. Nunca a vi rindo assim, nem assistindo filmes de comédia ou quando eu tento desastradamente fazer alguma piada ou palhaçada.

-Tá rindo do que?- Amber ergueu uma sobrancelha.

-De você. Está tão carente, mas vai ficar sozinha. Tola.- se levantou com a caixa do vídeo-game em mãos.

-Acha mesmo que me importo?- bufou.

-Quero que sofra por sua traição.- disse ironicamente e beijou a bochecha da Amber.. sério ela beijou a bochecha dela.. nem eu acreditei.

A garota ficou boquiaberta enquanto saímos. Nunca vi Morgana tão feliz, mesmo que seu sorriso fosse pequeno.

-Te odeio sua...- antes dela terminar de falar eu fechei a porta. Não sei dizer se ela não completou a frase ou não conseguimos ouvir.

-Viu a cara dela?- perguntou.

-Está desesperada.- ri sozinha.

-Ela vai aprender o que é bom pra tosse.- me deu a caixa.

-É.- apenas afirmei, mas fiquei pensativa sobre o que estava por vir.

Finalmente chegamos em casa. Ela montou o vídeo-game e me ensinou a jogar. Era tão desastrada, mas felizmente consegui jogar alguma coisa. Aquelas coisas de plataforma eram muito difíceis. Olhei para o lado, só pra ter certeza se ela ainda estava ali e pra minha surpresa, a mesma desenhava, não vi o que, mas era bom saber que teria uma companhia.