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História Hunting Dogs - Manual da sobrevivência


Escrita por: Soffy_Tukkee

Notas do Autor


Voltei pessoas... sem mais delongas... vamos ao que interessa.

Capítulo 8 - Manual da sobrevivência


Ao olhar novamente para o relógio de parede, postado sobre um móvel qualquer na pequena sala, Emily se deu conta que havia passado apenas uma hora e meia, depois da meia noite, e o tempo parecia ter parado, pois ela não podia ver os ponteiros se movendo.

— Muito bem. — Disse ela. — Façam o que eu disser, e nós vamos ficar bem. Temos apenas que nos proteger... manter aquelas coisas bem longe da casa, longe da gente, até darmos um jeito de fugir deste maldito lugar.

Ela não sabia se todos ali tinham absorvido ou não suas palavras ou as de Alison, mas torcia para que sim.

Afastou-se rapidamente do sofá e iniciou uma busca, falando apenas ocasionalmente, com ninguém e todos ao mesmo tempo, delegando missões de busca de proteção ao perímetro da casa, vigilância e tudo o mais que os ajudasse a sobreviver até o amanhecer, sempre entre grandes arfadas e durante os breves instantes em que sua atenção se voltava totalmente para algum objeto que encontrava e que julgava ser útil como ferramenta de sobrevivência.

Sua busca não era aleatória, tinha um propósito definido, era seletiva, ainda que frenética e desesperada. Auxiliada por Alison. Procurava pregos e pedaços de madeira ou tábuas que pudesse usar para pregar portas e janelas. Tinha decidido que iam fortificar aquela velha casa de fazenda o melhor que pudessem, para se precaver da iminente ameaça de um ataque em massa das criaturas infernais, que aumentavam em número.

Emily agia com certa afobação, sempre visando esse propósito defensivo. Inicialmente, a busca absorvia toda sua atenção, e era movida pela ansiedade, aos poucos, conforme se deparava com vários itens importantes, seu furor se aplacava, e ela ia procedendo de maneira mais calma e deliberada.

Com a ajuda de Tobby, começou a empurrar pesadas mesas e outros móveis contra as partes mais vulneráveis da velha casa. E notou que pelos barulhos em outros cômodos da casa, os outros soldados faziam o mesmo, vedando janelas e portas por onde poderiam ser surpreendidos pelas criaturas.

A tensão da morena diminuía, e ela ia ficando mais calma, mais racional, conforme aquelas barreiras lhe proporcionavam uma sensação maior de segurança. E a percepção de todos aqueles esforços para protegê-los um pouco começava a surtir efeito em todos ali, tirando-os lentamente do estado de choque e passividade em que se encontravam após descobrir contra o que lutavam.

— Vamos ficar bem! — Gritou Tobby, tentando parecer corajoso.

Ryan continuava a observá-los friamente, o ferimento em seu peito já não doía, e seu corpo sequer acusava ter recebido uma laceração no tronco.

Observava quieto enquanto os soldados andava para lá e para cá, esvaziando as gavetas e os armários. Aparentemente, havia pelo menos uma coisa importante que ainda não encontraram e buscavam com impaciência. Carretéis de linha, botões, utensílios de manicure, produtos para engraxar sapatos e outros objetos eram atirados para fora das gavetas conforme Alison e Emily esquadrinhavam a cozinha e corriam sem parar de um lado para o outro, com a mesma agressividade e urgência de momentos antes.

Finalmente, em uma caixa de madeira sob a pia, Alison encontrou o que Emily procurava; deu um salto repentino e soltou uma exclamação de triunfo enquanto despejava o conteúdo da caixa no chão da cozinha. Um grande martelo caiu para fora com um baque e um machado.

Uma velha lata de tabaco que Alison pegou com um gesto rápido e virou sobre uma prateleira, estava cheia de pregos, parafusos e arruelas. Alguns saíram rolando e retiniram ao tocar o chão, mas a loira abaixou-se depressa para pegá-los de volta. Examinou a pequena pilha de peças, escolheu os pregos mais compridos e entregou-os a Tobby que enfiou-os no bolso do casaco imediatamente. E mesmo ao fazer isso não paravam quietos, os olhos de Emily já sondavam o ambiente à procura de outros artigos de necessidade.

Seu olhar recaiu sobre Alison, ela não podia evitar.

— Olha, dá uma olhada ali perto da lareira e vê se acha algum pedaço grande de madeira, precisamos de fogo, isso vai ajudar a mantê-los afastados.

Pediu para ela, e depois se virou para examinar uma caixa de papelão em cima da geladeira. Mas a caixa estava muito leve, e antes de abri-la, Emily já sabia que estava vazia. Largou-a no chão, espiando dentro para garantir, depois partiu para um armário metálico no canto da cozinha, que ela apostava estar recheado de gêneros alimentícios. Mas ao se virar deu de cara com Ezra imóvel, amparado no batente da porta. Parecia estar em choque. Sua raiva veio à tona de repente, e ela gritou.

— Por que você...? — Mas ela se interrompeu, depois falou, em um tom ainda exaltado, mas menos ríspido. — Olha Ezra... Sei que você está assustado. Eu também estou, todos estamos assim como você. Mas não vamos sobreviver se não nos ajudarmos de alguma forma. Nos ajude a cobrir as portas e janelas com tábuas. Você precisa cooperar. Temos que ajudar uns aos outros, porque não tem ninguém aqui que possa fazer isso pela gente. Vai dar tudo certo... Está bem? Agora quero que você saia daí e veja se tem alguma madeira que possamos usar.

Ela parou, ainda ofegando. Ezra se encontrava em um estado catatônico, mal olhava para Emily. Então, depois de vários segundos, ele começou a se afastar lentamente da parede.

— Ei cara, tá tudo bem? — Perguntou-lhe Jason que vinha do corredor com algumas tábuas em mãos, e parou olhando-o nos olhos.

Ezra continuou imóvel por algum tempo antes de assentir fracamente com a cabeça.

— Tudo bem? Tem certeza? — Repetiu Jason quase sussurrando, tentando tranquilizá-lo.

Quando Ezra saiu da cozinha, Jason seguiu-o com o olhar por um momento, e em seguida direcionou a Emily, logo depois retomou sua busca.

Ezra adentrou a sala de estar, onde a pouca iluminação o deteve por um instante, retardando seus passos. Da cozinha, ainda podia escutar os rumores da busca de Emily e nos corredores a batidas firmes de Tobby com o martelo lacrando a janela de um escritório.

Alison notou que Ezra olhava à frente, em meio à escuridão, e apertava o cabo do rifle sempre que as cortinas brancas das janelas pareciam brilhar ou quando as sombras se moviam de modo suspeito. Naquela sala, atrás dos móveis ou dentro dos armários, podia haver qualquer coisa à espreita. Ezra parecia prestes a surtar. E isso poderia ser de extremo perigo. Alison estremeceu.

Sobre a mesa de jantar, no canto oposto da sala, ele viu a silhueta de um vaso com grandes flores arredondadas dentro... e elas se agitaram de repente, sacudidas pela brisa que entrava por uma janela aberta. Em pânico, Ezra correu até a janela, bateu-a e fechou o trinco, depois ficou ali, ofegando, reparando que parte da cortina branca ficara presa sob o caixilho. Mas não a levantaria de novo, de jeito nenhum.

Um arrepio percorreu seu corpo, e ao virar viu Alison o mirando de forma suspeita, ela estava postada próxima a lareira, na entrada da sala ele pode notar Emily, Caleb e Jason parados no batente da porta, ambos haviam vindo averiguar a origem do barulho. Após um pequeno tempo, Emily sinalizou com a cabeça o segundo andar para a loira e se dirigiu pra lá sendo seguida pela mesma.

Sozinho na sala, Ezra esticou o braço em direção a uma luminária que repousava sobre uma mesinha lateral. Acendeu-a. Uma luz fosca iluminou o espaço ao redor. A sala transmitia uma sensação de vazio. Ezra avançou lentamente até a lareira. Ao lado dela havia uma pilha de lenha deixada por Alison e algumas tábuas, que talvez fossem largas o bastante para pregar nas janelas. Ainda agarrando o rifle, ele se curvou sobre a lenha e pegou uma tábua, mas uma aranha correu pela sua mão e ele gritou, deixando a madeira cair com estrépito no chão.

Esperou e torceu para que ninguem viesse, e, de fato, dessa vez nenhum dos soldados apareceu para ver o que estava acontecendo.

A barulheira incessante na cozinha explicava por que Jason, Noel e Caleb não ouviram nada do que ele fazia na sala, às voltas com a lenha. Ele se ajoelhou e pegou as tábuas de novo, determinado a não se assustar mais com aranhas.

Cambaleando sob o peso da madeira, Ezra precipitou-se para a cozinha e, ao cruzar a porta, encontrou Jason batendo o martelo contra as dobradiças da porta de um alto armário de vassouras. Com um último golpe e um puxão violento, a porta finalmente se soltou, com o ruído dos parafusos sendo arrancados e rasgando a madeira. Jason encostou-a na parede ao lado. Nos recessos do armário, encontrou outros objetos úteis e tirou-os para fora: uma tábua de passar, as três tábuas centrais da mesa de jantar, e outros pedaços de madeira.

Jason, acenando para que o seguisse, pegou a porta do armário e carregou-a até a porta dos fundos da casa. Levantando a madeira, prensou-a contra o painel envidraçado da porta, e depois de um rápido exame concluiu que podia usá-la não só para cobrir a porta da cozinha, mas também boa parte da janela, de dimensões modestas e não muito distante da primeira. Escorou a madeira com o corpo e tateou o bolso do Jeans em busca de pregos.

A porta começou a escorregar de leve. Ela não cobriria totalmente a janela da cozinha: duas faixas de vidro, no alto e embaixo, ficariam descobertas; entretanto, cobriria a parte envidraçada da porta, ajudando a protegê-la. A pesada porta do armário deslizou de novo e Jason empurrou-a de volta para o lugar com o cotovelo, enquanto continuava procurando pregos no bolso. Tomando súbita iniciativa, Ezra adiantou-se para ajudar, pegando a tábua e segurando-a na posição.

Jason aceitou mecanicamente sua ajuda, sem dar qualquer sinal de reconhecimento, e examinou por alto a barricada enquanto decidia onde fixaria os pregos. Em seguida, tirando alguns pregos compridos do bolso, colocou-os na posição e pregou-os na madeira com ágeis e poderosos golpes do martelo. Fincou dois do próprio lado, fixando a madeira na porta e na moldura, depois se postou rapidamente ao lado do amigo e pregou outros dois. Então, com o peso da madeira sustentado pelos pregos, continuou a martelar até enterrá-los por completo na madeira. Por fim, deu um passo para trás e se preparou para acrescentar outros. Queria usá-los com parcimônia e prudência, fixando-os onde seriam mais eficazes, já que tinha uma provisão limitada.

No andar de cima, Emily se separou com duas portas fechadas, fora o quarto onde o sargento Connor descansava após ser "remendado" e cair em sono profundo.

Emily experimentou uma. Estava trancada. Examinou-a mais de perto, mas não achou nenhum trinco. Pelo visto, alguém a trancara com chave. Devia ser um armário embutido. Agarrou a maçaneta e sacudiu a porta com força, mas por mais que insistisse, ela não saía do lugar, então concluiu que estava bem protegida e desistiu de arrombá-la. Era óbvio que tinha sido trancada pela dona da casa, que jazia junto ao grupo de criaturas do lado de fora.

Já a outra porta, descobriu ela, estava destrancada, e dava para um quarto com várias janelas salientes. Bufou, contrariada com a vulnerabilidade adicional que aquilo representava.

— Seria mais fácil esvazia-lo, pegar tudo que for útil, e lacrar a porta por fora com os móveis. — A voz de Alison se fez presente no cômodo.

Após verificar mais duas portas constatando ah uma era um banheiro e a outra um velho armário embutido, ambas tinham decidido usar as tábuas para bloquear-las invés de vedar todas aquelas janelas. De longe, Emily viu que o suprimento de madeira no centro da sala estava diminuindo. Enquanto se dirigia para lá, seus olhos se detiveram por um instante na figura inerte e triste de Ezra.

Ele não retribuiu seu olhar. Emily curvou-se sobre a pilha de madeira e escolheu outra tábua para cobrir a porta no segundo andar. Após apoiar a madeira no batente, com auxílio de Alison e um tremendo esforço, ambas arrastaram a escrivaninha, para o corredor. A intenção era retirar do quarto tudo que pudesse ser útil antes de pregar a porta.

O armário estava repleto de roupas velhas; Emily escolheu um grosso casaco e uma jaqueta e jogou-os sobre o ombro. Nas prateleiras mais altas havia um monte de caixas velhas, malas, caixas de guardar chapéus e, por fim, um velho guarda-chuva. Ponderou por um instante se aquelas coisas tinham alguma serventia ou se poderiam conter algo de útil. A seus pés, notou outras bugigangas: mais caixas, guarda-chuvas, e diversos sapatos e chinelos empoeirados.

No quarto seguinte, Alison já ia se afastando do enorme guarda roupas, quando algo chamou sua atenção, um brilho nos recessos escuros do armário, o reflexo da superfície lustrosa de um artefato de madeira trabalhada, cuja forma familiar se insinuava sob uma pilha de roupas sujas.

Estendeu ansiosamente a mão, que encontrou exatamente o que ela esperava: uma escopeta.

— Olha isso! — Exclamou.

Largou algumas caixas no chão e começou a revirar com impaciência o fundo do armário, dentro das caixas de sapato, gavetas embutidas, debaixo de tudo, enquanto itens variados voavam para fora do armário. Uma das caixas de sapato continha velhas cartas e cartões-postais. Finalmente, dentro de uma caixa de charutos, junto com limpadores de cachimbo e um frasco de solvente, encontrou um manual de operação e uma caixa de munição.

Levantou a tampa da caixa e viu que ainda estava pela metade: vinte e sete cartuchos, contou.

A escopeta, era uma arma boa e potente, de bastante impacto. Alison acionou a alavanca para esvaziar o pente, e um após o outro, sete cartuchos foram ejetados da arma e retiniram ao tocar o chão. Alison abaixou-se para apanhá-los, guardou-os na caixa junto com os demais e enfiou o manual no bolso de trás da calça; em seguida, decidindo levar a caixa inteira de charutos, com tudo que tinha dentro, colocou-a debaixo do braço, recolheu a escopeta e saiu do cômodo, logo atrás de Emily. Com muito esforço Emily bloqueou as duas portas no corredor próxima a escada, após verificar o quarto onde o sargento jazia adormecido, ela seguiu em direção ao primeiro andar.

De volta à sala de jantar, a morena começou a largar o carregamento de suprimentos sobre o gaveteiro vazio; mas parou de súbito quando viu que Alison observava Ezra, ele continuava sentado como antes, sem mexer um músculo.

Apos uma olhada furtiva, Jason o chamou.

— Ezra? Estamos bem, agora.

— Este lugar agora está bem protegido, encontramos mais uma arma, uma arma e algumas balas.— Emily emendou.

Do outro lado da sala, os soldados se entreolharam.

— Bem, temos um rádio... E mais cedo ou mais tarde alguém vai aparecer para tirar a gente daqui pelo menos. — Tobby tentava se manter confiante.

Alison se postou próxima a uma das janelas onde haviam tábuas vedando, e observou o gramado em frente a casa, as figuras sinistras, cujas vagas silhuetas revelavam em sua garras, restos de roupas esfarrapadas, e em suas mandíbulas pedaços de carne pendiam, continuavam lá fora, quietas, com os braços pendendo junto ao corpo. Eram coisas frias, silhuetas em meio as sombras.

De repente, algo que viu ao longe a sobressaltou.

— Meu Deus...

— O que foi? — A voz de Emily ressoou próxima ao ouvido da garota.

— Ali... perto das árvores...

Emily apurou a visão e então percebeu, do outro lado do descampado, um vulto se movia em direção à casa. Aquelas criaturas demoníacas aumentavam em número com o passar das horas.

Não era nada que Alison não tivesse previsto ou levado em consideração; mesmo assim, ver aquilo acontecer diante dos próprios olhos fazia seu coração bater mais forte, como se fosse saltar pela boca.

Se muitas daquelas coisas se juntassem, era só uma questão de tempo até que começassem a atacar a casa, tentando invadi-la a qualquer custo, investindo contra as portas e janelas até arrombá-las.



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